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Controle externo brasileiro

Poder Legislativo e Tribunal de Contas

Wremyr Scliar

Sumário
1. Introdução. 2. O controle moderno – Re-
volução Francesa. 3. Sistema de controle externo
brasileiro. 4. O controle externo na Constituição
de 1988. 5. O controle interno na Constituição
de 1988. 6. O Tribunal de Contas. 6.1. Tribunal
de Contas (1988): natureza – evolução. 6.2.
Organização do Tribunal de Contas. O mo-
delo da União. 6.3. Os auditores do Tribunal
e o Ministério Público. 6.4. Remuneração. 6.5.
Quadro próprio de pessoal. 7. Similaridade dos
Tribunais de Contas com Tribunais Judiciais.
8. Área de ação controladora do Tribunal de
Contas da União. 9. Posição constitucional do
Tribunal de Contas da União. 10. O Poder Le-
gislativo como sede política do controle externo.
11. Conclusões.

1. Introdução
A compreensão do sistema de controle
externo brasileiro adotado pela Constitui-
ção de 1988, a saber, o controle incidente
sobre a administração pública em suas
esferas federal, estaduais, municipais
e distrital, exige a análise das relações
políticas, institucionais e jurídicas en-
tre o Poder Legislativo e o Tribunal de
Wremyr Scliar é Mestre em Direito do Esta-
Contas.
do. Professor especialista de Direito Adminis-
trativo, Faculdade de Direito, PUC-RS. Auditor O modelo republicano e democrático
Substituto de Conselheiro, aposentado e Diretor adotado na Constituição de 1988 inspira-
da Escola Superior de Gestão e Controle Francis- se, com as suas peculiaridades próprias,
co Juruena do Tribunal de Contas – RS. no modelo francês.

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2. O controle moderno – uma das bandeiras da Revolução Francesa)
Revolução Francesa1 e lhes atribui um determinado direito, que é
o de verificar a necessidade da contribuição
Com efeito, na Revolução de 1789, um pública.
dos valores adotados na Declaração era Impressiona como os revolucionários,
a afirmação de que todas as pessoas têm lembrando a Carta Magna, também im-
direito de conhecer a respeito dos fatos da puseram aos governantes a limitação do
administração pública e exigir prestação de poder de tributar, exigindo que a cobrança
contas dos administradores. dos tributos fosse aquela apenas necessária
Na Declaração de 1789, estatui-se, pela ao Estado.
primeira vez na História, o controle da ad- A cada cidadão (democracia direta e
ministração pública financeira e tributária, assembleísta – a razão do Iluminismo – não
como direito político universal, tanto na colocada acima dos sentimentos e da subje-
determinação da contribuição pública como tividade) é atribuído o direito de consentir
a cobrança, fiscalização da arrecadação e e fiscalizar. Verificar (direito individual) é
exigência da prestação de contas dos ad- consequência desses direitos; logo, também
ministradores. é racional.
São os direitos inscritos nos artigos 14 e O direito também se exercia por meio de
15 da Declaração: representantes (a democracia indireta, por
“Art. 14. Todos os cidadãos têm o delegação). Os escrúpulos e restrições sobre
direito de verificar, pessoalmente, os quais Rousseau havia teorizado estão
ou por meio de representantes, a presentes nas alternativas de democracia
necessidade da contribuição pública, direta ou delegada.
bem como de consenti-la livremen- Igualdade, democracia, necessidade e,
te, de fiscalizar o seu emprego e de ainda, consentimento para a contribuição
determinar-lhe a alíquota, base de pública são direitos liberais, individuais do
cálculo, a cobrança e a duração. homem e do cidadão.
Art. 15. A sociedade tem o direito de Soma-se ao valor igualdade o mais an-
pedir, a todo agente público, que pres- tigo anseio da humanidade – a liberdade,
te contas de sua administração.” mediante o livre consentimento para a
A conquista da burguesia modificaria cobrança da contribuição pública.
a História. A cláusula décima quarta também con-
Nessas duas cláusulas declaratórias, tém outro valor, surpreendente para a época:
comprova-se: fiscalizar o seu emprego (das contribuições).
No art. 14, o valor igualdade, erigido em Como na igualdade e liberdade, em relação
princípio declarado quando afirma a todos ao consentimento das contribuições públicas,
os cidadãos (certamente os cidadãos ativos, o direito é atribuído aos cidadãos pessoal-
para os quais a generalidade igualitária é mente ou por meio de seus representantes.
O controle externo do Poder Executivo
1
A leitura sobre a Revolução Francesa aproveitada estava finalmente erigido em valor-prin-
para este trabalho: BONAVIDES, Paulo. Ciência políti-
cípio inscrito na cláusula declarada e que
ca. São Paulo: Malheiros, 2006. COMPARATO, Fábio
Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 2 ed. serviria de preâmbulo à primeira Consti-
rev. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2001. LISSAGARAY, tuição republicana francesa.
Hippolyte Prosper Olivier. História da comuna de 1871. Normas de qualidade e acuidade
Tradução de Sieni Maria Campos. São Paulo: Ensaio, técnicas surpreendentes e com natureza
1991. MARX, Karl. A guerra civil na França. In: MARX,
Karl; ENGELS, Friedrich. Obras escolhidas. Rio de Janei-
funcional completam a Declaração: todos
ro: Vitória, 1961. HOBSBAWN, Eric. Ecos da Marselhesa. os cidadãos, em igualdade e livremente,
São Paulo: Companhia das Letras, 1996. têm o direito de fiscalizar o emprego e

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determinar-lhe a alíquota, a base de cálcu- Resumidamente, os artigos 14 e 15
lo, a cobrança e a duração da contribuição declaram aos cidadãos os seguintes valo-
pública. São normas que se dirigem dire- res notáveis históricos e revolucionários,
tamente à eficiência e eficácia controlada, embora carecedores de Tributos de direi-
determinando-lhes o objeto no mais re- tos subjetivos, principalmente pela ainda
côndito âmago da atividade financeira e ausência de um órgão estatal de controle
tributária do Estado. concretizador desses mesmos valores:
O artigo 14 é um real paradigma de •  direito de verificar;
efetivação da liberdade, da igualdade, da •  pessoalmente ou por seus represen-
solidariedade e da observância do cum- tantes;
primento do interesse coletivo público, no •  a necessidade da contribuição pú-
sentido financeiro e administrativo2. blica;
É paradigmamente uma norma de •  consenti-la livremente;
direito administrativo e financeiro, com a •  fiscalizar o seu emprego;
clareza e funcionalidade jamais alcançados •  determinar-lhe a alíquota, a base de
até então. Somente se pode deduzir a sua cálculo, a cobrança e sua duração;
precisão como produto e consciência política •  a sociedade tem direito de pedir;
burguesa como conhecedora de meios técni- •  a todos os agentes públicos prestar
cos aprimorados para impor aos governan- contas da sua administração.
tes, além dos valores referidos, o princípio A Revolução Francesa cria o direito
da estrita legalidade financeira e tributária. administrativo e financeiro como norma-
O artigo 15, seguinte, é consequência tizador de atividade financeira do Estado,
do direito de consentimento (a soberania tendo por fundamento a igualdade, a liber-
do cidadão) e do direito de fiscalização da dade, a democracia e a legalidade. Institui
contribuição pública. também o valor financeiro relativo à presta-
Ele atribui à sociedade o direito de pedir, ção de contas, etapa última e indispensável
a todo agente público, que preste contas de de atividade financeira estatal3.
sua administração. Qualquer agente público Apesar da relevância histórica, especial-
da mais alta dignidade ao mais modesto es- mente para os tempos contemporâneos, a
tão igualados na obediência à sociedade. experiência francesa não foi a primeira sob
A cláusula também apresenta a real con- o ponto de vista da cronologia histórica.
creção da liberdade (direito de pedir) e da A história do controle é mais antiga.
igualdade (a todo agente público), situando Os hebreus tiveram uma espécie de
a administração pública como serviente e controle ético, baseado em uma democracia
existencial à sociedade. Quando o texto do religiosa, na qual, perante a lei divinizada,
artigo 15 usa o termo sociedade (e não cida- todos eram iguais.
dão) como no antecedente artigo 14, está-se
dirigindo ao homem como ser social. 3
Prosper Weil e Jean Rivero, autores adminis-
Prestar contas é exercício de democracia, trativistas franceses, salientam a criação do direito
administrativo; acresce-se o direito financeiro. São
inspirada na Ágora e no direito romano “produtos de exportação” da Revolução Francesa.
(censores). O Direito Financeiro tem uma norma histórica fun-
Fundem-se nos artigos 14 e 15 todos os damenta na Inglaterra, imposta pelos barões do Rei
valores históricos apropriados pela burgue- Jaime em 1293: “No taxation without autorization”.
Um século após, impunham outra condição ao Rei:
sia no 14 de julho. não apenas cobrar tributo autorizados (pela repre-
sentação), mas também somente gastar no que lhe for
2
O controle é meio e sua eficiência e eficácia são permitido. São os primeiros valores que evoluiriam
constantemente aperfeiçoados. A Revolução o intro- para os modernos princípios orçamentários e que
duz na era moderna. constam das constituições democráticas.

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Em Atenas, os gregos possuíam a figura “Art. 70. A fiscalização contábil, fi-
do auditor a quem incumbia a exigência de nanceira, orçamentária, operacional e
prestação de contas dos administradores, patrimonial da União e das entidades
assim como em Roma o cargo de censor, da administração direta e indireta,
embora desprovido de alguns atributos quanto à legalidade, legitimidade,
próprios da magistratura, era exercido com economicidade, aplicação das subven-
rigor e assim respeitado. ções e renúncia de receitas, será exerci-
da pelo Congresso Nacional, mediante
3. Sistema de controle externo brasileiro controle externo, e pelo sistema de
controle interno de cada Poder.
No sistema brasileiro atual, o controle
Parágrafo único. Prestará contas
externo é atribuição do Poder Legislativo, a
qualquer pessoa ou entidade pública
quem incumbe, em primeiro plano, o julga-
que utilize, arrecade, guarde, geren-
mento político das prestações de contas do
cie ou administre dinheiros, bens
Chefe do Poder Executivo (isso ocorre em
e valores públicos ou pelos quais a
todas as esferas federativas, simetricamen-
União responde, ou que, em nome
te). O julgamento é precedido pela emissão,
desta, assume obrigações de natureza
independente, de um parecer prévio do
pecuniária.”
Tribunal de Contas e ele é peça político-
O dispositivo inicia a Seção IX (e última)
institucional e jurídica indispensável para
do Capítulo I – Do Poder Legislativo (Título
o exercício dessa competência a cargo das
IV – Da Organização dos Poderes).
Casas Legislativas. Daí a expressão “com o
Trata-se da derradeira competência
auxílio” do Tribunal de Contas é exercido o
constitucional atribuída ao Poder Legisla-
controle externo pelo Poder Legislativo.
tivo, exercida por ambas as Casas.
Outras competências, contudo, também
Determina o dever-poder de fiscalização
indispensáveis ao controle amplo e abran-
exercido pelo Congresso Nacional, median-
gente da administração pública, estão afetas
te controles externos e internos.
diretamente ao Tribunal de Contas, que as
Qual o significado de fiscalização, exer-
exerce de forma igualmente independente,
cida mediante controle?
em âmbito fiscalizatório absolutamente
A fiscalização é um meio de verificação
próprio – v.g., os exames de legalidade
que não possui a amplitude do controle.
dos atos de admissão e de inativação dos
Controle é o gênero de fiscalização.
servidores públicos.
A fiscalização sediada no Poder Legisla-
Esse sistema, complexo e que em seu
tivo, exercida mediante controle externo e,
amplexo é uma característica da demo-
portanto, em bases técnicas, é de natureza
cracia e da república moderna, constitui
política no sentido finalístico. Controle
o objeto do presente estudo. A individu-
externo ou interno, de outro lado, é eminen-
alidade autonômica dos entes de Estado
temente técnico, ainda que ambos tenham
no exercício dessas competências, assim
a mesma matriz de dever-poder.
como a intrincada relação entre eles, uma
Ao atribuir ao Poder Legislativo o
colaboração republicana à qual o texto
exercício da competência fiscalizatória no
constitucional conceitua como auxílio do
elenco que enumera, a Constituição, na
Tribunal de Contas ao Poder Legislativo.
primeira parte do artigo 70, demonstra-se
coerente com o princípio do Estado De-
4. O controle externo na
mocrático de Direito que institui em 5 de
Constituição de 1988 outubro de 1988.
Dispõe o artigo 70 e seu parágrafo único Na tradição das Constituições anterio-
da Constituição Federal: res, ainda que não tenha tão alargada a

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competência, o Poder Legislativo – pree- tem por objeto os bens que compõem o pa-
minente entre os Poderes e Instituições de trimônio público – não apenas imobiliário,
Estado harmônicos e independentes, mas também dinheiros, títulos e valores. Tam-
colaborativos – é o representante eminente bém se dirige aos bens móveis permanentes
do povo, não apenas na função primeira de e de consumo.
elaborar o estatuto do Estado e da Socie- Ao qualificar a fiscalização com o ad-
dade, mas também na função não menos vérbio “quanto” no caput do artigo 70, a
importante de fiscalizar a administração Constituição impõe três princípios à ação
pública direta e indireta. fiscalizatória: legalidade, legitimidade e
São conteúdos fiscalizatórios4: economicidade, além dos objetivos fisca-
•  contábil – não apenas na contabilida- lizatórios de aplicação das subvenções e
de pública, mas também na privada, por- renúncia de receitas.
que o universo abrangido pela fiscalização •  legalidade – a fiscalização quanto à
contábil insere os entes de direito público legalidade, aliás, incluída no caput do artigo
(administração direta, autarquias e funda- 37, que rege a Administração Pública, não
ções com natureza pública) e os entes de se limita a fiscalizar o cumprimento da
direito privado (sociedades de economia estrita legalidade, mas da concordância
mista, empresas públicas e fundações es- com o espírito da lei, como conformidade
tatais com natureza privada). A finalidade aos demais princípios constitucionais e que
é a verificação dos registros e sua confia- compõem o interesse público – garantia
bilidade, bem como servir de base para as normativa dos direitos fundamentais;
demais funções de fiscalização; •legitimidade – é a fiscalização da ação
•  financeira – a atividade financeira, administrativa na sua adequação e confor-
como observado, destina-se a obter recur- midade com o sistema jurídico;
sos que ingressam no Estado sem condição •  economicidade – relevante objeto de
no passivo e serão utilizados para a satis- fiscalização, com ênfase na eficiência (como
fação das necessidades públicas, coletivas na operacionalidade), atento ao princípio
ou individuais; da proporcionalidade e razoabilidade,
•  orçamentária – trata do planejamento, excede os limites do custo-benefício da
elaboração, normatização e execução orça- economia privada para avaliar os resulta-
mentários. São as peças fundamentais da dos pretendidos e os obtidos segundo os
atividade financeira do Estado – prevendo princípios financeiros – dos quais sobressai
as receitas e determinando as despesas. a satisfação das necessidades públicas.
São três: Orçamento Anual ou Fiscal, •  aplicação de subvenções é a utilização
Orçamento Plurianual e Lei de Diretrizes de dinheiros públicos (que são transferidos
Orçamentárias; sem retorno) com as condições que a le-
•  operacional – introduzida na Car- gislação lhes impõe. Em resumo, como na
ta de 1988, a fiscalização operacional se renúncia de receitas, trata-se de fiscalizar
dirige essencialmente aos atos e fatos da a administração financeira, sob os mesmos
administração pública e objetiva aquilatar princípios enunciados no artigo 70.
o cumprimento de normas que determinam Além dos princípios referidos no artigo
as ações estatais. Como inovação constitu- 70, impende salientar que a Administração
cional, é instrumento de avaliação e apri- Pública submete-se, conforme o artigo 37,
moramento de tarefas executivas; caput, aos princípios de legalidade, mo-
•  patrimonial – a mais antiga das ações ralidade, publicidade, impessoalidade e
fiscalizatórias, juntamente com a financeira, eficiência, além dos enunciados princípios
incluídos nos incisos do artigo 37 – v.g., li-
4
A classificação e as definições são do autor. citação, concurso público, responsabilidade

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civil, além dos demais princípios aplicáveis for pessoa de direito privado. É a razão do
(v.g. igualdade, informação) explícitos ou termo “gerencie”, definição típica da ativi-
implícitos. dade privada. Mas o elenco de operações é
Na fiscalização determinada pelo artigo meramente enunciativo – não clausulado,
70 da Carta Federal, imbrica-se e com ela porque outras operações financeiras ou
é conexa a ação integral da administração ações administrativas – cujo elenco é amplo,
pública, cujo fim é a realização dos direitos também se inserem no rol de atividades
humanos. fiscalizadas.
Observa-se, por igual, que o disposto Aos entes federados mencionados,
no artigo 70 é modelo obrigatório, em também se aplica o parágrafo único do
razão da simetria federativa adotada em artigo 70, em face da simetria federativa,
1988, para as Cartas Estaduais, ou seja, a imposição constitucional cogente em razão
fiscalização atribuída como dever-poder ao de modelo obrigatório adotado na Carta
Congresso Nacional é também dever-poder de 1988.
das Assembleias Legislativas, Câmaras Mu- De outro lado, como auxílio ao controle
nicipais e à Câmara Legislativa do Distrito externo, dispõe o artigo 71 da Constituição
Federal. de 1988: “Artigo 71. O controle externo, a
O objeto da fiscalização dos entes cargo do Congresso Nacional, será exercido
federados são, respectivamente, as admi- com o auxílio do Tribunal de Contas da
nistrações públicas estadual, municipal e União (...)”.
distrital, sob os mesmos princípios referi- Segue-se no texto constitucional o elen-
dos e no elenco fiscalizatório determinado co de competências do Tribunal de Contas
pelo artigo 70. da União, impositivo para as demais Cortes
A administração pública, como obser- de Contas, no que couber, em cumprimento
vado, expande-se nos Poderes, Ministério ao artigo 75 e seu parágrafo único.
Público e Tribunal de Contas, nos níveis O “auxílio” prestado pelo Tribunal de
federativos respectivos. Contas da União não é a única competência,
O parágrafo único do artigo 70 nomina o embora mais relevante; outras competên-
universo dos que prestam contas: qualquer cias se elencam para o Tribunal de Contas
pessoa física ou entidade pública e as ações (adiante analisadas).
das quais é devida a prestação de contas5.
Dispõe ele: 5. O controle interno na
“Parágrafo único. Prestará contas Constituição de 1988
qualquer pessoa física ou entidade
pública que utilize, arrecade, guarde O controle interno, referido na parte
ou gerencie dinheiros, bens e valo- final do artigo 70, e o sistema de controle
res públicos ou pelos quais a União interno de cada Poder, cumpre ressaltar,
responda, ou que, em nome desta, são apoiadores do controle externo (inciso
assuma obrigações de natureza pe- IV do artigo 74).
cuniária.” Dispõe o artigo 74, caput e incisos:
As operações citadas – utilize, arrecade, “Artigo 74. Os Poderes Legislativo,
guarde ou gerencie – abrangem, proposi- Executivo e Judiciário manterão, de
tadamente, a administração pública direta forma integrada, sistema de controle
e indireta, inclusive, na última, quando interno com a finalidade de:
I – avaliar o cumprimento das metas
5
Esse elenco daqueles que prestam contas não previstas no plano plurianual, a exe-
deixa margem a dúvidas: nele se insere desde o Pre-
sidente da República até o mais simples servidor do cução dos programas de governo e
menor dos municípios brasileiros. dos orçamentos;

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II – comprovar a legalidade e avaliar os órgão de controle interno, localizado na
resultados, quanto à eficácia e eficiên- Secretaria da Fazenda estadual e denomi-
cia, da gestão orçamentária, financeira nado CAGE – Controladoria e Auditoria
e patrimonial nos órgãos e entidades Geral do Estado.
da administração federal, bem como Além do sistema integrado previsto
da aplicação de recursos públicos por no texto constitucional, também exercem
entidades de direito privado; o controle interno os recém-instituídos
III – exercer o controle das operações Conselho Nacional de Justiça, Conselho
de crédito, avais e garantias, bem como Nacional do Ministério Público, Conselho
dos direitos e haveres da União; Nacional da Justiça Federal e a Controla-
IV – apoiar o controle externo no exer- doria Geral da União, atuantes sobre os
cício da sua missão institucional.” órgãos do Poder Judiciário, Ministério Pú-
O parágrafo único estabelece a respon- blico e unidades administrativas do Poder
sabilidade solidária quando os respon- Executivo da União6.
sáveis pelo controle interno, ao tomarem
conhecimento de qualquer irregularidade 6. O Tribunal de Contas
ou ilegalidade, não derem conhecimento
O Tribunal de Contas, paradigmati-
ao Tribunal de Contas da União.
zado nacionalmente como modelo para o
O controle interno possui atribuições
Tribunal de Contas da União, está regrado
como as do inciso II, sem prejuízo de idên-
no artigo 71 e seguintes da Carta de 1988.
ticas atribuições (as demais) deferidas ao
A Constituição não define sua natureza
controle externo.
jurídica.
Não se trata de superposição de atribui-
A sua denominação (Tribunal), a locali-
ções, mas de níveis distintos.
zação constitucional no Poder Legislativo
O controle interno – geralmente che-
e a qualificação de suas competências
fiado por contador-geral – é integrado por
(como apoio ou colaboração) são questões
servidores públicos qualificados e tem a
tormentosas que não encontram pacífica
função de apoiar, em primeiro plano, o
conceituação na doutrina; no Poder Judi-
controle externo.
ciário, as decisões são discrepantes.
Atua na própria intimidade da Admi-
Necessário, pois, enfrentar essas ques-
nistração Pública – daí porque é interno – e,
tões, salientando-se que, embora o artigo 71
embora dotado de autonomia funcional
discipline o Tribunal de Contas da União,
para a execução dos deveres constitucio-
por força do artigo 75, como já dito ante-
nais, não é dotado de poderes, entre eles,
riormente, é ele modelo obrigatório para os
ausente o poder de polícia, atributo indis-
demais Tribunais ou Conselhos de Contas
pensável do controle externo.
do Brasil, segundo a simetria federativa
Exerce suas atribuições em âmbito
adotada na Carta de 1988.
federal, estadual e distrital mediante um
A dissertação se concentra, quanto a
sistema de forma integrada nos Poderes.
esse órgão – Tribunal de Contas –, na sua
Isso implica que as Instituições de Esta-
natureza, competência e organização e o
do, Ministério Público e Tribunal de Contas
referirá no singular, entendido assim que
têm o seu controle interno próprio, excluído
do sistema integrado. 6
Embora o Supremo Tribunal Federal, na ADC no
Nos Municípios, o controle interno 12, relator Ministro Ayres Britto, tenha conceituado,
também forma um sistema, mas situado equivocadamente, os novos Conselhos Nacionais
da Justiça, como órgãos de controle externo, o pró-
no Poder Executivo (artigo 31).
prio Conselho Nacional de Justiça, reiteradamente,
No Estado do Rio Grande do Sul, a autoclassifica-se, corretamente, como órgão nacional
Administração Estadual manteve o antigo de controle interno.

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a citação singular também é válida para os 6.1. Tribunal de Contas (1988):
demais Tribunais ou Conselhos de Conta. natureza – evolução
Como resultado da longa evolução histó-
rica acima assinalada, o controle e seu agente A questão principal a respeito do Tribu-
Tribunal de Contas são a mais afirmativa nal de Contas é o exame e conclusão sobre a
criação independente e técnica do Estado. sua natureza jurídica, que se reflete na sua
Nenhuma empresa privada ou ente pri- organização e competências.
vado, por mais poderosos que possam ser Viu-se antes que a iniciativa de criação
– e muitos o são – possuem a independência do Tribunal de Contas coube a Ruy Barbo-
de controle que o Estado se autoconstitui. sa, como Ministro da Fazenda, ao alvorecer
Não mais do que mil empresas privadas da República.
(complexo industrial, militar, química, Embora não tenha sido implantado, o
informática, infraestrutura, aeronáutica, Tribunal de Contas previsto no Decreto no
bancos, minérios) detêm o mesmo valor 966-A, de 7 de novembro de 1890, firmado
do produto nacional público da soma dos por Manoel Deodoro da Fonseca e Ruy
Estados do planeta. Barbosa, Chefe do Governo Provisório e
Nenhuma delas, contudo, possui o sis- Ministro da Fazenda, respectivamente, foi
tema de controle externo, como realização o embrião do Tribunal na Carta de 1891.
democrática e dos direitos humanos, que A peça legal para a primeira abordagem
qualquer Estado civilizado dispõe, com a sobre a sua natureza não é exatamente o
independência política e técnica, mesmo texto do decreto, de resto singelo, mas a
comparadas ao Estado mais empobrecido Exposição de Motivos, longa e minuciosa,
da África ou da América Latina. obra jurídica e literária de Ruy Barbosa.
As empresas privadas valem-se, para Dirigindo-se ao Generalíssimo, que
o controle especializado, de empresas de firmaria o Decreto, inicia Ruy Barbosa a
auditoria, cujos relatórios não têm força Exposição de Motivos com a oração de
de poder de polícia (obrigatórios para o fé na “democracia”, “Constituição livre”,
sistema financeiros e securitário, como nos “como base da democracia” e “o julgamen-
países europeus, Estados Unidos ou Brasil to popular”.
– Lei no 4.595/64). Em seguida, Ruy Barbosa afirma que,
As últimas falências (para ficar nas para o Governo Provisório coroar as suas
mais recentes) nos Estados Unidos ou nas obras (a República), faltava-lhe a mais im-
empresas financeiras no Brasil, contavam portante providência, exigência que uma
com pareceres favoráveis de auditoria “sociedade política bem constituída pôde
independente. exigir de seus representantes”.
Isso permite concluir o grau de aperfei- Referia-se o então Ministro da Fazen-
çoamento e qualificação fruto da indepen- da e autor do texto do Decreto proposto
dência da qual está dotado, modernamente, na Exposição de Motivos do Decreto no
o sistema de controle estatal. 966-A à:
Conclui-se: o controle externo da admi- “necessidade de tornar o orçamento
nistração pública é instrumento da demo- uma instituição inviolável e sobe-
cracia, realização da cidadania e dos direitos rana, em sua missão de prover as
humanos – indisponível e indelegável, fun- necessidades públicas mediante o
dado no princípio do interesse público7. menos sacrifício dos contribuintes, à
necessidade urgente de fazer dessa
O controle externo se integra no Estado Demo-
7
lei das leis uma força da nação, um
crático de Direito, indisponível e indelegável. De
resto, não há administração pública evoluída sem o sistema saibo, econômico, escudado
dever-controle independente. contra todos os desvios, todas as von-

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tades, todos os poderes que ousem em que vamos entrar, o orçamento
perturbar-lhe o curso traçado. federal.
Nenhuma instituição é mais rele- Se não conseguir este desideratum:
vante, para o movimento regular do si não pudermos chegar a uma vida
mecanismo administrativo e político orçamentaria perfeitamente equili-
de um povo, do que a lei orçamen- brada, não nos será dado presumir
tária. Mas em nenhum há maior fa- que hajamos reconstituído a pátria,
cilidade aos mais graves e perigosos e organizado o futuro.
abusos8.” É, entre nós, o sistema de contabili-
Apontando os requisitos de estabilidade dade orçamentaria defeituoso em seu
de qualquer forma de governo constitucio- mecanismo e fraco de sua execução.
nal, dos quais salienta o orçamento, o qual O Governo Provisório reconheceu a
deixa de ser uma “contribuição formal”, urgência inadiável de reorganizá-lo; e
preconiza que se revista do “caráter de a medida que vem propor-vos é a cria-
uma realidade segura, solene, inacessível ção de um Tribunal de Contas, corpo
e transgressões impunes”. de magistratura intermediaria à admi-
“Acautelar e vencer esses escusos” que nistração e à legislatura, que, colocado
atentam contra a lei, inspirados em oposição em posição autônoma, com atribuições
ao “interesse geral”. Esse foi sempre, diz de revisão e julgamento, cercado de
Ruy Barbosa, o empenho de todas as nações garantias – contra quaisquer ameaças,
regularmente organizadas desde que os or- possa exercer as suas funções vitais no
çamentos deixaram de ser “l’état du roi”. organismo constitucional, sem risco de
Para a instrumentação desse “acautelar converter-se em instituição de ornato
e vencer”, para superação do “l’état du aparatoso e inútil.
roi”, para que a lei das leis (orçamento) Só assim o orçamento, passando,
se transforme na realidade segura, solene, em sua execução, por esse cadinho,
inacessível a transgressões impunes, Ruy tornar-se-á verdadeiramente essa
Barbosa propõe a instituição do Tribunal verdade, de que se fala entre nós em
de Contas. vão, desde que neste país se inaugu-
O Tribunal de Contas será apenas a raram assembléias parlamentares9.”
tarefa política da missão de um governo Melhor sorte teve o projeto de Ruy Bar-
que proclamou a República, propôs ao país bosa do que os projetos anteriores, ainda que
uma Constituição livre para firmar as insti- não instalado o Tribunal ali previsto, o que
tuições democráticas em bases sólidas – o ocorreria com a Carta Republicana de 1891.
Tribunal de Contas é o ente (futuramente Para Ruy Barbosa, não se tratava apenas
constitucional) integrante das instituições de criar um Tribunal de Contas. Sua ideia
democráticas que garantem que as mesmas política era essencialmente republicana,
instituições democráticas se firmam em democrática, moralizadora, um escudo
bases sólidas. protetor do Tesouro, com força punitiva em
Acresce Ruy Barbosa: caso de transgressão ao seu objeto principal
“Cumpre à República mostrar, ainda (e único) – acautelar e vencer os atentados
neste assumpto, a sua força regene- contra a lei das leis – o orçamento.
radora, fazendo observar escrupulo- Diz Ruy Barbosa:
samente, no regimento constitucional “Mas para a edificação republicana
esta reforma deve ser uma das pedras
8
O documento original do Decreto no 966-A e sua
fundamentais.
Exposição de Motivos encontram-se na Casa de Ruy
Barbosa, instituição privada criada pelos Tribunais de
Contas. O autor teve acesso a uma cópia reprográfica. 9
BARBOSA, Ruy. Exposição de motivos ao decreto no
Dela são as transcrições seguintes. 966-A. Transcrição do texto grafado no original.

Brasília a. 46 n. 181 jan./mar. 2009 257


A necessidade de confiar a revisão de os punir. Circunscrita a estes limites,
todas as operações orçamentarias da essa função tutelar dos dinheiros
receita e despesa a uma corporação públicos será muitas vezes inútil, por
com as attribuições que vimos de omissa, tardia, ou impotente. Convém
expor, está hoje reconhecida em todos levantar, entre o poder que autoriza
os países, e satisfeita em quase todos periodicamente a despesa e o poder
os sistemas de governo estabelecidos, que quotidianamente a executa, um
que apenas divergem quanto à esco- mediador independente, auxiliar de
lha dos moldes; havendo não menos um e de outro, que, comunicando
de quatorze constituições, onde se com a legislatura, e intervindo na
consigna o princípio do Tribunal de administração, seja, não só o vigia,
Contas10.” como a mão forte da primeira sobre a
O Ministro da Fazenda a seguir enume- segunda, obstando a perpetração das
ra dois tipos de Tribunal de Contas: um, no infrações orçamentárias por um veto
modelo originário da França e adotado pela oportuno aos atos do executivo, que
Suécia, Espanha, Grécia, Sérvia, Romênia e direta ou indireta, próxima ou remo-
Turquia, além dos “dois” grandes Estados tamente discrepem da linha rigorosa
centrais da Europa – Alemanha e Império das leis de finanças11.”
Austro-Húngaro supostamente. Prossegue Ruy Barbosa na Exposição de
O segundo adotado no modelo da Itália, Motivos historiando a respeito do projeto
perfilado pela Holanda, Bélgica, Portugal de 1845 para a criação de um Tribunal de
(há quatro anos), Chile (há dois anos) e Contas elaborado por Manuel Alves Bran-
recentemente o Japão – considerada a data co. Transcreve-o integralmente, frustrado,
do projeto. como já se viu, segundo Ruy Barbosa:
Ruy Barbosa explicita sobre os sistemas “Mas, como não é de estranhar, atente
de controle dos Tribunais de Contas: no a importância do assumpto, a idéia
primeiro grupo, “a fiscalização se limita a adormeceu, na Mesa da Câmara, des-
impedir que as despesas sejam ordenadas se bom sono de que raramente acor-
ou pagas, além das faculdades do orça- davam as idéias úteis, especialmente
mento”. as que podiam criar incômodos à
No segundo grupo, “a ação dessa ma- liberdade da politicagem eleitoral.
gistratura vai muito mais longe: antecipa-se E quarenta e cinco anos deixou a
ao abuso, atalhando em sua origem os atos monarquia entregue o grande pen-
do poder executivo susceptíveis de gerar samento ao pó protetor dos arquivos
despesa ilegal”. parlamentares12.”
Para Ruy Barbosa, o segundo sistema é Ruy Barbosa, com suas costumeiras
o mais adequado, satisfaz a finalidade da lições, esmiúça o modo operacional do Tri-
instituição. bunal belga e do Tribunal italiano, salien-
Explicita: tando que, neste último, com competências
“Dos dois sistemas, o último é o que além do orçamento e das finanças, transpôs
satisfaz cabalmente os fins da institui- ele a linha divisória, forçando a natureza
ção, o que dá toda a elasticidade ne- da instituição. Ruy Barbosa era severo
cessária ao seu pensamento criador. quanto à rigorosa e estrita obediência à lei
Não basta julgar a administração, de- orçamentária, pretendendo alheio o novo
nunciar o excesso cometido, colher a Tribunal à matéria estranha.
exorbitância, ou a prevaricação, para
11
BARBOSA, Ruy. Op. cit.
10
BARBOSA, Ruy. Op. cit. 12
Idem.

258 Revista de Informação Legislativa


Da Exposição de Motivos, aula magna Como se verifica, o Tribunal é instituído
inaugural do Tribunal de Contas da Repú- no movimento político da Proclamação
blica, pode-se concluir que o Tribunal nascia da República, instrumento democrático
sob os seguintes valores (coligidos e trans- e autônomo, cercado de garantias, e seus
critos no peculiar estilo de Ruy Barbosa)13: membros predicamentados com a ina-
•  o Tribunal de Contas é uma institui- movibilidade dos magistrados da Corte
ção democrática; Suprema.
•  resulta de uma Constituição livre des- Também Instituição constitucional, é
tinada a firmar constituições democráticas corpo de magistratura intermediária14 en-
em bases sólidas; tre o Poder Executivo e o Legislativo. Suas
•  providência de uma sociedade po- atribuições, rigorosas e severas, examinam,
lítica bem constituída, exigida dos seus revisam e julgam as operações previamen-
representantes; te. Sua negativa de registro impede a publi-
•  o Tribunal de Contas é um corpo da cidade e a execução, sempre sob o critério
magistratura intermediária à administração da inviolabilidade da lei.
e à legislatura; Em 8 de outubro de 1896, a Lei no 392,
•  cercado de garantias, com atribuições que ainda se denominava como as demais
de revisão e julgamento; por decreto, atribuiu ao Tribunal de Contas,
•  exerce funções vitais no organismo além da função de fiscal da administração
constitucional, sem risco de converter-se em financeira (art. 2o, § 1o, no I), a sua isonomia
instituição de ornato aparatoso e inútil; de funcionamento “como Tribunal de Jus-
•  os membros do Tribunal de Contas tiça com jurisdição contenciosa e graciosa”
são nomeados pelo Presidente da Repúbli- (art. 2o, § 1o, no II) mediante processo em
ca, sujeitos à aprovação do Senado; estilo judicial (artigos 3o e 4o), no julgamento
•  gozarão seus membros das mesmas e revisão das contas a ele devidas.
garantias de inamovibilidade dos membros Nos Comentários à Constituição Federal
do Supremo Tribunal Federal; Brasileira, coligidos e ordenados por Home-
•  incumbe-lhe o exame, a revisão e o ro Pires, Ruy Barbosa define-o com precisão
julgamento de todas as operações concer- (na grafia da língua portuguesa à época de
nentes à receita e despesa da República; Ruy Barbosa):
•  todos os decretos do Poder Executivo, “Tribunal é, mas Tribunal sui generis.
ordens ou avisos de Ministérios, que sejam (...)
suscetíveis de criar despesas ou interessar Corpo da magistratura intermediária
às finanças da república, para poderem á administração e á legislatura, que
ter publicidade e execução, serão sujeitos collocado em posição autônoma com
primeiro ao Tribunal de Contas, que os re- atribuições de revisão e julgamento,
gistrará quando reconheça que não violem cercado de garantias contra quaes-
disposição de lei nem excedam os créditos quer ameaças, possa exercer funções
votados pelo Poder Legislativo; vitaes no organismo constitucional
•  julgará anualmente as contas de todos (...)
os responsáveis pelas mesmas, independen- (...) sem risco de converter-se em ins-
temente dos Ministérios a que pertençam, tituição de ornoso apparatoso e inútil.
dando-lhes quitação, condenando-os a pa- Só assim o orçamento, passando, em
gar, e, quando não o cumprem, mandando sua execução, por esse cadinho, tor-
proceder na forma de direito. nar-se-á verdadeiramente essa ver-
13
Resumo da Exposição de Motivos de Ruy Bar- 14
A definição é de Ruy Barbosa na referida Expo-
bosa elaborado pelo autor. sição de Motivos.

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dade, de que fala entre nós, em vão, Barbosa, na sua doutrina e na Exposição
desde que neste paiz se inauguraram de Motivos, encontra em Seabra Fagundes
assembléias parlamentares15.” e Castro Nunes outras lições, cuja impor-
Nasce com a incumbência de, juntamen- tância merece reprodução.
te com a necessária reorganização finan- A respeito da natureza jurídica do
ceira para atendimento das necessidades Tribunal de Contas, Castro Nunes (apud
públicas, atuar firmemente no exame e FAGUNDES, 1976) disse:
julgamento do fiel cumprimento às leis. “É um instituto sui generis, posto de
É uma nova Instituição republicana e permeio entre os poderes políticos
democrática, que, constitucionalizada em da Nação, o Legislativo e o Executi-
1891, vai firmar com os Poderes a sólida vo, sem sujeição, porém, a qualquer
base institucional, somente interrompida deles (...).”
nos intervalos extraconstitucionais. Seabra Fagundes, em memorável con-
Republicano e democrático, o Tribunal ferência no VIII Congresso dos Tribunais
de Contas no Brasil somente exerceu suas de Contas do Brasil, em novembro de 1975,
amplas funções vitais enquanto vigente o ressalta a projeção das Cortes de Contas em
sistema democrático. Em 1938, logo após seu papel controlador sobre todos os po-
a decretação do Estado Novo, o governo deres estatais, participando de atividades
colocou em recesso o Tribunal de Con- legislativas, executivas e judicicantes que
tas e os Tribunais de Contas estaduais e lhes comunica um certo hibridismo.
Conselhos de Contas municipais. Em 1946 Referindo-se ao seu Controle dos atos ad-
reinstalaram-se as Cortes de Contas, com a ministrativos, clássico do Direito Adminis-
redemocratização do país. trativo, assevera Seabra Fagundes (1976, p.
O episódio que dá origem ao recesso 393 e ss), no VIII Congresso já referido, que
ditatorial do Tribunal remonta à época do o Tribunal possui competência dupla: emite
Ministro Thompson Flores, quando, por parecer prévio e julga irretratavelmente as
seu voto, a Corte rejeitou as contas do Pre- contas; aqui sua função é jurisdicional.
sidente da República relativas ao exercício Pontes de Miranda (1953, p. 344 e ss),
de 1936, na sessão do Pleno de 26 de abril nos Comentários à Constituição de 1946, diz
de 1937. Colocado em disponibilidade, o caber ao Tribunal de Contas o julgamento
Ministro aposentou-se em 1950. O episódio das contas dos responsáveis e que:
é revelado pelo Desembargador Federal “ As questões decididas pelo Tribunal
Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz de Contas, no julgamento das contas
(2005, p. 351)16. dos responsáveis pelos dinheiros
Instituição vital ao Estado Democrático ou bens públicos, não são simples
de Direito, sem ser poder é-lhe atribuído questões prévias; são questões pre-
dever-poder para fiscalizar os Poderes, o judiciais, constituem o ‘prius’ lógico-
Ministério Público e exercer o seu auto- jurídico de um crime, ou pelo menos,
controle. de circunstancial material desse.
Sua natureza jurídica, além da histórica É elemento indispensável à repressão
e autêntica interpretação extraída de Ruy do crime de peculato, por parte do
juiz comum, o julgamento das contas
15
Citados por Miguel Seabra Fagundes (1976, p.
393 e ss), em conferência de 12 nov. 1975. Os anais dos responsáveis, e esse julgamento
estão arquivados nas bibliotecas do Tribunal de somente pode ser feito pelo Tribunal
Contas da União e na Casa de Ruy Barbosa, no Rio de Contas.
de Janeiro.
Quando o juiz comum despreza o
16
Originado de Conferência proferida na Escola
de Gestão e Controle Francisco Juruena do Tribunal julgamento do Tribunal de Contas,
de Contas em 26 out. 2004. infringindo-o, ou modificando-o, ou

260 Revista de Informação Legislativa


tendo-o por desnecessário, usurpa quando julga, ele, as contas dos
funções do Tribunal de Contas, sem responsáveis por dinheiros ou bens
proveito dos acusados, ou contra públicos (Const. Fed., art. 77, II). Esse
eles. julgamento compete-lhe, porém, em
(...) função do ato político do Congresso
Trata-se de regra de direito civil, que Nacional, que julga as contas do Poder
de nenhum modo poderia ter reper- Executivo (Const. Fed., art. 66, VIII).
cussão no direito administrativo, E como a competência do Tribunal
‘a fortiori’ quando existe regra de de Contas, acerca do julgamento das
direito constitucional separando as contas dos responsáveis por dinheiros
competências. ou bens públicos, sòmente lhe é atri-
(...) buída em função daquele ato político,
Em virtude da Constituição, o juiz co- as decisões do Tribunal de Contas,
mum não julga contas dos responsá- nessa matéria, não poderiam, por isso
veis por dinheiros ou bens públicos, mesmo, ficar sujeitas a reexame judi-
– só as julga o Tribunal de Contas. ciário. O julgamento político exclui o
(...) pronunciamento judiciário ulterior,
Nem a lei ordinária, nem a interpre- nos mesmos termos em que o julgado
tação pode inverter o que decorre de criminal exclui a ação civil. ‘... não se
regras de competência, insertas na poderá... questionar mais sobre a exis-
própria Constituição.” tência do fato, ou quem seja o autor...’
Ruy Cirne Lima (s./d., p. 245 e ss), em (art. 1.525, Cód. Civ.). De outro lado, o
Pareceres: (direito público), assina notável julgamento político tem precedência
peça opinativa de 8 de abril de 1963, parte necessária sobre o pronunciamento
II, em que afirma: judiciário. Em conseqüência, nem
“Onde se abre campo à ação (em antes nem depois das decisões do Tri-
sentido material), aí, entretanto, tem bunal de Contas, enquanto às contas
a competência do Tribunal de Contas dos responsáveis por dinheiros ou
terminado, RUY BARBOSA, ainda, é bens públicos, toca, aos Juízes e Tri-
quem diz: ‘Se o Tribunal de Contas, bunais comuns, pronunciar-se sobre o
por uma decisão sua, ou o Congresso fato sujeito, ou quem lhe seja o autor.
Nacional, por um ato fundado no A eficácia exclusiva e terminativa das
Tribunal de Contas, invadirem usur- decisões do Tribunal de Contas, nessa
patòriamente o terreno inviolável... matéria, não é mais, no entanto, do
(das) garantias e direitos (individu- que uma aplicação do princípio de
ais), poderão as vítimas ir buscar o independência e harmonia dos pode-
remédio jurídico na autoridade dos res políticos (Const. Fed., art. 36). Não
Juízes e Tribunais...’ é, certamente, expressão do poder de
(...) julgar, que ao Tribunal de Contas, en-
Tem, portanto, entre nós, o Tribunal tre nós, falece por completo, embora
de Contas, ‘jurisdictio’; falta-lhe, po- seja, ele, e, também, atentas as linhas
rém, competência para o ‘judicium’ estruturais de nosso regime, porque
e, ‘a fartiorí’, competência para dá-lo seja, ele, a mais alta jurisdição admi-
e cometê-lo a outrem, porque, estra- nistrativa da República.”
nha à sua função, naquêle ou neste Citado por Eduardo Lobo Botelho Gua-
aspecto, a idéia de ação (em sentido lazzi (1992, p. 90), Themistocles Brandão
material). Certo, são, as decisões do Cavalcanti, autor clássico das décadas de
Tribunal de Contas, terminativas, 40 e 50, sobre a Carta de 1946, a respeito

Brasília a. 46 n. 181 jan./mar. 2009 261


do Tribunal de Contas e competências, gamento das contas dos administra-
dissertava no dores e demais responsáveis por bens
“(...) sentido de que ‘as correntes di- e valores públicos. Em suma, verificar
vergentes têm encarado o problema da legalidade, da legitimidade e da
do controle financeiro dos atos da Ad- economicidade dos atos contábeis,
ministração sob prismas muito diver- financeiros, orçamentários, operacio-
sos, ora adotando um critério político nais e patrimoniais da administração
de subordinação da Administração a direta e indireta da União.
um duplo controle jurisdicional (do O controle externo é, pois, função do
Tribunal de Contas) e legislativo (das Poder Legislativo, sendo de competên-
Câmaras), ora se fixando dentro de cia do Congresso Nacional no âmbito
teses doutrinárias em que a questão federal, das Assembléias Legislativas
do controle prévio tomou grande nos Estados, da Câmara Legislativa
destaque, ora, finalmente, reagindo no Distrito federal e das Câmaras Mu-
contra esses critérios e conferindo ao nicipais nos Municípios com o auxílio
Tribunal de Contas posição mera- dos respectivos Tribunais de Contas.
mente formal, que levaria, em suas Consiste, assim, na atuação da função
últimas conseqüências, à própria fiscalizadora do povo, através de
extinção do Tribunal de Contas’”. seus representantes, sobre a admi-
Também Aliomar Baleeiro (apud GUA- nistração financeira e orçamentária.
LAZZI, 1992, p. 90) ressalta o papel político É, portanto, um controle de natureza
da Corte: política, no Brasil, mas sujeito à prévia
“(...) à primeira vista, o Tribunal de apreciação técnico-administrativa do
Contas poderá parecer simples ór- Tribunal de Contas competente, que
gão administrativo, colegiado, com assim se apresenta como órgão técni-
funções jurisdicionais sobre os or- co, e suas decisões são administrativas,
denadores e pagadores de dinheiros não jurisdicionais, como, às vezes, se
públicos, no interesse da probidade sustenta, à vista da expressão ‘julgar
da Administração. Assim é numa as contas’ referida à sua atividade
primeira aproximação. Mas, se o (art. 71, I). A mesma expressão é
analisarmos detidamente, por outros também empregada no art. 49, IX,
aspectos, chegaremos à conclusão de em que se dá ao Congresso Nacional
que existe algo de mais importante e competência para julgar anualmente as
profundo nesse órgão ‘imediato’ da contas prestadas pelo Presidente da
Constituição: é a sua função essen- República, e nem por isso se dirá que
cialmente política que decorre desses ele exerce função judificante.”
aspectos menos ostensivos.” A posição de José Afonso da Silva, em-
José Afonso da Silva (2002, p. 728-729) bora o seu brilhantismo, é restritiva quanto
comenta sobre a natureza jurídica do Tri- à natureza da Corte. Sem dúvida, órgão
bunal de Contas em seu Curso de direito administrativo apenas não é. Que possui atri-
constitucional positivo: buições duplas, elenco das competências consti-
“Tem por objetivo, nos termos da tucionais não deixa margem à discussão.
Constituição, a apreciação das con- Seu hibridismo é percebível, segundo Ruy
tas do Chefe do Poder Executivo, Barbosa e Ruy Cirne Lima: emite parecer
o desempenho das funções de au- em apoio técnico como instituição polí-
ditoria financeira e orçamentária, a tica, julga em decisões judicialiformes e
apreciação da legalidade dos atos de ainda tem competências administrativas
admissão de pessoal, bem como o jul- de controle.

262 Revista de Informação Legislativa


É também o ensino de Eduardo Lobo de qualquer cidadão, partido político, as-
Botelho Gualazzi, no minucioso Regime jurí- sociação ou sindicato de, legitimamente,
dico dos tribunais de contas, no qual arrola as denunciar irregularidades ou ilegalidades
correntes polêmicas a respeito da natureza ao Tribunal de Contas (art. 74, § 2o).
do Tribunal de Contas, liderados por José A medida, segundo Torres, insere-se na
Cretella Júnior, de um lado, como órgão moderna concepção de que o Tribunal de
especificamente administrativo, e Castro Contas é colaborador (auxiliar, como diz
Nunes, de outro lado, defensor do órgão Torres), tanto da Administração e do Legis-
de jurisdição administrativa. lativo quanto da própria comunidade.
Gualazzi (1992, p. 187), ao examinar os E expressa:
diferentes conceitos, conclui: “A democracia hodierna é represen-
“Assim, pode-se definir Tribunal tativa e participativa, como deixa
de Contas, no Brasil, como o órgão claro a CF de 1988, assegurando
administrativo parajudicial, funcio- às associações e demais órgãos da
nalmente autônomo, cuja função comunidade a possibilidade de de-
consiste em exercer, de ofício, o con- fesas dos direitos públicos, coletivos
trole externo, fático e jurídico, sobre e difusos.
a execução financeiro-orçamentária, O Tribunal de Contas, que está es-
em face dos três Poderes do Estado, sencialmente ligado aos direitos fun-
sem a definitividade jurisdicional. damentais, pela dimensão financeira
Esta definição é cabalmente aplicável que estes exibem, aparece na CF 88
ao Direito Brasileiro, mas discrepa da como uma das garantias institucio-
concepção comparatística de Tribu- nais da liberdade, a que o cidadão
nal de Contas. tem acesso através das garantias
Em termos de Direito Administrativo processuais. Pode a comunidade
Comparado, Tribunal de Contas é o ór- invocar a proteção do Tribunal de
gão de controle externo e jurisdição, Contas para o combate à corrupção,
judicial e extrajudicial, sobre a exe- para o controle dos incentivos fiscais,
cução financeiro-orçamentária, com para promover a fiscalização sobre
eventual definitividade jurisdicional. as entidades financeiras privadas
Assim é porque, conforme se verifi- que, causando prejuízos a terceiros,
cou nesta tese, nos itens dedicados a possam atingir o Tesouro, para fixar o
Direito Comparado, os Tribunais de valor do dano ambiental causado por
Contas de muitos Estados soberanos funcionário público ou terceiros, etc.”
constituem ramificações especializa- (TORRES, 1999, p. 179-180)
das do ‘contencioso administrativo’ Odete Medauar (1990, p. 140-141), no
ou ‘justiça administrativa’ e, destarte, seu Controle da administração pública, após
exercem jurisdição stricto sensu, com excluir as hipóteses de inclusão do Tribunal
decisões finais suscetíveis de carac- de Contas no âmbito dos Poderes Executi-
terizarem a coisa julgada, em sentido vo, Judiciário ou Legislativo, conclui:
técnico de Teoria do Processo.” “Resta verificar se a Corte de Contas
Ricardo Lobo Torres (1999, p. 178) insere-se no âmbito do Poder Legis-
aponta que o “Tribunal de Contas tem o lativo. Parece-nos que a expressão
seu papel dilargado na democracia social ‘com o auxílio do Tribunal de Contas’,
e participativa e não se deixa aprisionar no contida no art. 71 da Constituição
esquema da rígida separação de poderes”. Federal, tem gerado certa confusão no
De outro lado, salienta que a Constitui- tocante aos vínculos entre esse órgão e
ção Federal declara expressamente o direito o Legislativo, para considerá-lo subor-

Brasília a. 46 n. 181 jan./mar. 2009 263


dinado hierarquicamente a tal poder, “Feita a ressalva, começo por dizer
dada sua condição de auxiliar. Muito que o Tribunal de Contas da União
comum é a menção do Tribunal de não é órgão do Congresso Nacional, não é
Contas como órgão auxiliar do Poder órgão do Poder Legislativo. Quem assim
Legislativo, o que acarreta a idéia de me autoriza a falar é a Constituição
subordinação. Confunde-se, desse federal, com todas as letras do seu
modo, a função com a natureza do ór- art. 44, litteris: ‘O Poder Legislativo
gão. A Constituição Federal, em artigo é exercido pelo Congresso Nacional,
algum, utiliza a expressão ‘órgão au- que se compõe da Câmara dos Deputados
xiliar’; dispõe que o controle externo e do Senado Federal’ (grifo à parte).
do Congresso Nacional será exercido Logo, o parlamento brasileiro não
com o auxílio do Tribunal de Contas; a se compõe do Tribunal de Contas da
sua função, portanto, é de exercer o União. Da sua estrutura orgânica ou
controle financeiro e orçamentário da formal deixa de fazer parte a Corte
Administração em auxílio ao poder Federal de Contas e o mesmo é de se
responsável, em última instância, por dizer para a dualidade Poder Legis-
essa fiscalização. Tendo em vista que a lativo/Tribunal de Contas, no âmbito
própria Constituição assegura ao Tri- das demais pessoas estatais de base
bunal de Contas as mesmas garantias territorial e natureza federada.
de independência do Poder Judiciário, Não que a função de julgamento de
impossível considerá-lo subordinado contas seja desconhecida das Casas
ao Legislativo ou inserido na estru- Legislativas. Mas é que os julga-
tura do Legislativo. Se a sua função mentos legislativos se dão por um
é de atuar em auxílio ao Legislativo, critério subjetivo de conveniência
sua natureza, em razão das próprias e oportunidade, critério esse que é
normas da Constituição, é a de órgão forma discricionária de avaliar fatos
independente, desvinculado da estru- e pessoas. Ao contrário, pois, dos
tura de qualquer dos três poderes. A julgamentos a cargo dos Tribunais de
nosso ver, por conseguinte, o Tribunal Contas, que só podem obedecer a pa-
de Contas configura instituição estatal râmetros de ordem técnico-jurídica,
independente.” isto é, parâmetros de subsunção de
A autora, com adequada análise, com- fatos e pessoas à objetividade das
prova, previamente ao texto transcrito normas constitucionais e legais.
acima, que o “auxílio” ao Poder Legislativo (...)
não subordina o Tribunal de Contas, nem Diga-se mais: além de não ser órgão
o insere no âmbito do Poder Legislativo do Poder Legislativo, o Tribunal de
porque a própria Constituição assegura ao Contas não é órgão auxiliando o
Tribunal de Contas as mesmas garantias de Parlamento Nacional, naquele sen-
independência do Poder Judiciário. tido de inferioridade hierárquica ou
Carlos Ayres Britto (apud FIGUEIRE- subalternidade funcional.
DO, NÓBREGA, 2002, p. 96 e ss), a respeito (...)
da polêmica natureza jurídica do Tribunal Tudo fica mais claro quando se faz a
de Contas, expõe17: distinção entre competências e fun-
ções. A função de que nos ocupamos
17
O Ministro Carlos Ayres Britto, antes de as- é a mesma, pois outra não é senão o
sumir seu cargo de Ministro do Supremo Tribunal,
foi Procurador no Tribunal de Contas de Sergipe. A
controle externo. As competências,
relevância do seu entendimento deriva também da no entanto, descoincidem.
experiência profissional. (...)

264 Revista de Informação Legislativa


Algumas características da jurisdição, Com efeito, o recorte jurídico-positivo
no entanto, permeiam os julgamentos das Casas de Contas é nuclearmente
a cargo dos Tribunais de Contas. Pri- feito nas pranchetas da Constituição.
meiramente, porque os TCs julgam Foi o legislador de primeiríssimo
sob critério exclusivamente objetivo escalão quem estruturou e funcio-
ou da própria técnica jurídica (sub- nalizou todos eles (os Tribunais de
sunção de fatos e pessoas à objetivi- Contas), prescindindo das achegas
dade das normas constitucionais e le- da lei menor. É só abrir os olhos sobre
gais). Segundamente, porque o fazem os 6 artigos e os 40 dispositivos que
com a força ou a irretratabilidade que a Lei das Leis reservou às Cortes de
é própria das decisões judiciais com Contas (para citar apenas a seção de
trânsito em julgado. Isso quanto ao n. IX do capítulo atinente ao Poder
mérito das avaliações que as Cortes Legislativo) para se perceber que
de Contas fazem incidir sobre a gestão somente em uma oportunidade é que
financeira, orçamentária, patrimonial, existe menção à lei infraconstitucional.
contábil e operacional do Poder Pú- Menção que é feita em matéria de
blico. Não, porém, quanto aos direitos aplicação de sanções (inciso VIII do
propriamente subjetivos dos agentes art. 71), porque, em tudo o mais,
estatais e das demais pessoas envolvi- o Código Supremo fez questão de
das em processos de contas, porque, semear no campo da eficácia plena e
aí, prevalece a norma constitucional da aplicabilidade imediata.”
que submete à competência judicante Sepúlveda Pertence (1998, p. 46-47), em
do Supremo Tribunal Federal a impe- conferência para o XIX Congresso dos Tri-
tração de habeas corpus, mandado de bunais de Contas do Brasil, esclarece:
segurança e habeas data contra atos do “Creio ser hora de concluir, renovan-
TCU (art. 102, inciso I, alínea d). Por do escusas pelo desataviado das notas
extensão, caem sob a competência dos da madrugada, mas permitam-me
Tribunais de Justiça dos Estados e do uma observação final. A competên-
Distrito Federal, conforme a situação, cia do Tribunal de Contas, tal como
o processo e o julgamento dessas mes- a vem reafirmando essencialmente a
mas ações constitucionais contra atos jurisprudência do Supremo Tribunal,
dos demais Tribunais de Contas. ligada ao status constitucional, à exten-
(...) são das garantias e do poder de auto-
Por outro aspecto, ajunte-se que governo dos órgãos judiciários que se
nenhum Tribunal de Contas é tribu- lhe conferiu, possui um relevo que não
nal singelamente administrativo (ao tem sido suficientemente enfatizado.
contrário do que se tem afirmado, A meu ver, apesar das competências,
amiúde). Não pode ser um tribunal como as do artigo 71, II e sua extensão
tão-somente administrativo um ór- impressionante, quer do ponto de
gão cujo regime jurídico é centralmente vista objetivo, quer do ponto de vista
constitucional. É dizer: os Tribunais de subjetivo (...). Nesta definição, às ve-
Contas têm quase todo o seu arcabou- zes este apego não é apenas do jurista;
ço normativo montado pelo próprio é do legislador mesmo, por vezes – e é
Poder Constituinte. Assim no plano este exemplo do constituinte mesmo
da sua função, como respeitantemen- – quando enfatiza a competência de
te às suas competências e atribuições fiscalização como primordialmente
e ainda quanto ao regime jurídico dos entregue ao Congresso Nacional com
agentes que o formam. o auxílio do Tribunal de Contas e,

Brasília a. 46 n. 181 jan./mar. 2009 265


posteriormente, lhe dá competências de Contas são de natureza admi-
de todo independentes do Legislativo, nistrativa. A jurisdição de contas
a começar pelo julgamento das contas apresenta-se, para esta corrente,
do próprio Legislativo. como um juízo constitucional priva-
(...) tivo das Cortes de Contas. Somente
Ora, essa caracterização de auxiliar tais órgãos têm competência para
do Poder Legislativo era perfeitamen- ‘julgar as contas dos administradores
te adequada à Constituição de 81, que e demais responsáveis por dinheiro,
se limitara a prever a existência de um bens e valores públicos’, nos termos
Tribunal de Contas com uma única fixados no art. 70, inciso II, do texto
competência: a de emitir parecer constitucional. Ao conferir tais pode-
prévio sobre as contas do Presidente res aos Tribunais de Contas, a pró-
da República e submetê-las ao Con- pria Constituição limitou o controle
gresso Nacional. judicial no que concerne às contas
(...) públicas. Abraçam tal corrente no
O que me parece é que, não obstante Brasil administrativistas como Sea-
todas as dificuldades de operacionali- bra Fagundes, Temístocles Brandão
zação deste imenso poder, o Tribunal Cavalcante e Pinto Ferreira.
de Contas se constitui, no perfil que Segundo esta última corrente, a que
lhe traçou a Constituição de 88, numa nos filiamos, na sistemática adotada
magistratura essencial de uma função pela Constituição de 1988, o Poder
verdadeiramente irredutível à tripar- Judiciário não tem poderes para
tição clássica dos Poderes, em que não apreciar ou rever contas públicas, sob
tem ele monopólio, mas, ao contrário, o aspecto contábil-financeiro do seu
se soma às tarefas novas do Judiciário, mérito. Tratar-se-ia, aqui, de uma li-
por exemplo, em todo o imenso poder mitação imposta ao princípio do con-
do controle abstrato da constitucio- trole jurisdicional (art. 5o, XXXV, da
nalidade das leis, ou a esse imenso CF) pela própria Constituição, e não
poder de iniciativa que se outorgou por lei. O tribunal de contas, como re-
à figura sem paralelo no direito com- gra, não tem competência para dizer
parado que é o Ministério Público no o direito no caso concreto, de modo
ordenamento constitucional vigente, definitivo, com força de coisa julgada;
com a função genérica de controle, do por exceção, tem essa competência na
maior relevo na construção de um Es- forma do art. 71, inciso II, da Consti-
tado de Direito democrático que seja tuição Federal. Em suma: as decisões
adequado ao inevitável gigantismo editadas na apreciação dos atos da
do Estado contemporâneo – que não Administração Pública têm eficácia
me interpretem mal os pregoeiros do apenas administrativa. Tais decisões
fim do Estado, do neoliberalismo.” podem ser reexaminadas pelo Poder
Robertônio Santos Pessoa (1993, p. 126 e Judiciário. Por outro lado, os julga-
ss), em seu recente Curso de direito adminis- mentos relativos a contas públicas
trativo moderno, retoma a polêmica sobre a (art. 71, II, da CF) constituem matéria
natureza do Tribunal e apresenta solução de apreciação privativa dos tribunais
adequada ao sistema de 1988: de contas, não sendo admitido reexa-
“Parcela significativa da doutrina e me pelo Poder Judiciário.
da jurisprudência, por outro lado, Deve-se observar que tal julgamento
vem sustentando que nem todas as se impõe ao Poder Judiciário apenas
decisões pronunciadas pelas Cortes no seu aspecto contábil, no que concer-

266 Revista de Informação Legislativa


ne à regularidade da conta apresenta- A jurisdição una, adotada na Carta de
da. Tais ‘contas’ podem ser anuais ou 1988, entretanto, não permite admitir rejul-
especiais, estas últimas instauradas na gamento das decisões do Tribunal de Con-
forma da lei. O processamento e jul- tas em matéria de parecer prévio sobre as
gamento de tais contas devem se dar contas do Chefe do Poder Executivo nem a
com plena observância dos princípios decisão em julgamento sobre as contas dos
do contraditório, da ampla defesa e do demais responsáveis, exceto no que colidi-
devido processo legal. Tal observância rem com a Constituição Federal e legislação
conferirá maior legitimidade às deci- infraconstitucional, ressalvado, entretanto,
sões destas cortes. Questionamentos o mérito técnico da decisão do Tribunal de
pertinentes à violação destas garantias Contas. O julgamento se restringe à lesão
constitucionais poderão ser levados à de direito individual.
apreciação do Poder Judiciário, con- Destaca-se, ainda, por ser Instituição de
forme já decidiu o STF no MS-21644- Estado com inscrição constitucional, que as
DF (DJ de 08.11.93, p. 43.204). competências enumeradas na Carta Federal
Nesta linha, as decisões do tribunal atribuem ao parecer prévio, julgamento
de que resulte imputação de débito das contas, apreciação de atos de admis-
ou multa terão eficácia de título são e inativação, auditorias, fiscalizações,
executivo (art. 71, § 3o). A execução informações, aplicação de sanções, sustação
forçada destes títulos, advindos de atos e representações um caráter emi-
de decisões do tribunal de contas, nentemente técnico-pericial, insuscetível
deverá ser efetivada junto ao Poder de reapreciação quanto ao mérito, em
Judiciário, na forma da lei. qualquer Poder.
A jurisprudência dos Tribunais
Superiores vem admitindo a não- 6.2. Organização do Tribunal de Contas.
apreciação do mérito de julgamentos O modelo da União
de contas realizadas pelas cortes de Do exame das competências do Tribunal
contas no exercício de suas atribui- de Contas da União, destacou-se o auxílio
ções constitucionais. A revisão judi- ao Poder Legislativo (artigo 71, caput),
cial somente é possível em caso de mediante apreciação das contas prestadas
irregularidade formal grave ou ma- anualmente pelo Presidente da República,
nifesta ilegalidade (STF, MS no 7.280, por meio de parecer prévio (artigo 71, I) e o
publicado em 17.9.1962, p. 460).” julgamento das contas dos administradores
Conclui-se com o conceito próprio da e demais responsáveis por dinheiros, bens
dissertação sobre a natureza do Tribunal e valores públicos (artigo 71, II).
de Contas. Essas duas primeiras e principais com-
É Instituição do Estado Democrático, petências permitiram conduzir-se à com-
cujas competências constitucionais são preensão da natureza dessa Instituição de
exercidas com independência e autonomia. Estado. Cabe examinar a organização das
Tribunal sui generis, que exerce dever-poder Cortes de Contas, cuja análise é igualmen-
sem ser Poder e a nenhum deles vinculado. te importante para a nítida conformação
Órgão de colaboração com os Poderes e Mi- jurídica do Ente.
nistério Público, republicano, indisponível A organização do Tribunal na Carta
e indelegável, cercado de garantias que o Federal de 1988 está contida no artigo 73.
assimilam ao Tribunal Judicial. Presta auxí- •  composição: nove Ministros;
lio ao Poder Legislativo sem ser seu auxiliar •  requisitos: idade – mais de trinta e
e exerce outras competências terminativas cinco e menos de sessenta e cinco anos; ido-
no seu âmbito constitucional. neidade moral e reputação ilibada; notórios

Brasília a. 46 n. 181 jan./mar. 2009 267


conhecimentos jurídicos, contábeis, econô- 6.3. Os auditores do Tribunal e o
micos e financeiros ou de administração Ministério Público
pública; mais de dez anos de exercício de
Na composição, a Carta refere-se, ante-
função ou de efetiva atividade profissional
cipadamente, aos auditores19 (em número
que exija os conhecimentos mencionados
de três no Tribunal de Contas da União) e
acima;
aos membros20 do Ministério Público. São
•  escolha: um terço (três) pelo Presi-
quadros, o primeiro de cargos isolados e o
dente da República, com aprovação pelo
segundo de cargos de carreira.
Senado Federal, sendo dois alternadamente
Os Auditores (como os Ministros) são
dentre auditores18 e membros do Ministério
assemelhados ou assimilados aos respec-
Público junto ao Tribunal, indicados em
tivos membros do Poder Judiciário. Isso
lista tríplice pelo Tribunal, segundo os cri-
lhes outorga relevo constitucional, com a
térios de antiguidade e merecimento; dois
dignidade e a responsabilidade de agen-
terços (seis) pelo Congresso Nacional.
tes políticos, cuja obediência se dirige só e
Com isso, fica estabelecido um plura-
expressamente à Constituição e ao sistema
lismo na composição da Corte, sendo que
jurídico. Não são subordinados e nem estão
dois membros deverão ser concursados e
submetidos hierarquicamente – exercem
com formação técnica específica.
suas competências com independência,
Para exercer a escolha, e após nomear
emitem parecer, apreciam a legalidade
Ministros oriundos do quadro próprio, cujo
de atos e julgam contas segundo seu livre
procedimento constitucional inicia com
conhecimento e convicção.
listas tríplices de auditores e membros do
A previsão constitucional para os cargos
referido Ministério Público, o Presidente da
isolados de auditoria consta do parágrafo
República possui poderes limitados, visto
quarto do artigo 73 e os cargos do Ministé-
que sua competência está adstrita a uma lis-
rio Público junto ao Tribunal, inconfundível
tagem elaborada pelos Ministros, segundo
com os ramos do Ministério Público Federal
critérios de antiguidade e merecimento.
ou Estadual na área eleitoral, trabalho e
Somente um único Ministro é de escolha
tribunal militar ou, ainda, nas demais atu-
exclusiva do Presidente da República (e ain-
ações típicas do Ministério Público, estão
da não é o procedimento formal de nomea-
fixados no artigo 130 da Carta Federal:
ção, a qual seguirá posteriores etapas).
“Artigo 130. Aos membros do Mi-
Isso implica, nessas três vagas de Minis-
nistério Público junto aos Tribunais
tro, que o primeiro – apenas o primeiro – é
de Contas aplicam-se as disposições
de escolha exclusiva do Chefe do Poder
desta seção pertinentes a direitos,
Executivo, mediante aprovação sabatinada
vedações e forma de investidura.”
do Senado Federal.
Os auditores e os membros do Ministé-
Os restantes seis Ministros são de esco-
rio Público ingressam na Corte mediante
lha exclusiva do Congresso Nacional.
prévia aprovação em concurso público,
As cadeiras do Tribunal têm destinação
realizado segundo os princípios democrá-
especificada e serão reocupadas, em caso
ticos e republicanos inscritos no artigo 37,
de vaga, pelos mesmos procedimentos
II, da Carta Federal.
constitucionais.
19
Na Carta do Estado do Rio Grande do Sul, a
Auditores é a denominação para os três cargos
18
idade mínima é de 35 anos e privativo o cargo para
de agentes cuja função principal é a de substituir os bacharel em Direito. São concursados por certame de
Ministros. Na Constituição estadual, a denominação provas escritas, oral e títulos. No Estado, exercem,
para os sete agentes é Auditor Substituto de Conselhei- também, notoriamente, atividades acadêmicas.
ro. Melhor seria Ministro-Substituto ou Conselheiro- 20
No Estado também são empossados mediante
Substituto, respectivamente. prévia aprovação em concurso público.

268 Revista de Informação Legislativa


Os auditores e membros do Ministério servidores efetivos e comissionados, ou
Público, embora o estatuto especial de que temporários, todos com titulação técnica.
se revestem, estão na intimidade orgânica e Os comissionados, como sabido, exercem
estrutural da Corte de Contas. Suas compe- funções de direção, chefia ou assessoramen-
tências são exercidas com independência, to, segundo a Carta Federal.
mas os auditores não se constituem em Os integrantes do quadro efetivo, pri-
órgão e o Ministério Público se fixa na inte- vativamente aprovados em concurso pú-
rioridade do Tribunal de Contas. blico, são técnicos cuja titulação é requisito
Enquanto não for instituído o Ministé- essencial para a atividade-fim da Corte de
rio Público, as funções são exercidas por Contas, cujas funções compreendem ins-
membros do Ministério Público Federal truir processos de prestação e tomada de
designados para atuar no Tribunal de contas, de apreciação de legalidade dos atos
Contas da União. admissionais ou inativatórios (art. 71, III);
inspeções e auditorias de natureza contábil,
6.4. Remuneração financeira, orçamentária, operacional e pa-
trimonial nos atos, inclusive contratos, e fa-
Os Ministros do Tribunal de Contas da
tos da administração pública, em qualquer
União terão as mesmas garantias, prerroga-
dos Poderes e outras entidades referidas no
tivas, impedimentos, vencimentos e vanta-
inciso II do art. 71.
gens dos Ministros do Superior Tribunal de
Explicita-se essa complexa organização
Justiça; a aposentadoria e pensão regem-se
de membros e servidores porque, ainda
pelo artigo 40. Os auditores, quando em
que tenha nome de Tribunal, é uma Corte
substituição a Ministros, têm as mesmas
especializada e seus servidores prestam as
garantias e impedimentos do titular e quan-
funções segundo determinação constitucio-
do no exercício das demais atribuições da
nal (dever-poder) para a Corte cumprir as
judicatura, as de juiz de Tribunal Regional
suas determinações constitucionais.
Federal.
Tribunal sui generis, as funções do
Enquanto aos Ministros a judicatura úni-
corpo técnico decorrem, portanto, de
ca é o exercício das competências de contro-
deveres-poderes típicos sobre os atos e
le externo, para os auditores ela é dupla: sua
fatos determinados pela Carta Federal,
primeira e mais dignificante competência é
contínuos e permanentes, como o parecer
a de substituição de Ministros e a segunda,
sobre as contas do Presidente da República
as demais atribuições de judicatura.
e julgamentos das demais contas e aqueles
A organização do Tribunal está sinteti-
episódicos – inspeções e auditorias, por
zada no artigo 73.
iniciativa ou solicitação das Casas Legisla-
“Artigo 73. O Tribunal de Contas da
tivas, ou das suas comissões técnicas ou de
União, integrado por nove Ministros,
inquérito, além das denúncias de qualquer
tem sede no Distrito Federal, quadro
cidadão, partido político, associação ou
próprio de pessoal e jurisdição em
sindicato (artigo 74, IV).
todo o território nacional, exercendo,
no que couber, as atribuições previs-
tas no art. 96.” 7. Similaridade dos Tribunais de Contas
com Tribunais Judiciais
6.5. Quadro próprio de pessoal
O artigo 96 da Carta Federal trata de um
O quadro próprio previsto no artigo elenco de competências exclusivas dos Tri-
73 da Carta Federal, segunda parte do bunais. Segundo o artigo 73, o Tribunal de
dispositivo, refere-se às atividades-fim e Contas exerce, no que couber, as atribuições
atividades-meio da Corte. É formado por fixadas no artigo 96 (inciso I) do Supremo

Brasília a. 46 n. 181 jan./mar. 2009 269


Tribunal Federal, Tribunais Superiores e os nal de Contas da União se exerce sobre as
Tribunais de Justiça (inciso II). O inciso III ações administrativas, em todo o território
é integralmente inaplicável ao Tribunal de nacional, exteriorizadas, na Administração
Contas da União, daí a expressão “no que Pública Federal, direta e indireta, no Poder
couber” inserida no artigo 73, caput21. Legislativo, Poder Judiciário, Poder Execu-
As competências fixadas no artigo 96 tivo e Ministério Público. Compreende-se
e que também se aplicam ao Tribunal de que o Tribunal de Contas não controla as
Contas da União são: atividades-fins do Poder Legislativo, do
a) a autonomia administrativa e Judiciário ou do Ministério Público ou a ati-
financeira; vidade política do Poder Executivo. Exerce
b) o início do processo legislativo seu controle sobre os atos e fatos tipicamen-
junto ao Poder Legislativo sobre a te administrativos – contas dos administra-
criação e extinção dos cargos e a res- dores, admissões, aposentadorias e demais
pectiva remuneração; atos elencados na Carta Federal22.
c) o início do processo legislativo de Isso se explica: quando o Presidente
projetos de lei que tratam da sua lei do corpo legislativo ou do tribunal pratica
orgânica e leis ordinárias e quanto à ações de administração (autoriza concurso
remuneração dos seus membros; público ou licitação) está no cometimento
d) o início do processo legislativo tipicamente administrativo; despe-se da
quanto à instituição e organização do dignidade do cargo de agente político e
Ministério Público junto ao Tribunal, atua na competência de administrador.
cargos, remuneração e competências; Assim também em relação ao Ministério
e) dispor sobre seu regimento in- Público e ao próprio Tribunal de Contas.
terno; Em relação ao Poder Executivo – sede
f) eleger seus órgãos diretivos; da administração por excelência –, poder
g) organizar o Tribunal, dividindo-o de administrar, a administração executa
em órgãos fracionários, fixando-lhes também suas competências nas ações rela-
as competências; tivas às políticas públicas. Nesse sentido, o
h) organizar seus quadros técnicos e Tribunal de Contas avalia a economicidade,
auxiliares. operacionalidade, além da legitimidade e
vai controlar a própria ação político-ad-
8. Área de ação controladora do ministrativa, para a qual um dos objetivos
– o primeiro deles – é a concretização dos
Tribunal de Contas da União
direitos humanos na realização do Estado
As competências do Tribunal de Contas Democrático de Direito.
da União são intimamente relacionadas Os serviços públicos, afirma Ruy Cirne
e funcionalmente harmônicas com a sua Lima, são existenciais à sociedade. As fi-
organização. nanças públicas lastreiam toda a atividade
Em razão da organização, inclusive estatal, dão o suporte aos serviços públicos
com unidades administrativas distribuídas – desnecessário enumerá-los, recordando-
geograficamente, a competência do Tribu- se alguns: educação, saúde pública, segu-
rança externa e interna.
21
A assimilação, termo do autor, com os tribunais
judiciais nasce com o Decreto no 966-A. A Constituição 22
Ao elenco somam-se a gestão fiscal (Lei Com-
de 1988 é explícita quanto à organização assimilada plementar no 1) e os planos, programas e projetos
e a qualificação de agentes políticos dos membros da governamentais. A mais recente aquisição ao elenco
Corte de Contas, também assimilados nos magistra- controlador, no Estado, é a política de meio ambiente
dos. Nos Estados, o parâmetro se dá com desembar- e as políticas de pessoal. O Tribunal estadual age por
gadores estaduais. planos de ação anuais.

270 Revista de Informação Legislativa


A existencialidade do serviço público e preço da liberdade. O aperfeiçoamen-
a racionalidade da administração pública to do controle é que pode derrotar
dependem das finanças públicas cujo obje- a moral tributária cínica, que prega
tivo no Estado Democrático de Direito é a a sonegação e desobediência civil a
satisfação das necessidades públicas. pretexto da ilegitimidade da despesa
No seu conjunto, o controle externo é pública. O controle, como garantia da
garantia do Estado Democrático de Direito liberdade individual e dos princípios
e da sua constante adequação valorativa ao jurídicos, na exata observação de K.
princípio do interesse público e legitimado Vogel, não sofre limitações consti-
na Constituição que assegura a liberdade, tucionais, mas estímulos para a sua
igualdade e solidariedade. plena realização.”
Os valores, conquistas históricas, são A concretização da dignidade do
funcionais à dignidade humana. homem, como realização da proposta
Para Ricardo Lobo Torres (1993), a legi- constitucional de 1988, tem, na atividade
timidade democrática tem o papel eficiente financeira do Estado, o seu suporte finan-
de controlador no Tribunal de Contas. ceiro e econômico.
Os direitos fundamentais – ou direitos Como se demonstrou, uma das etapas
de liberdade, ou direitos humanos, segun- ou fases da atividade financeira (a sua
do Ricardo Lobo Torres –, têm uma relação quarta etapa) é o controle, aí incluído o
profunda e essencial com as finanças públi- controle externo para o qual o interno é
cas. Dependem, para a sua integridade e auxílio indispensável.
defesa, de atividade financeira do Estado. A dignidade humana (não os seus
O Tribunal de Contas, afirma aquele efeitos meramente morais ou éticos, ou
autor, é um dos instrumentos das garan- ainda emblemáticos, como a autoestima
tias institucionais do cidadão no Estado e a gratificação patriótica ou nacional), no
Liberal, em face da sua singular posição período histórico presente, é a satisfação
no Estado. de determinadas necessidades coletivas e
Afirma Ricardo Lobo Torres (1993, p. públicas, como segurança, saúde, educação,
44) habitação, urbanismo, meio ambiente e
“É necessário e urgente que se com- assim por diante.
patibilize a dimensão objetiva do Não há possibilidade de, em países
Tribunal de Contas, que, juntamente emergentes, essas condições serem conquis-
com o Poder Judiciário, o Banco Cen- tadas sem a condução de políticas públicas
tral, a Universidade, etc., é uma das pelo Estado e pela administração pública.
garantias institucionais da liberdade O controle externo, a cargo do Poder
com os aspectos subjetivos dos di- Legislativo e do Tribunal de Contas, é ins-
reitos fundamentais, que carecem de trumento essencial da democracia, inclusi-
maiores garantias processuais para ve nos seus qualificativos de transparência
o acesso dos cidadãos ao controle e deliberação.
externo dos aspectos da legalidade, A prestação institucional do serviço
economicidade e legitimidade das público de controle externo é importante
atividades da Administração. instrumento, entre outros, como o Poder
A legitimidade do Estado Democrá- Judiciário, o Ministério Público, a ação po-
tico depende do controle da legiti- pular e, suprema instituição, a rotatividade
midade da sua ordem financeira. Só democrática dos governantes mediante
o controle rápido, eficiente, seguro, processo de representatividade, para a
transparente e valorativo dos gastos concretização dos objetivos constitucionais
públicos legitima o tributo, que é o de dignidade do homem.

Brasília a. 46 n. 181 jan./mar. 2009 271


A instituição do controle externo é Melhor afirmar-se: o apoio concretiza-se
conquista democrática e as suas funções na colaboração pelo Tribunal de Contas,
constitucionais (como as do Ministério Pú- dotado de outras competências, além da
blico e dos Poderes republicanos) têm por independente e especificamente colabora-
finalidade contemporânea a concretização tiva, que é o parecer prévio às contas anuais
da dignidade do homem. do Presidente da República. Essas outras
Enfim, partilha-se com Ricardo Lobo competências, repise-se, incluem o controle
Torres a ideia de que a legitimidade (e o independente sobre a ação administrativa
aprimoramento do Estado democrático) do próprio Poder Legislativo e demais
depende, também, do controle da sua le- Poderes exercida em nome da soberania
gitimidade. popular, como afirmação do Estado De-
Por essa razão, repisa-se, o Tribunal de mocrático de Direito na concretização dos
Contas, que exerce o controle externo, nasce direitos humanos24.
com a República e se aprimora e solidifica Seus membros têm a dignidade da ma-
com a democracia. gistratura e sua subordinação não é outra
senão que à Constituição. Não é auxiliar
quem detém prerrogativa de magistrado.
9. Posição constitucional do Tribunal
O controle externo do Tribunal de Con-
de Contas da União tas tem sua primeira (e relevante) incum-
O Tribunal de Contas da União está bência em manifestar-se tecnicamente sobre
inscrito na Seção IX, aquela que encerra o as contas a ele devidas pelo Presidente da
Capítulo I – Poder Legislativo, do Título República. Ela é exercida com indepen-
IV – Da Organização dos Poderes23. dência e o julgamento posterior pelo Poder
Essa posição espacial na Carta Federal Legislativo é a instância político-institucio-
tem gerado polêmica. Interpretação apres- nal que não se realiza sem a colaboração
sada situa o Tribunal de Contas da União constitucional – conquista democrática e
como órgão do Poder Legislativo, e, para republicana, evoluída progressivamente
isso, afirmam aqueles que assim enten- desde os hebreus, as assembleias da Ágora,
dem, a começar por Cretella Júnior, sua a censura romana, os conselhos medievais
competência é de órgão auxiliar do Poder e estatuída universalmente na Declaração
Legislativo. de 1789.
Não é auxiliar o ente que tem, entre suas A sua finalidade, como Instituição de
competências, a ação controladora sobre o Estado, serviente à sociedade e ao homem,
Poder Legislativo ou qualquer dos outros é cumprir a efetividade dos valores afetos à
dois Poderes. Também não é auxiliar, e administração pública, inscritos no estatuto
nem a Constituição assim o caracteriza, político, dos quais o preeminente é realiza-
mas presta auxílio. ção da dignidade do homem, mediante a
Quando auxilia – aliás, todos os Poderes satisfação das suas necessidades.
devem-se auxílio ou cooperação recíprocos, Por essa razão, apoiar o Poder Legis-
em cumprimento à harmonia sem perda da lativo não implica subordinação; antes,
sua independência –, o Tribunal de Contas colaboração institucional, no exercício do
mostra-se ente de Estado indispensável e dever-poder controlador constitucional.
indisponível. As demais competências, inclusive o
controle da administração do Poder Legis-
23
Vide averbações das transcrições de Carlos
Ayres Britto, Sepúlveda Pertence e Odete Medauar. 24
Ricardo Lobo Torres salienta que a atividade
De Ruy Barbosa permanece indelével a lição da Expo- financeira do Estado, na qual se insere o controle, tem
sição de Motivos ao Decreto no 966-A, anteriormente por finalidade a dignidade humana em um Estado De-
referida. mocrático de Direito. Remissão às averbações acima.

272 Revista de Informação Legislativa


lativo, demonstram que não é subordinado; – as competências próprias e dos demais
controlar o poder preeminente, competên- Poderes e Instituições de Estado.
cia que cumpre não como apoio, mas como O crescimento das responsabilidades
controlador com independência, dá-lhe do Poder Executivo, fenômeno político
relevo constitucional em face do poder plenamente observado universalmente a
preeminente (Legislativo). partir dos anos setenta no século vinte, em
Sua inserção constitucional (já esteve detrimento dos demais Poderes, princi-
nas Disposições Transitórias de 1891 ou palmente em caso de regimes de exceção,
entre os órgãos de colaboração, em 1934) crises econômicas ou situações de guerra ou
revela apenas a confluência de funções insurgência, está plenamente revertido.
controladoras com o poder preeminente, O Poder Legislativo retomou seu papel
o Poder Legislativo. político principal – não apenas em razão
da posse e do juramento do Chefe do Po-
10. O Poder Legislativo como sede der Executivo – de resto emblemático pela
circunstância de ser realizada perante o
política do controle externo
colegiado legislativo, mas principalmente
Esclarece-se que o controle referido é por ser com amplitude o representante
atinente, exclusivamente, à administração autêntico de todos os segmentos sociais e
pública. Isso porque outros controles tam- onde se tornam vigorosos os movimentos
bém são exercidos pelo Poder Legislativo, de minorias, assim como as postulações
notadamente com natureza política, não sociais e econômicas da sociedade.
apenas em relação ao próprio Poder Le-
gislativo, mas aos demais Poderes e Insti-
tuições de Estado – o Ministério Público e
11. Conclusões
o Tribunal de Contas. A Democracia e a República, a partir
Reside no Poder Legislativo o poder da história de Atenas e de Roma, com os
preeminente da República. Quando se fundamentos valorativos modernos intro-
afirma que os Poderes são independentes e duzidos e conquistados pela Revolução
harmônicos entre si, valor inscrito na Carta Francesa, possuem um instrumento in-
de 1988, o texto magno não esgota a valo- dispensável, indisponível, intransferível e
ração tripartida, aliás, máxima adotada por impostergável que é o controle externo da
Montesquieu: em realidade os Poderes não administração pública.
se contêm em igualdade entre si; ao Poder O dever de exercê-lo foi atribuído ao
Legislativo incumbe, em nome do povo, Poder Legislativo e a Carta Brasileira con-
estabelecer o estatuto político do Estado, signa esse valor, na tradição humanística e
as normas da sociedade civil, o regramento civilizatória de 1789.
da atividade econômica privada e assim Matéria técnica, seus meios e instrumen-
por diante. tos, entretanto, estão atribuídos ao Tribunal
Daí decorre a sua preeminência. Nele de Contas, novamente segundo o modelo
nascem os demais Poderes. Nascidos inde- napoleônico, adotado nos países latinos,
pendentes e harmônicos, suas competên- além da Alemanha, Bélgica e Holanda,
cias são indispensáveis, mas não resultam Espanha, Portugal, México, França, Itália,
no mesmo sentido de igualdade (que se entre outros.
estatui entre os cidadãos). Formam, com atuação independen-
O Poder Legislativo é a voz direta e plu- te mas conjunta, um sistema no qual o
ral do povo e sua principal atribuição em objetivo magno é a dignidade da pessoa
nome do povo é tripartir o poder, reservada humana, na medida em que a correta ação
a preeminência de quem estatui – e altera administrativa, de atos e fatos, tem por

Brasília a. 46 n. 181 jan./mar. 2009 273


finalidade cumprir e fazer cumprir os va- ÁVILA, Humberto. Teoria dos princípios. São Paulo:
lores e princípios constitucionais do Estado Malheiros, 2002.
Democrático de Direito. BARZOTTO, Luis Fernando. Os direitos humanos
Os direitos humanos afirmam-se uni- como direitos subjetivos: da dogmática jurídica à ética.
versalmente no regimento democrático. Revista Direito e Justiça. v. 27, n. 31. Faculdade de Direi-
É da essência democrática, como di- to da PUCRS, Porto Alegre: EDIPUCRS, 2005.
reito humano dos cidadãos (políticos), a BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito financeiro e de
fiscalização e o acompanhamento da admi- direito tributário. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2001.
nistração pública, ao lado da sua presença BOBBIO, Norberto. A teoria das formas de governo. 9 ed.
decisória. Brasília: UnB, 1997.
O controle externo da administração
______. Igualdade e liberdade. Rio de Janeiro: Ediouro,
pública, relevante na prestação de contas, 1996.
possui outros aspectos, relativos aos atos
______. O futuro da democracia: uma defesa das regras
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