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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

OLDAIR ZANCHI

INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA:


O RELATÓRIO DE INTELIGÊNCIA (RELINT) E O PROCESSO PENAL

Florianópolis
2021
OLDAIR ZANCHI

INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA:


O RELATÓRIO DE INTELIGÊNCIA (RELINT) E O PROCESSO PENAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Graduação em Direito, da
Universidade do Sul de Santa Catarina, como
requisito parcial para obtenção do título de
Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Aldo Nunes da Silva Junior.

Florianópolis
2021
OLDAIR ZANCHI

INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA:


O RELATÓRIO DE INTELIGÊNCIA (RELINT) E O PROCESSO PENAL

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi


julgado adequado à obtenção do título de
Bacharel em Direito e aprovado em sua forma
final pelo Curso de Graduação em Direito, da
Universidade do Sul de Santa Catarina.

Florianópolis, 10 de dezembro de 2021.

______________________________________________________
Professor e orientador Aldo Nunes da Silva Junior, Especialista
Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________
Professor Julian Salvan, Mestre
Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________
Professor Wânio Wiggers, Mestre
Universidade do Sul de Santa Catarina
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA:


O RELATÓRIO DE INTELIGÊNCIA (RELINT) E O PROCESSO PENAL

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte
ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Sul de
Santa Catarina, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de
todo e qualquer reflexo acerca deste Trabalho de Conclusão de Curso.
Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente em caso de
plágio comprovado do trabalho monográfico.

Florianópolis, 10 de dezembro de 2021.

____________________________________
OLDAIR ZANCHI
Dedico este trabalho primeiramente a Deus, que
me conduziu até este momento. À minha esposa
Carin pelo apoio incondicional. Aos nossos
filhos, heranças de Deus, Heitor e Giovana, nos
quais reside minha convicção de fazer o melhor.
Aos meus pais, Iria e Rosalino, pela vida e pelos
valores a mim transmitidos.
AGRADECIMENTOS

A realização deste trabalho materializa um objetivo iniciado a partir de uma decisão


tomada há muitos anos, em 1991, quando tive meu primeiro contato com a faculdade de Direito,
na Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), campus Itajaí/SC. Concluído o primeiro
semestre, interrompi a caminhada jurídica. Ouvindo meu coração, resolvi mudar
completamente de área de atuação e de instituição de ensino superior. Iniciei a busca de
conhecimento sobre a natureza das coisas, seduzido com a possibilidade de decodificar a “voz”
do Criador em postulados, condições de contorno, fórmulas, números e a didática para
retransmitir o conhecimento, no desafiador curso de Física Bacharelado, e, na sequência, o
retorno para a habilitação de Licenciatura, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Meus sinceros agradecimentos às instituições de ensino pelas quais passei, pelos conhecimentos
e pelas amizades conquistadas.
Em 1995, ingressava na instituição Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), que
pouco conhecia, fui acolhido e capacitado e logo ocupei posições de liderança. Destaco a área
de Tecnologia da Informação, onde pude contribuir por mais de 17 anos. Anos depois, o MPSC
abriu outra porta de oportunidade ao estimular e financiar meus estudos no curso de Direito,
agora mais maduro, para contribuir com as atividades ministeriais. Meus agradecimentos à
instituição Ministério Público de Santa Catarina, na pessoa do Procurador-Geral de Justiça, Dr.
Fernando da Silva Comin, que acreditou no meu potencial e que viabilizou esta conquista.
Ao professor e orientador Aldo Nunes da Silva Junior, meu sincero agradecimento por
aceitar o convite de orientação neste trabalho, pela sua dedicação e pelo seu apoio ao longo de
todo o semestre, sendo uma constante fonte de motivação, por sua orientação valiosa, exemplar
e admirável. Por tudo isso, quero dizer ao amigo professor Aldo muito obrigado.
À professora e orientadora Andréia Catine Cosme meu agradecimento pela orientação
metodológica, sem a qual não seria possível dar a forma adequada a este trabalho.
Aos professores da Unisul por compartilhar seus conhecimentos, não somente aqueles
do plano de ensino, mas suas experiências de vida, que dificilmente encontraremos lições nos
livros ou artigos acadêmicos. Meu muito obrigado.
Agradeço também a todos colegas de graduação pela parceria e convivência nos estudos.
À minha mãe, Iria Terezinha Zanchi, e ao meu pai, Rosalino Zanchi, pelo carinho, pelo
amor e pela dedicação.
Ao meu irmão e às minhas irmãs, aos sobrinhos e às sobrinhas, aos cunhados e às
cunhadas, que, de uma forma ou de outra, inspiraram o seguimento dessa nova profissão.
Meu sogro, Laercio de Almeida Coelho, e minha querida sogra, Hortência Ranha de
Almeida Coelho (in memorian), pela graça de me conceder a mão de sua filha, minha amada
esposa, além de todo apoio espiritual dado por meio de orações.

AGRADECIMENTO ESPECIAL
Minha amada esposa Carin Ranha de Almeida Coelho Zanchi, pessoa ímpar na minha
vida, que, além de me presentear com nossos preciosos filhos, foi quem primeiro me motivou
seguir essa nova faculdade. Nos meus momentos de angústia, usava sua principal arma, a
oração, cobrindo não só a retaguarda, mas também a frente de batalha. Nenhuma oração foi em
vão, toda palavra proferida se fez matéria, caminhos foram abertos, seguindo em frente, sem
retroceder, pedras removidas e transformadas em pavimento. Carin, sem teu amor essas
palavras não seriam possíveis. Te amo. Muito obrigado.
Meus pequenos, agora não tão pequenos, Heitor de Almeida Coelho Zanchi e Giovana
de Almeida Coelho Zanchi, Deus nos deu como herança, junto com a responsabilidade de
educar e fazer o melhor, repassando os valores cristãos, proporcionando as ferramentas
necessárias para formar o caráter, contribuindo assim na construção de uma sociedade mais
justa e equilibrada.
“[...] inteligência não é ficar espionando a vida das pessoas; inteligência é dotar o
governo de pessoas, de instituições que lhe permitam tomar decisões adequadas nos momentos
devidos” (General Fernando Cardoso).
RESUMO

A pesquisa teve como objetivo principal identificar as atividades de inteligência, o arcabouço


normativo, as metodologias e os artefatos produzidos, e os seus limites de utilização dentro do
processo penal. O trabalho seguiu as orientações definidas pelo Método de Abordagem
Dedutivo, de natureza qualitativa. A partir de uma premissa geral, apresentou-se e conceituou-
se o processo penal, na abordagem da construção de provas aptas para a decisão judicial, e
seguiu-se com a definição da Atividade de Inteligência junto aos órgãos da segurança pública,
identificando os documentos produzidos e sua utilização, à luz da doutrina de inteligência, no
processo de investigação e no apoio para a investigação criminal. A conclusão alcançada
demostrou a constitucionalidade das atividades de inteligência, o limite de utilização do
Relatório de Inteligência (RELINT), reforçando os conceitos republicanos, e revelou a
necessidade de fortalecer as áreas de inteligência de segurança pública, de modo ampliar seu
alcance, visando a proteção da sociedade no combate ao crime comum e patrocinado pelas
organizações criminosas.

Palavras-chave: Processo Penal. Agência de inteligência. RELINT. Doutrina de inteligência.


LISTA DE ABEVIATURAS E SIGLAS

AI – Agência de Inteligência
AISP – Atividade de Inteligência de Segurança Pública
CGI – Coordenação-Geral de Inteligência
CIAI – Curso de Introdução à Atividade de Inteligência
COAF – Conselho de Controle de Atividades Financeiras
COPEI – Coordenação Geral de Pesquisa e Investigação
COSISP – Coordenação-Geral de Integração ao Subsistema de Inteligência de Segurança
Pública
CP – Código Penal
CPP – Código de Processo Penal
CRFB – Constituição da República Federativa do Brasil
CSP – Contrainteligência de Segurança Pública
DNISP – Doutrina Nacional de Segurança Pública
ENINT – Estratégia Nacional de Inteligência
ENISP – Estratégia Nacional de Inteligência de Segurança Pública
GSI – Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República
ISP – Inteligência de Segurança Pública
MD – Ministério da Defesa
MDIN – Ministério da Defesa e da Integração Nacional
ME – Ministério da Economia
MJSP – Ministério da Justiça e Segurança Pública
MPSC – Ministério Público de Santa Catarina
OB – Ordem de Busca
PB – Pedido de Busca
PC – Polícia Civil
PF – Polícia Federal
PM – Polícia Militar
PNI – Política Nacional de Inteligência
PNISP – Política Nacional de Inteligência de Segurança Pública
PNSPDS – Política Nacional de Segurança Pública e Desenvolvimento Social
PRF – Polícia Rodoviária Federal
RB – Relatório de Busca
RELINT – Relatório de Inteligência
RI – Relatório Interno
RT – Relatório Técnico
SENASP – Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça
SFICI – Serviço Federal de Informações e Contrainformações
SISNI – Sistema Nacional de Informações
SISP – Subsistema de Inteligência de Segurança Pública
SNI – Serviço Nacional de informações
SRF – Secretaria da Receita Federal
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina
UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí
LISTA TABELAS

Tabela 1 - Atividade de Inteligência X Investigação Criminal ................................................ 55


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – SISBIN .................................................................................................................... 37


Figura 2 – Composição do SISBIN .......................................................................................... 38
Figura 3 – Composição do SISP ............................................................................................... 39
Figura 4 – Ciclo de Inteligência, segundo a Doutrina Brasileira .............................................. 44
Figura 5 – Processo formal para produção de conhecimento ................................................... 45
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................. 16
2 PROCESSO PENAL ........................................................................................................ 19
2.1 SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS ............................................................................ 19
2.1.1 Sistema Inquisitivo ...................................................................................................... 20
2.1.2 Sistema Acusatório ...................................................................................................... 20
2.1.3 Sistema Misto ............................................................................................................... 22
2.2 INVESTIGAÇÃO CRIMINAL ....................................................................................... 22
2.3 DAS PROVAS ................................................................................................................. 24
2.3.1 Princípios Aplicáveis ................................................................................................... 25
2.3.2 Fontes, Meios e Espécie de Provas ............................................................................. 26
2.3.2.1 Da Prova Oral ............................................................................................................. 27
2.3.2.2 Da Prova Documental................................................................................................. 28
2.3.2.3 Da Prova Pericial ........................................................................................................ 29
3 ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA ............................ 31
3.1 CONCEITO ..................................................................................................................... 31
3.2 DOUTRINA E LEGISLAÇÃO ....................................................................................... 33
3.3 AGÊNCIA DE INTELIGÊNCIA .................................................................................... 35
3.3.1 Estrutura Organizacional ........................................................................................... 37
3.3.2 Profissional de Inteligência ......................................................................................... 40
4 O RELINT E AS PROVAS DO PROCESSO PENAL.................................................. 43
4.1 PROCESSO DE PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO ................................................. 43
4.1.1 Metodologia de Produção de Conhecimento ............................................................ 44
4.1.1.1 Do Planejamento ........................................................................................................ 45
4.1.1.2 Da Reunião de Dados ................................................................................................. 46
4.1.1.3 Do Processamento ...................................................................................................... 47
4.1.1.4 Da Formalização e Difusão ........................................................................................ 49
4.1.2 Documentos de Inteligência ........................................................................................ 49
4.1.2.1 Dos Documentos Externos ......................................................................................... 50
4.1.2.2 Dos Documentos Internos .......................................................................................... 51
4.1.2.3 Da Padronização dos Documentos ............................................................................. 51
4.1.3 Compartimentação ...................................................................................................... 52
4.1.4 Relatório de Inteligência (RELINT) .......................................................................... 53
4.2 A (IN)APLICABILIDADE DO RELINT NO PROCESSO PENAL.............................. 53
4.2.1 Inteligência Policial x Investigação Criminal ........................................................... 54
5 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 57
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 59
16

1 INTRODUÇÃO

Quando se ouve falar em Agência de Inteligência (AI), logo a fertilidade da mente


humana remete a filmes de espionagens ou a reportagens sobre “dossiês” produzidos por
agentes especiais, a mando de autoridades com interesses não republicanos.
Diferente da ficção, as AIs existem para um trabalho fundamental nas estratégias de
Estado, na segurança do interesse nacional e na área da segurança pública com a produção de
conhecimento ligado à preservação da ordem pública. Apesar disso, poucos sabem a real função
da produção de conhecimento, pois sua literalidade é fonte de muitas dúvidas, tais como: Qual
seu objetivo? Produz dossiês? A quem serve? É o mesmo que espionagem? As informações
produzidas podem subsidiar investigações criminais? Qual seu alcance?
A atividade de inteligência e, por consequência, as AIs são tratadas com desconfiança
no Brasil, pois o senso comum e as opiniões públicas vinculam suas atividades ao período do
governo militar, que associa ao serviço secreto pelas perseguições antidemocráticas,
promovidas pelo então Serviço Nacional de Informação (SNI). Porém, ao contrário disso, o
serviço prestado visa reunir informações estratégicas para subsidiar na tomada de decisões da
alta gestão, a fim de garantir o Estado democrático de direito.
Outro fator que cria uma névoa sobre o entendimento do assunto é o fato de as AIs serem
pouco conhecidas por sua natureza restrita, além dos acessos às doutrinas de inteligência
estarem protegidas, mantidas em sigilo pelos órgãos de inteligência e legislação
infraconstitucional, sob um manto que, aos poucos, vai se mostrando, de modo a expandir o
campo de atuação nas altas administrações, e trazendo a luz ao processo de produção de
conhecimento, observado sempre o sigilo de cada natureza, operacional, estratégica ou
administrativa.
Por consequência, no Brasil, o tema “inteligência” é pouco conhecido no meio
acadêmico, poucos são os autores de material científico como também os livros publicados.
Diferentemente de outros países, onde existem verdadeiros centros de estudos avançados, desde
sua origem (modelo atual) no período da 2ª Guerra Mundial (Office Secret Service - OSS) com
ênfase no período da Guerra Fria (CIA, KGB, Mossad), com vasto material publicado de cunho
científico, além livros escritos por ex-agentes, contribuindo para a formação de novos
profissionais da área.
Na atuação de uma AI, é necessário entender como se trabalha e quais artefatos podem
ser produzidos para uma operação. Entender sua metodologia e principalmente as normas que
garantem sua atuação, por consequência manter os esforços na trilha da legalidade, para que os
17

atos praticados na operação não corram risco de eventual contestação e se perca todo o trabalho
realizado.
Um dos artefatos produzidos pela AI é o Relatório de Inteligência (RELINT), definido
em doutrina e em legislação própria. Nesse sentido, o presente trabalho tem por objetivo a
análise de produção do RELINT, de forma a identificar os limites de utilização, destinação e a
legalidade da utilização na investigação criminal. Além disso, este estudo busca entender a
estrutura do sistema de inteligência do Brasil bem como das AIs e a metodologia de trabalhos
dos Agentes de Inteligência, verdadeiros soldados do silêncio.
Esta monografia segue as orientações definidas pelo Método de Abordagem Dedutivo,
de natureza qualitativa. A partir de uma premissa geral, o processo penal é apresentado e
conceituado, por meio da abordagem da construção de provas aptas para a decisão judicial, e,
em seguida, é feita a definição da Atividade de Inteligência junto aos órgãos da segurança
pública, identificando os documentos produzidos e sua utilização, à luz da doutrina de
inteligência.
O Método de Procedimento é o Monográfico, pesquisa bibliográfica sobre o assunto, e
documental em legislações e normas, o que trará os subsídios necessários para avançar na
pesquisa, traçando as ligações entre os assuntos de forma concisa e robusta para responder ao
problema: O RELINT pode compor um processo penal com vistas a servir como meio de prova
na persecução penal?
Quanto à primeira etapa da pesquisa, provas admitidas para instruir o processo criminal,
existe um material vasto por se tratar de disciplina obrigatória nos cursos de Direito. Entretanto,
no que tange à atividade de inteligência, configura uma literatura mais restrita, seja na norma
legal, seja no meio acadêmico, trazendo à pesquisa uma seleção de material de estudo mais
apurada.
Este trabalho está estruturado em cinco seções, ou seja, introdução, três capítulos de
desenvolvimento e a conclusão.
No capítulo dois, será abordado o Processo Penal quanto aos sistemas processuais
conhecidos, à tutela processual na investigação criminal e às provas admitidas para compor o
processo penal.
No terceiro capítulo será apresentada a estrutura da atividade de inteligência de
segurança pública: as normas que regem, como é organizada e a atividade de seus agentes.
O capítulo quatro apresenta a metodologia para produção do conhecimento, os artefatos
e a difusão do conhecimento.
18

Por fim, a conclusão reforça conceitos republicanos, trazendo à baila reflexões quanto
à necessidade de instituições mais fortes, utilizando-se dos métodos eficazes de modo a proteger
e evitar ameaças, seja no campo administrativo (atentados, imagem e prejuízos materiais), seja
na preservação da vida, sem ferir o processo penal.
19

2 PROCESSO PENAL

No momento em que o indivíduo comete uma conduta delituosa, tipificada no Código


Penal, nasce o direito de punir. Essa pretensão punitiva é o poder que o Estado tem de exigir de
quem cometeu a transgressão os rigores da norma penal, de modo a efetivar o ius puniendi,
fazendo com que se cumpra a sanção penal, imputando, assim, ao acusado as consequências do
crime praticado. Nas palavras de Lima (2021, p. 43), “a pretensão punitiva não pode ser
voluntariamente resolvida sem um processo, não podendo nem o Estado impor uma sanção
penal, nem o infrator sujeitar-se a pena”.
O Estado, como titular do direito de punir, não pode fazer cumprir imediatamente a pena
sem um processo regular e formal (devido processo legal). Esse processo é o que diferencia um
regime democrático de um regime totalitário, devendo respeitar os direitos fundamentais de um
e a aplicação da norma penal do outro, dentro das medidas legais e nas doses, não mais que
necessárias, da punição para o delito cometido.
O Direito Processual Penal é o “corpo de normas jurídicas com a finalidade de regular
o modo, os meios e os órgãos encarregados de punir do Estado, realizando-se por intermédio
do Poder Judiciário” (NUCCI, 2021, p. 1), é o condutor para aplicabilidade do direito, por meio
dos princípios constitucionais que garantem os direitos humanos fundamentais individuais,
entre o “punir” e a liberdade do acusado. O Processo Penal (democrático) lida com as liberdades
públicas, os direitos indisponíveis, a dignidade da pessoa humana, a integridade moral e física,
o patrimônio, entre outros bens.

2.1 SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS

Da necessidade da instrução processual, antes, demandará investigação preliminar e


consequentemente o processo-crime, para então a eventual condenação ou absolvição. Nesse
processo existem três sistemas, o inquisitivo, o acusatório e o misto. Vale destacar que nenhum
dos sistemas foram adotados integral e individualmente, ou seja, os pontos positivos de um
podem ser agregados a outro, formando uma variação mais adequada ao ordenamento jurídico
vigente.
20

2.1.1 Sistema Inquisitivo

O Sistema Inquisitivo é regido pela concentração de poder na autoridade judicial, no


qual não existe separação das funções de acusador e julgador. O juiz inquisidor é quem faz a
gestão das provas.
Surgiu no direito romano, entre 27 a.C. a 284 d.C., em decorrência da negação das
garantias individuais da época. Esse modelo foi consolidado na Monarquia Absoluta, com a lei
do Imperador Constantino, e todo o processo é conduzido de ofício pelo magistrado.
Os outros atributos do sistema inquisitorial, na lição de Zilli (2003, apud DAZEM,
2021):
1. Hierarquização da jurisdição: invariavelmente, o monarca é o depositário da
jurisdição penal, que a delega a funcionários subordinados, que a exercem em seu
nome;
2. Presença do inquisidor: o poder de acusar e perseguir é exercido pelo mesmo órgão
que também é encarregado de julgar;
3. O acusado é tratado como um objeto da persecução, e, não, como sujeito de direitos;
4. O procedimento consiste em uma investigação secreta, escrita e descontínua;
5. No campo probatório, impera o sistema das provas legais. Ou seja, a valoração das
provas atende a rigorosos critérios que podem afastar ou reconhecer um fato como
elemento hábil para a formação da convicção;
6. O sistema de recursos reflete a forma hierarquizada de organização da jurisdição
penal. Da mesma forma que o monarca delega aos seus subordinados parcela da
jurisdição que por eles é exercida, esta lhe é inteiramente devolvida quando do exame
e julgamento do recurso.

Além de desencadear o processo criminal, de ofício, o juiz inquisidor tinha iniciativa


para determinar a colheita de provas, em qualquer tempo, tanto na fase de investigação quanto
no decorrer do processo criminal, de posse das provas e da legislação, tinha poder para decidir
conforme o seu livre entendimento para concluir a sentença como bem entendesse.
Nas palavras de Lima (2021, p. 44), quando o acusado “é mero objeto do processo, não
sendo considerado sujeito de direitos”, na busca da verdade admitia-se a tortura para obter-se a
confissão. O processo corria em sigilo, por escrito, era rigoroso e não existia o contraditório e
a ampla defesa, era totalmente incompatível com os direitos e as garantias individuais, bem
como não cumpria os mais elementares princípios do processo penal atual.

2.1.2 Sistema Acusatório

A principal característica desse sistema é a presença dos órgãos de acusação, de


julgamento, contrapondo a defesa e a acusação em condição de igualdade, liberdade tanto para
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acusação quanto para a defesa, com isonomia entre as partes do processo, como também a
transparência nos atos praticados.
Nas palavras de Nucci (2021, p. 28), o “contraditório está presente; existe a
possibilidade de recusa do julgador; há livre sistema de produção de provas; predomina a maior
participação popular na justiça penal e a liberdade do réu é a regra”.
A natureza do acusado está em negar a culpa, assim, para que o julgador seja imparcial,
entra a figura do acusador como instituição, justifica Lima (2021, p. 45) do “porquê da
existência do Ministério Público como titular da ação penal pública”. Enquanto existir a
separação das partes de acusador e julgador, a imparcialidade será garantida.
Esse sistema vigorou durante a antiguidade grega e romana, com também na Idade
Média, e teve um período de declínio a partir do século XIII quando o sistema inquisitivo
ressurgiu.
Os ordenamentos jurídicos modernos adotam a prática acusatória como regra. No Brasil,
a CRFB a acolheu explicitamente no art. 129, I, quando tornou a propositura da ação penal
pública privativa do Ministério Público (BRASIL, 1988), e no CPP , por meio do art. 3º-A, na
nova redação da pela Lei n. 13.964/2019 (BRASIL, 2019), conhecida por pacote anticrime de
2019, explicitou que a adoção do sistema processual penal “terá estrutura acusatória, vedadas a
iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de
acusação”.
O sistema acusatório pode ser encontrado na legislação de muitos países, não é infalível,
suas práticas acusatórias são utilizadas como regra, mas podem se utilizar de alguns aspectos
inquisitórios, na fase inicial de coleta de provas, dada a efetividade e a celeridade do processo.
Lima (2021, p. 46) esclarece que a:
Gestão de provas: recai precipuamente sobre as partes. Na fase investigatória, o juiz
só deve intervir quando provocado, e desde que haja necessidade de intervenção
judicial. Durante a instrução do processual, prevalece o entendimento de que o juiz
tem certa iniciativa probatória, podendo determinar a produção de provas de ofício,
desde que faça de maneira subsidiária’ (Grifo nosso).

Essa teoria reflete a igualdade entre os sujeitos, a produção de provas cabe às partes,
observados os princípios do contraditório, da ampla defesa, da publicidade, do dever da
motivação e, principalmente, o fato de que o juiz não é o gestor das provas.
22

2.1.3 Sistema Misto

Depois da disseminação do sistema acusatório por toda a Europa no século XIII e de


sofrer algumas alterações (influências napoleônicas), surgiu o novo sistema processual misto,
também conhecido por “francês”, dada sua origem no “Code d’Instruction Criminelle”, logo
após a Revolução Francesa.
Esse sistema possui duas fases distintas. A primeira fase, a tipicamente inquisitória, ou
seja, sem publicidade, sem ampla defesa, de instrução escrita e secreta, sem acusação, sem
contraditório, é a fase de investigação preliminar, onde se pretende levantar a materialidade e a
autoria dos fatos. A segunda fase tem caráter acusatório, em que o órgão acusador apresenta a
acusação, o réu, a defesa, e o magistrado julga. O processo segue as regras de publicidade,
oralidade, isonomia processual e o direito de manifestação, em que há a defesa após a acusação.
No Brasil, embora a CRFB e o CPP apontem para o sistema acusatório, existem normas
prevendo o uso do sistema inquisitorial, executado pela polícia judiciária, encarregada da
investigação criminal, que nada mais é que um processo de investigação preliminar, conhecido
como Inquérito Policial.
As últimas alterações impostas pelo pacote anticrime, que criou no CPP o juiz de
garantia, no art. 3º-B, por força de liminar do STF, não entrou em vigor, porém, tem como
atribuições controlar a legalidade da investigação criminal e ainda decidir sobre requerimentos
de produção antecipadas de provas, como a interceptação telefônica, o afastamento de sigilo,
entre outras ações investigatórias (LIMA, 2021).
Destarte, o Brasil não tem um sistema processual acusatório puro, dadas as
características introdutórias de investigação criminal, em que Magistrado autoriza de ofício os
procedimentos legais necessários para a legalidade investigativa.

2.2 INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

O processo administrativo para apurar a prática de uma infração penal, o Inquérito


Policial, é um procedimento preparatório da ação penal, conduzido pela autoridade da polícia
judiciária, ou seja, o Delegado de Polícia. A colheita preliminar de provas é fundamental para
apurar as circunstâncias, a materialidade e a autoria da infração penal. Essa ação está amparada
e definida no art. 2º, § 1º, da Lei n. 12830/2013 (BRASIL, 2013).
O inquérito policial tem por objeto reunir os elementos de provas urgentes,
principalmente aquelas que podem ser perdidas pela ação do tempo, haja vista a degradação
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natural da matéria, e por agentes externos ao evento, que contaminam a área do crime, elevando
o risco de redução da certeza das provas.
As provas pré-constituídas são indispensáveis, somadas a outros elementos de prova,
para formar a convicção do Membro do Ministério Público, titular da ação penal, de modo a
promover oferecimento de denúncia ao judiciário.
De acordo com Nucci (2021), o inquérito policial é uma forma de afastar dúvidas e
corrigir os rumos da investigação, evitando eventual erro judiciário, quando reunidos elementos
confiáveis contra o investigado, o equívoco na acusação se tornará raro. Ressalta-se, ainda, a
necessidade de colhimento de todas as provas possíveis e sensíveis a condições do meio
ambiente, como o exame em cadáver, ou aquelas que podem ser absorvidas no local do crime,
passíveis de desaparecimento.
Lima (2021, p. 159) destaca o caráter instrumental do inquérito policial, apontando
dupla função:
a) preservadora: a existência prévia de um inquérito policial inibe a instauração de
um processo penal infundado, temerário, resguardando a liberdade do inocente e
evitando custos desnecessários do Estado; b) preparatória: fornece elementos de
informação para que o titular da ação penal ingresse em juízo, além de acautelar meio
de prova que poderiam desaparecer com o decurso do tempo. (Grifo nosso)

A notitia criminis à Autoridade Policial dá início à investigação policial, que pode ser
de “cognição imediata”, de “cognição mediata” ou ainda “cognição coercitiva”, que, de acordo
com Tourinho Filho (2017, p. 124):
A primeira [cognição imediata] ocorre quando a Autoridade Policial toma
conhecimento do fato infringente da norma por meio das suas atividades rotineiras.
Diz-se [...] cognição mediata quando a Autoridade Policial sabe do fato por meio de
requerimento da vítima ou de quem possa representá-la, requisição da Autoridade
Judiciária ou do órgão do Ministério Público, ou mediante representação. Ela será de
cognição coercitiva nas hipóteses de prisão em flagrante, [...] toma conhecimento do
fato criminoso, o seu autor lhe é apresentado, conduzido que foi por coerção (Grifo
nosso)

A investigação se materializa, de fato, quando a Autoridade Policial iniciar as


diligências previstas no art. 6º do CCP, que, dependendo da natureza da infração e do caso
concreto, dará as providências cabíveis a seguir: a) dirigir-se ao local e isolar a área, até a
chegada dos peritos criminais; b) apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após
perícia criminal; c) colher todas as provas que esclarecem o fato e suas circunstâncias; d) ouvir
o ofendido; e) ouvir o indiciado; f) fazer o reconhecimento de pessoas e coisas e a acareação;
g) determinar, se for caso, o exame de corpo de delito e outras perícias; h) identificação do
indiciado, se possível, juntar aos autos os antecedentes; i) levantar a vida pregressa do indiciado,
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individual, familiar e social, condição econômica, estado de ânimo antes, depois e durante o
crime, e outros elementos para a apreciação do seu temperamento e caráter; j) colher
informações sobre filhos, idades e se possuem alguma deficiência, e nome e do responsável
pelos cuidados dos filhos (BRASIL, 1941).
Terminado o prazo para conclusão do Inquérito Policial, a Autoridade Policial deverá
produzir um relatório minucioso com todas as informações apuradas na investigação, podendo
ainda indicar testemunhas não inquiridas, devendo ser enviado para o juiz competente. Quando
se tratar de caso de difícil elucidação, poderá a Autoridade Policial requerer a devolução dos
autos com novo prazo para realização de novas diligências. Instrução dada pelo art. 10, §§ 1º,
2º e 3º, do CPP (BRASIL, 1941).

2.3 DAS PROVAS

A demonstração da verdade em um fato apresentado como a realidade fática de uma


situação passada, em que se deseja a confirmação incontestável, requer apresentação de provas.
Segundo Lima (2021), a origem etimológica da palavra “prova”, probo, e do latim, probatio e
probus, “traduz as ideias de verificação, inspeção, exame, aprovação ou confirmação”, que
busca o conhecimento verdadeiro. Do verbo provar (probare), que significa ensaiar, verificar,
examinar, reconhecer por experiência, aprovar, estar satisfeito com algo, persuadir alguém ou
alguma coisa ou demostrar.
O conceito de prova, como atividade probatória, é um instrumento para obtenção da
verdade, que se utiliza de métodos para produção de conhecimento, composto por atividades
de verificação e de demonstração, visando a convicção do juiz, seja para a verdade (corresponde
à realidade), seja para errônea (não corresponde à realidade) de um fato.
Na obtenção das provas, o respeito às normas vigentes são fundamentais, especialmente
aquelas tidas como pilares do Estado Democrático de Direito, que obriga o investigador a
respeitar os direitos fundamentais do indivíduo, além do seguimento aos princípios éticos que
balizam o processo penal, admitindo somente provas lícitas, sem o emprego de ameaça ou força
do Estado, garantido o devido processo legal, refutando toda e qualquer forma de obtenção de
prova produzida por meios ilícitos, fundamentos pétreos inscritos no art. 5º, incisos LIV e LVI,
da CRFB (BRASIL, 1988).
Importante observar que, devido à necessidade de manter um processo de guarda das
provas, a legislação processual penal foi atualizada recentemente, considerando, no seu art.
158-A, a cadeia de custódia como o “conjunto de todos os procedimentos utilizados para manter
25

e documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes,


para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte”. O
procedimento se inicia com o isolamento da área em que ocorreu o crime e termina com o
descarte da prova, ao fim do processo penal (BRASIL, 1941).

2.3.1 Princípios Aplicáveis

O princípio da presunção da inocência é de fundamental importância dentro do Processo


Penal, e mesmo a prova irrefutável, na condição cristalina da representação da verdade, não
habilita o réu à condição de culpado, sem antes a conclusão do devido processo legal. A CRFB,
no art. 5º, inciso LVII, garante que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado
de sentença penal condenatória” (BRASIL, 1988).
O princípio do nemo tenetur se detegere, em que ninguém é obrigado a produzir prova
contra si mesmo, garante que o acusado tem o direito de ser informado de seus direitos (art. 5º,
LXIII, da CRFB) em qualquer circunstância. Exemplifica Lima (2021, p. 71): “[...] considera
ilícita a prova colhida mediante violação a norma constitucional [...] necessidade de advertência
[...] não se pode considerar lícita, portanto, gravação clandestina de conversa informal de
policiais com preso”.
A jurisprudência e a doutrina têm admitido o uso de prova ilícita, quando produzida em
benefício do acusado (pro reo), com base no princípio da proporcionalidade, que, aliado ao
direito de defesa e da presunção de inocência, pondera a força do Estado no direito de punir.
Esse princípio evita a condenação de um inocente, como o culpado de permanecer impune.
A prova ilícita pro societate não é admitida, porém, a crescente violência patrocinada
pelo crime organizado, com sua força desproporcional frente aos órgãos de segurança pública,
está motivando o debate entre os juristas quanto à admissibilidade dos princípios envolvidos.
Nessa linha, Lima (2021, p 615) entende que a:
[...] aplicação do princípio da proporcionalidade também autoriza a utilização da
prova ilícita em favor da sociedade, como, por exemplo na hipótese de criminalidade
organizada, quando é superior às Polícias e ao Ministério Público, restabelecendo-se,
assim, como base do princípio da isonomia, a igualdade substancial na persecução
criminal.
[...]
Em que pese a opinião de respeitados autores, a leitura da jurisprudência dos Tribunais
Superiores pátrios não autoriza conclusão afirmativa quanto à tese da admissibilidade
das provas ilícitas pro societate com base no princípio da proporcionalidade.
Prevalece o entendimento de que admitir-se a possibilidade de o direito à prova
prevalecer sobre as liberdades públicas, indiscriminadamente, é criar um perigoso
precedente em detrimento da preservação de direitos e garantias individuais
26

Nesse tema, são aplicáveis outros princípios, como a da comunhão da prova, que é
comum e não pertence a nenhuma das partes; da autorresponsabilidade das partes, que assumem
as consequências da atividade ou inatividade probatória; da liberdade probatória, que
proporciona a mais ampla liberdade probatória, seja quanto ao tipo, meios e ao tempo de sua
apresentação; e o princípio do favor rei, que equilibra as forças do acusador e todo o seu aparato
governamental, em favor da parte menor do processo penal, com mecanismos e aparatos
normativos em favor do acusado, conferindo tratamento desigual aos desiguais de modo a
alcançar a igualdade, com recurso como a interpretação da prova em favor do réu, absolvição
por falta de provas, revisão criminal pro reo, entre outras (TOURINHO FILHO, 2017).

2.3.2 Fontes, Meios e Espécie de Provas

A apresentação de provas em juízo terão o formato documental, material ou


testemunhal. O documento escrito visa trazer nos autos a declaração da existência ou não de
um fato; a prova material resulta da verificação existencial do fato; enquanto a testemunhal será
a manifestação pessoal de forma oral, esta mais abrangente, pois inclui, ainda, tanto a voz do
perito quanto da vítima.
Fonte de prova é a expressão utilizada para denominar pessoas ou coisas que propiciam
as provas, podendo ser classificadas em fontes pessoais, entre elas o ofendido, o perito, o
acusado e as testemunhas; e as fontes reais são dadas pelos documentos de uma forma geral.
Para que as provas produzidas sejam introduzidas no processo, utiliza-se o instrumento
chamado meios de provas, ou seja, é a atividade desenvolvida perante o juiz do caso, com o
conhecimento e a participação das partes, para que o objeto da fonte de prova seja inserido
formalmente no processo.
Os meios de provas podem ser lícitos e ilícitos, porém somente os lícitos serão
admitidos. Os meios de provas ilícitos têm vedação expressa da CRFB, no art. 5º, inciso LVI,
“são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos” (BRASIL, 1988), e do
CPP, no art. 157, que taxativamente torna “inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do
processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais
ou legais” (BRASIL, 1941). A doutrina, segundo Nucci (2021, p. 236), esclarece que a
proibição dos meios ilícitos abrangem ainda os “meios morais, antiéticos, atentatórios à
dignidade e à liberdade da pessoa humana e aos bons costumes, bem como os contrários aos
princípios gerais do direito”.
27

Das espécies de provas, conceitua Nucci (2021) o corpo de delito como a existência do
crime, a materialidade; exame de corpo de delito é a prova pericial da materialidade do crime;
interrogatório é o ato em que o réu ou o indiciado apresenta a sua versão dos fatos, na frente da
autoridade policial ou do juiz, podendo ficar em silêncio; confissão é a admissão de culpa de
forma voluntária, diante de autoridade competente em ato solene e público, e essa declaração
será reduzida a termo; testemunha, pessoa compromissada com a verdade, traz o conhecimento
de um fato juridicamente relevante à autoridade competente; reconhecimento de pessoas e
coisas é um ato formal de identificação que possa conectar ao ato ilícito indicando a culpa;
acareação é o meio pelo qual se confrontam duas pessoas que apresentaram declarações
contraditórias, objetivando extrair a verdade dos fatos; documento é a base material válida para
registrar manifestação de vontade, de um fato juridicamente relevante; indício é um fato
secundário que se relaciona com o fato principal, por raciocínio indutivo-dedutivo, desde que
conhecido e provado; busca é o trabalho desenvolvido por agentes públicos na investigação, a
fim de descobrir algo útil ao processo criminal; apreensão é o ato de tomar algo de alguém ou
de algum lugar, de coisa ou pessoa, visando a prova ou preservação, seja do bem ou da pessoa.

2.3.2.1 Da Prova Oral

A prova oral é uma característica da prova testemunhal, colhida de pessoa com


condições para depor, sem interesse no caso. A capacidade jurídica é irrelevante para o processo
penal.
Quando prestado o depoimento, este será oral, não sendo admitido apresentar-se na
forma escrita. O depoimento somente será considerado prova quando feito em juízo, garantindo
a ampla defesa e o contraditório. Por existir certa complexidade na produção de prova
testemunhal, o relato oral não será único e definitivo e a credibilidade das informações do caso
concreto deverá ser verificada.
Será aceito somente relato limitado aos fatos e o juiz não permitirá qualquer
manifestação de juízo de valor ou apreciações pessoais sobre o caso, conforme art. 213 do CPP,
exceto se a narrativa for inerente ao caso (BRASIL, 1941).
O compromisso da testemunha é falar a verdade, assim, deverá prestar compromisso
antes do interrogatório, na frente do juiz. Esse ato tem fundamental importância para o processo
penal, ou seja, falar somente a verdade e narrar os fatos relevantes que sabe. Faltar com a
verdade depois do juramento cabe o crime do art. 342 do CP de falso testemunho, e tal conduta
28

de “afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha [...]” tem previsão de pena
de reclusão, de dois a quatro anos, mais multa (BRASIL, 1940).
O depoimento somente terá valor jurídico se respeitadas as condições de ampla defesa.
A ausência das partes no momento da coleta de depoimento, seja no escritório do Advogado,
seja no gabinete do Promotor de Justiça, ou mesmo no gabinete do Juiz, inviabilizada a prova,
tornando ilícita e não será admitida no processo. Nas palavras de Nucci (2021), mesmo quando
o magistrado entender necessário colher algum depoimento de ofício (art. 209 do CPP), deverá
designar audiência própria, com ciência tanto para acusação como para a defesa.

2.3.2.2 Da Prova Documental

A prova documental é a forma de expressar a verdade dos fatos em uma peça, seja
escrita, gráfica, filme, esquemas, e-mail, carta, planilha, croquis, mídias digitais etc., isto é, que
expresse pensamento ou vontade humana, que venha provar um fato ou acontecimento
juridicamente relevante. Admite-se a juntada da prova documental em qualquer fase processual,
com a ciência das partes, exceto quando a lei proibir, ou seja, pelo art. 479 do CPP, o qual não
permite, durante um julgamento, a leitura ou exibição de documento se este não tiver sido
juntado três dias úteis antes, para ciência da outra parte (BRASIL, 1941).
Tourinho Filho (2017, p. 635) reitera que documento é qualquer coisa representativa de
um fato, dividido quanto à forma:
 escritos: são os documentos que tomam corpo no papel em que são escritos;
 gráficos: quando os fatos ou ideias são representados “por sinais gráficos diversos
da escrita: desenhos, pinturas, cartas topográficas etc.”;
 diretos: quando o fato representado se transmite diretamente para a coisa
representativa – fotografia, cinematografia, microfotografia etc. (Grifos no original)

A autenticidade é outro fator importante da prova documental, pois somente terão


validade processual os documentos originais ou cópias, se conferidas com os originais,
condição dada pelos art. 237 do CPP, ou, de acordo com o art. 232, parágrafo único, do CPP,
também terão o mesmo valor de original se autenticadas por agente do serviço público
(BRASIL, 1941).
Nesse contexto, Nucci (2021) explica ainda que não é vedada a consideração da
fotocópia como documento, porém não terá o mesmo valor probatório que a original (ou
autenticada) e seu valor dependerá da avaliação do juiz, podendo ser juntada aos autos livre de
controvérsia, caso não tenha manifestação das partes para impugná-la.
29

São admitidos no processo penal os documentos anônimos, aqueles que não têm
identificação da autoria e, nestes casos, a avaliação do juiz determinará o valor da prova, que
poderá ter um peso menor do que um documento nominado.
É importante destacar que o documento anônimo não será descartado, uma vez que o
art. 232 do CPP menciona que qualquer forma documental que descreve um fato com relevância
jurídica configura prova (BRASIL, 1941).

2.3.2.3 Da Prova Pericial

Segundo Tourinho Filho (2017), perícia é um exame executado por pessoa capacitada
em determinados conhecimentos técnicos, científicos, ou experiência qualificada sobre
determinados fatos, condições pessoais ou circunstâncias relevantes para o desembaraço de
determinada missão, de modo a promover a comprovação ou não de um fato.
A perícia tem natureza variada, atua em áreas com o propósito de determinar a
insanidade mental do acusado, faz análises laboratoriais, faz análise e determinação de
instrumentos utilizados na cena do crime, além de, o mais importante, faz a atividade de perícia
do corpo de delito.
O profissional que desenvolve a perícia é o Perito, o qual pode ser servidor de carreira
pública, com diploma superior (art. 159 do CPP), chamado Perito oficial. No entanto, na
ausência do Perito oficial, o exame pericial será realizado por dois profissionais idôneos, com
curso superior, preferencialmente na área técnica em que se pretende periciar, devendo ainda
prestar compromisso de bem desenvolver suas atividades (art. 159, §§ 1º e 2º), chamados de
Peritos não oficiais (BRASIL, 1941).
Ambos os peritos serão remunerados, tanto o oficial pela função pública quanto o não
oficial pelo órgão requerente da perícia, seja o Ministério Público, seja a Defensoria Pública,
ou mesmo pelo Poder Judiciário, quando o juiz determinar por ofício. A fundamentação para o
pagamento do perito não oficial está no art. 3º do CPP, que admite interpretação analógica dos
princípios gerais de direito (BRASIL, 1941), aplicando assim o art. 91 do CPC (BRASIL,
2015b).
Cabe às autoridades, judiciária ou policial, e às partes a iniciativa para o pedido de
perícia, que, de acordo com Tourinho Filho (2017, p. 587):
A Autoridade Policial tem, até, o dever jurídico de determinar, se for o caso, a
realização de exames periciais (CPP, art. 6º, VII). A Autoridade Judiciaria não tem
tal dever, possuindo, entretanto, inteira liberdade de determinar que se procedam a
quaisquer exames periciais. Respeitante às partes, poderão requerê-los àquelas; mas
30

a autoridade deverá indeferir o pedido se a perícia não for necessária ao


esclarecimento da verdade (Grifo nosso).

Quando o juízo determinar a produção de provas periciais, essa deverá vir acompanhada
das perguntas (quesitos) ao perito, formulada pelo juiz e pelas partes (art. 159, § 3º, do CPP),
devendo ser encaminhada antes da diligência (BRASIL, 1941). A participação dos envolvidos
na produção dos quesitos é de fundamental importância para o esclarecimento da verdade como
também para garantir a ampla defesa e o contraditório.
Importante destacar que na fase extrajudicial são realizados inúmeros laudos periciais,
por determinação da autoridade policial, sem a participação das partes.
O primeiro trabalho de perícia no local do crime, realizada logo após o isolamento da
área, com a verificação do cadáver, dos instrumentos do crime, das análises toxicológicas e da
dosagem alcoólica dos envolvidos, sem a presença e participação das partes do caso, não
caracteriza a violação dos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa.
Segundo Nucci (2021 p.247):
O direito à escorreita produção de provas é inafastável, mesmo reconhecendo-se que
aguardar seria pior, pois os sinais deixados pelo delito poderiam desaparecer. Para
compor os interesses de efetivação do laudo em curto espaço de tempo e de
participação dos interessados na discussão do seu conteúdo, pode haver
complementação da perícia, sob o crivo do contraditório, respeitando-se o devido
processo legal.

Durante a investigação policial, o procedimento é inquisitivo, ou seja, o indiciado não é


considerado parte. As provas levantadas neste momento, dada a característica única do evento,
são provas são pré-constituídas e, assim, não existe a possibilidade da sua produção ocorrer
durante a instrução judicial.
31

3 ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA

Para efetivação de um ato público, existem análises minuciosas para a tomada de decisão
de forma segura. Quanto mais elevado o cargo, mais importante será o conhecimento produzido
por órgão de inteligência e maior a necessidade do assessoramento para a entrega dos artefatos
de inteligência, estes fundamentais para a subsidiar a tomada de decisão.
O escopo de abrangência dos assuntos para produção de conhecimentos por uma AI
pode variar os assuntos internos (nacionais) como nos externos (internacionais), conhecimentos
específicos de eventuais ameaças reais ou potenciais como também em análises preditivas,
buscando a neutralização do evento danoso.
A autoridade necessita do conhecimento completo sobre determinado alerta, na forma
de relatório, com informação tratada dentro de metodologia própria, a qual dará discernimento
entre oportunidades e ameaças, graus de riscos, e se de interesses do Estado, da sociedade ou a
integridade da própria autoridade.
Recentemente foi publicado, no Diário Oficial da União, o Decreto n. 10.777, de 24 de
agosto de 2021, que instituiu a Política Nacional de Inteligência de Segurança Pública (PNISP).
O referido instrumento legal estabelece parâmetros e limites da atuação da Atividade de
Inteligência de Segurança Pública (AISP) (BRASIL, 2021b), no âmbito do Subsistema de
Inteligência de Segurança Pública (SISP). No mesmo Diário Oficial da União, também foi
publicado o Decreto n. 10.778, de 24 de agosto de 2021, que aprovou a Estratégia Nacional de
Segurança Pública (ENISP) (BRASIL, 2021c).
A PNISP é a diretriz mais elevada de orientação para AISP, nela estão observados os
princípios fundamentais da Constituição, com base na Política Nacional de Inteligência (PNI)
e nos fundamentos da Doutrina Nacional de Segurança Pública (DNISP).
Já a ENISP, de caráter orientativo, visa consolidar conceitos e identifica os principais
desafios para a AISP, define ainda os eixos estruturantes e os objetivos estratégicos, de modo a
antecipar as ameaças e identificar oportunidade para o melhor aproveitamento

3.1 CONCEITO

A AISP é regida pela Doutrina Nacional de Segurança Pública (DNISP), que nada mais
é que um conjunto de conceitos, características, princípios, valores, normas, métodos,
procedimentos, ações e técnicas que orientam e disciplinam, numa linguagem especializada,
32

padronizando as atividades de inteligência de segurança pública, facilitando a comunicação


entre as agências, o que é fundamental para a colaboração e a produção de conhecimento.
A DNISP teve sua primeira versão em 2007 e foi de fundamental importância para
orientar a construção da matriz curricular de formação dos agentes (HAMADA; MOREIRA,
2017). A última versão publicada é de 2015, na 4ª edição revisada, aprovada de acordo com as
deliberações do Conselho Especial do SISP, conforme a Portaria n. 2, de 12 de janeiro de 2016
– SENASP (BRASIL, 2016b).
Importante destacar que todas as informações consideradas imprescindíveis à segurança
da sociedade, que podem comprometer a atividade de inteligência, podem ser classificadas com
grau de sigilo, conforme art. 45, I, do Decreto n.7.845/2012 (BRASIL, 2012). Tendo em vista
que a DNISP está classificada como documento “sigiloso”, esse documento não é
disponibilizado.
Na visão de Branco (2013), a AISP é um exercício permanente que visa identificar fatos
do passado que têm influência direta em situações tanto do presente como do futuro, ou mesmo
fatos em curso com potenciais consequências danosas para futuro. Suas ações são
desenvolvidas por profissionais com treinamento específico, com vínculo em órgão de
inteligência, agindo em situações de ameaças reais (situação presente) ou potenciais (situação
futura) que podem colocar em risco a segurança pública.
A AISP está formalmente conceituada na PNISP (BRASIL, 2021b) como um:
exercício permanente e sistemático de ações especializadas destinadas à
identificação, à avaliação e ao acompanhamento de ameaças reais e potenciais no
âmbito da segurança pública, orientadas para a produção e a salvaguarda de
conhecimentos necessários ao processo decisório no curso do planejamento e da
execução da PNSPDS e das ações destinadas à prevenção, à neutralização e à
repressão de atos criminosos de qualquer natureza que atentem contra a ordem
pública, a incolumidade das pessoas e do patrimônio (Grifo nosso).

Os órgãos competentes, responsáveis pelas AIs, desenvolvem suas atividades em


estritas obediências à legislação brasileira, em favor da sociedade, do Estado Democrático de
Direito e na defesa de suas instituições.
A produção de conhecimento tem por fim assessorar no processo decisório no nível
estratégico da segurança pública, dado o elevado nível metodológico do conhecimento, todavia,
pode apoiar o nível tático nas ações para prevenir, neutralizar e reprimir atos criminosos.
Assim, os elementos essenciais ao conceito de inteligência, no dizer de Gonçalves
(2017, p. 26), são os aspectos inerentes:
1) A ideia de conhecimento processado – a partir de fontes (aberta ou não), chega-
se a um produto de uma análise com base nos princípios e métodos da doutrina de
inteligência.
33

2) o manuseio de informações sigilosas (dado negado) referentes a ameaças e


oportunidades – reais ou potenciais – relacionadas a assuntos de interesse do tomador
de decisão. A inteligência lida, necessariamente, com assuntos sigilosos.
3) O objetivo central, que é assessorar o processo decisório e, no caso da
inteligência de Estado, salvaguardar os interesses nacionais (Grifo nosso).

A inteligência tem como natureza complementar ser meio, jamais fim, ou seja, todo o
trabalho desenvolvido visa assessorar no processo decisório, e não a agência decidir. Nesse
sentido, Márcio Paulo Buzanelli, Diretor-Geral da ABIN entre 2005 e 2007, assinalou os
chamados fundamentos filosóficos da inteligência como “[...] instrumento fundamental para a
tomada de decisão [...] natureza complementar [...] meio e não fim [...] acesso direto a chefia
[...] adequar-se a uma política e servir-se de instrumento a estratégia [...]” (GONÇALVES,
2017, p. 27).
Desse modo, a inteligência não decide, inteligência é o próprio processo de produção de
conhecimento.

3.2 DOUTRINA E LEGISLAÇÃO

A atividade de inteligência no Brasil teve início em 1927, no governo de Washington


Luís, criando o Conselho de Defesa Nacional, mas teve seu efetivo funcionamento no final da
década de 1950, no governo de Juscelino Kubitschek, com o Serviço Federal de Informações e
Contrainformações (SFICI), que fora um “embrião” de um serviço secreto, com a função de
assessorar no processo decisório. Em 1964 foi extinto o SFICI e criado o Serviço Nacional de
informações (SNI), que comandava todo o Sistema Nacional de Informações (SISNI).
No período de governo militar, o SNI teve grande destaque e, do seu quadro funcional,
saíram dois Presidentes da República, os generais Emílio Garrastazu Médici e João Baptista
Figueiredo. Porém, no governo de Fernando Collor de Mello, em 15 de março de 1990, o SNI
foi extinto, e o SISNI, desarticulado, condenando as atividades de inteligência ao isolamento
total (GONÇALVES, 2017).
Somente com a Lei n. 9.883, de 7 de dezembro de 1999, o serviço de inteligência voltou
formalmente, com a criação do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), no intuito de
fornecer subsídios de interesse nacional ao Presidente da República, tendo como fundamento a
preservação da soberania nacional, a defesa do Estado Democrático de Direito, a manutenção
da dignidade da pessoa humana, preservando os direitos e as garantias individuais, previstos na
Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB), tratados, convenções, acordos, ajustes
internacionais, como também a legislação ordinária (BRASIL, 1999a).
34

A Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) também foi criada pela Lei n. 9.883/1999
como órgão da Presidência da República, ocupando posição de central do SISBIN, com a
responsabilidade de planejar, executar, coordenar, supervisionar e controlar todas as atividades
de inteligência do país (BRASIL, 1999a).
O Decreto n. 4.376, de 13 de setembro de 2002, veio regulamentar a organização e o
funcionamento do SISBIN, composto, segundo o art. 4º, das mais diversas áreas do Poder
Executivo Federal, com representantes de todos os Ministérios nas estruturas administrativas,
variando entre Secretarias, Diretorias, Centros de Inteligência, Departamento e Institutos. Tem
cadeira no SISBIN a Controladoria-Geral da União, a Advocacia-Geral da União e o Banco
Central e fazem parte de sua composição os órgãos de inteligência dos Estados Membros,
mediante convênio específico, e desde que ouvido o órgão de controle externo da AISP
(BRASIL, 2002).
O plano de cargos e salários da ABIN, Lei n. 11.776/2008, criou as carreiras de Oficial
de Inteligência, Oficial Técnico de Inteligência, Agente de Inteligência e Agente Técnico de
Inteligência (BRASIL, 2008). Recentemente a estrutura regimental e o quadro de cargos e
funções de confiança foram atualizados pelo Decreto n. 10.445, de 30 de julho de 2020
(BRASIL, 2020a).
No arcabouço normativo, tem-se as já citadas PNISP, ENISP e PNI (Decreto n.
8.793/2016), esta última inserida no debate legislativo em 9/12/2009, retornando ao Executivo
somente em 2016, quando o então Presidente da República Michel Miguel Elias Temer Lulia
fez publicar o decreto (BRASIL, 2016a). Esse ato, segundo Gonçalves (2017, p. 138), “trouxe
novo fôlego à Inteligência no Brasil”.
O Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (SISP) foi criado pelo Decreto n.
3.695/2000, com a finalidade, segundo o art. 1º, de coordenar as atividades de inteligência de
segurança pública em todo o país, além de subsidiar os governos federal e estadual com
informações pertinentes à tomada de decisão. No mesmo ato foi criado o Conselho Especial do
SISP, com atribuições definidas no art. 4º, que compete propor a integração dos órgãos de
inteligência de segurança pública dos Estados e do Distrito Federal; estabelecer as normas de
operação e de coordenação da AISP; acompanhar e avaliar o desempenho da AISP; e constituir
comitês técnicos para analisar matérias específicas, podendo convidar especialistas para opinar
sobre o assunto (BRASIL, 2000).
A Portaria n. 1.185, de 20 de dezembro de 2017, aprovou o regimento interno da
Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), que tem atribuições de interesse da AISP.
Além das atribuições diretamente ligadas à segurança pública, possui aquelas de interesse direto
35

para AISP, de assessoramento do chefe do Ministério de Justiça e Segurança Pública (MJSP),


de implementação e acompanhamento às políticas, aos programas e aos projetos de segurança
pública; de controle no aumento da violência e da criminalidade; de integração das AISP, em
consonância com os órgãos de inteligência federais, estaduais e distritais que compõem o SISP;
e, o mais importante, a promoção de estudos e pesquisas para aprimorar a DNISP, realizado
pela Coordenação-Geral de Integração ao Subsistema de Inteligência de Segurança Pública
(COSISP), órgão da Diretoria de Inteligência (DINT), definido pelo art. 68, V, Regimento
Interno SENASP (BRASIL, 2017c).
Com relação às normas correlatas, devem ser observadas no estudo da AISP a Lei de
Acesso à Informação (LAI), n. 12.527/2011 (BRASIL, 2011a), e o Decreto que a regulamenta,
n. 7.724/2012, que classifica, no art. 25, inciso IX, a informação quanto ao grau de sigilo,
considerando a sensibilidade das informações tratadas pela AISP e o risco de divulgação,
podendo comprometer a segurança da sociedade ou do Estado (BRASIL, 2012a).
Os procedimentos para credenciamento e o tratamento para classificação do grau de
sigilo de documentos, ditados pelo Decreto n. 7.845/2012 afetam diretamente a atividade de
inteligência (BRASIL, 2012b) e merecem ser observados, conforme Gonçalves (2017, p. 138):
os critérios de classificação e os graus de sigilo, limitando temporalmente este sigilo
de toda e qualquer informação produzida, recebida ou custodiada pela
Administração direta e indireta, em âmbito federal, estadual e municipal e, ainda por
entes privados que tenham relação com o Poder Público. Aí se inclui, naturalmente, o
conhecimento de inteligência (Grifo nosso).

Importante observar que as alterações da legislação brasileira de inteligência, por força


de mudanças do comando do Governo Federal nas esferas político administrativa, ao longo dos
anos, extinguiu, transformou e criou novos cargos e funções, conforme o entendimento da
autoridade máxima do executivo do país.

3.3 AGÊNCIA DE INTELIGÊNCIA

AI é uma estrutura administrativa própria, com vínculo no setor público, podendo ser
da esfera estadual ou federal, integrantes do SISBIN e do SISP, e seus artefatos são destinados
a uma autoridade com poder de decisão específico. Essas agências são conhecidas por Agência
de Inteligência (AI), Superintendência (braço estadual da ABIN), Centro de Inteligência (CI),
Núcleo de Inteligência (NuInt), Divisão de Inteligência (DI), Setor de Inteligência, Assessoria
de Inteligência, entre outros.
36

Para que uma AI seja estruturada e considerada como tal, obrigatoriamente deverá
possuir dois ramos de atuação, conforme o anexo único do Decreto n. 10.777/2021: de
Inteligência de Segurança Pública (ISP), que produz e difunde os conhecimentos para subsidiar
as autoridades de segurança pública competentes, no processo decisório, para o planejamento e
a execução das políticas de segurança pública; e de Contrainteligência de Segurança Pública
(CSP), que busca prevenir, detectar, neutralizar e obstruir as ações identificadas como ameaças
às AISP, na atuação dos órgãos de segurança pública e nos dados sensíveis em poder do Estado
(BRASIL, 2021b).
No campo das atividades de inteligência, existem áreas distintas para as mais diversas
análises de informação, podem ser categorizadas por áreas de interesse, ou seja: política;
militar; científica e técnica; sociológica; econômica; e ambiental. Porém, existem outras
classificações, dadas por outros autores: inteligência nacional; inteligência estratégica;
inteligência tática; inteligência externa; inteligência doméstica ou interna; contraespionagem;
militares; e não militares. Nesse contexto, Gonçalves (2017, p. 31) identifica um número mais
amplo de categorias:
[...] a inteligência militar, inteligência policial (associada à análise criminal),
inteligência fiscal, inteligência econômica e financeira, inteligência competitiva, a
inteligência estratégica e, no cerne da atividade, inteligência governamental ou de
Estado, a qual pode ser subdividida em interna e externa.

A atividade de contrainteligência tem como objetivo a prevenção, ou seja, detectar,


obstruir e neutralizar as ações de qualquer natureza, assim, está diretamente ligada à proteção
física de indivíduos e do patrimônio.
A Agência Central do SISP é coordenada pela Coordenação-Geral de Inteligência
(CGI), tem o controle nas integrações das AIs, promove o apoio na criação de novas agências
dos órgãos pertencentes ao SISP e ainda coordena e viabiliza a interoperacionalidade entre
agência, buscando a eficiência conjunta, com rapidez nas entregas e na execução dos serviços,
no âmbito de cada instituição, fazendo valer a DNISP e seus princípios, de forma a agregar
valor nos resultados de interesse comum. Ressalta-se que não existe subordinação entre as AIs.
A finalidade da AI, descrita no art. 5º da Resolução da SENASP n. 1/2009, é
desenvolver, de forma rápida, eficaz, eficiente e conjunta, a execução de serviços da AISP, no
âmbito de cada instituição, atendendo demandas de planejamento de ações, prover informações,
observado o princípio da oportunidade, entre outros, com vistas a subsidiar a adoção de
providências adequadas em cada esfera de atuação. Além disso, a AI tem como atribuições
37

prioritárias o planejamento, execução, coordenação, supervisão e controle, obedecendo as


políticas e diretrizes superiores, ditadas no caput do art.7º (BRASIL, 2009).

3.3.1 Estrutura Organizacional

O SISBIN tem o objetivo maior de reunir todos os órgãos e entidades da Administração


Federal, com capacidade de produzir conhecimento de inteligência, com o propósito de integrar
as ações de planejamento e execução das atividades de inteligência no Brasil. Atualmente, são
48 órgãos federais colaborando entre si, trocando informações
O art. 1º do Anexo I do Decreto n. 10.445/2020 situa a ABIN no contexto de inteligência
no Brasil como órgão integrante do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da
República (GSI), este criado pela Lei nº 9.883/1999, ou seja, o órgão central do SISBIN.

Figura 1- SISBIN

Presidência
da República

GSI
Órgão
Central

ABIN
Agência
Central

Fonte: BRASIL, 2020c, p. 21

A imagem demostra a ABIN como Agência Central, que está diretamente subordinada
à Presidência da República, por meio do GSI. A estrutura organizacional da ABIN está dividida
em órgãos de assistência direta e imediata ao Diretor-Geral da ABIN, composta por: gabinete;
assessorias de governança e relações internacionais; Corregedoria-Geral; e Secretaria de
Planejamento e Gestão. As unidades para assuntos específicos: Centro de Inteligência Nacional
(CIN); Departamento de Inteligência (DI); Departamento de Contrainteligência (DC); e
Departamento de Operações de Inteligência (DOI). Na estrutura ainda consiste das unidades
estaduais (BRASIL, 2020a).
O Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), instituído pelo Decreto n. 4.376/2002,
visando organizar e coordenar as AISP, é formado por órgãos delegados: Casa Civil da
Presidência da República; do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República;
38

Agência Brasileira de Inteligência; Ministério da Justiça e Segurança Pública; Ministério da


Defesa; Ministério das Relações Exteriores; Ministério da Economia; Ministério da
Infraestrutura; Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Ministério da Educação;
Ministério da Saúde; Ministério de Minas e Energia; Ministério das Comunicações; Ministério
da Ciência, Tecnologia e Inovações; Ministério do Meio Ambiente; Ministério do
Desenvolvimento Regional; Controladoria-Geral da União; Ministério da Mulher, da Família e
dos Direitos Humanos;, Advocacia-Geral da União; Secretaria Especial de Assuntos
Estratégicos da Presidência da República; Banco Central do Brasil e, além destes, mediante
ajustes específicos e convênios, as unidades da federação (BRASIL, 2002).
A imagem a seguir representa os órgãos de primeiro escalão da administração Federal,
que vincula as 48 (quarenta e oito) instituições federais que integram o SISBIN.

Figura 2- Composição do SISBIN

Ministério das Comunicações Gabinete de Segurança Institucional Advocacia-Geral da União

Ministério da
Agência Brasileira de Inteligência Controladoria-Geral da União
Defesa

Ministério da Ciência, Tecnologia


Ministério de Minas e Energia
e Inovações

Ministério do Desenvolvimento Ministério da Justiça e Segurança


Regional Pública

Ministério das
Ministério do Meio Ambiente
Relações Exteriores

Ministério da Agricultura,
Ministério da Saúde
Pecuária e Abastecimento

Ministério da Economia Casa Civil Ministério de Infraestrutura

Ministério da Mulher, Família e


Secretária de Assuntos Estratégicos Ministério de Educação
Direitos Humanos
Fonte: Brasil, 2020c

O Conselho Consultivo do SISBIN delegou ao GSI, no art. 8º do Decreto 4.376/2002,


poder para definir, em Portaria, de n. 239/2013, as atribuições dos integrantes do sistema, como
o dever de intercambiar dados e conhecimentos, sejam sigilosos, sejam ostensivos, quando
necessários à produção de conhecimentos, relacionados com a atividade de Inteligência, na área
39

de interesse de cada órgão, e aqueles de conhecimentos específicos de âmbito regional. Os


componentes do SISBIN deverão garantir e salvaguardar assuntos sigilosos, em especial à
classificação e ao controle dos documentos, em estrito cumprimento da legislação pertinente
(BRASIL, 2021a, p. 25).
A interação entre todas as instituições integrantes da estrutura SISBIN é primordial no
desenvolvimento e na produção do conhecimento de inteligência, no compartilhamento das
regras e dos artefatos produzidos, de modo a centralizar e unificar as informações num sistema
único.
O SISP tem como órgão central a Secretaria Nacional de Segurança Pública do
Ministério da Justiça (SENASP); ligando as estruturas do Ministério da Economia (ME);
Ministério da Defesa, Ministério da Integração Nacional (MDIN); o Gabinete de Segurança
Institucional da Presidência da República (GSI); Ministério da Justiça e Segurança Pública
(MJSP) com a Polícia Federal (PF) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF); e ainda as unidades
Federativas com a Polícia Militar (PM) e Polícia Civil (PC); e os órgãos estaduais conveniados.

Figura 3 - Composição do SISP

Gabinete de
Segurança
Institucional

Polícia Militar

Ministério de Unidades
Integração Federativas Polícia Civil
Nacional
Demais Órgãos

Órgão
Central

Polícia Federal
Ministério da
Ministério de Justiça e
Segurança Polícia Rodoviária Federal
Defesa
Pública
Demais Órgãos

Ministério
da Fazenda

Fonte: Brasil, 2020c, p. 27


40

O SISP tem como competência identificar, acompanhar e avaliar as ameaças, produzir


conhecimentos e informações com o propósito de neutralizar, coibir e reprimir atos criminosos
de qualquer natureza.
O Conselho Especial do SISP, também criado pelo Decreto n. 3.695/2000, é órgão
deliberativo, com a finalidade de estabelecer normas, e tem na sua composição membros
permanentes com direito a voto, sendo eles o Secretário da SENASP; um representante da
inteligência da PF e outro da PRF; um representante do Conselho de Controle de Atividades
Financeiras (COAF) e outro da Coordenação Geral de Pesquisa e Investigação (COPEI) da
Secretaria da Receita Federal (SRF); dois representantes do Ministério da Defesa; um
representante do GSI; um representante da Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional
(DCMIN); e um representante da ABIN. Os membros eventuais, sem direito a voto, contam
com um representante de cada órgão de Inteligência dos Estados e do Distrito Federal
(BRASIL, 2000).

3.3.2 Profissional de Inteligência

O profissional de inteligência tem como foco principal a segurança pública, levantando


informações e acompanhando os fatos de interesse de sua missão, além de seguir
criteriosamente os protocolos da DNISP, coletando os mais variados tipos de informações. Nas
suas atividades profissionais, não é permitida a participação de operações policiais ostensivas
de prisões ou flagrantes, devido à necessidade de preservar sua identidade e a segurança da AI.
Importante observar, ainda, que o recrutamento dos agentes de ISP são conduzidos pelo setor
de Contrainteligência da respectiva AI, onde serão avaliados o perfil do candidato e os
antecedentes profissionais (BRASIL, 2015a).
Existem duas funções essenciais na atividade do profissional de ISP, o Analista de
Inteligência, que é responsável pela produção do conhecimento; e o Agente de Inteligência,
responsável pela obtenção dos dados negados.
O profissional de ISP precisa ter boa memória, de modo a interagir com potenciais
colaboradores da sociedade civil, e ter qualificação para criar, interpretar, compreender,
analisar, transformar, difundir, compartilhar, gerir dados, informações e conhecimentos
captados.
Estar atualizado com informações e movimentações do crime organizado, com as
operações policiais envolvendo tráfico de drogas, apreensões de armas e explosivos, ações de
terrorismo, tráfico de órgãos e seres humanos, sequestros, homicídios, grupos de extermínios,
41

furto e roubo de veículos e cargas, crimes cibernéticos, movimentações em unidades prisionais,


rebeliões, roubo a banco, corrupção, desvio de conduta policial, entre outros assuntos
relacionados à AISP (BRASIL, 2009).
Diante da amplitude de conhecimento e experiência dos profissionais de inteligência,
estes estão em maior número nos Estados, nas estruturas da PM e da PC, que têm presença em
todos os municípios brasileiros. No quadro funcional dessas instituições, é rara a dedicação
exclusiva desses profissionais, normalmente se dividem nas atividades de segurança pública e
nas atividades de inteligência, seja pela falta da cultura de inteligência nas instituições de
segurança pública, seja pela falta de conhecimento dos comandantes, chefes e gestores que
ainda não entenderam a real necessidade de investimentos na AISP (BRANCO, 2013, p. 29).
Importante destacar que essa ambiguidade de atividade leva ao risco da integridade física do
agente que ora trabalha velado e ora à luz, podendo ser identificado (plotado, no jargão da
inteligência). Como se vê, não é atividade simples, porém de estratégia para altas decisões.
Os princípios norteadores da atividade de inteligência são fundamentais para a atividade
dos agentes ISP na produção do conhecimento, entre eles, Gonçalves (2017, p. 126 e 127)
destaca quatro:
Princípio da objetividade
[...] a inteligência deve ter utilidade, finalidade ou objetivo específico, além de
expressar os conhecimentos sobre atos ou fatos com a maior precisão possível,
mediante o emprego de linguagem caracterizada pela clareza e simplicidade [....].
Princípio da oportunidade
[...] as informações devem ser produzidas e difundidas dentro do prazo que possibilite
sua completa e adequada utilização [...] a não-observância do princípio da
oportunidade pode inutilizar a inteligência produzida [...].
Princípio da segurança
[...] estabelece que o planejamento, produção e difusão de inteligência devem ocorrer
sob a égide do sigilo, de modo a limitar o acesso [...] apenas àqueles que “tenham
necessidade de conhecer” [...].
Princípio da imparcialidade
[...] inteligência como produto deve conter conhecimentos essenciais e
imprescindíveis, referente aos atos e fatos que a originaram, e ser isenta de posição
pessoal do analista e de outras influências que possam prejudicar a exatidão. (Grifo
nosso)

Para o êxito da AISP, além dos princípios fundamentais que deverão ser seguidos “à
risca” pelos profissionais de ISP, destaca-se a ética profissional, que é fundamental para manter
o respeito e a seriedade dos trabalhos de uma AI. A ética fortalece o regime democrático de
direito, eleva a qualidade do trabalho, reduzindo a zero o risco de uso indevido de informação
sigilosa, fazendo cumprir com excelência seu papel de órgão de assessoramento.
O trabalho do profissional de inteligência na análise de dados obtidos na internet, ou
seja, fontes abertas, que, por um lado ampliou o alcance na obtenção de informação, por outro
42

ampliou as dificuldades, devido à infinidade de fontes de dados disponíveis, somados ao


volume de informação. A análise se tornou mais árdua, em meio à necessidade de classificar a
confiabilidade das informações, que, por esse motivo, tornou a capacitação dos profissionais e
o uso de tecnologia de ponta para qualificar informação de grande volume essenciais para o
desempenho e a qualidade das entregas dos profissionais de inteligência.
43

4 O RELINT E AS PROVAS DO PROCESSO PENAL

O RELINT, como artefato de transmissão de conhecimento, é baseado em metodologia


própria e com fases de elaboração bem definidas, desenvolvido por profissionais qualificados,
destinado ao assessoramento de autoridade competente e objetiva o apoio na tomada de decisão,
com difusão restrita e observada a classificação legal de sigilo (BRASIL, 2015a).
No Processo Penal, as provas pré-constituídas produzidas em tempo do Inquérito
Policial, materializadas pela investigação policial, amparadas pelo art. 6º do CPP, somadas aos
elementos de provas produzidas durante a instrução judicial, são admissibilidade como provas
lícitas, desde que observados os procedimentos legais na sua obtenção, seja no primeiro
momento da investigação policial (procedimento é inquisitivo), seja nas requisições durante o
processo, este último observando a ampla defesa e o contraditório (BRASIL, 1941).

4.1 PROCESSO DE PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO

No processo de produção de conhecimento, o ciclo da Inteligência, também conhecido


como “processo da inteligência”, nas palavras de Gonçalves (2017, p. 97), “diz respeito ao
processo por meio do qual a informação é reunida, convertida em inteligência e disponibilizada
aos consumidores – ou seja, aos tomadores de decisão”.
A doutrina brasileira identifica um “ciclo da inteligência” composto por três etapas, a
orientação, a produção e a difusão do conhecimento, em que a primeira etapa está relacionada
à necessidade de inteligência, as demandas do usuário tomador de decisão, o qual é “cliente”
da inteligência, e a partir da orientação se fará todo o planejamento estratégico da AISP para
então estabelecer os planos de atividade. Na etapa de produção do ciclo da inteligência
ocorrerão de fato todas as atividades de inteligência na produção de conhecimento. Por último,
a difusão, que nada mais é do que os processos de entrega do serviço completo, fechando o
ciclo, com a efetiva utilização do artefato produzido, servindo seu propósito de assessoramento
ao processo decisório.
44

Figura 4 – Ciclo de Inteligência, segundo a Doutrina Brasileira

Orientação

Produção de
Difusão
conhecimento

Fonte: Gonçalves, 2017, p. 99

4.1.1 Metodologia de Produção de Conhecimento

A Metodologia da Produção de Conhecimentos é definida como um processo formal e


regular, em que o conhecimento produzido será disponibilizado para o destinatário específico,
dividida em quatro fases, sendo o planejamento, a reunião do conhecimento, o processamento
da informação, a formalização e, por fim, a difusão. O produto do conjunto de ações da
metodologia será o conhecimento de inteligência, materializado num artefato chamado
Relatório de Inteligência (RELINT). A seguir, um modelo ilustrativo, não fixo das fases que
compõem a metodologia:
45

Figura 5 – Processo formal para produção de conhecimento

METODOLOGIA DA PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO

Reunião de Formalização e
Planejamento Processamento
Dados Difusão

Assunto Pesquisa Avaliação Formalização

Consulta à
Prazo Análise Difusão
Arquivos

Faixa de Ligações Órgaões


Integração
Tempo Congêneres

Usuário Acionamento Interpretação


Elemento de
Operação

Finalidade

Aspectos
Essenciais

Medidas de
Segurança

Medidas
Extraordinárias

Fonte: Brasil, 2020c, p. 94

4.1.1.1 Do Planejamento

A fase de Planejamento é fundamental para o agente de inteligência produzir o


conhecimento de forma técnica e organizada, numa sequência lógica criando uma rotina de
produção alinhada com a DNISP, com objetivos bem definidos, necessidades, prazos e as
prioridades para o desenvolvimento do trabalho, com visão apurada dos parâmetros e técnicas
as serem utilizadas. O planejamento situa a missão no estado em que se encontra, como é e
aonde pretende-se chegar.
As etapas do Planejamento podem ser resumidas, conforme descrito no CIAI, como a
necessidade de informações obrigatórias para iniciar os trabalhos. Seguindo o organograma da
Metodologia de Produção de Conhecimento, a caixa Assunto, que define como o fato ou a
situação do objeto a ser trabalhado, que, não raras vezes, poderá ser redefinido de acordo as
conclusões finais do estudo (BRASIL, 2020c).
A caixa Prazo, definido como o tempo necessário para elaboração do conhecimento, não
perdendo de vista o Princípio da Oportunidade, se muito longo, perde-se o sentido do
46

conhecimento, pois a oportunidade foi perdida. A caixa Faixa de Tempo define os marcos
temporais, data início e fim, considerados para produção do conhecimento.
A identificação do Usuário, que poderá ser a autoridade ou o órgão assessorado, como
tomador de decisão, requisitante autorizado a utilizar o conhecimento a ser produzido.
A caixa Finalidade define a que se presta o conhecimento a ser produzido e, nesse
momento, nem sempre estará claro ou mesmo existe a possibilidade de se determinar no início
do planejamento, considerando os elementos disponíveis para o estudo.
Outra caixa, os Aspectos Essenciais, são aqueles listados nos assuntos que necessitam
saber. Os assuntos conhecidos, ou seja, para os quais já existe algum tipo de resposta para as
perguntas iniciais (completas ou incompletas), que expressam algum grau de certeza, opinião
ou dúvida; assuntos a conhecer, que necessitam de novas respostas, ou novos elementos de
convicção às respostas já disponíveis.
Fazem parte do processo de planejamento as Medidas de Segurança, que visam a
proteção das ações de todo o processo de produção de conhecimento, com a definição do grau
de sigilo preliminar. Existem ainda as Medidas Extraordinárias, necessárias quando
extrapolados os recursos normais da AISP e, nesses casos, o acionamento do Elemento de
Operações, da próxima fase da metodologia, a Reunião de Dados (BRASIL, 2020c).

4.1.1.2 Da Reunião de Dados

A fase de Reunião de Dados consiste no levantamento das informações e dos


conhecimentos que respondam ou complementem os Aspectos Essenciais do conhecer. Nesse
momento, são movimentados todos os procedimentos da AISP, a fim de obter os todos os dados
necessários e suficientes para a produção do conhecimento. Existem duas ações de inteligência
que apoiam esta fase, as Ações de Coleta e as Ações de Busca (BRASIL, 2020c).
As Ações de Coleta consistem em procedimentos ostensivos e sigilosos, de modo a obter
dados de fontes abertas, sejam os alvos indivíduos, órgãos públicos ou instituições privadas. As
coletas podem ser primárias, conhecimento obtido em dados disponíveis; e coletas secundárias,
que buscam dados com acesso autorizado a banco de dados protegidos. Tanto a coleta primária
como a secundária envolvem ações de ISP e, assim, podem acionar o Elemento de Operações.
As Ações de Busca necessitam do uso do Elemento de Operação, com o objetivo de
reunir dados protegidos e/ou negados, de difícil acesso. Os procedimentos englobam o
reconhecimento, a vigilância, o recrutamento operacional, a infiltração, a desinformação, a
provação, a entrada, a ação controlada e a interceptação de sinais.
47

Nessas ações, a DNISP e as normas legais vigentes são criteriosamente observadas


(BRASIL, 2015a).
A caixa Pesquisa trata do levantamento de informações que servirá na produção de
conhecimento, em que o Agente de Inteligência se utilizará de recursos como internet, contatos
pessoais, estudos bibliográficos, contatos formais e informais com instituições diversas, não
ligadas à AISP.
Consulta a Arquivos é a consulta em banco de dados da própria AISP, em que o Agente
de Inteligência poderá utilizar o conhecimento já produzido, servindo de subsídio para a missão
em curso.
As Ligações com Órgão Congêneres nada mais são que a solicitação de apoio de outras
AISP pertencentes ou não ao SISP.
Acionamento do Elemento de Operação é a denominação genérica dada à equipe que
planeja e executa as operações de ISP, pessoal capacitado em ações técnicas operacionais, que
visam a obtenção de dados de difícil acesso para produção de conhecimento, ou neutralizar
ações de risco iminente, com finalidade de assessoramento, e jamais a produção de provas, com
atuação estritamente dentro da lei
Os procedimentos na fase de Reunião de Dados são balizados nos Aspectos Essenciais
da fase de Planejamento, priorizando os procedimentos dos mais simples para os mais
complexos, dos custos mais baixos para os mais altos, e a utilização do banco de dados da
própria AI para então estabelecer ligações com outras AISP.

4.1.1.3 Do Processamento

Na fase de Processamento acontece a produção de conhecimento propriamente dita, é a


fase intelectual e está dividida em quatro etapas, não necessariamente seguidas na ordem a
seguir (BRASIL, 2020c)
A fase de Avaliação determina o grau de confiabilidade e a pertinência dos dados
obtidos. Serão classificados e ordenados, de modo a expressar estado de certeza, de opinião ou
dúvida.
O Agente de Inteligência reconhecerá, na avaliação dos dados, o valor de cada
informação, pelos critérios: Ponto de Interesse dos dados recebidos, o agente determinará o
nível de interesse da informação, identificando coerência e compatibilidade com o objeto do
estudo; Pertinência, observa se os dados obtidos se relacionando com o desejado, conforme os
Aspectos Essenciais da fase de planejamento; Dados pertinentes, seguem a etapa seguinte da
48

avaliação; e na Técnica de Avaliação de Dados, os dados serão avaliados com base no


conhecimento sistemático de emprego para verificações de Credibilidade e de Resultado de
Avaliação.
A Credibilidade estabelece o julgamento da fonte e do conteúdo:
 Fonte: poderá ser pessoa, organização ou documento, onde se avaliará o grau de
idoneidade, verificando a autenticidade (fato obtido da fonte presumida?), a
confiança (antecedentes e colaborações anteriores) e a competência (habilitação
técnica e intelectual);
 Coerência: o dado não apresenta contradição no conteúdo, na cronologia e na
sequência dos acontecimentos;
 Compatibilidade: existe compatibilidade entre os novos dados obtidos com os
dados já conhecidos;
 Semelhança: dados obtidos de outras fontes que apresentem semelhança com os
dados alcançados na operação atual.

E, por fim, o Resultado da Avaliação se dará com a formalização da análise das frações
que compõem o conhecimento e, assim, expressará o estado de certeza, de opinião ou dúvida
do Agente de Inteligência.
A caixa Análise, da fase de Processamento, somente com os dados reunidos, pertinentes
e devidamente avaliados com relação aos Aspectos Essenciais serão examinados para
estabelecer o grau de importância em relação ao assunto do planejamento.
Na Integração será formado um conjunto coerente, ordenado e lógico do conhecimento,
composto por frações significativas do conhecimento levantado, integrando em um só bloco de
informações. A interpretação dos dados, nesta fase, não será necessária, e o processo passará
para fase de Formalização e Difusão.
Na caixa Interpretação, será estabelecido o significado final do assunto, por meio das
relações de causa e efeito, que apontam para as tendências e padrões, possibilitando previsões
baseadas do raciocínio. Em situações mais complexas, para aprofundar o conhecimento, é
possível aplicar as seguintes técnicas:
 Delineamento da Trajetória: determina a evolução do estudo com base na
integração das informações, por meio de identificação, especificação e
interpretação de continuidade, descontinuidades e correlações entre fenômenos.
49

 Estudo dos Fatores de Influência: identificar e ponderar os fatores que


modelaram a trajetória do estudo, dada a frequência, a intensidade e os efeitos;
 Resultado Final: é o significado final com base nos raciocínios elaborados em
função das evidências factuais ou racionais disponíveis, com nível de certeza ou
probabilidade.

4.1.1.4 Da Formalização e Difusão

A última fase da metodologia é a Formalização e Difusão, onde será concluído todo o


processo de produção do conhecimento e há a entrega do artefato ao usuário planejado, de modo
a atender aos objetivos de assessorar na tomada de decisão (BRASIL, 2020c).
Formalização é o momento em que o conhecimento de inteligência será formalizado em
um RELINT e disponibilizado ao usuário ou a outra AISP de forma escrita ou oral, atendendo
aos princípios de inteligência. Após sua difusão, o artefato será classificado quanto ao sigilo e
será arquivado.
A Difusão consiste na remessa do conhecimento produzido ao usuário definido no
planejamento.
Como se observa supra, a produção de conhecimento é processo científico, e não
empírico , cabendo ao profissional seguir a metodologia científica do começo ao fim sob pena
de o resultado (conhecimento) ser apenas um mero dado trabalhado.

4.1.2 Documentos de Inteligência

O produto da Reunião de Dados e o Processamento formarão um documento de texto


claro, objetivo, padronizado e ordenado, que transmite o conhecimento solicitado conforme
definido nas várias etapas de planejamento. Documentos com circulação interna ou externos,
difundido entre ISP, devidamente classificados quanto ao sigilo (BRASIL, 2020c).
Importante destacar que, no processo de produção do conhecimento, são seguidos
alguns caminhos e conceitos para chegar à verdade, ou mais próximo da verdade.
O estado da mente diante da verdade coloca o agente de inteligência (sujeito) frente a
frente com o caso (objeto). Quatro são os estados da mente humana para chegar à verdade: a
certeza (acatamento integral); a opinião (provável); a dúvida (possível); ou a ignorância (não é
possível).
50

No trabalho intelectual, o agente de inteligência se depara com fatos ou situações em


que deverá trabalhar: concepção das ideias (imagem sem qualificar); formulação do juízo
(relação dos fatos com a ideia); e elaborar raciocínios (relação entre juízos).
O tempo, como parâmetro de conexão entre passado e presente, que possibilitará
projeções de futuros desdobramentos do caso (BRASIL, 2020c, p. 81).
A DNISP preconiza diferentes formas de conhecimento, resultado dos fatores
anteriormente ditos, ou seja, o estado da mente, trabalho intelectual e o tempo, apresentados da
seguinte forma (BRASIL, 2020c):
 Informes: resultante de juízo(s) que expressa(m) estado de certeza, opinião ou
dúvida frente à verdade. Tem por objeto fatos e situações pretéritas e presentes;
 Informação: resultante de raciocínio(s) que expressa(m) estado de certeza frente
à verdade. Informação apurada, além da simples narração dos fatos ou situações,
exige o pleno domínio da metodologia da produção do conhecimento;
 Apreciações: conhecimento resultante do raciocínio(s), expressa estado de
opinião frente à verdade. Admite realizar projeções que resulta na percepção do
agente, não decorre de estudos;
 Estimativa: conhecimento resultante de raciocínio(s) elaborado(s) que
expressa(m) estado de opinião sobre evolução futura de um fato ou situação.
Necessita pleno conhecimento da metodologia de AISP, além do domínio de
métodos prospectivos complementares.

4.1.2.1 Dos Documentos Externos

Esta classe de documentos é destinada à transmissão de informação externa à Agência


de Inteligência, que pode ser o produto final da produção de conhecimento ou do pedido de
informação, de análise técnica, de dados coletados de interesse da Segurança Pública, ou ainda
breve comunicação, que, pelo princípio da oportunidade, deverá ser difundida imediatamente
mesmo com baixo grau de certeza (BRASIL, 2020c).
O Relatório de Inteligência (RELINT) é um documento que transmite o conhecimento
de inteligência para o tomador de decisão ou para outras AIs. Será redigido em redação
explícita, sem ambiguidades, com grau de certeza traduzido pela mente humana, seguindo os
métodos da DNISP, com objetivo de chegar à verdade. Toda a complexidade do trabalho
desenvolvido demostrará os fatos relacionando ao caso, apontando conexões do passado com o
51

presente, proporcionando projeções futuras. Até o tempo verbal utilizado na produção do


conhecimento identifica um documento técnico e formal.
Pedido de Busca (PB) é um documento padronizado, utilizado para solicitação de dados
e/ou conhecimento de outras AIs, dentro ou fora do sistema de ISP.
Já o Relatório Técnico (RT) é um documento passível de classificação, que transmite,
análises técnicas destinadas ao usuário tomador de decisão, para subsidiar, inclusive, na
produção de provas.
O Comunicado é utilizado para difundir, excepcionalmente, frações de conhecimento
não completamente processadas, sempre que o princípio da oportunidade se fizer presente,
mesmo que ainda não aferido o grau de certeza ou opinião quanto ao caso concreto. É utilizado
para divulgar assuntos de interesse da ISP.
E, por último, o Sumário, documento que apresenta uma coletânea rotineira e periódica
de fatos e situações ocorridas de interesse da Segurança Pública.

4.1.2.2 Dos Documentos Internos

Os documentos de circulação interna estão relacionados à atuação da ISP, como a


solicitação de dados, resposta ou transmissão de dados, conforme objetivo ou finalidade
(BRASIL, 2020c).
O Relatório Interno (RI) é um documento padronizado, produzido pelo profissional de
inteligência, utilizado para comunicar dados sobre determinado fato ou situação, que podem
subsidiar na produção de conhecimento.
A Ordem de Busca (OB) é utilizada para solicitar dados no âmbito da Agência de
Inteligência.
Existe ainda o documento interno chamado Relatório de Busca (RB), que objetiva
responder à OB, como também atender outras necessidades internas da AI.

4.1.2.3 Da Padronização dos Documentos

A padronização dos documentos de inteligência é fundamental para possibilitar um


entendimento uniforme de procedimentos entre os órgãos que integram o SISP e, para tanto, os
documentos conterão, obrigatoriamente, os itens mínimos para identificação e controle,
conforme DNISP (BRASIL, 2015).
52

O documento conterá o brasão da União ou do Estado, o timbre da Agência de


Inteligência e a sua subordinação, o grau de sigilo, o tipo de documento, numeração sequencial
e a data de expedição.
No cabeçalho devem ser informados a data, o assunto, quem produziu o documento (a
origem), a quem se destina o documento (difusão), a referência dos documentos produzidos
anteriormente (pertinentes ao assunto), identificação dos anexos, a numeração de página e
autenticação no canto superior direito (páginas sequenciais, seguido do total), a recomendação
legal quanto à preservação do sigilo e, por fim, o texto de interesse.
Todos os documentos de inteligência recebem a classificação de restrição, de acordo
com a sensibilidade do assunto abordado, nos termos da legislação, e “não poderão ser
inseridos em procedimentos e/ou processos de qualquer natureza, salvo Relatório Técnico”
(BRASIL, 2015, p. 35, grifo nosso).
Na Retransmissão de um documento de inteligência, vale destacar que todas as
restrições aplicadas no artefato deverão ser mantidas pela agência terceira, ou seja, manter a
classificação sigilosa em todo o conjunto do conhecimento produzido, indicar a AI que produziu
os dados como data, numeração, além da reprodução de todo o documento de modo a informar
que, num eventual aproveitamento do conhecimento, este não ser confundido com um novo
conhecimento produzido.

4.1.3 Compartimentação

A Compartimentação é um princípio da AISP que tem por objetivo restringir o acesso


aos documentos produzidos pela inteligência, considerando o caráter sigiloso, limitando o
acesso somente ao usuário a qual se destina, ou seja, que tenha real necessidade de conhecê-lo,
porém, existem documentos inteligência que não são classificados, aqueles que de alguma
forma venham ser interessante para a imagem da AISP, que, quando divulgados, com o objetivo
de preparar a população para alguns cuidados para segurança individual, como é o caso de
relatórios como terrorismo, segurança interna, crime organizado, entre outros assuntos, prática
essa utilizada em países como Canadá e Estados Unidos da América (GONÇALVES, 2017).
Esse princípio da compartimentação faz parte também das medidas de
Contrainteligência a serem tomadas durante a produção do conhecimento, no trâmite de
recebimento de informação, na guarda e recuperação de informações quando necessário para
utilizar em outro procedimento.
53

4.1.4 Relatório de Inteligência (RELINT)

O Relatório de inteligência é um documento de caráter administrativo, produzido a partir


uma metodologia própria de análise de dados, ou seja, tem por objeto, conforme o art. 1º, § 2º,
da Lei n. 9.883/1999, a “obtenção, análise e disseminação de conhecimentos [...] sobre fatos e
situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação governamental
e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado", desenvolvido por profissionais
habilitados vinculados a entidades de segurança pública integrantes ao SISP (BRASIL, 1999a).
O RELINT, assim, tem finalidade de somente informar e orientar a autoridade a qual se
destina, sem qualquer valor probatório, e a sua difusão somente se dará entre AIs, não podendo
compor qualquer processo administrativo ou judicial.
Por ser um artefato desenvolvido para fins de atividades de inteligência, o RELINT tem
classificação como documento sigiloso, de divulgação restrita, condição amparada na Lei de
Aceso à Informação (BRASIL, 2012a), que considera imprescindível para segurança do Estado,
pelo potencial comprometimento das atividades de prevenção e repressão ao crime. A Lei n.
9.883/1991 determina, no art. 9º, § 2º, o dever de sigilo de qualquer informação ao serviço de
inteligência, como também o trato das informações em análise, sob pena de responsabilização,
seja para a principal agência, a ABIN, seja para aos demais entes de segurança pública
(BRASIL, 1999a). A CRFB também faz ressalvas ao acesso à informação, conforme o art. 5º,
XXXIII, “todos têm direito a receber [...] informações de seu interesse particular, ou de
interesse coletivo ou geral, [...] ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança
da sociedade e do Estado”. (BRASIL, 1988)

4.2 A (IN)APLICABILIDADE DO RELINT NO PROCESSO PENAL

O caráter informativo do RELINT, com destinação específica ao usuário mapeado no


processo de planejamento definido pela metodologia para construção do conhecimento de
inteligência, não se presta à produção de provas e à instrução de inquéritos ou procedimentos
investigativos.
As atividades e os artefatos desenvolvidos pela AISP acontecem obrigatoriamente em
segredo, condição que antecipa resposta contra as atividades ilícitas, garantindo a prevenção
oportuna e o fornecimento dos recursos necessários para a neutralização do evento. Para tanto,
o conhecimento produzido, independente da forma, só terá utilidade se prestar ao seu fim, ou
seja, assessorar a autoridade na tomada de decisão, quando ela precisar, nem antes nem depois,
54

seja informação verbal da existência de um documento com informações importantes para o


caso, seja num documento extenso com vastas informações detalhadas, porém, em ambos os
casos, sem a materialização da prova.
Diferentemente, a investigação criminal utiliza-se de um conjunto de procedimentos
pré-processuais com a finalidade de identificar indícios de autoria e materialidade de um fato
ilegal, e, por fim, instruir um inquérito policial (GONÇALVES, 2017).
A técnica de produção de conhecimento de inteligência até poderá ser utilizada na
obtenção de provas para compor o processo penal, mas o uso de conhecimento da inteligência
policial jamais poderá ser utilizado, seja para identificar a autoria do crime, seja para produção
de provas. Essa ilegalidade será facilmente desconstituída, em momento oportuno no trâmite
do processo penal, anulando todo o trabalho de investigação criminal.
Não se pode olvidar, como já ventilado supra, que adicionar um RELINT em um
processo penal iria colocar em exposição os agentes alocados na obtenção desse conhecimento,
sem contar que, muito provavelmente, seriam chamados a juízo para prestar informações,
novamente se expondo e anulando a atividade desse agente em ações futuras. E é exatamente
por conta disso que o profissional de inteligência, ao ingressar nessa atividade, ouve muitas
vezes durante sua carreira que os holofotes não são para nós, ou seja, o profissional atua em
uma operação, mas como é um soldado da casa do silêncio, não aparece, para proteção de si,
de outros e do sistema.

4.2.1 Inteligência Policial x Investigação Criminal

A Inteligência Policial tem como função primordial a repressão e o apoio às


investigações de atos ilícitos e organizações criminosas, a cargo da Polícia Civil e da Polícia
Militar, na esfera estadual, e a Polícia Federal, com o objetivo de auxiliar a polícia judiciária e
o Ministério Público no combate ao fenômeno crime.
A Resolução n. 1 da SENAP definiu a Inteligência Policial como um conjunto de ações
com técnicas especializadas de investigação, a fim de confirmar evidências, indícios para obter
conhecimentos de ações criminosas e, ainda, identificar redes e organizações criminosas,
buscando entendimento sobre suas operações, ramificações, tendências e o alcance das
atividades criminosas (BRASIL, 2009).
Alerta Oliveira (2011) que a atividade de inteligência não se confunde com atividade de
investigação policial, a primeira atua na busca de informações negadas, por meio de técnicas
operacionais, que pode auxiliar a segunda, que tem como escopo preparar a ação penal. Ainda,
55

a atividade de inteligência policial está voltada para obtenção de evidências, indícios, provas
de materialidade e autoria. No quadro abaixo, as diferenças básicas entre a Atividade de
Inteligência e Investigação Criminal.

Tabela 1 - Atividade de Inteligência X Investigação Criminal

Atividade de inteligência Investigação Criminal

Proativa Reativa

Visão de futuro Visão passado e presente

Compreensão do fenômeno, suas causas, Objetiva esclarecer a autoria e comprovar a


consequências e de como enfrentar o materialidade
problema por meio de atuações específicas

Não preocupa com a produção de provas Ocupa-se da produção de provas

Não se preocupa em levantar a verdade e sim Preocupa-se com a busca da verdade


a realidade

Assessoria qualificada produtora de Não é atividade de assessoria


conhecimento

Pode ser de natureza exploratória e Em regra, é exploratória


sistemática
Fonte: OLIVEIRA, 2011

Assim, a atividade de Inteligência Policial não deve ser confundida com Investigação
criminal. Nas palavras de Gonçalves (2017, p. 37), em conformidade com a doutrina de
inteligência da Polícia Federal, as operações são divididas:
[...] operação de inteligência policial em sentido amplo (assessoramento), que são
aquelas voltadas à busca de dados para a produção de conhecimento para assessorar
o processo decisório; e a operação de inteligência policial em sentido estrito
(operacional), ou seja, aquelas que envolvem “ação especializada realizada por órgão
de inteligência policial, no âmbito da atividade de Polícia Judiciária da União, que é,
por determinação Constitucional [...] com o objetivo de produzir diretamente
provas em investigação criminal”. Enquanto o produto final das operações de
inteligência policial de assessoramento é um Relatório de Inteligência (RELINT),
classificado [...], a operação de inteligência policial em sentido estrito tem como
resultado um “documento policial destinado aos autos da investigação criminal
[...] (Grifo nosso).

E, ainda, no julgado recente do STF, de 13/4/2021, o Ministro Alexandre de Moraes


reitera:
Os denominados RELINT derivam da atividade de inteligência disciplinada pela Lei
nº 9.883/19995, ou seja, a “que objetiva a obtenção, análise e disseminação de
conhecimentos dentro e fora do território nacional sobre fatos e situações de imediata
ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação governamental e sobre a
56

salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado” (art. 1º, § 1º), não se prestam


a integrar acervo probatório”
Conforme explica a doutrina: “o grande problema da relação entre relatório de
inteligência e inquérito policial diz respeito à confusão feita entre os dois
documentos. Enquanto o inquérito está no cerne da atividade da atividade de polícia
judiciária, o relatório de inteligência é documento de natureza administrativa, pois é
produto da análise de dados e informações para assessoramento a um processo
decisório, não se pode confundir as duas peças, e um relatório de inteligência em
hipótese alguma poderia compor os autos de um inquérito policial”. (BRASIL,
2021d, grifos no original).

Nada impede que numa investigação criminal sejam usados procedimentos semelhantes
da metodologia da Inteligência Policial, de modo a identificar provas dos autores de um crime,
como também na análise criminal. No entanto, vale destacar que as atividades de Inteligência
Policial (ou Criminal), de Inteligência de Segurança Pública e Investigação Criminal têm
propósitos distintos, não podendo, de forma alguma, um documento de inteligência ser utilizado
na instrução de um inquérito policial ou em um processo penal.
57

5 CONCLUSÃO

O estudo empregado para o desenvolvimento deste trabalho teve como norte o


levantamento das bibliografias disponíveis sobre inteligência de segurança pública, que, diga-
se de passagem, possui poucos materiais publicados. Com relação ao material bibliográfico de
processo penal, houve facilidade e felicidade em seguir a orientação do professor orientador,
indicando autores de fácil compreensão.
Compreender a atividade de inteligência, de uma forma geral, nos seus conceitos e
fundamentos normativos, despertou-se ainda mais o interesse no aprofundamento do estudo.
Inicialmente, os questionamentos do problema de pesquisa não pareciam que seriam
respondidos de forma adequada, dada a restrição de informações disponíveis, seja pelo sigilo
empregado em alguns documentos por força da lei, seja por não se tratar de um assunto de senso
comum, além do imaginário humano fazer paralelo com filmes de espionagem (documentário
ou ficção).
Partindo de uma bibliografia específica sobre a atividade de inteligência e legislação
correlata, aos poucos, os questionamentos foram sendo respondidos. Foi possível identificar
que a atividade de inteligência tem como objetivo principal o assessoramento de autoridades ou
órgãos no auxílio à tomada de decisão estratégica, subsidiando o gestor com conhecimento
produzido, a partir de informações tratadas seguindo metodologia científica específica para a
produção de conhecimento, desde o planejamento de todas as ações, reunião de dados,
processamento e, por fim, a formalização do documento com sua difusão.
Para suportar todo o trabalho de inteligência de segurança pública, existe um arcabouço
farto de normas, compostas de leis, decretos, resoluções, portarias e resoluções, as quais criam
estruturas de governo, cargos públicos específicos, fixando atribuições, e definem políticas
nacionais de combate ao crime organizado, além de estratégias nacionais de inteligência.
Para coordenar e integrar as agências de inteligência, existem sistema, subsistema de
inteligência, composto por áreas específicas e estratégicas no Executivo Federal, em todos os
Ministérios, coordenada pela Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), vinculado ao Gabinete
da Presidência da República.
Ao contrário do que pensa o senso comum, os documentos de inteligência não servem
aos caprichos de uma autoridade, não existem dossiês ou atividade de espionagem, existem,
sim, profissionais altamente qualificados, recrutados por meio de processo administrativo, dos
quais são avaliados o perfil e seus antecedentes, além de possuir atributos pessoais e
58

profissionais, valores éticos e morais, leais , íntegros, ter discrição, profissionalismo,


responsabilidade, cooperação, ser objetivos, capacidade intelectual e analítica, entre outros.
Quanto aos documentos de inteligência, em especial ao RELINT, apesar de existir pouca
semelhança ao documento de investigação criminal, o Inquérito Policial, em nada se equiparam
formalmente.
Enquanto o Inquérito Policial visa a obtenção de provas pré-concebidas, seguindo
procedimentos definidos em lei, mesmo não possibilitando a ampla defesa e o contraditório,
oferece as condições necessárias de urgência no levantamento pela perícia e servirá para
compor o processo penal, caso o Ministério Público existam indícios suficientes para compor a
denúncia ao Judiciário. Já o RELINT é um documento que também segue metodologia própria
de levantamento de informação para produção de conhecimento destinado a pessoa específica,
classificado com grau de sigilo, e, servindo como documento para assessorar na tomada de
decisão de autoridade competente, não conta como prova.
O estudo do processo penal, no que cabe ao sistema e à produção de provas, desperta de
forma apaixonante o interesse no assunto, os conceitos e os métodos para alcançar a verdade,
detalhes que fazem a diferença ente condenar um inocente e libertar um culpado.
Mesmo com o limite legal de atuação de uma atividade com a outra, o trabalho conjunto
de investigação criminal e investigação policial é necessário para ampliar as estratégias de
segurança pública, visto que as técnicas de obtenção de informação de inteligência subsidiam
operações de combate ao crime organizado, como a apreensão espetacular de drogas ou na
desarticulação de quadrilhas dos mais variados crimes, como prostituição infantil, tráfego
humano, entre outras mazelas.
Como sugestão de nova pesquisa, a atuação dos agentes de contrainteligência no
combate ao vazamento de informação em sistemas jurídicos, previsão legal no combate aos
ataques em instituições públicas.
59

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