Você está na página 1de 4

RETA FINAL 2011.

1
DIREITO CONSTITUCIONAL
AULA 01

DIREITO CONSTITUCIONAL- PROF NATHALIA MASSON

Teoria da Constituição: Eficácia e Aplicabilidade das Normas Constitucionais

1. A CLASSIFICAÇÃO DE JOSÉ AFONSO DA SILVA.

Partindo da premissa de que não há norma constitucional destituída de eficácia, o Professor José
Afonso da Silva1 as divide em três grupos: normas de eficácia plena, normas de eficácia contida e
normas de eficácia limitada.

As normas de eficácia plena (auto-executáveis ou auto-aplicáveis)2 são aquelas que já produzem


todos os seus efeitos essenciais com a entrada em vigor da Constituição, independentemente de
qualquer regulamentação por lei. São, por isso, dotadas de aplicabilidade imediata (porque estão
aptas para produzir efeitos imediatamente, com a simples promulgação da Constituição), direta
(porque não dependem de nenhuma norma regulamentadora para a produção de efeitos) e integral
(porque já produzem seus integrais efeitos, sem sofrer quaisquer limitações ou restrições).

Por seu turno, as normas de eficácia contida3 são aquelas que também estão aptas para a produção
de seus plenos efeitos desde a promulgação da Constituição (aplicabilidade imediata), mas que
podem vir a ser restringidas. O direito nelas previsto é imediatamente exercitável, com a simples
promulgação da Constituição, mas esse exercício poderá ser restringido no futuro. São, por isso,
dotadas de aplicabilidade imediata (porque estão aptas para produzir efeitos imediatamente, com a
simples promulgação da Constituição), direta (porque não dependem de nenhuma norma
regulamentadora para a produção de efeitos), mas possivelmente não-integral (porque sujeitas à
imposição de restrições).

As restrições às normas de eficácia contida poderão ser impostas:

a) por lei (ex.: art. 5º, XIII, da CF/88, que prevê as restrições ao exercício de trabalho, ofício ou
profissão, que poderão ser impostas pela lei que estabelecer as qualificações profissionais, bem
como o disposto no art. 5º, LXXVIII, da CF/88);
b) por outras normas constitucionais (ex.: art. 139 da CF/88, que impõe restrições ao exercício
de certos direitos fundamentais, durante o período de estado de sítio);
c) por conceitos ético-jurídicos geralmente aceitos (ex.: art. 5º, XXV, da CF/88, em que o conceito de
“iminente perigo público” atua como uma restrição imposta ao poder do Estado de requisitar
propriedade particular).

1
Aplicabilidade das normas constitucionais, p. 262.
2
Conceituadas pela doutrina clássica norte-americana como self-executing, self-enforcing ou self-acting.
3
Michel Temer as define como normas constitucionais de aplicabilidade plena e eficácia redutível ou restringível
(Elementos de direito constitucional, p. 24).

RETA FINAL 2011.1


DIREITO CONSTITUCIONAL
Material de apoio disponibilizado na Área do Aluno LFG – www.lfg.com.br/areadoaluno
As normas de eficácia limitada4 são aquelas que só produzem seus plenos efeitos depois da exigida
regulamentação. Elas asseguram determinado direito, mas esse direito não poderá ser exercido
enquanto não for regulamentado pelo legislador ordinário. enquanto não expedida a
regulamentação, o exercício do direito permanece impedido. São, por isso, dotadas de
aplicabilidade mediata (só produzirão seus efeitos essenciais ulteriormente, depois da
regulamentação por lei), indireta (não asseguram, diretamente, o exercício do direito, dependendo
de norma regulamentadora para tal) e reduzida (com a promulgação da Constituição, sua eficácia é
meramente “negativa”, conforme estudaremos em outro exercício adiante).

Com efeito, as normas de eficácia limitada foram divididas pelo Professor José Afonso da Silva em
dois grupos: as definidoras de princípios institutivos (organizativos ou orgânicos) e as definidoras de
princípios programáticos.

As normas de eficácia limitada definidoras de princípios institutivos (organizativos ou orgânicos)


são aquelas pelas quais o legislador constituinte traça esquemas gerais de estruturação e atribuições
de órgãos ou entidades, para que o legislador ordinário os estruture posteriormente, mediante lei.
São exemplos: “a lei disporá sobre a organização administrativa e judiciária dos territórios” (art. 33);
“a lei disporá sobre a criação, estruturação e atribuições dos ministérios” (art. 88); “a lei regulará a
organização e o funcionamento do conselho de defesa nacional” (art. 91, §2º); “a lei disporá sobre a
constituição, investidura, jurisdição, competência, garantias e condições de exercício dos órgãos da
justiça do trabalho” (art. 113).

As normas de eficácia limitada definidoras de princípios programáticos são aquelas pelas quais o
constituinte, em vez de regular, direta e imediatamente, determinados interesses, limitou-se a lhes
traçar os princípios para serem cumpridos pelos seus órgãos (legislativos, executivos, jurisdicionais e
administrativos), como programas das respectivas atividades, visando à realização dos fins sociais do
Estado. Esse grupo de normas corresponde ao que a doutrina denomina, simplesmente, “normas
programáticas”, como são exemplos o art. 3 º, 7º, XX; o art. 7º, XXVII; o art. 173, §4º; o art. 196, o
art. 205, o art. 216, §3º, o art. 217.

 Obs.:
De fato, como regra, a Constituição federal estabelece que as normas definidoras de direitos e
garantias fundamentais têm aplicabilidade imediata (art. 5º, §1º). Porém, afirmar que uma norma
constitucional é dotada de aplicabilidade imediata não significa dizer que ela dispensa a atuação
positiva por parte dos poderes públicos. Significa dizer, apenas, que o direito nela previsto poderá
ser exigido pelo seu destinatário de imediato, sem necessidade de regulamentação por lei.

Vejamos um exemplo: o inciso LXXIV do art. 5º estabelece que o Estado prestará assistência
jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos. Trata-se, conforme já
decidiu o STF, de norma de aplicabilidade imediata (eficácia plena), isto é, o indivíduo pôde, com a
simples promulgação da CF/88, pleitear essa assistência gratuita, sem necessidade de aguardar
qualquer regulamentação por lei. Por outro lado, é norma que exige uma prestação positiva por
parte do poder público, que deverá, por meio das defensorias públicas (CF, art. 134), concretizar
essa determinação constitucional.

4
Também conceituada por alguns autores como norma de aplicabilidade diferida.

RETA FINAL 2011.1


DIREITO CONSTITUCIONAL
Material de apoio disponibilizado na Área do Aluno LFG – www.lfg.com.br/areadoaluno
2. A CLASSIFICAÇÃO DE MARIA HELENA DINIZ.

Conforme a autora5, as normas constitucionais, segundo sua eficácia, dividem-se em:

a) Normas com eficácia absoluta (ou supereficazes). São consideradas imutáveis, não podendo ser
emendadas, enfim, os princípios constitucionais sensíveis6 e as chamadas cláusulas pétreas7, a
saber:
 a forma federativa de Estado (arts. 1.º, 18, 34, VII, c, 46, §1.º...);
 o voto direto, secreto, universal e periódico (art. 14);
 a separação dos Poderes (art. 2.º); e
 os direitos e garantias individuais (art. 5.º, I a LXXVIII)
b) Normas com eficácia plena. Equivalem às normas de eficácia plena.
c) Normas com eficácia relativa restringível. Equivalem às normas de eficácia contida.
d) Normas com eficácia relativa complementável ou dependente de complementação
legislativa. Equivalem às normas de eficácia limitada, sendo dividas em:
 Normas de princípio institutivo;
 Normas programáticas.

3. A CLASSIFICAÇÃO DE CELSO RIBEIRO BASTOS E CARLOS AYRES BRITTO.

Em sua obra, Interpretação e aplicabilidade das normas constitucionais8, os autores classificam as


normas constitucionais tendo por parâmetro a vocação das normas constitucionais para a (não)
atuação do legislador em:

a) Normas de aplicação (irregulamentáveis e regulamentáveis). Equivalem às normas de eficácia


plena.
b) Normas de integração:
 Restringíveis. Equivalem às normas de eficácia contida.
 Completáveis. Equivalem às normas de eficácia limitada.

4. A CLASSIFICAÇÃO DE UADI LAMMÊGO BULOS.

O autor baiano inova9 ao instituir as normas de eficácia exaurida (ou esvaída), isto é, aquelas que já
extinguiram a produção de seus efeitos, tendo, portanto, sua aplicabilidade esgotada. São próprias
do ADCT (Ato das Disposições Constitucionais Transitórias) – ex.: arts. 2, 3,11, 13, 14 e 15.

5. CRÍTICAS.

Críticas robustas têm sido feitas à teoria da aplicabilidade das normas constitucionais. A principal
delas, apontada pelo professor Gilmar Ferreira Mendes, refere-se à inexistência de critérios seguros
e balizas objetivas para identificar o grau de aplicabilidade das normas, o que torna tal teoria
insegura e inconsistente. A segunda crítica digna de nota é a que afirma que a teoria da
aplicabilidade das normas constitucionais cria uma subversão na estrutura hierárquica do

5
Norma constitucional e seus efeitos, p. 101-115.
6
Art. 34, VII, a e b da CF/88, ou seja, a forma republicana, o sistema representativo, o regime democrático
e os direitos da pessoa humana.
7
Art. 60, §4º, I a IV da CF/88.
8
p. 48 e ss.
9
Constituição Federal anotada, p. 335.

RETA FINAL 2011.1


DIREITO CONSTITUCIONAL
Material de apoio disponibilizado na Área do Aluno LFG – www.lfg.com.br/areadoaluno
ordenamento jurídico ao dar mais importância à regulamentação infraconstitucional do que à
própria norma constitucional. Ademais, com base no chamado ativismo judicial, típico do
neoconstitucionalismo, vários tribunais pátrios, incluídos STJ e STF, têm decidido que estando em
jogo o mínimo existencial deva ser dada aplicabilidade direta e imediata às normas constitucionais,
sejam elas quais forem. O eixo norteador dessas decisões é a dignidade da pessoa humana.
Portanto, a teoria da aplicabilidade das normas constitucionais sofre críticas também na
jurisprudência.

RETA FINAL 2011.1


DIREITO CONSTITUCIONAL
Material de apoio disponibilizado na Área do Aluno LFG – www.lfg.com.br/areadoaluno

Você também pode gostar