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A rasteira da amargura

De Adil Litos Sadeia

Parecia uma quarta-feira normal para muitos que acordaram nas primeiras horas do dia, para ir
ao seu local de trabalho. Para outros, era um dia indiferente, pois o sol já mostrava o seu
preâmbulo e brilhava com um ar preguiçoso, devido a presença de nuvens escuras como o
alcatrão que nos leva em diferentes pontos do país. Para Sara e Nélio, não foi diferente.

A Sara é uma estudante da Escola Secundária 4 de Outubro, localizado nas proximidades da


terra do Rand, em Ressano Garcia, na província das indústrias. Jovem dos seus 17 anos de
idade, que sonhava em trabalhar nas Nações Unidas inspirada nos feitos do saudoso Eduardo
Mondlane, que tanto ouvia falar na disciplina predileta, História de Moçambique. Neste
aparatoso dia, a Sara acordou como de costume para fazer as actividades domésticas de casa e,
posteriormente, preparar-se para mais um dia de aulas.

Ate perto das onze horas e trinta minutos, a Sara já estava arrumada e cheia de si, era um dia
de aulas com o professor que arrancava os risos da turma, não tinha como atrasar. Balançando
os braços, com o passo decidido, boca e nariz coberto de tecido de algodão, projectou sua
caminhada á escola de baixo de um sol escaldante. O sol emitia sinais turbulentos, fazendo o
que sempre soube fazer, brilhar. O sol derrapava sobre a futura funcionaria das Nações Unidas
que projectava os seus sonhos em cada passo impresso de baixo daquela intensa vaga de calor.
Chegado á Escola, colegas deambulavam pelo pátio escolar, conversando, animando os seus
íntimos para mais um dia de aulas.
Naquele pátio intelectual, onde reside a ciência entre outros tipos de arte, estava Nélio, colega
da Sara. Nélio era um jovem com uns centímetros justos e adornados, impaciente, agressivo e
com um curriculum de punições escolares enriquecido.

Cerca de quarenta minutos depois de ter iniciado a aula, Nélio já denunciava um estado anormal
e de embriaguez, aos colegas na sala de aulas. Teve a sorte de esconder aquela ilícita atitude
na presença do professor. No fim da aula colegas estavam num festival de murmuros sobre o
comportamento do Nélio e julgavam suas entranhas. Murmuravam, tanto que a Sara reagiu:

— Já não estou a gostar do comportamento do Nélio. Ele deve respeitar os colegas e, acima de
tudo comportar-se bem como uma pessoa que vem de uma família. Afinal de contas, somos
pessoas e merecemos respeito — Disse Sara furiosa comentando com Vanessa, colega de
carteira.

— Tens razão best, ele não pode fazer isso, que baixaria — Comentou Vanessa, sem pestanejar.

— Basta! Vou já falar com ele— declarou, Sara.

— Serio? Best. Não me diga que terás essa coragem? Vou já filmar esse momento— Dizia
Vanessa, espantosamente. /

— Ola Nélio, tudo bem?

De olhos apurados, Nélio economizou a produção das glândulas salivares, e respondeu


silenciosamente.

— Nélio, o que se passa contigo? Sabes que o consumo de estupefacientes no recinto escolar é
proibido? Não podes apresentar- te dessa forma neste lugar, tens muito que se dedicar, não com
isso!

— Por que é que estas a expolir injurias aos colegas? Não faças isso, colega! — Apelou, Sara!

O Nélio sorriu ironicamente, e com uma voz medonha, apontando o dedo de suspensão
respostou:

— Vai á merda, Sara. Quem tu achas que és para dirigir me a palavra?

A Sara permaneceu embrulhada de espanto com os trovões na resposta do Nélio, e dificilmente


entendia de onde nasciam as injúrias do mesmo, pois para Sara era uma chamada de atenção
pela sua situação vergonhosa de ver. Meu Deus!

Cinco minutos passaram e, Sara não se cansava de convencer o Nélio a parar com aquela
vergonhosa situação. As negociações foram tao longe que levaram Nélio furioso.

— Não me viajes, Sara. Cuida da sua vida. — Declarou Nélio, furiosamente!

Naquela aparatosa negociação, eis que Nélio, cruelmente, perde a cabeça.

Nélio empurrou a Sara e, posteriormente, deu-a rasteira, todavia, durante a queda, antes de
chegar ao chão e ficar imobilizada, Sara bate a cabeça com a carteira de forma cruel enquanto
o Nélio observava. Colegas ao verem aquela situação, vestidos de irritações vertiam lagrimas,
gritavam, e repudiavam veementemente a atitude do Nélio, mesmo assim, Nélio não se deixava
intimidar, aliás, não caia nem uma gota de arrependimento daquele Jovem agressor.

Depois da rasteira, foi de seguida encaminhada ao posto de saúde mais próximo para
beneficiar-se de cuidados médicos, resultado da rasteira da amargura. Para além de apoio
psicológico, foi necessário, urgentemente, submeter a moça a uma bateria de exames, a nível
cerebral, para saber se lesões cerebrais ganharam terras férteis na cabeça daquela jovem
sonhadora, decorrente do impacto que a moça teve aquando da queda.

Após o acto bárbaro cometido pelo jovem agressor, colegas da Sara espalharam imediatamente
o vídeo nas redes sociais, apelando que o MINEDH tomasse medidas severas para que o Nélio
fosse expulso da academia. Circulava nas redes sociais mensagens como " partilhemos até
chegar á Ministra da Educação e encarregados da Sara". Em tao pouco tempo e com uma
velocidade da luz, os vídeos chegaram nas proximidades do nariz da Ministra. No dia seguinte,
o jovem agressor foi expulso daquela academia de ensino. Meses depois, o jovem mudou
radicalmente a sua personalidade, transformou-se num xiconhoca, tornando-se, assim, num
jovem instável, com pouca capacidade de planejamento e extremamente violento.

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