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DIARRÉIAS E CONSTIPAÇÃO EM

PEDIATRIA

Profa. Me. Andrea Nunes


SÍNDROMES DIARREICAS

Ocorrência de três ou mais evacuações


amolecidas ou líquidas nas últimas 24 horas.
Consideradas manifestações clínicas de outras
doenças.
Tipos de Diarreia
Aguda aquosa
• Pode durar horas ou dias
• Determina perda de grande volume de fluidos
• Maior risco é a desidratação e a perda de peso
Aguda com sangue
• Disenteria
• Caracterizada pela presença de sangue nas fezes
• Principal risco: Dano à mucosa intestinal, sepse, desidratação e desnutrição
Persistente
• Duração maior ou igual a 14 dias
• Acarretando comprometimento nutricional e infecção extra intestinal grave,
podendo ocorrer desidratação
• Constituem um grupo com alto risco de complicações e elevada letalidade
QUADRO CLÍNICO
Aumento no volume e/ou na frequência de evacuações com consequente aumento
das perdas de água e eletrólitos, de início abrupto, presumivelmente infeccioso,
potencialmente autolimitado com duração inferior a 14 dias

Óbito infantil

Desidratação Desnutrição
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS DIARREICAS

2011 ocorreram
1982 ocorreram 5 1991 foram 3,5 2001 morreram
1,5 milhões de
milhões de mortes milhões 2,5 milhões
mortes no ano

No entanto, algumas doenças que poderiam ser prevenidas, continuam sendo


responsáveis por mortes de lactentes e pré-escolares.
Cerca de 30% desses óbitos antes dos cinco anos ocorrem devido à pneumonia e
diarreia.
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS DIARREICAS
NO BRASIL
PRINCIPAIS CAUSAS
São causadas por agentes etiológicos específicos, com mecanismos fisiopatológicos distintos.
A transmissão dos patógenos ocorrem na maioria das vezes pela via fecal-oral, tanto por contato
direto, como pela água e alimentos contaminados.
OUTRAS FONTES DE CONTAMINAÇÃO...
A promoção do meio doméstico adequado reduz em cerca de 48% a
incidência de diarreias.
✓ Manipuladores de alimentos
✓ Práticas inadequadas de manipulação;
✓ Alimentos sem procedência (água
contaminada, dejetos);
✓ Ambiente e utensílios contaminados
✓ Presença de animais, insetos e pragas
✓ Contaminação cruzada
✓ Saneamento deficiente
CONSEQUÊNCIAS DAS DIARREIAS

Perda das funções absortivas da barreira epitelial

Hipersensibilidade proteica

Redução das enzimas entéricas

Má absorção de nutrientes

Perda de nutrientes
CONSEQUÊNCIAS DAS DIARREIAS

Afetam o crescimento e o sistema imunológico, tornando-se cada vez


mais suscetíveis a outras infecções, principalmente respiratórias, com o
agravamento do estado nutricional e risco de morte
Investigar:
 Duração da diarreia
AVALIAÇÃO CLÍNICA
 Número diário de evacuações
 Presença de sangue nas fezes
 Número de episódios de vômitos
 Presença de febre ou outra manifestação
clínica
 Práticas alimentares prévias e vigentes
 Outros casos de diarreia em casa ou na escola.
 Consumo de líquidos
 Medicações utilizadas
 Diurese
 Peso recente
Alguns pacientes têm maior risco de
complicações
 Idade inferior a dois meses
 Doença de base grave como o DM,
insuficiência renal ou hepática e outras
doenças crônicas;
 Presença de vômitos persistentes;
 Perdas diarreicas volumosas e frequentes
(mais de oito episódios diários)
 Percepção dos pais de que há sinais de
desidratação.
A avaliação nutricional é muito importante na abordagem da criança
com doença diarreica.
O peso é fundamental no acompanhamento tanto em regime de
internação hospitalar como no ambulatório.

PERDA DE DESIDRATAÇÃO CORREÇÃO DO DÉFICIT CORPORAL


PESO DE FLUÍDO
ATÉ 5% LEVE 50 ml/kg
5% a 10% MODERADA 50 A 100 ml/kg
> 10% GRAVE > 100 ml/kg
17/03/2021
TRATAMENTO NUTRICIONAL NA DIARREIA

 Evitar a desnutrição;
 Evitar a desidratação;
 Manter o aleitamento materno
 Reduz a frequência e o volume das fezes
 Aumenta a absorção de água
 Fator bifidus

 Carboidratos e proteínas atuam como fatores tróficos


no intestino➔ Favorecendo a manutenção e a
renovação do epitélio intestinal e a absorção de
líquidos.
17/03/2021
TRATAMENTO NUTRICIONAL NA DIARREIA
A terapia de reidratação oral (TRO) consiste na administração de soluções apropriadas por boca para
evitar ou corrigir a desidratação produzida pela diarreia.
Plano A

•Recomendado para crianças com diarreia aguda sem sinais


de desidratação
•Aumentar oferta de líquidos
•Manter o AM, aumentando a frequência e duração das
mamadas
•Crianças em AME➔ LM + SRO
•Crianças não AME➔ SRO+ Líquidos caseiros ou agua
•Bebidas não recomendadas: Refrigerantes, sucos
industrializados, chás e café
•Suplementação de zinco
•Alimentação saudável
•Observar se há sinais de desidratação e piora do quadro
Plano B

•Recomendado para crianças com diarreia aguda e


desidratação
•Durante 4 horas➔ SRO
•Manter o AM,
•Crianças em AME➔ LM + SRO
•Avaliar após 4 horas
•Dar líquidos adicionais
•Continuar a alimentação
Plano C

• Recomendado para crianças gravemente desidratadas


• Administrada por via endovenosa ou sonda
nasogástrica
O TRATAMENTO DIETÉTICO DAS DIARREIAS INCLUI:
Dieta constipante:

•Excluir (temporariamente) fontes de lactose e alimentos laxativos (folhosos, laranja, mamão,


abóbora, ameixa, etc)
•Diminuir preparações adoçadas com sacarose
•Priorizar alimentos de fácil digestão e que ajudem a moldar as fezes – tubérculos, banana, maçã,
goiaba

Avaliar individualmente necessidade de fórmula sem lactose

Suplementação com zinco

•40 mg de zinco/dia – reduz a gravidade e a duração da diarreia


•OMS recomenda 10 a 20 mg de zinco/dia durante 10 a 14 dias, na forma de xarope* ou tablete
solúvel.

Suplementar com fibras solúveis (goma guar, inulina, FOS, pectina) –


aumentar progressivamente a quantidade de fibras na dieta
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O TRATAMENTO DIETÉTICO DAS DIARREIAS INCLUI:

Probióticos

• Utilizados para prevenção e tratamento da diarreia mostra-se eficiente: nas diarreias


associadas à contaminação de alimentos por E. coli, Salmonella, Shigella, B. Cereus e
V. cholarae, durante e após antibioticoterapia e na diarreia do viajante.
• As cepas mais utilizadas são Lactobacillus casei, L. acidophillus. L. brevis, L.
bulgaricus, L. plantarum e E. faecium.

Dentre os mais utilizados, em formulações disponíveis


comercialmente, temos:
• L. rhamnosus GG → probióticos mais efetivos na prevenção e no tratamento das
diarreias;
• S. boulardi e E faecium → utilizados para prevenir diarreia associada com antibióticos
• S. boulardi → previne a reincidência de diarreia causada por C. difficile.
CONSTIPAÇÃO

Condição comum tanto na população pediátrica como nos


adultos, que acarreta sérios prejuízos para o indivíduo.

Não é doença, mas um sintoma.

Definido como a dificuldade de eliminar fezes, quase sempre


endurecidas, com menor conteúdo hídrico, ressecadas, em
pequenas quantidades e com sofrimento e dor.
17/03/2021
PATOGENESE
 Em aproximadamente 95% das crianças com constipação, nenhuma causa
orgânica pode ser identificada.
 Nos demais casos, a constipação tem causa orgânica:
 Transtorno metabólico ou endócrino, anomalias anorretais, doenças neuromusculares ou
doença de Hirschsprung.
 A fisiopatologia do CF ainda está incompleta, mas é provável que seja
multifatorial.

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PATOGENESE
 Frequente na faixa etária pediátrica
 Queixa principal em 3 a 5% das consultas com pediatra e em 25% das consultas
com gastroenterologista pediátrico
 Ao redor do mundo, tem prevalência entre 3 e 29,6%6
 No Brasil, especificamente, varia entre 17,5 e 38,4%.

17/03/2021
17/03/2021
Causas orgânicas de constipação devem ser consideradas
quando o comportamento de esforço é acompanhado de
sinais de alarme:
 Atraso na eliminação do mecônio (após 48h de vida)
 Febre, vômito ou diarreia,
 Sangramento retal e distensão abdominal grave.

Diagnósticos diferenciais:
 As causas orgânicas mais importantes são doença de
Hirschsprung e fibrose cística.
 A alergia à proteína do leite de vaca (APLV) também
pode estar envolvida na constipação.
 As manifestações de proctite e colite alérgicas podem
ser fatores desencadeantes de evacuações dolorosas
com consequente retenção fecal.
FATORES DE RISCO PARA CONSTIPAÇÃO

Estresse
Treinamento de
psicológico/ Problemas Predisposição
Estilo de vida esfíncteres
distúrbios de dietéticos familiar para CF:
inadequado:
comportamento:

Muito tempo
História de
sentado, Coerção, posição
evacuação dolorosa; Desmame antes
computador ou inadequada para
estilo educacional dos seis meses;
celular; atividades evacuar; técnica
inadequado; mudanças ou Mães e irmãos com
fora de casa sem ter inadequados; fobia
problemas em casa ausência de rotina CF, em que pese a
rotina certa para ou recusa para
ou na escola; maus- alimentar; ingestão não identificação de
“hora” e “local” para realizar a toalete;
tratos; abuso físico, de fibras e fluidos genes ou mutações
evacuar; não baixo nível
emocional abaixo do previsto específicos na CF;
disponibilidade de socioeconômico e ir
(negligência, para idade; APLV alterações da
banheiro; baixa para ambientes
deprivação) e/ou ausência de motilidade
atividade esportiva comunitários na
sexual; espectro refeições regulares gastrintestinal.
(<2 horas/dia); ir ausência dos pais,
autista; déficit de com os pais;
para creche com antes de 24 meses
atenção e obesidade.
idade inferior a 24 de vida.
hiperatividade.
meses.

17/03/2021
DIAGNÓSTICO DA CONSTIPAÇÃO

História Clínica

Exames História
complementares alimentar

Exame físico

17/03/2021
DIAGNÓSTICO DA CONSTIPAÇÃO

 A Escala de Forma de Fezes de


Bristol (EFFB) (Bristol Stool Form
Scale – BSFS) deve ser usada
rotineiramente no consultório do
pediatra para definir a consistência
das fezes
 Instrumento usado para caracterizar
fezes em crianças, mas nenhuma
validação está disponível.

17/03/2021
TRATAMENTO DA CONSTIPAÇÃO:

CONSUMO DE FIBRAS
17/03/2021
TRATAMENTO DA CONSTIPAÇÃO:

Existem pacientes com constipação severa secundária à trânsito lento ou dissinergia do


assoalho pélvico que pioram do quadro com o aumento da oferta de fibras na alimentação.
Todos os pacientes constipados devem ser orientados a aumentar a ingestão de fibra na
alimentação como medida geral.
Naqueles em que a ingestão de fibra piorar a dor abdominal ou causar incontinência (mais
comum em idosos) a quantidade de fibra na alimentação deve ser reduzida.
O aumento da ingestão de fibras pode causar um aumento produção de gases
(especialmente as fibras solúveis que são fermentáveis) → menor efeito no peso fecal
A ingestão de fibras insolúveis produz menos este efeito por agir mais na incorporação de
água no bolo fecal
Constipação crônica → necessária maior quantidade de fibra que indivíduos saudáveis e
aumentar gradativamente a oferta de fibras para promover tolerância
17/03/2021

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