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A Barriguda
REVISTA CIENTÍFICA
Volume 06
Número especial
Ago 2016
A Barriguda destina-se a promoção e incentivo da CENTRO INTERDISCIPLINAR DE PESQUISA EM
EDUCAÇÃO E DIREITO – CIPED
produção acadêmica, social e cultural através do
Diretor
debate contínuo em torno da construção de soluções Laryssa Mayara Alves de Almeida
Diretor-adjunto
para problemas reais, com a integração entre
Vinícius Leão de Castro
comunidade científica e sociedade. O periódico está Coordenador de Política Editorial
Valfredo de Andrade Aguiar Filho
aberto à colaboração de pesquisadores de
universidades e instituições de pesquisa, publicando A BARRIGUDA: REVISTA CIENTÍFICA
Editor-chefe
trabalhos inéditos em português, inglês, espanhol e
Esther Maria Barros de Albuquerque
italiano. A Barriguda pretende encorajar a produção
ASSOCIAÇÃO DA REVISTA ELETRÔNICA A
de conhecimento a partir de uma perspectiva
BARRIGUDA – AREPB
interdisciplinar e inovadora, concretizando-se como CNPJ 12.955.187/0001-66
instrumento de promoção de desenvolvimento.
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A BARRIGUDA: REVISTA CIENTÍFICA
VOLUME 06
NÚMERO ESPECIAL
AGO 2016
QUADRIMESTRAL
ISSN 2236-6695
EQUIPE EDITORIAL Ludmila Albuquerque Douettes Araújo
(Universidade Estadual da Paraíba, Brasil)
Editor-Chefe Lusia Pereira Ribeiro
Esther Maria Barros de Albuquerque (Pontíficia Universidade Católica de Minas Gerais,
(Universidade Federal de Campina Grande, Brasil) Brasil)
Marcelo Alves Pereira Eufrasio
Conselho Editorial (UNIFACISA, Brasil)
Marcelo Weick Pogliese
Adilson Rodrigues Pires (Universidade Federal da Paraíba, Brasil)
(Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Brasil) Marcílio Toscano Franca Filho
André Karam Trindade (Universidade Federal da Paraíba, Brasil)
(Faculdade Meridional – IMED, Brasil) Niédja Marizze César Alves
Alessandra Correia Lima Macedo Franca (Universidade Federal do Mato Grosso, Brasil)
(Universidade Federal da Paraíba, Brasil) Olard Hasani
Alexandre Coutinho Pagliarini (Université libre de Bruxelles, Bélgica)
(UNINTER, Brasil) Paulo Jorge Fonseca Ferreira da Cunha
Arali da Silva Oliveira (Faculdade de Direito da Universidade do Porto,
(Universidade Federal de Campina Grande, Brasil) Portugal)
Bartira Macedo de Miranda Santos Raymundo Juliano Rego Feitosa
(Universidade Federal de Goiás, Brasil) (Universidade Católica de Pernambuco, Brasil)
Belinda Pereira da Cunha Ricardo Maurício Freire Soares
(Universidade Federal da Paraíba, Brasil) (Universidade Federal da Bahia, Brasil)
Carina Barbosa Gouvêa Sanchita Bhattacharya
(Universidade Estácio de Sá, Brasil) (Jawaharlal Nehru University, Índia)
Carlos Aranguéz Sanchéz Talden Queiroz Farias
(Universidad de Granada, Espanha) (Universidade Federal da Paraíba, Brasil)
Chirlaine Cristine Gonçalves Valfredo de Andrade Aguiar
(Instituto Federal de Sergipe, Brasil) (Universidade Federal da Paraíba, Brasil)
Cleide Calgaro Vincenzo Carbone
(Universidade de Caxias do Sul, Brasil) (Università degli Studi Internazionali di Roma, Itália)
Clóvis Eduardo Malinverni da Silveira
(Universidade de Caxias do Sul, Brasil) Coordenação Executiva
Constantino Cronemberger Mendes Laryssa Mayara Alves de Almeida
(Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Brasil) (Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e
Dyego da Costa Santos Direito, Brasil)
(Universidade Federal de Campina Grande, Brasil) Vinícius Leão de Castro
Emanuel Neto Alves de Oliveira (Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e
(Instituto Federal do Rio Grande do Norte, Brasil) Direito, Brasil)
Elionora Nazaré Cardoso
(Universidade Autónoma de Lisboa, Portugal) PRODUÇÃO EDITORIAL
Fabiana Faxina Projeto Gráfico, capa, diagramação
(Instituto Federal de Sergipe, Brasil) Esther Barros, Laryssa Almeida e Vinícius Leão
Francisco de Assis Cardoso Almeida
(Universidade Federal de Campina Grande, Brasil) Preparação e revisão de textos
Gisela Bester Anna Giovanna Rocha Bezerra
(Universidade do Oeste de Santa Catarina, Brasil) (Instituto Federal da Paraíba, Brasil)
Glauber Salomão Leite
(Universidade Estadual da Paraíba, Brasil) © Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e
Gustavo Rabay Guerra Direito
(Universidade Federal da Paraíba, Brasil) Esta revista oferece acesso livre imediato ao seu conteúdo,
Ignacio Berdugo Gómes de la Torre seguindo o princípio de que disponibilizar gratuitamente
(Universidad de Salamanca, Espanha) o conhecimento científico ao público proporciona maior
Jaime José da Silveira Barros Neto democratização mundial do conhecimento. Todo
(Instituto Federal de Sergipe, Brasil) conteúdo da revista, exceto aqueles identificados, está
Javier Valls Prieto licencidado sob a Licença Creative Commons Attribution
(Universidad de Granada, Espanha) 3..0 (CC BY 3.0).
José Ernesto Pimentel Filho
(Universidade Federal da Paraíba, Brasil) Data de fechamento da edição: 01-09-2016
Juliana Gomes de Brito
(Universidade Federal de Campina Grande, Brasil)
O Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito – CIPED é associação sem
fins lucrativos, responsável por A Barriguda: Revista Científica. A instituição foi criada na cidade
de Campina Grande, Paraíba, Brasil, com o objetivo de ser um espaço para propagação de uma
nova maneira de se enxergar a produção e divulgação do conhecimento ao anunciar pesquisa e
inovação na área de Ciência e Tecnologia.
O CIPED oferece aos alunos informações sobre as oportunidades de pesquisa,
publicação, cursos e participação em eventos. Para os pesquisadores, nós compartilhamos
informações de pesquisa, oferecemos base de contatos na área e buscamos informações sobre a
realização de eventos.
A ideia de criar um periódico científico nasceu da necessidade de encorajar e recuperar o
ensino superior da apatia e inalterabilidade do conhecimento reproduzido afastando-o do senso
comum teórico a partir de uma perspectiva interdisciplinar e inovadora para promover a solução
de problemas reais na sociedade. Seu conteúdo são artigos originais, análises de decisões judiciais,
resenhas críticas, artigos de revisão, notas científicas, entrevistas e informações sobre inovações na
ciência. Sua frequência é quadrimestral e adota o fluxo contínuo para submissão de trabalhos
científicos.
Nosso sincero reconhecimento e agradecimento a todos que contribuíram para a
consolidação de A Barriguda: Revista Científica no meio acadêmico de forma tão significativa.
ARTIGOS
ORIGINAIS
386 ACIDENTE COM VÍTIMA FATAL EM ELEVADOR DE PASSAGEIRO:
FALHA NA INSTALAÇÃO DA BPE LUMINOSA
Robson Félix Mamedes, Gabriella Henriques da Nóbrega e Sérgio Louredo Maia
ORIGINAL
ARTICLES
386 ACCIDENT WITH FATAL VICTIM IN A PASSENGER ELEVATOR: FAILURE
TO INSTALL THE LIGHT EBP
Robson Félix Mamedes, Gabriella Henriques da Nóbrega e Sérgio Louredo Maia
494 SOLID WASTE AND ITS INTEREST IN CONFRESA CITY, MATO GROSSO
STATE, BRAZIL
Clodoaldo Carvalho Queiroz e José da Silva
Accident with fatal victim in a passenger elevator: failure to install the light EBP
RESUMO ABSTRACT
O presente trabalho apresenta os exames The present study reports the forensic exams
periciais realizados em um acidente envolvendo accomplished in an accident involving a six-year-
uma garota de 06 (seis) anos de idade que old girl, who walked accompannied by another
trafegava na companhia de outra criança de girl at same age, inside the elevator cabin, when it
mesma idade, no interior da cabina, quando o stopped between the 6th and 7th floors and the
elevador parou entre o 6º e 7º pavimentos e as doors of the cabin and floor opened, allowing the
portas de cabina e pavimento se abriram, children to come out, resulting the fall and death
permitindo a saída das crianças, e a morte de of one them through the space between the
umas delas em virtude de queda livre através da elevator cabin and the floor. This scientific study
caixa de corrida. Este estudo científico reveste-se is coated by its importance in the Legal
de importância no campo da Engenharia Legal, Engineering field, aiming to expose the already
objetivando expor dita problemática bem como said issue, as well as to make known by forensic
trazer ao conhecimento dos peritos que atendem experts who attend similar cases the procedures
casos similares, os procedimentos adotados na adopted to analyze the causes which provoked
análise da causa determinante do acidente em such accident.
epígrafe.
KEYWORDS
PALAVRAS CHAVE ACCIDENT WITH FATAL VICTIM. PASSENGER
ACIDENTE COM VÍTIMA FATAL. ELEVADOR DE ELEVATOR. FORENSIC EXAM. LEGAL
PASSAGEIROS. PERÍCIA. ENGENHARIA LEGAL. ENGINEERING.
INTRODUÇÃO
2 A PERÍCIA
A fim de atender à solicitação subscrita por autoridade policial foram procedidos no dia
05/05/15 os exames periciais em local de morte violenta, especificamente, no elevador social e
sua casa de máquinas, onde ocorreu um acidente que culminou com a morte de uma menor de 06
anos de idade.
Segundo informações preliminares, na noite de 29/04/15, a criança acima referida,
estava utilizando o elevador social do seu condomínio localizado no município de Patos - PB,
juntamente com outra menor, de mesma idade, quando o elevador parou acima do piso do sexto
pavimento, e as portas da cabina e pavimento se abriram, ato contínuo, ao saírem da cabina, a
criança acima nominada caiu no fosso do elevador, culminando com sua morte. Toda
movimentação dentro a cabina foi filmada por uma câmera instalada na parte superior direita
desta. Frise-se que, na noite do fato, a autoridade policial foi orientada acerca das medidas
necessárias ao isolamento do equipamento e casa de máquinas, tendo sido tomadas todas as
providências com vistas à preservação das provas pertinentes à elucidação do fato.
Os exames se concentraram em componentes do elevador situados em áreas distintas, a
saber: caixa de corrida, casa de máquinas do elevador, cabina, poço e nos pavimentos 6 e 7.
O equipamento periciado era da marca SCHINDLER, com capacidade para 06 pessoas e
450 Kg, modelo S100L, possuindo comando eletrônico MICONIC LX, com operador de portas
QKS8. O modelo apresenta armazenamento do histórico de erros ou falhas através de uma placa
na CPU do controle MICONIC LX, cuja memória pode armazenar até 20 registros, havendo
sobreposição dos mais recentes sobre os mais antigos a partir do momento que o limite é
atingido.
tenha peso total igual ao do carro acrescido de 40 a 50% da capacidade licenciada. Tanto a
cabina como o contrapeso deslizam pelas guias (trilhos de aço do tipo T), através de corrediças.
As guias são fixadas em suportes de aço, os quais são chumbados em vigas, de concreto ou de aço,
na caixa. O carro e o contrapeso são suspensos por cabos de aço ou novos elementos de tração
que passam por polias, de tração e de desvio, instaladas na casa de máquinas ou na parte superior
da caixa.
O movimento de subida e descida do carro e do contrapeso é proporcionado pela
máquina de tração, que imprime à polia a rotação necessária para garantir a velocidade
especificada para o elevador. A aceleração e o retardamento ocorrem em função da variação de
corrente elétrica no motor. A parada é possibilitada pela ação de um freio instalado na máquina.
Além desse freio normal, o elevador é dotado de um freio de segurança para situações de
emergência. O freio de segurança é um dispositivo fixado na armação do carro ou do contrapeso,
destinado a pará-los, de maneira progressiva ou instantânea, prendendo-os às guias quando
acionado pelo limitador de velocidade. Sua atuação é mecânica. O limitador de velocidade, por
sua vez, é um dispositivo montado no piso da casa de máquinas ou no interior da caixa,
constituído basicamente de polia, cabo de aço e interruptor. Quando a velocidade do carro
ultrapassa um limite preestabelecido, o limitador aciona mecanicamente o freio de segurança e
desliga o motor do elevador.
A seguir esquema meramente ilustrativo da estrutura de um elevador com casa de
máquinas e seus principais componentes:
A expressão casa de máquinas diz respeito ao espaço destinado à colocação das máquinas
de tração, painéis de comando e controle, limitador de velocidade, e outros componentes do
sistema, estando posicionada na parte superior do edifício. No ambiente periciado, os
equipamentos do elevador estavam instalados, de forma adequada, com as devidas proteções das
partes móveis das máquinas de tração limitadores de velocidades e em perfeitas condições de uso.
Os exames foram iniciados pelo quadro de comando do elevador (“cérebro” do
elevador). O quadro de comando é responsável por todo o controle do elevador, desde o
acionamento e monitoramento da máquina de tração até a interface com botoeiras e indicadores
de posição, situados em todos os pavimentos e na cabina.
Em relação ao quadro de comando, foi solicitado ao responsável pela manutenção que
realizasse um diagnóstico dos erros gravados na memória interna do equipamento, através de uma
interface utilizada pelo referido profissional. Esta leitura tinha por objetivo verificar o histórico
de falhas do elevador, ou seja, os motivos pelos quais ocorreram a parada da cabina entre os
pavimentos, bem como a abertura das portas da cabina e pavimento. Foi informado que a
memória estava zerada, sem registros de erro. O histórico de erros pode ser apagado nas seguintes
situações: de maneira voluntária por intermédio de um reset no botão na placa CPU específico
ISSN 2236-6695 REVISTA A BARRIGUDA, CAMPINA GRANDE
6 [N. ESPECIAL]| P. 386-401| AGO 2016
REVISTA A BARRIGUDA 391
para esta ação, de maneira voluntária por intermédio de uma ferramenta de interface usada pelo
técnico, ou de maneira voluntária ou involuntária pela falta de alimentação/energia no painel de
controle do elevador. No caso em estudo a ausência de dados na memória interna do
equipamento se deu em virtude da descarga da bateria, diante do lapso temporal que o elevador
ficou desligado (o elevador passou cinco dias desligado, entre a data do acidente e realização dos
exames periciais, tendo em vista o Setor de Engenharia Forense situar-se em João Pessoa, e o fato
ter ocorrido na cidade de Patos, interior do estado, a 340Km da capital do Estado).
Com a análise das imagens do acidente, captadas pela câmera do interior da cabina, se
constatou que a cabina parou entre os pavimentos 6º e 7º. Diante dessa informação, os exames se
concentraram a partir desses andares, tendo como foco: porta da cabina, portas de pavimento,
soleira de cabina, soleira de pavimento, bem como os mecanismos do operador de porta solidário
à cabina e mecanismos da porta de pavimento.
Cada entrada de pavimento deve conter uma soleira de resistência suficiente para
suportar a passagem de cargas a serem introduzidas na cabina.
As portas de pavimento devem ser projetadas para evitar, durante a operação normal,
sair das guias, emperramento, ou desalojamento nas extremidades de seus percursos. As portas
corrediças horizontais de pavimento correm sobre essas guias na sua porção superior e inferior.
Segundo a NBR NM207, a distância horizontal entre a soleira do carro e a soleira de
pavimento não deve exceder 0,035 m. A medida obtida no 6º pavimento foi de 0,031m.
Ainda conforme a NBR NM207, no caso de portas de pavimento e de cabina
acionadas simultaneamente, um dispositivo (mola ou peso) deve assegurar o fechamento
autônomo da porta de pavimento se ela está aberta e a cabina estiver fora da zona de
destravamento.
A seguir esquema meramente ilustrativo – caixa de elevador e situando a zona de
destravamento:
elevador
Porta de pavimento
Zona de
Destravamento
Porta de pavimento
Porta de pavimento
Figura 03 - Operador de porta da cabina, e em destaque, a polia manuseada durante o exame pericial
Figura 04 - A seta amarela indica a antena da cortina luminosa na porta da cabina (VISTA SUPERIOR)
Figura 05 - A seta amarela indica a antena da cortina luminosa na porta da cabina (VISTA SUPERIOR)
Figura 06 - A seta amarela indica a antena da cortina luminosa em contato com o rolete (POR TRÁS
DESTA) da porta de pavimento (VISTA INFERIOR)
Figura 07 - A seta amarela indica a régua da cortina luminosa em contato com o rolete do trinco (POR
TRÁS DA RÉGUA) da porta de pavimento (VISTA INFERIOR)
suficiente para as crianças saírem da cabina, e, portanto, não ocorreria o evento morte, conforme
os croquis ilustrativos em anexo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
porta do pavimento
fechada
7º pavimento
vítima
30 cm
Protetor de
soleira ou
75 cm
tapa-vista
95 cm
6º pavimento
REFERÊNCIAS
RECEBIDO EM 10/05/2016
APROVADO EM 14/07/2016
Fire without victim in footwear factory shed: fire with electric source
RESUMO ABSTRACT
O presente trabalho apresenta os exames This paper presents the forensic examinations in
periciais realizados em um incêndio ocorrido no a fire in the shed recycling material -
galpão de reciclagem de material – polímero thermoplastic polymer - a factory. The material to
termoplástico – de uma fábrica. O material a ser be recycled is sent to a warehouse for storage and
reciclado é enviado para um galpão para recycling. This material is a rubber EVA type,
armazenamento e posterior reciclagem. Esse which is a type of flammable thermoplastic
material é uma borracha do tipo EVA, que é um polymer mixture whose composition uses ethyl,
tipo de polímero termoplástico inflamável cuja vinyl and acetate. Once recycled, it is used in the
mistura para sua composição utiliza o Etil, o Vinil manufacture of soles of shoes.
e o Acetato. Depois de reciclado, é utilizado na Upon learning of the properties of this material,
confecção dos solados dos calçados. they found to its features and some of its
Ao tomar conhecimento das propriedades desse characteristics - unsuitable for the environment
material, descobriram-se suas características e and conditions which were.
algumas de suas particularidades – inadequadas After walking around the shed excluding
para o ambiente e condições as quais estavam. possibilities, started the tests in QGBT, detecting
Após percorrer todo o galpão excluindo many traces, but two in particular: the disruption
possibilidades, iniciaram-se os exames no QGBT, of the protective bus (earth) and the explosion of
detectando diversos vestígios, mas dois em capacitive cells. Then, efforts were concentrated
particular: o rompimento do barramento de on the search for explanations for these events by
proteção (Terra) e a explosão de células studying academic and scientific theories that
capacitivas. Em seguida, os esforços foram justify. Confronting the possibility of disruption
concentrados na busca de explicações para esses of the Earth bus with the explosion of the cells,
acontecimentos, estudando-se teorias acadêmicas considering the fact that the Phase bus being
e científicas que os justificassem. Ao confrontar close to housing QGBT, we noticed a chance in
as possibilidades do rompimento do barramento common: short circuit. Thus, they began to
Terra com as da explosão das células, search for traces that keep relationship to short
considerando-se o fato de o barramento Fase circuit.
estar próximo à carcaça do QGBT, percebeu-se
uma possibilidade em comum: curto-circuito.
Sendo assim, iniciaram-se buscas por vestígios
que mantivessem relação com curto-circuito.
INTRODUÇÃO
Passou-se, então, ao exame interno do galpão quanto aos vestígios deixados pela
ocorrência, conforme será descrito mais adiante, registrando as avarias decorrentes da ocorrência e
suas possíveis causas para análise em momento subsequente, além de outros dados de interesse
pericial ou investigativo.
Os vestígios encontrados no local da ocorrência foram registrados quando da realização
de cada etapa por meio fotográfico. Por fim, registrou-se, de forma escrita e detalhada, os dados
da ocorrência e sua dinâmica de acontecimento.
O objetivo da análise pericial é analisar e discutir os dados coletados e os vestígios
encontrados que tenham interesse para a perícia criminal, bem como suas relações com a
ocorrência, promovendo-os, ou não, à categoria de evidências. Com base nesse estudo traça-se a
possível dinâmica dos fatos ocorridos.
3 CONSIDERAÇÕES TÉCNICO-PERICIAIS
desenvolvia o curto-circuito, este fez o banco de capacitores da seção de 440 V ter suas células
curto-circuitadas, cuja consequência foi uma explosão. Células capacitivas quando permanecem
tempo prolongado em curto-circuito podem causar explosão, inclusive com dispersão de sua carga
acumulada.
Após as explosões, iniciou-se o fogo dentro do QGBT, causando danos aos
dispositivos/equipamentos no interior desse quadro e às isolações dos cabos elétricos,
provocando novos curtos-circuitos em outros dispositivos/equipamentos – como uma reação em
cadeia.
Com elevação da temperatura de um determinado volume gasoso constante, eleva-se a
pressão interna devido ao aumento da energia cinética média das moléculas (Dorea, Luiz
Eduardo; Quintela, Victor; Stumvoll, Victor Paulo; Tocchetto, Domingos) até o momento de
nova explosão: o volume gasoso aquecido no interior do QGBT provoca a expulsão do material
que permite a visibilidade do interior do quadro pela sua porta – identificado como material
acrílico transparente. Esse material foi encontrado, com dificuldade, bastante fragmentado
próximo ao QGBT repousado sobre a camada emborrachada e molhada, dificultando-se seu
registro devido às condições locais.
Ao romper os limites do QGBT com essa última explosão, o fogo passou ao exterior do
quadro, entrando em contato com uma nova atmosfera. Essa atmosfera externa ao QGBT, e
próxima às gaiolas contendo borracha EVA, contém pó dessa borracha espalhado pelo ar,
contribuindo para a propagação do fogo, servindo como meio e como combustível. Além do pó
da borracha EVA, a própria EVA serviu de combustível para o fogo, constatado em sua excessiva
quantidade derretida pelo piso do galpão. Como havia grande quantidade de borracha EVA no
interior do galpão, principalmente próximo ao QGBT, o fogo espalhou-se rapidamente, tomando
maiores proporções, atingindo inclusive a coberta do galpão e sua estrutura metálica de
sustentação – os metais, ao serem expostos ao calor, a partir de determinada temperatura,
dilatam-se. No momento em que a estrutura metálica dilatou-se, ela e a coberta por ela sustentada
começaram a ruir, indo abaixo.
A dificuldade em controlar o fogo foi devida às condições encontradas e ao material
utilizado como combustível pelo fogo, pois em incêndios com materiais celuloides ou acetatos de
celulose usados na fabricação de matérias plásticas, entre outras, há um alto teor de oxigênio em
sua composição química, que queimam mesmo quando são cobertos com água, motivo pelo qual
os incêndios com esses materiais só se extinguem em condições especialíssimas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALEMANY, S.; Javier, F. Estudio de los procesos de reticulado, espumado y descomposición térmica de
formulaciones industriales de copolímeros de EVA y PE : métodos cinéticos. 2002. Tese (Doutorado em
Engenharia Química). Universidad de Alicante, Espanha, 2003.
ARAGÃO, Ranvier Feitosa. Incêndios e explosivos: uma introdução à engenharia forense – Tratado de
perícias criminalísticas. Campinas: Millennium Editora, 2010.
CONTRIN, Ademaro A. M. Bittencourt. Instalações elétricas. São Paulo: Makron, 1993.
CREDER, Hélio. Instalações elétricas. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 2003.
DOREA, Luiz Eduardo; et. al. (Org). Criminalística. Campinas: Millenium Editora, 2010.
LION D’OR – Produtos especiais. Disponível em: <http://www.liondor.com.br/documentos/eva-
informacoes-tecnicas.pdf>. Acesso em: 09 mar. 2016.
MAMEDE FILHO, João. Instalações elétricas industriais. Rio de Janeiro: LTC, 2003.
MARDEGAN, Claúdio. Proteção de bancos de capacitores shunt. Revista O Setor Elétrico. n. 60, p. 26-35,
2011.
NBR 5418. Instalações elétricas em atmosferas explosivas. ABNT, 1995.
NBR 15424. Ensaios não destrutivos: Termografia – Terminologia. ABNT, 2006.
NFPA 654. Disponível em: <https://www.nfpa.org/Assets/files/AboutTheCodes/654/HAP-
AAA_ROP%20Staff%20Draft%20to%20654_Mar11.pdf>. Acesso em: 09 mar. 2016.
NR 10. Segurança em instalações e serviços em eletricidade. Portaria GM nº 598, 2004.
OLIVEIRA, Maria C. B. Ribeiro de. Gestão de resíduos plásticos pós-consumo: perspectivas para reciclagem
no Brasil. Dissertação (Mestrado em Planejamento Energético). Universidade do Rio de Janeiro, 2012.
PRESTES, Sabrina M. Darbello. Reaproveitamento de resíduos de EVA reticulado através de reciclagem
química. Tese (Doutorado em Materiais Poliméricos, Híbridos e Nanoestruturados). Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, 2013.
SANTOS, Vanesa Malaco dos. Estudo de caso de um curto-circuito em um sistema elétrico industrial.
Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Engenharia Elétrica com ênfase em sistemas de energia de
automação). Universidade de São Paulo, 2009.
SCHNEIDER-ELECTRIC. Os efeitos do curto-circuito. Disponível em: <http://www.schneider-
electric.com.br/documents/cadernos-tecnicos/tema2_efeitos.pdf>. Acesso em: 16 mar. 2016.
SOUSA, Gabriel Rodrigues de; NOBRE, Igor Cavalheiro; Possi, Marcus. Ensaios Termográficos. Revista O
Setor Elétrico. n. 102, p. 47-55, 2014.
RECEBIDO EM 10/06/2016
APROVADO EM 14/07/2016
RESUMO ABSTRACT
Os acidentes de trânsito ceifam e mutilam The accidents of traffic harvest and they mutilate
diversas vidas todos os anos, devido a diversos several lives all of the years, due to several
fatores, como: ambientais, manutenção factors, as: environmental, inadequate
inadequada, imprudência, bebida associada à maintenance, imprudence, drink associated to the
direção, falta e/ou inexistência de sinalização de direction, lacks and/or inexistence of signalling
trânsito, ou, ainda, da omissão da fiscalização of traffic, or, still, of the omission of the
dos órgãos públicos, dentre outros. O caso em fiscalization of the public organs, among others.
estudo refere-se à colisão entre uma locomotiva e The case in study refers to the collision between a
um ônibus urbano que deram causa a um sinistro locomotive and an urban bus that you/they gave
de alta complexidade, devido, sobretudo ao cause the a casualty of high complexity, due,
excesso de velocidade do trem associado à above all to the excess of speed of the train
conduta imprudente do condutor do ônibus. associated to the imprudent conduct of the driver
Foram utilizados os parâmetros técnico- of the bus. The technician-scientific parameters
científicos das ciências forenses com o intuito de of the forensic sciences were used with the
se chegar as conclusões periciais. É necessária intention of arriving the conclusions. It is
que haja ações integradas do Estado e da necessary that there are integrated actions of the
população com o objetivo de prevenir os State and of the population with the objective of
acidentes de trânsito, associado às políticas preventing the accidents of traffic, associate to
públicas de mobilidade urbana e, também, a the public politics of urban mobility and, also, the
conscientização de um trânsito seguro, desde o understanding of a safe traffic, from the
pedestre até o condutor motorizado, só assim pedestrian to the motorized driver, we can only
podemos ter uma melhor condição de like this have a better trafegabilidade condition
trafegabilidade dentro das cidades, inclusive nas inside of the cities, besides in the intersecções
intersecções com vias férreas, gerando, desse with railroads, generating, this way, public
modo, políticas públicas que englobem ações de politics that you/they include actions of
melhorias no trânsito e em outras áreas, com o improvements in the traffic and in other areas,
intuito de dá uma vida melhor, mais segura e with the intention of he/she gives a better life,
consciente para toda a sociedade. more it holds and conscious for every society.
INTRODUÇÃO
O principal esforço dos envolvidos nas questões ligadas aos acidentes de trânsito é
conhecer as circustâncias do evento e a forma pela qual o acidente ocorreu, trazendo a baila uma
discussão técnica, definida como dinâmica do acidente, uma vez que esta deflui nas definições das
causas imediatas (diretas) e mediatas (indiretas) do sinistro.
Os fundamentos técnicos visam o levantamento do local de acidente de trânsito,
considerando todos os fatores intervenientes e presentes no fenômeno, desde os aspectos legais
relacionados às normas de circulação e conduta até o cálculo da velocidade dos veículos
envolvidos, cujos objetivos principais são: (1º) estabelecer uma dinâmica, no tempo e no espaço
para o ocorrido, conforme as interações dos veículos colidentes, e (2º) determinar qual(is)
fator(es), dentre os inúmeros prováveis, que deu ou deram causa(s) para o acidente de trânsito.
A perícia em acidentes de trânsito objetiva definir as condições em que o fato ocorreu
baseado à luz da ciência. A dinâmica do acidente de trânsito define como o acidente ocorreu.
Estabelecer a causa determinante do acidente significa definir por que o fato ocorreu, e busca,
dentro de um contexto técnico, os elementos ou fator(es) causado(res) do sinistro.
Atribuir a causa do acidente para este ou aquele condutor, deve ser um processo que
começa pelo levantamento do local, das condições de sinalização, das condições da via, das
condições do tempo, das condições dos veículos, a seguir pela avaliação das velocidades que
desenvolviam, das preferências de tráfego de cada um e da influência da velocidade no sinistro em
questão.
Existem duas fontes de informações na coleta de dados para a perícia: em primeiro lugar,
as evidências físicas ou vestígios materiais e em segundo lugar, as evidências humanas,
compreendendo-se estas como as declarações e informações de ordem subjetivas; e àquelas com os
elementos materiais (objetivos).
Observa-se que o conjunto de variáveis envolvidas nesse fenômeno é muito grande,
começando pela legislação que define as normas de circulação, passando pela análise física da
interação entre os veículos envolvidos até se chegar aos fatores técnicos. Ordenar a concatenação
de ideias e procedimentos dentro do contexto dessa análise é um objetivo a ser alcançado na
construção dos resultados desse trabalho.
Salienta-se que a análise do acidente de trânsito com fito de se chegar à causa
determinante deve ser, eminentemente, baseada pelo percurso científico e baseada nos preceitos da
criminalística moderna.
Foi observado, in loco, toda gama de elementos materiais dos participantes do acidente,
V1 (ônibus), V2 (locomotiva) e em toda área do acidente, visando o estudo técnico das variáveis
que propiciaram o acidente, seja de forma direta ou indireta, conforme as figuras abaixo (01 a
06):.
Figura 01 - Identificação de V2, Locomotiva CBTU nº 6013 - mostra que o medidor/controle de velocidade está
inoperante (quebrado) e inadequado, o qual não marca a velocidade
percorrida pelo Trem/Locomotiva
Figura 02 - Identificação de V2, mostra um detalhe (lateral) das sapatas do freio da locomotiva,
demonstrando o desgaste excessivo das lonas/sapatas de freio
Figura 03 - Mostra uma Visão Frontal do Local do Acidente, denotando a sinalização vertical
e a ausência de sinalização horizontal
Figura 05 - através do conjunto de imagens, observou-se o veículo ônibus, denominado V1, no horário 03:31:27 PM
(a tarde), fazendo a derivação à esquerda, indicando um comportamento ilegal e inusitado (inadequado) para o
trecho. Ao fundo do vídeo (tela), em destaque vermelho, observa-se que o fluxo de tráfego está obstruído, nos dois
sentidos da via (ida e volta) na passagem de nível nota-se que o motorista do ônibus tem baixa visibilidade em relação
a Trajetória do trem (V2)
Figura 06 - através do conjunto de imagens, observou-se o veículo ônibus, denominado V1, no horário 03:31:45 PM
(a tarde), fazendo a conversão à esquerda, indicando um comportamento ilegal e inusitado (inadequado). Nesse
trecho, passagem de nível (PN), houve um conflito de trânsito entre o ônibus e 02 (dois) veículos e 01 (uma) moto,
sem identificação, há uma regressão do sentido desses veículos (dando ré) e V1 fica, totalmente, parado, horário em
que V2 (Locomotiva) aproxima-se dos veículos. Observa-se o comportamento inusitado do motorista, atordoado
com a situação e ao mesmo tempo sem saber o que fazer, denotando total indecisão/insegurança, poucos segundos
antes da colisão. Observa-se, claramente, a chegada de V2 (Locomotiva) ao ponto de impacto entre V1 e V2.
VAB = (49,00 ± 5,00) : VAB máx.= 54,00 Km/h e VAB min.= 44,00 Km/h (1)
VBC = (47,00 ± 5,00) : VBC máx.= 52,00 Km/h e VBC min.= 42,00 Km/h (2)
Figura 09 - Análise do Ponto de percepção-reação do caso real, a partir do ponto de visada do maquinista
No caso em tela, foi medida a distância de segurança no valor de 82,75 metros, esta
é o ponto de visada do maquinista em relação ao impacto, denominada como sendo distância
total de parada (DTP = Lseguranca), valor quantificado no ponto do sinistro.
Observa-se que para uma velocidade de 42 Km/h (velocidade de colisão) a DTP
calculada seria no valor de L=41,00 metros, para uma velocidade de 25 Km/h (velocidade
regulamentada da via férrea) DTP calculada seria no valor de L=22,00 metros e para uma
velocidade de 15 Km/h (velocidade regulamentada para PN) DTP calculada seria no valor
L=12,00 metros.
No caso real, de parada da locomotiva, antes do ponto de obstáculo, é condição
necessária que o motorista disponha de tempo percepção-reação, ao qual deve ser adicionado o
tempo de frenagem.
Figura 10 - Análise do Ponto de percepção-reação do caso real, a partir do ponto de visada do maquinista, vista
retirada (medida) na reprodução simulada em 25/04/2016 (após o acidente) a tarde - visão do maquinista V2 em
relação a V1
DTPREAL
DA ANÁLISE DE VISIBILIDADE
Importante frisar, que todas as passagens de nível (PN) devem atender à distância de
visibilidade de parada.
Inserindo na tabela do DNIT, o valor da velocidade de 40 Km/h da via pela qual
trafegava o ônibus e de 15 Km/h que corresponde à velocidade reduzida que o trem, ante a
passagem de nível (PN), obteveram-se as distâncias de segurança para os condutores que fazem
essa travessia.
Em seguida na tabela do DNIT, foi inserida a velocidade real do trem 42 Km/h (valor
mínimo através do Laudo de imagem) e obtiveram-se as distâncias de segurança para a velocidade
real do trem.
Figura 11 - Ilustração do Triângulo de Visibilidade para o ônibus (V1), COMO DEVERIA SER (“IDEAL”)
X=50 m e Y=73,6 m (Valores Tabelados, conforme dados do DNIT)
D
ÔNIBUS
Y
D
T REM
D
D
X
ÔNIBUS
D
ÔNIBUS
ÔNIBUS
TREM
D
Analisando a situação sob o viés técnico e legal, observa-se que o motorista do ônibus
(V1) após uma conduta imprudente, colocou-se em uma situação iminente de acidentes, posto
que não havia fluxo de veículos, no momento da sua entrada imprevista e inadequada naquelas
circunstâncias, sob a área da passagem de nível (PN), devido ao trânsito obstruído por V3
(veículos e motos não identificados no vídeo).
Devido a essa situação, gerada por V1, o ônibus ficou cerca de 10 (dez) segundos sob a
PN até o surgimento do trem (V2) na linha férrea, nesse tempo o motorista manteve-se,
totalmente, atordoado e indeciso em suas atitudes, em virtude da situação, eminentemente por ele
propiciada, colocando, assim, em risco iminente de acidentes todos os passageiros.
Em virtude da linha férrea ficar perpendicular a trajetória de V1 houve a geração de uma
situação inusitada (fora de controle), a qual não existiu tempo suficiente de percepção/reação por
parte do maquinista do trem (V2), entre a entrada na curva e o choque teve um tempo de 8
(oito) segundos, onde não foi possível quaisquer reação (V1 e V2), em virtude, sobretudo, de
uma série de falhas consecutivas de ambos os condutores (motorista e maquinistas), além da
conjectura ociosa da locomotiva e das condições inadequadas de segurança na PN (ativa e
passiva), associada à velocidade excessiva trafegada por V2, muito acima da permitida para linha
férrea.
Portanto, as causas do acidente foram geradas, sobremaneira, em virtude da concorrência
de erros ligados à falha humana, desrespeito às regras de trânsito, falhas no sistema de sinalização
da PN, indefinição no trânsito na via e a alta velocidade empenhada pelo trem (V2).
velocidade da composição férrea (V2), cujas condutas concorreram e propiciaram o sinistro, além
da inadequada sinalização passiva e ativa de segurança, da instabilidade do tráfego, falta de
fiscalização e organização, devido, sobretudo, a omissão direta do município de Santa Rita.
Houve várias concausas que desencadearam o acidente em tela, cujos resultados foram
atrelados as causas determinantes propiciadas por V1 e V2.
Observou-se, na reconstrução do acidente de trânsito, realizada na data de 25/04/2016
(posterior ao sinistro), nas mesmas condições operacionais de tráfego, que havia espaço suficiente
para a composição férrea acionar os freios de emergência, caso estivesse trafegando dentro dos
limites de velocidade, pelos cálculos, haveria a parada do trem, o que infere, totalmente, que as
condutas, tanto de V1 e V2 concorreram, direta e indiretamente, para a realização do sinistro, de
elevada repercussão e complexa gravidade.
Figura 13 - Visão do Maquinista (V2) em Relação ao Ônibus (V1), havia espaço suficiente para efetuar a Parada de
Emergência, caso a Locomotiva Trafegasse com a Velocidade Compatível da Via Férrea (25 Km/h) e a 15 Km/h
na Passagem de Nível (PN)
Figura 14 - Visão do Maquinista (V2) em Relação ao Ônibus (V1), momento em que houve a colisão entre V1 e
V2, localizada no 2º eixo (traseiro) com uma velocidade estimada de 42 Km/h
Figura 15 - Visão do Maquinista (V2) em Relação ao Ônibus (V1), momento em que houve a colisão entre V1 e
V2, localizada no 2º eixo (traseiro) com uma velocidade de 42 Km/h. Posição final das unidades de tráfego, após a
colisão, no sentido da esquerda para direita e a força (energia) do choque de baixo para cima. Posição final de V1 e
V2 na via de rolamento e na via férrea
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em vista disto, diante dos estudos, investigações técnicas e as interpretações dos vestígios
materiais constatados no local, análises dos resultados complementares, legislações aplicadas ao
caso, conjecturas e testes de hipóteses, que as causas determinantes do acidente foram propiciadas
pela conduta IMPRUDENTE do condutor de V1, por motivos que não se pôde precisar
materialmente, gerou uma condição de risco de acidentes ao ônibus (V1) associada à elevada
velocidade trafegada pela composição férrea (V2) no trecho do acidente, incompatível com a
zona de tráfego (Passagem de Nível e em Área Urbana), resultando, desse modo, o veículo V1
obstruindo a passagem da locomotiva, ocorrendo uma colisão lateral esquerda de elevadas
proporções e de complexa gravidade, levando a óbito no local três (03) vítimas e outras com
lesões corporais graves.
Houve, portanto, a concorrência da conduta do motorista (01) do ônibus, juntamente,
com os dois (02) maquinistas, os quais propiciaram a condição preponderante para ocorrência do
sinistro, onde não seguiram as regras de previsibilidade dos acidentes com uma conduta segura e
calculista no trânsito, ou seja, falharam em suas funções. Existiu o concurso de falhas (conjunto
de erros) que levaram a ocorrência do fenômeno, conforme discutido e fundamentado no curso
deste trabalho técnico.
Em virtude, ainda, de não haver no local do acidente sinalização passiva e ativa adequada:
vertical, horizontal, semafórica, luminosa, dentre outras, que são utilizadas para segurança do
trânsito e da população, as quais estavam omissas em relação à legislação em vigor.
Outro fator preponderante no sinistro foi às condições operacionais da Locomotiva
(V2), a qual estava com o velocímetro danificado, sem demonstrar quaisquer controles de
velocidade, durante o tráfego da unidade férrea. Também, foi constatado que as sapatas (lonas)
de freios estavam desgastadas, o que de certa forma, diretamente, houve a influência na
ineficiência/ineficácia do sistema de freios de emergência na composição férrea, contribuindo nas
causas (concausas) do acidente.
Do exposto, em função da omissão do município de Santa Rita, houve a falta de uma
definição do fluxo de tráfego, bem como o controle e fiscalização por órgão de trânsito
responsável pelo direcionamento do trânsito seguro, o que, de certa forma, fomentou uma
condição insegura para a população, pois, não havia quaisquer definições e organização sob a
circunscrição da via de rolamento.
Posto isso, existiu a lacuna da formatação e gerenciamento do órgão responsável do
trânsito, tanto em sua definição, tal como na ausência das sinalizações de segurança na via
rodoviária/municipal e na linha férrea, totalmente inadequada para as condições operacionais
daquele trecho urbano com passagem de nível (PN) sem barreiras.
Em face dos elementos analisados e discutidos neste trabalho, conclui-se que as causas
determinantes, mais prováveis, do acidente de trânsito em exame estão relacionadas às concausas
do condutor de V1 (motorista), dos maquinistas (V2) e da omissão direta da Prefeitura
Municipal de Santa Rita, responsável pelo gerenciamento/implantação e fiscalização do trânsito ,
houve a concorrência das causas que propiciaram o sinistro, em função das sucessivas falhas
gerenciais e operacionais relativas às unidades V1 (ônibus) e de V2 (locomotiva).
A participação dos veículos e moto (V3) foi indireta e ativa, induzindo o ônibus ao erro,
porém, não houve o embate entre as unidades. Ademais, esses veículos e moto não foram
individualizados nas imagens de segurança. Por isso, deve ser apurado por outros meios de provas
dutante o curso das investigações do caso em epígrafe.
Através deste trabalho, com o embasamento técnico-científico, abre-se um parêntese com
o foco da prevenção de acidentes, pois, na verdade, todo o acidente pode ser evitado.
São as ações concorrentes de empresas privadas, empresas públicas, o Estado e a população,
trabalhando em conjunto, que podem salvar vidas e dá uma maior segurança a população. Ações
de prevenção e melhoria contínua na sinalização de segurança, passiva ou ativa, que fazem uma
grande diferença, associadas, sobremaneira, a conscientização dos usuários com vista a diminuir os
casos de infortúnios gerados por acidentes de trânsito.
Outro fator analisado, importantíssimo, são as políticas públicas, cujas ações visam dar
uma melhor segurança veicular nas rodovias, sejam elas federais, estaduais e/ou municipais,
tentando, assim, propiciar um ambiente mais seguro e com menores riscos de acidentes a todos os
usuários da via, inclusive aos pedestres.
REFERÊNCIAS
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Crime: Dos Vestígios à Dinâmica Criminosa. Campinas: Millennium, 2013.
RECEBIDO EM 07/06/2016
APROVADO EM 01/08/2016
Analysis and Technical Investigation Expert of a Place Crime: Fall in Height for Direct
Precipitation - A Typical Accidente of Work - Couting of the Immediate and Mediate Causes of
the Sinister
RESUMO ABSTRACT
A construção civil possui grande importância na The building site possesses great importance in
geração de emprego, é um ramo que se expande a the job generation, it is a branch that expands
cada dia e se destaca a cada ano, no entanto, every day and he/she stands out every year,
ainda existem muitas obras clandestinas que however, they still exist many clandestine works
oferecem empregos informais, precários e sem that you/they offer jobs informal, precarious and
condições de segurança. A partir dessa análise, o without conditions of safety. From this analysis,
presente estudo tem como objetivo geral the present study has as general objective to
identificar as principais causas de acidentes identify as main causes of accidents occurred in
ocorridos na área da Construção Civil, the area of Civil Construction, highlighting a case
destacando um caso de trabalho em altura por of work in height by direct precipitation. The
precipitação direta. Os ambientes de construção construction atmospheres propitiate factors of
propiciam fatores de riscos aos trabalhadores, risks to the workers, above all, due to the lack
sobretudo, devido à falta e/ou má gestão dos and/or bad administration of the factors related
fatores relacionados à segurança do trabalho, o to the safety of the work, which, directly and
que, diretamente e indiretamente, vai de encontro indirectly, it is running into the constitutional
aos preceitos constitucionais, garantias precepts, fundamental warranties that should be
fundamentais que devem ser determinantes a decisive the human person's dignity.
dignidade da pessoa humana.
KEYWORDS
PALAVRAS CHAVE ACCIDENT OF WORK. SAFETY OF THE WORK.
ACIDENTE DE TRABALHO. SEGURANÇA DO OCCUPATIONAL HYGIENE. PREVENTION OF
TRABALHO. HIGIENE OCUPACIONAL. ACCIDENTS. ENVIRONMENT OF THE WORK.
PREVENÇÃO DE ACIDENTES. MEIO AMBIENTE FUNDAMENTAL RIGHTS. DIGNITY OF THE
DO TRABALHO. DIREITOS FUNDAMENTAIS. HUMAN PERSON. RESPONSIBILITY OF THE
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. EMPLOYER.
RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR.
INTRODUÇÃO
De acordo com a Lei nº 8.213, Art. 19, de 27.07.1991, Acidente de trabalho é o que
ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do ttrabalho dos
segurados especiais, “provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a
perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho”.
Trata-se, portanto, da definição do chamado acidente de trabalho típico.
Como se nota, acidente do trabalho é o infortúnio ocorrido em razão do trabalho,
gerando incapacidade ou morte.
De acordo com o Art. 20 da Lei nº 8.213/1991, consideram-se acidente de trabalho as
seguintes entidades mórbidas:
I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja
contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua
capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para sua
recuperação.
Em relação aos direitos fundamentais, conforme a carta magna de 1988, entende que são
direitos inalienáveis ou intransferíveis, bem como não são de objeto pecuniário ou patrimonial, e
se a ordem constitucional os cofere a todos, deles não podem desfazer.
São direitos indisponíveis e imprescritíveis já que nunca deixam de ser exigidos, sendo
que, ainda que não se possa exercê-los, jamais, poderá a eles renunciar.
A Carta Constitucional de 1988 elenca, sem esgotar, tais direitos inerentes ao ser humano
como indivíduo e a toda uma coletividade. Ela regulamenta em forma de leis fundamentais os
direitos humanos proclamados.
Já nos primeiros capítulos da CF foi elencada uma série de direitos e garantias
individuais, sendo a eles outrogado o patamar de cláusula pétrea, conforme o Art. 60,
§ 4º, inciso IV, da Carta Maior.
Estamos verificando, efetivamente, uma priorização dos direitos humanos, na medida em
que grande parte deles passaram a ser positivados pelo poder constituinte.
Portanto, os direitos fundamentais na CF-88, compreendem os direitos individuais, os
direitos coletivos, os direitos sociais e os direitos políticos.
Os direitos individuais e coletivos, compreendem os direitos ligados ao conceito da
pessoa humana e a sua própria personalidade, tanto num contexto individual quanto coletivo, ou
seja, do homem como integrante de uma coletividade.
Pela interpretação das normas em vigor, verifica-se o Direito Ambiental como um dos
direitos fundamentais da pessoa humana.
O objetivo do legislador constituinte, ao exigir um meio ambiente de trabalho
equilibrado, foi, eminentemente, proteger a vida e a saúde do trabalhador, considerados direitos
fundamentais de qualquer ser humano.
Constitui meio ambiente do trabalho o local onde as pessoas desempenham suas
atividades laborais, sejam remuneradas ou não, cujo equilíbrio está baseado na salubridade do
meio e da ausência de agentes que comprometam a incolumidade física-psíquica dos
trabalhadores, independente da condição profissional.
Quando a CF-88 impõe que se proteja o meio ambiente de trabalho com a redução de
riscos inerentes ao trabalho por normas de saúde, higiene e segurança e determina que lei
infraconstitucional estabeleça um adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres
ou perigosas, está cuidando de forma imediata da proteção do trabalhador e seu local de trabalho,
para, de uma forma mediata, proteger o meio ambiente a que todos têm direito, ou seja, um
ambiente ecologicamente equilibrado.
A construção civil possui uma grande importância na geração de emprego, é um ramo que
se expande a cada dia e se destaca a cada ano, porém, ainda, existem muitas obras clandestinas que
oferecem empregos informais, precários e sem condições de segurança, principalmente no que
tange aos fatores e aspectos de Segurança e Higiene do Trabalho.
A partir dessa análise, o presente trabalho tenta identificar as principais causas de
acidentes na área da Construção Civil de maneira geral e em um aspecto mais detalhista no
acidente em tela, na cidade de João Pessoa-PB.
Foi um tema escolhido, justamente, em virtude da expansão absurda nos últimos anos, o
que vem gerando uma grande quantidade de empregos, formais e informais, principalmente nas
grandes cidades e em áreas em desenvolvimento.
A partir desta temática da expansão do trabalho há uma proliferação de acidentes de
trabalhos, cujo fator determinante, muitas vezes, está relacionado à proteção do meio-ambiente
do trabalho, direito fundamental da CF-88. Diversos fatores expõem o ser humano as atividades
diárias na execução das obras.
Segundo a Agência do estado de segurança do trabalho no Brasil, a retomada das obras de
infraestrutura e construção imobiliária elevou o número de acidentes de trabalho que resultam em
mutilações ou mortes no Brasil. Entre janeiro e outubro de 2011, pelo menos 40.779
trabalhadores foram vítimas de acidentes graves de trabalho, das quais 1.143 morreram, segundo
o Ministério da Saúde (MS). O número total é 10% maior do que o período do ano anterior
37.035.
A conscientização do empregador de que o simples fato de contratar o serviço de
segurança do trabalho não basta, o empregado deve ser tratado com prioridade, e enxergar a
preocupação e o respeito que seus responsáveis têm em relação aos riscos gerados. Conhecer o
número de acidentes e doenças profissionais ocorridas no ambiente de trabalho ou em
decorrência do exercício deste é fundamental para o planejamento das ações na área de saúde e
segurança que visem minimizar o problema juntamente com o setor da Gestão de Pessoas que é o
estudo direto dos colaboradores e dos empreendedores para o bem estar de ambos.
Observou-se, claramente, no caso em concreto que diversos fatores relativos à segurança
do trabalho propiciaram o ambiente inseguro, bem como a falta de atenção dos colaboradores, os
quais, muitas das vezes, não estão preparados para o ofício.
Ademais, as consequências do acidente de trabalho atingem diretamente e/ou
indiretamente o psicológico e o físico do indivíduo, mas também das pessoas que estão ao seu
redor, tanto na relação familiar quanto em relação à sociedade.
Entre as principais causas de acidentes fatais em canteiros de obras estão quedas de
pessoas e materiais, choques elétricos e soterramentos. Dados do INSS informam que acidentes
envolvendo as mãos representam 49% do total de ocorrências registradas; já lesões em membros
superiores são 7%, totalizando 56% entre mãos e braços. Os equipamentos campeões de
acidentes ainda são a serra circular de bancada e a serra manual, responsáveis por grande parte da
mutilação de membros entre os trabalhadores da construção civil.
Importante frisar, que a iniciativa do empregado em exigir que se cumpram as normas
estabelecidas nas leis de segurança no trabalho (MTE e afins), a disponibilidade dos
equipamentos obrigatórios, torna-se uma responsabilidade a frente do empregador.
O dever de indenizar surgiu da teoria do risco gerado, ou seja, se é o empregador quem
cria o risco por meio de sua atividade econômica (empresa), a ele caberá responder pelos danos
causados, independente de dolo ou culpa. A este contexto atribuímos a teoria da responsabilidade
objetiva.
Assim dispõe o Código Civil ao determinar que haja obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano (empregador) implicar, por sua natureza, risco para os direitos
de outrem.
Se o empresário se propõe a estabelecer uma empresa que pode oferecer riscos na
execução das atividades, se contrata pessoas para executar estas atividades e se os benefícios
ISSN 2236-6695 REVISTA A BARRIGUDA, CAMPINA GRANDE
6 [N. ESPECIAL]| P. 435-453| AGO 2016
REVISTA A BARRIGUDA 440
(lucros) gerados ao empregador devem ser atribuídos, logo, o risco do negócio, assim como os
resultantes dos acidentes, também deverão ser por ele suportados.
Por outro lado, há o entendimento de que se deveria aplicar, nestes casos, a teoria da
responsabilidade subjetiva, ou seja, somente após comprovar que houve dolo ou culpa do
empregador, é que lhe imputaria a responsabilidade pelo acidente e, consequentemente, o dever de
indenizar.
A Constituição Federal dispõe em seu artigo 7º, inciso XXVIII, que é direito dos
trabalhadores o seguro contra acidentes do trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a
indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa.
O dolo é a intenção de agir em desfavor ao que dispõe a lei ou contrariamente às
obrigações assumidas, agir de má-fé, é enganar mesmo com pleno conhecimento do caráter ilícito
do próprio comportamento.
A culpa é a negligência, a falta de diligência (cuidado) necessária na observância de norma
de conduta, isto é, não prever o que poderia ser previsível, porém sem intenção de agir
ilicitamente e sem conhecimento do caráter ilícito da própria ação.
Como se pode observar há uma norma constitucional direcionando para a
responsabilidade subjetiva e uma norma infraconstitucional direcionando para a responsabilidade
objetiva.
Entre o meio do trabalho se deparamos com o lado empregador que se trata daquele que
por meios de produção se responsabiliza pela a atividade econômica e por outro lado estão
empregados, do qual vende sua força física e mental em troca de um salário do qual se mantém na
sociedade.
Todo o cidadão tem direito de estar executando suas atividades em um meio adequado.
Segundo Mônica Maria Lauzid “[...] a proteção e a preservação do meio ambiente são fatores
primordiais a realização do trabalho digno, em que o trabalhador não se transforme em mera
máquina humana de produção causando prejuízos à sua integridade física, moral ou psicológica”
(LAUZID, 2002, p.23).
Para se realizar um trabalho digno onde o colaborador possa se sentir seguro e sentindo
parte da equipe e não somente como uma ferramenta o ambiente de trabalho deve se adequar as
normas estabelecidas e o colaborador devem segui-las conforme as exigências.
O PCMAT está, totalmente, ligado à área da construção, onde por meio dele são
analisados os riscos do qual o trabalhador está exposto diariamente em seu labor. São medidas
administrativo/técnicas que visam à proteção e à prevenção do ambiente de trabalho.
Quanto aos aspectos sociais da vida dos colaboradores, como áreas de vivência e de lazer,
refeitórios e alojamentos, com o objetivo de garantir a qualidade de vida, condições de higiene e
integração do empregado na sociedade, com reflexos na produtividade da empresa e visando,
sobretudo, a segurança e a dignidade dos empregos, são atividades que o PCMAT exige do
empregador no intuito de melhorar o ambiente de trabalho.
O PCMAT pode e deve ser analisado durante a sua implementação e alterado quando
convinientee/ou necessário para garantir a implementação das ações que visem à melhoria
contínua das condições de trabalho.
O PCMAT deve ser apresentado formalmente a todos os profissionais, que na obra
trabalhem ou influenciem, sendo demonstrada sua importância e, principalmente, sua função
deestabelecer regras que os protejam. Uma das formas de evidenciar esta divulgação é o registro
da CIPA.
Improtante destacar, que o PCAMT é inerente ao contexto da obra/empreendimento a
ser executado.
A implementação do PCMAT é de responsabilidade do empregador ou do condomínio
(item 18.3.3), sendo assim, este visa as implementações de projetos de segurança ligados
à obra em andamento e em execução.
dele, em face da ausência do impulso inicial, como se houvesse apenas a ação da gravidade (regra
geral do assunto).
Observou-se, nesse caso, que o corpo não havia sinais defesa, bem como estava ausente
de sinais de violência em suas vestes/corpo.
No ponto inicial não havia elementos que pudessem materializar uma ação criminosa
e/ou voluntária, pois, não foram deixados/encontrados vestígios materiais, inferindo-se, desse
modo, que é possível eliminar as possibilidades de um possível suicídio e/ou de um suposto
homicídio.
PONTO INICIAL
Cálculo da Velocidade:
V= vo2 + 2.g.d
g = 9,81 m/s2
V= 2 x 9,81 x 92,41
MARQUISE DO PRÉDIO
PONTO DE REPOUSO 1,25m
7,65 m
Fonte: Elaborado pelos autores
Foram feitas as investigações e análises técnicas, segundo os preceitos legais das normas
regulamentadoras do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) e legislações afins tendo como
resultados as seguintes conclusões:
1) o cadáver não estava com as vestimentas adequadas de trabalho e/ou
quaisquer outros EPIs em seu corpo, ainda estava com roupas normais (de uso
diário);
2) não havia, no corpo ou qualquer área, correlação da sua queda com os
dispositivos trava-quedas e/ou equipamentos de segurança;
3) no corpo não havia sinais de luta, violência e/ou defesa da vítima;
4) na área superior da edificação, terraço, não foram encontrados vestígios materiais
que fizessem uma correlação entre a queda do corpo e o ponto inicial de projeção;
5) havia EPIs adequados para a utilização do trabalho em altura, contudo em más
condições operacionais;
6) existia um sistema de ancoragem, dispositivo de segurança individual e coletivo,
na área superior da edificação (terraço), no entanto, esse item é totalmente
divergente do projeto apresentado pela empresa e, com certeza, estava sub-utilizado
pela suas condições operacionais inadequadas;
7) havia uma perfuração na rede de proteção na quadra poliesportiva, local em que
houve a projeção do corpo, de pequenas dimensões, concretizando, assim, que o
contato do corpo com a rede foi na posição vertical (perpendicular);
8) não havia quaisquer permissões de trabalho (PT) para as atividades de trabalho
em altura;
9) não existia análise de risco (AR) de cunho operacional para os riscos envolvidos
nas atividades laboradas pelo operário;
10) não havia o acompanhamento de pessoal qualificado/técnicos para o trabalho
em altura, durante as suas atividades rotineiras;
11) o trabalhador realizou o curso preparatório da NR-35, Trabalho em Altura do
MTE, há cerca de um (01) mês, antes do acidente, o que, preliminarmente, infere-se
TERCEIRIZAÇÃO EM EMPRESAS
Terceirização é a tendência de transferir, para terceiros, atividades que não fazem parte
do negócio principal da empresa ou uma tendência moderna que consiste na concentração de
esforços nas atividades essenciais, delegando a terceiros as complementares, e ainda um processo
de gestão pelo qual se repassam algumas atividades para terceiros - com os quais se estabelece uma
relação de parceria - ficando a empresa concentrada apenas em tarefas essencialmente ligadas ao
negócio em que atua.
As principias desvantagens nos serviços de terceirização são:
Risco de desemprego e não absorção da mão-de-obra na mesma proporção;
Resistências e conservadorismo;
Risco de coordenação dos contratos;
Falta de parâmetros de custos internos;
Demissões na fase inicial;
Custo de demissões;
Dificuldade de encontrar a parceria ideal;
Falta de cuidado na escolha dos fornecedores;
Aumento do risco a ser administrado;
Conflito com os sindicatos;
Mudanças na estrutura do poder;
Aumento da dependência de terceiros;
Perca do vínculo para com o empregado;
Desconhecimento da legislação trabalhista;
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Ficou observado que o trabalhador acidentado, cuja função era “limpador de fachada”,
não tinha o conhecimento adequado sobre o assunto e era, totalmente, desprepadrado para tal
ofício, ficanco, assim, caracterizado a terceirização dos serviços, fator determinante no acidente de
trabalho em estudo.
Observou-se, sob a ótica da engenharia, que houve diversas concausas para o acidente de
trabalho, ou seja, desde a contratação do empregado, passando pela sua qualificação,
monitoramento diário das atividades, análise dos riscos existentes, permissões de trabalho, rotinas
definidas, até o controle da saúde mental e ocupacional do obreiro, esses fatores foram
fundamentais para ocorrência do evento, pois, desencadearam uma sucessão de erros que levaram
a um evento inesperado, proporcionando, dessa forma, um acidente de natureza gravíssima com
uma vítima fatal - por Precipitação Direta (queda em altura).
As circunstâncias, com maior verossimilhança, momentâneas e o ‘modus operandi’ do
acidente de trabalho, no momento da percepção do empregado, não permitiram que o acidente
fosse evitado, devido a diversos fatores de ordem pessoal até a gestão dos riscos operacionais, e,
também, a omissão da fiscalização de ordem técnica, por parte das empresas envolvidas e,
também, dos profissionais técnicos responsáveis pela execução da obra e de suas atividades diárias
associadas, além disso, às inobservâncias da legislação regulamentadora do MTE e afins.
Portanto, analisando todas as variáveis no caso em comento, é possível admitir que as condições
de um suposto fato criminoso (homicídio) e/ou um ato voluntário da vítima (suicídio) estão
descartadas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante dos estudos técnicos e nos elementos materiais, universo de vestígios analisados,
constatou-se que as principais causas imediatas e mediatas foram proporcionadas pela: falta e/ou
omissão das empresas no que tange a preparação do colaborador para a função, o serviço era
prestado por uma empresa terceirizada, com baixa qualificação e especialidade técnica, a falta de
análise e monitoramento dos riscos existentes, inexistência de permissões de trabalho e rotinas
definidas de trabalho, falta de controle médico e saúde ocupacional do empregado. Houve,
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REVISTA A BARRIGUDA 451
REFERÊNCIAS
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VELHO, Jesus Antônio; COSTA, Karina Alves; DAMASCENO, Clayton Tadeu Mota (Orgs). Locais de
Crime: Dos Vestígios à Dinâmica Criminosa. Campinas: Millennium, 2013.
RECEBIDO EM 15/06/2016
APROVADO EM 04/08/2016
Application of diferent environmental damage valuation methods in a case study of santa catarina
criminal expertise
RESUMO ABSTRACT
Na perícia criminal ambiental de Santa Catarina é In Environmental Forensic Santa Catarina is very
cada vez mais comum o quesito quanto ao valor common question about the economic value of
econômico do dano ambiental, contudo o IGP/SC environmental damage, but the IGP/SC is not
não o tem respondido adequadamente, com a responding adequately. The reason is that
justificativa que a aplicação dos métodos de application of environmental economic valuation
valoração econômica ambiental é complexa e methods is complex and expensive. In this study
dispendiosa. No presente trabalho foram were evaluated the implementation of the five
avaliadas a aplicação de cinco metodologias - methodologies – “Fator Ambiental”, “DERPN”,
Fator Ambiental, DERPN, VERD, Método Almeida “VERD”, “Almeida” and “CATE”- in a case study,
e CATE - em um estudo de caso, no qual where there was deforestation and landfill in a
houve desmatamento e aterro em área de permanent preservation area in Guarda do Embaú
preservação permanente na Guarda do Embaú em - Palhoça/SC . Their results were analyzed and
Palhoça/SC. Seus resultados foram analisados e compared by descriptive statistics tools. As a
comparados por ferramentas da estatística result it is suggested to use in similar cases
descritiva. Como resultado sugere-se a aplicação (deforestation and/or landfill) of DEPRN, De
em casos semelhantes (desmatamento e/ou Almeidaand CATE.
aterro) dos métodos DEPRN, Almeida e CATE.
KEYWORDS
PALAVRAS CHAVE VALUATION ECONOMIC ENVIRONMENT.
VALORAÇÃO ECONÔMICA AMBIENTAL. VALOR ECONOMIC VALUE OF ENVIRONMENTAL
ECONÔMICO DO DANO AMBIENTAL. PERÍCIA DAMAGE. ENVIRONMENTAL EXPERTISE.
AMBIENTAL. MÉTODOS DE VALORAÇÃO DO METHODS OF ENVIRONMENTAL DAMAGE
DANO AMBIENTAL. VALUATION.
INTRODUÇÃO
A falta de preços para os recursos ambientais, assim como para os serviços por eles
prestados, acarretam no sério problema de seu uso desenfreado. Com o intuito de estimar
“preços” para os serviços ambientais prestados e haver subsídios para uma exploração mais
racional, foram criados os diferentes métodos de valoração ambiental (NOGUEIRA;
MEDEIROS; ARRUDA, 2000).
Os métodos de valoração ambiental têm como objetivo comum estimar os valores
econômicos para os recursos naturais, simulando um mercado hipotético para esses bens que não
possuem um preço definido. Todavia, não se trata de transformar um bem ambiental num
produto de mercado, mas sim mensurar as preferências dos indivíduos sobre as alterações no
ambiente em que encontram-se inseridos (PEARCE, 1993).
Apesar dos riscos e dificuldades em se valorar economicamente o meio ambiente, sua
aplicação é necessária, devido às suas diferentes utilizações atualmente empregadas.
Os métodos de valoração podem auxiliar na avaliação de determinado projeto através da
análise de custo-benefício (ACB)1 (HANLEY; SPASH, 1993), bem como auxiliar na
determinação de valores de taxas e tarifas ambientais (REIS; MOTTA, 1994 apud
NOGUEIRA; MEDEIROS; ARRUDA, 2000).
Outra função importante dos métodos de valoração dos recursos naturais é no auxílio à
justiça em ações civis e criminais, através da aplicação dos métodos no cálculo do valor dano
ambiental. Esse montante, na esfera penal, será utilizado para efeitos de prestação de fiança e
cálculo de multa por danos ambientais. Já na esfera civil, para estabelecer justas indenizações, as
quais devem ser ressarcidas pela parte responsável, conforme sentença judicial. Assim, faz-se
essencial a proposição de procedimentos de valoração econômica para subsidiar decisões judiciais,
com respaldo na interface Economia e Direito (ARAÚJO, 2003).
Apesar da importância dos métodos de valoração econômica ambiental, na literatura há
ainda pouca bibliografia a ser consultada, conforme discorre Motta (1997, p.7): “a produção de
pesquisa nesta área é muito baixa no país e existe um grande vazio em termos de livros-textos e
outras publicações em língua portuguesa.”
Já o acervo bibliográfico com métodos aplicáveis na valoração econômica do dano
ambiental, para fins de auxilio à justiça em ações civis e criminais, mostra-se ainda mais precário.
1
Hanley e Spash (1993) indicam que uma análise de custo-benefício para bens ambientais é aplicada em quatro
estágios essenciais: i) definição do projeto; ii) identificação dos impactos economicamente relevantes; iii)
quantificação física dos impactos; iv) valoração monetária dos efeitos relevantes.
A casuística da Perícia Criminal no Estado de Santa Catarina revela que, na maioria dos
casos, as ocorrências ocorrem em áreas pequenas (menores de um hectare). Contudo, as
metodologias geralmente aplicadas na perícia, para o cálculo de valoração do dano ambiental, são
baseadas geralmente em áreas acima de um hectare.
O quesito quanto ao valor econômico do dano ambiental tem sido cada vez mais
frequente dentre as solicitações de perícias criminais de Santa Catarina, contudo o IGP/SC
(Instituto Geral de Perícias de Santa Catarina) não o tem respondido adequadamente, sendo
apenas apresentada a justificativa que a aplicação dos métodos de valoração do dano ambiental é
complexa e dispendiosa.
Contudo, está entre as atribuições da perícia criminal, além da constatações do dano
ambiental, o cálculo da indenização, conforme determina a Lei de Crimes Ambientais (Lei n.
9605/1998) (BRASIL, 1998) em seus Artigos 19 e 20:
Art. 19. A perícia de constatação do dano ambiental, sempre que possível, fixará o
montante do prejuízo causado para efeitos de prestação de fiança e cálculo de multa.
Parágrafo único. A perícia produzida no inquérito civil ou no juízo cível poderá ser
aproveitada no processo penal, instaurando-se o contraditório.
Art. 20. A sentença penal condenatória, sempre que possível, fixará o valor mínimo
para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos
pelo ofendido ou pelo meio ambiente.
Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá
efetuar-se pelo valor fixado nos termos do caput, sem prejuízo da liquidação para
apuração do dano efetivamente sofrido.
Já o valor de uso pode ser subdivido em valor de uso direto, valor de uso indireto e valor
de opção, conforme leciona Motta (1997):
1. Valor de Uso Direto (VUD): valor que os indivíduos atribuem a um recurso ambiental pelo fato
de o utilizarem diretamente. Exemplos: extrativismo, turismo, recreação e atividades de pesquisa
científica;
2. Valor de Uso Indireto (VUI): valor que os indivíduos atribuem a um recurso ambiental quando
o benefício do seu uso deriva de funções ecossistêmicas. Exemplos: contenção de erosão, controle
climático e proteção de mananciais;
3. Valor de Opção (VO): valor que o indivíduo atribui à conservação de recursos, que podem estar
ameaçados, para usos direto e indireto no futuro próximo. Exemplo: o benefício advindo de
terapias genéticas com base em propriedades de genes ainda não descobertos de plantas em
florestas tropicais.
Assim como sugerem ABNT (2009), Motta (1997) e Nogueira, Medeiros e Arruda
(2000), na soma do valor de não-uso e do valor de uso, tem-se a fórmula do VERA (Valor
Econômico do Recurso Ambiental):
VERA = VALOR DE USO + VALOR DE NÃO USO
Baseado na forma como é feito cálculo do valor econômico ambiental, a ABNT (2009)
separaos métodos em diretos e indiretos:
- Métodos Diretos: utilizam mercados de bens e serviços substitutos e
complementares, ou mercados hipotéticos para medir as variações de bem-estar
diretamente da demanda dos indivíduos pela qualidade ambiental;
- Métodos Indiretos: valoram os benefícios ambientais usando os custos evitados,
relacionados indiretamente com as mudanças na qualidade ambiental, sem estarem
diretamente relacionados com uma alteração de bem-estar, medida pela disposição a
pagar ou a receber dos indivíduos.
Segundo a ABNT (2009), estes são os métodos que utilizam estimativas de custos
associados aos danos, ao invés de estimarem diretamente valores associados à disposição a pagar
ou a receber dos indivíduos quanto a variações de qualidade ou quantidade ambiental.
Pelo fato de serem baseados em custos para repor a qualidade ambiental ou relocalizar ou
evitar os danos, sua dimensão pode incorporar valores de uso e de não-uso, pois assume-se que o
dano seria restaurado ou evitado (ABNT, 2009).
Segundo a ABNT (2009), estão entre os métodos diretos de valoração ambiental:
Método Dose-Resposta, Método de Custos Evitados e Método de Custo de Reposição.
No presente trabalho optou-se em inserir, também, nos métodos diretos: Método Fator
Ambiental, Método DEPRN, Método VERD, Método Almeida e Método CATE. Essas
metodologias utilizam-se para o cálculo da parte objetiva do VERA o Método Custo de
Reposição, em que foram conjugados com diferentes índices e fatores em fórmulas matemáticas,
como forma de se aproximar ao valor total do VERA.
3.2 O USO DOS MÉTODOS DE VALORAÇÃO DO DANO AMBIENTAL PELA PERÍCIA CRIMINAL
AMBIENTAL
de informações possíveis sobre a extensão e gravidade dos danos causados, o que envolve
conhecer o estado do meio ambiente antes da degradação e quais os serviços ambientais que o
recurso ambiental lesado proporcionava, com vistas à identificação dos valores de uso direto e
indireto (STEIGLEDER, 2011).
Conforme bibliografia sobre o tema, observa-se que os métodos diretos ou neoclássicos
(Método Valoração Contingente, Método Custo Viagem e Método Preços Hedônicos)tendem a
abranger um maior número de subitens da fórmula VERA. Contudo, esse métodos são
considerados dispendiosos e demorados, o que para a realidade da perícia criminal brasileira, a
aplicação desses métodos no cálculo do valor do dano ambiental, torna-se praticamente inviável.
Isso devido às dificuldades relacionadas aosgastos financeiros, tempo e número de profissionais
capacitados presentes nos órgãos competentes. Por esse fato, em ações civis e criminais ocorre o
uso geralmente dos métodos indiretos (Método Dose-Resposta, Método Custos Evitados e
Método Custo de Reposição) (NETO, 2011).
Nesses casos de perícia ambiental criminal e para efeito de aplicação de multas devem ser
preferidos métodos que permitam o atendimento de prazos legais e administrativos e que estejam
dentro do orçamento das instituições de perícia e fiscalização. Contudo, esses métodos devem
sempre obedecer aos critérios de simplicidade, reconhecimento legal, transparência e
proporcionalidade (TONIETTO, 2011).
Com o intuito de estimar o valor do dano ambiental, de forma mais rápida e objetiva,
foram criadas metodologias que se utilizam do método custo de reposição (método direto)
conjugado com diferentes índices e fatores em fórmulas matemáticas, com o intuito de se
aproximar ao Valor Econômico do Recurso Ambiental (VERA). Nestes termos podem ser
destacadas as seguintes metodologias: Método Fator Ambiental, Método DEPRN, Método
VERD, Método Almeida e Método CATE.
3 MATERIAL E MÉTODO
No presente trabalho foi utilizado um estudo de caso em que a perícia ambiental foi
realizada pelo IGP/SC, caso esse objeto de uma ação judicial de crime ambiental.
A infração penal ocorreu, segundo o Relatório de Vistoria e Inspeção da Polícia Militar
do Estado de Santa Catarina, em 01 de junho de 2007.
Inicialmente, utilizou-se como base os exames periciais realizados no local dos fatos em
16 de setembro de 2010 e detalhados no Laudo Pericial emitido pelo Instituto Geral de Perícias
em 20 de setembro de 2010, e tendo como uma das peritas signatárias a autora do presente
trabalho.
Após a revisão bibliográfica sobre valor do dano ambiental e valoração econômica
ambiental, estudou-se o Laudo Pericial emitido pelo IGP/SC e realizou-se um novo
levantamento de local, para posteriormente aplicar as diferentes metodologias de valoração do
dano ambiental. A aplicação desses métodos teve o intuito de comparar e levantar as dificuldades,
os pontos fortes e fracos de cada modelo, e aplicar as metodologias em uma área menor do que
normalmente são utilizadas, assim como também fomentar a discussão para novos estudos.
A área utilizada nesse estudo de caso encontra-se situada no final da Rua Inês Maria de
Jesus, Bairro Guarda do Embaú, Município de Palhoça, Estado de Santa Catarina, mais
precisamente no ponto de coordenadas geográficas 27°54'11.71"S 48°35'53.63"O. Para
localizar as coordenadas geográficas foi utilizado o datum horizontal WGS84 e o aparelho GPS
marca Garmin, modelo Etrex Vista HCx.
A escolha dos métodos de valoração econômica ambiental foi feita com base naqueles que
mais atendiam aos seguintes critérios: objetividade, simplicidade, transparência, aplicabilidade ao
estudo de caso e para a realidade da Perícia Criminal do Estado de Santa Catarina.
Por esse motivo não foram utilizados os métodos diretos ou neoclássicos (Método
Valoração Contingente, Método Custo Viagem e Método Preços Hedônicos), por serem
considerados dispendiosos e demorados.
No presente trabalho, optou-se pela aplicação de metodologias que se utilizam do
Método (Indireto) Custo de Reposição conjugado com fatores de multiplicação em diferentes
fórmulas matemáticas, com o intuito de se aproximar ao Valor Econômico do Recurso
Ambiental (VERA).
Nesses termos, foram aplicadas as seguintes metodologias: Método Fator Ambiental
(ROMANÓ, 1999), Método do DEPRN (GALLI, 1996), Método VERD (CARDOSO,
2003), Método Almeida (ALMEIDA, 2010) e Método CATE (RIBAS,1996).
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 LEVANTAMENTO DO LOCAL
Já a definição de restinga encontra-se no Artigo 3º, inciso XVI dessa mesma Lei (Lei nº
12.651/12):
XVI - restinga: depósito arenoso paralelo à linha da costa, de forma geralmente
alongada, produzido por processos de sedimentação, onde se encontram diferentes
comunidades que recebem influência marinha, com cobertura vegetal em mosaico,
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De acordo com o Art. 4º da Lei 12.651/12 e com as definições expressas acima, o local
em estudo é considerado Área de Preservação Permanente por se tratar de uma área de restinga
com a função fixadora de dunas, além de encontrar-se no entorno de uma lagoa. Apesar da lagoa
do local em estudo possuir superfície menor que um hectare, em que ficaria dispensada a reserva
da faixa de proteção, é vedada nova supressão de áreas de vegetação nativa.
Por se tratar de um caso da esfera penal, a perícia sempre que possível deve realizar o
cálculo do valor econômico do dano ambiental, assim como determina a Lei de Crimes
Ambientais. Por esse fato os danos ambientais causados podem e devem ser valorados pela
perícia criminal ambiental.
Para o cálculo do valor do dano ambiental foram utilizadas metodologias que se utilizam
do montante do custo de recuperação da área degradada em suas fórmulas. Ressalta-se que não
faz parte dos objetivos do trabalho propor formas ou ações de recuperação da área degradada,
sendo essa proposição função do órgão ambiental competente.
O custo de recuperação da área será o mesmo para as diferentes metodologias a serem
aplicadas, sendo que a estimativa calculada somente será realizada neste trabalho para o cálculo do
valor do dano ambiental.
Para a recuperação da área degradada foram elencados basicamente os seguintes itens
(NBL, 2013), para o posterior levantamento dos preços de insumos e serviços (tabela 1):
1. Retirada do aterro e a sua remoção do local. Considerando a remoção média de 1m (um
metro) de aterro nos 750m2, se teria 750m3 de aterro a ser retirado;
Com base nos levantamentos de preços e na descrição dos insumos e serviços para a
recuperação da área degradada, descritos anteriormente, foi preenchida a tabela 8, que documenta
o cálculo do custo de recuperação da área degrada do local em estudo, a qual se obteve um total
de R$ 12.831,62 (doze mil oitocentos e trinta e um reais e sessenta e dois centavos).
Tabela 8. Preços utilizados dos insumos e atividades (rendimentos de hora homem por hectare - HH/ha) e cálculo
para a área. Unid. – unidade. Rend. – rendimento. Mão de obra – diária de um trabalhador rural.
Atividade Descrição do Rend. Preço Fonte preço Preço parcial para Preço para
Insumo 750 m2 (R$) 750 m2 (R$)
(R$) Unid.
Retirada de 750 Inclui custo de - 12,5 m3 3 preços no 8.750,00
m3 de aterro mão de obra, mercado
equipamentos e
depósito final do
aterro
Isolamento da Construção de - 14,5 m CEPA/EPAGRI 3.117,50
área cerca (4 fios)
Controle de Formicida 3,5 Kg/ha 10,2 Kg CEPA/EPAGR 2,68 (x2) = 5,35
formigas (2x) Mão de obra 1,5 HH/ha 10 H CEPA/EPAGR 1,125 (x2) = 2,25
TOTAL DE 12.831,62
GASTOS
*Manutenção por 30 meses. Fonte: Elaborado pelos autores
AV = CRA + FA
AV = 12.831,62 + 12.831,62 = 25.663,2
∝ ∝
𝑉𝑉𝑉𝑉 = ∑ 𝑉𝑉 × ∑ 𝑉𝑉
𝑉=1 𝑉=1
Para a aplicação do método Almeida (2010) foi necessário adaptar a tabela fator para uso
e ocupação do solo, pois essa foi baseada no zoneamento do Distrito Federal (Lei Complementar
n. 17, de 28 de janeiro de 1997) (DISTRITO FEDERAL, 1997). Desta forma, pesquisou-se o
zoneamento do município de Palhoça do local em estudo, que foi enquadrado com o
macrozoneamento com características mais próximos com o indicado na tabela.
De acordo com consulta realizada no Setor de Análise Técnica do Município de Palhoça
a área examinada encontrava-se no zoneamento em Área Turística Residencial 3 (ATR-3), sendo
que nessa área é proibido o parcelamento de solo e a taxa de ocupação máxima é de 30%.
Comparando essas características do tipo de zoneamento do local com as características de cada
macrozoneamento do DF descritos na Lei Complementar n. 17, de 28 de janeiro de 1997, foi
definido que de acordo com a tabela 4 a área em estudo estaria no macrozoneamento área de
lazer ecológico (FM = 2).
Já de acordo com a tabela relacionada ao fatores para Unidades de Conservação e Área de
Preservação Permanente, pelo fato de o local em estudo encontrar-se em Área de Preservação
Permanente, considerou-se que esse fator fosse igual a seis (FUC = 6,0).
Considerando o custo de recuperação da área de R$ 12.831,62 (detalhado no item
5.2.1) e, e a partir da aplicação da equação abaixo tem-se o seguinte:
CR = CRO x FM x FUC
CR = 12.831,62 . 6 . 2 = 153.979,4
Somado a isso, tem-se ainda o lucro cessante. Para esse cálculo, será considerado que o
crime ocorreu em 01 de junho de 2007, de acordo com o Relatório de Vistoria e Inspeção da
Polícia Militar do Estado de Santa Catarina.
Será considerado como índice de correção relacionado à variável tempo a taxa de juros de
6% ao ano, valor esse utilizado no mercado financeiro de modo geral (Ribas, 1996).
O depósito de aterro na área em estudo dificultou seriamente a regeneração natural do
local, por esse fato será utilizado para o cálculo do lucro cessante a equação abaixo (degradação
instantânea sem recuperação natural):
CRP = CR (1 + i)t
CRP = 153.979,44 (1 + 0,06)6
CRP = 153.979,44 . 1,59 = 244.827,31
O item valor pecuniário da propriedade (Vc) será utilizado por ter sido constatado que
na área em estudo houve depósito de aterro para fins de loteamento e/ou comercialização de
lotes (conforme detalhado no item 5.1 Levantamento do local). Será considerado que Vc é de R$
230.000,00 (duzentos e trinta mil reais). Valor esse obtido através de pesquisa de preços de
terrenos com característica ambientais semelhantes e na proximidade da área em estudo na
Imobiliária Globo (www.imobiliariaglobo.com.br) e na Imobiliária Zuleica Imóveis
(www.zuleicaimoveis.com.br), realizada em setembro de 2013.
O custo de recuperação da área (Cd) será considerado de R$ 12.831,62 (detalhado no
item 5.2.1).
Quanto ao fator de relação Fi/d, baseado na tabela descrita em RIBAS (1996), será
considerado uma pequena relação dos danos indiretos sobre os diretos, desta forma Fi/d = 4,5.
Será utilizada a taxa de juros (j) de 6% ao ano, valor esse utilizado no mercado financeiro
de modo geral (RIBAS, 1996).
Quanto ao período de duração dos efeitos dos impactos adversos (n) será considerado o
período de 25 anos, conforme sugere Ribas (1996, p. 129).
Com a aplicação da fórmula acima, tem-se o seguinte:
Já para o cálculo do dano ambiental irreversível (DAÍ) (lucro cessante segundo o método
Almeida), será considerado que o crime ocorreu em 01 de junho de 2007, de acordo com o
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Segundo o método CATE o valor econômico do dano ambiental do local em estudo até
a data dos exames é de R$ 156.834,4 (cento e cinqüenta e seis mil e oitocentos e trinta e quatro
reais e quarenta centavos).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O método que mais se aproximou da mediana calculada foi o DEPRN (desvio relativo
percentual de 0,0%), seguido pelos métodos Almeida e CATE, que obtiveram também resultados
relativamente próximos à mediana (desvio relativo percentual de 19,2% e -23,6%
respectivamente).
Os métodos Fator Ambiental e VERD apresentaram valores de desvio absoluto bastante
alto (-87,5% e 87,5% respectivamente). Isso demonstra o que outro trabalho já indicava – uma
tendência para um baixo valor de dano ambiental pelo método Fator Ambiental, assim como para
o método VERD para um alto valor de dano ambiental.
Todos os métodos utilizados no presente trabalho empregam o modelo de custo de
recuperação da área como parte do cálculo para a valoração ambiental, contudo os fatores de
multiplicação são calculados de formas distintas.
Observa-se que, tanto na aplicação do método Fator Ambiental como na aplicação do
método VERD, o fator de multiplicação é obtido de forma simplificada, o que certamente
influenciou em um baixo e alto valor de dano ambiental respectivamente.
O fator de multiplicação dos métodos DEPRN, CATE e Almeida consideram um maior
número de fatores para esse cálculo, assim como: juros financeiro relacionado à variável tempo
(CATE e Almeida), características detalhada do local em estudo (DEPRN e Almeida), valor
pecuniário da propriedade (CATE), diferenças plausíveis de prazos para recuperação do dano
ambiental (DEPRN, Almeida e CATE).
Observa-se, também, que apenas os métodos Almeida e CATE utilizam no cálculo do
valor econômico do dano ambiente o período entre a data que ocorreu o dano e a data em que
área foi reparada (ou a data dos exames), tempo esse que a área ficou sob efeito da degradação.
Período esse denominado pelo método Almeida de lucro cessante e pelo método CATE de dano
ambiental irreparável.
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O método Fator Ambiental sugere que o cálculo do valor econômico do dano ambiental
seja o custo de recompor a área danificada somado ao valor fixo igual a 100% do custo de
recomposição. Desta forma, não diferencia as características do local do dano e do tipo do dano
ambiental.
Já o método VERD sugere o uso de tabela com características do tipo do dano para o
cálculo da variável intangível (fator a ser multiplicado pelo custo de recuperação). Contudo, para
os impactos de longo prazo (meses e anos) sugere apenas uma opção (qualificador 4), sendo que
sabemos que na prática há impactos muito distintos (maiores e menores) entre os prazos de se
recompor entre um mês e muitos anos.
As outras metodologias utilizadas apresentaram, também, vieses em sua aplicação. No
método DEPRN, sentiu-se dificuldade em relacionar o dano ao aspecto, sendo que foi necessário
basear-se no exemplo utilizado pelo autor a fim de aplicar a metodologia.
Já o método Almeida utiliza-se do macrozoneamento do Distrito Federal (tabela 3), o
que teve que ser adaptado ao zoneamento do município que se encontrava a área em estudo, o
que certamente influenciou no resultado final.
Quanto ao método CATE, observou-se certa dificuldade em determinar o fator de
relação Fi/d, baseado na tabela 5, sendo que esse valor tem grande influência no resultado final.
Para sua correta aplicação seria necessário um estudo mais aprofundado da bibliografia sugerida
pelo autor, contudo esse estudo detalhado foge da praticidade de aplicação do método que busca
o presente trabalho.
De forma geral, após a leitura detalhada de cada método considerou-se relativamente
simples sua utilização. Essa simplicidade é um princípio importante para o método ser utilizado
pela perícia criminal ambiental, devido principalmente aos fatores tempo (determinação legal) e
número de profissionais capacitados disponíveis.
Outro princípio importante que se observou nos métodos utilizados foi o da
transparência, em que posteriormente é possível determinar de forma clara como foi o cálculo do
valor econômico do dano ambiental. Critério esse importante para o reconhecimento do valor
obtido e para ser utilizado pelo judiciário, tanto na área civil como na esfera criminal.
Acredita-se que, após as dificuldades iniciais inerentes ao aprendizado de cada método,
sua aplicação se torne mais fácil, principalmente quando aplicada rotineiramente. Por esse fato,
acredita-se que as metodologias utilizadas no presente trabalho podem fazer parte da rotina da
perícia criminal ambiental.
Como a Legislação Brasileira não define critérios específicos e precisos sobre como
proceder à valoração econômica do dano ambiental, entende-se que qualquer metodologia é
válida, desde que acompanhada com sua descrição detalhada.
O quesito quanto ao valor econômico do dano ambiental tem sido cada vez mais
frequente dentre as solicitações de perícias criminais em Santa Catarina, contudo o IGP/SC não
o tem respondido devidamente com a justificativa que a aplicação dos métodos de valoração do
dano ambiental são complexas e dispendiosas. Sabendo do dever legal do Perito Criminal em
responder a esse quesito e a partir dos resultados do presente trabalho, sugere-se a utilização em
casos semelhantes (desmatamento e/ou aterro da área) a aplicação dos métodos DEPRN,
Almeida e CATE.
REFERÊNCIAS
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RECEBIDO EM 08/05/2016
APROVADO EM 11/06/2016
Case study of death accident in pre-molded structure: experimental analysis of case of console
ruin prefabricated in armed concrete
JORGE A. WISSMANN
MARCELO MAZZUCO
RESUMO ABSTRACT
Due to the heavy use of precast and prefabricated
Devido ao intenso uso de elementos pré-
reinforced concrete structures in construction,
moldados e pré-fabricados em estruturas de
due to its economic viability, speed of execution
concreto armado na construção civil, em função
and the possibility of high quality control, it is
de sua viabilidade econômica, rapidez na
necessary a better understanding of the behavior
execução e possibilidade de alto controle de
of these elements. In this context, it is known
qualidade, faz-se necessário o melhor
that the links between the structural elements are
entendimento do comportamento desses
critical in the design of these structures, since it
elementos. Diante desse contexto, sabe-se que as
is them who transmit the loads of one element to
ligações entre os elementos estruturais são o
the other to the foundations and guarantee
ponto crítico no dimensionamento dessas
structure stiffness. Therefore, the designers
estruturas, uma vez que são elas que transmitirão
should pay special attention to detailing of the
os esforços de um elemento ao outro até às
geometric dimensions, design and positioning of
fundações, bem como darão rigidez à estrutura.
the reinforcement bars of corbels, since it is
Sendo assim, deve-se dar atenção especial ao
known that the various models of rupture are
detalhamento das dimensões geométricas, cálculo
directly linked to these factors. This study was
e posicionamento das armaduras dos consolos,
stimulated by a ruin case involving a corbel in a
pois sabe-se que os diversos modelos de ruptura
building in Cascavel - PR, which resulted in the
estão diretamente ligados a esses fatores. Esse
fall of a beam and therefore the slabs which it
estudo foi estimulado por um caso de ruína
supported. Thus, the main objective of this study
envolvendo um consolo em uma obra em
was to analyze experimentally three different
Cascavel – PR, que resultou na queda de uma viga
situations of detailing of concrete corbels.
e consequentemente das lajes que nela se
apoiavam. Sendo assim, o principal objetivo desse
trabalho foi de analisar experimentalmente três
situações diferentes de detalhamento de
consolos.
INTRODUÇÃO
pilar (a) e a altura útil (d), já que seu comportamento depende desta relação (NAEGELI, 1997).
A NBR 9062/2006 define essa classificação como:
a) Consolos muito curtos: a/d< 0,5;
b) Consolos curtos: 0,5 ≤ a/d ≤ 1,0;
c) Consolos longos 1,0 ≤ a/d ≤ 2,0.
Segundo Costa (2009), o elemento consolo é utilizado com grande repetição em
estruturas pré-moldadas, porém a produção desse elemento apresenta dificuldades devido à
grande quantidade de armadura em um espaço pequeno. A disposição típica da armadura de
consolos pode ser vista na figura 02, a seguir:
Como retrata Canha e Debs (2005), o modelo da biela e tirante também pode ser
conhecido como modelo de treliça e consiste em idealizar o comportamento do concreto, nos
trechos de descontinuidade, através das bielas (zonas comprimidas) e tirantes (zonas tracionadas),
com suas respectivas posições determinadas com base no fluxo de tensões na região. Esses
elementos são interconectados por nós, o que resulta na formação de uma treliça idealizada e,
sendo assim, se tornou o método mais utilizado para cálculo de consolos curtos.
Um dos principais modelos para cálculo de consolos muito curtos (relação a/d < 0,5)
é o de atrito-cisalhamento, o qual supõe a ocorrência da ruptura por cisalhamento na interface do
consolo-pilar. Também, admite-se que por meio das fissuras que se desenvolvem na superfície de
transmissão dos esforços cisalhantes, ocorra inicialmente um deslocamento relativo vertical entre
o consolo e o pilar. Em função disso e da superfície ser irregular, o deslocamento relativo
horizontal causa solicitações de tração na armadura distribuída que cruza a interface e, portanto, a
superfície de concreto ficará comprimida (CANHA; DEBS, 2005).
O autor também cita que a clássica Teoria do Atrito-Cisalhamento prevê a transmissão
de esforços de cisalhamento através de um dado plano utilizando-se uma armadura distribuída
que o atravessa (ver Figura 04). Sendo assim, esse plano pode ser o de uma provável fissura, o da
interface de ligação de materiais diferentes ou da superfície entre dois concretos moldados em
datas diferentes. Também, é válido ressaltar que nesse modelo a armadura é supostamente
distribuída de maneira uniforme ao longo da fissura potencial, desprezando-se a excentricidade da
força vertical que ocasionaria em uma armadura mais concentrada na região tracionada.
Em adição, Canha e Debs (2005) também comenta que assim como para os modelos de
biela e tirante, a armadura horizontal posicionada na região inferior do consolo não contribui na
resistência do consolo. Visando-se a comparação entre os modelos considerando a previsão da
força última, apenas considera-se a armadura de costura situada até 2/3 d em relação à face
superior do consolo.
c) Ruptura por esmagamento local que ocorre quando a área de contato para
transmissão da força vertical é muito pequena, e a tensão de compressão se torna
muito alta (ver Figura 10).
Conforme Costa (2009), o modo de ruptura do consolo depende essencialmente da
quantidade de armadura utilizada, resistência à compressão do concreto e da razão a/d. Em
alguns casos é difícil se definir entre dois modos de ruptura, especialmente em consolos com
fibras, porém o autor descreve os seguintes modos:
d) Ruptura por flexão (ver Figura 05)
Ocorre por uma fissura bem aberta ao longo da interface do consolo com o pilar, em
função do escoamento do aço do tirante principal, acompanhado posteriormente do
esmagamento do concreto da biela. Esse modo de ruptura é o modo mais desejável do ponto de
vista da segurança, pois grandes deformações e fissuras ficam aparentes, indicando o colapso
conseguinte e, dessa forma, é possível a execução de reparos na estrutura.
e) Ruptura por fendilhamento da biela comprimida (ver Figura 06)
O fendilhamento da biela comprimida de concreto é determinado por uma fissura de
aproximadamente 45º, pelo menos parcialmente, ao longo de uma linha que vai do ponto inferior
do consolo com o pilar (sob compressão) ao ponto de aplicação do carregamento. De acordo
com Oliveira (2012), isso geralmente ocorre devido à seção insuficiente de concreto na região da
biela comprimida ou por falta de armadura distribuída ao longo da altura do consolo.
f) Ruptura por cisalhamento (ver Figura 07)
A ruptura é determinada pela ocorrência de múltiplas fissuras de pequena dimensão ao
longo da interface consolo-pilar. Esse tipo de ruptura é comum quando o ponto de aplicação do
carregamento é muito próximo ao pilar, resultando no escorregamento do consolo em relação ao
pilar.
Figura 08: Ruptura por falta de Figura 09: Ruptura por Figura 10: Ruptura por solicitação
ancoragem (CURTY, 2009) esmagamento local (CURTY, horizontal não prevista (CURTY,
2009) 2009)
Com as leituras indicadas pelas células de carga, elaborou-se o seguinte gráfico, que
retrata a carga aplicada sendo aplicada ao longo do tempo de duração do ensaio:
20000
18000
Ruptura: 19159 kgf
16000
14000
Carga (kgf) 12000
10000
8000
6000
4000
2000
0
Tempo
Figura 15: Gráfico de aplicação de carga obtido pelas leituras das células de carga
Também, de antemão, pode-se dizer que todos os corpos de prova resistiram à sua
carga de projeto, que era de 5304 kgf.
Outra característica comum nos ensaios foi o tempo de ensaio (aproximadamente 10
minutos por corpo de prova) e a manutenção de uma carga inicial de aproximadamente 1000 kgf
por 1 minuto a fim de estabilizar o sistema e garantir seu perfeito travamento.
3.2.1 TIPO 1, PROPOSTO POR MACHADO (1998) COM LAÇOS INVERTIDOS (CP1.A E CP1.B)
Figura 17: Abertura da Figura 18: Vista lateral Figura 19: Vista lateral do
fissura na interface pilar-consolo do consolo com fissura diagonal consolo rompido com queda dos
(CP1.b) (CP1.b) cobrimentos laterais (CP1.b)
3.2.2 TIPO 2, PROPOSTO POR MACHADO (1998) COM LAÇOS CORRETOS (CP2.A E CP2.B)
Figura 21: Abertura da Figura 22: Vista Figura 23: Vista lateral do
fissura na interface pilar-consolo frontal do consolo com fissuras consolo rompido com queda dos
(CP2.b) nas linhas das barras (CP2.b) cobrimentos laterais (CP2.b)
Nesse modelo de corpo de prova, assim como no modelo anterior, devido à ancoragem
da armadura por meio de laço posicionado na extremidade do consolo, conferiu também uma
ruptura dúctil nos dois consolos. Isso possibilitou um acréscimo de capacidade resistente após sua
ruptura, uma vez que os laços confinaram a peça de concreto, reduzindo seu deslocamento
horizontal, como ocorreu no primeiro modelo. A seguir, as figuras retratam a sequência executiva
do ensaio e o comportamento de ruptura nas peças “a” e “b”.
Figura 25: Abertura da Figura 26: Vista lateral Figura 27: Vista
fissura na interface pilar-consolo do consolo rompido com queda dos lateral do consolo rompido sem
(CP3.b) cobrimentos laterais (CP3.b) o trilho (CP3.b)
Apesar de todos os corpos de prova terem resistido à carga de projeto (conforme figuras
28 e 29), esse resultado sozinho não foi suficiente para concluir qual modelo de
dimensionamento e detalhamento é mais seguro, pois houveram grandes variações nas cargas de
ruptura no Tipo 1 e no Tipo 3 e em função disso não foi possível avaliar o comportamento dos
consolos após sua ruptura. Além disso, essa variação provavelmente está relacionada a algum fator
inerente ao ensaio idealizado e não identificado, uma vez que todos os corpos de prova foram
concretados juntos para que não houvessem diferenças de resistência característica à compressão
do concreto. Outra precaução tomada para que se evitasse essas variações foi a milimétrica
montagem das armaduras e fôrmas, utilizando barras de aço e chapas compensadas novas e livres
de qualquer contaminação ou ferrugem.
9000
8378
8000 7205
7000 6552 6383 6347
5676
Carga de ruptura (kgf)
6000
5000 5304 5304 5304
5304 5304 5304
4000
3000
2000
1000
0
CP1.a CP1.b CP2.a CP2.b CP3.a CP3.b
Figura 28: Comparativo de cargas de ruptura
11000
10000
9000
8000
7000
Carga (kgf)
6000 CP1.a
5000 CP1.b
4000 CP2.a
CP2.b
3000
CP3.a
2000
CP3.b
1000
0
Tempo
Figura 29: Gráfico de aplicação de carga (todos os ensaios sobrepostos)
Observando a sequência de eventos durante a ruptura dos consolos ensaiados, ficou claro
que após a abertura da junta entre o pilar e o consolo, a carga aplicada que antes era vertical
passou a ter uma componente horizontal devido ao deslocamento relativo do consolo em relação
ao pilar, que tendeu a deslocar horizontalmente o consolo. Porém essa componente horizontal é
pequena pois o trilho utilizado para aplicação de carga estava apenas apoiado em uma placa de
elastômero sobre o consolo, o que pode ter mascarado os resultados de carga de ruptura, uma vez
que se tivessem sido ensaiados corpos de prova com sistema de apoio por pinos metálicos que
transpassassem o consolo (método muito utilizado na construção de pré-fabricados),
possivelmente o Tipo 1 (simulando um possível erro de detalhamento), apresentaria os menores
valores de carga de ruptura, devido à ancoragem precária da armadura, que não restringiria o
deslocamento horizontal do consolo e consequente arrancamento.
Para complementar a comparação das cargas de ruptura de cada modelo, a tabela abaixo
retrata as porcentagens relativas das cargas de ruptura entre os 3 modelos ensaiados:
Apesar de os resultados relativos à carga de ruptura não terem sido conclusivos, nos
corpos de prova “b” em que os dados de deformações foram coletados simultaneamente à carga
aplicada, sendo possível a geração de gráficos Carga x Deformação, ficou evidente a importância
do laço posicionado corretamente como nos Tipos 2 e 3, uma vez que ele garantiu a ruptura
dúctil do consolo, confinando o concreto entre os laços de armadura e possibilitando uma
capacidade de carga dos consolos mesmo após sua ruptura e grandes deformações, como retrata o
gráfico a seguir:
11000
10000
9000
8000
7000
Carga (kgf)
6000 CP1.b
5000
CP2.b
4000
3000
CP3.b
2000
1000
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40
Deformação (mm)
Figura 30: Gráfico Carga x Deformação (CP1.b, CP2.b e CP3.b sobrepostos)
Todavia, vale ressaltar que os Tipos 2 e 3 só resistiram a valores de carga elevados (em
torno de 10000 kgf) pois o corpo de concreto entre as barras da armadura já havia se deslocado
totalmente na vertical, resultando na aplicação da carga pelo trilho diretamente sobre as barras da
armadura que nesse momento estavam expostas, conforme figura a seguir:
Portanto, pode-se concluir que os Tipos 2 e 3 tiverem sua ruptura a favor da segurança.
Isso se dá pois mesmo que o consolo sofra a ruptura dúctil em um caso real, em função das
fissuras e grandes deformações aparentes, forneceria não somente chances de reparo e reforço
estrutural, evitando o colapso do sistema estrutural, como também tempo de evacuação do
edifício suficiente caso fosse necessário. Entretanto, vale ressaltar que o Tipo 2 não é
normatizado e, sendo assim, não é recomendada a sua utilização para dimensionamento de
consolos.
Para finalizar a análise comparativa entre os Tipos 2 e 3, com base nos valores de
deformações no momento da ruptura, de 1,18 mm e 4,24 mm respectivamente, pode-se concluir
que apesar de os dois modelos terem comportamento dúctil antes e após a ruptura, o Tipo 3 é
ainda mais dúctil, conferindo a este Tipo o comportamento mais seguro entre os 3 tipos
ensaiados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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(Mestrado em Engenharia de Estruturas) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo,
São Carlos, 1998.
Marcelo Mazzuco
Possui graduação em Engenharia Civil pela Unioeste -
Universidade Estadual do Oeste do Paraná.
.
RECEBIDO EM 02/04/2016
APROVADO EM 18/06/2016
Solid waste and its interest in Confresa city, Mato Grosso state, Brazil
RESUMO ABSTRACT
The article aims to call the attention to the solid
O artigo objetiva despertar a atenção para os
waste disposal problems in Confresa city, Mato
problemas da disposição irregular de resíduos
Grosso State, due to the complaint of residents
sólidos no município de Confresa/MT a partir da
who live near the garbage dump area, which was
denúncia dos moradores próximos da área do
endorsed by the State Prosecutor’s Office. This
lixão e, acatada pelo Ministério Público Estadual.
complaint was elaborated based on a literature
Escrito com base em uma revisão bibliográfica e
review and enriched by a criminal report of that
enriquecida por um laudo criminal do local
place done by its Legal Process authors. The
realizada pelos autores. São apontados os eixos
perception of residents and their legal aspects
principais motivadores do conflito, a percepção
are pointed out as the main motivators of the
dos moradores e seus aspectos legais. Além, da
conflict. In addition to the characterization of the
caracterização do manejo dos resíduos
waste management it is noticed the absence of
identificadores da ausência de um conjunto de
necessary techniques for environmental
técnicas necessárias para a proteção ambiental e
protection and public health. In this context, it is
da saúde pública. Neste contexto, destaca-se
also emphasized, the important role of the waste
ainda, o papel dos catadores, que vem realizando
gatherers, who has been conducting a great
um trabalho de grande importância ambiental.
environmental importance work.
KEYWORDS
PALAVRAS CHAVE SOLID WASTES. DUMPS. WASTE COLLECTORS.
RESÍDUOS SÓLIDOS. LIXÃO. CATADORES.
INTRODUÇÃO
Um dos mais sérios problemas de saúde pública e meio ambiente é a disposição final dos
resíduos sólidos urbanos, questão que se agrava ainda mais pelo atual modo de vida da sociedade
de consumo. A situação de manejo dos resíduos sólidos no país é preocupante, uma vez que
59,85% dos municípios brasileiros ainda fazem uso de locais impróprios para a destinação final
dos resíduos coletados. Tabela 01. (ABRELPE,2014,p.39).
Tabela 01 - 2014 – Regiões e Brasil
Destinação Final Norte Nordeste Centro Oeste Sudeste Sul BRASIL
Aterro Sanitário 93 455 164 820 704 2.236
Aterro Controlado 112 505 147 644 367 1.775
Lixões 245 834 156 204 120 1.559
BRASIL 450 1.794 467 1.668 1.191 5.570
Fonte: Pesquisa ABRELPE
Esse quadro impõe uma necessidade urgente de mudança de conceitos e formas de tratar
o assunto para que sejam alcançados melhores resultados no manejo dos resíduos sólidos urbanos,
principalmente na disposição final, segmento em que os dados são mais aflitivos.
Exemplo deste contexto foi o fato de moradores de duas comunidades na área rural de
Confresa/MT protocolizarem um Termo de Declaração na Promotoria de Justiça da Comarca
de Porto Alegre do Norte/MT, onde pedem a regularização da área destinada ao lixão do
município, indicando condições insustentáveis, onde afirmam: 1) que o local não está mais
comportando a quantidade de lixo, pois encontra se invadindo a estrada, 2) que o lixão encontra
se muito próximo das casas (a menos de 1.000m) e 3) que há um córrego com nascente muito
próxima (a menos de 500m)
Resultante da manifestação foi o acatamento do Ministério Público/MT para a
instrução de abertura de uma Ação Cível Pública contra a Prefeitura Municipal requisitando
pericia para averiguação de crime ambiental. A POLITEC/MT – Pericia Oficial e Identificação
Técnica do Estado de Mato Grosso, instituição pública que compete a realização de pericias
criminais e auxiliares às proposições de ações civis públicas foi requisitada e, neste artigo,
relatamos o exame.
METODOLOGIA
Além disso, foram feitas consultas de bibliografia técnica e legislação pertinente a Lei nº
9.605/1998, Lei nº 12.305/2010, Código Florestal Lei nº 12.651/2012, Resolução
CONAMA nº 307/2002, Lei Complementar Estadual nº 38 de 21/11/1995, Lei Estadual nº
7.862/2002, Lei Complementar n° 232/2005 – alteração do Código Ambiental do Estado de
Mato Grosso, Lei Municipal nº 155/2002 – Código Sanitário do Município e Pesquisa
Nacional de Saneamento Básico – PNSB (IBGE, 2010).
LOCALIZAÇÃO
RESÍDUOS SÓLIDOS
O termo resíduo sólido comumente conhecido por lixo, define tudo aquilo que deixa de
ter utilidade e é jogado fora, e que se apresenta no estado sólido ou semi-sólido, que resultam de
atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de
varrição. Também ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de
tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem
como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede
pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente
inviáveis em face à melhor tecnologia disponível. (ABNT NBR 10.004:2004)
A problemática envolvendo os resíduos sólidos é, com certeza, uma das principais
preocupações e uma das maiores rubricas de despesas das administrações municipais. A
quantidade e a complexidade dos resíduos vêm crescendo e transformando se em grave ameaça ao
meio ambiente, exigindo soluções especificas e dinâmicas.
Além do acréscimo na quantidade, os resíduos produzidos atualmente passaram a abrigar
em sua composição elementos sintéticos e perigosos aos ecossistemas e à saúde humana, em
virtude das novas tecnologias incorporadas ao cotidiano. Os impactos provocados pelos resíduos
sólidos podem se estender para a população em geral, por meio da poluição e contaminação dos
corpos d’água e dos lençóis subterrâneos, direta ou indiretamente, dependendo do uso da água e
da absorção de material tóxico ou contaminado. (FERREIRA, 2001, p.691)
LEGISLAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO
A Lei de Crimes Ambientais, Lei Federal nº9.605, de 1998, agilizou e deu maior eficácia
à punição de infratores, além de ter estabelecido penas mais severas a crimes contra o meio
ambiente. Esta lei consolidou a legislação ambiental, que até então se apresentava de forma
dispersa e era de difícil aplicação. Como marca da evolução socioeconômica, definiu a
responsabilidade da pessoa jurídica, inclusive a penal, que até então não podia ser
responsabilizada criminalmente e defini crime ambiental como causar poluição de qualquer
natureza em níveis tais que possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoque a
mortandade de animais ou a destruição significativa da flora (BRASIL, 2003).
A gestão ambientalmente adequada dos resíduos sólidos nos municípios brasileiros
passou a ser regulamentada pela Lei Federal nº 12.305/2010, onde institui a Política Nacional
de Resíduos Sólidos (PNRS), onde as opções de destinação final ambientalmente adequada estão
a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o reaproveitamento energético
(BRASIL,2010).
A Política Nacional de Resíduos Sólidos aborda que os aterros sanitários devem ser
destinados apenas para rejeitos e que todos os municípios deveriam ter essa tecnologia implantada
em suas áreas. Pois os aterros são a última das etapas do gerenciamento dos resíduos, sendo a
técnica considerada de menor custo e ambientalmente recomendada para localidades onde há
disponibilidade de áreas e escassez de recursos financeiros. A lógica reversa e a responsabilidade
compartilhada, instituídas na lei, são estratégias na implantação de um modelo de produção e
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6 [N. ESPECIAL]| P. 494-510| AGO 2016
REVISTA A BARRIGUDA 499
Já, quanto à natureza ou origem, principal elemento para a caracterização dos resíduos
sólidos. Segundo a Lei 12.305/2010 que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos são:
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A coleta dos resíduos sólidos urbanos no município de Confresa/MT acontece seis vezes
na semana, com caminhões basculantes. Não existe coleta seletiva e nem coleta específica para
eletrônicos, pilhas e baterias. A coleta dos resíduos provenientes de construções e demolições é
feita em sua maioria por particulares mas também pela prefeitura. Já os resíduos de serviços de
saúde são coletados pela prefeitura e encaminhados para incineração numa área especifica com
fins de incineração.
A área de disposição final de resíduos sólidos está localizada a 1,8 Km do trevo da
BR158 com a MT 430. Sendo 1,0 Km por via asfaltada na BR-158 no sentido de Confresa/MT
para Porto Alegre do Norte/MT, virando à esquerda, onde uma placa de identificação diz
“aterro sanitário”, segue por estrada de chão percorrendo mais 800 metros, onde à direita da
pista, localiza se a área em exame, locada nas coordenadas 10º 40’ 34,86” S e 51º 34’ 01,05” O.
Apresentava se cercada nas suas laterais e fundo, por cerca de arrame liso cinco fios, estando com
livre acesso na parte frontal. A estrada vicinal segue para o assentamento Independência e o
loteamento Paraíso e outras fazendas. A área total para disposição de resíduos é de 6,9ha, que é
parte remanescente de uma maior adquirida pela prefeitura de 14,5230ha, identificada no
perímetro urbano, com fim específico de destinação de resíduos sólidos municipais, segundo o
contrato de aquisição de imóvel CPL – 006/2011.
A.1)Resíduos sólidos urbanos: provenientes de residências ou qualquer outra atividade que gere
resíduos sólidos com características domiciliares, foram os resíduos mais encontrados na área. Há
ainda materiais orgânicos e outros sintéticos de pequeno porte ou pequeno volume, como: vidro,
papel, alumínio, plásticos, mas também, utensílios domésticos inservíveis de grande porte, como:
colchões, sofás, armários, grandes embalagens e outros resíduos de origem não industrial e não
coletados pelo sistema de recolhimento domiciliar convencional.
Art. 3º Os resíduos da construção civil deverão ser classificados, para efeito desta
Resolução, da seguinte forma:
I - Classe A - são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como:
a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de
infraestrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem;
b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes
cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto;
c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto
(blocos, tubos, meio-fio, etc.) produzidas nos canteiros de obras;
II - Classe B - são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: plásticos,
papel, papelão, metais, vidros, madeiras, embalagens vazias de tintas imobiliárias e
gesso (redação dada pela resolução nº469/15)
III – Classe C – são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou
aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem ou recuperação.
(redação dada pela resolução nº431/11)
IV – Classe D – são resíduos oriundos do processo e construção tais como tintas,
solventes, óleos e outros ou aqueles contaminados ou prejudiciais à saúde oriundos de
demolição, reformas e reparos de clínica radiológica, instalações industriais e outros,
bem como, telhas e demais objetos e materiais que contenham amianto ou outro
produto nocivo à saúde. (redação dada pela resolução nº348/04)
“Art. 10. Os resíduos da construção civil, após triagem, deverão ser destinados das
seguintes formas:
I - Classe A: deverão ser reutilizados ou reciclados na forma de agregados ou
encaminhados ao aterro de resíduos classe A de preservação de material para usos
futuros;
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REVISTA A BARRIGUDA 503
De modo geral, os resíduos da construção civil das classes A e B (descrição acima) não
são classificados como perigosos, porém, a sua destinação deve seguir a legislação a fim de se
evitar quaisquer tipos de danos ambientais. Idealmente, esses resíduos devem ser posteriormente
reutilizados, depois de reciclados, gerando ganhos ambiental e econômico.
A.5)Resíduos perigosos: O conceito de resíduo sólido perigoso se baseia no grau de nocividade
que representa para o homem e o meio ambiente. De acordo com a Lei n.º 12.305/2010,
resíduos perigosos são aqueles que, em razão de suas características de inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e
mutagenicidade, apresentam significativo risco à saúde pública ou à qualidade ambiental, quando
gerenciados de forma inadequada. Portanto, se operado de maneira correta os riscos serão
minimizados, mas, se ocorrer o contrário, poderá gerar acidentes ou prejuízos à saúde humana,
aos animais e ao meio ambiente, o que inclui a contaminação da água, do solo e do ar.
Nesta categoria de resíduos sólidos perigosos, foram identificados na perícia pilhas, pneus
descartados, televisores e outros equipamentos eletroeletrônicos. Devido à alta periculosidade de
alguns resíduos, a Lei n.º 12.305/2010 determina a implantação de sistemas de logística reversa,
ou seja, o retorno dos produtos após o uso pelo consumidor. Esse dispositivo é assim detalhado:
Sabe-se que o descarte inadequado de pneus causa vários problemas ambientais, como o
assoreamento de rios (diminui a profundidade dos cursos d’água, facilitando enchentes). Há
também o problema do risco de incêndio, decorrente da queima dos pneus, pois, no processo de
combustão, há a liberação de diversos gases na atmosfera, como o monóxido de carbono e
dioxinas, entre outros. Cabe relembrar que os pneus descartados ilegalmente têm grande potencial
para se tornar um criadouro e abrigo do mosquito vetores de doenças.
Os resíduos eletroeletrônicos, por sua vez, são aqueles resultantes da rápida obsolescência
dos equipamentos, como: televisores, rádios, telefones celulares, eletrodomésticos portáteis, todos
os equipamentos de microinformática, filmadoras, ferramentas elétricas, DVD’s, brinquedos
eletrônicos, entre outros. Esses resíduos têm muitos componentes, desde elementos químicos
simples a hidrocarbonetos complexos. Os metais são os elementos químicos mais encontrados,
especialmente os denominados “metais pesados”. Estes representam potenciais de riscos à saúde
humana e ao meio ambiente.
Desta forma, como prevê a legislação, os resíduos sólidos perigosos devem ser entregues
aos seus respectivos fabricantes, importadores ou comerciantes por meio da logística reversa, um
dos principais instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).
Assim, independentemente da categoria ou classe dos resíduos sólidos descritos neste
artigo, são expressamente vedadas certas formas de destinação desses materiais, nos termos do
Art. 47, inciso III, da Lei n.º 12.305/2010, ou seja, queima a céu aberto. Ocorrência, essa,
flagrada na área.
B) Caracterização do manejo dos resíduos no local: uma serie de evidências indicam que a área
não apresenta um manejo adequado a minimização dos impactos de despejos dos resíduos sólidos
urbanos, além de não apresentar seletividade para resíduos perigosos lá encontrados, exemplo
desses indicativos são a presença de:
B.1)Duas bacias com acumulação de chorume com aproximadamente 72 m3/cada, com a
presença de material líquido orgânico indicativo de despejos de efluente de caminhão limpa fossa.
Havia deposição de resíduos diversos nas bordas e no interior da bacia. Não fora constatado a
presença de material impermeabilizante no fundo das bacias e havia sinais de transbordamento de
chorume na segunda bacia;
B.2)Presença de leiras de acúmulo de resíduos sólidos em combustão, bem como, vários locais
indicando a combustão intensa já ocorrida (ex: queima de pneus – centenas de malhas de arrame e
resíduos de borracha);
B.3)Presença de RS’s na margem da estrada de acesso ao lixão, por deposição propositada.
Presença, principalmente, de resíduos de construção e resíduos vegetais (galhadas, folhas), como
também, sacolas plásticas e carcaças de animais. Alguns resíduos são pontiagudos ou com
presença de pregos o que eleva o risco de acidentes entre os transeuntes na estrada;
No levantamento foi identificada uma área com nascente (olho d’água) distante 450,50
metros da extremidade mais próxima da área do lixão e a 212,80 metros da estação de tratamento
de esgoto do município (em implantação).
C.2) – Núcleos habitacionais:
Segundo a cartilha de “Legislação Aplicada ao Licenciamento Ambiental de Aterros
Sanitários em Mato Grosso e Diagnostico dos municípios da Secretaria de Estado de Meio
Ambiente” da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Mato Grosso, recomenda se baseada na
NBR 13896/97 que:
pavimentada não ultrapasse 20 km, e para acesso não pavimentado 10 km. Deverá
obrigatoriamente ser tomada uma distância mínima de 2000m para núcleos urbanos
Na vistoria, a residência mais próxima, sede de uma fazenda identificada como sendo de
Abdias Sobrinho Alves Frazão, fica 1.015,00m de distância do lixão. E ao entroncamento que dá
início ao loteamento denominado Paraíso (loteamento de chácaras) encontra se a 996,73m de
distância do lixão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A área adquirida pela prefeitura municipal para a destinação dos resíduos sólidos com o
objetivo de instalação do aterro sanitário apresentava características admissíveis de localização e
ambiente, entretanto, observou-se uma infeliz adequação para um lixão, ou seja, vazadouro a céu
aberto, pois não possui o conjunto de sistemas necessários para a proteção do meio ambiente e da
saúde pública.
No levantamento realizado foi possível caracterizar os principais resíduos sólidos
presentes no lixão, bem como, evidenciar os principais agravantes de uma gestão desintegrada dos
resíduos sólidos como: a) a pela presença destes, nas margens da estrada vicinal de acesso, b) a
identificação de resíduos sólidos perigosos (pneus, pilhas, equipamentos eletrônicos inservíveis)
na área, c) o despejo de resíduos de serviços de saneamento básico (resíduos de fossa) em
ambiente não adequado e d) a combustão de leiras de resíduos e de pneus de maneira corriqueira.
Entretanto, não difere da maior parte dos municípios brasileiros, onde 59,85% deles, não
apresentam destinação adequada dos seus respectivos resíduos sólidos. Apesar de uma legislação
mais restritiva a partir da sanção da Política Nacional de Resíduos Sólidos em 2010, com
diretrizes para o planejamento e a gestão de resíduos no país, tais como a obrigatoriedade da
preparação de planos municipais de gerenciamento de resíduos, o estabelecimento de prazos para
a erradicação de lixões e a implantação da coleta seletiva.
Se no Brasil leis e boas intenções não são suficientes para estimular mudanças e promover
o desenvolvimento de um setor. E as razões econômicas sempre surgem como forte justificativas
para o atraso registrado, faz se necessário que tais municípios recebam orientações especifica de
como proceder na realização da gestão integrada dos resíduos sólidos urbanos e, que sejam
identificadas fontes perenes e exclusivas de recursos para garantir que avanços sejam conquistados.
REFERÊNCIAS
José da Silva
Mestre em Física; Especialista em Ciências Físicas e Graduado em
Matemática todas pela UFMT. Perito Oficial Criminal na Perícia
Oficial e Identificação Técnica de Mato Grosso (POLITEC/MT).
RECEBIDO EM 08/05/2016
APROVADO EM 21/07/2016
RESUMO ABSTRACT
Forensic exams are extremely important to
A perícia é de extrema importância para
determine the materiality of environmental
determinar a materialidade de crimes ambientais
crimes and for the progress of the elucidatory
e para o bom andamento dos processos de
processes of these criminal offenses. The
elucidação desses ilícitos penais. A lei que rege os
9.605/98 Law, which lists the environmental
crimes ambientais 9.605/98 deixa claro em seu
crimes, is clear in its chapter V when concerning
capítulo V quais são esses crimes: contra a fauna,
to those crimes: crimes against fauna, crimes
contra a flora, de poluição e em desfavor do
against flora, pollution and those against the
patrimônio cultural. Em 1989, foi construído um
cultural patrimony. In 1989, a mall was built in
shopping na capital da Paraíba em uma área de
the capital of Paraíba, on a mangrove area, with
mangue e com suspeitas de desobediência à faixa
possible extrapolations into the preservation
de preservação das margens do rio, uma Área de
extent of the river edges, a Permanent
Preservação Permanente (APP), do rio Jaguaribe, o
Preservation Area (PPA), of Jaguaribe River, the
mais extenso da capital paraibana. A perícia foi
longest in Paraíba capital. Forensic exams were
solicitada para determinar a presença de aterro
requested to determine the presence of landfill at
nas matas ciliares, que possuem a função de
the riparian forest, which have the function of
preservar os recursos hídricos e a estabilidade
protecting the water resources and the geological
geológica das margens do rio Jaguaribe. Foi
stability of Jaguaribe river's edges. In this study,
constatado, neste trabalho, que houve
it was found that there was human interference
interferência humana por meio de aterro em APP
due to a landfill on a PPA, confining the river
confinando as margens do rio Jaguaribe por
edges with buildings of the mall and São José
edificações do shopping e da comunidade do
community. For this reason, the head of the river
bairro São José. Por isso, tende a encher na
tends to get full during rainy periods, once this
cabeceira, em períodos de chuva, uma vez que
river doesn't flow properly due to its suffering
esse rio não apresenta um tráfego adequado
from silting.
devido ao assoreamento que sofre.
INTRODUÇÃO
2 METODOLOGIA
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 3. Situação do local no ano anterior à perícia. Dentro do pontilhado vermelho está a mata ciliar do rio
Jaguaribe, coberta por vegetação nativa.
A lei 12.651/2012 (Código Florestal), art. 4º, inciso I define a mata ciliar de um rio como Área
de Preservação Permanente - APP, em zonas rurais ou urbanas:
O rio Jaguaribe, em epígrafe neste estudo, enquadra-se na letra “a” do inciso I, do artigo 4º
supracitado.
Ademais, a nossa Constituição Federal, em seu art. 225, capítulo VI, enfatiza:
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
Conforme demonstra a Figura 4, foi realizado um aterro na margem leste do rio, que extinguiu a
mata ciliar no local. A ausência da mata da mata ciliar faz com que a água da chuva escoe sobre sua
superfície, não se infiltrando, causando erosão no solo e consequentemente assoreando o rio e reduzindo
seu volume, por isso é uma proteção natural que garante a biodiversidade do entorno.
Figura 4. Ausência de mata ciliar na margem leste do rio Jaguaribe, que fica em contato com o muro do Shopping. A
extinção da mata ciliar ocorreu por ocasião de aterro no local.
Figura 8. Gramíneas exóticas sufocando os aguapés. Uma vegetação revitalizadora dos rios.
Foi observado, através da imagem 10 que há um canal para drenagem do rio, o qual,
além de pequeno e estreito, encontra-se quase totalmente obstruído por lixo, vegetação sem
vida e entulho provenientes do aterro.
O canal de drenagem com vegetação morta, entulho do aterro e lixo também configura
uma ameaça à vida do rio Jaguaribe.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com os resultados dos exames periciais foram evidenciados: Aterro da mata
ciliar, destruição da mata ciliar do rio Jaguaribe, ausência de mangue preto, vermelho ou branco,
crustáceos, peixes e presença de aguapés sufocados por invasão de gramíneas exóticas, poluição e
ausência de manutenção do canal de drenagem.
A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, reunida
no Rio de Janeiro em 1992, votou, por unanimidade, a chamada “Declaração do Rio de Janeiro”,
com 27 princípios. O princípio de nº 15 ressalta:
irreversíveis. Resta a ação da justiça para garantir a sobrevivência do rio Jaguaribe libertando a
sociedade desses danos devastadores ao meio ambiente produzidos pelo poder econômico sem
escrúpulos.
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RECEBIDO EM 03/05/2016
APROVADO EM 21/06/2016
RESUMO ABSTRACT
Forensic reports, under criminal aspects, must
Laudos Periciais, na esfera criminal, devem
portray the best possible way the crime scene
retratar da melhor forma possível o Local de
examined. Thus, illustrate the crime scene is an
Crime examinado. Assim, ilustrar a cena de crime
important step in the work carried out by the
é uma importante etapa do trabalho realizado
forensic crew. When the scene is a location of
pelo Perito Criminal. Quando a cena do crime é
great proportions, of difficult access or with a lot
um local de grandes proporções, de difícil acesso
of elements to be recorded, a longer period of
ou ainda com muito elementos a serem
time is engaged in the task of the photographic
registrados, um grande período de tempo é
record and collecting metric sizes. This way, if it
empenhado na tarefa do registro fotográfico e da
were possible to connect a camera or camcorder
coleta de medidas métricas. Desta forma, se fosse
in an aircraft, in order to obtain an aerial image
possível acoplar uma máquina fotográfica ou
of the location, the time of the forensic
filmadora em uma aeronave, a fim de se obter
examination would be optimized, as well as have
uma imagem aérea do local, o tempo do exame
a better illustration of the fact. Have the
pericial seria otimizado, bem como teríamos uma
disposition of Forensic Institutes an aircraft
melhor ilustração do fato. Ter à disposição dos
exclusively for this purpose, it is economically
Institutos de Criminalística ao menos uma única
impossible. Therefore, this article suggests the
aeronave, exclusiva para este fim, é
use of unmanned aerial vehicles (UAV) in crime
economicamente inviável. Assim sendo, este
scenes. UAVs are controlled remotely, it mean,
artigo sugere o emprego de Veículos Aéreos Não
the pilot is not inside the aircraft. So we can have
Tripulados (VANT) em locais de crime. VANTs (ou
a smaller and more economical aircraft from a
drones como s'ao popularmente conhecidos) são
financial point of view. This job describe and
controlados remotamente, isto é, o piloto não
elect, from among the various types of UAV that
está dentro da aeronave. Por isso podemos ter
exist at the present time, which better fits the use
uma aeronave menor e mais econômica do ponto
of Criminal Experts in Crime Scenes. Also be
de vista financeiro. Este trabalho busca ainda
shown two examples of practical application of
analisar e eleger, dentre os diversos tipos de
this UAV.
VANT existentes na atualidade, qual melhor se
adéqua ao uso de Peritos Criminais em Locais de
Crime. Também será mostrado um exemplo de KEYWORDS
aplicação prática deste VANT.
CRIME SCENE. FORENSIC SCIENCE. UAV.
PALAVRAS CHAVE MULTIROTOR. MULTICOPTER.
LOCAL DE CRIME. CIÊNCIA FORENSE. VANT.
MULTIROTOR. DRONE.
INTRODUÇÃO
Retratar esquematicamente uma cena de crime é uma das etapas mais importantes do
exame pericial e de seu respectivo laudo, tornando-se muitas vezes imprescindível para a correta
interpretação da prova material. Além de ilustrar o local do crime através de um diagrama
esquemático em escala e com as medidas pertinentes à sua análise, incluir no laudo pericial
fotografias panorâmicas ou filmagens auxilia no entendimento da cena por parte do usuário do
trabalho pericial. Também é importante ilustrar o evento da melhor forma possível a fim de que
se possa perpetuar o palco dos acontecimento para o leitor ser remetido àquele local na forma em
que se encontrava no momento da realização do exame pericial.
Mais modernamente pode-se confeccionar maquetes virtuais e animações gráficas
reproduzindo a cena real. Mas de nada adianta existir tal potencial ilustrativo, se não for feita
uma correta coleta das medidas do local e de suas peças.
Quando o perito criminal se depara com um local de crime de grandes proporções ou de
difícil acesso, deverá dedicar um significativo período de tempo para o registro esquemático e
fotográfico das peças que compõem a cena. Essa tarefa pode se tornar demorada, complexa ou até
mesmo perigosa.
Uma alternativa para auxiliar o trabalho do perito criminal nesses locais de crime seria a
incorporação de um equipamento que registre imagens (máquina fotográfica ou filmadora) em
uma aeronave. Desta forma pode-se obter uma tomada fotográfica aérea que retrate exatamente a
cena de crime que se deseja registrar no solo.
Obviamente seria técnica e economicamente inviável existir uma frota de aeronaves, ou ao
menos uma única unidade, para atender peritos em seus trabalhos de localística. Sabidamente a
situação atual das instituições de pericial oficial do Brasil não permite tal recurso.
Tendo em vista que o uso de aeronaves reais em exames periciais é praticamente
impossível na atualidade, porque não se lança mão de veículos aéreos não tripulados?
De acordo com Nonami et al., (2010), um veículo aéreo não tripulado (VANT) é uma
aeronave, cuja condução não é realizada por pilotos embarcados. Esses veículos são controlados
remotamente (à distância) por meios eletrônicos, usualmente, através de controles remotos.
O autor deste artigo realizou em 2013 um estudo com o objetivo de identificar e analisar
os principais tipos de veículos aéreos não tripulados existentes, escolhendo aquele que melhor se
enquadra nas necessidade de peritos criminais na realização de exames de locais de crime. Os
resultado obtidos foram apresentados no XXII Congresso Nacional de Criminalística de Brasília,
em setembro de 2013.
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6 [N. ESPECIAL]| P. 522-538| AGO 2016
REVISTA A BARRIGUDA 524
3 TIPOS DE VANT
Como já foi dito, iremos explorar neste trabalho as características das seguintes aeronaves:
Dirigível, Avião, Helicóptero e Multirotor. As considerações realizadas tem como parâmetro
VANTs de dimensões e características semelhantes.
Dentre os diversos tipos de VANT, os dirigíveis são classificados no grupo "mais leve
que o ar - motorizados", (NONAMI et al., 2010). Isto é, sua sustentação não se dá através de
asas e sim do auxílio de um balão contendo um gás mais leve que o ar atmosférico. Sua
construção como VANT é bem simples e não demanda de muitos equipamentos sofisticados. O
principal componente para sua sustentação é o gás hélio que permanece acondicionado dentro do
reservatório. Seu consumo de bateria é relativamente baixo, uma vez que sua sustentação é dada
por esse gás, conferindo ao mesmo grande autonomia de voo.
Economicamente é um dos mais acessíveis, justamente pelo fato de sua construção ser
simples de por não necessitar do emprego de muitas peças caras. Sua operação é muito simples e
de fácil aprendizado.
O voo é lento e estável, tornando-o uma ótima solução para obtenção de imagens aéreas.
Por outro lado, tal lentidão o impede de chegar rapidamente em locais e altitudes desejadas,
ficando muitas vezes a mercê de vento local.
Justamente o uso do gás, que o torna tão simples construtivamente, é o principal
impeditivo para o uso do mesmo em locais de crime. Obviamente o transporte deste gás, mesmo
que um volume reduzido, não é nada prático. Também, ficar o profissional susceptível à
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REVISTA A BARRIGUDA 526
disponibilidade de tal insumo, bem como o tempo transcorrido para se deixar o VANT pronto
para voar, não é interessante, pois o equipamento deve estar sempre pronto para ser usado em
qualquer momento da forma mais rápida possível.
Os aviões são classificados como aeronaves mais pesadas que o ar, motorizadas e de asas
fixas. A sustentação dos aviões se dá através da diferença de pressão gerada entre a parte superior
e inferior das asas, quando esse se desloca através do ar. Assim, o desenho e a construção das asas
se torna crítico. Esta aeronave, apesar de ter características construtivas aerodinâmicas
relativamente complexas, sua construção já é dominada a muitos anos.
Assim como os dirigíveis, em sua estrutura não são empregadas peças de valor elevado.
Porém a construção mais detalhada da estrutura, principalmente por conta do desenho
aerodinâmico da asas, torna o custo de aquisição do avião mais alto que o dos dirigíveis.
A operação não é tão simples quanto a dos dirigíveis, porém, após algumas horas de
treinamento, é possível operar sem muitas dificuldades tais VANT. Por outro lado, a
manobrabilidade do mesmo fica comprometida, pois os movimentos que devem ser realizados
para a condução do mesmo no ar acabam sendo muito longos e pouco práticos quando se deseja
que a aeronave passe por determinado ponto específico.
O voo é muito estável, sem oscilações, tornado-se boa opção para obter filmagens aéreas.
Porém, sua incapacidade de pairar, faz com que seu uso não seja muito interessante quando se
deseja filmar, ou mesmo fotografar, uma cena estática no solo. Para tal situação é necessário
desenvolver muitos movimentos no ar para que o mesmo retorne ao ponto desejado.
A autonomia de voo é um dos atrativos desta modalidade de VANT. Como sua
sustentação se dá através de asas fixa, o consumo de energia é baixo, conferindo uma autonomia
de voo atraente para o uso na maioria dos exames periciais.
A carga útil transportável (payload) não é relevante, assim, se for necessário transportar
uma filmadora ou máquina fotográfica de proporções medianas, não poderá ser feito neste tipo e
VANT.
Por fim, a grande desvantagem deste tipo de aeronave é sua necessidade em decolar e
pousar horizontalmente. Este fato torna-o praticamente impossível de ser utilizado em locais de
crime. Para coloca-lo no ar é necessário um espaço horizontal que nem sempre estará disponível.
Como não se pode contar com o acaso, seu emprego no uso ora avaliado é desaconselhável.
Não há paralelo em escala natural deste tipo de VANT. Popularizou-se nos últimos anos
devido aos recentes desenvolvimento tecnológicos de motores elétricos brushless e baterias de
Lithium Polymer (Li-Po). Também o desenvolvimento de firmware mais rápidos ajudou a
disseminação dos multirotores. Classificados como aeronaves de asas rotativas, possui diversas
configurações segundo a quantidade de motores. As configurações mais comuns são as seguintes:
3 motores (tricóptero), 4 (quadricóptero), 6 (hexacoptero), 8 (octacóptero).
Todas as considerações aqui realizadas tem como fito o uso em locais de crime, para a
realização de pericias criminais. Também os tipos de VANT aqui analisados são de dimensões e
características equivalentes.
Carga útil, ou Payload, é toda carga que o VANT pode transportar excetuando-se aquela
indispensável para o voo do mesmo (motores, baterias, hélices, estrutura, equipamentos
eletrônicos, etc.).
Este parâmetro foi considerado no estudo de 2013 e desconsiderado no estudo atual
devido com o avanço da miniaturização de máquinas fotográfica, principalmente com o advento
da tecnologia mirrorless, que possuem uma qualidade de imagem equivalente às DSLR, porém
com uma massa muito menor. Como a massa atual das máquinas fotográficas e dos sensores
ópticos não é elevada, optou-se por eliminar esse critério da análise do tipo de VANT.
4.1.2 Manobrabilidade
Barnhart et al., (2011) utilizam o termo vertical take-off and landing (VTOL) para
aeronaves que decolam e pousam verticalmente. VANTs com esta característica dispensam o
inconveniente de necessitar de uma pista de decolagem/pouso ou de algum acessório para
lançamento.
4.1.5 Logística
Para que um VANT seja realmente útil para seu uso em locais de crime, é importante
que o mesmo seja fácil de ser transportado e esteja rapidamente pronto para voar. São essas
características que se procurou apurar no parâmetro denominado Logística.
4.1.6 Operação
Procurou-se avaliar neste parâmetro quão complexa é a operação do VANT por parte do
piloto. Também considerou-se a facilidade no treinamento e aprendizagem do operador em
utilizar a aeronave.
4.1.9 Combustível
Áreas grandes, como as comumente observadas em crime de meio ambiente, podem ser
cobertas faclmente por sobrevoos de aviões e multirotores. O dirigível torna-se impraticavel
nesses casos, uma vez que sua velocidade é extremamete baixa. Os helicópteros de tamanho médio
também não se aplicam em grandes áreas, uma vez que sua operação é relativamente complexa e
seu voo é pouco instavel.
Considera-se neste trabalho o termo "grandes áreas" para porções de terras acima dos
100.000m² (10 hectares). Este parâmetro "Aplicação em grandes áreas" não foi considerado no
estudo de 2013.
Para se analisar qual dos tipos de VANT melhor se adéquam ao uso por peritos
criminais em locais de crime, atribuiu-se uma nota de 1 a 3, para cada parâmetro, sendo a nota 1
considerada um parâmetro avaliado como ruim e o valor 3 para um parâmetro avaliado como
bom.
4.3 RESULTADOS
A tabela 1 mostra, para o estudo de 2013, as notas tabuladas e o resultado final obtido
através da soma dos valores dos parâmetros de cada um dos tipos de VANT. Já a tabela 2 mostra
os resultados do presente estudo, retratando o ponto atual da tecnologia para VANTs
HELICÓPTER MULTIROTO
DIRIGÍVEL AVIÃO O R
Aplicação em grandes áreas 1 3 1 2
Manobrabilidade 1 2 3 3
VTOL 3 1 3 3
Autonomia de voo 3 2 1 2
Logística 1 2 3 3
Operação 3 2 1 3
Características Construtivas 2 2 1 3
Custo de aquisição 3 2 1 3
Combustível 1 3 3 3
Total 18 19 17 25
Tabela 2: Tabela-resumo das notas atribuídas à cada tipo de VANT e parâmetro de acordo com o presente
estudo (2016)
Interessante observar que o segunda colocação em 2013 era o Dirigível e no estudo atual
essa posição foi assumida pelo Avião. Realmente é muito mais prático a aplicação de aviões ao
invés de dirigíveis, pelo menos para a aplicação aqui proposta, qual seja, o trabalho pericial em
levantamentos de locais de crime.
5 RECOMENDAÇÕES DE USO
Pela experiência adquirida através do uso em locais de crime observou-se que é mais
prático utilizar-se de fotografias obtidas a partir dos VANT que filmagens. Com fotografias
obtém-se uma resolução melhor dos quadros, donde consegue-se detalhes importantes para a
análise pericial.
Também é possível produzir no pós-processamento das fotografias alguns produtos
interessantes para o uso pericial: (i) mosaico de imagens: uma imagem produzida a partir de várias
imagens sobrepostas parcialmente; (ii) ortofotos: imagens de onde se pode obter medidas
métricas, e; (iii) imagens tridimensionais: imagens produzidas a partir de nuvem de pontos e de
onde consegue-se observar e medir o volume de objetos e estruturas. A geração e emprego de tais
produtos foi tema abordado pelo autor no XXIII CNC de Búzios/RJ em 2015.
A recomendação para o uso de aviões se sobrepõe ao de multirotores, em situações onde a
área a ser levantada ou vistoriada é relativamente grande, conforme já mencionado, acima de
aproximadamente de 10 hectares. Áreas acima desta ordem de grandeza demandam um tempo
maior de voo, o qual é mais facilmente obtido com o uso de aviões.
6 LEGISLAÇÃO PERTINENTE
A legislação que regulamenta o uso dos veículos aéreos não tripulados foi atualizada para
o cenário atual do setor, tanto pela ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) quanto pelo
DECEA (Departamento de Controle de Espaço Aéreo), mas ainda encontra lacunas e não está
plenamente consolidada.
Uma das atualizações foi a convenção do uso do termo que designa a nomenclatura de
VANT, qual seja ARP - Aeronave Remotamente Pilotada (ou RPA em inglês, Remotely-Piloted
Aircraft).
Outra atualização significativa atualmente proposta pela ANAC é a divisão dos VANT
em 3 classe com base em seu Peso Máximo de Decolagem (PMD), quais sejam:
- Classe 1: Aplicável para RPA com PMD maior 150kg. As aeronaves deverão ser
certificadas pela ANAC, serão registradas no Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB) e pilotos
deverão possuir Certificado Médico Aeronáutico (CMA), licença e habilitação. Todos os voos
deverão ser registrados.
- Classe 2: Aplicável para RPA com PMD maior que 25kg e menor ou igual a 150kg.
Aeronaves não precisarão ser certificadas, mas os fabricantes deverão observar os requisitos
técnicos exigidos e ter o projeto aprovado pela Agência. Também deverão ser registradas no RAB
e pilotos deverão possuir CMA, licença e habilitação. Todos os voos também deverão ser
registrados.
- Classe 3: Aplicável para RPA com PMD menor ou igual a 25kg. Se operados até 400
pés acima do nível do solo (aproximadamente 120 metros) e em linha visada visual, serão apenas
cadastrados (apresentação de informações sobre o operador e o equipamento). Não será
requerido CMA nem será necessário registrar os voos. Licença e habilitação somente serão
requeridas para quem pretender operar acima de 400 pés. As operações de RPA até 25 kg só
poderão ocorrer a uma distância mínima de 30 metros de uma pessoa. A distância pode ser
menor no caso de pessoas anuentes (aquelas que concordarem expressamente com a operação) ou
de pessoas envolvidas na operação. Em áreas urbanas e aglomerados rurais, as operações serão de
no máximo 200 pés acima do nível do solo (aproximadamente 60 metros).
Para o uso específico de órgão de perícia em locais de crime ou em quaisquer outras
situações que envolvam órgão de segurança pública e de defesa civil, a proposta da ANAC é de
que esses intitutos poderão operar em quaisquer áreas, sob responsabilidade do órgão (ou do
operador que estiver a serviço deles), desde que observadas as demais exigências da futura norma.
Essas operações não precisarão possuir seguro com cobertura de danos a terceiros.
7 EXEMPLO DE APLICAÇÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
AUSTIN, R. Unmanned Air Systems: UAV Design, Development and Deployment. Chichester, Inglaterra:
Wiley, 2010. 372 p.
BARNHART, R. K..; HOTTMAN, S. B.; MARSHALL, D. M.; SHAPPEE, E. Introduction to
Unmanned Aircraft Systems. Boca Raton, EUA: CRC Press, 2011. 233 p.
BOUABDALLAH, S. Design and Control of Quadrotors with Application to Autonomous Flying . 2007.
Tese de doutorado, Faculté des Sciences et Techniques de L´Ingénieur, École Polytechnique Fédérale de
Lausanne, Lausanne, França, 2007.
NONAMI, K.; KENDOUL F.; SUZUKI, S.; WANG, W.; NAKAZAWA, D. Autonomous Flying Robots:
Unmanned Aerial Vehicles and Micro Aerial Vehicles. Tokio, Japão: Springer, 2010. 340 p.
PASQUALINI, A. O uso de veículos aéreos não tripulados em locais de crime. In: CONGRESSO
NACIONAL DE CRIMINALÍSTICA, 22., 2013, Brasília/DF.
PASQUALINI, A. Aplicação de veículos aéreos não tripulados em locais de acidentes de trânsito . In:
SEMINÁRIO NACIONAL DE PERÍCIAS DE ACIDENTES DE TRÂNSITO, 9., 2014, Porto
Alegre/RS.
PASQUALINI, A; CARDOSO, TC. Uso de VANT para geração de Ortofotos e Modelos Tridimensionais
de locais de crime. In: CONGRESSO NACIONAL DE CRIMINALÍSTICA, 23., 2015, Búzios/RJ.
RECEBIDO EM 01/06/2016
APROVADO EM 14/07/2016
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