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RESPOSTA À ACUSAÇÃO
1
–I–
SÍNTESE DO PROCESSADO
2
PMDB e PP, especialmente, envolvendo a distribuição de cargos da alta
Administração Pública Federal que visavam arrecadar propinas destinadas a
agentes e partidos políticos;
f) O quadro de corrupção sistêmica aprofundou-se mesmo após a saída de
JOSÉ DIRCEU do cargo de Ministro-Chefe da Casa Civil, perdurando durante
todo o Governo LULA e mesmo após seu encerramento;
g) LULA recebeu da ODEBRECHT, direta e indiretamente, mediante deduções
do sistema de caixa geral de propinas do Partido dos Trabalhadores, vantagens
indevidas durante e após o término de seu mandato presidencial;
h) LULA agiu para a instituição e a manutenção do esquema criminoso, além
de ter sido o agente que dele mais se beneficiou: (i) Fortaleceu-se
politicamente, de forma ilícita, ampliando e mantendo a base aliada no poder
federal. (ii) ampliou indevidamente a sustentação econômica de seu grupo
político, garantindo vitória nas eleições seguintes, beneficiando, ainda,
campanhas eleitorais de outros candidatos de sua agremiação; (iii) auferiu
para si vantagens financeiras, conforme será visto no capítulo IV.2 e V desta
exordial;
i) LULA atuou diretamente na nomeação e na manutenção de PAULO
ROBERTO COSTA, RENATO DUQUE, NESTOR CERVERÓ e JORGE
ZELADA nas Diretorias de Abastecimento, Serviços e Internacional da
Petrobrás, com ciência acerca do uso dos cargos para a arrecadação, junto a
empresários com contratos públicos, de propinas para distribuição a agentes e
partidos políticos;
j) LULA atuou diretamente para que NESTOR CERVERÓ fosse nomeado
Diretor Financeiro da BR DISTRIBUIDORA, após este ser substituído por
JORGE ZELADA na Diretoria Internacional da Petrobrás, em reconhecimento
por ter angariado nessa Diretoria vantagens ilícitas de grande valia para o
Partido dos Trabalhadores.”
3
9.613/98), entre o início de 2010 e 30.05.2014, em concurso e unidade de
desígnios com Antonio Palocci, Branislav Kontic, Marcelo Bahia
Odebrecht, Paulo Melo, Demerval Gusmão, Glaucos da Costamarques e
Roberto Teixeira, porque, supostamente, teriam dissimulado e ocultado a
origem, a movimentação, a disposição e a propriedade de R$
12.422.000,00 provenientes dos crimes de organização criminosa, cartel,
fraude à licitação e corrupção praticados pelos executivos do Grupo
Odebrecht em detrimento da Petrobras, por meio da aquisição, em favor
do Primeiro Defendente, mediante sucessivas transações concebidas
com o auxílio de Roberto Teixeira, com a interposição de Glaucos da
Costamarques e da empresa DAG Construtora Ltda., do imóvel
localizado na Rua Dr. Haberbeck Brandão, n.º 178, São Paulo/SP, com
vistas à instalação da sede de espaço institucional em que o Primeiro
Defendente armazenaria e exporia os presentes e demais itens recebidos
durante seus mandatos presidenciais, bem como desempenharia suas
atividades após deixar a Presidência da República.
4
(i) Em relação ao imóvel da Dr. Haberbeck Brandão, n.º 178, São Paulo/SP,
haveria indícios de sua destinação para sede do Instituto Lula, em razão de ter
sido objeto de reuniões e comunicações entre os também denunciados Antônio
Palocci, Marcelo Bahia Odebrecht, Brasilav Kontic e Roberto Teixeira.
Ademais, foram encontrados documentos referentes a este imóvel no sítio de
Atibaia, o qual seria utilizado pelo ex-Presidente, e as planilhas retratariam
pagamentos ilícitos para aquisição do imóvel em questão.
– II –
O PROCESSO PENAL USADO COMO ARMA DE GUERRA CONTRA O INIMIGO: LAWFARE
5
“Law is becoming an incresingly powerful and prevalent weapon
of war”2 (“A lei está se tornando, gradativamente, uma poderosa e prevalente arma de
guerra” – em tradução livre), define ORDE F. KITTRIE3, autoridade mundial em lawfare.
SUSAN TIEFENBRUN, outrossim, afirma que “Lawfare is a weapon designed to destroy
the enemy by using, misusing, and abusing the legal system and the media in order to
raise public outcry against the enemy” (“Lawfare é uma arma destinada a destruir o
inimigo, utilizando, mal utilizando, e abusando do sistema legal e da mídia, em vistas
de conseguir o clamor público contra o inimigo” – em tradução livre).
2
KITTRIE, Orde F. Lawfare: Law as a weapon of war. Oxford University Press, p. 1.
3
Semiotic Denifition of Lawfare.
6
Nessa senda, a vestibular acusatória apresentase repleta de
acusações vagas, indefinidas, intangíveis, e de especulações genéricas, sem lastro em
elementos indiciárioprobatórios mínimos. Conforme se demonstrará, são imputações
frívolas, que desafiam a lógica e o próprio Direito.
7
conduzida pelo Procurador Geral da República, na esfera do Supremo Tribunal
Federal.
Muito tempo faz que a tarefa alcunhada Lava Jato já elegeu seu
inimigo: Lula. Para destruílo, os agentes nela envolvidos não medem esforços nem se
importam com os limites das garantias; perpetram os mais diversos acintes, negam a lei
e a liturgia procedimental. Em suma, desafiam o Estado Democrático de Direito
brasileiro. As páginas e as denúncias de arbítrios contidos nestes autos não ficam
registrados apenas para a jurisdição, mas, seguramente, para a História, que será visitada
pelas gerações futuras.
Ah, mas agora temos mais uma ação penal que a tudo legitima,
que cobre as perseguições com o aparente manto da legalidade do devido processo
legal, poderseia dizer.
8
desenfreada, verdadeira guerra decretada por agentes da autoridade estatal, com apoio
de setores da mídia tradicional, contra o Primeiro Defendente.
4
O Procurador da República Deltan Dallagnol, um dos subscritores da Denúncia, afirmou em entrevista
concedida à Rádio Bandeirantes, em julho, que ele e o juiz da 13ª. Vara Federal Criminal do Paraná são
“símbolos de um time” (Disponível em: <http://terceirotempo.bol.uol.com.br/noticias/umdosresponsa
veispelaaoperaaaolavajatoadeltandallagnolparticipadoadomingoesportivoa> Acesso em: out.
2016).
9
o TCU, a Polícia Federal e o Ministério Público — tanto assim que
jamais produziram qualquer relatório ou acusação a respeito; a propósito,
oportuno lembrar que, desde 2006, este Juízo monitora o “doleiro”
Alberto Youssef e até 2014 não tomou – ao que se saiba – qualquer
providência quanto ao suposto esquema ilícito no âmbito da Petrobras
por ele regido, possivelmente por desconhecêlo (o esquema) a despeito
de todos os instrumentos invasivos postos à sua disposição;
10
(h) não é o Primeiro Defendente “próximo” de qualquer empresa; seu
governo realizou 84 missões empresariais exteriores e nunca privilegiou
qualquer empresa ou setor;
5
Nesse sentido, é imperioso salientar que o Primeiro Defendente não é – e jamais foi – proprietário
do Instituto Lula.
11
processo político brasileiro — objetivo que jamais seria alcançado pela via
democrática do sufrágio popular.
6
Ação Penal 504651294.2016.4.04.7000/PR.
7
Supremo Tribunal Federal, Inq. 3989, Relator: Ministro Teori Zavascki.
12
No que tange às acusações inerentes ao comando da organização
criminosa – descabidas e fora da alçada de competência dos Procuradores da “Lava
Jato” – críticas não faltaram. O Eminente Ministro da Suprema Corte — o saudoso
Teori Zavascki, então relator de todos os procedimentos referentes à “Lava Jato”
perante aquela Corte, assim se manifestou:
8
Voto do Ministro Teori Zavascki na Questão de Ordem no Inq. 4130 perante o Supremo Tribunal
Federal.
9
Manifestação do Ministro Teori Zavascki no julgamento do AgRg na Rcl 25.048. As críticas do
Eminente Ministro também se referiram ao comportamento dos Procuradores da “Lava Jato” na indevida
publicação e nas descabidas imputações feitas ao Primeiro Defendente na ação penal 5046512
94.2016.4.04.7000.
13
“Mensalão”, afirmou em entrevista que concedeu à imprensa, o seguinte:10
“Em toda a denúncia, se teve o cuidado de que cada imputação a cada uma das
pessoas fosse firmada em provas existentes nos autos. Sempre que há referência
a um fato, há um pé de página com documento, um laudo específico, laudo e
testemunhos. Não havia, durante o período em que eu era procurador-geral,
nenhum depoimento que atestasse participação de Lula no esquema. E
mesmo o depoimento do Roberto Jefferson era no sentido contrário. Não
tínhamos nenhum depoimento contando a participação do presidente Lula no
episódio. A denúncia está lastreada naquelas pessoas que realmente atuaram
nesse episódio. Não havia provas, eu não podia inventar. Aquele não é um
processo político, é um processo judicial. O Ministério Público tem
responsabilidade não somente de afirmar, mas também de provar. Se eu
desejava fazer uma denúncia consistente e não uma denúncia de natureza
política, não um ato político, evidentemente que só poderia fazer imputações a
pessoas citadas naquele episódio. Não havia indício contra o ex-presidente
Lula. Eu vi o advogado do Roberto Jefferson, e ele deve ter falado em nome
próprio ao afirmar que Lula é o mandatário do mensalão porque o próprio
Jefferson nunca disse isso. A denúncia não se faz pelo que a gente pensa que
a pessoa pode ter feito ou não. A gente só pode fazer a denúncia constatando
que há elementos que me permitem confirmar que o que eu estou afirmando é
verdadeiro." (destacouse)
10
Disponível em <http://g1.globo.com/politica/mensalao/noticia/2012/08/processarlulaseriaatopolitico
dizprocuradorquedenuncioumensalao.html> Acesso em dez. 2016.
14
formada por corruptos? Convém, então, apontar e, sobretudo, individualizar. Quais os
elementos concretos que estariam a indicar para essa gravíssima acusação? Só
“convicções”?
11
Depoimento nos autos da ação penal 504651294.2016.4.04.7000/PR. Na mesma oportunidade, Paulo
Roberto Costa também desmentiu em seu depoimento na ação penal que o expresidente Lula o chamava
por "Paulinho", alcunha que segundo o depoente, só recebia de sua família.
15
esquema criminoso. Renato Duque exerceu o seu direito constitucional
ao silêncio em todas as ações penais em seu desfavor12.
12
Ações Penais 501233104.2015.4.04.7000/PR, 504524184.2015.4.04.7000/PR e 5036528
23.2015.4.04.7000/PR. Outrossim, em depoimento prestado ao Ministério Público Federal em
17.11.2014, Renato Duque esclareceu que todos os diretores da estatal são indicados pelo conselho
de administração. Ressalta-se que o próprio documento (Anexo 109) juntado pelo órgão acusador
desmente sua tese. Demonstra-se: "Que indagado sobre quem o indiciou para o cargo de diretor da
Área de Serviços da PETROBRÁS, afirma que todos os Diretores da PETROBRÁS são indicados pelo
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO da companhia; QUE não se recorda dos nomes dos membros do
conselho que indicou o declarante à época (...)".
13
http://oglobo.globo.com/brasil/ministrodostfdevolveacordodedelacaodepedrocorrea20364775
14
Depoimento de Pedro Côrrea na Ação penal 504651294.2016.4.04.7000/PR
15
Idem.
16
Depoimento de Delcídio do Amaral nos autos da ação penal nº 504651294.2016.4.04.7000.
16
A verdade é que as 27 testemunhas de acusação arroladas pelo
Ministério Público Federal em outra ação – dita – conexa, inclusive os próprios
delatores citados na denúncia que deflagrou esta ação penal, negaram
peremptoriamente as imputações feitas aos Defendentes.
– III –
PRELIMINARES
17
O Primeiro Defendente peticionou naqueles autos requerendo
que o Delegado de Polícia Federal Márcio Anselmo se declarasse suspeito para
condução das investigações e que fossem delimitados os fatos a serem esclarecidos
através da formulação de quesitos (doc. 04).
17
Nesse sentido, ver: “Delegados da LavaJato exaltam Aécio e atacam PT na rede.” Disponível em:
<http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,delegadosdalavajatoexaltamaecioeatacamptna
rede,1591953> Acesso em: jan. 2017.
18
Art. 107. Não se poderá opor suspeição às autoridades policiais nos atos do inquérito, mas deverão
elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo legal.
18
suspeição em face dos elementos demonstrados. Também requereu manifestação19 do
Delegado Márcio Anselmo acerca do pedido de suspeição a ele dirigido, considerada a
sua anterior omissão.
19
19
Não se desconhece que durante a fase investigatória não se
entende pela incidência máxima do contraditório e da ampla defesa. Todavia, em
respeito à dignidade da pessoa humana e, considerando todos os efeitos de índole moral,
social e ética que incidem sobre aquele que recai a grave condição de investigado – o
que se denota ainda mais injurídico no caso em concreto, visto a execração pública em
face dos Defendentes –, deve ser propiciado ao investigado o exercício de garantias
constitucionais, com a exposição de sua versão dos fatos e também a oportunidade de
requerer diligências à autoridade policial20.
20
Artigo 14 do Código de Processo Penal: O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão
requerer qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade.
21
Art. 5.º, LV, Constituição Federal: aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes;
20
Agravo regimental improvido” (RE nº 552.057/MG-AgR, Relator: Ministro
Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, DJe de 5/6/09).
------------------------------------------------------------------------------------------------
“Agravo regimental em recurso extraordinário. 2. Restabelecimento de
benefício previdenciário pelo Tribunal de origem, sob o fundamento de
inobservância do contraditório e da ampla defesa quando do procedimento
administrativo que o suspendera. Violação verificada. A garantia do direito de
defesa contempla, no seu âmbito de proteção, todos os processos judiciais ou
administrativos. Precedentes. 3. Agravo regimental a que se nega provimento”
(RE nº 425.406/RN-AgR, Relator: Ministro Gilmar Mendes, Segunda Turma,
DJe de 11/10/07).
22
LOPES JR, Aury, Direito Processual Penal, 12ª edição, 2015, p. 170.
23
PELLEGRINI GRINOVER, As Nulidades no Processo Penal, 2. ed. São Paulo, Malheiros, 1992, p. 63.
21
A repulsa a direitos fundamentais de investigados já foi objeto de
debate no Supremo Tribunal Federal. Oportuno colacionar julgado com a inigualável
lavra do Ministro Decano Celso de Mello:
22
emanados do aparelho estatal. Cabe relembrar, no ponto, por necessário, a
jurisprudência firmada pelo Supremo Tribunal Federal em torno da matéria
pertinente à posição jurídica que o indiciado - e, com maior razão, o próprio
réu - ostenta em nosso sistema normativo, e que lhe reconhece direitos e
garantias inteiramente oponíveis ao poder do Estado, por parte daquele que
sofre a persecução penal: "INQUÉRITO POLICIAL - UNILATERALIDADE
- A SITUAÇÃO JURÍDICA DO INDICIADO. - O inquérito policial, que
constitui instrumento de investigação penal, qualifica-se como procedimento
administrativo destinado a subsidiar a atuação persecutória do Ministério
Público, que é - enquanto ''dominus litis'' - o verdadeiro destinatário das
diligências executadas pela Polícia Judiciária. A unilateralidade das
investigações preparatórias da ação penal não autoriza a Polícia Judiciária a
desrespeitar as garantias jurídicas que assistem ao indiciado, que não mais
pode ser considerado mero objeto de investigações. O indiciado é sujeito de
direitos e dispõe de garantias, legais e constitucionais, cuja inobservância,
pelos agentes do Estado, além de eventualmente induzir-lhes a
responsabilidade penal por abuso de poder, pode gerar a absoluta desvalia
das provas ilicitamente obtidas no curso da investigação policial."(RTJ
168/896-897, Rel. Min. CELSO DE MELLO) Não custa advertir, como já tive o
ensejo de acentuar em decisão proferida no âmbito desta Suprema Corte (MS
23.576/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO), que o respeito aos valores e
princípios sobre os quais se estrutura, constitucionalmente, a organização do
Estado Democrático de Direito, longe de comprometer a eficácia das
investigações penais, configura fator de irrecusável legitimação de todas as
ações lícitas desenvolvidas pela Polícia Judiciária, pelo Ministério Público ou
pelo próprio Poder Judiciário. A pessoa contra quem se instaurou persecução
penal - não importa se em juízo ou fora dele - não se despoja, mesmo que se
cuide de simples indiciado, de sua condição de sujeito de determinados
direitos e de senhor de garantias indisponíveis, cujo desrespeito só põe em
evidência a censurável (e inaceitável) face arbitrária do Estado, a quem não
se revela lícito desconhecer que os poderes de que dispõe devem conformar-
se, necessariamente, ao que prescreve o ordenamento positivo da República.
Esse entendimento - que reflete a própria jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal construída sob a égide da vigente Constituição - encontra
apoio na lição de autores eminentes, que, não desconhecendo que o exercício
do poder não autoriza a prática do arbítrio, enfatizam que, mesmo em
procedimentos inquisitivos instaurados no plano da investigação policial, há
direitos titularizados pelo indiciado, que simplesmente não podem ser
ignorados pelo Estado (...). Impende destacar, de outro lado, precisamente em
face da circunstância de o indiciado (e com maior razão, o réu em juízo
criminal) ser, ele próprio, sujeito de direitos, que o Advogado por ele
regularmente constituído (como sucede no caso) tem direito de acesso aos
autos da investigação (ou do processo) penal, não obstante em tramitação sob
regime de sigilo, considerada a essencialidade do direito de defesa, que há de
ser compreendido - enquanto prerrogativa indisponível assegurada pela
Constituição da República - em perspectiva global e abrangente (...) .A
oponibilidade ao defensor constituído esvaziaria uma garantia constitucional
do indiciado (CF, art. 5º, LXIII), que lhe assegura, quando preso, e pelo
menos lhe faculta, quando solto, a assistência técnica do advogado, que este
não lhe poderá prestar se lhe é sonegado o acesso aos autos do inquérito
sobre o objeto do qual haja o investigado de prestar declarações. O direito do
indiciado, por seu advogado, tem por objeto as informações já introduzidas nos
autos do inquérito, não as relativas à decretação e às vicissitudes da execução
23
de diligências em curso (cf. L. 9296, atinente às interceptações telefônicas, de
possível extensão a outras diligências); dispõe, em consequência, a autoridade
policial, de meios legítimos para obviar inconvenientes que o conhecimento
pelo indiciado e seu defensor dos autos do inquérito policial possa acarretar à
eficácia do procedimento investigatório."(grifei) (...) Os eminentes Advogados
ALBERTO ZACHARIAS TORON e ALEXANDRA LEBELSON SZAFIR, em
recentíssima obra - que versa, dentre outros temas, aquele ora em análise
("Prerrogativas Profissionais do Advogado" , p. 86, item n. 1, 2006, OAB
Editora) -, examinaram, com precisão, a questão suscitada pela injusta recusa,
ao Advogado investido de procuração (Lei nº 8.906/94, art. 7º, XIII), de acesso
aos autos de inquérito policial ou de processo penal que tramitem,
excepcionalmente, em regime de sigilo, valendo rememorar, a esse propósito, a
seguinte passagem: "No que concerne ao inquérito policial há regra clara no
Estatuto do Advogado que assegura o direito aos advogados de, mesmo sem
procuração, ter acesso aos autos (art. 7º, inc. XIV) e que não é excepcionada
pela disposição constante do § 1º do mesmo artigo que trata dos casos de
sigilo. Certo é que o inciso XIV do art. 7º não fala a respeito dos inquéritos
marcados pelo sigilo. Todavia, quando o sigilo tenha sido decretado, basta
que se exija o instrumento procuratório para se viabilizar a vista dos autos do
procedimento investigatório. Sim, porque inquéritos secretos não se
compatibilizam com a garantia de o cidadão ter ao seu lado um profissional
para assisti-lo, quer para permanecer calado, quer para não se auto-
incriminar (CF, art. 5º, LXIII). Portanto, a presença do advogado no
inquérito e, sobretudo, no flagrante não é de caráter afetivo ou emocional.
Tem caráter profissional, efetivo, e não meramente simbólico. Isso, porém, só
ocorrerá se o advogado puder ter acesso aos autos. Advogados cegos, ''blind
lawyers'', poderão, quem sabe, confortar afetivamente seus assistidos, mas,
juridicamente, prestar-se-ão, unicamente, a legitimar tudo o que no inquérito
se fizer contra o indiciado." (grifei) (...) Por conclusão, os princípios da
verdade real e da igualdade das partes na relação jurídico-processual fazem
com que as provas carreadas para os autos pertençam a todos os sujeitos
processuais, ou seja, dão origem ao princípio da comunhão das provas.(...)"
(destacou-se) (STF - HC: 93767 DF, Relator: Min. CELSO DE MELLO, Data
de Julgamento: 12/02/2008, Data de Publicação: DJe-027 DIVULG
15/02/2008 PUBLIC 18/02/2008)
24
relação ao Primeiro Defendente24. Já o segundo, no ofício de condutor das
investigações concernentes à Operação Ometà, mencionou o nome do Primeiro
Defendente no relatório final do IPL 2255/20154 SR/DPF/PR, acusandoo de ser
recebedor de valores ilícitos da empresa Odebrecht:
SOUZA NUCCI25:
24
< http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,delegadosdalavajatoexaltamaecioeatacamptna
rede,1591953 >
25
GUILHERME DE SOUZA NUCCI, Código de Processo Penal Comentado 15ª edição, 2016, p. 318.
25
A tramitação oculta do procedimento investigatório, a despeito das
normas legais26 que garantem o acesso e conhecimento do investigado
acerca de procedimento em seu desfavor;
26
Constituição Federal, Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo
inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.
Lei 8.906/1994ª Art. 7º São direitos do advogado: (...) XIV - examinar, em qualquer instituição
responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de
qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças
e tomar apontamentos, em meio físico ou digital;
Súmula Vinculante número 14: "É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo
aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa".
27
Lopes Jr, AURY, Direito Processual Penal, 12ª edição, 2015, p. 950.
26
O Egrégio Superior Tribunal de Justiça brilhantemente decidira
que eventuais nulidades ocorridas no Inquérito Policial contaminam a futura ação penal.
28
STJ, HC 149250. Relator: Min. Adilson Vieira Macabu (Desembargador Convocado do TJ/RJ) –
QUINTA TURMA, julgado em 05.09.2011.
27
Acerca de tal necessidade, novamente se menciona o grande
processualista AURY LOPES JR29:
15.2016.4.04.7000
29
Lopes Jr, AURY, Direito Processual Penal, 12ª edição, 2015, p. 951.
28
formal, sem substância e eficiência, pois se cuida de interesse indisponível do
indivíduo, merecendo integral contemplação estatal.” (Destaquei)30
30
NUCCI, Guilherme de Souza. Princípios Constitucionais Penais e Processuais Penais. 4ª ed., ver. E
atual. Rio de Janeiro: Forense, 2015.
31
DEMERCIAN, Pedro Henrique, MALULY, Jorge Assaf. Curso de Processo Penal, 9ª edição. Forense,
01/2014
32
STF, HC 83.255/SP, Pleno, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 12/03/2004.
29
CONHECIDO E RECURSO EXTRAORDINÁRIO DESPROVIDO. 1. A
isonomia é um elemento ínsito ao princípio constitucional do contraditório
(art. 5º, LV, da CRFB), do qual se extrai a necessidade de assegurar que as
partes gozem das mesmas oportunidades e faculdades processuais, atuando
sempre com paridade de armas, a fim de garantir que o resultado final
jurisdicional espelhe a justiça do processo em que prolatado.(destacou-se)”33
------------------------------------------------------------------------------------------------
“EMENTA: PENAL. RECURSO ORDINÁRIO. PEDIDO DE EXTENSÃO DE
EXTRADIÇÃO. DOCUMENTOS NECESSÁRIOS. DECRETO PREVENTIVO.
NÃO OBRIGATORIEDADE. PRISÃO PREVENTIVA. REQUISITOS. ART. 312
DO CPP. FATO NOVO. SUPERVENIÊNCIA DE EXTRADIÇÃO. EXECUÇÃO
DE PENA POR OUTRO PROCESSO. EXCESSO DE PRAZO.
DOCUMENTAÇÃO EM LÍNGUA ESTRANGEIRA.
INADMISSIBILIDADE. PROVIMENTO PARA RELAXAR A PRISÃO. 1.
Decreto preventivo não é documento necessário para instruir o pedido de
extensão de extradição, conforme se depreende do art. 18, item 4, do Acordo de
Extradição entre Estados Partes do Mercosul (Decreto n. 4.975/2004). 2. O
Juiz de primeira instância apontou concretamente a presença dos vetores
contidos no art. 312 do Código de Processo Penal, indicando motivação
suficiente para justificar a necessidade de colocar o paciente cautelarmente
privado de sua liberdade, pois ressaltou o alto risco de o recorrente evadir-se,
bem como a necessidade do decreto preventivo para viabilizar a extensão da
extradição. 3. A superveniência de extradição para o território nacional e
cumprimento de pena por outro processo alteram o contexto fático, de modo a
suprimir, no caso, o periculum libertatis, consistente no risco de evasão. 4. Em
que pese a complexidade do feito, a prisão preventiva foi decretada em
28/11/2013 e, desde então, a ação penal não teve andamento, pois aguarda o
trâmite do procedimento de extensão de extradição, cuja mora configura
excesso de prazo. 5. Não pode ser utilizado como prova documento em língua
estrangeira desacompanhado de tradução juramentada. 6. Recurso ordinário
provido para relaxar a prisão do recorrente.” (destacouse)34
33
STF, Recurso Extraordinário com Agravo E 648629, Relator Min. Luiz Fux
34
Recurso Ordinario Em Habeas Corpus n. 201501151779, 6ª Turma, Relator Des. Rogério Schietti Cruz,
j. 15.03.2016.
35
Art. 236. Os documentos em língua estrangeira, sem prejuízo de sua juntada imediata, serão, se
necessário, traduzidos por tradutor público, ou, na falta, por pessoa idônea nomeada pela autoridade.
30
CONFIGURADA. INEXISTÊNCIA DE PRECLUSÃO.
- A hipótese é de nulidade pois considerável seria o prejuízo para a acusação
caso não pudesse se valer dos documentos cuja tradução deixou de ser
providenciada em face da omissão da secretaria do juízo.
- Impossível falar-se em preclusão porquanto a parte observou os momentos
próprios para o requerimento de diligências, ressaltando que o prazo para a
apresentação das alegações finais não se presta para tal fim.” (Grifei).36
36
Apelação Criminal n. 200204010108801, 7ª Turma, TRF4, Relatora Des. MARIA DE FÁTIMA
FREITAS Labarrère, j. 23.11.2003.
37
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 13ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2014.
31
Requerse também acesso integral aos termos do pedido de
quebra de sigilo de dados e/ou telefônico 504268915.2016.4.04.7000, à luz dos
princípios constitucionais da ampla defesa, do contraditório e da paridade de armas.
32
b) Não há justa causa para a ação penal, uma vez que: (i) inexistem
indícios razoáveis de autoria e materialidade do delito; (ii) a denúncia
está baseada única e exclusivamente em depoimentos de delatores, um
deles sequer homologado e o outro cancelado; (iii) houve indevida
inversão do ônus da prova.
33
396 e 396-A do Código de Processo Penal, reconsiderar a anterior decisão e
rejeitar a peça acusatória, ao constatar a presença de uma das hipóteses
elencadas nos incisos do art. 395 do Código de Processo Penal, suscitada pela
defesa.
2. As matérias numeradas no art. 395 do Código de Processo Penal dizem
respeito a condições da ação e pressupostos processuais, cuja aferição não
está sujeita à preclusão (art. 267, § 3º, do CPC, c/c o art. 3º do CPP).
3. Hipótese concreta em que, após o recebimento da denúncia, o Juízo de
primeiro grau, ao analisar a resposta preliminar do acusado, reconheceu a
ausência de justa causa para a ação penal, em razão da ilicitude da prova que
lhe dera suporte. (STJ, REsp 1318180/DF, 6ª Turma, Relator: Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, 16/05/2013.) (destacouse)
34
É exatamente a situação do caso em comento, conforme será
demonstrado.
35
relevantes detalhes de tempo, de lugar, de meio e de modo de execução que conferem
às ações humanas características próprias que permitem sua identificação concreta.
36
Ainda neste mesmo período, entre 25/11/2004 e 23/01/2012, MARCELO
ODEBRECHT, gestor do Grupo ODEBRECHT, de modo consciente e
voluntário, direta e indiretamente, ofereceu e prometeu vantagens indevidas a
LULA, PAULO ROBERTO COSTA, RENATO DUQUE e PEDRO BARUSCO,
para determiná-los a, infringindo deveres legais, praticar e omitir atos de ofício
no interesse dos contratos relativos aos empreendimentos citados. Tais
vantagens indevidas consistiram em recursos públicos desviados no valor de,
pelo menos, R$ 75.434.399,44, oferecidos e prometidos para LULA e que
seriam usados não só para enriquecimento ilícito dos envolvidos, mas
especialmente para alcançar governabilidade e financiar com recursos
públicos desviados a permanência no poder.
38
REGENBOGEN, Arnim; MEYER,Uwe. Wörterbuch der Philosophischen Begriffe. Hamburg: Felix
Meiner Verlag, 2013, verbete “Zeit”.
37
tempo de existência de um fato, cuja historicidade concreta exige delimitação
temporal, sem a qual nenhum fato pode existir no mundo real.
39
REGENBOGEN, Arnim; MEYER,Uwe. Wörterbuch der Philosophischen Begriffe. Hamburg: Felix
Meiner Verlag, 2013, verbete “Raum”.
38
especificidade histórica a todo e qualquer fato concreto: além de não descrever o
tempo e o lugar dos fatos imputados, a denúncia não descreve nem os meios, nem os
modos pelos quais essas hipotéticas ações teriam sido realizadas pelo Primeiro
Defendente – ou seja, a descrição do fato é carente não apenas das circunstâncias
agravantes ou atenuantes genéricas (ou circunstâncias legais), que caracterizam a
especificidade concreta do fato como acontecimento histórico, ampliando ou reduzindo
o conteúdo do tipo de injusto e/ou a reprovação de culpabilidade do autor,40 mas
também é carente de toda e qualquer circunstância concreta que configuraria a
realidade históricosocial do fato imputado.
40
CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito Penal – Parte Geral. Florianópolis: Empório do Direito, 7a
edição, 2017, p. 532 s.
39
autor teria tido consciência dos elementos objetivos do tipo de crime imputado, que
configura o elemento intelectual do dolo, e (b) de que modo os elementos objetivos do
tipo objetos da consciência teriam sido abrangidos pela vontade do autor, para formar a
estrutura psíquica do dolo, como vontade consciente de realizar o tipo objetivo de um
crime,41 nas formas diferenciadas e excludentes de dolo direto ou de dolo eventual. A
Denúncia não faz nada disso!
41
CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito Penal – parte geral. Florianópolis: Empório do Direito, 2017,
7a edição, p. 132133.
40
ODEBRECHT. A relação de proximidade com esse executivo e de outras
empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato, reforça a ciência de LULA
acerca da origem espúria dos recursos que lhe eram destinados, inclusive por
meio dos aportes milionários nas instituições que levam o seu nome, como é o
caso do INSTITUTO LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA e a L.I.L.S PALESTRAS,
EVENTOS E PUBLICAÇÕES LTDA, conforme será descrito a seguir.
42
Depoimento de Paulo Roberto Costa nos autos da ação penal nº 504651294.2016.4.04.7000, em
trâmite perante este Juízo.
41
SE TAL IMPUTAÇÃO NÃO É VAGA E GENÉRICA,
NENHUMA MAIS O SERÁ!
43
Novamente cumpre ressaltar que o Primeiro Defendente não é – e jamais foi – proprietário do
Instituto Lula. Decisões acerca de sua sede institucional cabiam – unicamente – à Diretoria da
Instituição.
42
CONDUTAS TÍPICAS QUE CARACTERIZAM OS CRIMES IMPUTADOS. OS
ATOS APONTADOS NA DENÚNCIA CARECEM DE QUALQUER ELEMENTO
INDICIÁRIO!
43
reduzido à reprodução da definição jurídica do fato imputado –, também não delimita o
momento histórico de configuração concreta do fato criminoso, reconhecendo,
expressamente, que teria ocorrido “em datas ainda não estabelecidas, mas
compreendidas entre 25/11/2004 e 23/01/2012” – ou seja, dentro do período de tempo
de 8 anos e 2 (dois) meses, ou em um dia qualquer de um lapso temporal de 2.980
dias – retira do fato criminoso a dimensão de tempo sem a qual não pode existir e,
consequentemente, destrói a realidade fenomênica do suposto fato criminoso imputado,
reforçando a infringência do art. 41, do CPP, assim como a lesão do art. 5o, inciso LV,
da Constituição Federal, que garante os princípios do contraditório e da ampla defesa
aos acusados em geral.
44
acusação, grande parte se limita a uma narrativa fática truncada e impenetrável – que
remete ao ano de 2003 – na qual parece ser atribuída ao Primeiro Defendente a posição
de “comandante máximo” de um amplo esquema de corrupção.
44
Segundo dados da Polícia Federal e descrito na denúncia
45
E como se pretender a restituição de R$ 75.434.399144 de quem
teria — segundo a tese acusatória — recebido o benefício de R$ 13 milhões? O
paradoxo é evidente.
46
promessa e recebeu, direta e indiretamente, para si e para outrem, inclusive
por intermédio de tais funcionários públicos, vantagens indevidas (...)” (p 80).
45
AURY LOPES JR, Direito Processual Penal, 12ª edição, 2015, p 203.
47
Outra questão a ser levantada é: se o delito de organização
criminosa está em investigação ainda inconclusa perante o Supremo Tribunal Federal,
sob a condução do Procurador Geral da República, como pode a denúncia aqui embasar
todo o plexo acusatório na existência dessa mesma e hipotética organização criminosa?
Como, se sequer existem indícios mínimos do aperfeiçoamento de tal figura delituosa?
48
como exigência derivada do postulado constitucional que assegura ao réu o
pleno exercício do direito de defesa. Denúncia que não descreve
adequadamente o fato criminoso é denúncia inepta.” (destacouse)
46
JOSÉ FREDERICO MARQUES, Elementos de Direito Processual Penal. Volume II. Companhia Editora
Forense. São Paulo – Rio de Janeiro. 1961. Página 153).
49
justiça procuram cercá-lo de todas as garantias. Não se trata apenas de
liberalismo e muito menos de liberalidades; por isso não falei em ordenações
liberais e sim em ordenações que prezam a justiça, porque o Estado não
poderá estar certo de haver feito justiça e, por isso mesmo, não tranquilizara o
homem de bem, se não der ao acusado a maior e mais ampla, a mais ilimitada
possibilidade de defender-se. Entre as grandes conquistas da humanidade,
inscritas nas Constituições modernas figura essa.”47 (destacouse)
47
HELIO TORNAGHI. A relação processual penal. São Paulo: Saraiva, 1987 e Curso de Processo Penal,
volume 1, p. 43.
48
NEREU JOSÉ GIACOMOLLI. O devido processo penal. Abordagem conforme a Constituição Federal e o
Pacto de São José da Costa Rica. São Paulo: Atlas, 2014, p. 128.
49
Ibidem, p. 129.
50
Na mesma linha são as decisões do Superior Tribunal de Justiça,
como se verifica no precedente abaixo:
50
STF, AP 905 QO, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 23/02/2016
51
------------------------------------------------------------------------------------------------
PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS.
CRIME CONTRA A RELAÇÃO DE CONSUMO. INÉPCIA DA DENÚNCIA.
NULIDADE. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. OCORRÊNCIA. AUSENTES
OS REQUISITOS DO ART. 41, DO CPP.
RECURSO PROVIDO.
I - A alegação de inépcia da denúncia deve ser analisada de acordo com o que
dispõe os art. 41, do CPP, e o art. 5º, LV, da CF/88. A peça acusatória deve
conter a exposição do fato delituoso em toda a sua essência e com todas as
suas circunstâncias. Denúncias genéricas, que não descrevem os fatos na sua
devida conformação, não se coadunam com os postulados básicos do Estado
de Direito (HC 86.000/PE, Segunda Turma, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJU
de 2/2/2007).
A inépcia da denúncia caracteriza situação configuradora de desrespeito
estatal ao postulado do devido processo legal.
II - In casu, a inicial acusatória não preenche os requisitos exigidos pelo art.
41 do CPP. O simples fato de o recorrente exercer o cargo de gerente de
produção não possui o condão de autorizar a imediata subsunção ao preceito
primário, ante a ausência da narrativa do elemento objetivo do tipo.
(Precedente).
III - Trata-se, na espécie, de responsabilização objetiva, visto não haver a
descrição do nexo causal exigido pelo art. 41, do CPP.
Deveria o Parquet estadual ter evidenciado qual foi, in casu, a contribuição
do recorrente na cadeia produtiva, circunstância esta apta a caracterizar, em
tese, o delito em questão, sob pena de inépcia da denúncia, como de fato
ocorreu.
Recurso ordinário provido.51
PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. 1. INÉPCIA DA
DENÚNCIA.
DESCRIÇÃO INSUFICIENTE DOS FATOS. NULIDADE ABSOLUTA.
OCORRÊNCIA.
PREJUÍZO À AMPLA DEFESA FLAGRANTE. 2. CRIMES
SOCIETÁRIOS. MERA QUALIDADE DE SÓCIO. NÃO
DEMONSTRAÇÃO DE NEXO DE CAUSALIDADE MÍNIMO.
IMPOSSIBILIDADE. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. 3. ORDEM
CONCEDIDA.
1. Não tendo sido expostos os fatos imputados à paciente de forma suficiente,
em atendimento aos requisitos do artigo 41 do Código de Processo Penal, e
causando flagrante prejuízo à ampla defesa, é se reconhecer a nulidade
absoluta da denúncia.
2. Mesmo em se tratando de crimes societários, é indispensável a indicação de
uma conduta que se ligue minimamente ao resultado, não bastando a
referência à condição de sócio, sob pena de responsabilização de caráter
objetivo.
3. Ordem concedida para anular o processo, desde a denúncia, dando
oportunidade para que outra seja proferida, com a adequada exposição do
fato.52
51
STJ, RHC 37.864/BA, Relator: Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em
17/03/2015.
52
STJ, HC 50.804/SP, Relatora: Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA,
julgado em 11/11/2008.
52
Ainda sobre o tema, oportuno o seguinte excerto do voto do
Ministro Luis Roberto Barroso no procedimento acima colacionado, no qual se assentou
que "Permitir que o acusado seja submetido a processo exclusivamente pela posição
hierárquica superior que ocupava, no caso chefe do DEOESP, viola as regras quanto
à autoria e participação que regem o direito penal brasileiro. Deve haver indícios de
que o acusado atuou com dolo, o que não se verifica no caso dos autos. Ademais, o
mero dever de saber não é suficiente para uma condenação em razão de ensejar uma
responsabilização objetiva. Não cabe presunção in malan partem, ante o princípio da
não culpabilidade (art. 5º, LVII da Constituição Federal)".
53
CIRINO DOS SANTOS, Juarez, Direito Penal Parte Geral, Ed. Empório do Direito, 7ª edição, 2017, p.
23/24.
54
BETTIOL, Giuseppe. Direito Penal, Ed. RT, Volume II, p. 133.
53
coerente que permita aos Defendentes compreender a tese acusatória e exercer
adequadamente o seu direito à ampla defesa.
54
III.4.1. – OS CONTRATOS ORIGINÁRIOS DAS VANTAGENS INDEVIDAS
55
ou prometido vantagem indevida (a) a RENATO DUQUE, PEDRO BARUSCO e
PAULO ROBERTO COSTA, para omitirem deveres de ofício permitindo a escolha
interna do cartel para execução da obra, e (b) o Primeiro Defendente, que se
beneficiava da manutenção do esquema e da permanência dos diretores nos respectivos
cargos (fl. 84).
56
A omissão dos deveres de ofício. Nessa “senda” – para seguir o
chavão da denúncia –, MARCELO ODEBRECHT teria oferecido ou prometido
vantagem indevida (a) a RENATO DUQUE, PEDRO BARUSCO e PAULO
ROBERTO COSTA, para omitirem deveres de ofício permitindo a escolha interna do
cartel para execução da obra, bem como (b) o Primeiro Defendente, que se beneficiava
da manutenção do esquema e da permanência dos diretores nos respectivos cargos (fl.
8788).
57
A omissão dos deveres de ofício. Nessa “senda” – conforme o
chavão da Denúncia –, executivos da ODEBRECHT teriam prometido e pago propinas
a PEDRO BARUSCO, RENATO DUQUE e PAULO ROBERTO COSTA, para
omitirem deveres de ofício, permitirem a escolha interna do cartel para execução da
obra e tomarem as medidas necessárias para a contratação (fl. 92).
58
A imputação e as supostas vantagens ilícitas no interesse do
Primeiro Defendente. A imputação parcial dos tipos legais de corrupção ativa e de
corrupção passiva está equacionada na denúncia, discorrendo que MARCELO
ODEBRECHT, no período compreendido entre 25/11/2004 e 26/12/2007 – portanto,
no lapso temporal de 3 anos e 1 mês – teria oferecido, teria prometido e (através dos
subordinados Rogério Araújo e Márcio Faria) teria efetivamente pago “vantagens
indevidas no interesse de LULA”, referentes às taxas de 2% para a Diretoria de
Serviço, no valor de R$1.681.943,41 – correspondentes à participação de 42,5% da
ODEBRECHT no Consórcio ODEBEI (fl. 96).
59
Serviço, no valor de R$4.539.511,67 – correspondentes à participação de 50% da
ODEBRECHT no Consórcio ODEBEI PLANGÁS (fl. 98).
60
da licitação (cf. delação premiada de AUGUSTO RIBEIRO, nota 320, Anexo 49) e
contrato reduzido, após negociação, para o valor de R$639.400.000,00 (fl. 102).
61
A imputação e as supostas vantagens ilícitas no interesse do
Primeiro Defendente. A imputação parcial dos tipos legais de corrupção ativa e de
corrupção passiva está equacionada na denúncia, discorrendo que MARCELO
ODEBRECHT, no período compreendido entre 21/06/2007 e 03/08/2011 – portanto,
no lapso temporal de 4 anos e 2 meses –, em conjunto com Marcio Faria e Rogério
Araújo, teria oferecido, teria prometido e teria efetivamente pago “vantagens indevidas,
no interesse de LULA”, relativas às taxas de 2% para a Diretoria de Serviço, no valor
de US$4.816.980,35 (ou R$8.737.128,56) – correspondentes à participação de 33,33%
da ODEBRECHT no Consórcio RIO PARAGUAÇU (fl. 106).
III.4.1.9. – CONSIDERAÇÕES
62
A definição das vantagens ilícitas que teriam sido oferecidas, ou
prometidas, ou pagas por MARCELO ODEBRECHT, como sendo “no interesse de
LULA”, é gratuita ou frívola e, por isso, inteiramente abusiva: constitui uma
hipótese acusatória que, por razões políticas óbvias, os agentes da Força Tarefa
atuantes na Operação Lava Jato pretendem fazer prevalecer sobre os fatos, na linha
de conhecidas tendências paranoicorepressivas do capitalismo neoliberal.
55
CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito Penal – parte geral. Florianópolis: Empório do Direito, 2017,
7a edição, p. 132133.
56
CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito Penal – parte geral. Florianópolis: Empório do Direito, 2017,
7a edição, p. 133134.
63
não são indicadas nem mesmo sob a forma inútil de clichês de ofício – tão ao gosto dos
órgãos de acusação – na lacunosa e inepta denúncia do MPF.
64
psíquico da ação de solicitar no sujeito passivo, ou da ação de aceitar promessa no
funcionário público, ou como se materializou a ação de receber a vantagem indevida
em relação ao autor de corrupção passiva.
65
III.4.2 – A HIPOTÉTICA “AÇÃO CRIMINOSA DE LULA”
66
Essas hipóteses do discurso acusatório, aplicadas em toda a
narrativa da denúncia, aparecem claramente no seguinte trecho introdutório do capítulo:
67
Referir a posição central do Primeiro Defendente em ação
criminosa indeterminada, com o poder de prover altos cargos na administração
pública – inclusive, com delegação de poderes a José Dirceu, seu braço direito –
(denúncia, fl. 108, a), pode indicar aspectos dos poderes constitucionais de um
Presidente da República, mas não significa descrever as ações típicas do crime de
corrupção passiva, consistentes nas ações de solicitar, ou de receber, ou de aceitar
promessa de vantagem indevida.
68
demonstradas do imaginário repressivo da Força Tarefa do MPF atuante na Lava Jato,
sem qualquer relação com as ações incriminadas no tipo de corrupção passiva
imputado de forma leviana e temerária ao Primeiro Defendente.
69
ressonância judicialmidiáticoconservadora, além de ignorar que a atribuição
administrativa por tais nomeações pertence a outras esferas do Poder Executivo – no
caso, o Conselho de Administração da Petrobras.
70
denúncia (itens IV.1.1.1 a IV.1.1.8, acima) – para efeito de compensar a falta de prova
processual pela repetição neurótica de palavras rituais, como em cerimônias religiosas
–, com o objetivo de engendrar a convicção de que o Primeiro Defendente solicitou,
aceitou promessa e recebeu, direta e indiretamente, vantagens indevidas, que teriam
sido oferecidas e prometidas por Executivos da ODEBRECHT, concluindo que as
ações imputadas, (a) na modalidade indireta estariam esclarecidas pelas condutas de
PAULO ROBERTO COSTA, de ALBERT YOUSSEF, de RENAT DUQUE e de
PEDRO BARUSCO, e (b) na modalidade direta estariam comprovadas pelo regime do
“caixa geral”, através do expediente de dissimulação que seria demonstrado no
capítulo V, que trataria de outra igualmente hipotética imputação de outro crime – ou
seja, o suposto crime de lavagem de capitais (denúncia, fl. 109, letra b) –, significa, no
primeiro caso (além de ignorar o princípio constitucional da pessoal responsabilidade
penal), reconhecer formalmente que não existe nenhuma prova das imputações,
como demonstrado cabalmente no exame do capítulo respectivo (itens IV.1.1.1 a
IV.1.1.8, acima) e, no segundo caso, significa a tentativa ilegal, regida pela má-fé
acusatória, ou pelo embuste processual de substituir a prova real da tipicidade de um
crime (no caso, o suposto crime de corrupção passiva) pela futura prova ideal de da
tipicidade de outro crime (no caso, o também hipotético crime de lavagem de capitais),
imputado levianamente no Capítulo V. Essa é a verdadeira natureza embromadora da
denúncia.
71
i) primeiro, reaparece o frequente embuste processual de
transferir a prova para outra seção ou capítulo da
Denúncia e, nessa sempre indeterminada seção ou
capítulo, sem qualquer pudor ou sentimento de
desconforto, usar expressões embromadores do tipo
“como já demonstrado”, ou “como provado em capítulo
anterior”, com o propósito óbvio de induzir em erro os
órgãos jurisdicionais;
ii) segundo, assume como verdadeira a imputação leviana
do MPF, sobre a suposta tentativa do Primeiro
Defendente de impedir que NESTOR CERVERÓ
firmasse acordo de colaboração premiada com o MPF –
uma imputação radicalmente contestada na Resposta à
acusação (na Ação Penal n. 4075527.2016.4.01.3400, da
10a Vara Federal Criminal de Brasília, ainda pendente de
julgamento), em que a Defesa (a) não só nega a autoria
do fato, mas (b) afirma a própria inexistência do fato;57
iii) terceiro, o poder de orquestrar um esquema criminoso
pode, do ponto de vista abstrato ou geral, ser atribuído
não só ao Presidente da República, mas a qualquer
pessoa em posição de poder no sistema político do
Estado (como, por exemplo, os próprios membros da
Força Tarefa do MPS atuantes na Operação Lava Jato),
ou no sistema econômicofinanceiroempresarial da
sociedade civil, mas o que seria necessário demonstrar,
ao contrário, é a manifestação desse poder de orquestrar
um esquema criminoso do ponto de vista concreto,
57
Ver, entre outros, o seguinte trecho daquela Resposta à acusação (fl. 145): Ou, ainda, outro trecho da
mesma Defesa preliminar: “Se a tese de defesa é definida pela declaração do Peticionário, que nega ter
participado ou ter sabido de pagamentos de honorários para comprar o silêncio de NESTOR
CERVERÓ, então temos não apenas (a) uma negativa de autoria do fato, mas também (b) uma
afirmação de inexistência do fato de pagamento de honorários para comprar o silêncio de NESTOR
CERVERÓ.”
72
identificando não só o conteúdo geral abstrato das ações
imputadas, mas a forma concreta de sua materialização
no mundo da vida, com todas as circunstâncias de tempo,
de lugar, de modo e de meio de execução, de objeto
material, de resultado e de relação de causalidade, do
ponto de vista objetivo, além dos elementos psíquicos do
dolo, nos seus componentes conceituais de consciência
(dos elementos objetivos do tipo) e de vontade (como
energia psíquica projetada para realizar a ação típica), do
ponto de vista subjetivo. Essa demonstração a denúncia
não faz, em momento algum de sua longa e tediosa
narrativa.
73
e temerária!
74
eventualmente, influir na escolha deste ou daquele diretor, mas não responde, em
nenhuma hipótese, pelas infrações penais dos funcionários públicos nomeados –
exceto em hipóteses de coautoria ou de participação, que não é o caso da Denúncia –,
por mais elevados os cargos e mais relevantes as funções, por força do princípio da
responsabilidade penal pessoal (por dolo ou culpa) que exclui toda e qualquer forma
de responsabilidade penal objetiva.
75
“como as coisas funcionavam” é apenas um palpite pessoal sem eficácia probatória,
cuja maliciosa verbalização não ultrapassa o enunciado genérico dos símbolos
linguísticos utilizados, porque saber como as coisas funcionavam não descreve o modo
concreto do funcionamento das coisas, sem o qual nenhuma imputação pode ser feita.
76
a) primeiro, proviria dos delatores PAULO ROBERTO DUQUE
e PEDRO BARUSCO, em acordos de colaboração premiada igualmente inválidos,
porque prestados sob a coação insuportável da tortura da prisão e sem as garantias
constitucionais do contraditório e da ampla defesa;
77
A hipótese de que o Primeiro Defendente admitiu ter
conhecimento sobre a prática de “caixa dois” no financiamento de campanhas
políticas”, extraída de “diversas matérias publicadas na época” (denúncia, fl. 113 e
nota 363,) – na verdade, um clichê repetido nesta e em outras denúncias do MPF contra
o exPresidente LULA – é emblemático da atitude desleal da Força Tarefa do MPF na
Operação Lava Jato (montada para destruição política do Primeiro Defendente),
porque apresentada sem a necessária ressalva de que o Primeiro Defendente, na
época da notícia (que o texto da Denúncia não indica), de fato e realmente, “negava a
existência do Mensalão” e criticava o papel de Roberto Jefferson, que “trouxe à tona
o caixa dois do PT em parte de suas campanhas eleitorais” – ou seja, das campanhas
dele, Roberto Jefferson –, o que Primeiro Defendente classificou como uma ação
“contra a história do próprio partido” (publicado na FOLHA DE SÃO PAULO, em
08/11/2005) e, assim, contar uma meia-verdade, como faz a denúncia, significa
introduzir uma mentira total no processo penal.
78
objetivos e subjetivos do tipo de injusto imputado, revela a natureza maníaco
obsessiva de uma denúncia patológica que se exaure na tentativa frustrada de fazer
prevalecer a hipótese sobre os fatos.
79
revelado esquema criminoso, sobretudo pela nomeação e manutenção nos
cargos dos Diretores RENATO DUQUE e PAULO ROBERTO COSTA, para
que estes atendessem aos interesses espúrios de arrecadação de vantagens
indevidas para agentes e partidos políticos, verificou-se que, em relação aos
contratos referidos nos itens IV.1.1.1 a IV.1.1.8 acima, LULA solicitou
indiretamente e recebeu, direta e indiretamente, as vantagens indevidas
pagas pela ODEBRECHT.
80
Por economia processual, a resposta é uma só: em nenhum
espaço da denúncia!
58
Ver, entre outros, o seguinte trecho daquela Resposta à acusação (fl. 145): Ou, ainda, outro trecho da
mesma Defesa preliminar: “Se a tese de defesa é definida pela declaração do Peticionário, que nega ter
participado ou ter sabido de pagamentos de honorários para comprar o silêncio de NESTOR
CERVERÓ, então temos não apenas (a) uma negativa de autoria do fato, mas também (b) uma
afirmação de inexistência do fato de pagamento de honorários para comprar o silêncio de NESTOR
CERVERÓ.”
81
d) de novo a hipótese indemonstrada do interesse do ex
Presidente LULA na Refinaria Abreu Lima – RNEST, que não seria pela reduzida
política de Governo, mas sim pelas vantagens financeiras ilícitas de um projeto
bilionário para perpetuação no poder do PT e partidos da base aliada – diz a denúncia
do MPF, que demonstra tanta obsessão pelas hipóteses esquizofrênicas, quanto
desprezo pela prova dos fatos reais.
82
públicos, (c) destinados (i) para campanhas eleitorais do projeto ilícito de poder e (ii)
para o próprio ex-Presidente LULA, no valor final de R$75.434.399,44, fixado por uma
lógica matemática imponderável, muito semelhante à demonstração dos caracteres
típicos objetivos e subjetivos do tipo de injusto imputado pela denúncia.
83
foram realizadas as ações típicas de solicitar, de receber e de aceitar promessa de
vantagem indevida, do tipo de injusto de corrupção passiva, por um lado, e as ações
típicas convergentes de oferecer ou de prometer vantagem indevida a funcionário
público, do tipo de injusto de corrupção ativa, por outro lado.
84
a) o fato criminoso é constituído (i) de tipo de injusto e (ii) de
culpabilidade: 1) o tipo de injusto é configurado por uma ação típica e antijurídica
concreta: nesta fase processual, a Defesa examina apenas esta dimensão do fato
punível; 2) a culpabilidade é configurada pela imputabilidade, o conhecimento do
injusto e a exigibilidade de comportamento diverso;
59
REGENBOGEN, Arnim; MEYER,Uwe. Wörterbuch der Philosophischen Begriffe. Hamburg: Felix
Meiner Verlag, 2013, verbete “Zeit”.
85
concreta exige delimitação temporal, sem a qual nenhum fato pode existir no mundo
real.
60
REGENBOGEN, Arnim; MEYER,Uwe. Wörterbuch der Philosophischen Begriffe. Hamburg: Felix
Meiner Verlag, 2013, verbete “Raum”.
86
além de não descrever o tempo e o lugar dos fatos imputados, a denúncia não descreve
nem os meios, nem os modos pelos quais essas hipotéticas ações teriam sido realizadas
pelos autores respectivos – ou seja, é carente de toda e qualquer circunstância
concreta que configuraria a realidade históricosocial do fato imputado.
61
CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito Penal – parte geral. Florianópolis: Empório do Direito, 2017,
7a edição, p. 132133.
87
Em face do exposto, em razão das falhas essenciais da narrativa
do fato imputado, exibese de rigor a rejeição da denúncia por sua manifesta inépcia, à
luz do preceituado no artigo 395, II, do Código de Processo Penal.
88
O uso de delações premiadas na tentativa de dar sustentação à
tese acusatória merece considerações específicas sobre o tema. A denúncia se apoia nos
termos de colaboração premiada de criminosos confessos e a maioria deles já
condenados como: Pedro da Silva Corrêa de Oliveira Andrade Neto; Delcídio do
Amaral Gomez; Fernando Antônio Falcão Soares; Pedro Barusco Filho; Milton
Pascowitch; Ricardo Ribeiro Pessoa; Walmir Pinheiro; Fernando Antônio Guimarães
Hourneaux de Moura; Augusto Ribeiro Mendonça; Eduardo Hermelino Leite; Mario
Frederico de Mendonça Goes; Antonio Pedro Campello de Souza Dias; Flávio Gomes
Machado Filho; Otavio Marques de Azevedo; Paulo Roberto Dalmazzo; Rogerio Nora
de Sá; Nestor Cuñat Cerveró; Paulo Roberto da Costa; e Dalton dos Santos Avancini.
62
EUGÊNIO ZAFFARONI leciona com propriedade:“A impunidade de agentes encobertos e dos chamados
‘arrependidos’ constitui uma séria lesão à eticidade do Estado, ou seja, ao princípio que forma parte
essencial do Estado de Direito: (...) O Estado está se valendo da cooperação de um delinquente,
comprada ao preço da sua impunidade para ‘fazer justiça’, o que o direito penal liberal repugna desde
os tempos de Beccaria” (Crime Organizado, uma categoria frustrada, ano 1, p.45. – destacouse).
63
FREDERICO VALDEZ PEREIRA, Delação Premiada, Legitimidade e Procedimento, 2013, p. 141.
89
03/02/2016) 64 65 66 67 68.
64
GIUSEPPE DI CHIARA vai além:“As declarações incriminadoras do co-imputado não podem ser
consideradas nem meio de prova, nem indício: são unicamente uma notitia criminis, utilizável na fase
pré-processual, e constituem uma indicação preciosa para ulteriores atividades dos órgãos de
investigação” (Chiamata di correo, garantismo colletivo e diritto de difesa, cit., p. 253254).
65
Na mesma linha: HC 127.483/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe 04/02/2016.
66
No direito português, tal posição também é adotada, conforme se extrai da lição de TERESA
PIZARRO: “No conjunto de normas jurídico-processuais em sede de prova quanto ao depoimento de
arguidos em processo-crime, o valor probatório do depoimento de um co-arguido no que aos restantes
diz respeito é legítimo objeto de assaz diminuída credibilidade” (O Valor Probatório do depoimento do
coarguido no processo penal português, Revista do Ministério Público, Lisboa, v. 19, n. 74, p. 47, abr/jun
1998).
67
Nos Estados Unidos, a imputação a terceiros sempre foi vista com muita ressalva, razão pela qual se faz
necessária a “cross examination” e a garantia da “corroboration”, que versa a imprescindibilidade de se
cruzarem as declarações do colaborador com os demais elementos de prova e que suas acusações sejam
submetidas ao contraditório durante os debates orais. O “right of confrontation”, ou seja, o direito que o
imputado tem de se confrontar com seu acusador, com a finalidade de comprovar a regularidade do
testemunho veda a admissibilidade em juízo, como meio de prova, do testemunho direto do accomplice, o
que impede que as declarações fora do contraditório sejam valoradas pelos jurados como provas aptas
para condenação.
68
Na doutrina espanhola a necessidade da existência de outros elementos probatórios que possam
respaldar as imputações do colaborador também é exigida. Oportuno trazer a lume os seguintes julgados
da Suprema Corte Espanhola:“Las declaraciones incriminatorias de los coimputados, cuya valoracion es
legítima desde la perspectiva constitucional, dado su carácter testimonial, carecen de consistência plena
como prueba de cargo cuando, sendo únicas, no resultam minimamente corroboradas por outras
pruebas” (STC 147/2004).
90
penal, pois os elementos decorrentes daquele acordo processual, definitivamente, não
possuem valor probatório mínimo.
69
Nesse sentido são os depoimentos de Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró, Pedro Barusco, Dalton dos
Santos Avancini, Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, Eduardo Hermelino Leite, Alberto Youssef,
Fernando Soares, Milton Pascowitch nos autos da ação penal 504651294.2016.4.04.7000 . Os
colaboradores, unanimemente, negaram qualquer envolvimento do Primeiro Defendente nos delitos
supostamente praticados em detrimento da Petrobrás.
91
1) Os próprios diretores rechaçaram a interferência do Primeiro
Defendente na sua nomeação e manutenção nas diretorias da Petrobrás e
afirmaram que jamais trataram de assuntos indevidos com o ex
presidente70. Não há qualquer elemento que possa aferir o recebimento de
vantagens de forma indireta através dos três diretores;
70
Depoimentos de Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró na ação penal 504651294.2016.4.04.7000/PR
92
Neste ponto merece desde logo um registro do absurdo: como
poderia qualquer membro do Instituto Cidadania ter solicitado um imóvel que foi
recusado —, como exposto acima?
“A justa causa identifica-se com a existência de uma causa jurídica e fática que
legitime e justifique a acusação (e a própria intervenção penal). (...)A acusação
não pode ser leviana e despida de um suporte probatório suficiente para, à luz
do princípio da proporcionalidade, justificar o imenso constrangimento que
representa a assunção de condição de réu.”71 (destacouse)
71
LOPES JR., Aury. Direito Processual Penal, 12ª edição, 2015, p.195
93
Distinto não é o entendimento de NUCCI, cuja doutrina aduz:
“se inexistir motivo fundamentado para o processo seguir seu curso, pois, na
esfera criminal, é sempre um constrangimento grave ser acusado
formalmente da prática deu uma infração penal, deve o juiz rejeitar a
denúnciaou queixa.” 72 (destacouse)
“a noção de justa causa evoluiu, então, de um conceito abstrato para uma ideia
concreta, exigindo a existência de elementos de convicção que demonstrem a
viabilidade da ação penal(...) A ausência desse lastro probatório ou da
probable cause autoriza a rejeição da denúnciae, em caso de seu recebimento,
faltará justa causa para a ação penal”.73
72
NUCCI,Guilherme de Souza, Manual do Processo Penal e Execução Penal, 12ª edição, 2015, p. 146.
73
BADARÓ, Gustavo. Processo penal. 3. ed., rev. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.
pg. 163
74
HC 86423, HC 80.748.
94
consideradas as graves implicações de ordem ético-jurídica que dele decorrem
- converter-se em instrumento de abuso estatal. Precedentes. A discussão em
torno da ausência de justa causa para a persecução penal depende,
essencialmente, quando suscitada em sede de habeas corpus, da
incontestabilidade dos fatos subjacentes à acusação criminal. Esse debate, no
âmbito processual do remédio heróico, não se viabiliza, sempre que se registre
dúvida fundada a propósito dos fatos alegados. É que a liquidez dos fatos
constitui requisito inafastável na apreciação da justa causa penal, pois o
remédio processual do "habeas corpus" não admite dilação probatória, não
permite o exame aprofundado de matéria fática e nem comporta a análise
valorativa de elementos de prova. Precedentes. APLICABILIDADE, AO
PROCESSO PENAL MILITAR, DO INSTITUTO DO SURSIS PROCESSUAL
(LEI Nº 9.099/95, ART. 89), NOS CRIMES MILITARES PRATICADOS ANTES
DA VIGÊNCIA DA LEI Nº 9.839/99 - ULTRATIVIDADE DA LEI PENAL
BENÉFICA - IMPOSIÇÃO CONSTITUCIONAL (CF, ART. 5º, XL). - A Lei nº
9.839/99 (lex gravior) - que torna inaplicável à Justiça Militar a Lei nº
9.099/95 (lex mitior) - não alcança, no que se refere aos institutos de direito
material (como o do sursis processual, p. ex.), os crimes militares praticados
antes de sua vigência, ainda que o inquérito policial militar ou o processo
penal militar sejam iniciados posteriormente. Precedentes do STF. (HC
80.542/MG, Relator: Celso de Mello, 2ª Turma.) (destacouse)
95
Com efeito, as imputações dirigidas ao Primeiro Defendente
baseiamse — sem qualquer lastro probatório — na afirmação de que ele ocuparia
posição de comando em organização criminosa que agiu em detrimento da Petrobras.
96
Juízo –, fazse necessário e indispensável que se aguarde o término do apuratório no
Inquérito 3.989 sobre possível participação do Primeiro Defendente na apontada
organização criminosa.
É o que se pleiteia.
— IV—
DA ATIPICIDADE DAS CONDUTAS
DA VERDADEIRA VERSÃO DOS FATOS DETURPADOS PROPOSITADAMENTE PELO
PARQUET
97
IV.1. DO IMÓVEL DA RUA HABERBECK BRANDÃO, Nº 178:
“(...)
98
Esse gigantesco acervo documental, organizado e aberto a consulta
pública por intermédio de equipamentos digitais, será o cerne de uma
pioneira elaboração museológica que apresentará aos milhares de
visitantes – jovens, crianças, estudantes e cidadãos em geral – uma
educativa síntese sobre a longa caminhada do povo brasileiro até chegar
ao sentimento otimista vivido pela Nação neste início de século 21, como
fruto de sua consolidação democrática” (fls. 23).
99
Na oportunidade, mais especificamente no dia 26.07.2011, o
arquiteto Marcelo Carvalho Ferraz acompanhou visita ao imóvel da Rua Dr:
Haberbeck Brandão, nº 178, a convite do Instituto, tendo considerado o referido imóvel
inadequado para a instalação do Memorial da Democracia.
(...)
(...)
100
Tanto não havia interesse naquele imóvel da Rua Haberbeck
Brandão, nº 178 que o Instituto requereu à Prefeitura de São Paulo (doc. 06), logo
depois, em 02 de dezembro de 2011, a cessão de uso de um imóvel consistente em área
pública de 4.432m² no bairro da Luz, centro da cidade de São Paulo, para o fim
específico da implementação do “Memorial da Democracia”.
101
Em 10.02.2014 foi proferida decisão judicial naqueles autos
deferindo a antecipação dos efeitos da tutela, o que impediu a instalação do “Memorial
da Democracia” naquela localidade (doc. 10).
102
o dia 17.09.2010. Registrese que a subcláusula única da cláusula primeira do referido
Termo Aditivo previa a extensão da vigência do contrato por iguais e sucessivos
períodos, limitados a vinte e quatro meses.
“(...) Pelo presente, em atendimento ao que dispõe o artigo 27, da Lei 8.245/91,
estou dando ciência da minha intenção de vender o imóvel atualmente locado
pelo Notificado, situado na Avenida Francisco Prestes Maia n. 1501, apto 121
(cobertura), Condomínio Hill House, Centro, em São Bernardo do Campo – SP,
informando-o (a) da existência de interessado(a), que oferece o preço de R$
550.000,00 (QUINHENTOS E CINQUENTA MIL REAIS) à vista, já com os
honorários da Intermediadora, podendo ainda, ser estudada proposta quanto a
forma de pagamento.”
103
A relação entre os Defendentes e o imóvel em tela, portanto,
decorre de um contrato de locação, de índole estritamente privada.
V – DA CORRUPÇÃO PASSIVA
O tipo legal de corrupção passiva (art. 317, caput e §1o, c/c art.
327, §2o, CP), imputado ao Primeiro Defendente não se caracteriza, como se
demonstra, em síntese, a seguir:
104
promessa dessa vantagem, jamais existiu no psiquismo do
acusado;
75
Greco, Rogério. Código Penal: comentado – 10. Ed. – Niteroi, RJ: Impetus, 2016. Pg. 1075
105
Por meio da segunda modalidade prevista no tipo, ocorrerá a consumação
quando o agente, sem que tenha feito qualquer solicitação, receber vantagem
indevida.
O último comportamento típico diz respeito ao fato de o agente tão somente
aceitar promessa de tal vantagem.
76
Faria, Bento de . Código Penal brasileiro. 2. Ed. Rio de Janeiro: Record, 1959. V. 7, pg. 101.
77
Mirabete, Julio Fabrini, Manual de direito penal, volume 3: parte especial, Arts. 235 a 361 do CP – 30
ed. re., atual. e ampl. – São Paulo: Atlas, 2016. Pg. 303.
106
Ou, em outras palavras, (a) a prova dos elementos típicos do
crime de corrução passiva é transferida (b) para a prova dos elementos típicos do crime
de lavagem de dinheiro; ou, ainda de outra forma, segundo a Denúncia, a prova da
tipicidade do crime de corrupção passiva depende da prova da tipicidade do crime de
lavagem de dinheiro.
Pois bem.
Escolha de Sofia?
107
alude ao caixa geral direcionado ao Partido dos Trabalhadores ou ao chamado “núcleo
operacional”.
Absurdo!
108
Evidentemente, nenhum elemento concreto foi apresentado para
amparar tal afirmação.
109
Primeiro Defendente, em ato de lavagem de dinheiro narrado no item V.2, da
denúncia.
“QUE havia determinação de MARISA para que tal assunto não fosse levado
a LUIS INÁCIO LULA DA SILVA pelo DECLARANTE e por outras pessoas
até que o tema fosse tratado diretamente por ela com o ex-Presidente.”
(denúncia, fls. 122-3, Anexo 226, Depoimento de JOSÉ CARLOS BUMLAI)
(grifamos).
110
Segunda Defendente sobre o imóvel não possuiria relevância típica, do ponto de vista
do crime de corrupção passiva, mas (b) o desconhecimento de eventual compra do
imóvel por parte do Primeiro Defendente – como, aliás, este tem sempre afirmado –,
possui toda relevância típica, do ponto de vista do tipo de corrupção passiva, cuja
natureza dolosa excluiria toda e qualquer imputação.
111
PALOCCI, convenientemente incumbido da “gerência” de uma suposta “caixa geral” de
propina do Partido dos Trabalhadores perante o Grupo ODEBRECHT, além do auxílio
eficiente de BRANISLAV KONTIC. (denúncia, fls. 126126)
112
Emails de MARCELO ODEBRECHT dirigidos a Paulo Melo, João
Lovera (executivo da ODEBRECHT), BRANISLAV KONTIC e ROBERTO
TEIXEIRA, apresentados pela denúncia como evidência das tratativas para
aquisição do imóvel, os quais teriam, pelas referidas comunicações eletrônicas,
(i) pleno conhecimento da compra do imóvel por ODEBRECHT, (ii) de sua
destinação para instalação do Instituto LULA, através da intermediação de
DAG CONSTRUTORA LTDA., implementandose, assim, (iii) o
oferecimento e o pagamento de vantagem indevida ao Primeiro Defendente,
com (iv) a adesão e participação de ANTONIO PALOCCI e de BRANISLAV
KOTIC na conduta do Primeiro Defendente (denúncia, fls. 128129);
113
Quebra de sigilo bancário de DAG CONSTRUTORA LTDA.
confirmaria (i) cheque administrativo de R$191.978,12 – estornado por
pagamento em dinheiro e (ii) cheque administrativo de R$408.021,97, entregue
à corretora como o valor avençado da compra (denúncia, fl. 130);
114
V.4 - A INSÓLITA FUNDAMENTAÇÃO DA IMPUTAÇÃO DA DENÚNCIA
115
signatários da denúncia, por exemplo:
116
E assim, de incongruência em incongruência, ou de disparate
em disparate prossegue a denúncia extravagante e ilegal da Força Tarefa do MPF
atuante na Operação Lava Jato.
117
V.5.1 - O DOMÍNIO DO FATO COMO CRITÉRIO DOS CHAMADOS DELITOS GERAIS
78
ROXIN, Strafrecht, 2003, v. II, § 25, n. 10.
79
ROXIN, Strafrecht, 2003, v. II, § 25, n. 1315.
118
de injusto, (b) mediata, como utilização de outrem para realizar o tipo de injusto,
e (c) coletiva, como decisão comum e realização comum do tipo de injusto;
“Na maioria dos delitos, segundo uma teoria hoje completamente dominante e
pela primeira vez trabalhada de modo abrangente por mim, o domínio do fato
é o ponto de vista decisivo para a autoria: figura central do processo delitivo é
quem domina o acontecimento conducente à realização do delito, enquanto o
partícipe, na verdade, também influencia, mas não configura de modo decisivo
a sua execução. Eu falo aqui de “delitos de domínio”. Em delitos gerais, como
homicídio, lesões corporais, dano, furto e outros, autor é sempre a figura
central e, com isso, quem tem o domínio do fato, sozinho ou com outros.”
(Tradução livre)81
119
enquanto o não portador do dever (o chamado extraneus) só pode ser
partícipe;
“Também existem delitos nos quais somente aquele que lesionou um dever
especial, não adequado a qualquer um, está no centro de uma realização típica.
Estes delitos eu denomino delitos de dever. Assim, por exemplo, no tipo de
peculato (§ 266), a ação típica não é descrita como nos delitos de domínio,
através de determinados modos de comportamento exterior, mas através da
lesão de um dever de cuidado do patrimônio. Nestes casos é autor (= figura
central do acontecer típico) quem (de qualquer modo) produz o resultado
através de uma lesão de dever especial típico específico dele, enquanto alguém,
que não é alcançado por este dever (portanto, por exemplo, não tem nenhum
dever de cuidado especial em relação à vítima), de modo inteiramente
independente da importância de sua contribuição exterior, somente pode ser
partícipe.” (Tradução livre)83
82
ROXIN, Claus. Strafrecht Allgemeiner Teil. München: BECK, vol. II, 2003, p. 910, n. 1315.
83
ROXIN, Claus. Strafrecht Allgemeiner Teil. München: BECK, vol. II, 2003, p. 10, n. 14. “Es gibt aber
auch Delikte, bei denen im Zentrum einer Tatbestandsverwirklichung nur derjenige steht, der eine
besondere, nicht jedermann treffende Pflicht verletzt hat. Diese Delikte nenne ich Pflichtdelikte. So wird
z. B. beim Tatbestand der Untreue (§ 266) die Tatbestandshandlung nicht wie bei den Herrschaftsdelikten
durch bestimmte äussere Verhaltensweisen, sondern durch die Verletzung einer
Vermögensfürsorgepflicht beschrieben. In diesen Fällen ist Täter (= Zentralgestalt des
Deliktsvorganges), wer den Erfolg (auf welche Weise auch immer) durch eine Verletzung seiner
tatbestandsspezifischen Sonderpflicht verletzt, während jemand der von dieser Pflicht nicht getroffen wird
(also z. B. keine Vermögensfürsorgepflicht gegenüber dem Opfer hat), völlig unabhängig vom Gewicht
seines äusseren Tatbeitrages immer nur Teilnehmer sein kann.“
120
V.5.2 - AS FORMAS DE DOMÍNIO DO FATO NOS DELITOS DE DOMÍNIO
84
ROXIN, Claus. Strafrecht Allgemeiner Teil. München: BECK, vol. II, 2003, § 25, p. 19122, números
marginais 38310.
121
“Como explicitado acima, a prova colhida evidenciou que LULA, pelo menos
entre 2003 e 2010, na condição de Presidente da República, e depois na
condição de líder partidário com influência no governo vinculado ao seu
partido e de ex-Presidente em cujo mandato haviam sido assinados contratos
e aditivos que tiveram sua execução e pagamento prolongados no tempo,
autorizou a nomeação e manteve, por longo período de tempo, Diretores da
Petrobras comprometidos com a geração e arrecadação de propinas para a
compra do apoio dos partidos de que dependia para formar confortável base
aliada, garantindo o enriquecimento ilícito dos parlamentares dessas
agremiações, de si próprio, dos detentores dos cargos diretivos da estatal e de
operadores financeiros, e financiando caras campanhas eleitorais em prol de
uma permanência no poder assentada em recursos públicos desviados.”
(Denúncia, fl. 75)
122
corrupção, o triplo objetivo de enriquecer ilicitamente, obter recursos para um
projeto de poder e garantir a governabilidade. Os atos de LULA, quando
analisados em conjunto e em seu contexto, revelam uma ação coordenada por
ele, desde o início, com a nomeação de agentes públicos comprometidos com o
desvio de recursos públicos para agentes e agremiações políticas, como foi o
caso dos Diretores da Petrobras, até a produção do resultado, isto é, a efetiva
corrupção para atingir aquelas três finalidades.” (denúncia, fl. 107)
“Nessa toada, LULA, mantendo contato próximo com diversos executivos das
empreiteiras que fraudaram as licitações da Petrobras e tendo papel decisivo
na nomeação de Diretores responsáveis por garantir o sucesso das escolhas
do cartel, era peça central do esquema, recebendo, direta e indiretamente, as
vantagens indevidas dele decorrentes.” (denúncia, fl. 113)
123
pressupõe a realização pessoal da lesão do dever, excluída das ações reais imputadas ao
Primeiro Defendente.
85
E. Magalhães Noronha in Celso Delmanto, Código penal comentado, Ed. Renovar, RJ, 6ª ed., pág. 637
124
Muito menos o Primeiro Defendente teve qualquer participação
na sua nomeação para tais cargos — uma vez que se trata de ato privativo do Conselho
de Administração da Companhia, conforme dispõe o seu Estatuto.
86
http://www2.planalto.gov.br/acessoainformacao/institucional/presidencia/estrutura
organizacional/organograma.jpg/view
125
“Denúncia: Deve descrever a relação entre a ‘vantagem econômica’ recebida
ou aceita e a prática ou omissão de fato inerente à função pública do agente,
sob pena de trancamento da ação penal por falta de justa causa” (Inq. 7854
DF, STF, rel. Min. Ilmar Galvão, j. 8.11.95, mv, DJU 7.12.00) (Celso
Delmanto, obra citada, pág. 635 – destacouse).
-----------------------------------------------------------------------------------------------
“Ato de ofício: Para a configuração da corrupção passiva deve ser apontado
ato de ofício do funcionário, configurador de transação ou comércio com o
cargo então por ele exercido.” (STF, Pleno, mv, APn 3073 –DF, rel. Min.
Ilmar Galvão, DJ 13.10.95 destacouse).
-----------------------------------------------------------------------------------------------
“Para a configuração do delito de corrupção passiva é necessário que o ato
de ofício em torno do qual é praticada a conduta incriminada seja da
competência ou atribuição inerente à função exercida pelo funcionário
público (Precedentes do STJ e do STF) (STJ, REsp. 825340/MG, Rel. Min.
Felix Fischer, 5ª T., DJ 25/9/2006, p. 305 – destacouse).”
87
STF, Pleno, mv., APn 3073 DF, rel. Min. Ilmar Galvão, mv., DJ 13.10.95). No mesmo rumo: STJ,
APn 224 SP, un., rel. Min. Fernando Gonçalves, DJ 23.10.08; TRF 1ª R., ACR 2013.34.00.0338288 DF,
un., rel. Des. Federal Tourinho Neto, DJF1 08.02.13
126
ocorridos após o Primeiro Defendente haver deixado a função — quando ele não
poderia praticar qualquer ato de ofício!
Vejamos.
127
As condutas incriminadas vêm sendo analisadas pela doutrina
como distintas e, por isso, constitutivas de um tipo penal de ação múltipla ou de
conteúdo variado.88
Pois bem.
88
BARROS, Marco Antônio de Lavagem de capitais e obrigações civis correlatas, p. 6465; Gustavo
Henrique Badaró e Pierpaolo Cruz Bottini, Lavagem de Dinheiro, p. 63.
89
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal econômico, volume 2 – São Paulo:
SARAIVA, 2016, Pg. 459.
128
localização, disposição, movimentação ou propriedade do produto da infração penal. Ou
seja, não se pode cogitar do crime de lavagem de dinheiro.
90
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal econômico, volume 2 – São Paulo:
SARAIVA, 2016, Pg. 462.
129
Ainda sobre a hipótese indemonstrada da denúncia, o Primeiro
Defendente teria comandado e garantido o esquema de contratos de licitação fraudados
e, assim, teria obtido vantagens indevidas pagas continuamente pela ODEBRECHT,
através de um “caixa geral” alimentado com vantagens ilícitas da corrupção. E,
reproduzindo hipótese rejeitada na imputação de corrupção passiva, retoma a ideia
trôpega de que o Primeiro Defendente não estaria vinculado a contratos específicos,
mas a uma hipotética viabilização do esquema geral, pelo qual a ODEBRECHT
direcionaria recursos para o Primeiro Defendente, originários de lucros criminosos de
cartel, de fraudes à licitação, de organização criminosa e outros, conforme um surrado
discurso estruturado em clichês midiáticos e lugares comuns do punitivismo
contemporâneo. (denúncia, fl. 139)
91
GOLDSTEIN, Brooke. Lawfare: Reat Threat ou Illussion? (05 November, 2010).
130
VI.2.1 - DO ATO DE LAVAGEM INERENTE AO IMÓVEL DA AVENIDA FRANCISCO PRESTES
MAIA, SÃO BERNARDO DO CAMPO/SP
131
Em busca e apreensão realizada no Ap. 122, residência dos
Defendentes e sede de LILS Palestras, o síndico do prédio informou que o Ap. 121, do
mesmo prédio, também era utilizado pelos Defendentes. Medida de busca domiciliar no
imóvel, que teria sido autorizada pela Segunda Defendente, mostrou estar mobiliado,
limpo, aparentemente frequentado pelos dois, além de uma conexão direta entre os
apartamentos. O apartamento teria sido alugado pelo PT, no primeiro mandato do
Primeiro Defendente, cf. notícia jornalística; o portal da transparência da Presidência
da República informa que o imóvel foi alugado pela Presidência da República, durante o
segundo mandato do Primeiro Defendente; após o término do mandato, em fevereiro
de 2011, o imóvel teria sido alugado pela Segunda Defendente, após ter sido adquirido
por GLAUCOS DA COSTAMARQUES, segundo concepção atribuída pela denúncia
ao advogado ROBERTO TEIXEIRA. (denúncia, 175)
132
Assim, em 01/02/2011, e com toda legitimidade, GLAUCOS DA
COSTAMARQUES, como cessionário de direitos e como locador, celebrou contrato de
locação do imóvel com a Segunda Defendente, como locatária, que a denúncia insiste
em definir como “simulado contrato de locação”, na sua indefectível compreensão
defeituosa dos fatos (denúncia, fl. 174175).
133
De novo, a pretensa prova de autoria é um sumário de hipóteses
idiossincráticas ou de clichês burocráticos distribuídos pelo texto da insana narrativa
acusatória, todos sobejamente conhecidos e devidamente destruídos ou desmascarados
pela defesa no curso da Resposta à acusação.
134
Igualmente descabidas são as imputações inerentes à inexistente
aquisição do imóvel da Rua Haberbeck Brandão para o Instituto Luiz Inácio Lula da
Silva, como antes exposto e será a seguir fundamentado.
135
Segundo a denúncia, as três operações indicadas teriam sido
realizadas para dificultar o rastreamento de valores obtidos ilicitamente por
ODEBRECHT e, assim, dissimular a origem, disposição, movimentação e propriedade
de R$ 7.600.000,00, que seriam provenientes, direta ou indiretamente, de crimes de
organização criminosa, de cartel, de fraude à licitação e de corrupção, praticados por
executivos da ODEBRECHT contra a administração federal. Entretanto, arquivo
eletrônico arrecadado identificou minuta de confissão de dívida da DAG em favor de
ODEBRECHT, no valor de R$ 7.274.735,16, garantido por duas Notas Promissórias
emitidas por DAG, uma no valor da dívida confessada e outra no valor de
R$2.182.420,55 (para cobrir a mora futura), com vencimento em 30/12/2011, além de
cláusulas dizendo (a) que o credor teria provido recursos para o devedor adquirir o
imóvel da Rua Haberbeck Brandão, 178 e (b) que na hipótese de não pagamento da
dívida, haveria dação em pagamento do imóvel à ODEBRECHT. A denúncia conclui
que a minuta apreendida corroboraria a intenção de dissimular os sujeitos da comprae
venda do imóvel e a origem dos valores da transação, com o objetivo de conferir
aparência de regularidade às transferências. (denúncia, fls. 147/148)
136
pública lavrada em 28/09/2012, levada em registro em 30/05/2014, com o seguinte
comentário destacado na narrativa:
137
249), é descrita textualmente pelo Primeiro Defendente, em resposta escrita à Polícia
Federal, reproduzida no Anexo 273, na qual informa (a) que esteve no imóvel uma vez,
acompanhado de dirigentes do Instituto da Cidadania e (b) que a compra do imóvel foi
recusada, assim reproduzida na denúncia:
138
psíquica do imóvel, em que a satisfação do impulso aquisitivo
representaria a vantagem indevida da corrupção passiva e a dissimulação
ou ocultação desse bem ou valor nos insondáveis processos subjetivos da
vida psíquica constituiria a mais refinada modalidade de lavagem de
capitais arquitetada pelo cérebro humano.
139
O pretensioso capítulo intitulado “A prova de autoria” é um
sumário das hipóteses indemonstradas ou idiossincráticas, dos chavões genéricos, dos
clichês burocráticos distribuídos pelo texto da narrativa acusatória, devidamente
destruídos ou desmistificados pela Defesa no curso desta Resposta à acusação.
140
9. A visita do Primeiro Defendente no imóvel, com dirigentes do
Instituto LULA, além de MARISA, LOVERA e MARCELO FERRAZ,
em 26/07/2011;
141
segundo a “interpretação” (?) da denúncia, que aprecia os superlativos:
plena (consciência), máxima (participação), total (responsabilidade) etc.
142
arma de guerra, do ponto de vista político, representasse a mais reles ou desprezível
prova de autoria, aparece a conclusão:
143
VI. 3 – AUSÊNCIA DE DOLO ESPECÍFICO DA SUPOSTA LAVAGEM DE DINHEIRO
144
praticado mediante a apropriação de verba de natureza pública. 3. Impõe-se,
assim, mediante emendatio libelli (art. 383 do CPP), a modificação da
qualificação jurídica dos fatos objeto da denúncia, para condenar o réu pelo
crime do art. 180, § 6º do Código Penal. 4. Nesses termos, é procedente a
denúncia. (APn 472/ES, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, Corte
Especial, julgado em 01/06/2011, DJe 08/09/2011) (Destacouse)
-----------------------------------------------------------------------------------------------
EMENTA: PENAL. PROCESSO PENAL. EMBARGOS INFRINGENTES E DE
NULIDADE. ART. 334 DO CP. ART. 22 DA LEI 7.492/86. INCISOS V E VI DO
ART. 1º, § 1º, I E § 2º, I, DA LEI Nº 9.613/98. PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO.
ABSORÇÃO DO CRIME DE EVASÃO DE DIVISAS PELO DELITO DE
LAVAGEM DE DINHEIRO. POSSIBILIDADE. LAVAGEM DE
DINHEIRO. ELEMENTO SUBJETIVO. AUSÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO. 1. Crime contra o sistema financeiro nacional que teria se
consumado em momento anterior ao delito de descaminho, em face da
exigência de diversos exportadores, para que recebessem, de forma antecipada,
um percentual, ou mesmo a totalidade do valor correspondente ao pagamento
das mercadorias importadas, feito através de depósitos em contas abertas em
bancos internacionais sediados no exterior. 2. Branqueamento de capitais que
se iniciou pela dissimulação da origem dos valores ilícitos, obtidos através do
crime antecedente de descaminho, por meio da dispersão dos valores em
diversas contas de pessoas físicas e jurídicas, que funcionavam, muitas vezes,
como testas-de-ferro ou de fachada. 3. Quantias que foram empregadas para a
realização de outras importações e pagamento dos fornecedores localizados no
exterior, através do crime de evasão de divisas, procurando dar a elas uma
aparência de licitude, razão pela qual se constituiu numa das etapas para
emprestar efetividade ao delito de lavagem de dinheiro, sendo por este
absorvido. 4. Hipótese em que não restou devidamente evidenciado nos autos
o dolo de corréu quanto ao delito previsto na Lei 9.613/98, não se podendo
presumir que ele soubesse da elevada probabilidade da natureza e origem
criminosas dos bens, direitos e valores envolvidos, em face de ter sido
condenado pelo crime contra o sistema financeiro nacional. (TRF4, ENUL
2000.71.00.041264-1, Quarta Seção, Relator TADAAQUI HIROSE, D.E.
10/02/2010). (Destacouse)
145
É o que fica postulado.
—VII —
DOS REQUERIMENTOS
146
relação aos Defendentes.
(iii) Seja determinado ao MPF: que anexe a estes autos (i) cópia de
todas as propostas de delação premiada e eventuais alterações ou
modificações apresentadas pelos Senhores: Pedro da Silva Corrêa
de Oliveira Andrade Neto; Delcídio do Amaral Gomez; Fernando
Antônio Falcão Soares; Pedro Barusco Filho; Milton Pascowitch;
Ricardo Ribeiro Pessoa; Walmir Pinheiro; Fernando Antônio
Guimarães Hourneaux de Moura; Augusto Ribeiro Mendonça;
Eduardo Hermelino Leite; Mario Frederico de Mendonça Goes;
Antonio Pedro Campello de Souza Dias; Flávio Gomes Machado
Filho; Otavio Marques de Azevedo; Paulo Roberto Dalmazzo;
Rogerio Nora de Sá; Nestor Cuñat Cerveró; Paulo Roberto da
Costa; e Dalton dos Santos Avancini; (ii) a íntegra dos termos de
colaboração firmados com os citados delatores e, ainda, eventuais
depoimentos complementares (todos); (iii) todos os áudios e
vídeos relativos às delações premiadas celebradas com os citados
colaboradores, inclusive de eventuais depoimentos
complementares; (iv) que traga aos autos o acordo de delação
premiada firmado com Sérgio Machado e todos os seus anexos,
depoimentos, vídeos, uma vez que o material foi mencionado no
item III.1.4 (fl 26) da Denúncia mas não instruiu a peça; (v) sejam
147
anexados aos autos os termos de colaboração premiada — com
todos os anexos e declarações — firmados com os seguintes
colaboradores, que foram referidos na denúncia mas não
instruíram aquele petitório: Pedro da Silva Corrêa de Oliveira
Andrade Neto, Fernando Antônio Falcão Soares, Pedro José
Barusco Filho, Milton Pascowitch, Ricardo Ribeiro Pessoa,
Walmir Pinheiro, Fernando Antônio Guimarães Hourneaux de
Moura, Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, Eduardo Hermelino
Leite, Mario Frederico de Mendonça Goes, Flávio Gomes
Machado Filho, Otavio Marques de Azevedo, Paulo Roberto
Dalmazzo, Rogerio Nora de Sá, Julio Gerin de Almeida Camargo,
Antonio Pedro Campello de Souza Dias e Dalton do Santos
Avancini;
92
Os contratos se referem, segundo consta, i) REPAR: contrato celebrado com o CONSÓRCIO
CONPAR para a execução das obras de ISBL da Carteira de Gasolina e UGHE HDT de instáveis da
Carteira de Coque da Refinaria Getúlio Vargas – REPAR; ii) RNEST: contrato celebrado com o
CONSÓRCIO REFINARIA ABREU E LIMA 228, para a execução da terraplenagem da área destinada à
148
incluindo, mas não se limitando, a informações sobre a data de
admissão e forma de admissão, todos os cargos ocupados, e
órgãos envolvidos na designação de cada cargo exercido na
Companhia pelas seguintes pessoas: Delcídio do Amaral Gomez,
Nestor Cuñat Cerveró, Paulo Roberto da Costa e Pedro Barusco;
(v) todos os elementos relativos aos pagamentos realizados pela
Companhia ao Grupo Odebrecht em relação aos oito contratos
indicados na denúncia, incluindo, mas não se limitando, aos
respectivos comprovantes de pagamento, com a indicação das
datas, locais e meios usados para a realização de tais pagamentos.
Desse modo pugnase pela intimação da PETROBRAS, na
pessoa do responsável por tal atribuição, no seguinte endereço:
Av. Nilo Peçanha, 151, Edifício Castelo, Centro, Rio De Janeiro,
RJ, CEP 20020100;
construção e montagem da Refinaria do Nordeste – RNEST; iii) COMPERJ: contrato celebrado com o
CONSÓRCIO TERRAPLANAGEM COMPERJ, para a execução de serviços de terraplenagem,
drenagem e anel viário da área do futuro Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro – COMPERJ; iv)
TECAB: contrato celebrado com o CONSÓRCIO ODEBEI, para a execução das obras de construção e
montagem da Unidade de Processamento de Condensado de Gás Natural II – UPCGN II e seus offsites, e
da ampliação dos Sistemas de Compressão, Ar Comprimido e de Água de Resfriamento do Terminal de
Cabiúnas – TECAB; v) TECAB: contrato celebrado com o CONSÓRCIO ODEBEI PLANGÁS, para a
execução dos serviços de Implementação da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPCGN III),
seus Offsites, Interligações e Utilidades (Torre de Resfriamento e Sistema de Ar Comprimido) do
Terminal de Cabiúnas – TECAB; vi) TECAB: contrato celebrado com o o CONSÓRCIO ODEBEI
FLARE, para a construção e montagem do novo sistema de Tocha do tipo Ground Flare e suas
interligações no Terminal de Cabiúnas – TECAB; vii) GASDUC III: contrato celebrado com o
CONSÓRCIO ODETECH, contratado pela TRANSPORTADORA ASSOCIADA DE GÁS S.A – TAG,
subsidiária integral da Petrobras GÁS S.A, para a execução das obras de construção e montagem do
gasoduto GASDUC III – Pacote 1; e viii) P-59 e P-60: contrato celebrado com o CONSÓRCIO RIO
PARAGUAÇU, para a construção das plataformas de perfuração autoelevatórias P59 e P60.
149
envio de todas as atas de reuniões realizadas pelas Diretorias
supracitadas que façam referência aos oito contratos indicados na
denúncia;
150
seguinte endereço: Câmara dos Deputados, Praça dos Três
Poderes, CEP 70160900, Brasília/DF;
(xi) Seja determinado ao TCU, que encaminhe para estes autos (i)
cópia de todos os procedimentos relativos às contas e auditorias
da Petrobras relativos ao período compreendido entre 1º/01/2003
a 30/05/2014, com eventuais pareceres dos auditores e decisões
proferidas nesses procedimentos. Desse modo, insiste a defesa na
intimação do TCU, na pessoa responsável por tal atribuição, no
seguinte endereço: SAFS Quadra 4, Lote 1, CEP 70042900,
Brasília/DF;
(xii) Caso o pedido elencado no item acima seja indeferido, o que não
se mostra adequado em virtude da garantia constitucional da
ampla defesa e da paridade de armas, requerse, subsidiariamente,
cópia ao TCU dos procedimentos relativos aos oito contratos
questionados na denúncia, com eventuais pareceres dos auditores
e decisões proferidas nesses procedimentos;
(xiii) Seja determinado à CGU que encaminhe para estes autos (i)
cópia de todos os procedimentos relativos às contas e auditorias
da Petrobras relativos ao período compreendido entre 01/01/2003
a 30/05/2014, com eventuais pareceres dos auditores e decisões
proferidas nesses procedimentos. Desse modo, insiste a defesa na
intimação da CGU, na pessoa responsável por tal atribuição, no
seguinte endereço: SAS, Quadra 01, Bloco A, Edifício Darcy
Ribeiro, Brasília/DF CEP: 70070905;
(xiv) Caso não se acolha o quanto requerido acima, o que não se mostra
adequado em virtude da garantia constitucional da ampla defesa e
da paridade de armas, requerse, subsidiariamente, seja
determinado à CGU cópia dos procedimentos relativos aos oito
contratos questionados na denúncia, com eventuais pareceres dos
151
auditores e decisões proferidas nesses procedimentos;
152
8º Andar, Itaim Bibi, São Paulo/SP, CEP 04.530904;
153
seguintes quesitos: i) Qual o valor dos contratos firmados por
empresas do GRUPO ODEBRECHT e consórcios dos quais
tenham participado junto a Petrobras no período de 2004 a 2014?;
(ii) É possível identificar transações financeiras entre tais
empresas/consórcios e agentes públicos, partidos políticos (atuais
e da época dos fatos) ou quaisquer pessoas físicas ou jurídicas
ligadas aos mesmos?; (iii) Com base nos dados disponíveis,
sobretudo contábeis e financeiros, há pagamentos feitos a partir
de empresas do GRUPO ODEBRECHT e consórcios dos quais
tenham participado em favor de empresas ou operadores
apontados na Operação Lava Jato como tendo promovido a
transferência dissimulada de recursos e/ou lavagem de dinheiro?
Se positiva a resposta ao quesito anterior, é possível identificar os
destinatários finais dos recursos empregados em tais
pagamentos?; (iv) Outros dados julgados úteis pelos peritos.
154
MATEUS CLAUDIO GRAVINA BALDASSARI (769.065.318
91), REGINA CONCEIÇÃO BALDASSARI (011.771.97812) e
FERNANDO CARLOS GRAVINA BALDASSARI
(056.819.95887)?
Termos em que,
Pedem deferimento.
155
ROL DE TESTEMUNHAS
7) Henrique Fontana Júnior, brasileiro, casado, médico, inscrito no CPF sob o n.º
334.105.18053, portador do documento de idade nº 7012558495, com endereço
na Rua Dolores Duran nº 2210, Porto Alegre/RS e 302 Norte, Bloco G, apto. 501,
CEP 70723070, Brasília/DF;
156
9) José Sergio Gabrielli, brasileiro, divorciado, economista, inscrito no CPF sob o
nº 042.750.39572, portador da cédula de identidade RG nº 0069334242
SSP/BA, com endereço na Avenida República do Chile, 65, Centro, CEP 20031
912, Rio de Janeiro;
10) Silvio Pettengill Neto, brasileiro, exDiretor Jurídico da Petrobras, com endereço
na Av. Afonso Pena, 4444, Vila Cidade, CEP 79020001, Campo Grande/MS;
12) Cláudio Lemos Fonteles, brasileiro, inscrito no CPF sob o n.º 00861588134,
portador do RG 106.272 SSP/DF, com endereço na SHIN QI 09, Conjunto 4,
casa 2, Lago Norte, CEP 71.525090, Brasília/DF;
14) Jorge Hage Sobrinho, brasileiro, advogado e professor, inscrito no CPF sob o
n.º 000.681.01520, portador do RG n.º 808.778 SSP/BA, com endereço na SQS
113, Bloco C, apto. 101, Asa Sul, CEP 70 376030, Brasília/DF;
15) José Aldo Rebelo Figueiredo, brasileiro, casado, inscrito no CPF sob o n.º
164.121.50463, portador do RG nº 299.549.549 SSP/SP, com endereço na Rua
SHIS QI 27, Conjunto 5, Casa 4, CEP 71675050, Brasília/DF;
16) Alexandre Padilha, brasileiro, médico, inscrito no CPF sob o n.º 131.926.798
08, portador do documento de idade nº 17.346.6758 SSP/SP, com endereço na
Rua Avanhandava, 115, CEP 01306001, São Paulo/SP;
157
17) Ricardo José Ribeiro Berzoini, brasileiro, bancário, inscrito no CPF sob o n.º
007.529.128 28, portador do RG 12.470.268, com endereço na SHIN QL 7,
Conjunto 1, Casa 8, Lago Norte, CEP 71515015, Brasília/DF e na Rua Teodósio
Nobre, 186, CEP 04401140, São Paulo/SP;
20) General Marco Edson Gonçalves Dias, brasileiro, inscrito no CPF sob o n.º
421.525.00725, portador do RG n.º 02602.554.19 Ministério da Defesa, com
endereço no Condomínio Mônaco, Quadra 23, casa 19, Km 2 da Rodovia DF
140, Lago Sul, CEP 71680601, Brasília/DF;
21) Coronel Geraldo Corrêa de Lyra Junior, brasileiro, inscrito no CPF sob o n.º
050.877.47809, portador do RG n.º 428347 Comando da Aeronáutica, com
endereço na Avenida Dom Pedro I, 100, CEP: 01552000, Cambuci, São
Paulo/SP;
158
24) Embaixador Marcos Leal Raposo Lopes, brasileiro, inscrito no CPF sob o nº
610.875.21734, portador da MRE5073, com endereço na Embaixada do Brasil
no Peru, Rua Jose Pardo, 850, Miraflores 15074, Lima, Peru;
26) Walfrido Mares Guia, brasileiro, empresário, inscrito no CPF sob o n.º
006.900.90668, portador do RG n.º 16.000.749, com endereço na Rua Vicente
Racioppi, 164, CEP 30210290, Belo Horizonte/MG;
27) Tarso Fernando Herz Genro, brasileiro, casado, advogado, inscrito no CPF sob
o nº 131.926.79808, portador do documento de idade RG nº 1000567287, com
endereço na Rua Coronel Aurélio Bitencourt, 150, Rio Branco, CEP 90430080,
Porto Alegre/RS e Rua Manoelito d’Ornellas, 198, conjunto 502, CEP 90110
230, Porto Alegre/RS;
29) Luiz Fernando Correa, brasileiro, exDiretor Geral da Polícia Federal, com
endereço na SAIS Quadra 7, Lote 23, Setor Policial Sul, CEP 70610902,
Brasília/DF;
31) Coronel Francisco Alberto Aires Mesquita, brasileiro, inscrito no CPF sob o
n.º 050.877.47809, portador do RG n.º 428347 Comando da Aeronáutica, com
159
endereço na Avenida Dom Pedro I, 100, CEP 01552000, Cambuci, São
Paulo/SP;
32) José Orcírio Miranda dos Santos, brasileiro, casado, Deputado Federal,
portador da cédula de identidade RG n. 1169300 – SSP/MS, inscrito no CPF/MF
sob o n. 040.649.92172, residente e domiciliado na Rua Padre João Crippa,
1065, 3º andar, Galeria Rio Negro, CEP 79002380, Campo Grande/MS; e Praça
dos 3 Poderes Câmara dos Deputados, Gabinete 860, Anexo IV, CEP 70160
900 Brasília – DF;
33) José Paulo Assis, brasileiro, engenheiro mecânico, inscrito no CPF sob nº
167.249.84904, com endereço na Rua Paulo Setúbal, 1486, Boqueirão, CEP
81670130, Curitiba/PR;
35) Alan Kardec Pinto, CPF 034.530.65700, podendo ser encontrado na sede da
Petrobras, com endereço na Av. República do Chile, nº 65, 4º andar, Centro, CEP
20031912, Rio de Janeiro/RJ;
37) Fernando Almeida Biato, CPF 329.803.10700, podendo ser encontrado na sede
da Petrobras, com endereço na Av. República do Chile, nº 65, 4º andar, Centro,
CEP 20031912, Rio de Janeiro/RJ;
160
39) José Lima de Andrade Neto, brasileiro, casado, engenheiro químico, portador
da carteira de identidade nº 198.768 SSP/SE, inscrito no CPF/MF sob o nº
102.994.08515, podendo ser encontrado na sede da Petrobras, com endereço na
Av. República do Chile, nº 65, 4º andar, Centro, CEP 20031912, Rio de
Janeiro/RJ;
40) Paulo Cesar Farah Muniz, brasileiro, inscrito no CPF sob o número
528.388.46787, residente e domiciliado na Rua Gil Vicente, 130, Jardim
Carioca, CEP 21920235, Rio de Janeiro – RJ;
42) Tarcísio Rossêto, podendo ser encontrado na sede da Petrobras, com endereço
na Av. República do Chile, nº 65, 4º andar, Centro, CEP 20031912, Rio de
Janeiro/RJ;
45) Nilo Victor de Oliveira, podendo ser encontrado na sede da Petrobras, com
endereço na Av. República do Chile, nº 65, 4º andar, Centro, CEP 20031912,
Rio de Janeiro/RJ;
46) Rômulo de Miranda Coelho, podendo ser encontrado na sede da Petrobras, com
endereço na Av. República do Chile, nº 65, 4º andar, Centro, CEP 20031912,
Rio de Janeiro/RJ;
161
47) Paulo Tarciso Okamotto, administrador; CPF: 767.248.24834; RG: 7.906.164
SSP/SP, podendo ser encontrado na Rua Pouso Alegre, 21, Ipiranga, CEP 04261
030, São Paulo/SP;
50) Luiz Soares Dulci, brasileiro, professor, CPF nº 405.627.19768, com endereço
na Rua Castro Alves, 744, apto. 33, Aclimação, CEP 01532001, São Paulo/SP;
162