Você está na página 1de 152

Investigação Criminal 2

CRÉDITOS

Francisco das Chagas S. Araújo – Delegado de polícia, aposentado da Polícia Civil do


Distrito Federal. Professor da Universidade Católica de Brasília Virtual. Membro do grupo de
trabalho que coopera com a elaboração e implantação da MATRIZ CURRICULAR NACIONAL.
Pós-Graduado em Polícia Judiciária (Academia de Polícia Civil – PCDF). Curso superior de
Polícia (Academia de Polícia Civil – PCDF). Curso sobre PAUTAS DEONTOLÓGICAS Y
OPERATIVAS PARA EL CONTROL DE LA POLICIA, na División de Formación y
Perfeccionamiento, Centro de Actualización y Especialización, Dirección General de la Policía ,
Ministerio del Interior, Ávila, España. Treinamento em técnicas de investigação sobre
crimes relacionados ao abuso e desaparecimento de crianças – Facilitados pela Internet
– promovido pelo International Centre for Missing & Exploited Children. Curso de Gestión de
riesgo catastróficos y atención a desastres – promovido pela Agencia Española de
Cooperación Internacional - AECI. Professor da Academia de Polícia Civil da PCDF, das
disciplinas: Investigação criminal, Técnicas de entrevista e interrogatório, Ética policial e
Procedimentos de polícia judiciária. Foi corregedor-geral e chefiou diversas delegacias da
PCDF. Foi subsecretário de Doutrina, Ensino e Pesquisa da SSP/DF.
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 1
Apresentação

Seja bem-vindo ao curso Investigação Criminal 2.

Nesta unidade, você estudará o processo de execução da investigação criminal. Os


conhecimentos conceituais apresentados e discutidos na primeira unidade (Investigação
Ciminal 1) do curso serão transversais aos temas que irá conhecer e discutir nessa etapa.

Tal qual ocorreu com a primeira unidade, a proposta deste curso não é ensiná-lo todas as
estratégias da investigação criminal, mas criar condições para que obtenha conhecimentos
básicos e possa exercitar algumas habilidades necessárias ao serviço profissional da
área de segurança pública, em colaboração à investigação criminal.

Você estudou na unidade 1 que a investigação criminal é um processo científico,


multidisciplinar, que depende dos referenciais de conhecimento de cada um dos profissionais
da segurança pública.

Como processo científico, depende de métodos e técnicas que serão aplicados pelo
investigador com o apoio de cada um daqueles que colaboram com a busca da prova de um
delito. Exige de seus executores postura lógica e percepção sistêmica do problema em estudo.

Para cumprir sua missão de cientista da investigação criminal, o investigador deve desenvolvê-
la em quatro etapas sistêmicas que são:

Planejamento → Coleta de dados → Análise de dados → Elaboração do relatório

Muito embora essas etapas impliquem em desdobramentos e procedimentos específicos, você


verá que não ocorrem de maneira independente.

Neste curso você conhecerá métodos e técnicas de coleta e análise de dados e conhecimentos
que deverão ser validados como prova da prática de um delito e de sua autoria.

Como dito, os cursos Investigação Criminal 1 e 2 fazem parte de um processo de


construção e desenvolvimento de uma nova percepção da prestação dos serviços de
segurança pública, voltado à formatação de novos modelos para a formação permanente
dos profissionais da segurança pública no Brasil.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 2
Você é um privilegiado, pois está tendo a oportunidade de participar dessa maravilhosa
construção de um novo perfil para os profissionais encarregados do primeiro momento da
aplicação da lei, dentro do modelo de tutela de direitos e prestação de serviço pública ao
cidadão.

De agora em diante adote uma postura de cientista e veja como se desenvolve o processo da
investigação criminal.

Aproveite e bom estudo!

Para alcançar os objetivos propostos, o curso está dividido em 6 módulos:

Módulo 1 – Planejamento da investigação criminal


Módulo 2 – Coleta de dados e informações na investigação criminal
Módulo 3 – Análise de dados e gestão do conhecimento produzido pela investigação
Módulo 4 – Elaboração do relatório
Módulo 5 – A transversalidade da ética e dos direitos humanos na investigação criminal
Módulo 6 – Estudo de casos

Módulo 1 – Planejamento da investigação criminal

O conteúdo deste módulo está dividido em 3 aulas:

Aula 1 – Planejamento
Aula 2 – Tipos de planejamento
Aula 3 – Como elaborar um plano operacional da investigação criminal

Ao final deste módulo, você será capaz de:

- Construir, criticamente, um conceito de planejamento;


- Listar os tipos de planejamento; e
- Elaborar um plano operacional para a investigação criminal.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 3
Aula 1 – Planejamento

A prática criminosa exige, cada vez mais, um grau de resposta eficiente e eficaz do Estado. As
novas tecnologias trazem grandes benefícios para a humanidade, mas, em contrapartida,
oferecem maiores possibilidades à instrumentalização do crime.

O resultado é a sofisticação das práticas delituosas exigindo maior esforço das organizações
de segurança pública na busca de conhecimentos que melhorem sua efetividade. Dentre eles
está o conhecimento que possibilite melhora na qualidade do planejamento das ações.

Imagine que você deseja comprar um carro novo, viajar para a Europa ou organizar a festa de
casamento de sua filha. Com certeza, sua intenção é de que tudo dê certo, mas, para que isso
ocorra, é preciso fazer um cuidadoso planejamento.

O que é planejamento?

Parta do seguinte raciocínio: a compra do carro, a viagem para a Europa e a festa de


casamento de sua filha não acontecerão apenas porque você quer. Seu querer é importante,
porém, não resolve por si só. Precisa de outro fator, a construção metódica desse querer.

Para realizar uma festa, é preciso escolher a data, a hora e o local onde será realizada, bem
como levantar os custos, contratar o bufê, escolher a igreja, definir o local da festa e tantas
outras atividades.

Fazer uma festa que irá durar por algumas horas requer cuidados especiais, imagine uma
investigação criminal que poderá levar anos.

Já é possível ter uma idéia do que é o planejamento?

Veja alguns conceitos:

- Planejar é conhecer e entender o contexto; é saber o que se quer e como atingir os


objetivos; é saber como se prevenir; é calcular os riscos e buscar minimizá-los; é
preparar-se taticamente; é ousar as metas propostas e superar-se de maneira contínua e
constante. Planejar não é só vislumbrar o futuro, é também uma forma de assegurar a

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 4
sobrevivência e a continuidade dos negócios. Isso ocorre à medida que se formalizam
programas e procedimentos que capacitam os profissionais a atuarem de modo consciente e
conseqüente, face às eventualidades que se apresentam no cotidiano das organizações.
(CHIAVENATO & SAPIRO, 2004)

- Para Zimmermann (Apostila eletrônica do curso Elaboração e Gerenciamento de Projetos),


planejar é “tornar claro aonde se quer chegar, tomar as decisões e escolher as ações
que acreditamos que possam nos levar ao objetivo desejado”.

E o filósofo romano Sêneca também nos leva a refletir sobre o planejar quando afirma:

“Se você não sabe para onde vai, todos os ventos parecerão desfavoráveis”.

Isso não é uma verdade? Antes de qualquer tomada de decisão, a atitude mais conveniente
não é estabelecer um rumo, um objetivo, um ponto de chegada?

O planejar é um processo que envolve um modo de pensar que nos leva a indagações, e
essas nos conduzem a questionamentos sobre o que fazer, como fazer, quanto fazer,
para quem fazer, por que, por quem e onde fazer.

Contextualizando a investigação com esses raciocínios, é possível afirmar que o exercício do


planejamento tende a reduzir as incertezas que destroem o processo decisório da
investigação, provocando aumento da probabilidade de se alcançar às metas
estabelecidas, na busca das explicações para o fenômeno objeto da pesquisa.

Planejamento
- O que fazer?
- Como fazer?
- Quando fazer?
- Quanto fazer?
- Para quem fazer?
- Por que
- Por quem?
- Onde fazer?

Variáveis a serem consideradas

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 5
Por ser o planejamento um processo contínuo de pensamento sobre o futuro, ele deverá ser
objeto de constante reavaliação de curso e de ações alternativas a serem tomadas, visto que
estará submetido a fatores diversos que o influenciarão, como: falta de recursos, greves,
morte de testemunhas, fuga do suspeito, etc., ou seja, não basta planejar, terá que haver
um acompanhamento permanente das ações, reavaliando as estratégias, num processo
decisório constante, considerando um contexto ambiental interdependente e mutável.

Esses fatores que interferem no planejamento são chamados de variáveis e decorrem da


pressão ambiental que afeta a investigação, resultantes de forças externas e internas.

- As forças externas estão em contínua alteração com diferentes níveis de intensidade de


influência, decorrem de fatores fora do contexto da investigação e sua modificação não está ao
alcance do investigador.
Exemplos: Decisão judicial mandando suspender uma diligência; evolução tecnológica
possibilitando novos métodos para a investigação; uma nova lei que descriminaliza uma
conduta.

- As forças internas resultam de fatores integrantes da instituição e estão dentro da


possibilidade de serem modificadas.
Exemplos: Escassez de recursos humanos e falta de recursos financeiros.

Princípios do planejamento

Alguns princípios operacionais dão o norte do planejamento. Dentre os gerais são ressaltados:

- Princípio da precedência
Significa que o planejamento deve ser a função administrativa que vem antes das outras, na
busca da resolução dos problemas. Em resposta ao “como vai ser feito”, o planejamento
assume o início do processo.

- Princípio da maior penetração e abrangência


Consiste no fato da atividade de planejamento provocar uma série de modificações nas
características do sistema, com envolvimento da conduta das pessoas e atividades na
absorção de novas tecnologias.

- Princípio da maior eficiência, eficácia e efetividade


Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 6
Consiste em que o planejamento deve procurar maximizar os resultados e minimizar as
deficiências.

Para Oliveira (2007), tais princípios têm os seguintes significados:

- Eficiência
Fazer as coisas da maneira adequada; resolver problemas; cuidar dos recursos aplicados;
cumprir o dever e reduzir custos.

- Eficácia
Fazer as coisas certas; produzir alternativas criativas; maximizar a utilização dos recursos;
obter resultados e aumentar o lucro.

- Efetividade
Manter-se sustentável no ambiente; apresentar resultados globais ao longo do tempo;
coordenar esforços e energias sistematicamente.

Aula 2 – Tipos e planejamento

O planejamento divide-se em três níveis:

- Planejamento estratégico
Diz respeito à formulação de objetivos de longo prazo e à seleção dos recursos de ação a
serem seguidos. Trata das políticas para alcançar a missão institucional. Seu reflexo imediato
alcança toda instituição. Normalmente é de responsabilidade dos níveis mais altos da
hierarquia administrativa.
Exemplo
O plano plurianual da Secretaria de Segurança Pública de redução dos crimes violentos no
estado.

- Planejamento tático
Relaciona-se aos objetivos de mais curto prazo, com estratégias e ações que, geralmente,
afetam só parte da instituição. É como se fosse a decomposição dos objetivos, das estratégias
e políticas estabelecidas no planejamento estratégico e é desenvolvido pelos níveis
organizacionais intermediários.
Exemplo
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 7
O plano da Polícia Civil estabelecendo estratégias para enfrentamento ao crime de roubo a
banco no estado, durante seis meses.

- Planejamento operacional
É a formalização, via de regra, por meio de documentos escritos, da metodologia de
desenvolvimento e de implantação estabelecida. Nesse nível estão os planos de ação ou os
planos operacionais.
Exemplo
O plano operacional da delegacia especializada na apuração de roubos a bancos, detalhando a
prática operacional do enfrentamento aos roubos a banco.

Plano operacional

Por uma questão metodológica do curso, será abordado com maior ênfase, o planejamento
operacional da investigação criminal.

Para compreender o plano operacional da investigação, é preciso colocá-lo dentro de um


contexto.

Você percebeu que o plano está contido em um processo que é o planejamento. Esse
processo é parte de outro maior que é o projeto.

O que é um projeto?

Projeto é um empreendimento não repetitivo, caracterizado por uma seqüência lógica de


eventos, com início, meio e fim, que se destina a atingir um objetivo claro e definido,
sendo conduzido por pessoas dentro de parâmetros pré-definidos de tempo, custo, recursos
envolvidos e qualidade. (PMBOK, 2000. Slide curso Gerenciamento de Projetos)

Segundo Zimmermann (Apostila eletrônica do curso Elaboração e Gerenciamento de Projetos),


“projeto é um conjunto de atividades inter-relacionadas e direcionadas à obtenção de um
ou mais produtos (bens ou serviços) únicos, com tempo e custos definidos.”

Na investigação criminal, pode-se dizer que o empreendimento ou conjunto de


atividades é o inquérito policial cujo destino é a apuração da prova de um determinado
delito.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 8
No planejamento, o plano operacional é a ferramenta utilizada para organizar as ações,
detalhando prazos, responsabilidades, custos, os subprodutos a serem obtidos, como será
acompanhado e os instrumentos necessários para tal.

A investigação não comporta improvisos, descuidos que afetem a qualidade e


efetividade do resultado.

Os delitos que hoje mais afligem as comunidades são produzidos “em larga escala” por
verdadeiras “organizações”. O sucesso das polícias no combate a esses delitos passa pela
sua capacidade de também se organizar e se antecipar às mudanças e adaptações dos
criminosos aos novos ambientes.

Como conseguir isso? → Planejando suas ações de forma criteriosa e lógica.

Charles Darwin dizia que as espécies vivas que sobrevivem não são as mais fortes e nem as
mais inteligentes, são aquelas que conseguem adaptar-se e ajustar-se às demandas do meio
ambiente.

Esse é o segredo para a investigação criminal conseguir resultados satisfatórios. Ser


organizada e planejada, suficientemente, para conseguir ajustar-se e adaptar-se às
demandas de uma sociedade acossada pelo crime organizado.

Aula 3 – Como elaborar um plano operacional da investigação criminal

O plano operacional da investigação é um documento onde serão descritos os objetivos


da investigação e os passos necessários para que esses objetivos sejam alcançados.

O plano permitirá a diminuição dos riscos, incertezas, a identificação e restrição dos


erros, antes que ocorram na prática.
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 9
Para elaborar um plano operacional da investigação, você poderá utilizar algumas ferramentas
que possibilitam a colocação ordenada das metas e estratégias para alcançá-las.

A figura abaixo demonstra uma ferramenta denominada de 5W e 1H. A nomenclatura decorre


da grafia, em inglês, dos termos. Trata-se de uma ferramenta cuja metodologia poderá ser
facilmente adaptada para o plano de uma investigação criminal.

Figura 1 – 5W e 1H

WHAT WHY WHO WHERE WHEN HOW


O QUÊ? POR QUÊ? QUEM? ONDE? QUANDO? COMO?
Descrever o que Justificar. Serve Nomear Estabelecer local Estabelecer Descrever
será feito ou quais para nivelar responsáveis. A de onde serão prazo. O tempo como será
ações serão feitas. todas as pessoas pessoa ou pessoas coordenadas as para desenvolver feito. Se houver
Especificar e envolvidas no que irão praticar as ações (não onde as ações várias ações,
delimitar bem as plano com as ações e a que irá estão sendo propostas no “o descrever as
ações para se saber razões liderar a ação. realizadas as quê?”. Dizer o dia atividades para
quando termina a específicas Indicar o grupo e o ações). de começo da cada uma.
ação. Cada verbo (legislação, líder para poder ação.
desencadeia um recomendações). identificar o
planejamento. responsável.

A mesma metodologia pode ser aplicada, variando apenas a forma.

Plano de ação da investigação


1. O QUÊ?
Ação a ser desenvolvida: Descrever a investigação a ser apurada, definindo cada ação a ser
executada.
2. QUEM?
Executores: Nomear os executores e o coordenador.
3. POR QUÊ?
Justificativa: Descrever as razões. Enumerar os objetivos.
4. QUANDO?
Período de execução: Descrever durante quanto tempo será executada a investigação. Como
não há uma previsão de tempo para se concluir uma investigação, colocar o prazo do inquérito
policial.
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 10
5. ONDE?
Local da coordenação: Indicar o local de onde será feita a gestão das atividades.
6. COMO?
Técnicas: Descrever as técnicas a serem aplicadas para cada ação.

No plano operacional, o nível da informação é detalhado, analítico, contemplando pormenores


específicos de uma ação. Diz respeito ao detalhamento, no nível de operação, das ações e
atividades necessárias para atingir os objetivos e metas fixadas no plano estratégico da
investigação. O plano estratégico da investigação está no CPP e nas normas complementares.

Conclusão

Neste módulo, você teve oportunidade de conhecer os tipos de planejamentos que poderão
ser aplicados na investigação criminal.

Conheceu, também, técnicas que irão habilitá-lo a elaborar um plano operacional para os
procedimentos da investigação criminal.

Entretanto, nada disso repercutirá na qualidade e na eficácia da coleta de provas de um delito


se você não refletir sobre a importância do planejar suas ações de investigação e não adotar
atitudes que interfiram na construção dessa eficácia.

No próximo módulo, você terá oportunidade de conhecer e discutir conhecimentos sobre


técnicas de coleta de dados e informações para a investigação criminal.

Neste módulo são apresentados exercícios de fixação para auxiliar a compreensão do


conteúdo.

O objetivo destes exercícios é complementar as informações apresentadas nas páginas


anteriores.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 11
1. De acordo com os princípios do planejamento, o princípio da precedência significa
que:

( ) O planejamento deve procurar maximizar os resultados e minimizar as deficiências.

( ) O planejamento deve ser a função administrativa que vem antes das outras, na busca da
resolução dos problemas.

( ) A atividade de planejamento deve provocar uma série de modificações nas características


do sistema, com envolvimento da conduta das pessoas e atividades na absorção de novas
tecnologias.

2. Relacione a 2ª coluna de acordo com a 1ª.

( a) Eficiência

( b) Eficácia

(c) Efetividade

( ) Manter-se sustentável no ambiente; apresentar resultados globais ao longo do tempo;


coordenar esforços e energias sistematicamente.
( ) Fazer as coisas da maneira adequada; resolver problemas; cuidar dos recursos aplicados;
cumprir o dever e reduzir custos.
( ) Fazer as coisas certas; produzir alternativas criativas; maximizar a utilização dos recursos;
obter resultados e aumentar o lucro.

3. Dentre as alternativas abaixo, qual delas é um exemplo de planejamento estratégico?

( ) O plano operacional da delegacia especializada na apuração de roubos a bancos.


( ) O plano plurianual da Secretaria de Segurança Pública, de redução dos crimes violentos
no estado.
( ) O plano da Polícia Civil estabelecendo estratégias para enfrentamento ao crime de roubo
a banco no estado, durante seis meses.
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 12
4. Em relação ao plano operacional da investigação é correto afirmar que:

( ) O plano operacional da investigação é um documento onde serão descritos os objetivos da


investigação e os passos necessários para que esses objetivos sejam alcançados.
( ) Mesmo bem elaborado, o plano não permitirá a diminuição dos riscos, incertezas, a
identificação e restrição dos erros, antes que ocorram na prática.
( ) A utilização de ferramentas que possibilitam a colocação ordenada das metas e
estratégias para alcançá-las, pouco poderão auxiliar na elaboração do plano operacional da
investigação.

5. Considerando a natureza científica da investigação criminal, faça uma análise crítica


sobre a importância do planejamento no processo da coleta da prova de um crime.

6. Leia o caso e elabore um plano 5W e 1H operacional para a investigação, seguindo o


modelo 5W e 1H.

Caso: Polícia procura garoto sumido desde domingo


Lívia Nascimento - Correio Braziliense

Publicação: 20/08/2008 08:39

O desaparecimento de um menino de 8 anos mobilizou durante toda essa terça-feira (19/08)


homens do Corpo de Bombeiros e da 35ª Delegacia de Polícia (Sobradinho II). A família de
Chrystian Gabriel de Araújo Mesquita conta que o garoto foi visto pela última vez na manhã de
domingo, quando brincava com as irmãs em frente ao barraco onde mora com o pai, a
madrasta e as irmãs na Fazenda Chapadinha, um assentamento próximo ao Lago Oeste.
Durante a operação, os bombeiros usaram cães farejadores e um helicóptero. Seqüestro ou
vingança são as duas linhas de investigação da 35ª DP.
De acordo com os parentes, Chrystian tinha se mudado para o local havia apenas oito meses.
Antes, era criado pela avó paterna, Edileuza Martins Mesquita, em Taguatinga. A moradia da
família está localizada em uma área extensa e pouco habitada. Segundo o pai do menino,
Cristiano Mesquita, 29 anos, 30 famílias ocupam a fazenda, de aproximadamente 800
hectares. No local, há muitas cisternas. Os militares vasculharam muitas delas, pensando que
o menino pudesse ter caído nos buracos. O trabalho foi em vão. O pai e o tio de Chrystian
Gabriel também percorreram alguns locais em busca de informação.

No fim de tarde de ontem, duas testemunhas afirmaram aos bombeiros terem visto o menino
chegando de carona numa Fiorino branca ao balão do Colorado, ainda na manhã de domingo.
“Ele estava um pouco desconfiado e perguntou onde era o ponto de ônibus. Disse que ia para
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 13
Taguatinga ver a tia, mas voltaria no mesmo dia e nos mostrou R$ 10”, contou Marlei da Silva,
54 anos, que viu Chrystian horas depois, no Posto Colorado. Uma terceira pessoa, que preferiu
não se identificar, informou ao Correio e a agentes da 35ª DP ter visto quando o menino, que
estava sentado em frente à padaria do posto, entrou em um EcoSport vermelho, dirigido por
uma mulher de cabelos loiros. “Para mim, ele a conhecia porque ele entrou no carro sem
mostrar estranheza”, relatou.

Disputa de terra
“Vamos investigar se o caso é um seqüestro convencional e se está ligado a vingança, pois há
relatos de que o pai do garoto estava envolvido na disputa por terra”, afirmou o delegado-titular
da 35ª DP, Márcio Michel Alves de Oliveira. A própria mãe de Cristiano Mesquita, Edileuza
Martins Mesquita, 50, que cuidou do neto Chrystian durante sete anos, reconhece essa
possibilidade: “Meu filho tem alguns problemas por causa dessa questão de terra, mas o Biel é
só uma criança indefesa”.

O Corpo de Bombeiros encerrou as buscas no início da noite de ontem. “Vamos entrar em


contato com o centro de operações para passar as informações colhidas hoje. Diante desses
novos fatos, o mais provável é que a Polícia Civil assuma esse trabalho daqui para frente”,
afirmou o cabo Fernando Santos.

A mãe do menino, Mônica de Araújo, chora e parece não acreditar no que aconteceu. “Meu
coração está despedaçado. Acho que ele tentou sair daqui para nos visitar mas o caminho é
longo e pode ter acontecido qualquer coisa”, lamentou a mãe, que mora em Taguatinga.

(http://www.correiobraziliense.com.br/html/sessao_13/2008/08/20/noticia_interna,id_sessao=13
&id_noticia=26263/noticia_interna.shtml)

Gabarito

1. O planejamento deve ser a função administrativa que vem antes das outras, na busca da
resolução dos problemas.
2. ( c ) Manter-se sustentável no ambiente; apresentar resultados globais ao longo do tempo;
coordenar esforços e energias sistematicamente.
( a ) Fazer as coisas da maneira adequada; resolver problemas; cuidar dos recursos
aplicados; cumprir o dever e reduzir custos.
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 14
( b ) Fazer as coisas certas; produzir alternativas criativas; maximizar a utilização dos
recursos; obter resultados e aumentar o lucro.
3. O plano plurianual da Secretaria de Segurança Pública, de redução dos crimes violentos no
estado.
4. O plano operacional da investigação é um documento onde serão descritos os objetivos da
investigação e os passos necessários para que esses objetivos sejam alcançados.
5. Resposta pessoal
6. Resposta pessoal

Este é o final do módulo 1

Planejamento da investigação criminal

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 1


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 15
Investigação Criminal 2

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 1
Módulo 2 – Coleta de dados e informações na investigação criminal

O conteúdo deste módulo está dividido em 12 aulas:

Aula 1 – Coleta de dados


Aula 2 – Escolha da técnica de investigação
Aula 3 – Técnicas básicas de investigação criminal
Aula 4 – Coleta de dados por meio de informantes
Aula 5 – Coleta de dados por meio da campana
Aula 6 – Coleta de dados por meio da infiltração
Aula 7 – Coleta de dados por meio da entrevista
Aula 8 – Técnicas de entrevista
Aula 9 – Fase de analise da entrevista
Aula 10 – Métodos de investigação preliminar
Aula 11 – Investigação no local de crime
Aula 12 – Métodos de investigação de segmento

O módulo oferecerá condições para que você possa:

- Visualizar as técnicas básicas de investigação criminal;


- Identificar as técnicas básicas para a investigação criminal; e
- Aplicar os métodos básicos de investigação criminal.

Aula 1 – Coleta de dados

Concluída a primeira fase da investigação – o planejamento, o investigador parte para a


coleta de dados e informações. É a fase que busca obter informações sobre a realidade
específica, ou seja, as circunstâncias em que ocorreu o delito e quem o teria praticado.

São diversas maneiras e ferramentas para operá-la: a entrevista, a análise de vestígios, a


interceptação telefônica, a interceptação ambiental, a análise de imagens e a análise de
sinais.

A formulação da ferramenta de coleta é feita em função do fenômeno investigado e das


variáveis necessárias para sua explicação.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 2
Todos os dados e informações levantados terão que ter relação com o fato em apuração para
que possam ser validados como prova.

Há diferença entre dados e informação? Qual é a utilidade prática desses conceitos para a
investigação criminal? E conhecimento, você sabe o que é?

Atividade
Fazendo uso dos conhecimentos adquiridos até aqui, tente conceituar dado, informação e
conhecimento e compare com o texto seguinte. Utilize o caderno de anotações para guardar
sua resposta.

Para SANTIAGO Jr, dados podem ser considerados: “Uma seqüência de números e palavras,
sob nenhum contexto específico. Entretanto, quando os dados são organizados com a devida
contextualização, há a informação. Já o conhecimento é a informação organizada, com o
entendimento de seu significado.” (SANTIAGO Jr., 2004, p. 27)

Dados – São informações fora de um contexto, sem valor suficiente para compreensão de um
fenômeno, ou seja, o meio pelo qual a informação e o conhecimento são transferidos.
Exemplos: Datas, local, hora do crime, perfil da vitima, um fragmento de impressão digitado,
um respingo de sangue, etc.

Fora de um contexto histórico e geográfico específicos, esses registros não têm compreensão
suficiente para explicar o fato em apuração.

Informação – São dados organizados, manipulados e tratados dentro de um contexto,


contendo algum significado como explicação do fato em apuração.
Exemplos: A notícia de que alguém foi visto, pouco antes do crime, saindo da casa onde foi
encontrado o cadáver da vítima. A significação dada às gotículas de sangue encontradas na
cena do crime como indicativas de que a vítima teria sido conduzida para aquele ambiente já
ferida ou de que o autor teria saído da cena do crime com alguma lesão.

E conhecimento, o que é?

Conhecimento é a informação organizada, contextualizada e com o entendimento de todos


seus significados. É resultado da interpretação da informação e de sua aplicação em algum
fim, especificamente para gerar novas hipóteses, resolver problemas ou tomar decisões.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 3
Exemplo: A pessoa que foi vista saindo da casa onde foi encontrado o cadáver da vítima era
seu ex-marido, que, enciumado, deu-lhe dois tiros no peito e depois fugiu para Madri levando
as duas filhas menores.

Metodologia da investigação criminal

Muito embora não se possa dizer que o objetivo do investigador criminal seja idêntico ao do
cientista puro, não há dúvida de que sua abordagem e técnica para investigação dos
problemas ilustram, claramente, o método da ciência, conforme visto na unidade que trata da
lógica aplicada a esse procedimento policial.

A investigação criminal, tal como a pesquisa cientifica, é um processo de construção de


conhecimentos sobre fatos que integram a sociedade e repercutem no mundo jurídico.

O procedimento sistemático da investigação é orientado por regras que são a base do


método científico aplicado. O método científico consiste em uma série de procedimentos
realizados pelo investigador, o qual, da mesma forma que o cientista puro, se empenha para
reduzir a possibilidade de erro.

Até o juiz validar as provas apuradas, ao prolatar a sentença, o investigador trabalha com
possibilidades de que tenha apurado as circunstâncias e autoria do delito. Se assim não fosse,
estaria contrariando o principio constitucional da presunção da inocência previsto no artigo 5º,
inciso LVII, da Constituição Federal que diz: “Ninguém será considerado culpado até o
trânsito em julgado de sentença penal condenatória.”

Produção do conhecimento
A produção do conhecimento probatório de um delito é desenvolvida por meio de metodologia
própria.

Veja alguns conceitos para melhor compreensão:

- Metodologia é a maneira concreta de realizar a busca de conhecimento. Engloba tudo o que


é feito para adquirir as informações desejadas, de maneira racional e eficiente.

- Método é a forma ordenada de proceder ao longo de um caminho. O conjunto de processos


ou fases empregadas na investigação, na busca de conhecimento. Ele pode ser um processo
intelectual e operacional.
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 4
- Técnica é a prática, o como fazer a investigação.

O método da investigação é adequado ao contexto em que ela se encontra. Para


aquisição do conhecimento na investigação criminal, você pode observar a realidade ou a
interpretar os fatos de diferentes maneiras.

Aula 2 – Escolha da técnica de investigação

Adequando a orientação de Denker (2007, p. 160), você pode dizer que a escolha da técnica
de investigação deve ser adotada com a seguinte metodologia:

- A técnica que será empregada em cada investigação dependerá do problema que está
sendo investigado, dos objetivos e da disponibilidade de recursos para realização do projeto.

- As técnicas não se excluem; poderão ser empregadas em uma mesma investigação


metodologias e técnicas diversas, conforme a variável que está sendo analisada e a fase do
projeto em que se encontra.

- É recomendável iniciar a investigação por um estudo exploratório, para tomar


conhecimento da situação, o que possibilitará ao investigador decidir quais serão os métodos
necessários às fases posteriores.

Técnicas preliminares de investigação

Diante de um fato, o investigador precisa executar um processo preliminar de


observações e reflexões para poder formular as primeiras hipóteses sobre a natureza do
problema que lhe é apresentado (se é crime e que tipo), o autor (quem teria interesse, meios
e oportunidade para praticá-lo) e as circunstâncias em que possa ter ocorrido (quando,
onde e como aconteceu).

Para isso terá que recorrer a algumas técnicas preliminares que estão em um contexto
chamado de estudo exploratório.

Estudo exploratório é um estudo de diagnóstico desenvolvido para análise de “onde se


está” e “como se está”. Visa um maior conhecimento do fenômeno apresentado e não
necessita de uma hipótese. Envolve levantamento de dados das circunstâncias e do
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 5
ambiente onde ocorreu o evento. São estudos preliminares para demonstrar a realidade
existente, a partir de uma observação sistêmica para configuração do diagnóstico do fato que é
colocado para investigação.

Referencial do estudo exploratório

O estudo exploratório utiliza os dados de:

- Fontes secundárias: “Referem-se ao material conhecido e organizado segundo um esquema


determinado.” (DENKER, 2007, p. 156) São informações que não têm relação direta com o
caso, mas dizem do caso ou do ambiente onde ele aconteceu.
Exemplos: Publicações de jornais, reportagens de TV, mapas, catálogos telefônicos, bases de
dados e bancos de dados.

- Estudo de caso: É uma forma de colocar o investigador diante de uma situação prática, onde
irá refletir e praticar conceitos e técnicas. O caso é um problema vivido pela organização que
exige uma análise ou decisão. Aplicado ao estudo exploratório para o plano de investigação,
será a análise de uma situação investigada anteriormente, similar ao fato objeto do
planejamento atual. É a oportunidade de aprendizagem com os erros e acertos já praticados.
Esse tema será tratado em unidade própria.
Exemplo: Um crime ocorrido e apurado, cujas características são as mesmas do que está
sendo apurado.

- Observação informal:
É o método de coleta preliminar de informações necessárias às primeiras hipóteses e ao plano
inicial. É aplicada por meio do reconhecimento.
Exemplo: Antes de iniciar a investigação de um possível latrocínio ocorrido em uma região de
comércio no centro da cidade, o investigador se desloca à cena para colher as primeiras
informações, registrar suas impressões iniciais e, com isso, elaborar seu plano operacional.

Levantamento de meios e modos

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 6
O estudo exploratório também serve para levantamento dos meios e modos aplicados pelo
infrator na prática do delito, o que é chamado de “modus operandi” (modo de fazer).

Os meios dizem respeito à técnica aplicada. Os instrumentos utilizados do planejamento ao


exaurimento da conduta delituosa. Eles poderão ser documentos, armas, equipamentos de
comunicação, etc.
Meios = técnicas aplicadas

Os modos dizem respeito à metodologia do crime. O criminoso observou a conduta diária da


vítima? Fez uma abordagem velada? Utilizou métodos de simulação, etc.?

Modos = metodologia do crime

O reconhecimento é uma técnica de observação visual direta ou por meios eletrônicos,


que requer memorização e descrição dos dados observados. É uma atividade preliminar
de investigação que também ocorre durante o estudo exploratório. Busca as primeiras
informações sobre as atividades do investigado, as características ambientais e geográficas de
um determinado sítio.

É uma técnica que busca a coleta dados sobre o ambiente operacional e o alvo
específico. Oferece parâmetros para a percepção do grau de risco do procedimento
investigatório.

Grau de risco - É o grau de relevância do reflexo das possíveis ameaças, sobre a investigação
criminal. O risco é caracterizado pela probabilidade de uma ocorrência, multiplicada pelo
impacto que ela terá sobre a investigação.

A análise dos riscos deve ser feita durante a elaboração do planejamento da investigação,
definindo todos os cuidados que deverão ser adotados para os planos se concretizem.
Dependendo do grau de dificuldade da investigação, poderão ser identificados os tipos de
controles que deverão ser implementados a curto, médio de longo prazo. (Fonte: PORTO,
Gilberto. Riscos sob Controle. Correio Braziliense, Brasília, 8 de junho de 2008. Trabalho &
Formação Profissional, p. 2.)
O reconhecimento poderá ser aplicado na fase que antecede o planejamento de outras
modalidades de investigação, como a campana e a infiltração.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 7
- Reconhecimento é o ato pelo qual o agente examina atentamente as pessoas e o
ambiente, através da correta utilização dos sentidos, olhando com atenção todos os
aspectos e circunstâncias, e o maior número possível de dados, para posteriormente
condensá-los em relatórios (croquis)”. (SILVA & FERRO & SILVA, p. 32)

Reconhecimento

O reconhecimento descreve a localização exata do alvo, endereço completo com mapas,


fotos, desenhos e pontos de referência; características do alvo com uma descrição
generalizada da área urbana, (mapas da cidade, favela, região industrial, comercial residencial,
etc.); descrição específica de dimensões, tipo de construção, atividades desenvolvidas;
usuários e freqüentadores do ambiente, instalações; vias de acesso e fuga, segurança,
cobertura; meios de transportes, itinerários, horários, dias da semana; locais de
estacionamento, sentidos, entradas e saídas; condições climáticas; postos de observação,
fixação de bases de vigilância, etc. (SILVA & FERRO & SILVA, p. 32)

O reconhecimento elabora um retrato fiel do ambiente onde será desenvolvido o


procedimento policial. É uma visão antecipada do cenário da investigação. Ajudará a
formulação das hipóteses preliminares do fenômeno investigado.

Dependendo do grau de risco tanto para a eficácia da investigação quanto para integridade
física do investigador, do investigado e demais pessoas que possam vir a ser envolvidas, o
reconhecimento poderá ser ostensivo ou velado, com ou sem meios de disfarce do observador.

O reconhecimento é fundamental para o desenvolvimento de um planejamento eficaz e


para a reavaliação dos planos operacionais.

Aula 3 – Técnicas básicas de investigação criminal

A técnica é o como fazer a investigação. Estabelecido o objetivo da investigação, vem a


escolha da técnica a ser adotada.

A técnica é a investigação em concreto. Portanto, escolher o meio correto de


investigação é fundamental para sua eficácia. A escolha depende da natureza do crime e
das informações a serem colhidas. Como em toda atividade profissional, é preciso seu total
domínio pelo investigador.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 8
É importante também lembrar que uma técnica não elimina a possibilidade do uso de
outra. Numa investigação, poderão ser aplicadas várias técnicas.

Neste curso, serão analisadas algumas técnicas que são elementares em toda investigação
criminal.

As técnicas de investigação criminal têm como elementos básicos: a observação, a


memorização e a descrição.

Observação

Os instrumentos primários da investigação são os sentidos do investigador. A intensidade


sensorial tem relação direta com o resultado da investigação. Quanto maior sua capacidade de
percepção global do ambiente, maior será a probabilidade de compreender e encontrar a
explicação correta para o delito.

Investigar é observar a realidade. Grande parte das informações que o investigador procura
poderá ser obtida pela observação direta dos fatos. Muitas dessas informações estão
codificadas e precisam de uma leitura cuidadosa.

Exemplo: Anúncios em jornais poderão conter códigos de comunicação entre membros de


uma quadrilha que pratica tráfico de seres humanos.

A cena do evento é sempre rica de informações que dependem de criteriosa observação


para serem vistas.

Questões básicas na observação

Seja qual for o propósito da investigação, o investigador deverá responder quatro questões,
segundo Denker (2007, p. 127):

- O que deve ser observado


Um documento? Uma pessoa ou grupo de pessoas? Um ambiente? Um vestígio? Um fato? O
plano deverá fazer constar a natureza do alvo observado e a finalidade da observação, ou seja,
que tipo de evidência você pretende encontrar no ambiente, pessoa ou objeto observado que
possa estabelecer uma relação entre ele (ou outra pessoa) e o fenômeno investigado.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 9
- Como registrar as informações
Diz respeito à ferramenta que irá ser utilizada para registro das informações que o investigador
pretende encontrar. A tecnologia de hoje é rica em equipamentos para esse fim e isso terá que
ser previsto nos recursos necessários, para que não haja o risco do investigador deixar de
registrar o dado ou a informação observada.

- Que processos devem ser adotados para garantir a exatidão.


O investigador deverá indicar no plano quais são os procedimentos que poderão garantir a
confiabilidade dos dados coletados.
Denker(2007) cita os seguintes exemplos de processos para verificação da confiabilidade dos
dados:
Permanência prolongada no campo de observação. Quanto mais tempo demore a
observação e quanto maior for o número de detalhes registrados, maiores serão as
possibilidades de verificação da confiabilidade das informações colhidas;

O questionamento por pares. Pedir a colaboração de outros investigadores envolvidos na


análise dos dados;

A triangulação, ou seja, investigar um mesmo ponto mais de uma maneira; e

A análise de outras hipóteses. O investigador deverá analisar outras possíveis hipóteses para
o caso e cruzá-las com a que está sendo verificada.

- Que relação deve existir entre o observador e o observado.


Esse processo é fundamental, principalmente nas técnicas de entrevista e infiltração, onde o
observador interage diretamente com o observado. Esse critério poderá evitar erros que
ponham em risco a investigação e o próprio investigador.

Observar na investigação envolve o pensar reflexivo, a capacidade de sentir e ver


problemas e respostas por mais obscuras que estejam.

Memorização

A memorização é o primeiro processo adotado para o registro das informações colhidas ou


dados observados, durante a investigação criminal.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 10
O desempenho da memória é a chave para o sucesso da observação, bem como para a
qualidade da atividade profissional do investigador.

A memória é que nos define como indivíduos. Ela permite que você administre sua vida
pessoal e profissional. Ela não é um simples banco de dados; influencia seu modo de ver a
vida, de reagir diante dos fatos.

Uma memória ativa e poderosa é a base da nossa qualidade mental global. Entretanto, a
memória poderá falhar temporariamente devido ao estresse, cansaço ou trauma, afetando as
atividades da pessoa.

As faculdades da memória são responsabilidades da parte do


cérebro chamado de córtex. As informações sensoriais são
enviadas, a todo o momento, ao córtex, e o recebimento dessas
informações é coordenado pela parte do cérebro chamada de
hipocampo que as organiza em memórias.

Há entre o córtex e o hipocampo uma rede de circuitos


programados para formar a associações entre diferentes
informações sensórias sobre o mesmo objeto, evento ou
comportamento.

Muito embora o cérebro seja inundado de informações pelos sentidos, nem todas elas são
vitais para a nossa sobrevivência, por isso o processo de filtragem feito pelo hipocampo,
guardando aquilo que precisará ser relembrado no futuro. É o processo de associações
multissensoriais do cérebro que irá permitir que você lembre das informações armazenadas.
Exemplo: Quando você encontra uma pessoa, seu cérebro liga um nome a algumas
informações sensoriais como a aparência, o timbre de voz, e o faz lembrar do nome vinculado
àquelas informações.

Importância para a investigação

A investigação é fundamentalmente a coleta de dados e informações e, dependendo da


técnica aplicada, o suporte de registro inicial será apenas a memória do investigador.

Você verá que algumas técnicas, como a infiltração, exigirão do investigador a plena
capacidade de memorizar informações de forma segura para que possa ser revista depois.
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 11
Durante o processo de observação, quanto maior for a rede sensorial do investigador, mais
segura será a retenção dessas informações para acesso futuro, ou seja, quanto maior for o
número de sentidos que você utilize para registrar informações sobre um objeto, pessoa ou
evento, maior será a possibilidade de registrá-las e lembrá-las prontamente.
Exemplo: Ao conhecer uma pessoa, se você usar apenas a visão, terá menor possibilidade de
relembrar seu nome. Entretanto, se você ao conhecer uma pessoa, usar todos os sentidos, ao
tentar lembrar seu nome irá ter mais informações associativas, como uma calvície, a aspereza
da pele da mão, forte cheiro de cigarro, voz macia, etc.

O processo associativo é fortalecido pela capacidade de utilização de todos os nossos sentidos


na coleta de dados e de informações, facilitando sua consolidação.

Pesquisas científicas demonstram que a utilização dos sentidos é um processo que precisa ser
estimulado diariamente sob pena de que seja reduzido gradativamente.

Melhoria da memória

O potencial de memória tem relação direta com a capacidade de coleta de dados pelo
investigador.

Melhorar esse potencial trará benefícios incalculáveis para a qualidade das informações
buscadas na investigação. O primeiro efeito é o aumento na confiança do investigador nas
suas habilidades profissionais ao conseguir lembrar de informações de forma rápida e correta.

Outro efeito da melhora da memória é a eficiência no desempenho da investigação,


principalmente economizando tempo na busca de anotações para lembrar de informações,
muitas vezes, vitais na resolução de problemas e tomadas de decisões.

O importante é que sua memória pode ser treinada com técnicas que a ensinarão a fazer o que
você decidir.

Treine as técnicas de memorização, como forma de melhorar sua mais perfeita ferramenta para
a prática da investigação no texto em anexo Técnicas de treinamento da memória.

Descrição

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 12
Depois de observar os dados e informações, vem a necessidade de registrá-los para que
possam ser analisados e validados como confirmação da hipótese levantada.

Descrever é expor, narrar de forma circunstanciada pela palavra escrita ou falada tudo o
que foi observado pelo investigador.
No sistema jurídico brasileiro, onde o inquérito policial é uma peça escrita, a investigação
resulta em relatos escritos, que tanto poderão ser uma informação do investigador cartorário
como um laudo do perito ou do legista, ou termos e autos.

O investigador irá descrever em sua informação, ambientes, circunstâncias, objetos, pessoas e


suas próprias conclusões a respeito da hipótese levantada.

Descrição de pessoas

Você já tentou descrever uma pessoa depois de observá-la?

Fazer a descrição de pessoas não é tão simples como parece. Requer metodologia
própria que possibilite ao encarregado da análise a reunião coerente e organizada das
observações, num processo de verificação de sua confiabilidade como resposta ao problema.

A descrição terá que ter dados suficientes para confirmar ou não a hipótese levantada, por
exemplo, sobre o suspeito de autoria. Nesse caso deverá responder a pergunta: a pessoa
observada e registrada tem as características do suspeito descrito pela testemunha?

Técnica de descrição de pessoas

O melhor na descrição das pessoas consiste em começá-la pela cabeça, seguindo-se para os
membros inferiores até os pés, de forma detalhada.

Na descrição geral das pessoas devem ser observados fatores, como: a raça, o sexo, a idade
aparente se não for possível a informação correta, a estatura, o peso (aparente), a compleição,
a cor e o tipo do cabelo e dos olhos, a cor da pele, a presença ou ausência de bigodes, barba,
a condição dentária, cicatrizes e marcas, uso de óculos e peculiaridades físicas, tipo, cor e
aspecto da roupa, etc.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 13
Nem sempre é possível obter-se a completa descrição da pessoa suspeita, mas, mesmo
a descrição parcial pode ser de valor inestimável, principalmente quando submetida à
análise comparativa com outros dados.

Descrição física geral e particular de pessoas

- Nome (nomes usados, vulgo);


- Sexo, raça, cor, nacionalidade;
- Idade (aparente pelo menos);
- Estatura (presumível, comparando-a com a própria ou de outra pessoa);
- Peso (presumível);
- Compleição física (gordo, magro, esguio, forte, encurvado, ombros caídos, obeso, estômago
proeminente, etc.);
- Marcas e cicatrizes (naturais, produzidas ou tatuagens);
- Modo de falar (forte, suave, rouco, grosso, fino, lento, rápido, gagueira, sotaques, gírias);
- Modo de andar (coxeando, etc.);
- Defeitos físicos; e
- Tipos de cabeça, sobrancelhas, nariz, boca, dentes, bigode, orelhas, barba, pescoço, ombros,
tórax, braços e mãos.

Descrição da indumentária

- Camisa: cor, material, modelo;

- Gravata: cor, material, modelo; e

- Calça, paletó, cintos, sapatos, luvas, jóias, óculos, etc.

Numa descrição de pessoas devem ser registrados os dados imutáveis. A descrição deve ser
honesta, realista, sem influências pessoais ou preconceituosas. Devem ser particularizadas,
pois as descrições genéricas pouco servem para a investigação.

Observe no indivíduo, não o que de comum possa existir, mas o que de particular
apresenta, isso permitirá uma identificação mais segura.
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 14
Aula 4 – Coleta de dados por meio de informantes

A coleta de dados por meio do informante é uma busca de informações para norteio da
investigação. É uma observação intermediária de suporte, baseada em fonte secundária.

O informante não é uma testemunha do evento. É alguém que tem informações


complementares à investigação.

Poderá ser a pessoa que conhece as características físicas do suspeito de autoria do crime,
ou, ainda, a pessoa que exerce alguma atividade que, pela natureza e ambiente onde ocorre,
tem informações importantes para o norteio da investigação. Exemplo: O barbeiro de confiança
do suspeito que escute suas confidências.

Informante é a pessoa que, não pertencendo à polícia, colabora com o investigador,


criando facilidades ou fornecendo informações negadas para a verificação da prova.

O informante poderá ser recrutado de forma induzida ou voluntária. Seu recrutamento deverá
ocorrer entre pessoas que têm ou tiveram algum potencial relacionamento com a pessoa, dado
ou ambiente de quem se quer informação.

O informante é um elemento desconhecido no processo da investigação. Seu papel é fornecer


dados preliminares ao investigador, o auxiliando na leitura do caso, para que possa formular as
hipóteses preliminares.

Exemplos: Alguém que conhece o suspeito e sabe que em sua terra natal já cometeu crimes
idênticos; ou que ouviu dizer quem seria o autor do crime; ou que conhece uma circunstância
idêntica a descrita por testemunhas, como um veículo com as mesmas características do que
fora utilizado pelo autor.

O informante complementa ou confirma as informações colhidas por outros meios.


Muitas vezes é quem anuncia, em primeira mão, informações explicativas ou aponta a
melhor pista a seguir.

Saiba mais sobre o recrutamento do informante no texto em anexo.

Fatores de motivação do informante


Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 15
Os motivos que podem levar alguém a prestar uma informação ao investigador, vão desde a
simples vontade de colaborar, passando pela consciência do seu papel de cidadão, até a
vingança.

Esses motivos deverão ser conhecidos e avaliados. A avaliação é facilitada pela verificação da
pertinência da informação oferecida. Significa analisar sua vinculação com o contexto da
investigação e se é efetivamente essencial.

Os motivos que levam alguém a informar são variados. Dentre eles:

- Medo;
- Vingança;
- Vaidade;
- Desejo de reparação - legalista/justiça;
- Mercantilismo – contrapartida; e
- Altruísmo – amor ao próximo – abnegação.

Utilização do informante e da informação

Deverão ser adotados critérios objetivos para a utilização do informante. A instituição policial
adotará um protocolo de recrutamento e utilização do informante e da informação produzida.
Deverá definir critérios de análise, gestão e aplicação da informação.

A informação será verificada antes que seja aplicada, quanto a credibilidade e potencialidade
da fonte. Esse processo evita que o investigador seja levado para rumos que só interessam ao
informante.

REFLITA... Considere a possibilidade de que a motivação do informante seja a vingança. Isso


poderá levá-lo a executar uma busca planejada por um condômino que, não gostando do
sindico, se sentirá recompensado com a situação vexatória a que ele será submetido com a
ação policial em seu apartamento, pela suspeita de pedofilia, por exemplo.

A informação não avaliada quanto a pertinência, poderá contaminar todo um processo de


investigação, tirando sua credibilidade”.

Critérios de utilização do informante


Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 16
Alguns critérios serão adotados na utilização do informante para que a sua participação tenha
eficácia. São eles:

- Como fonte imediata no levantamento de informações e, ainda, como fonte mediata, suprindo
as dificuldades da polícia no acesso a dados ou informações;
- Não conferir atribuições policiais ao informante;
- Não dar informações aos informantes, mas deles colher todas as informações possíveis;
- Não se promiscuir o investigador, com o informante;
- Tratá-lo com respeito;
- Manter, sempre que possível, o sigilo da identidade e da imagem do informante; e
- Sempre confrontar as suas informações com outras existentes, buscando avaliar o nível de
fidedignidade do informante e da idoneidade da informação.

O informante é o olho avançado da investigação. É a consolidação do preceito constitucional


do artigo 144, caput, da Constituição Federal, quando diz que a segurança pública é dever do
Estado, direito, mas, também, responsabilidade do cidadão.

Aula 5 – Coleta de dados por meio da campana

A campana ou vigilância é outra modalidade técnica da investigação criminal. Muitas


vezes o investigador terá que permanecer por horas ou dias observando pessoas, ambientes,
objetos ou circunstâncias, para colher dados importantes para a produção de informações na
investigação criminal.

A vigilância poderá ser de pessoas procuradas pela justiça, criminosos em atuação, e até de
testemunhas e vitimas que precisam ser encontradas.

- Campana – É a observação contínua e discreta de pessoas, ambientes, objetos ou


circunstâncias, com o objetivo de obter dados que formulem informações relacionadas com a
prova do delito.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 17
KASALES citado por SILVA & FERRO & SILVA (Apostila de Planejamento Estratégico, Tático e
Operacional), define o termo vigilância como: “A sistemática observação e registro de um
espaço aéreo, locais, pessoas, lugares, coisas, por meios visuais, auditivos, eletrônicos,
fotográficos e filmagens.”

Tipos de campana

Na campana, a observação deverá ser sistemática e contínua, pois qualquer lacuna poderá
comprometê-la ou até inutilizá-la por completo.

A campana poderá ser móvel ou fixa.

- Campana móvel – É aquela em que o investigador segue a pessoa observada em seu


deslocamento, a pé ou em veículo.
Exemplo: Observação de pessoa que se desloca por vários pontos da cidade, durante o
planejamento e execução de um delito.

- Campana fixa – É aquela em que a observação é feita de um ponto fixo, do qual o


investigador não se desloca.
Exemplo: Observação da janela de um apartamento, do movimento de um ponto de tráfico de
drogas.

Veja qual deve ser o perfil do investigador que realiza uma campana, no texto em anexo.

Planificação da campana

Foi visto a importância do planejamento na investigação criminal. Sem ele, é pouco provável
que se atinja seu objetivo de forma eficaz. Ele evita improvisações, desperdícios de tempo e
recurso.

O plano de operação é a materialização das metas propostas e de como executá-las. Cada


diligência deverá ter seu plano, por mais simples que seja.

O investigador não deve se lançar despreparado à campana, sem um plano. Imprevistos


poderão ocorrer pondo em risco não só a investigação, mas sua própria segurança.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 18
Para saber mais sobre o plano operacional da campana, os cuidados a serem tomados e os
tipos que podem ser utilizados, leio o texto em anexo: “Campana”.

Aula 6 – Coleta de dados por meio da infiltração

Há momentos em que os dados que o investigador precisa para construção da prova estão em
ambientes fora de seu alcance em situações normais. Entretanto, é importante que ele colha
esses dados pessoalmente.

Como operacionalizar esse procedimento?

Com a técnica de infiltração. O ato é realmente de penetração e permanência em um


ambiente.

A infiltração consiste na penetração velada e dissimulada em ambientes onde são


planejadas ou executadas atividades delituosas, para a coleta de dados que possam
explicar as circunstâncias e autoria desses delitos.

Essa é a modalidade de investigação de maior risco para o investigador. Daí a


necessidade de um planejamento sério que diminua esse risco e aumente a garantia de
sucesso.

O plano operacional para execução da infiltração, além de cuidar das necessidades comuns,
como definir os tipos de dados que deverão ser coletados, recursos, procedimentos a serem
adotados, requer outros cuidados específicos.

O plano obedecerá às normas impostas nas Leis n° 9.034/95 (Repressão ao crime organizado)
e n° 11.343/2006 (Repressão ao tráfico ilícito de drogas), conforme visto na primeira fase deste
curso.

Veja os cuidados e a serem tomados quanto ao infiltrado e como manter sua segurança no
texto em anexo.

Fase final

O plano de ação também deverá prever os procedimentos a serem adotados pelo infiltrado na
fase final da diligência. Nessa fase, ele já terá as informações que procurava, em muitos casos,
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 19
a confirmação da prática do delito ou a identificação e paradeiro de pessoas e coisas, quando
então poderá haver uma ação policial de repressão.

Nos contatos com a base de gestão da diligência, o infiltrado passa circunstâncias que
propiciarão um plano para a fase final. Serão respondidas questões como: Quando deverá
ocorrer a prisão do infrator observado? Quando e como deverá ocorrer o resgate do infiltrado?

Contudo, como regra geral, não deverá o infiltrado agir sozinho no desfecho da diligência,
executando, por exemplo, prisões.

Qualquer que seja a forma do desfecho da diligência terá que haver extremo cuidado
com a retirada do investigador infiltrado.

Aula 7 – Coleta de dados por meio da entrevista

A entrevista é outra técnica aplicada na busca de dados para apuração do delito. Seu
objetivo é obter informações sobre o fato objeto da investigação, por meio de
testemunhos.

Consiste numa lista de indagações em que o investigador procura colher as informações


necessárias para formulação ou confirmação de uma hipótese. O conhecimento produzido
por meio da entrevista é a referência de um relato verbal e de sinais não-verbais do
entrevistado sobre o fato vivenciado por ele.

Pela entrevista, o investigador capta a realidade de um evento pela visão do


entrevistado. É ferramenta fundamental na coleta de informações na tentativa de responder as
questões básicas da investigação: Quem? O que? Quando? Onde? Por quê? Como?

Sua característica principal é a informalidade. É aplicada, em regra, para ouvir


testemunhas, vítimas e suspeitos. Poderá ser utilizada, também, como auxiliar de outra técnica
de investigação, como infiltração, campana e informante.

No sistema processual brasileiro, a entrevista aplicada à investigação criminal poderá ter


caráter de estudo exploratório que antecede o planejamento de uma atividade operacional
como a busca e apreensão, a campana, etc.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 20
O investigador deverá estar seguro dos objetivos da entrevista, para garantir a obtenção
de informações relevantes e reveladoras. Para isso terá que se preparar elaborando um
plano de ação.

Para DENKER (2007, p.165), “entrevista é uma comunicação verbal entre duas ou mais
pessoas, com grau de estruturação previamente definido, cuja finalidade é a obtenção de
informações de pesquisa”.

Entrevista é uma situação de comunicação, antes de tudo vocal, num grupo de duas ou
mais pessoas, mais ou menos voluntariamente reunidas, num relacionamento
progressivo, entrevistador e respondente, com o propósito de elucidar fatos inerentes à
situação investigada, de cuja revelação o perito espera tirar certo benefício.
(CERQUEIRA, p. 56)

Os dois conceitos relatam a característica principal da entrevista: a interação entre


pessoas. Uma tem o dado, outra busca esse dado. É um jogo de troca de informações.

Métodos de entrevista

A entrevista pode ser aplicada de duas maneiras: quanto ao modo de formulação dos quesitos
e quanto às circunstâncias em que ocorre.
Quanto ao modo de formulação dos quesitos, a entrevista pode ser:

- Estruturada – Elaborada com perguntas determinadas. O entrevistador elabora quesitos pré-


determinados.
- Semi-estruturada – Permite maior liberdade ao entrevistado, pois as perguntas, apesar de
determinadas a um tema ou temas, são formuladas livremente.

- Cognitiva – Busca maximizar a quantidade e a qualidade de informações obtidas de uma


testemunha.
- Mista – O entrevistador utiliza uma junção das técnicas anteriores.

Quanto às circunstâncias em que ocorre, pode ser:

- Ostensiva
Quando em situação de normalidade o entrevistador não precisa esconder sua identidade
funcional.
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 21
- Encoberta
Quando, por conveniência da investigação, o entrevistador precisa ocultar sua identidade
funcional, assumindo outra que lhe permita acesso ao entrevistado, sem revelar a finalidade da
entrevista.

Fases da entrevista

A entrevista tem três fases distintas: preparação, execução e análise. (A fase da análise,
você verá na aula 9.)

Fase de preparação

A preparação da entrevista é de grande importância, pois é quando serão definidos os


objetivos e, em razão deles, a estratégia a ser adotada.

O tempo de duração de uma entrevista poderá ser bastante curto, mas com resultado
duradouro e de efeito extraordinário na investigação. O investigador poderá sair de uma
entrevista com todas as informações que esperava ou sem qualquer informação relevante.
Tudo depende de como planejou e executou o processo.

A seleção do alvo da entrevista deverá considerar fatores que possam habilitá-lo a isso. A
entrevista busca conhecimentos, dos quais, o entrevistado terá que ser um potencial
depositário. Para avaliar essa potencialidade, o investigador terá que tomar cuidados
prospectivos que serão adotados em estudo exploratório. No contexto da investigação, o
entrevistador precisa identificar as pessoas com potencialidade de informações que interessem
para a resolução do crime.

De acordo com Gastón Berger “A atitude prospectiva significa olhar longe, preocupar-se com o
longo prazo; olhar amplamente, tomando cuidado com as interações; olhar a fundo, até
encontrar os fatores e tendências que são realmente importantes; arriscar, porque as visões de
horizontes distantes podem fazer mudar nossos planos de longo prazo; e levar em conta o
gênero humano, grande agente capaz de modificar o futuro”.

O estudo exploratório deverá municiar o investigador com todo o fundamento teórico


necessário para a execução da entrevista.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 22
O entrevistador fará um inventário com todos os dados conhecidos sobre o caso e sobre
o alvo da entrevista (perfil), para elaboração do plano da entrevista.

As informações colhidas, especialmente na cena do crime, servirão de referencial para as


questões a serem feitas.

Ele fará um esquema das perguntas-chave que servirá de roteiro para a entrevista.

Com relação às testemunhas de crimes de homicídios, porém, aplicável à investigação como


um todo, em sua pesquisa sobre a investigação de homicídios, MINGARDI (p. 64 e 65) diz que
é comum se entrevistar seis tipos de testemunhas:

- Testemunhas oculares;
- Pessoas que tenham conhecimento das circunstâncias do crime;
- Pessoas que tenham conhecimento da hora da morte (ou do crime);
- Pessoas que possam conhecer a vítima;
- Pessoas que possam saber algo do suspeito; e
- Pessoas que possam ter informações sobre o motivo do crime.

Fatores que poderão alterar a qualidade da informação


O autor citado ressalta que na entrevista de testemunhas, principalmente as oculares, o
investigador deverá ter o cuidado em relação à importância das informações, visto a
possibilidade de equívocos por diversos motivos, dentre eles, os seguintes:

- Distância física em relação ao incidente;


- Capacidade física da testemunha;
- Condição emocional no momento da ocorrência;
- Experiência e aprendizado prévio; e
- Preconceito e parcialidade.

Esses fatores deverão ser conhecidos do entrevistador para que possa levá-los em
consideração quando da elaboração do plano de entrevista.
Como todo o processo da investigação, entrevista também precisa de um plano de ação bem
elaborado para que possa ter possibilidade de êxito.

Antes de passar para a próxima fase da entrevista, leia o texto em anexo: “Elaboração do
plano da entrevista”.
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 23
Fase de execução da entrevista

A entrevista é, fundamentalmente, um processo de comunicação. Portanto, sua condução


deverá aplicar os princípios de relações humanas.

Muito embora a palavra seja a linguagem mais comum na transmissão de mensagens entre as
pessoas, há também a linguagem gestual que deverá ser observada pelo entrevistador, pois
sempre estará carregada de mensagens que complementam a manifestação verbal.

A comunicação é um processo bilateral que, para existir, precisará da interação entre um


emissor e um receptor, num processo constante de retroalimentação.

Entrevista = interação entre pessoas.

Barreiras à comunicação

O entrevistador deverá criar um ambiente de empatia para que receba o feedback necessário
do entrevistado. A melhor técnica é a da audição ativa, isto é, ouvir e não apenas escutar.

Um exemplo de audição ativa é você pedir que o entrevistado dê exemplos ou explique


melhor sua informação. A audição ativa estabelece uma relação de confiança e respeito
entre os interlocutores.

Sendo um processo que se estabelece entre pessoas, a comunicação poderá sofrer curtos
circuitos provocados por fatores que precisam ser conhecidos, percebidos e controlados.
Veja quais são as regras básicas da entrevista no texto em anexo.

Antes de prosseguir o curso leia os textos em anexo:


- “Barreiras à comunicação”
- “Linguagem corporal”

Linguagem corporal

Percebeu que a comunicação interpessoal não fica apenas no uso da linguagem oral?

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 24
As pessoas falam com o corpo coisas que não conseguem, não podem ou não querem
dizer com a fala verbal. O investigador deve ficar atento para essas informações, pois,
muitas vezes, estão carregadas de códigos que o ajudarão na busca da verdade do fato.

Leitura a frio

Percebeu a importância da atenção do entrevistador para com a linguagem que o


entrevistado emite por meio de sinais que não a palavra falada?

Há um método de leitura dessa linguagem simbólica bastante aplicado por terapeutas,


videntes, astrólogos, vendedores e comunicadores, chamado de leitura a frio. (Leia o texto em
anexo)

A atenção do entrevistador deve estar voltado às reações do entrevistado, como entonação


das palavras, linguagem corporal, padrões de respiração, dilatação ou contração das pupilas,
que o permitirão vê se está diante de fontes de informações importantes para a investigação.

A investigação criminal moderna tem procurado maior aplicação dos conhecimentos científicos
na busca da prova fidedigna.

Condução da entrevista

Segundo HERÁLDEZ (falsas recordações), somente a partir do uso adequado das informações
decorrentes da investigação científica, será possível se assegurar níveis mais altos de justiça
nos processos judiciários.

Para o mesmo autor, a psicologia tem exercido importante papel na aplicação dos
métodos científicos na busca da prova de um crime, principalmente, na valoração das
causas e conseqüências humanas do delito. Esse processo é mais claro na obtenção e
análise das provas testemunhais.

A prova testemunhal é parte importante da verdade real do fato, objeto principal da


investigação criminal e do processo penal. Muitas vezes, é a prova mais significativa dessa
verdade, portanto, deverá receber o trato necessário à sua fidedignidade.
O testemunho fidedigno também depende da correta inquirição, segundo ensino de
AREND (testemunho fidedigno).
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 25
A psicologia tem propiciado estudos científicos que expliquem melhor o funcionamento da
memória que, para STEIN, citada por AREND (testemunho fidedigno), é o “coração” da prova
testemunhal, criando métodos de inquirição que podem contribuir para a prevenção das “falsas
recordações”.

Aula 8 – Técnicas de entrevista

A metodologia aplicada na elaboração do conteúdo deste curso está ligada à proposta de


conhecimentos básicos para as práticas da investigação criminal. Ela ficará restrita a duas
técnicas aplicadas à entrevista na investigação de delitos penais pelas polícias, muito práticas
para a coleta de provas testemunhais. São elas: entrevista cognitiva e entrevista
estruturada.

- Entrevista cognitiva

Uma das técnicas pesquisadas e aplicadas pela psicologia é a entrevista cognitiva que
busca dar confiabilidade e validade aos depoimentos.

Mas, o que é entrevista cognitiva?

A entrevista cognitiva “é um processo de entrevista que faz uso de um conjunto de


técnicas para maximizar a quantidade e a qualidade de informações obtidas de uma
testemunha”, segundo PERGHER e STEIN (entrevista cognitiva).

Segundo HERÁLDEZ (Creación de falsos recuerdos durante la obtencion de pruebas


testimoniales. Disponível em: www.stj-sin.gob.mx/publicaciones/aequitas35.pdf), a entrevista
cognitiva recebe tal denominação pelas seguintes razões:

- Porque em seu procedimento se assegura que as perguntas não sugiram respostas; e


- Porque se dá orientações sobre o tipo de perguntas que podem ser elaboradas de acordo
com a idade, história educativo-cultural e outras características de seu desenvolvimento
cognitivo.

Veja uma explicação etimológica da palavra cognição:


Etimologicamente, a palavra “cognição” deriva das expressões latinas “cognitio” ou
“cognoscere”, que por sua vez conotam as operações da mente humana que permitem que
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 26
se possa estar ciente da existência de objetos, pensamentos ou percepções. Nela estão
incluídos aspectos da percepção, pensamento e memória. A cognição é, portanto, um
processo pertinente às operações mentais da inteligência humana. (FERRO JUNIOR e
DANTAS, A Descoberta e a análise de vínculos na complexidade da investigação criminal
moderna.)
Disponível em:
http://www.mj.gov.br/main.asp?Team=%7B21F842C5%2DA1C3%2D4460%2D8A48%2D83F44
1C4808C%7D).

Leia o texto anexo e saiba mais sobre as técnicas utilizadas na entrevista cognitiva.

Muitas vezes o investigador, diante de informação que considera falsa, poderá concluir que o
entrevistado está mentindo deliberadamente quando então reagirá com alguma prática coativa.

Deu para perceber a importância do conhecimento da natureza das lembranças, como


motivadora do respeito à dignidade da pessoa entrevistada?

Ainda segundo a autora, a resposta foi ilustrada com o seguinte exemplo:


O caso de um taxista baleado por assaltante que, posteriormente, reconheceu, “com certeza”,
por meio de foto, seus agressores. Meses mais tardes, duas pessoas foram presas e
confessaram o crime.

Ela pergunta: Esse taxista prestou falso testemunho?

Sua resposta é de que se trata de um fenômeno comum chamado de “falsa memória”.

Falsa memória

No estudo do tema que trata das técnicas de entrevista, é importante o conhecimento de um


fenômeno que é fator de grande importância no resultado do processo, o qual os psicólogos
denominam de falsa memória.

Para HERÁLDEZ (ibidem), falsa memória ou falsa recordação, é toda informação


memorística em que há total ou parcial diferença com os fatos de interesse.

Esse fenômeno alerta para o cuidado e preparo que o investigador deve ter com a prova
testemunhal. A falsa memória poderá se transformar em causa de injustiça na aplicação
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 27
de uma pena, caso não seja devidamente detectada pelo entrevistador que tanto poderá
ser o próprio investigador, como o promotor de justiça, o advogado, o juiz ou, ainda, os
psicólogos e assistentes sociais forenses.

As falsas memórias deverão ser detectadas para evitar erros na aplicação da pena. O
investigador deve ter sumo cuidado na análise das informações memorísticas, a partir
do processo de coleta das informações.

Características da falsa memória

Seguindo o ensinamento de HERÁLDEZ (ibidem), há dois tipos básicos de falsa memória:


espontânea e implantada.

- Falsa memória espontânea – Resulta de mecanismos internos de distorções da memória.


Sua origem pode estar em qualquer mecanismo memorístico de formatação da informação.
Ao convidar a testemunha a fazer esforço para descrever com clareza todos os fatos, o
entrevistador poderá estar destruindo a possibilidade da criação de falsas recordações.

- Falsa memória implantada – Resulta da exposição do entrevistado à falsa informação e da


incorporação da mesma ao seu repertório de conhecimento. Sua origem está em um terceiro
recurso de informação.

Exemplo: Um comentário que alguém faz sobre um fato e a testemunha ou vítima incorpora
em seu conhecimento como se fosse informação do evento presenciado por ela. Ou, ainda, o
entrevistador ao formular a pergunta, faz de maneira tal que nela está embutida a sugestão de
resposta, como: “O suspeito não tinha barba?”.

Otimização da qualidade dos depoimentos

Para BRUKY e CECI, citados por HERÁLDEZ (ibidem), a implantação de falsa memória
obedece tanto a mecanismos cognitivos como socioculturais.

Diz AREND (ibidem) que, segundo Stein, existem pesquisas científicas que constataram que
tanto a verdadeira memória como a falsa podem apresentar as mesmas características de
consistência da versão apresentada ao longo da entrevista, como confiança no relato,
depoimentos completos e fidedignos, mesmo após múltiplos interrogatórios.
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 28
A sugestão de Stein, segundo AREND, é de que, para otimização da qualidade dos
depoimentos, o entrevistador deverá, dentre outras técnicas, realizar perguntas abertas,
minimizar o número de interrogatório e de livre relato dos fatos.

No afã de colher informações bem detalhadas e claras, o investigador acaba por desenvolver
entrevistas através das quais, involuntariamente, poderá provocar informações baseadas em
falsa memória.

As perguntas

Freqüentemente as perguntas são sugestivas ou exigem que o entrevistado relembre a


experiência por ele vivida:
Exemplo: Como era a pessoa que viu assaltando a vítima? Era grande? Branca? Usava
casaco? De que cor? Estava calçado com tênis de corrida?

Além disso, há sempre um outro fator a ser considerado. Normalmente o ambiente em que
ocorre a entrevista é um cenário estressante, como a sala da delegacia ou um local de crime,
sempre muito carregado de emoções.

O entrevistado também poderá ser levado a responder sem atentar para o fato da
resposta está ou não completamente certa, quando submetido a perguntas intimidativas.
Exemplo: Sabes que serás processado se estiveres prestando informação errada?

Sua reação poderá ser a busca de falsa memória para satisfazer o entrevistador e, com
isso, se perde a verdade do fato.

Mecanismo da falsa memória

Que mecanismo está por trás das falsas memórias que precisa ser conhecido e evitado
pelo entrevistador?

Brainerd e Reyna (1995) propõem que os mecanismos de conformação das falsas


memórias não são diferentes dos mecanismos que conformam as memórias
verdadeiras. A origem de ambos depende do tipo de informação que se memoriza (de sentido
comum ou informação mais complexa), como se memoriza (via oral, tátil, auditiva, visual e em
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 29
forma combinada de algumas delas), quando se avalia a memória (imediatamente ao tempo
depois de ocorrido o fato) é daí que procedimentos se seguem para a lembrança (via
reconhecimento ou livre recordação). (HERÁLDEZ, ibidem)

Quanto maior for o tempo entre a entrevista e o evento investigado, maior é a


probabilidade de que sejam implantadas falsas memórias, principalmente quando as
perguntas forem sugestivas de respostas.

HERÁLDEZ (ibidem) diz da existência de estudos que garantem que as crianças são mais
susceptíveis à influência de terceiras pessoas à implantação de falsas memórias. As causas
são de ordem social, cognitivo e até de personalidade. Fatores que influenciam o intercâmbio
de informação entre pessoas.

Contam para isso, também, sua limitada capacidade de analisar as informações com
profundidade, de elaborar raciocínios complexos e a limitada representação que tem sobre a
lei.

Entretanto, segundo o autor, há também pesquisas que indicam a mesma susceptibilidade por
parte de adultos.
Essas informações significam que o entrevistador deverá adotar a postura adequada para
evitar que sua maneira de formular as perguntas não venha implantar informações falsas no
entrevistado.

Perguntas sugestivas

Perguntas sugestivas são aquelas que na formulação oferecem informações sobre as


quais o entrevistado não tenha se reportado anteriormente. (HERÁLDEZ).

Exemplo: Num caso em que o entrevistado não havia declarado sobre o tipo de arma usada
pelo infrator, lhe é feita a seguinte pergunta: Você disse que o assalto foi a mão armada, o
assaltante portava uma pistola ou um rifle?

Dizem os pesquisadores que, ainda que seja de forma involuntária, o entrevistador


acaba contribuindo para a formação de falsas memórias no entrevistado.

Leia o texto em anexo: “Formas mais comuns de contribuição para as falsas memórias”

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 30
Entrevista estruturada

Outra técnica de coleta de provas testemunhais na investigação criminal é a entrevista


estruturada. Essa técnica é organizada com o objetivo de colher o máximo de
informações com um mínimo de contaminação com falsas memórias.

A entrevista estruturada se desenvolve, basicamente, em três passos. Veja-os a


seguir:

1. Primeiro passo: O entrevistador formulará perguntas abertas, procurando estabelecer o


menor grau possível de condução da entrevista. Procurará deixar que a narrativa seja
espontânea. Depois dessa fase inicial é que serão formuladas perguntas mais específicas e
de forma progressiva. Inicialmente deverá provocar um relato livre com perguntas, como: Por
favor, procure narrar, com o maior número de detalhes possíveis, tudo o que presenciou do
fato.

2. Segundo passo: Nessa etapa serão introduzidas perguntas com o final aberto. A
pergunta com final aberto tem a mesma estrutura da pergunta aberta, entretanto, se refere
a um personagem específico do evento.

Exemplo: Por favor, procure narrar, com o maior número de detalhes possíveis, tudo o se recorda
sobre a pessoa que viu atirando na vítima.

Nesse momento, o entrevistador terá que estar preparado para não introduzir no depoimento,
informações e detalhes que não sejam os que foram oferecidos pelo entrevistado. O
entrevistador passará a formular perguntas específicas sobre os detalhes, para que,
exaustivamente, os deixe bem claros. Não poderá haver dúvidas sobre as informações, pois
delas poderão decorrer procedimentos injustos, como prisão e condenações de inocentes.

3. Terceiro passo: A fase final da entrevista aplicada com a técnica de perguntas

estruturadas tem o objetivo de eliminar todas as dúvidas, confirmando a fidedignidade do


depoimento. O entrevistador deverá solicitar ao entrevistado que relate, novamente, todos os
detalhes do fato. É o momento de consolidar as informações coletadas em um processo de
cruzamento com outras informações.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 31
Aula 9 – Fase de análise da entrevista

Terminada a coleta da informação, é necessário que o investigador submeta todo seu conteúdo
a uma análise global para avaliar seu grau de credibilidade como prova de um delito.

A credibilidade dos depoimentos ocorre em função de dois parâmetros, segundo ARCE e


FARIÑA (peritacion psicológica):

Validade + Confiabilidade
A validade serve para estabelecer a admissibilidade da análise de conteúdo.
A confiabilidade diz respeito à indicação de realidade contida na declaração.

Análise da validade da declaração

A análise da validade da declaração deve ocorrer dentro de um contexto onde sejam


consideradas todas as provas colhidas, tanto testemunhais como materiais.

Considere outros testemunhos, outras declarações que o entrevistado tenha dado em


momentos diversos, como no local de crime para o investigador cartorário ou para o perito, ou
ainda, para o primeiro policial a entrevistá-lo.

Considere também as informações colhidas pelos peritos e registradas em seus relatórios


(laudos periciais).

Para ARCE e FARIÑA (peritacion psicológica), há dois sistemas de análise sistemática da


validade das declarações: o SRA e o SVA.

Para saber mais sobre cada um dos sistemas leia o texto em anexo: O SRA e o SRV.

Aula 10 – Métodos de investigação preliminar

A investigação criminal ocorre em dois momentos:

- Investigação preliminar

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 32
Este é o primeiro momento, que acontece, depois da notícia, quando a autoridade policial se
desloca para o cenário do crime buscando seu isolamento e preservação para a busca da
prova.

- Investigação de segmento

O segundo momento acontece quando esgotadas todas as possibilidades de busca de


informações na cena, a investigação se desloca para o cartório da unidade encarregada do
procedimento e para os laboratórios periciais.

Esta aula abordará a investigação preliminar.

A investigação na cena do crime

Embora toda investigação seja importante para a apuração do delito, o cenário do crime é
extremamente relevante e, se bem cuidado, é nele que o investigador encontrará dados
fundamentais para a produção da prova e compreensão do problema.

A cena do evento é, quase sempre, o ponto de partida da investigação. A Criteriosa e


sistemática análise no local do crime é parte de extrema relevância na busca da prova.

Algumas evidências na cena são latentes e precisam ser colhidas com ajuda de equipamentos
específicos. Outras são visíveis a olho nu. Todas precisam ser devidamente preservadas para
a coleta em seu estado natural. Há evidências fugazes e precisam de cuidados especiais, sob
pena de que se percam com a ação do tempo ou de manipulação inadequada. Poderão ser
removidas e destruídas com a indevida movimentação de pessoas.
Exemplo: Pequenas gotas de sangue, saliva e esperma.

O Código de Processo Penal determina a imediata proteção da cena do crime. Especialistas


no assunto divergem a respeito do tempo em que as provas começam a desaparecer. Varia
entre 24 e 72 horas esse tempo e depende de fatores, como nível de proteção (isolamento) do
ambiente e condições climáticas.

Segundo MINGARDI, uma pesquisa conduzida pela Rand Corporation 21 coloca a questão da
seguinte forma:

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 33
A grande maioria das soluções de casos ocorre, graças ao trabalho dos policiais de patrulha, a
quem se devia a identificação do criminoso no local do crime ou a procedimentos policiais de
rotina. (MINGARDI, 2006, p. 37).

A cena do delito é o ambiente de maior evidência da interdisciplinaridade da


investigação criminal. Nele estão, lado a lado, conhecimentos diversos operados pelos
investigadores cartorários e técnico-científicos (legistas, peritos criminais e papiloscopista),
além dos profissionais de outras funções, como: bombeiros militares, policiais militares,
guardas municipais, agentes de trânsito, agentes penitenciários e outros eventualmente
convocados.

Veja citação de SPINDULA sobre o comentário feito pelo perito da Scottdale Police Crime Lab,
Dwayne S. Hildebrand a respeito dos vestígios deixados pelo autor no local de crime, e reflita
sobre a importância da cena do crime para a investigação, visto a riqueza de informações
sobre o delito, das quais é “fiel depositário”.

Citação de SPINDULA
Onde quer que ele (autor) ande, o que quer que ele toque ou deixe, até mesmo
inconscientemente, servirá como testemunho silencioso contra ele. Não impressões papilares e
de calçados somente, mas, seus cabelos, as fibras das suas roupas, os vidros que ele quebre,
as marcas de ferramentas que ele produza, o sangue ou sêmen que ele deposite. Todos esses
e outros transformam-se em testemunhas contra ele. Isto porque evidências físicas não estarão
equivocadas, não perjuram contra si mesma. (SPINDULA, p. 6)

Para que o investigador compreenda o valor das informações que irá encontrar no local de
crime, é preciso que se intere de alguns conceitos que irão levá-lo a refletir sobre o tema.

Para isolar e preservar a cena do delito é preciso definir o espaço a ser considerado
como tal. Por isso, o conceito espacial do local de crime deve ser compreendido numa
leitura que vá além das fronteiras do espaço físico onde estejam as evidências ou o
próprio corpo do delito (cadáver, vítima de lesões, documentos, armas, etc).

Para formulação do conceito deve ser considerado todo o processo que envolve a ação do
criminoso na prática do delito, ou seja, o caminho do crime, que vai da cogitação ao
exaurimento da conduta.
Exemplo

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 34
O crime de homicídio deve ser investigado desde o momento em que houve a decisão de
cometê-lo, passando pelo planejamento, execução, até a consumação. Cada um desses
momentos poderá ter ocorrido em um ambiente específico, deixando vestígios que contribuirão
para a produção da prova.

Um só crime poderá ter tido uma seqüência, com etapas praticadas em vários locais e esses
deverão ser conhecidos, preservados e examinados.

Local de crime

Local de crime é o espaço físico onde tenha ocorrido um delito ou onde se encontre
qualquer vestígio relacionado com a preparação, execução ou consumação desse delito.
Para melhor compreensão prática classifica-se o local de crime:

Quanto ao estado de preservação:

- Idôneo – Aquele que se encontra intacto, tal como foi deixado pelo autor do delito. Sem
alterações do seu estado.
- Inidôneo – Aquele cujas características originais foram alteradas. Não se encontra mais
como fora deixado pelo infrator. É um local violado.

A violação tanto pode ser feita pelo autor, para dificultar sua identificação, como por outras
pessoas que, inadvertidamente, ali ingressam para socorrer a vítima ou por simples
curiosidade. Ou, ainda, pelo agente que tomou as primeiras providências para delimitação e
preservação do local.

Quanto ao espaço físico:

- Imediato – É o local propriamente dito. Aquele onde ocorreu a execução do delito.

- Mediato – É o espaço físico constituído pelas adjacências do local imediato, onde existam
vestígios do delito.

- Relacionado – É o local que, mesmo separado fisicamente dos locais imediato e mediato,
está a eles conectado por vestígios do delito. Onde tenha ocorrido uma das seqüências da
prática do delito.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 35
A diferença entre os locais mediato e relacionado é que o local mediato está fisicamente
ligado ou nas proximidades do local imediato, enquanto o relacionado não.

Isolamento e preservação do local de crime

O isolamento e a preservação são medidas essenciais que antecedem a coleta de dados


deixados na cena do crime. São procedimentos fundamentais para o sucesso da investigação
no ambiente em que ocorreu o delito.

O isolamento é a primeira providência a ser adotada pela polícia ao tomar conhecimento do


delito. Isolar é, no sentido literal do termo, separar de qualquer contato com pessoas e coisas
que não estejam relacionadas com ele ou com a investigação. Portanto, dele não poderão ser
retirados ou alterados quaisquer vestígios antes da investigação (exame) pericial. Da mesma
forma, nele não poderão ser inseridos quaisquer outros dados que alterem os vestígios do
delito. Essas medidas evitarão que o ambiente seja adulterado e possibilite erros na
interpretação dos dados ali observados e colhidos.

A chegada rápida na cena do crime é condição principal para proteção das evidências
antes que sejam destruídas, alteradas ou perdidas.

Para isolamento da cena do crime, tudo deverá ser considerado possível vestígio. A
confirmação disso ficará por conta do perito. Essa medida tem como objetivo evitar que no
reconhecimento do espaço a ser considerado e isolado como local de crime, provas materiais
importantes para a apuração do crime fiquem de fora do exame pericial.

O isolamento possibilita a proteção da zona de investigação técnico-científica do local de


crime, da ação de pessoas e qualquer outra ação alheia ao processo.

Saiba mais sobre o processo, as técnicas e as zonas de isolamento do local do crime, no


texto em anexo.

Preservação do local de crime

A coleta dos vestígios deixados no local de crime requer sua preservação tal como
foram deixados pela conduta do criminoso.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 36
A delimitação e o isolamento são as fases preliminares da preservação. Sem esse processo é
muito difícil ou impossível executar a preservação, pois essa é a conseqüência das fases
anteriores. Preservar o local do crime é garantir a inviolabilidade e a permanência das
informações ali deixadas.

A preservação diz respeito, também, à prova testemunhal. Ela deverá ser identificada e
preservada para prestar as primeiras informações sobre o que sabe do delito.

A eficácia da preservação do ambiente do delito tem relação direta com a eficácia da


investigação. Muitos dos fracassos na coleta de provas têm origem no descuido com o
local de crime.

Aula 11 – Investigação no local de crime

O exame pericial é a principal investigação no local de crime, atribuição exclusiva do


perito. O local deverá ser preparado com o isolamento e preservação, garantias da necessária
autonomia desse investigador na coleta dos vestígios.

Antes do exame pericial, o investigador cartorário não pode interferir nas provas materiais. Não
pode tocar, examinar, recolher ou alterar a posição de qualquer dado.

Geralmente, o executor do reconhecimento, delimitação e preservação do local é o policial de


operação de rua. Não sendo dele a competência para iniciar a investigação cartorária, sua
conduta deverá se limitar àquele processo. Mas, isso não o impede de identificar e colher as
primeiras informações de possíveis testemunhas, vítimas ou suspeito, que deverão ser
repassadas à equipe de investigação do caso.

Ainda que haja limites de atuação do investigador cartorário nesse ambiente, eles são
específicos no que diz respeito à coleta de prova material.

Levantamento das primeiras hipóteses

Os limites impostos ao investigador cartorário na cena do crime não o impedem de


acompanhar a investigação do perito, de forma cuidadosa com a preservação, observando,
colhendo e repassando informações ao investigador técnico-científico, formulando suas
primeiras hipóteses.
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 37
A busca sistemática de informações no cenário do delito deve ser um trabalho de
equipe, cada um fazendo sua parte, sem interferir na autonomia do outro, mas
colaborando com a troca de informações.

O investigador cartorário poderá sair da cena do crime com a hipótese definitiva. As


observações cuidadosas desse ambiente poderão permitir a descrição do “modus operandi” (
modo de praticar o crime ) e do perfil do autor. Cada vestígio ali deixado está carregado de
informações sobre os fatos ocorridos e sobre as pessoas envolvidas. Cabe ao investigador
decifrá-los.

Os dados colhidos na cena do crime contribuirão para o planejamento da investigação


como um todo e para os planos operacionais, em especial as entrevistas.

Esse processo só será possível se houver interação entre as duas modalidades de


investigação (cartorária e técnico-científica). Não há qualquer fundamento técnico-científico-
legal que justifique o distanciamento dos dois investigadores na cena do crime e em nenhum
outro momento da investigação.

Reavaliação das zonas de controle

Antes do perito entrar na zona de investigação técnico-científica, ele deve participar de


“briefing” com o coordenador da investigação, os investigadores cartorários e o agente que
delimitou as zonas de investigação.

O “briefing” tem o objetivo de inteirar o perito das informações colhidas até ali,
indicação dos limites das zonas de investigação e segurança e reavaliação, se
necessário, dos limites dessas zonas.

Ao final, haverá um “debriefing” para troca de novas informações que subsidiarão as


estratégias para a investigação de segmento que se desenvolverá dali em diante.

Não pode haver, nesses contatos, qualquer interferência na necessária autonomia técnica dos
investigadores.

Investigação cartorária no local de crime

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 38
Mesmo havendo uma autoria conhecida, ela poderá ser, inicialmente, só uma hipótese que
precise ser verificada pela investigação. A verificação pode levar o policial à prisão do infrator,
se for o caso.

Os métodos que podem ser adotados para a prisão do infrator são:

- Abordagem e coleta de testemunhos no local de crime;


- Processo de abordagem de pessoas no local de crime; e
- Processo de Identificação do autor.

Leia o texto em anexo “Métodos que podem ser adotados para a prisão do infrator” para
saber mais.

Investigação pericial no local de crime

A investigação mais efetiva na cena do crime diz respeito à coleta de provas materiais.

Esse processo, que é desenvolvido, em regra, pelo perito criminal e pelo papiloscopista,
depende da colaboração dos demais investigadores, especialmente na delimitação do
ambiente onde se encontram os vestígios.

Identificadas as informações deixadas na cena do crime, o investigador pericial as recolhe para


análise, interpretação e validação como elemento de prova. Essa coleta pode ocorrer por
vários meios:

- Fotografias,
- Filmagens,
- Desenhos e
- Técnicas de remoção.

Saiba mais sobre os meios de coleta de provas no texto em anexo.

Liberação da cena do crime

Segundo Geberth (1997, p. 25), citado por MINGARDI (2006, p. 55), “esse é um momento
crítico, pois as autoridades devem tentar manter a cena do crime sob seu controle

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 39
durante o maior tempo possível, o que possibilita a coleta de mais dados à medida que
as informações ficam disponíveis.”

Com essa preocupação são importantes as recomendações do citado pesquisador:


Para ele (Geberth) existe uma regra que ajuda a determinar quando liberar a cena: não liberar
a cena até terminar a coleta de evidências, a pesquisa, todas as entrevistas com testemunhas
ou interrogatórios com suspeitos.

Antes de sair da cena é recomendado observá-la da perspectiva da defesa e ter certeza de que
não deixou passar nada de relevante. (MINGARDI, 2006, p. 55)

A liberação do local é atribuição da autoridade policial coordenadora da investigação.

A experiência tem demonstrado que algumas vezes, principalmente quando a delimitação da


zona da cena não é feita com o devido cuidado, após a saída do perito, são identificados outros
vestígios em ambiente fora do perímetro de investigação técnico-científica. Essa possibilidade
é mais factível quando a cena do crime está localizada em campo aberto.
Exemplo: Numa ocorrência de homicídio, o cadáver da vítima foi encontrado abandonado em
uma área de cerrado em adiantado estado de mumificação. Havia várias partes de ossos e
vestes espalhadas por uma grande área. Feitas as verificações e coletas, o local foi liberado
pela equipe da investigação preliminar. No dia seguinte, assumindo o caso, a equipe da
investigação de segmento retornou ao local e, reavaliando detalhadamente a cena, encontrou
novos vestígios que não tinham sido identificados pelos investigadores do local.

Cuidados para a liberação

É recomendável que antes de liberar a cena, se repita todo o processo feito para o
isolamento, principalmente, se for num ambiente muito extenso.

Havendo dúvidas quanto à existência ou não de vestígios que não foram recolhidos, o
ambiente deverá continuar isolado para reexame, se for ocaso. Essa possibilidade é mais
provável em ambientes escuros e amplos ou com muitos compartimentos ou, ainda, em
ambientes abertos sob chuva. Nesses casos deverão ser montadas estratégias com uso de
equipamentos que facilitem a visibilidade dos vestígios.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 40
Qualquer estratégia deverá ser em comum acordo com a equipe de investigação técnico-
científica que deverá ser chamada ao local caso sejam encontrados novos vestígios.

Aula 12 – Métodos de investigação de segmento

Você viu que a investigação de segmento é a continuação da investigação preliminar


desenvolvida na cena do crime. Ela envolve tanto a investigação cartorária quanto a técnico-
científica.

Mesmo nos casos em que ocorra a prisão do autor durante a investigação preliminar, sempre
há necessidade de atos investigatórios de seguimento para a identificação de co-autores,
quando for o caso, a coleta de provas testemunhais e matérias que se encontrem em locais
relacionados identificados posteriormente e, ainda, para a busca de provas complementares.

Nesse caso, os métodos não divergem dos que são aplicados durante a investigação
preliminar, mas são mais diversificados, visto o maior espaço de tempo, principalmente,
quando se trata de autor desconhecido ou conhecido sem ter sido preso em flagrante delito.

Leia o texto em anexo: Métodos de investigação de segmento.

Cuidados na entrevista do suspeito

Nos cuidados com o suspeito, obrigatoriamente, terão que estar incluídos, principalmente, os
que dizem respeito aos seus direitos fundamentais.

A condição jurídica do suspeito de autoria, que usufrui os direitos do autor inconteste, é sempre
uma das dificuldades práticas que o investigador encontra na apuração dos delitos.

Ele não é obrigado a falar. Não é obrigado a incriminar-se. Pode não falar a verdade sem as
conseqüências do falso testemunho. Tem direito ao acompanhamento do advogado e de dar
informação sobre seu paradeiro para os familiares. Entretanto, se for o autor do delito, será
depositário de informações fundamentais para a investigação, cuja coleta dependerá da
habilidade técnica do entrevistador.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 41
Diante desse cenário, o investigador terá que adotar alguns cuidados especiais para preservar
e colher a primeira versão do depoimento do suspeito, sem a contaminação com fatores
naturais decorrentes de sua autodefesa, como a construção de um álibi.

O investigador deverá observar a linguagem simbólica do suspeito que lhe dirá muito mais que
a linguagem falada. Observar e anotar seu estado emocional, a linguagem corporal, os
vestígios que possam impregnar suas vestes e corpo, como pequenas lesões e fraturas
(arranhões, hematomas, fraturas de unhas, etc.), marcas de violência em sua roupa (rasgos,
falta de botões, marcas de objetos, etc.) e odores.

O suspeito deve ser mantido separado das testemunhas e de outros suspeitos.


A entrevista deverá ser com perguntas estruturadas. Qualquer álibi que o suspeito apresente
deverá ser imediatamente verificado.

Regra básica para a entrevista com o suspeito:


Nunca entrevistar um suspeito sem ter em mãos informações suficientes para isso.

Outros Métodos de investigação de segmento

Além das informações colhidas com testemunhos, com os vestígios encontrados na cena, no
próprio corpo do suspeito e na sua história antecedente, há outras possibilidades bastante
eficazes para apuração do delito:

Fazer o reconhecimento direto do suspeito – o suspeito poderá ser submetido ao


reconhecimento por testemunhas ou vítima (ou até por outro autor ou suspeito) do fato.

Formalizar, de imediato, todas as informações das testemunhas e vitimas – o depoimento


formal evitará dificuldades futuras no inquérito para localização das pessoas e servirá de
fundamento para o requerimento de prováveis atos judiciais cautelares como prisões e buscas
e apreensões.

Como o inquérito policial é formal (escrito), logo após a seção de entrevistas, os depoimentos
das testemunhas e vítimas deverão ser tomados por escrito pela autoridade competente.

Intercâmbio policial - Manter intercâmbio permanente com outras delegacias para o confronto
de informações que indiquem pistas da autoria.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 42
Consulta aos bancos dados disponíveis – a consulta aos bancos de dados é uma
ferramenta importante para a investigação criminal.

Para saber mais, leia o texto em anexo: Tecnologia da informação.

Diário de investigação

O investigador não pode confiar demasiadamente em sua memória. Deve manter registro
detalhado e sistematizado das informações coletadas. Essa necessidade se torna evidente
na medida em que a investigação avança, aumenta seu grau de complexidade e maior é o
volume de informações que precisam ser devidamente preservadas.

Convém fazer um registro diário de tudo que é coletado. Esse processo possibilita que o
investigador tenha o controle das informações colhidas e, ao final, sistematize todas elas
facilitando a análise e validação.

As anotações das informações colhidas na cena do crime permitirão aos que irão conduzir a
investigação de segmento, ter acesso a referências sobre tudo o que foi e não foi investigado.
Observações e registros auxiliarão na elaboração de planos e metas.

Os equipamentos eletrônicos existentes permitem maior rapidez e segurança nas anotações,


muito embora ainda seja válida a velha caderneta de papel. Ande sempre com ferramentas que
possibilitem rápidas anotações.

Conclusão

Neste módulo foram apresentados e discutidos métodos e técnicas básicas para a prática
da investigação criminal.

O importante é sua percepção de que não basta conhecer métodos e técnicas, é preciso
que saiba escolher o mecanismo mais adequado e conveniente para cada situação.

As técnicas por si só não são garantias de eficácia da investigação. Por trás delas terá
que estar o investigador como ser humano, com suas habilidades e capacidades perceptivas
naturais ou não chegará a lugar nenhum.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 43
O próximo módulo tratará da análise dos dados e das informações coletadas pela investigação
criminal.

Neste módulo são apresentados exercícios de fixação para auxiliar a compreensão do


conteúdo.

O objetivo destes exercícios é complementar as informações apresentadas nas páginas


anteriores.

1. Considerando o segundo momento do processo da investigação criminal – a coleta de


dados – associe a segunda coluna à primeira:

1. São informações fora de um contexto, sem valor suficiente para compreensão de um


fenômeno, ou seja, o meio pelo qual a informação e o conhecimento são transferidos.
2. São dados organizados, manipulados e tratados dentro de um contexto, contendo algum
significado como explicação do fato em apuração.
3. É a informação organizada, contextualizada e com o entendimento de todos seus
significados. É resultado da interpretação da informação e de sua aplicação em algum fim,
especificamente para gerar novas hipóteses, resolver problemas ou tomar decisões.
4. É a forma ordenada de proceder ao longo de um caminho. O conjunto de processos ou fases
empregadas na investigação, na busca de conhecimento. Pode ser um processo intelectual e
operacional.

( ) Método
( ) Dados
( ) Informação
( ) Conhecimento

2. Considerando a metodologia de escolha da técnica de investigação criminal, é correto


afirmar:

( )Que a técnica que será empregada em cada investigação não depende do problema que
está sendo investigado, dos objetivos e da disponibilidade de recursos para realização do
projeto.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 44
( ) Que não é recomendável iniciar a investigação por um estudo exploratório, para tomar
conhecimento da situação.
( ) Que o estudo exploratório possibilitará ao investigador decidir quais serão os métodos
necessários às fases posteriores.
( ) As técnicas não se excluem; poderão ser empregadas em uma mesma investigação,
metodologias e técnicas diversas.

3. Considerando o processo de coleta de dados na investigação criminal, assinale as


afirmativas corretas:

( ) Fontes secundárias referem-se ao material conhecido e organizado, segundo um esquema


determinado como os depoimentos das testemunhas.
( ) Fontes secundárias são informações que não têm relação direta com o caso, mas dizem
do caso ou do ambiente onde ele aconteceu.
( ) Modos dizem respeito à metodologia do crime.
( ) O reconhecimento é uma atividade preliminar de investigação. Ele busca as primeiras
informações sobre as atividades do investigado, as características ambientais e geográficas de
um determinado sítio, mas não oferece parâmetros para a percepção do grau de risco do
procedimento investigatório.

4. Ainda considerando a coleta de dados na investigação criminal, relacione a primeira


coluna à segunda:

1. Poderá ser aplicada na fase que antecede o planejamento de outras modalidades de


investigação, como a campana e a infiltração, que serão vistas em outra unidade.
2. Diz respeito à ferramenta que irá ser utilizada para registro das informações que o
investigador pretende encontrar.
3. Visa um maior conhecimento do fenômeno apresentado e não necessita de uma hipótese.
4. Elementos básicos das técnicas de investigação criminal.

( ) Observação, memorização e descrição.


( ) Como registrar as informações.
( ) O Reconhecimento.
( ) Estudo exploratório.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 45
5. De acordo com as técnicas de descrição de pessoas, estudadas neste módulo,
observe atentamente esta fotografia e elabore um pequeno relato com o registro do
maior número de dados possíveis.

Orientação: Numa descrição de pessoas devem ser registrados os dados imutáveis. Por
outro lado, a descrição deve ser honesta, realista, sem influências pessoais ou
preconceituosas. Devem ser particularizadas, pois as descrições genéricas pouco servem
para a investigação.
Observe no indivíduo não o que de comum possa existir, mas o que de particular apresenta,
pois isso permitirá uma identificação mais segura.

6. Comente sobre a importância do informante para a busca da prova e de que forma


você poderia contribuir para o recrutamento deles em sua atividade diária.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 46
Gabarito

1. ( 4 ) Método
( 1 ) Dados
( 2 ) Informação
( 3 ) Conhecimento
2. Que o estudo exploratório possibilitará ao investigador decidir quais serão os métodos
necessários às fases posteriores; e
As técnicas não se excluem; poderão ser empregadas em uma mesma investigação,
metodologias e técnicas diversas.
3. Fontes secundárias são informações que não têm relação direta com o caso, mas dizem do
caso ou do ambiente onde ele aconteceu; e
Modos dizem respeito à metodologia do crime.
4. ( 4 ) Observação, memorização e descrição.
( 2 ) Como registrar as informações.
( 1 ) O Reconhecimento.
( 3 ) Estudo exploratório.
5. Resposta pessoal
6. Seu papel é fornecer dados preliminares ao investigador, o auxiliando na leitura preliminar
do caso, para que possa formular as hipóteses também preliminares. O recrutamento depende,
muitas vezes, de exaustivo trabalho de convencimento. O grau de dificuldade tem relação
direta com a confiabilidade do cidadão na instituição policial.
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 47
Quantas vezes perdemos a oportunidade de conquistar potenciais informantes, destratando ou
não dando a atenção necessária ao cidadão que pede nosso apoio ou simplesmente uma
informação.

Este é o final do módulo 2

Coleta de dados e informações na investigação criminal

Anexos

Técnicas de treinamento da memória

Francisco das Chagas Soares Araujo

Segundo Thomas (2004), para desenvolver o poder de sua memória não basta treinar técnicas,
é preciso se concentrar num bem-estar físico geral e nas atitudes mentais que irão contribuir
para seu sucesso.

Nesse processo terão que ser incluído atividades que garantam boa forma física e mental, com
a prática de atividades físicas e alimentação saudáveis e atitudes que possibilitem o bem estar
emocional, como redução de fatores de estresse, ter atitudes positivas e organização na vida
pessoal e profissional.

Princípios de treino da memória

As técnicas de treino da memória se valem da lógica de trabalho da memória para organizar,


naturalmente, as informações sensoriais.

O já citado autor Thomas (2004), relaciona sete princípios que deverão ser aplicados no
treinamento da memória:

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 48
1. Organizar informações: Organizar as informações que você recebe é ponto vital para o
máximo de eficiência com o mínimo de perda.

O primeiro passo é dividir e organizar as informações num padrão simples.

Esse princípio considera o fato de se o cérebro participa ativamente do processamento da


informação, é provável que ele lembre disso com precisão.

O autor recomenda como modelo de estímulo ao cérebro prara se envolver ativamente com a
informação, sua maior concentração e uso do sentido visual e outros sentidos para reorganizar
os dados num sentido mais memorizável.

2. Melhorar a concentração: a concentração é fundamental ao aplicar qualquer técnica de


memorização. Concentre-se mais nas informações imaginando que mais tarde você precisará
responder perguntas sobre elas.

Treine ouvindo relatos de colegas e depois pedindo que formulem perguntas sobre as
informações ouvidas.

3. Usar os sentidos: Como já foi dito, muito embora a visão e a audição sejam os sentidos
mais usados, você precisa treinar sua percepção multissensorial.

Foi visto que a memória ocorre pelo processo de associação de informações e quanto maior for
o número de informações maior será a possibilidade de resposta do cérebro quando você
buscar lembrar uma informação.

Treine fechando os olhos ao ser apresentado a uma pessoa, quando as outras informações
sensoriais, além da visão e audição, tornam-se muito mais importantes como base na formação
de associações que irão permitir lembrar o nome daquela pessoa.

Tente andar em um quarto escuro e veja a sobrepujança e importância dos sentidos como tato
e olfato.

Ao observar uma pessoa ou coisas, passe a vê-las por uma perspectiva deferente. Observe
cada detalhe, cores dos olhos, detalhes da roupa, postura, voz, movimentos, textura.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 49
4. Usar lugares (trajeto): Quando você perde alguma coisa refaça mentalmente seus últimos
passos em contato com o objeto perdido.

Esse processo é desenvolvido naturalmente por seu cérebro e é a chave para importante
técnica de treinamento da memória. É a técnica do trajeto em que você faz um percurso por
locais familiares, como quarto e sala de sua casa, ou ambientes de seu local e trabalho,
colocando nesses ambientes imagens mentais de alguns dos fragmentos de informações.

Essa técnica possibilita a lembrança das coisas em seqüências.

4. Criar imagens: O alicerce que baseia o treino de aplicação da memória é a criação de


imagens mentais a partir da informação que lhe é apresentada.

As imagens mais fáceis de serem memorizadas são aquelas fora do habitual. Por exemplo,
memorizar um boi voando é muito mais fácil do que memorizar alguém comendo sanduíche.
Crie imagens insólitas.

Princípios de criação de imagens

Thomas (2004) cita os seguintes princípios como fundamento na criação de imagens para o
processo de memorização:

• Torne-a inusitada – introduza um elemento de fantasia.


• Faça-a movimentar-se – anime um objeto inanimado.
• Faça em 3D – veja-a em altura, largura e profundidade.
• Torne-a colorida – acrescente cores vivas a imagens monótonas.
• Torne-a engraçada – acrescente algo que faça você rir.
• Torne-a imensa – Exagere toda a imagem ou parte dela.

5. Use associações

Nosso cérebro desenvolve um processo natural de associações entre as informações que


recebe. Quando chega a ele nova informação, ele busca, entre as que já estão armazenadas,
na memória de longo prazo alguma similar para poder entender do que se trata.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 50
A criação de associações facilita a memorização de informações pois obedece uma lógica do
próprio cérebro. Cria a possibilidade para que a memória possa buscar uma informação mais
tarde.

Treine fazendo jogos de associações entre palavras e objetos, lugares, pessoas,


circunstâncias.

6. Armazenar informação

Da mesma forma que em seu cotidiano, no trabalho ou em casa, você cria uma sistematização
eficiente para o arquivamento de informações que precisam ser localizadas depois, as técnicas
de memorização também criam estruturas nas quais são colocadas informações para futuras
consultas.

Da mesma forma que nas bibliotecas, são criados padrões, com um sistema de seleção e
codificação para organizar as informações, possibilitando que a memória as processe e as
armazene de modo a facilitar a lembrança.

O serviço da memória é facilitado quando as informações são selecionadas e armazenadas


com lógica.

Técnicas para memorizar nomes

Ao investigador, principalmente o cartorário, é fundamental a lembrança de nomes de pessoas,


pois é delas que tira grande parte dos subsídios necessários à coleta da prova.

A coleta de informação das testemunhas, vitimas e suspeitos ocorre num processo intenso de
interação do investigador com essas pessoas. Ocorre que muitas vezes o simples fato de
lembrar o nome de alguém é extremamente angustiante.

Para auxiliá-lo o autor referido, Thomas (2004) cita algumas técnicas muito práticas que
poderão ser exercitadas com excelente resultado.

DICA: lembre-se de que qualquer informação contida na memória, está de alguma forma ligada
a outra.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 51
1. Técnica da associação

Seja qual for sua atividade de interação com pessoas, o fato de lembrar o nome de alguém,
com quem você se encontrou apenas uma vez, é muito importante para ela.

Na investigação esse é fator de extrema importância na conquista da confiança do


entrevistado. No entanto, não é tão simples lembrar do nome de alguém de quem muitas vezes
você ouviu ou leu uma vez num universo de dezenas ou centenas de nomes.

A técnica da associação é aplicada para a memorização de nomes por muito tempo. Envolve
dois passos: criar uma imagem e associá-la à pessoa.

• Primeiro passo: Criar uma imagem a partir do nome da pessoa.

Processo: ouça o nome crie uma imagem ligue a imagem ao nome.

Ao ouvir, pela primeira vez, o nome de uma pessoa, crie no mesmo momento uma imagem
associada a ele.

Terá que aprender a ouvir. Use as imagens que vierem à sua mente ao ouvir o nome.

EXEMPLO: o nome Marieta associe a imagem de uma corneta, pois os nomes soam parecidos.

Dê asas à imaginação. Crie uma imagem inusitada. Observe o rosto da pessoa, procure
encontrar traços que o distinga e possam criar uma imagem.

• Ligue a imagem ao nome: encontrando a pessoa aplique os princípios de criação de


imagens para construir uma figura para o nome e ligue-a à pessoa.

EXEMPLO: A imagem da corneta criada para o nome de Marieta deverá ser bem forte. Imagine
uma grande corneta cheia de asas voando e tocando, para um lado e para outro carregando
Marieta.

Procure ouvir o som da corneta e das suas asas. Essa imagem facilitará a lembrança do nome
da pessoa quando for necessário.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 52
2. A Técnica SOUL

Outra técnica para memorização de nomes que o autor referido apresenta é a técnica SOUL.

Significa: Sem pressa na apresentação, Ouça o nome, Use o nome, Lembre do nome.

Normalmente é durante a apresentação que o novo nome se perde com mais facilidade, por
tanto é quando temos que envidar toda a atenção necessária para evitar que isso aconteça.

Uso da técnica SOUL

Ação a tomar Motivo para a ação

Tenha uma breve Sem pressa na Aumenta a chance de


convesação apresentação lembrar do nome

Concentre-se bem O nome pode não


quando o nome for Ouça bem o nome ser usado de novo
dito pela primeira vez após a apresentação

Use o nome três


vezes durante a Use o Nome A repetição do
conversação
nome o fixa bem na
memória

Lembre do nome A lembrança se


no fim do dia e de Lembre do Nome perde se não for
novo no dia retomada em 48 h.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 53
Ouvir, usar e lembrar

É muito provável que você não ouça mais o nome de uma pessoa se não ouvi-lo durante sua
apresentação. Daí a importância de que você se concentre no momento que lhe for dito e o
assimile.

Para a memorização do nome é fundamental que procure repeti-lo durante a conversa de


apresentação. É recomendável que o use pelo menos três vezes nesse primeiro momento.
Quando da apresentação, enquanto conversa e na despedida.

Procure relembrar o nome para si mesmo logo após a saída da pessoa e no dia seguinte.
Segundo Thomas (2004), cerca de 80% das informações novas são esquecidas em um ou dois
dias se não forem relembradas.

Combinar técnicas

Para maior garantia de memorização do nome de alguém, poderá ser feita uma combinação de
técnicas.

Por exemplo, aplique a técnica SOUL enquanto está sendo apresentado à outra pessoa. E,
tanto durante a apresentação como depois, aplique a técnica de Associação e assim poderá
associar o nome à pessoa.

Esse processo misto possibilitará que sejam armazenados em sua memória a pessoa e o seu
nome, facilitando que sejam lembrados quando de nova apresentação ou quando precisar
lembrá-lo.

DICAS: Faça uma pergunta ao conhecer alguém, para criar um elo e desacelerar a
apresentação. Pergunte, por exemplo, se está gostando da cidade. Como foi seu dia. Se já
conhecia a unidade policial.

Sugiro que procure outras técnicas de memorização para capacitar sua memória a registros
efetivos de informações que irão povoar seu dia-a-dia de investigação.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 54
Recrutamento do informante

O recrutamento do informante é atividade de extrema importância para a investigação de


crimes, pois, muitas vezes, é a única possibilidade de uma variável para formulação da
hipótese inicial. Ocorre muito nos crimes de autoria desconhecida.

Salvo os crimes praticados de inesperadamente, por força de súbita emoção, quase sempre o
autor tem tempo para planejar estratégias que dificultem a coleta de provas, impondo maior
esforço à busca de informações.

Mesmo sendo de aparente informalidade o uso do informante, é necessário o controle da


legalidade. Primeiro para que não haja constrangimentos e abusos no recrutamento. Depois,
para que informações contaminadas não acabem invalidando as provas.

O recrutamento do informante não é tarefa fácil. Depende, muitas vezes de exaustivo trabalho
de convencimento. O grau de dificuldade tem relação direta com a confiabilidade do cidadão na
instituição policial.

Quantas vezes perdemos a oportunidade de conquistar potenciais informantes, destratando ou


não dando a atenção necessária ao cidadão que pede nosso apoio ou simplesmente uma
informação.

Deve ser feito um cadastramento com o perfil dessa pessoa, para consulta do
investigador. O recrutamento deve ocorrer nas variadas classes sociais e ambientes da
sociedade organizada.

Uma relação de informantes em potencial poderá ser feita com nomes de pessoas que já
mantiveram algum contato com a polícia, como vitimas, testemunha de outros crimes e
pessoas que pedem a colaboração da polícia. Essas pessoas poderão ser também escolhidas
de acordo com seu potencial de informação diante do fato, das circunstâncias, da motivação e
do ambiente onde ocorreu.

Exemplo: Crime de homicídio praticado por vingança, cuja vitima é comerciante que ganhou
licitação pública. Algum dos concorrentes poderá ter informação ou a possibilidade de vir a tê-
la, que viabilize formulação de hipóteses sobre a autoria.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 55
O recrutamento do informante deverá ser um processo regular da instituição policial e
não do investigador em si. O informante é da organização. O controle institucional evita
o uso inadequado dessa ferramenta e garante a verificação da validade da informação.

Deverá haver um cuidado especial com o informante autor de crimes, pois o investigador não
pode ceder diante de possíveis condições para oferecimento do dado que não sejam de acordo
com a legalidade.

Deverão ser adotados critérios objetivos para a utilização do informante. A instituição


policial adotará um protocolo de recrutamento e utilização do informante e da
informação produzida. Ela deverá definir critérios de análise, gestão e aplicação da
informação.

A informação será verificada antes que seja aplicada, quanto à credibilidade e à potencialidade
da fonte. Esse processo evita que o investigador seja levado para rumos que só interessam ao
informante.

Considere a possibilidade de que a motivação do informante seja a vingança. Isso poderá levá-
lo a executar uma busca planejada por um condômino que, não gostando do sindico, se sentirá
recompensado com a situação vexatória a que ele será submetido com a ação policial em seu
apartamento, pela suspeita de pedofilia, por exemplo.

A informação não avaliada quanto à pertinência poderá contaminar todo um processo de


investigação, tirando sua credibilidade.

Perfil do investigador que realiza uma campana

Paciência e persistência
São atributos fundamentais, pois a observação por meio da campana poderá durar horas ou
dias, até que todos os dados sejam observados e coletados. Num momento de descuido
poderá acontecer o fato esperado.

Plena capacidade sensorial


Na campana o investigador fará uso de toda sua capacidade sensorial. Dependendo do dado
que queira registrar, um ou outro sentido poderá ser mais usado.
Apesar do potencial tecnológico de apoio à investigação, o investigador não poderá abrir mão
dos seus sentidos em determinados momentos.
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 56
Previdência e desembaraço
O bastante para prever e contornar situações adversas. Durante a campana poderão ocorrer
incidentes que, embora previstos, a solução dependerá das circunstâncias reais e da
capacidade de decisão e previsibilidade do investigador.
Exemplos: Em uma campana móvel a pé, o alvo, percebendo que está sendo observado,
resolve tomar um táxi, deixando o investigador imprevidente, desolado, que além de não ter
dinheiro para apanhar outro táxi, não tem uma viatura de apoio.
Ou, então, o alvo, do sexo feminino, percebendo que está sendo observado, resolve criar uma
situação constrangedora para o investigador, que é do sexo masculino, gritando por socorro
por estar sendo assediada. O investigador que é pego de surpresa, não consegue criar uma
“história cobertura” para justificar sua presença sem prejudicar a investigação.

Aparência comum
É outro atributo importante no investigador que executa uma campana, pois a característica
principal da diligência é ser encoberta. Qualquer suspeita da presença de um policial poderá
inviabilizar o procedimento.
Exemplo: A execução de uma campana em um bairro onde os moradores são de
predominância nissei, qualquer pessoa de características físicas diferentes, irá chamar a
atenção se tornando alvo de especulações.

Capacidade de procedimento normal


As razões são as mesmas do atributo anterior. O que o investigador menos deve fazer na
execução de uma campana, é chamar a atenção das pessoas para si.

Campana - Plano operacional, cuidados e modalidades

Para elaboração do plano de ação, o investigador deverá ter ampla informação sobre o objetivo
da sua observação. O que deve ser observado e como dever ser registrado. Como deve ser
sua relação com o ambiente e o alvo a ser observado. Portanto, o plano deverá conter:

- A diligência que será feita – Descrever a modalidade de campana.


- Explicar a necessidade da diligência – Dizer do resultado esperado e de sua importância.
- Recursos humanos, materiais e financeiros necessários – Descrever toda a logística
necessária. Pessoas, veículos, armas, equipamentos, dinheiro, material de disfarce, etc.
- Os responsáveis pela execução – Dividir as equipes, nomeando membros e líder.
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 57
- Estabelecer o local de comando da diligência – Onde será o posto de comando de
decisões.
- Estabelecer o prazo – Quanto tempo de duração.
- Os procedimentos que serão adotados – Métodos de execução. Definir as estratégias.

- Cuidados práticos a serem tomados para execução da campana

- Vestir-se ou comportar-se com naturalidade, não chamando a atenção sobre si;

- Usar a arma com discrição e cuidado;

- Se necessário, levar consigo apetrechos que possibilitem rápida modificação de aparência;

- Levar consigo dinheiro para eventuais despesas (Transporte, aluguel do local que servirá de

ponto de observação, diárias em hotéis ou pensões, locação de veículos, etc.);

- Escolher com antecedência o local para posicionamento;

- Quando houver mais de um observador, que todos conheçam o plano de ação, saibam todos

o que fazer, e estejam sob o comando de um chefe;

- Promover um revezamento com outros observadores evitando a interrupção da campana;

- Garantir meios de comunicação (rádio, celular, etc.);

- Ter consigo identidade funcional para evitar possíveis desentendimentos com outros setores

da polícia; e

- Ter preparadas explicações para terceiros quanto à sua presença constante em determinado

local (história cobertura).

Modalidades de campana móvel


A execução da campana poderá ser feita por uma ou mais pessoas. Tudo depende da
complexidade da diligência, do tempo de duração e do grau de risco que a ela é imposto.

- Campana realizada por um só homem - É desenvolvida somente por um investigador. É a


mais difícil, perigosa e cansativa. Essa modalidade é sempre passível de insucesso,
principalmente se for necessário longo tempo para a execução. O investigador sozinho
estará sempre correndo o risco de ser enganado com facilidade pelo observado ou de ser alvo
de uma reação violenta. É aconselhada em situações muito especiais, como aquela em que o
investigador, estando desacompanhado de colegas, percebe a presença de um suspeito que

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 58
precisa ser observado, mas não poderá esperar a chegada de outro colega sob pena de perder
de vista seu alvo. Ela deverá ser executada só durante o tempo necessário para a chegada de
apoio.

- Campanas AB e ABC - Visando reduzir os riscos e o insucesso, a campana poderá ser


realizada por dois, três ou mais investigadores. Se realizada por dois, chama-se AB, se
realizada por três ou mais, chama-se ABC. A polícia deve operar sempre em vantagem, pelo
menos, numericamente. O aproveitamento será melhor e menores serão os riscos de
ocorrências violentas. A possibilidade de descoberta dos observadores é bem menor e, mesmo
que um seja descoberto, o outro poderá dar prosseguimento ao trabalho de observação.

- Campana progressiva - Método eficiente para a localização de esconderijos, locais de


reuniões secretas, endereços ou qualquer destino ou paradeiro de pessoas que
interessam à investigação.
Consiste em observar a pessoa até perdê-la de vista e retomar a observação no dia ou no
momento seguinte, partindo do ponto onde foi interrompida. É evidente que só terá valor se o
observado seguir diariamente o mesmo caminho.

Meios - A campana móvel poderá ser executada tanto a pé como com o uso de automóveis,
motocicletas, etc.

A campana com o uso de veículos tem maior grau de dificuldade, precisa ser bem
planejada e treinada para oferecer resultado eficaz. No caso de pessoas, poderá ser
empregado um ou vários veículos.

Campana fixa

Essa modalidade tanto poderá ser realizada por um investigador como por um grupo. Só que
nesse caso a observação será feita em um posto fixo. Mesmo assim, não perde a característica
de discrição.

Poderão ser utilizados como postos, uma casa, um edifício ou, até mesmo, a viatura
velada, em local onde estejam vários outros veículos estacionados, permitindo uma
ocultação.

Metodologia

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 59
Dependendo dos objetivos e do tempo de duração, a campana fixa poderá ter como posto de
observação um ambiente aberto, como uma mesa de bar, uma calçada, um banco de praça,
etc. Nesses casos, os cuidados com a adequação da postura do observador ao ambiente serão
muito maiores.

Em qualquer desses postos, o investigador terá que ter o máximo de cuidado para não chamar
a atenção de quem quer que seja sobre a sua pessoa.

Persianas possibilitam uma observação segura. O investigador, se possível, não deverá deixar
de utilizar binóculos, máquinas fotográficas, filmadoras ou qualquer outro instrumento que
facilite a sua observação.

O local a ser utilizado deverá ser escolhido de forma que dê ampla visão do ponto a ser
observado.

Em campana, de um modo geral, o investigador não poderá subestimar o observado e


deve estar sempre preparado para uma reação de astúcia. A qualquer momento o
investigador poderá ser notado pelo observado e este irá adotar qualquer procedimento
para inibir a observação, podendo praticar até uma ação violenta.

Deverão ser adotados cuidados necessários para que a finalidade da presença dos
investigadores seja bem dissimulada, mas de forma que não envolva condutas que chamem
mais atenção do que dissimulem.

A execução da campana fixa requer procedimentos adequados às circunstâncias e ao tipo de


dado a ser colhido. Se o propósito é acompanhar o dia inteiro o movimento de um ponto de
tráfico de drogas ou os preparativos para a execução do roubo a um banco, a estratégia de
ação deverá ser de um rodízio de observadores que permita a cobertura de todo o tempo de
ação do alvo.

Poderão ser utilizados mais de um ponto de observação, se houver necessidade de se cobrir


uma área maior ou fora do campo de visão do observador. Esses pontos deverão agir de forma
sincronizada. Na campana fixa poderá também ser aplicada uma técnica mista, onde serão
utilizadas duas ou mais modalidades.

Exemplo: Sendo constatada a necessidade de acompanhamento do alvo, no momento em que


se ausenta do local onde executa as atividades observadas, o ideal é que haja sempre uma
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 60
equipe de apoio à campana fixa, para que entre em imediata execução da vigilância móvel, que
poderá ser motorizada ou a pé.

Cuidados e a serem tomados quanto ao infiltrado

- Escolher o policial adequado para cada situação;


- Não deverá o infiltrado utilizar qualquer documento ou outra coisa que possa despertar
suspeita;
- O infiltrado deve assumir um comportamento perfeitamente normal e compatível com o meio
em que estiver infiltrado;
- O infiltrado deverá ter um tipo físico que se ajuste ao meio;
- O infiltrado deverá assumir o mesmo nível cultural do meio;
- Ele deverá conhecer com profundidade as atividades desenvolvidas no meio em que estiver
introduzido, nomes e atuações de militantes do grupo, o “modus operandi” de cada
modalidade infracional do meio; e
- Por fim, o infiltrado terá que ser desconhecido do grupo a ser observado para não ser
“queimado”.

A segurança do infiltrado

Na execução da diligência de infiltração, é fundamental o aspecto da segurança do


investigador. Não poderá haver negligência com esse item. Por isso, algumas medidas deverão
constar no plano de ação da diligência:

- Cientificar as unidades policiais da área da diligência de infiltração, de forma que não lhe
prejudiquem no sigilo necessário e não crie embaraços à diligência;
- Convencionar dia, hora, local e até um código de comunicação do infiltrado com o
coordenador da diligência;
- Nas comunicações, quando ficar convencionado o uso do telefone, que esse seja público e
em locais diferentes;
- Quando a infiltração for feita em um grande grupo de pessoas exaltadas, a diligência deverá
ser executada por muitos investigadores, que deverão se conhecer e estarem prontos para
uma defesa recíproca; e
- Se necessário, até mesmo um serviço auxiliar de campana deverá ser montado.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 61
Elaboração do plano da entrevista

Francisco das Chagas Soares Araujo

Como todo o processo da investigação, entrevista também precisa de um plano de ação bem
elaborado para que possa ter possibilidade de êxito.

O plano da entrevista deverá ter os elementos fundamentais para sua execução:

- Técnica a ser aplicada – a técnica será definida a partir do perfil do entrevistado, das
informações que se quer coletar e do referencial teórico que se tenha como fonte.

- Objetivos – O tipo de informações que se busca colher do entrevistado.

- Ferramentas de apoio – todo o material que dê sustentação conceitual à entrevista, com


cópia de depoimentos, fotos, laudos, objetos, etc. Bem como os equipamentos eletrônicos, por
ventura necessários.

- Ambiente – o ambiente deve retratar a discrição necessária da entrevista. É conveniente que


seja confortável, tranqüilo, que permita a concentração do entrevistado.

- Equipe – as pessoas que irão executar e prestar apoio à entrevista.

- Tempo necessário – A determinação do espaço de temo é fundamental. Deverá ser


adequado ao perfil psicológico e social do entrevistado, ao tema das perguntas e às respostas
esperadas.

ATENÇÃO! É melhor não fazer a entrevista se não houver tempo suficiente. A entrevista não
poderá ser interrompida, a não ser que esta seja uma estratégia adotada.

- Registro – determinar a forma de registro que atenda a estratégia adotada. Poderá ser feito
por escrito ou por meios eletrônicos.

- Segurança – se necessário, deverão ser previstas medidas de segurança como estória-


cobertura bem planejada, documentos que a confirme e ocultar a verdadeira identidade do
entrevistador.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 62
Regras básicas da entrevista

1. Observação máxima
Na entrevista, um fator básico para o sucesso do entrevistador é sua capacidade de
percepção, da qual já foi vista como uma das ferramentas do investigador.

Foi visto que perceber tem efeito muito mais amplo do que o simples olhar, na entrevista, não
se limite à leitura da linguagem oral, mas, acima de tudo, à leitura das atitudes e pensamentos
expressos na linguagem corporal do entrevistado.

A linguagem oral nem sempre reflete o pensamento da pessoa. Basta olhar ao seu lado e verá
pessoas dizendo uma coisa com a fala e outra com os gestos.

Exemplo: A senhora que chega em sua sala para ser entrevistada. Você a recebe de forma
afável, oferece um assento. Quando você pergunta se está tudo bem e pede que fique à
vontade, ela diz que está bem e à vontade. Entretanto, continua segurando, firmemente, sua
bolsa no colo. Essa atitude diz que ainda não se sente à vontade e não sente confiança no
ambiente.
Com relação a essa senhora, você, ainda, não deve iniciar a entrevista, pois sua falta de
confiança pode comprometer a entrevista.

A percepção do entrevistador deve estar voltada para a postura que o entrevistado adota
ao falar e não apenas, para o que realmente diz.

2. Ouvir com atenção

A maior virtude do interlocutor é saber ouvir com atenção. Não é tarefa fácil,
principalmente quando o entrevistado divaga no tema abordado para chegar à informação
esperada. Quando isso ocorrer, o entrevistador deverá se armar com a calma e a cortesia
necessária para saber esperar o momento certo de trazer o entrevistado para o tema principal
ou esperar o desfecho, caso perceba, que ele irá chegar à informação que espera.

A capacidade de ouvir, atentamente, permite ao entrevistador maior grau de percepção


das informações contidas nas linguagens oral e corporal do entrevistado. Permite,
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 63
também, melhor observação da entonação e articulação das palavras, sinais importantes
para a validade das informações.

3. Perguntar corretamente

A formulação das perguntas no momento oportuno, bem como a entonação de voz e o


gestual têm papel importante na construção da empatia no processo de comunicação
entre o entrevistador e o entrevistado.

É preciso um trabalho duro de preparo da entrevista, levantando todas as informações colhidas


sobre o tema em questão para que as perguntas sejam objetivas, claras e não provoquem
confusão no entrevistado. A pergunta mal formulada tanto poderá provocar uma falsa resposta
como bloqueio no processo mental do entrevistado.

A correção da pergunta está relacionada com o conhecimento detalhado do fato pelo


entrevistador e o plano elaborado adequadamente para o tipo de entrevistado.

4. Não fazer registros ostensivamente

Um dos fatores que contribuem para o bom resultado de uma entrevista é a relação de
confiança estabelecida entre entrevistador e entrevistado.

Dependendo do estado emocional do entrevistado, o simples ato de anotar as


informações poderá se transformar em uma barreira para a relação de confiança. É
conveniente que o entrevistador domine o tema da entrevista de maneira que possa ter
facilidade para formular as perguntas necessárias sem ter que recorrer a anotações.

Quanto às respostas, o ideal é que, dependendo da complexidade do assunto, o ambiente seja


preparado para registro eletrônico das informações, para posterior análise e avaliação. Poderá
também contar com a colaboração de outro investigador para fazer o registro das respostas em
outro ambiente preparado para que possa ouvi-las.

O entrevistador deverá considerar como fator de interferência na relação com o


entrevistado, o fato de que uma entrevista feita pela polícia é sempre motivo de estresse,
em maior ou menor grau, dependendo das circunstâncias, da natureza do fato e do papel
do entrevistado na investigação – vítima, testemunha ou suspeito.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 64
Barreiras à comunicação

Francisco das Chagas Soares Araujo

Sendo um processo que se estabelece entre pessoas, a comunicações poderá sofrer curtos
circuitos provocados por fatores que precisam ser conhecidos, percebidos e controlados.

O investigador deverá ter conhecimento ou, não sendo possível, se prevenir com estratégias
de superação dessas barreiras.

Há três grupos principais de fatores que dificultam a comunicação:

• Falta de motivação: a abordagem inicial do entrevistado é sempre o ponto crítico da


sua motivação para estabelecer a comunicação com o investigador.

Conquistar e manter a confiança do entrevistado será uma forma de motivá-lo para a


entrevista. Uma boa técnica é incluir na abordagem inicial um tema de seu interesse, como
falar sobre seu time de futebol ou outros assuntos que se identifiquem com seus desejos e
interesses.

Outra forma é manifestar interesse em ajudá-lo numa situação que o preocupe, como informar
ao patrão sobre o motivo de sua falta.

• Barreiras psicológicas:
As barreiras psicológicas provêm das diferenças individuais e podem ter origem em aspectos
do comportamento humano, tais como:

a) seletividade: o emissor só ouve o que é do seu interesse ou o que coincida com a sua
opinião;
b) egocentrismo: o emissor ou o receptor não aceita o ponto de vista do outro ou corta a
palavra do outro, demonstrando resistência para ouvir;
c) timidez: a inibição de uma pessoa em relação a outra pode causar gagueira ou voz baixa,
quase inaudível;
d) preconceito: a percepção indevida das diferenças socioculturais, raciais, religiosas,
hierárquicas, entre outras;
e) descaso: indiferença às necessidades do outro.
(http://www.ceismael.com.br/oratoria/oratoria043.htm)
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 65
• Dificuldades de linguagem: Diz respeito às dificuldades de expressão oral. Tendem a
reduzir o fluxo da conversação. Exige capacidade do entrevistador em manter comunicação
eficiente com tais pessoas. Pode ocorrer do uso de gírias, regionalismos, dificuldades de
verbalização, etc.

EXEMPLO: O entrevistado que tem dificuldades para falar por ser portador de gagueira.

Para superar essa dificuldade o entrevistador deverá armar-se de muita paciência e


estabelecer tempo suficiente para a entrevista. O ambiente de tranqüilidade poderá também
contribuir para que o entrevistado sinta segurança e consiga ficar calmo, fator importante para
a qualidade de comunicação com essas pessoas.

Como minimizar as barreiras da comunicação

Para minimizar as barreiras que dificultarão sua comunicação com o entrevistado, adote as
seguintes reguras:

• Use linguagem apropriada e direta


• Forneça informações claras e completas
• Use canais múltiplos para estimular os vários sentidos do receptor (visão, audição etc.)
• Faça uma comunicação face a face.
• Faça uma escuta ativa. Participe ativamente da comunicação.
• Crie empatia. Coloque-se na posição ou situação da outra pessoa, num esforço de
entendê-la.(http://www.ceismael.com.br/oratoria/oratoria043.htm)

Linguagem corporal

Francisco das Chagas Soares Araujo

As técnicas descritas deixam bem claro que a entrevista é um processo de interação entre os
interlocutores. Desse processo decorre a relação de confiança entre eles resultando na coleta
de informações pelo entrevistador.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 66
Ocorre que o simples fato de alguém responder perguntas a ele formuladas, não é garantia de
que se tenha claramente a informação necessária para a verificação da hipótese levantada
sobre um determinado fato.

A validade e fidedignidade das informações dependem de uma leitura detalhada dos dados
oferecidos pelo entrevistado que tanto serão em códigos emitidos por meio da fala como por
meio de movimentos corporais.

Antes de desenvolver a linguagem oral o homem, para se comunicar, aplicava a leitura das
atitudes e pensamentos expressos no comportamento das pessoas.

Segundo ALLAN e PEASE (2005. p. 18), a maioria dos pesquisadores hoje concorda que as
palavras são usadas primordialmente para transmitir informações, ao passo que a linguagem
corporal é usada para negociar atitudes interpessoais e, em alguns casos, para substituir as
mensagens verbais.

EXEMPLO: O olhar fulminante que o réu dispara para a testemunha que acabou de depor
perante o juiz, num calo recado de ameaça.

É uma mensagem clara sobre sua intenção com relação à testemunha, sem que tenha dito
uma palavra. Provavelmente esteja dizendo: ”Vou te pegar”. “Estás acabado”.

Somos uma espécie ainda dominada por leis biológicas que ditam as regras de nossas ações,
reações, linguagem corporal e gestos, segundo ensinamento dos mesmos autores, que
completam essa assertiva dizendo que raramente o animal humano tem consciência de que
suas posturas, movimentos e gestos contam uma história enquanto sua voz diz outra.

No que isso interessa ao investigador?

Veja o que diz a respeito o nosso herói citado inicialmente, Sherlock Holmes:

Nas unhas do homem, nas mangas do seu paletó, nos seus sapatos, nos joelhos da calça, nos
calos do seu polegar e do seu indicador, na sua expressão, nos punhos da sua camisa, nos
seus movimentos – em cada um desses traços a ocupação de um homem se revela. É quase
inconcebível que todos esses traços reunidos não sejam suficientes para esclarecer, em
qualquer circunstância, o investigador competente. (ALLAN e PEASE, 2005. p. 11)

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 67
Veja o que diz também, os autores Pierre Weil e Roland Tompakow:

Alguém à sua frente cruza ou descruza os braços, muda a posição do pé esquerdo ou vira as
palmas das mãos para cima. Tudo isso são gestos inconscientes e que, por isso mesmo, se
relacionam com o que se passa no íntimo das pessoas. (WEIL e TOMPAKOW, p. 15. 2007)

A linguagem corporal reflete o estado emocional das pessoas. A leitura dessa linguagem pode
ser de extrema importância para o entrevistador atento, pois ela estará sempre carregada de
informações sobre a emoção que elas sentem em determinado momento.

EXEMPLO: o suspeito que está sentado encurvado para frente, maxilar tenso, veias pulsando
e apertando os dois braços da poltrona, está claramente informando ao entrevistador da sua
agressão contida.

Para ALLAN e PEASE (2005. p. 19), o segredo da leitura da linguagem corporal está na
capacidade de captar o estado emocional de uma pessoa escutando o que ela diz e
observando seus gestos e atitudes.

A leitura da linguagem corporal durante a entrevista oferece subsídios para que o entrevistador
possa fazer correta análise da validade e da credibilidade das informações oferecidas pelo
entrevistado.

Ainda segundo ALLAN e PEASE:

Há estudos que mostram que as pessoas que se apóiam nos sinais visuais presentes na
conversação direta para avaliar o comportamento das outras têm mais chances de julgar com
precisão do que aquelas que se apóiam exclusivamente na intuição. ALLAN e PEASE ( 2005.
p. 22)

O investigador terá que adquirir habilidades para a leitura da linguagem corporal se quiser ter
segurança na avaliação das hipóteses levantadas diante do problema que investiga.

Fatores a serem considerados pelo entrevistador

Para que essa leitura de linguagens gestuais possa ser devidamente interpretada, o
entrevistador deverá considerar alguns fatores como:
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 68
- Que sua presença como observador já modifica a linguagem do observado.
- Caberá ao observador traduzir a linguagem simbólica do entrevistado.
- Toda a situação deve ser vista no seu contexto.
- Levar em conta o fator cultural das atitudes observadas (uma atitude pode ter significado
diferente em regiões diferentes).

Leitura a frio

Francisco das Chagas Soares Araujo

Você já foi a um vidente?

Se foi deve ter saído de lá impressionado com as informações que ele lhe deu a seu respeito.

Ele faz o que você como entrevistador deve fazer. Leitura da linguagem corporal do
interlocutor.

Leitura a frio é isso, a técnica de leitura das pessoas por meio de sinais imitidos pelo seu
corpo e voz. Mais uma vez busque o ensinamento de ALLAN e PEASE que dizem:

Ainda que possa parecer mágica, trata-se simplesmente de um processo baseado na


observação atenta dos sinais da linguagem corporal, aliado ao entendimento da natureza
humana e ao conhecimento da probabilidade estatística. (ALLAN e PEASE, 2005. p. 22):

Dizem os autores citados que “há pesquisas dando conta de que essa técnica é capaz de
proporcionar uma precisão de 80% quando se lê uma pessoa desconhecida”.

Treinamento para leitura a frio

O investigador deve treinar exaustivamente essa técnica para que possa aplicá-la com
segurança e ter grande chance de êxito tanto no exercício da entrevista como em outra
atividade de observação de pessoas.

Tire algum tempo de seu dia para esse exercício. Os melhores ambientes são aqueles onde há
um grande grupo de pessoas conversando.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 69
O ambiente da própria unidade funcional poderá servir de excelente laboratório para esses
exercícios. Principalmente no plantão de uma delegacia e no cenário de abordagens em via
pública, onde há pessoas expressando ansiedade, raiva, tristeza, impaciência.

Outra técnica citada por ALLAN e PEASE (2005. p. 33), é a observação aos programas de TV.
Recomendam que abaixe o som e tente entender o que está acontecendo olhando somente as
imagens. Aumente o som de vez em quando para checar a precisão das suas leituras.

Pesquisas sobre sinais de linguagem

Acompanhado o ensinamento de ALLAN e PEASE, muitas pesquisas têm sido feitas para
definir se os sinais da linguagem corporal são inatos, genéticos ou culturalmente adquiridos.

Foram colhidas evidências na observação de pessoas cegas, na análise do comportamento


gestual de pessoas de diversas culturas e do comportamento dos chimpanzés e dos macacos,
nossos parentes próximos antropologicamente.

Os resultados levaram os pesquisadores a conclusões de que alguns gestos são inatos, como
o de sugar (os bebês humanos e primatas nascem sabendo sugar o peito da mãe) e gestos
faciais para expressar emoções como dor, alegria, raiva.

A comunicação por sinais não-verbais usa grande parte dos mesmos sinais em qualquer parte
do mundo.

Exemplos de sinais não-verbais

Na Finlândia, no Japão ou no Brasil, o sorriso significa felicidade (em regra, pois algumas
variações poderão significar outros sentimentos); franzir as sobrancelhas ou fazer cara feia,
significa que as pessoas estão tristes ou zangadas.

Outro gesto quase que universalmente conhecido com o sentido de “sim” é o mover a cabeça
para baixo. É um gesto provavelmente inato, já que cegos de nascença também o usam.

Outro gesto universal é o de “não” com o balançar da cabeça de um lado para outro. Segundo
pesquisas, provavelmente, adquirido na infância.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 70
Entretanto, os estudos desenvolvidos nesse campo do conhecimento indicam que tal qual
ocorre com a linguagem verbal, alguns sinais corporais variam de significado de uma cultura
para outra.

É provável que dentro de um mesmo país, como o Brasil, de dimensões continentais, um


mesmo sinal poderá ter outro significado em regiões diferentes.

Essa possibilidade é um dos fatores que deverão ser conhecidos, analisados e considerados
no planejamento da entrevista.

Três regras para uma leitura precisa

As oportunidades de coleta de informações para montagem do retrato do delito em apuração


poderão surgir a qualquer momento e em qualquer lugar.

Portanto o investigador terá que estar preparado para fazer uma leitura completa de todas as
informações que lhe forem passadas pelo interlocutor que tanto poderá ser um suspeito, logo
após o delito, como a vítima ou testemunhas. Todos carregados de emoções

Dependendo do ambiente, do estado emocional, do momento e circunstâncias, o entrevistado


muitas vezes falará muito mais por sinais não-verbais.

Deverão ser registrados esses sinais para leitura detalhada de cada um em conformação com
o que foi dito verbalmente e as demais informações do contexto.

O que você vê e ouve em uma situação qualquer, poderá não ser o reflexo real das atitudes
das pessoas.

Para auxiliá-lo diante dessa situação, os autores ALLAN e PEASE (2005. p. 25 a 28), sugerem
três regras básicas:

1. Leitura dos gestos em grupos

O entrevistador não pode querer fazer a leitura dos sinais corporais de forma isolada. Cada
gesto e sinal do nosso corpo, para serem devidamente compreendidos, terão que ser
considerados em um grupo de sinais.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 71
O gesto é como se fosse uma palavra falada, tendo, portanto, vários significados diferentes.
Sua verdadeira compreensão só é possível quando analisada num conjunto de gestos que
funcionarão como uma frase.

Grupos gestuais

Os gestos aparecem em grupos gestuais que revelam a verdade sobre os sentimentos e


atitudes das pessoas. O significado preciso de um gesto só é possível se houver um grupo de
pelo menos três gestos.

As frases da linguagem corporal deverão ser lidas e comparadas com o que a pessoa disse
verbalmente.

O investigador deverá sempre observar o grupo gestual para fazer a leitura correta das
informações do entrevistado.

Há certos gestos repetitivos que fazemos para demonstrar que estamos entediados ou sob
pressão, por exemplo, quando alisamos ou enrolamos o cabelo repetidamente. Se esses
gestos forem considerados isoladamente, provavelmente significarão dúvida ou ansiedade.

EXEMPLO DE GRUPO GESTUAL: É a chamada avaliação crítica que as pessoas usam


quando não estão satisfeitas com o que ouvem. Segundo descrevem os autores referidos, seu
principal sinal é a mão no rosto com o indicador apontado para cima enquanto outro dedo
cobre a boca e o polegar apóia o queixo. Os sinais adicionais que indicarão o pensamento
crítico do interlocutor, são as pernas firmemente cruzadas, o braço passado sob o estômago
(postura defensiva) e a cabeça e o queixo inclinado para baixo (negatividade/hostilidade).

Poderíamos traduzir a frase gestual da seguinte forma: “Eu não gosto do que você está
dizendo”. Essa leitura poderá indicar ao entrevistador que está na hora de mudar de estratégia.

2. Observar a coerência

Segundo ALLAN e PEASE as pesquisas indicam que os sinais não-verbais têm um efeito cinco
vezes maior do que as palavras orais e quando não há coerência entre eles, as pessoas dão
preferência à mensagem não-verbal.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 72
Imagine que você como investigador pedisse ao entrevistado, que está na postura descrita no
exemplo da primeira regra, sua opinião sobre uma observação que você acabasse de fazer e
ele dissesse que concordava. É muito provável que estivesse mentido tendo em vista a
incoerência entre seus gestos e as palavras.
EXEMPLO: Entrevistando um suspeito de ter matado sua esposa, este, muito tranqüilo,
descreve sua relação de perfeita harmonia com a vitima e enquanto isso, repetidamente, retira
e recoloca a aliança. Há uma incoerência entre sua fala oral que descreve perfeita harmonia no
casamento e seus gestos que denotam o sentimento de afastar-se daquela relação.

Chave para interpretação

A chave para a interpretação correta das atitudes por meio da linguagem corporal, segundo
ensinam os autores em referência, é a observação dos grupos gestuais e da coerência destes
com as mensagens verbais.

3. Contextualização dos sinais

A investigação criminal, conforme visto, ocorre em um contexto. Cada elemento desse


processo, por menor que seja, não poderá ser considerado fora da relação sistêmica com os
demais.

Para melhor entender esse processo veja o que dizem nossos autores em referência:
Todo gesto deve ser considerado no contexto em que ocorre. Uma pessoa sentada num ponto
de ônibus com as pernas e os braços firmemente cruzados e o queixo abaixado num dia de
inverno provavelmente está com frio e não numa atitude defensiva. Ma se essa pessoa adota a
mesma postura quando você está tentando convencê-la de uma idéia, produto ou serviço,
possivelmente ela está discordando ou rejeitando sua proposta. ALLAN e PEASE (2005. p.28)

Considerar o contexto em que ocorre o gesto ou o grupo gestual é importante para que o
entrevistador evite leituras que poderão levar a investigação para rumos equivocados
provocando constrangimentos desnecessários e injustos.

Durante o levantamento de informações para a elaboração do plano de entrevista, deverão ser


consideradas informações sobre a saúde da pessoa e sua profissão, fatores que influenciam
na prática de determinados gestos que poderão ser interpretados equivocadamente pelo
investigador.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 73
EXEMPLO: O senhor que sofre de artrite nas mãos, dará um aperto de mão suave por causa
da dor. Isso não poderá ser interpretado como gesto de pessoa com caráter fraco.

Exemplos de Linguagem Corporal

No site “Linguagem Corporal” ( http://linguagemcorporal.com.br/ exemplos_lc.php),


encontramos os seguintes exemplos de linguagem corporal que devem ser interpretados dentro
do contexto da entrevista:

Possíveis Interpretações
Comportamento não verbal
Movimentação rápida, andar ereto Confiança
Parar com as mãos na cintura Incompreensão, agressividade
Sentar com pernas cruzadas e pequenos
Cansaço, aborrecimento
chutes no ar.
Sentar com as pernas abertas Abertura, relaxamento
Braços cruzados no peito Defensiva
Andar com as mãos nos bolsos, olhando
Falta de entusiasmo, desmotivado.
para baixo
Mãos nas maças do rosto Avaliação, pensamento.
Coçar o nariz, tocar o nariz ao falar. Dúvida, mentira.
Esfregar os olhos Descrença, Dúvida, mentira
Mãos fechadas atrás das costas Frustração, ódio.
Tornozelos fechados Apreensão
Apoiar a cabeça nas mãos, olhar para baixo
Aborrecimento
longamente
Esfregar as mãos Antecipação, ansiedade
Sentar com as mãos para trás da cabeça e
Confiança, Superioridade
de pernas cruzadas
Mãos abertas, palmas para cima. Sinceridade, inocência, abertura
Coçar a ponta do nariz, olhos fechados Avaliação negativa
Batucar com os dedos, olhar o relógio. Impaciência.
Estalar os dedos Autoridade
alisar o cabelo insegurança
Inclinar/ Virar a cabeça na direção... Interesse
coçar o queixo Pensando
Desviar o olhar Desconfiança

Roer unhas Ansiedade, insegurança

Puxar ou coçar a orelha Indecisão

Técnicas de entrevista cognitiva

Segundo PERGHER e STEIN (entrevista cognitiva), a origem da entrevista cognitiva foi nos
anos 80, do século XX, quando os psicólogos americanos Ronald P. Fisher e Edward
Geiselman buscavam aprimorar as técnicas aplicadas pelos policiais americanos para a coleta
de depoimentos de testemunhas, vítimas e suspeitos.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 74
“Será que testemunhas conseguem sempre restabelecer a verdade, mesmo se propondo a
isso?”

Em palestra aos magistrados gaúchos sobre o tema, a pHD em Psicologia Cognitiva, Lilian
Milnitsky Stein, citada por Arend (ibidem), formula a instigante questão:
A professora leva a refletir sobre a resposta, dizendo que:

As lembranças têm dois tipos de natureza: a verdadeira, que reproduz algo que realmente
aconteceu, e a falsa, que reproduz o que se acredita ter acontecido, decorrente de perda
ou distorções da memória. A falsa memória não é simulação ou mentira, pois são
tomadas como verdadeira pela pessoa em seu relato. AREND (ibidem)

Segundo ARCE e FARIÑA (peritacion psicológica), a entrevista cognitiva compreende quatro


técnicas gerais de recuperação de memória. São elas: Reconstrução do contexto, Livre
recordação, Troca de perspectiva e Recordação em ordem inversa. Veja a seguir, em que
consiste cada uma das técnicas:

1. Reconstrução do contexto:
Reconstruir mentalmente os contextos físicos e pessoais que existiram no momento do
crime, isto é, a restauração do contexto do fato. Peça ao entrevistado que se coloque
mentalmente na cena do evento, levando em conta os seguintes fatores:

- Elementos emocionais: Recorde como se sentia no momento do fato.

- Elementos secundários: Pense no que estava fazendo no momento do fato.

- Características dos elementos percebidos: Reveja a imagem da cena do crime, elaborando


um desenho do ambiente. Relembre o que estava vendo naquele momento.

Segundo os autores citados, a razão que está por trás dessa técnica, é o princípio da
codificação específica de Tulving, que diz que a informação contextual de um episódio se
codifica junto com o evento e se conecta associativamente.

2. Livre recordação

Pedir ao entrevistado que narre todo o acontecido. Absolutamente tudo, inclusive


informações parciais e detalhes que considere irrelevantes para a investigação. Esses,
associados entre si, podem levar a outros dados importantes que estejam na memória.
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 75
Essa estratégia é importante para os casos em que há necessidade de cruzamento de vários
depoimentos, em que os detalhes poderão apontar pistas importantes.

Com a busca de todos os detalhes retidos na memória do entrevistado, se tem o formato da


primeira versão do fato.

Essa técnica exige uma narrativa ininterrupta do entrevistado, sem que seja interrompida com
perguntas.

A entrevista terá que ocorrer em um ambiente tranqüilo, sem barulhos, e o entrevistador terá que
ganhar a confiança do entrevistado.

3. Troca de perspectiva

O entrevistador sugere ao entrevistado que assuma o lugar da vitima ou de outra


testemunha ou, até, o lugar do suspeito.

Nesse caso, peça que o entrevistado diga a sua percepção do fato no momento em que se
coloca na posição da outra pessoa.

Ainda de acordo com os mesmos autores, essa técnica está apoiada nos estudos de BOWER
(1967) que advertiu, entretanto, que as pessoas ao se imaginarem como personagens de uma
história, conseguem se lembrar mais de detalhes da perspectiva do personagem com quem mais
se identifica.

Essa técnica permite ao investigador ter uma segunda versão do caso, segundo outros pontos
de vista.

4. Recordação em ordem inversa

Convidar o entrevistado a relatar suas recordações do fato, na ordem inversa do


sucedido, que tanto poderá ser do fim ao começo, como do meio ao fim, ou em qualquer
ordem diferente da que ocorreu o evento.

O objetivo é buscar recuperar pequenos detalhes que possam ter se perdido na narrativa em
ordem cronológica do fato. Ela visa reduzir os efeitos que as informações prévias, as
expectativas e os esquemas podem produzir no processo de recordação dos fatos. Poderá,
também, servir para mostrar detalhes adicionais do fato.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 76
Formas mais comuns de contribuição para falsas memórias implantadas

Francisco das Chagas Soares Araujo

Ainda diz Heráldez (Creación de Falsos Recuerdos Durante la Obtencion de Pruebas


Testimoniales. Disponível em: www.stj-sin.gob.mx/publicaciones/aequitas35.pdf) que, de forma
involuntária, o entrevistador poderá contribuir para que testemunhas e vítimas prestem falsas
informações baseados em memórias falsas.

Para ele, as formas de contribuição mais evidente para as falsas memórias são:

- Formulação de entrevistas compostas por perguntas sugestivas.


- Deixar passar o tempo antes de recolher as provas testemunhais das vítimas e das
testemunhas presenciais.
- Sugerir, durante a entrevista, que os entrevistados façam uso de sua imaginação para
recuperar de sua memória, as informações que não têm claras, sobre os fatos.
- Executar a entrevista, adotando atitudes intimidatórias para os entrevistados.
- Fazer a entrevista em espaços e durante o tempo em que haja muita carga emocional.

Uma vez implantada, involuntariamente, a falsa memória na testemunha ou vítima, por quanto
tempo permanecerá fazendo parte das informações que, provavelmente, irá prestar em outras
instâncias sobre o delito em apuração?

Há pesquisas que provam a permanência dessas falsas memórias por longo tempo, repetindo-
se em outros depoimentos.

A falsa memória implantada, sem dúvida, é um grave problema para a coleta de provas.
Entretanto a ciência aponta a entrevista cognitiva como alternativa metodológica para evitar tal
fenômeno, com a obtenção de depoimentos confiáveis.

Os sistemas SRA e SVA

O sistema SRA (Statement Reality Analisis), segundo UNDEUTSCH (1967, 1988), citado por
ARCE e FARIÑA (peritacion psicológica), aborda o estudo da validade da declaração
através das seguintes categorias:

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 77
Critérios negativos ou de controle:
- Carência de consistência interna (contradições no próprio depoimento);
- Carência de consistência com as leis da natureza e científicas; e
- Carência de consistência externa (discrepância com outros fatos incontroversos).

Critérios derivados das seqüências de declarações:


- Carência de firmeza (instabilidade no tempo e contexto); e
- Declaração inconsistente com a anterior.
O Sistema SVA
No que diz respeito ao sistema SVA (Statement Validity Analisis), segundo STELLER (1989),
em referência de ARCE e FARIÑA (peritacion psicológica), desse decorrem as seguintes
categorias de validação:

Características psicológicas:
- Adequação da linguagem e conhecimentos;
- Adequação do estado emocional; e
- Suscetibilidade a sugestões.

Características da entrevista:
- Perguntas coercitivas, sugestivas e dirigidas; e
- Adequação global da entrevista.

Motivação:
- Motivos da informação;
- Contexto do informe ou declaração inicial; e
- Pressões para apresentar um informe falso.

Perguntas da investigação:
- Consistência com as leis da natureza;
- Consistência com outras declarações; e
- Consistência com outras provas.

Análise da confiabilidade das declarações


A busca da confiabilidade das declarações fornecidas ao investigador dá oportunidade para
que essas sejam validadas ou não como prova de um delito.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 78
Para ARCE e FARIÑA (peritacion psicológica), há três categorias de sistemas de análise de
conteúdo produtivos e efetivos na análise de confiabilidade das declarações. São eles:
- Reality Monitoring,
- SRA e
- CBCA.

O último sistema é específico para o depoimento de menores vítimas de abuso sexual, por
isso, o foco será nos dois primeiros, porque atendem a generalidade do curso. Veja nas
próximas páginas.

Sistema Reality Monitoring

Com o Sistema Reality Monitoring, segundo JOHNSON e RAYE, (1981), ainda em referência
de ARCE e FARIÑA (ibidem), é possível verificar que:

As declarações verdadeiras contêm mais atributos contextuais (espacial e temporal) e


sensoriais (ruídos, odores, etc.), enquanto;

As declarações fabricadas incluem mais informações idiossincrásicas, como: “eu penso”,


“recordo ver” e “me sentia nervoso”.

SPÖRER (1997) recomenda, com base nos mesmos autores, os seguintes critérios para
avaliação da confiabilidade do depoimento:

1. Claridade 3. Informações especiais 5. Emoções 7. Realismo


O depoimento Lugares, localização. Expressão de emoções e Plausibilidade, realismo e
deverá ser claro e sentimentos no dia do fato. sentido da história
não vago. contada.
2. Informações 4. Informação temporal 6. Reconstrução histórica 8. Operações cognitivas
sensoriais Localização do fato no Plausibilidade da Descrição de inferências
Odores, ruídos, tempo, descrição da reconstrução do fato depois feitas por outros durante o
gostos, detalhes seqüência do fato. da informação dada. fato.
visuais, etc.

Segundo o autor, os sete primeiros critérios vinculam o depoimento à verdade, enquanto


o oitavo vincula à falsidade.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 79
Sistema SRA
O sistema SRA (Statement Reality Analisis), segundo UNDEUTSCH (1967 e 1988), citado por
ARCE e FARIÑA (peritacion psicológica), também domina categorias para avaliação da
realidade da declaração. São elas:

Critérios gerais, fundamentais:

- Fixação do espaço/tempo – Definição do fato dentro de um contexto definido de espaço e


tempo.
- Informações concretas, claras.
- Riqueza de detalhes – Grande quantidade de detalhes do fato.
- Originalidade das informações, sem que sejam estereotipadas.
- Consistência interna – Coerência lógica e psicológica.
- Menção de detalhe específico de um tipo concreto de agressão sexual.

Manifestações especiais dos critérios anteriores:

- Referências a detalhes que excedam a capacidade de imaginação e compreensão do


entrevistado;
- Referência a experiências subjetivas, como sentimentos, emoções, pensamentos e medos;
- Menção a imprevistos e complicações inesperadas.
- Correções espontâneas, especificações e complementações durante a entrevista; e
- Autodesaprovação. Declaração que esteja contra seus interesses.

Sistema SRA

Embora todos os critério citados na página anterior sejam indicadores da validade e da


confiabilidade das informações prestadas pelo entrevistado, atente que esse processo não é
uma ciência exata, ele deverá ser considerado com os cuidados de quem sabe que naquele
depoimento há informações que poderão ser fundamentais para a investigação.

O entrevistador deve ter consciência que cada critério tem um peso limitado pela
determinação categórica de verdadeira x falsa a informação ou no grau em que
representa algo vivido pelo entrevistado.

Em última instância, segundo Alonso-Quecuty (1993), citado pelos autores do texto colocado
como referência, a confiabilidade de todo o procedimento de entrevista recai no entrevistador.
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 80
É por isso, que é preciso que essa intervenção se dê por um profissional com alta formação e
experiência, bem como com alta capacidade de objetividade.

Na avaliação de dados também deverá ser considerada a leitura comparativa dos sinais
orais e não-orais da entrevista.

Processo, técnicas e zonas de isolamento do local do crime

Processo, técnicas e zonas de isolamento do local do crime

Para executar o isolamento correto e completo do local, o policial deverá adotar algumas
medidas preliminares antes de efetivar o isolamento propriamente dito:

- Reconhecer os reais limites – A primeira coisa a fazer é um reconhecimento dos reais


limites do local. Esvaziar a maior área possível da presença de pessoas.

- Avaliação detalhada do espaço – Efetuar criteriosa observação do local levando em


consideração o cadáver, se for o caso, outros vestígios que precisam ser preservados, as
primeiras informações colhidas e os limites naturais da área onde ocorreu o delito, como um
quarto, uma casa, um parque de diversões, etc.

- Constatar se há indicação de outros locais – Verificar se há indicação da existência de


outras cenas do crime (local mediato ou relacionado), para adotar medidas de isolamento e
preservação.
É necessário delimitar toda a área onde haja qualquer vestígio do delito. Se possível identificar
as rotas de entrada e fuga do infrator na cena, pois sempre estarão repletas de informações
sobre ele. Inicialmente, tudo o que está na cena do crime é vestígio dele. Feito isso, o
investigador terá clara idéia da natureza do local (imediato, mediato ou relacionado), cuja
importância é ajudar na formulação das hipóteses iniciais

- Isolar fisicamente o local – O isolamento físico do local do delito é a garantia de


preservação dos vestígios. Deve ser efetivamente físico, com obstáculos que impeçam
qualquer acesso indevido.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 81
Técnicas de reconhecimento e isolamento da cena do crime

A delimitação do espaço físico a ser preservado é fundamental para que não fiquem
vestígios desprotegidos e passíveis de desaparecimento ou que passem desapercebidos pelos
investigadores periciais.

Entretanto, tal medida requer métodos específicos para evitar que durante o processo de
observação e isolamento, o próprio profissional da segurança pública venha a destruir ou
adulterar os vestígios. Para isso, há três técnicas recomendadas:

- Movimento de apoio ponto a ponto – Aplicando essa técnica, você demarca um ponto para
acesso e outro de saída do local, devendo esta ficar no lado oposto ao que você está.
Seguindo o rastro dos vestígios de evidência óbvia, vai caminhando com movimentos lentos e
em forma de serpentina, evoluindo para o sentido contrário ao de acesso, até chegar do outro
lado do ambiente em um ponto de saída.
Durante a movimentação, vá observando e registrando, cuidadosamente, onde está cada
vestígio para poder preservá-lo. Se o movimento feito não for suficiente para a cobertura de
toda a área, em razão do tamanho do espaço, você pode fazer o mesmo movimento cruzando
o que já foi feito. Veja o desenho.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 82
- Movimento de círculo em caracol – Esse movimento é iniciado pelo ponto crítico do local ou
do centro da área. Acesse com cuidado o ponto central do ambiente ou onde se encontra o
corpo da vítima, por exemplo, e a partir daí comece caminhar, lentamente, em forma de
caracol, observando e registrando cada vestígio até alcançar o ponto de saída da cena. Veja o
desenho.

- Busca por setor – Nessa técnica o local é subdivido em partes e cada parte é vasculhada
como unidade individual. A estratégia de acesso a cada setor do local é a mesma utilizada nas
técnicas anteriores. Enquanto se movimenta lentamente e com muito cuidado, você observa e
registra a presença dos vestígios. Veja o desenho.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 83
Como iniciar o processo de demarcação

Nas três técnicas você deve iniciar o processo de demarcação do espaço, criando uma
delimitação imaginária para que possa traçar e demarcar os pontos de acesso e saída da cena,
bem como o trajeto que irá fazer, principalmente, se for uma área aberta.

Essas técnicas permitirão ao profissional da segurança pública demarcar a zona de isolamento


da cena do crime ao identificar a área por onde estão as evidências do delito.
Ao delimitar a área da cena do crime deverão ser adotados todos os cuidados para que
os vestígios não sejam tocados e nem alteradas suas posições, pois poderão dificultar a
investigação técnico-científica.

Cada técnica deverá ser aplicada de acordo com as características do local. Além de
possibilitar que o profissional da segurança pública determine com precisão a área a ser
preservada, possibilita, também, que determine o tipo de apoio logístico necessário ao efetivo
isolamento e preservação.

Zonas de isolamento

O isolamento da cena do crime, para maior garantia de preservação dos vestígios, deverá ser
dividido em duas zonas de trabalho: a zona de investigação técnico-científica e a zona de
segurança.

Zona de investigação técnico-científica


Área onde efetivamente ocorreu o delito e se encontram os vestígios físicos que serão
colhidos e examinados pelo perito.

Nessa área devem permanecer apenas os investigadores periciais.

O acesso de outras pessoas se limita aos primeiros momentos para prestar socorro a possíveis
vítimas e para reconhecimento e avaliação do espaço físico que deverá ser isolado. Qualquer
movimento dentro desse espaço deverá obedecer às técnicas prescritas.

Zona de segurança
Área em torno da zona de investigação técnico-científica, onde permanecerão os
investigadores cartorários para coleta e troca de informações com os peritos.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 84
É uma zona de contenção entre a zona de investigação técnico-científica e o público.
Serve de proteção para as atividades periciais.

Nessa área deverá ser instalado o posto de comando (PC) das diligências desenvolvidas
no local de crime.

No PC fica o coordenador da investigação (o presidente da investigação). A estrutura do posto


dependerá da complexidade da investigação a ser desenvolvida no local. Via de regra, a
própria viatura poderá servir de PC. No PC se concentra o fluxo de decisões para a
execução de todas as diligências da investigação preliminar.
Na zona de segurança deverão ficar os investigadores cartorários, as testemunhas, vítimas
e suspeitos que serão entrevistados.

Métodos que podem ser adotados para a prisão do infrator

Abordagem e coleta de testemunhos no local de crime

No local de crime poderão ser encontradas e entrevistadas testemunhas, vítimas, bem


como suspeitos e informantes. É um campo fértil para coleta da prova subjetiva. Por isso,
o investigador cartorário não pode perder tempo esperando que o perito conclua suas
observações e faça seus relatórios (laudos) para configurar as primeiras hipóteses.

Poderá ser tarde demais quando receber o laudo e, só a partir dele começar a formular o
caminho para a investigação. Muitas vezes, a única oportunidade de colher a prova
testemunhal é na cena do crime.

Dependendo da natureza e das circunstâncias em que ocorreu o delito, a testemunha


poderá nunca mais ser encontrada. Os cartórios das delegacias de polícia estão abarrotados
de investigações paradas na impossibilidade de apuração pela falta dos devidos cuidados no
local de crime.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 85
A comoção do momento é muitas vezes fator preponderante no depoimento das pessoas que
viram ou ouviram falar do crime. É quando elas estão mais dispostas a colaborar. O
investigador deve tirar proveito desse momento. É provável que muitos comentários feitos
no calor do evento jamais sejam repetidos.

Processo de abordagem de pessoas no local de crime

A capacidade de observação e interação com os demais investigadores são as habilidades que


levarão o investigador cartorário a identificar as pessoas com potenciais testemunhos.

O processo de abordagem dessas pessoas se desenvolve passando por três momentos


importantes:

Observação criteriosa
O investigador deve manter-se permanentemente atento, observando todos os movimentos,
buscando detectar pessoas ou circunstâncias que possam fornecer qualquer informação útil
para a investigação. Deve ficar atento às reações emocionais das pessoas, pois poderão ser
indicativas de possíveis testemunhos.
Na cena do crime muitas coisas podem acontecer ou serem ditas por pessoas que mesmo não
tendo presenciado o fato, têm informações sobre ele. São amigos, parentes, vizinhos, inimigos
da vitima ou do autor.
Exemplo: No caso de homicídio, o vizinho poderá comentar sobre pessoas estranhas que
foram vistas nos últimos dias rondando a casa da vítima e fazendo perguntas sobre ela.
Provavelmente, quando se der conta do risco que possa está correndo por ter informações
sobre o provável autor, não venha mais a prestar qualquer informação.

Interação com os demais profissionais da segurança pública


A interação do investigador, com os demais profissionais da segurança pública presentes no
local, será oportuna para a coleta de dados importantes ao seu plano de ação, especialmente
com os peritos e com aqueles que chegaram primeiro na cena e receberam as primeiras
informações.

Identificação e preservação de testemunhas


Deve ser feita uma varredura nas áreas próximas para identificar possíveis testemunhas ou
pessoas que tenham alguma informação sobre o delito.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 86
No local do crime, o investigador deve adotar como princípio que todas as pessoas que
estão ali ou nas proximidades são potenciais testemunhas. Todas poderão saber alguma
coisa. Um dos depoimentos que o investigador não pode prescindir é da pessoa que
notificou o fato à polícia.

Processo de Identificação do autor

Na cena do crime, o investigador poderá se deparar com a situação em que o autor já é


conhecido ou em que não é conhecido, precisando, então, adotar metodologia de investigação
própria para cada caso.

Autoria conhecida

Sendo conhecido o autor, o investigador já deve começar a colher o maior número de dados
que garanta a confirmação de sua identidade e presença na cena, como: qualificação, modo de
vida, circunstâncias que o levaram à prática do delito, meios utilizados, oportunidade de
praticar, roupa que vestia no momento em que ocorreu o delito, seu grau de relacionamento
com a vítima, etc.

Essas informações poderão ser colhidas com o próprio autor, com testemunhas e vítimas,
informantes ou parentes, na própria cena do crime.

Suspeita de autoria

Havendo apenas suspeita, sem que haja um nome, o investigador, além das informações de
vítimas, testemunhas e informantes, deve valer-se de outras já colhidas, principalmente, com o
perito criminal, o legista, o papiloscopista que poderão ter feito observações capazes de
estabelecer tanto o “modus operandi” como uma relação direta com alguém.

Exemplo: Poderá ser encontrado um fragmento de vestes (botão, tecido), um tipo de lesão,
vestígios orgânicos ou um fragmento de impressão digital que relacione um suspeito à cena do
crime.

Com todas as informações registradas, sistematizadas e analisadas, o investigador pode


determinar relações e formular hipóteses que o leve ao paradeiro do suspeito.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 87
Autoria desconhecida

Nos casos em que não houver conhecimento nem suspeita da autoria, o investigador deverá,
inicialmente, adotar os seguintes métodos:

- Entrevistar as pessoas que saibam ou tenham razão de saber dos fatos


Dentro de cada contexto, o investigador determinará quem sejam as pessoas que saibam ou
tenham motivos ou condições para saber de alguma coisa (inimigos da vítima, vizinho, amigo,
amante, namorado, ex-empregado, ex-patrão, empregado, patrão, etc.).
- Fazer registros com croquis e fotos da cena de crime
Esses registros são importantes na formulação das primeiras hipóteses.
- Formular as primeiras hipóteses sobre o fato
Essas hipóteses são importantes para elaboração dos planos de investigação da autoria.
- Elaborar minucioso relato
O relato feito pelo investigador do local de crime servirá de ponto de partida para a
investigação de segmento.

Meios de coleta de provas

Fotos
As fotografias, desenhos e filmagens são de suma importância, pois remontam as
informações visuais do local, possibilitando que dúvidas sejam tiradas no futuro pelos
operadores do direito envolvidos no caso (Polícia Judiciária, Ministério Público, Poder
Judiciário, jurado e advocacia).

Regra básica da coleta de fotos na cena é que seja do geral para o particular. Cada detalhe
dos vestígios deverá ser registrado, bem como a relação do ambiente interno da zona de
investigação com suas adjacências.

O registro fotográfico ou filmagem da cena do crime permite o resguardo de toda a


configuração do ambiente, tal como foi deixado após a prática do delito.

Croqui
Outra ferramenta de registro da cena do delito é o croqui. Junto com as fotos e filmagens,
permite uma visão completa da dinâmica do fato ocorrido na cena do crime.
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 88
Nele é registrada a posição de cada vestígio encontrado na cena, as distâncias entre cada um
e a visão geral do perímetro da cena.

Impressões papiloscópicas
Numa cena de crime é possível encontrar vários vestígios indicativos da dinâmica do evento ali
ocorrido que poderão relacionar pessoas com aquele ambiente.

As impressões papiloscópicas são dos vestígios mais prováveis no ambiente de uma prática
delituosa.

A manipulação de objetos na cena do crime faz com que fiquem impressos em suas faces, os
desenhos das cristas dérmicas encontradas nas extremidades dos dedos, na palma das mãos
ou na sola e dedos dos pés.

Impressões papilares latentes


O investigador técnico-científico ao chegar à cena do crime deve redobrar sua atenção para
observar os objetos que são possíveis suportes desses vestígios, chamados de impressões
papilares latentes (IPL).

Normalmente, os objetos deslocados da posição inicial são potenciais depositários de


fragmentos papiloscópicos que poderão indicar a identidade de pessoas que ali estiveram.

A atenção do investigador deve estar voltada para janelas, áreas de entrada e saída no
ambiente, telefones, interruptores, armas, além de objetos deslocados. Outras circunstâncias,
de acordo com a hipótese levantada, deverão ser consideradas: gavetas remexidas e móveis
quebrados.

Esses vestígios poderão ser vistos a olho nu ou com o auxilio de lentes de aumento (lupas),
pois as IPLs tanto poderão ser visíveis quanto ocultas. As IPLs visíveis poderão, também, ser
depositadas pelas mãos ou pelos pés sujos com substâncias biológicas (sangue, fezes, urina e
alimentos) ou não-biológicas (graxa, tinta e cera). Enquanto as IPLs ocultas são formadas
apenas pelo suor.

Técnicas de coleta de impressões papilares latentes

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 89
Foram desenvolvidas várias técnicas para coleta das IPLs. Levando em consideração a
composição química do agente de coleta e da impressão. As mais comuns aplicadas pelas
polícias, segundo ensina CHEMELL (2006, p. 5), são:

- Técnica do pó
Utilizada quando a IPL está em suporte cuja superfície permite o decalque da impressão, ou
seja, superfícies lisas, não rugosas e não absorventes – permite a fixação de moléculas de
outra substância em sua superfície.
- Vapor de iodo
É aplicado, normalmente, quando o suporte em que se encontra a IPL é um objeto pequeno.
- Nitrato de prata
A técnica baseia-se na reação entre o nitrato de prata e os íons cloretos existentes na
impressão. Desse processo resulta a revelação da IPL na superfície, permitindo que seja
fotografada.
- Ninidrina
Baseada na reação da ninidrina com aminoácidos resultando em produto de cor púrpura,
permitindo a visualização da IPL, especialmente em papel.

Os poucos exames executados em uma cena de crime sempre são preliminares, como os de
constatação de substâncias tóxicas e entorpecentes, e a quimiluminescência para constatação
de sangue. Eles precisam de verificações analíticas em laboratórios para confirmação da
evidência como prova.

Muitos são os vestígios que poderão ser encontrados em uma cena e que precisarão ser
analisados para que possam ser considerados como informações, que irão descrever a
dinâmica do evento ocorrido naquele local. Além da impressão papiloscópica, outros
vestígios poderão ser encontrados na cena e servirão para identificar quem esteve
naquele ambiente, como fios de cabelos e gotas de sangue com o exame do DNA
presente na mostra.

Poderão, também, ser recolhidos resíduos na pele ou nas vestes de um suspeito ou da vítima,
que indicarão se fizeram uso ou não de arma de fogo ou a distância em que foi efetuado um
disparo.

Métodos de investigação de segmento

- Leitura cuidadosa das informações existentes


Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 90
O primeiro cuidado a ser adotado pelo investigador que irá dar continuidade à investigação é
ler, cuidadosamente, todas as informações registradas durante a investigação preliminar
(boletim de ocorrência, depoimentos, relatórios, laudos, etc.).

- Retornar à cena do crime


O retorno à cena do crime permite ao investigador que prossegue a investigação, ter uma
percepção concreta de tudo que foi relatado nos registros que leu. A visão do local trará maior
possibilidade para a formulação de novas hipóteses.

- Conversa com os profissionais envolvidos nos atos preliminares (investigadores


cartorários e técnico-científicos, bem como os outros profissionais que prestaram apoio,
principalmente, os que chegaram primeiro à cena do crime)
Essa entrevista dos colegas que atuaram na investigação preliminar serve para complementar
as informações colhidas nos registros lidos.

Muitas vezes há informações importantes que não são registradas, por esquecimento
momentâneo dos investigadores ou não são repassadas pelo profissional que prestou apoio,
mas poderão ser lembradas depois.

- Entrevista das testemunhas, vítimas e informantes


Entrevistar testemunhas, vítimas e informantes é um processo importante para a formulação de
novas hipóteses ou para verificação das que já foram feitas, ainda que sejam aquelas já
entrevistadas ou cujos depoimentos foram tomados formalmente.

- Determinar quem poderia obter vantagem ou teria motivos ou interesse para cometer o
crime
Formulada a hipótese de pessoas que tenham motivo para a prática do crime e formatado o
perfil do suspeito, o investigador deverá fazer um minucioso levantamento da vida pregressa
de cada uma delas, procurando fortalecer suas convicções.

- Verificar quem tenha tido oportunidade para cometer o crime


No momento do crime, quais as pessoas que estariam próximas da vítima? Quais as pessoas
que teriam o ensejo, mesmo eventual, de cometer o crime? Quais as pessoas que estiveram
com a vítima? Quais as pessoas que procuraram a vítima, antes da prática do crime?

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 91
- Determinar quem teria capacidade ou equipamentos necessários para a execução do
crime
Dos suspeitos quem estaria apto a praticar o crime? Quem teria o instrumento utilizado pelo
infrator? Quem teria habilidade para manusear o instrumento utilizado?

- Consultar o arquivo de “modus operandi”


Estabelecer uma analogia entre o modo de fazer de outros delitos da mesma natureza e o que
está sendo investigado.

- Relacionar e investigar as pessoas de quem suspeitam os amigos, parentes e inimigos


da vítima. Também de quem suspeitam as testemunhas e informantes.

- Manter permanente conexão com os investigadores peritos


Buscar dados colhidos por eles que possam auxiliar na elaboração do plano operacional.

- Buscar informações constantes em outros ambientes


Adotar técnicas de investigação que possibilitem a observação em bancos de dados auxiliares:
lojas de vendas de armas, lojas de compra de objetos usados, etc.

- Recorrer aos procedimentos das novas tecnologias


As novas tecnologias oferecem uma série de possibilidades ao processo da investigação
criminal.

- Entrevista de suspeitos
Surgindo um suspeito, seu interrogatório formal não poderá ocorrer antes que a investigação
tenha coletado dados de prova suficiente para assegurar a credibilidade do ato. Uma entrevista
sem dados de sustentação fortalece o entrevistado suspeito, por tomar como blefe do
investigador, qualquer pergunta que se faça. A não ser que a técnica da entrevista seja o blefe.

A respeito desse tema, o professor Guaracy Mingardi faz a seguinte anotação em sua
pesquisa:
Se um suspeito foi preso, e estiver na cena, a regra é retirá-lo imediatamente de lá. Isso tanto
para prevenir a contaminação da cena por ele, quanto para prevenir que a cena contamine
suas roupas. De acordo com conhecida teoria da transferência e troca de Edmond Locard,
sempre alguns vestígios do local ou da vítima ficam no homicida e vice-versa. Também é
fundamental guardar com segurança toda e qualquer evidência que se encontre no suspeito

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 92
(sangue, armas, fragmentos, etc.). Enquanto estiver próximo à cena, ele deve ser mantido
afastado de todos, exceto do pessoal diretamente ligado à investigação.

Os policiais que o conduzirão à delegacia devem ser instruídos para não conversar com ele. Se
ele disser alguma coisa, no entanto, eles deverão anotá-la. Também não devem conversar
sobre a investigação na frente dele. Chegando ao distrito não podem permitir que o suspeito
lave as mãos ou faça qualquer coisa que possa provocar a perda de evidências. (MINGARDI,
2006, p.54)

Tecnologia da Informação

Com a Tecnologia da Informação (TI), os bancos de dados são fontes de recursos


inimagináveis para o investigador diligente.

As próprias polícias mantêm bancos com informações, das quais o investigador não
pode prescindir. Exemplo disso são os bancos com registros dos boletins de
ocorrências onde sempre haverá algum dado que, com a devida análise, poderá abrir
caminho para hipóteses consistentes.

Acompanhando os ensinamentos do pesquisador MINGARDI, veja outro fato que registra em


sua pesquisa sobre a investigação de homicídios, a importância da técnica de consulta aos
bancos de dados.

Um indivíduo foi morto e o boletim de ocorrência registrou como homicídio de autoria


desconhecida. Ocorre que ele tinha registrado Vários BOs contra sua mulher e ela contra ele.
Ela por agressão e ele por ameaça. Num deles, inclusive, o morto dizia que sua mulher teria
contratado três indivíduos para matá-lo, dando o primeiro nome dos supostos matadores.

Durante os meses em que o inquérito ficou no Distrito, essa informação não constou dos autos,
ou seja, não foi consultado o banco de dados da própria polícia que mantém esses registros.
Em contrapartida, logo depois do caso ir para o DHPP, esses documentos foram anexados ao
inquérito. (MINGARDI, 2006, p.33)

Muitas vezes, as informações necessárias para formular as hipóteses estão diante dos seus
olhos, mas não consegue percebê-las.

Bancos de dados eletrônicos


Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2
SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 93
Com algumas variações de acordo com a região, estes são alguns dos bancos de dados
eletrônicos que o investigador poderá utilizar para colher informações:

- Arquivos de boletins de ocorrências;


- Arquivos de antecedentes criminais;
- Arquivos de controle de inquéritos policiais;
- Arquivos de mandados de prisão;
- Arquivos do Departamento de Trânsito;
- Disque-Denúncia;
- Cadastros comerciais (SPC, SERASA, etc.); e
- Infoseg, do MJ com várias informações: criminais, carcerárias, carteira de habilitação e porte
de arma.

O investigador consciente da importância de suas atribuições para a sociedade, não abre mão
desses meios, muitas vezes, difíceis de acesso, mas possíveis.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 2


SENASP/MJ - Última atualização em 19/02/2009
Página 94
Investigação Criminal 2

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 3


SENASP/MJ - Última atualização em 31/10/2008
Página 1
Módulo 3 – Análise de dados e gestão do conhecimento produzido pela
investigação

O conteúdo deste módulo está dividido em 2 aulas:

Aula 1 – Análise, interpretação e gestão dos dados da investigação


Aula 2 – Uso da tecnologia da informação (TI)

O módulo oferecerá condições para que você possa:

- Identificar as etapas do processo de análise dos dados da investigação; e


- Visualizar a aplicação da tecnologia da informação na análise do conhecimento produzido
pela investigação criminal.

Aula 1 – Análise, interpretação e gestão dos dados da investigação

Há todo um processo de transformação dos dados colhidos na investigação que dirá


como ocorreu o delito. Esse processo é a análise dos dados da investigação.

Feita a coleta dos dados, o investigador deve concentrar sua atenção na análise e
interpretação das informações formatadas.

O objetivo é dispor as informações de maneira sistematizada, para que possam ser


transformadas em resposta ao problema posto inicialmente. Para que isso ocorra é preciso
uma análise da credibilidade dessas informações como prova do delito em apuração.

Você viu na análise das informações colhidas em depoimentos de testemunhas, vítimas e


suspeitos, que a credibilidade passa pelos parâmetros de validade e confiabilidade.

A interpretação dará sentido mais amplo aos dados, possibilitando sua conexão com o
conhecimento existente (a história do fato).

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 3


SENASP/MJ - Última atualização em 31/10/2008
Página 2
Metodologia de análise

Nenhum dado da investigação poderá ser interpretado isoladamente. O conhecimento


apurado na investigação, para ser validado como prova, deve ser considerado no seu
contexto.

Esse contexto envolve todas as informações colhidas pela investigação, tanto a cartorária
como a técnico-científica – depoimentos, relatórios do agente investigador cartorário, laudos
periciais, reconhecimentos, relatórios de atividades financeiras, relatórios sobre atividades
fiscais, etc.

Para reforçar esse conhecimento e demonstrar alguma praticidade, veja alguns métodos
postos para análise de dados que poderão ser adequados à investigação criminal. Segundo
Davenport & Prusak, citados por Santiago Jr. (2004, p. 29), a transformação da informação em
conhecimento é possível a partir da:

- Comparação

Entendimento sobre como as informações relativas a um determinado assunto podem ter


alguma relação ou aplicação em outras situações.

- Conseqüência

Implicação que determinada informação pode trazer para a tomada de alguma decisão e/ou
ação.

- Conexão

Relação entre a informação adquirida e um conhecimento já existente.

- Conversação.

Interpretação daquela informação a partir do entendimento sobre o que as pessoas pensam


sobre ela.

René Magritte disse: “Tudo quanto vemos, esconde alguma coisa”.


A prática e a pesquisa científica têm confirmado essa assertiva. Na investigação de um delito, o
investigador deve ter a habilidade de sempre esgotar todas as possibilidades de manipulação e

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 3


SENASP/MJ - Última atualização em 31/10/2008
Página 3
observação dos dados colhidos, para poder inseri-los ou filtrá-los do contexto da prática
delituosa objeto da apuração.

Não há dúvida que a investigação criminal é um sistema complexo de coisas, fatos ou


circunstâncias que formam uma rede de dados, exigindo cuidados especiais na gestão e na
análise, para que dela sejam extraídas as informações que serão validadas como prova.

Gestão e análise dos dados da investigação remetem ao conceito de qualidade, pois o objetivo
desse processo é moldar a prova com as condições necessárias para explicação do fato
investigado.

O produto final da investigação é a prova da prática de um delito e de sua autoria. Esse


produto terá que ter qualidade para ser eficaz no que se propõe. A matéria-prima da prova é o
conhecimento produzido com as explicações sobre fato delituoso.

E o que é qualidade?

O conceito moderno de qualidade, de acordo com a ciência da Administração é de que se trata


da satisfação do cliente quanto à adequação do produto ao uso.

Não é apenas uma questão de perfeição técnica. Não basta que a prova esteja adequada
ao modelo descrito na lei. Ela terá que ser adequada às necessidades de explicação
jurídica de um determinado delito.

Uma mancha de sangue coletada em um local de crime, poderá estar tecnicamente adequada
à metodologia descrita na lei, mas não ser a prova ideal para aquele delito.

A qualidade dessa prova depende de cuidados durante sua produção, análise dos dados
e gestão do conhecimento deles decorrente.

Aula 2 – Uso da tecnologia da informação (TI)

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 3


SENASP/MJ - Última atualização em 31/10/2008
Página 4
Foi visto que o processo de coleta de provas para apuração de um delito, dependendo da
complexidade do evento, poderá produzir um grande número de informações.

A análise das informações envolve o processo cognitivo e esse envolve operações mentais da
inteligência humana.

Faz parte desse processo a visualização da informação, ou seja, a inteligência visual que é
parte essencial da inteligência humana, na sua capacidade de percepção ou cognição dos
símbolos, códigos e sinais, conforme ensinam Ferro Jr. e Dantas (ibidem).

A análise das informações geradas pela investigação nos leva ao laborioso e complexo estudo
de dados impondo elevado grau de dificuldade para a compreensão de sua credibilidade como
prova.

Veja o comentário de FEW em citação feita por Ferro e Dantas:

(...) “freqüentemente o melhor da nossa compreensão emerge quando olhamos para


“desenhos dos dados”. Isto, segundo FEW, ocorreria em função da visão ser o sentido
dominante nos seres humanos. No mesmo passo, o autor ensina que ao examinarmos dados
propriamente apresentados visualmente, algumas vezes experimentamos “rasgos de
reconhecimento” que somente ocorreriam, após horas de laborioso estudo para possibilitar a
mesma espécie de “descoberta”. Tal descoberta seria o ápice do processo cognitivo.” (FERRO
Jr. e DANTAS, ibidem).

Essa capacidade de melhor percepção e compreensão dos dados visualizados se torna


ineficaz diante de um cenário extremamente complexo.

A complexidade e a moderna atividade investigativa criminal

Para melhor compreensão da complexidade da investigação criminal, sugiro a leitura do texto,


que faz parte do trabalho de Ferro e Dantas, onde analisam a complexidade e a moderna
atividade investigativa policial.

Apesar do aparente caos formado pela complexidade das informações que deverão ser
analisadas, elas não estão soltas no contexto, e sim, interligadas, vinculadas, estabelecendo
uma conexão que precisa ser ressaltada à percepção do investigador.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 3


SENASP/MJ - Última atualização em 31/10/2008
Página 5
A tecnologia da informação (TI) entra como ferramenta importante na visualização dessa
rede de vínculos que irão possibilitar a percepção de todo o contexto do delito. Com ela
surge a chamada inteligência artificial (IA) formatada a partir de tecnologia surgida com a
moderna ciência da computação.

Texto do trabalho de Ferro e Dantas

“A palavra ´complexa´, em sua etimologia, deriva de ´plexus´, cujo significado original, em latim,
remonta a descrição anatômica de uma rede de nervos, vasos sangüíneos ou linfáticos
entrelaçados (vínculos). Vem daí que o termo refere-se à qualidade do que é complexo, ou,
derivadamente, entrelaçado. O que é complexo, portanto, abrange ou encerra muitos
elementos ou partes, observáveis sob diferentes aspectos, grupos ou conjuntos de coisas,
fatos ou circunstâncias, que tenham qualquer ligação (entrelaçamento ou vínculo) ou nexo
entre si. A expressão também conota aquilo que é confuso, complicado ou intrincado. A idéia
que fica de complexidade pode ser também de caos, desordem, obscuridade e dificuldade. Ao
reconhecer a existência de organizações onde o ambiente contém sistemas não-lineares, sem
equilíbrio estável e de dinâmica imprevisível, é necessário considerar um novo paradigma de
cognição dessa complexidade.

MORESI (2001) explica que a cognição da complexidade vem sendo utilizada para estudos no
mundo da física, alguns de escala planetária, envolvendo a emissão de gases poluentes à
camada de ozônio, as correntes marítimas e o aquecimento da Terra. No mundo biológico,
entretanto, a complexidade aparece em sua plenitude nos seres humanos, com seus múltiplos
sistemas e aparelhos interagindo para manter a homeostasia, termo que designa a tendência
inerente aos organismos vivos de manter sua estabilidade fisiológica e psicológica. Já nas
ciências sociais, a complexidade pode ser observada no fenômeno da comunicação, acelerado
com importantes avanços tecnológicos que permitem interações (conectividade) cada vez mais
rápidas entre pessoas, povos e nações.

Um sistema complexo é caracterizado pela imprevisibilidade do seu comportamento, fruto da


ação conjunta e aleatória de fatores internos e externos. Ele pode ser compreendido por
intermédio da construção de modelos ou simulações do seu comportamento, possibilitadas
pela observação do todo. Assim, o grau de complexidade de um determinado sistema pode ser
determinado pelo levantamento do número de inter-relações (vínculos) entre seus elementos
constitutivos, atributos e respectivos graus de organização.” (FERRO Jr. e DANTAS, ibidem)

Tecnologia da informação
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 3
SENASP/MJ - Última atualização em 31/10/2008
Página 6
A TI é uma ferramenta estratégica e facilitadora da análise e gestão do conhecimento na
investigação. Ela permite a transmissão e o acesso rápido a um enorme volume de
informações, tornando ágil seu processo de tratamento, manipulação e interpretação.

O uso da tecnologia permite ao investigador ter acesso a interpretações de dados e


informações sobre ligações telefônicas, registros, sinais, cadastros e conversas, de forma ágil e
sistemática.

Com aplicação da TI é possível descobrir e interpretar vínculos que, a olho nu, são
imperceptíveis ao investigador que se acha diante de um grande volume de dados.

Pela clareza do ensinamento, vale a leitura do texto de Ferro e Alves.

“FERRO e ALVES (2005) explicam que as investigações policiais contemporâneas envolvem a


análise de uma enorme quantidade de dados, em múltiplos formatos, originados de três fontes
básicas: (i) humanas, (ii) de conteúdo e (iii) de tecnologia ou tecnológicas. As fontes humanas
podem ser determinadas nos depoimentos, interrogatórios, denúncias e entrevistas com
colaboradores e informantes. As fontes de conteúdo podem ser exemplificadas com os
registros provenientes de sistemas bancários, ocorrências policiais, notícias da mídia, bem
como de documentos de toda ordem, incluindo os chamados “cadastros”. Já as fontes de
tecnologia, ou tecnológicas, têm sua expressão na telecomunicação, imagens e sinais
eventualmente interceptados, captados e devidamente analisados.

Em algum lugar, no âmago de um complexo de dados e informações provenientes de fontes


humanas, de conteúdo e de tecnologia, pode estar a “chave” de uma investigação, que,
entretanto, se mantém oculta, devido a um enorme volume e aparente dispersão de dados e/ou
informações individualmente consideradas. Assim, investigar o crime, em tempos de
globalização, implica lidar com relações numerosas, diversificadas e difíceis de analisar e
compreender. O sucesso desse trabalho, portanto, irá quase sempre depender da capacidade
de analisar e perceber, em sua complexidade, dados distintos sintetizados, reunidos em um
ambiente virtual. Tal ambiente deverá permitir a visualização de inter-relações complexas
(vínculos), coisa que a mente humana não conseguiria processar de outra forma.

Por tudo que vai citado anteriormente, a investigação policial precisa ser hoje multifacetada,
dado a complexidade de seus objetos, devendo poder realizar as seguintes ações: (i) verificar a
existência de elementos associados, (ii) identificar relações entre fatos conexos e (iii) construir
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 3
SENASP/MJ - Última atualização em 31/10/2008
Página 7
modelos de informação sintetizada, possibilitando a compreensão da investigação como um
todo e de suas partes constitutivas. Assim, situações complexas da investigação criminal
exigem um processo de transformação de grandes volumes de dados díspares em informações
sintéticas e conclusivas.” (FERRO e DANTAS, ibidem)

Métodos

Um dos métodos aplicados na investigação criminal para análise de dados é a análise de


Vínculos (AV).

A AV é uma técnica de busca de dados, com a possibilidade de estabelecer conexões


entre eles, desenvolvendo modelos baseados em padrões dessas relações, ou seja, por
meio de um programa de computador, o investigador visualiza e conhece todos os vínculos
estabelecidos entre os dados colhidos, desenhado graficamente essa rede de conexões que irá
formatar exatamente todas as condutas que deram causa à prática delituosa.

Segundo lecionam FERRO e DANTAS no seu referido artigo, a técnica da AV engloba a


captura, o armazenamento e a diagramação de informações pertinentes aos chamados
“alvos monitorados” (suspeitos, vitimas, ambientes, etc.). Permite a visualização gráfica de
relações entre pessoas, objetos, dados, etc., as quais, por um processo normal de análise,
passariam despercebidas do investigador.

São utilizadas como ferramentas da AV aplicativos de informática como o i-2 “The Analyst’s
Notebook”, da Tempo Real, e o Nexus, da Digitro.

Objetivo da análise global

Qual o sentido da análise global das informações coletadas pela investigação criminal?

É a consolidação de sua credibilidade como prova. Não basta supor, por exemplo, que um
grupo de pessoas investigadas pela prática de roubos e extorsões, formava uma quadrilha. É
preciso que a investigação demonstre que entre elas havia uma associação com vínculos
psicológicos, destinada à prática de delitos.
Da mesma forma, no caso de crime organizado, não basta, diante de uma série de
informações, como depoimentos, registros bancários, contas telefônicas, registros
patrimoniais, etc., afirmar que se trata de uma organização criminosa, sem que os

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 3


SENASP/MJ - Última atualização em 31/10/2008
Página 8
fatores que determinam as características de uma organização sejam devidamente
demonstrados na investigação.

Para Ferro e Dantas, nesse caso, terá que ser demonstrado que o grupo formava uma
associação estruturalmente organizada e vinculada, caracterizada por hierarquia, divisão
de tarefas e diversificação de áreas de atuação, com o objetivo de delinqüir visando à
obtenção de lucro financeiro e, eventualmente, vantagens político-econômicas e controle
social, adquirindo dimensão e capacidade para ameaçar interesses e as instituições nacionais
e estaduais, conforme conceito difundido pela Escola de Inteligência da Agência Brasileira de
Inteligência.

Benefícios das informações colhidas

A análise das informações é a sistematização do conhecimento construído na


investigação, consolidando os vínculos recíprocos entre atores do delito e desses com a
conduta delituosa.

A análise é o processo de testificação, validação e codificação das informações para


transformá-las em conhecimento chamado prova, que irá fundamentar o processo de
julgamento do infrator.

Esse conhecimento não deve se perder nas burocracias de um processo sem que reverta em
benefícios para a gestão de novos casos.

As informações colhidas durante a investigação, formam um ativo intangível que agrega


valores às demais atividades da polícia como prestadora de serviço público.

Nesses conhecimentos há um know-how técnico, criatividade e inovações que precisam ser


mantidos ao alcance da organização policial para o processo de reutilização no aprendizado de
seus agentes.

Aplicando-se à segurança pública os ensinamentos de SANTIAGO (2004, p. 24), pesquisas


comprovam que iniciativas voltadas para a gestão do conhecimento podem trazer
grandes benefícios para:

- Tomada de decisão do coordenador da investigação;


- Gestão dos atores envolvidos no processo de investigação;
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 3
SENASP/MJ - Última atualização em 31/10/2008
Página 9
- Resposta às demandas apresentadas pelo problema investigado;
- Desenvolvimento de habilidades dos profissionais da investigação criminal;
- A produtividade da investigação;
- Eficácia dos resultados;
- Compartilhamento das melhores práticas com outras polícias; e
- Redução de custos.

Estes são fatores que nem sempre são levados em consideração pelo sistema penal –
Polícias, Ministério Público e Poder Judiciário. Quase sempre as informações colhidas na
investigação não são revestidas em benefício de políticas públicas voltadas para o bem estar
da comunidade, no enfrentamento da violência.

Conclusão

Nesse módulo você teve oportunidade de conhecer e discutir a importância da análise dos
dados e conhecimentos colhidos durante o processo da investigação.
Conheceu também, métodos e técnicas que poderão ser aplicadas no processo de análise de
todas as informações que são colhidas pelo investigador enquanto apura provas de um delito e
sua autoria.

Viu também, que não basta um amontoado de dados, pois esses terão que ser transformados
em informações, que analisadas e interpretadas, se transformarão em conhecimentos que
serão validados ou não, como prova de um delito.

Importante é que, para serem consideradas provas, não basta a análise das informações
colhidas, é preciso estabelecer o vínculo de cada informação com o fato em apuração e de
cada uma com as demais, para se formar a rede que irá retratar o contexto detalhado de
informações sobre a natureza do delito, as circunstâncias em que ocorreu e quem o praticou.

No quarto módulo, você irá estudar a parte final do processo científico da investigação criminal
que é a elaboração do relatório.

Neste módulo são apresentados exercícios de fixação para auxiliar a compreensão do


conteúdo.

O objetivo destes exercícios é complementar as informações apresentadas nas páginas


anteriores.
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 3
SENASP/MJ - Última atualização em 31/10/2008
Página 10
1. Considerando o texto seguinte, assinale a alternativa correta.

Dentro do tema análise de dados, segundo DAVENPORT & PRUSAK, a transformação da


informação em conhecimento é possível a partir da:

( ) Comparação, conseqüência e conexão.


( ) Conexão, conseqüência, método e testificação.
( ) Comparação, conexão, conseqüência e conversação.
( ) Conexão, comparação, conversação e método.

2. Assinale as alternativas falsas:

( ) Conversação é o entendimento sobre como as informações relativas a um determinado


assunto podem ter alguma relação ou aplicação em outras situações.
( ) O objetivo da análise e interpretação das informações colhidas na investigação criminal é
dispor as informações de maneira sistematizada, para que possam ser transformadas em
resposta ao problema posto inicialmente.
( ) A análise de vinculo é uma técnica de busca de dados, com a possibilidade de estabelecer
conexões entre esses dados, desenvolvendo modelos baseados em padrões dessas relações.
( ) A análise é o processo de testificação, validação e codificação das informações para
transformá-las em dados.

3. A análise das informações é a sistematização do conhecimento construído na


investigação, consolidando os vínculos recíprocos entre atores do delito e desses com a
conduta delituosa.
Explique o que você entende por consolidar os vínculos na investigação criminal.

Gabarito

1. Comparação, conexão, conseqüência e conversação.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 3


SENASP/MJ - Última atualização em 31/10/2008
Página 11
2. Conversação é o entendimento sobre como as informações relativas a um determinado
assunto podem ter alguma relação ou aplicação em outras situações; e
A análise é o processo de testificação, validação e codificação das informações para
transformá-las em dados.
3. Na investigação de um grupo de pessoas que praticavam roubos e extorsões, para se provar
que formavam uma quadrilha, não basta supor. É preciso que a investigação demonstre que
entre elas havia uma associação com vínculos psicológicos, destinada à prática de delitos.

Este é o final do módulo 3

Análise de dados e gestão do conhecimento produzido pela investigação.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 3


SENASP/MJ - Última atualização em 31/10/2008
Página 12
Investigação Criminal 2

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 4


SENASP/MJ - Última atualização em 31/10/2008
Página 1
Módulo 4 – Elaboração do relatório

O conteúdo deste módulo está distribuído em 1 aula:

Aula 1 - O relatório da investigação criminal

O módulo oferecerá condições para que você possa:

- Visualizar a importância do relatório da investigação criminal; e


- Identificar os tipos de relatórios.

Aula 1 – O relatório da investigação criminal

A fase final da investigação, tal qual na pesquisa científica, é a elaboração do relatório.

O êxito da investigação criminal depende, também, do relato que o investigador faz com as
informações coletadas.

O relatório deve ser uma seqüência lógica dos fatos apresentados, numa linguagem
clara e direta. Ele deve indicar os elementos de destaque, ser completo, preciso,
objetivo, claro e conciso.

A primeira regra a ser considerada pelo autor do relatório é de que se trata de uma peça
para ser lida. Significa que sua apresentação e conteúdo devem ser elementos de
atração.

O relatório não é um fim em si mesmo, é um meio de comunicação para transmitir uma


mensagem que precisa ser lida e compreendida, sem perder tempo.

Finalidades do relatório

Para Dencker (2007, p. 315), o relatório tem duas finalidades:


Fornecer relato permanente, global e coerente de uma investigação, um estudo ou
pesquisa; e
Fornecer a informação necessária à tomada de decisões.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 4


SENASP/MJ - Última atualização em 31/10/2008
Página 2
A investigação criminal é a operacionalização do plano de investigação configurado no
inquérito policial que, ao final, será objeto de um relatório global de todo o processo, sendo
encaminhado ao juiz.

O relato do investigador é o registro das informações que irão ser submetidas à análise
e interpretação global.

Há, portanto, na investigação, dois relatos importantes a serem considerados:

- Relatório preliminar, e
- Relatório final.

Relatório preliminar (ou informação)

É o registro feito pelo investigador dos dados e informações que serão submetidas à
análise e interpretação do gestor da investigação.
Exemplo: Relato com o resultado de diligências determinadas pelo presidente do inquérito; o
laudo do investigador pericial.

O relatório preliminar tem importância fundamental na formatação da ordem lógica da


investigação. É ele que irá possibilitar o desenho da cadeia de evidências.

É como se fosse o elo que vai conectando de forma ordenada e lógica, cada informação
colhida.

Considerando o conceito global de investigação criminal (cartorária e técnico-científica), o


laudo pericial, didaticamente, está dentro do conceito de relatório preliminar.

Relatório final

É o relato final, global, com o resultado de todo o processo da investigação elaborado


pela autoridade policial que presidiu o inquérito, com o registro da análise e interpretação feita
dos dados e informações colhidas.

O relatório final registrará todo o processo da investigação, dando a ordem lógica, as


hipóteses levantadas e comprovadas (linhas de investigação), como se deu a

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 4


SENASP/MJ - Última atualização em 31/10/2008
Página 3
comprovação (verificação), toda a cadeia de evidências (a ordem lógica das provas), o
resultado (a comprovação da prática do delito e indicação da autoria) e a conclusão.

Conclusão

Neste módulo, você teve oportunidade de estudar o tema que trata a elaboração do relatório da
investigação.

Dois aspectos importantes foram abordados: um quanto ao aspecto formal literário da


peça e o outro quanto à sua função técnica na investigação criminal.

No que diz respeito à sua formalidade, você viu que para atender sua funcionalidade como
peça informativa, o investigador não pode deixar de considerar que se trata de uma peça
literária que precisa ser lida e compreendida pelo seu destinatário.

Quanto à sua função técnica, é o instrumento que irá possibilitar a leitura lógica da cadeia de
evidências das provas, permitindo uma visão permanente e global da investigação, além das
necessárias tomadas de decisões.

O módulo 5 trará uma reflexão sobre transversalidade dos valores éticos e de direitos humanos
no processo de investigação de crimes.

Neste módulo são apresentados exercícios de fixação para auxiliar a compreensão do


conteúdo.

O objetivo destes exercícios é complementar as informações apresentadas nas páginas


anteriores.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 4


SENASP/MJ - Última atualização em 31/10/2008
Página 4
1. Relembrando a aula “Processo científico da investigação criminal”, do módulo que
trata da lógica aplicada à investigação do curso “Investigação criminal 1”, leia o caso
discutido naquela unidade e elabore um relatório preliminar da investigação.

Orientação: Relatório preliminar (ou informação) é o registro feito pelo investigador dos dados
e informações que serão submetidas à análise e interpretação do gestor da investigação.

O relatório preliminar tem importância fundamental na formatação da ordem lógica da


investigação. É ele que irá possibilitar o desenho da cadeia de evidências. É como se fosse o
elo que vai conectando de forma ordenada e lógica, cada informação colhida.

Caso:

Francisco das Chagas Soares Araújo


Curso Investigação criminal 1 – Fundamentos

O cadáver de uma mulher jovem é encontrado no aterro sanitário que fica fora da área urbana.
Estava sem a cabeça e as duas mãos que haviam sido decepadas. Junto ao corpo, também
decepados, estavam os membros inferiores da vitima.
No primeiro momento a única informação é de que houve a morte de uma mulher, cuja cabeça
e membros foram decepados.
Na cena são observadas informações que levam à formulação das primeiras hipóteses.
Exemplo: Houve um homicídio. O crime não ocorreu no local onde foi encontrado o
cadáver.
As circunstâncias conhecidas sugerem essas possibilidades. Não há marcas de luta nem
manchas de sangue que sugiram ser aquele o local da prática do evento.
A hipótese preliminar aponta para a possibilidade de que o crime tenha ocorrido em outro lugar.
Essa hipótese está fundada no resultado da observação do local de encontro do cadáver que
resultou na localização de um tíquete de estacionamento pago, que levou a um prédio de
escritórios, daí a uma sala e às testemunhas que apontaram um suspeito.
Há constatação de que o suspeito foi visto, tarde da noite, colocando uma caixa pesada no
porta-malas de seu veículo, fato comprovado pelo vídeo das câmeras do circuito interno do
prédio. Com base nessa constatação é formulada a hipótese de que, provavelmente, o
conteúdo da caixa seria o cadáver da vítima.
A investigação pericial feita no veículo e no escritório do suspeito constata a presença de
sangue da vitima.
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 4
SENASP/MJ - Última atualização em 31/10/2008
Página 5
A hipótese é de que se a caixa não estava junto do cadáver, provavelmente fora abandonada
em algum lugar. Uma busca constata estar na lixeira do prédio onde reside o suspeito e dentro
dela uma faca suja de sangue. Na caixa há uma etiqueta com o endereço do escritório do
suspeito, manchas de sangue e fragmentos de impressões digitais.
Exames periciais indicam que o sangue é da vítima e as impressões digitais, do suspeito.
Observações detalhadas no cenário onde estava o cadáver indicam sinais de que os membros
decepados da vitima foram ocultados naquele mesmo local. Com as impressões digitais foi
possível fazer a identificação da vítima.
Também, sob as unhas do cadáver há fragmentos de tecidos de pele humana, constatando-se,
por exame de DNA, serem do rosto do autor.
Testemunhas informaram que a vítima freqüentava o escritório. Fotos e bilhetes, ali
encontrados, comprovam que ela era amante do autor que ameaçava terminar o romance e
resolveu matá-la diante da ameaça que ela fazia de revelar o caso para sua esposa.
No nosso caso, há comprovação de um homicídio praticado pelo suspeito, motivado pela
reação a uma chantagem.

2. Qual a importância do relatório preliminar na investigação?

3. Qual a importância do relatório final?

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 4


SENASP/MJ - Última atualização em 31/10/2008
Página 6
Gabarito

1. Resposta pessoal.
2. O relatório preliminar tem importância fundamental na formatação da ordem lógica da
investigação. É ele que irá possibilitar o desenho da cadeia de evidências. É como se fosse o
elo que vai conectando de forma ordenada e lógica, cada informação colhida.
3. O relatório final registrará todo o processo da investigação, dando a ordem lógica, as
hipóteses levantadas e comprovadas (linhas de investigação), como se deu a comprovação
(verificação), toda a cadeia de evidências (a ordem lógica das provas), o resultado (a
comprovação da prática do delito e indicação da autoria) e a conclusão.

Este é o final do módulo 4

Elaboração do relatório

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 4


SENASP/MJ - Última atualização em 31/10/2008
Página 7
Investigação Criminal 2

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 5


SENASP/MJ - Última atualização em 31/10/2008
Página 1
Módulo 5 – A transversalidade da ética e dos direitos humanos na investigação
criminal

O conteúdo deste módulo está dividido em 2 aulas:

Aula 1 – Aspectos conceituais


Aula 2 – Ética e direitos humanos práticos na investigação criminal

O módulo oferecerá condições para que você possa:

- Analisar criticamente os aspectos conceituais da relação transversal da ética e dos direitos


humanos com a investigação criminal; e
- Visualizar a relação prática da ética e dos direitos humanos no processo investigatório.

Aula 1 – Aspectos conceituais

O que é Transversalidade?

Assim como a interdisciplinaridade, a transversalidade é uma dimensão metodológica, isto


é, um modo de se trabalhar o conhecimento.

Segundo Cordeiro e Silva (2005), enquanto a interdisciplinaridade possibilita a correlação de


disciplinas e uma abordagem integrada sob um mesmo objeto de estudo, a transversalidade
tem uma natureza um pouco diferente das disciplinas convencionais, pois se refere aos temas
sociais que permeiam os conteúdos das diferentes disciplinas, exigindo uma abordagem
ampla e diversificada não se esgotando num único campo de conhecimento.

Os temas transversais expressam valores fundamentais às práticas profissionais. Dentre


eles estão a ética e os direitos humanos, cujos conceitos e valores estão embutidos na
Constituição Federal como suporte da democracia e da cidadania que têm na investigação
criminal uma das ferramentas de sua defesa, conforme visto inicialmente.

Ética e direitos humanos permitem que o profissional da segurança pública compreenda


o conceito de justiça baseada na igualdade. Permitem também, que perceba sua
responsabilidade na construção de uma sociedade justa, adotando atitudes de solidariedade e
cooperação.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 5


SENASP/MJ - Última atualização em 31/10/2008
Página 2
Segundo o professor Eduardo Chaves, citado em texto do Instituto Paulo Freire/Programa de
Educação Continuada, o tema transversal base é a ética. Ela é elemento constitutivo de todos
os temas.

A ética e o respeito aos direitos humanos são dimensões do conhecimento e das


relações interpessoais. Seus valores permeiam as práticas sociais, especialmente, no que diz
respeito ao exercício profissional, pois esse afeta a qualidade de vida das pessoas.

Foi visto que a investigação criminal está em uma dimensão política de garantias fundamentais
baseadas em valores de submissão à legalidade e respeito à dignidade das pessoas. Nessa
dimensão, o caráter da investigação criminal é de prestação de serviço público, portanto,
deverá ser adequado às demandas da sociedade.

Transversalidade

A transversalidade da ética e dos direitos humanos nas atividades de segurança pública


significa que esses temas, como dimensão de valores necessários à configuração da
tutela dos direitos de cidadania, pelo Estado, perpassam cada uma delas, tornando-se
um eixo comum.

A investigação criminal é uma dessas atividades, que gira, com as demais, em torno desse fio
condutor que reflete nas relações intrínsecas do investigador com o investigado, a testemunha
e a vítima.

A análise de CORDEIRO e SILVA (2005), sobre o tema, é de que o conhecimento tem a


dimensão prática nas respostas operacionais aos problemas sociais numa relação com a
realidade. Nessa relação está o saber agir na sociedade que se pauta no conhecer para agir e
no participar de forma efetiva do coletivo social.

É nessa dimensão que está contido o exercício das competências do profissional da segurança
pública na sociedade.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 5


SENASP/MJ - Última atualização em 31/10/2008
Página 3
Prestação de serviço e proteção

O conceito teórico e prático de ética e direitos humanos pode ser resumido no trinômio:
orientar, servir e proteger o cidadão.

Servir

Ética
e direitos
Orientar humanos Proteger o cidadão

Exemplificando essa presença simbiôntica desses valores na atividade policial, RICO (1983)
diz que a polícia e seus valores éticos, com as normas correspondentes, servem de
termômetro para medir o grau de respeito de uma comunidade aos direitos humanos.

É possível perceber que dentro dessa perspectiva de prestação de serviços e proteção da


polícia à sociedade, numa relação de causa e efeito, resulta no importante papel que ela tem
na qualidade de vida de uma comunidade.
O reflexo da investigação criminal na qualidade de vida do cidadão é a restituição da confiança
na possibilidade de proteção do Estado ao usufruto de direitos fundamentais à subsistência
comunitária.

Código de conduta para funcionários encarregados de fazer cumprir a lei

Na natureza da atividade policial está entranhado o potencial risco de abuso aos direitos
fundamentais do cidadão. Essa possibilidade é evidente na investigação criminal, cuja
metodologia legal é de reação e não de prevenção pura.

Preocupada com a garantia e proteção dos direitos e interesses dos cidadãos, a Organização
das Nações Unidas – ONU editou um código deontológico que formula paradigmas de
valores éticos e de respeito aos direitos humanos à conduta dos agentes de segurança
pública.

O Código de conduta para funcionários encarregados de fazer cumprir a lei é


conseqüência e complemento da aprovação de normas anteriores, como: a Carta das
Nações Unidas, a Declaração dos Direitos Humanos, os Pactos internacionais de direitos

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 5


SENASP/MJ - Última atualização em 31/10/2008
Página 4
humanos e a Declaração sobre a proteção de todas as pessoas contra a tortura e outros tratos
e penas cruéis, inumanas ou degradantes.

Proposta do código de conduta da ONU

O conteúdo da norma é no sentido de que os funcionários responsáveis pela aplicação da


lei defendam os direitos humanos no exercício de suas atividades. Proíbe a tortura e
corrupção, estabelece que a força só deve ser aplicada dentro da estrita necessidade e
exige proteção completa para a saúde das pessoas detidas.

As Nações Unidas, de forma sábia, levam o profissional da segurança pública a pensar suas
práticas com a percepção do efeito que tem na integralidade na vida do cidadão, quando
coloca como uma das razões para implantação da norma de conduta, a consciência “de que a
natureza das funções de aplicação da lei para a defesa da ordem pública e a forma como
essas funções são exercidas, têm uma incidência direta sobre a qualidade de vida dos
indivíduos e da sociedade no seu conjunto”.

Sem dúvida, o respeito a esses valores transcende a ficção das normas escritas e se instala
nas práticas diárias de cada agente. Essas práticas, tal como preconiza o código, têm uma
relação de causa e efeito com a qualidade de vida das pessoas e, consequentemente, com o
bem-estar da comunidade. O resultado disso é o estado de felicidade, segundo leitura do Dalai
Lama. Para o religioso, essa felicidade é um processo cuja principal fonte é a tranqüilidade e a
paz.

A filosofia desse pensador moderno nos leva a reflexão de que a compaixão é a fonte desses
valores de respeito às pessoas, possibilitando uma visão sistêmica, de interdependência, cujo
resultado é a capacidade de ampliação da realidade, de que a vida de cada um depende do
ambiente que o circunda.

A esse respeito diz o Dalai Lama (2001):

Essa perspectiva ou visão mais ampla, automaticamente, vai resultar em um senso de


comprometimento e preocupação com os outros, e isso não por razões religiosas ou
sagradas, mas porque o futuro de cada um depende desses fatores. Essa visão não só é
realista, mas também é a base da ética moral secular. (DALAI LAMA, 2001, p. 103)

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 5


SENASP/MJ - Última atualização em 31/10/2008
Página 5
É esse comprometimento que a ONU coloca como fundamento das atividades do
profissional da segurança pública. A investigação criminal está nesse contexto, pois é
uma das ferramentas de execução dos atos de aplicação da lei.

Aula 2 – Ética e direitos humanos práticos na investigação criminal

Os valores de respeito à dignidade da pessoa humana, garantidores de uma vida feliz, terão
que se refletir nas atitudes e ações do investigador, consolidando uma dimensão prática e
efetiva da conduta ética e de respeito aos direitos humanos.

Diretos humanos e ética são duas dimensões que se complementam numa relação
simbiôntica. Uma é o reflexo da outra.

Segundo KINDDER, a ética não é um luxo e tampouco uma opção. Ela é essencial para a
nossa sobrevivência.

Sobrevivência remete a ação. Agir positivamente diante de um problema. Agir é tomar as


decisões certas diante das demandas, usando as habilidades adequadas para dar uma
resposta apropriada.

Postura ética

Para que o investigador possa cumprir a missão de gerador do bem-estar do grupo, ele
terá que adotar uma postura de ação inspiradora de confiança no cidadão. A ação ética
não pode depender de estímulos externos para se manifestar – uma norma ou uma censura
social. Ela terá que ser um estado de consciência que permeie todo o processo de interação
com o ambiente e as pessoas.

A ética no exercício da investigação tem relação direta com as competências profissionais do


investigador, se consolidando no processo de construção das respostas sobre o que ele
precisa saber, o que irá fazer e que atitude deverá ter diante das situações-problema.

Como tornar isso prático na investigação?

A primeira reflexão a ser feita é de que a conduta ética decorre de princípios para convivência
social.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 5


SENASP/MJ - Última atualização em 31/10/2008
Página 6
Exemplo: Ainda que haja fundadas suspeitas de que uma senhora está transportando drogas
dentro de suas roupas íntimas, mesmo que a demora na busca pessoal permita a “dispensa”
da substância, é conveniente à equipe masculina que a está seguindo, numa campana,
aguardar a chegada da policial para a revista.

Força de movimentação do investigador

A força maior que deve mover o investigador ao respeito à dignidade do ser humano
envolvido na investigação, seja como autor, vítima ou testemunha, não é a coerção da lei,
mas valores básicos da honestidade, da responsabilidade, do respeito, da justiça, da
compaixão e da imparcialidade.

Esses valores se refletem no cuidado com o sigilo das informações, no respeito mútuo entre os
atores que desempenham a investigação, no cuidado para não emitir juízos de valores que
possam comprometer a validade das informações colhidas, como aqueles baseados em
preconceitos.

Não há relativismo ético. Os valores éticos terão que ser uma constante na vida funcional e
particular do agente de segurança. A compreensão de honestidade, responsabilidade e
respeito pelo próximo deverá ser padrão de atitude nos dois campos da vida social.

Conclusão

Foi visto neste módulo, temas que tratam da transversalidade da ética e dos valores
humanos na investigação criminal.

Você teve oportunidade de refletir sobre valores que devem perpassar por todo o
processo de apuração de provas. São valores de respeito à dignidade das pessoas
envolvidas no processo e respeito às normas legais e morais de uma comunidade.

Os atos da apuração de provas pela polícia estão no contexto dos serviços de segurança
pública, tidos como tutelares de direitos e garantias, limitados a valores de respeito e
compaixão pelas pessoas envolvidas.

No último módulo serão apresentados alguns casos em que você terá oportunidade de aplicar
os conhecimentos adquiridos no curso para a resolução dos problemas.
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 5
SENASP/MJ - Última atualização em 31/10/2008
Página 7
Neste módulo são apresentados exercícios de fixação para auxiliar a compreensão do
conteúdo.

O objetivo destes exercícios é complementar as informações apresentadas nas páginas


anteriores.

1. Leia o texto abaixo e comente como é possível torná-lo prático nas atividades de
investigação criminal.

“O conceito teórico e prático de ética e direitos humanos pode ser resumido no trinômio:
orientar, servir e proteger o cidadão”.

2. Leia o texto do Código de Conduta dos Profissionais da Segurança Pública, editado


pela ONU, e comente momentos da investigação criminal passiveis de ocorrer essa
necessidade prevista no código. Aponte as medidas que adotaria para dar cumprimento
à norma.

Artigo 6° - Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem assegurar a proteção da


saúde das pessoas à sua guarda e, em especial, devem tomar as medidas imediatas para
assegurar os cuidados médicos sempre que necessário. (CÓDIGO DE CONDUTA DA ONU
PARA OS FUNCIONÁRIOS RESPONSÁVEIS PELA APLICAÇÃO DA LEI)

Gabarito

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 5


SENASP/MJ - Última atualização em 31/10/2008
Página 8
1. A ética e o respeito aos direitos humanos são dimensões do conhecimento, das relações
interpessoais. Seus valores permeiam as práticas sociais, especialmente, no que diz respeito
ao exercício profissional, pois esse afeta a qualidade de vida das pessoas.
A investigação criminal está em uma dimensão política de garantias fundamentais baseadas
em valores de submissão à legalidade e respeito à dignidade das pessoas. Nessa dimensão, o
caráter da investigação criminal é de prestação de serviço público e deverá ser adequado às
demandas da sociedade.
2. a) "Cuidados médicos" significando serviços prestados por qualquer pessoal médico,
incluindo médicos possuidores de certificados e para-médicos, devem ser assegurados quando
necessários ou solicitados.
b) Embora, provavelmente o pessoal médico esteja ligado à aplicação da lei, os funcionários
responsáveis por ela devem tomar em consideração a opinião de tal pessoal, quando esse
recomendar que deva proporcionar à pessoa detida, tratamento adequado, através ou em
colaboração com pessoal médico não ligado à aplicação da lei.
c) Subentende-se que os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem assegurar
cuidados médicos às vítimas de violação da lei ou de acidentes que decorram no decurso de
violações da lei. (CÓDIGO DE CONDUTA DA ONU PARA OS FUNCIONÁRIOS
RESPONSÁVEIS PELA APLICAÇÃO DA LEI)

Este é o final do módulo 5

A transversalidade da ética e dos direitos humanos na investigação criminal

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 5


SENASP/MJ - Última atualização em 31/10/2008
Página 9
Investigação Criminal 2

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 6


SENASP/MJ - Última atualização em 09/07/2009
Página 1
Módulo 6 – Estudo de casos

O conteúdo deste módulo está distribuído em uma aula:

Aula 1 – O uso do caso no ensino da investigação criminal

O módulo oferecerá condições para que você possa:

- Aplicar, em situações práticas, os conhecimentos adquiridos no curso; e


- Visualizar a dimensão emocional do investigador na busca ordenada e legal da prova de um
crime e de sua autoria.

Aula 1 – O uso do caso no ensino da investigação criminal

A técnica do estudo do caso é um método de ensino-aprendizagem utilizado, inicialmente, pela


Escola de Direito da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, com inspiração no sistema
de precedentes jurisprudenciais do direito americano, posteriormente adotado pela Escola de
Administração daquela universidade.

Tal qual a proposta no ensino da Administração, na investigação criminal, o uso do caso é uma
tentativa de aproximar a Academia de Polícia da realidade que o investigador irá encontrar.
Aproximar a teoria da prática.

Você viu que a investigação criminal é, fundamentalmente, o estudo e a análise de


problemas que precisam ser explicados no contexto jurídico de uma sociedade.

Segundo Cordeiro e Silva (2005), “os estudos de casos requerem que os participantes
exercitem suas habilidades profissionais, quando respondem a eles e apliquem os
conhecimentos aprendidos”.

Leio os casos nas próximas páginas e responda as perguntas.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 6


SENASP/MJ - Última atualização em 09/07/2009
Página 2
Primeiro caso

O estudo de caso permite, de forma dinâmica, a participação ativa do aluno no processo de


aprendizagem, aproximando o conteúdo que lhe fora passado, da realidade cotidiana de sua
profissão. Você terá, nas próximas unidades, a oportunidade de confrontar-se com problemas
reais, que irão permitir o desenvolvimento de sua capacidade analítica e a tomada de decisão
num cenário de riscos e incertezas. Veja o primeiro caso.

A segunda-feira foi tranqüila no distrito policial. Entretanto, às 21h, o delegado de plantão


recebeu uma desesperada mãe comunicando que sua filha de 15 anos de idade havia
desaparecido.

Indagada, esclareceu que a filha havia saído às 15h para fazer um trabalho escolar na casa de
uma colega de escola. Às 17h30 havia telefonado avisando que estava saindo para o ponto de
ônibus onde pegaria o transporte para casa.

Esclareceu também que a adolescente era boa filha, obediente e não tinha namorado.
Informou ainda, que, refazendo o caminho da filha até o ponto de ônibus, ouviu de um
vendedor ambulante a informação de que uma jovem com as características de sua filha, fora
vista entrando em um Honda Civic onde já estavam duas pessoas”.

O delegado registrou o boletim de ocorrência e, com base em estatísticas que demonstram que
80% dos adolescentes desaparecidos retornam para casa nas vinte e quatro horas seguintes,
encaminhou o caso para a seção de investigação cartorária fazer a investigação de segmento
no dia seguinte.

Você está diante de um problema com repercussão no mundo jurídico?

A polícia deu a solução para o problema.

→ Você acha que a solução foi adequada ou há outras alternativas que poderiam ser
consideradas? Quais?

Anote sua resposta.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 6


SENASP/MJ - Última atualização em 09/07/2009
Página 3
Resposta
A primeira indagação a ser feita é sobre a natureza do problema que está sendo noticiado. Há
indícios de que houve um crime? O desaparecimento da adolescente, nas circunstâncias em
que ocorreu, denota a probabilidade que ela tenha sido vítima de algum delito?
Nestas circunstâncias a forma mais possível de confirmação dessa primeira hipótese é
desenvolvendo alguma diligência que aponte para alguma resposta.
É pouco provável que apenas a análise de dados estatísticos possam ser suficientes para dar
resposta a essa indagação inicial.
É provável que, tendo havido algum delito, o desencadeamento da investigação preliminar leve
a polícia à provas que estarão mais fora de seu alcance se for esperar pela investigação de
seguimento vinte e quatro horas depois. Provavelmente, a busca de algumas informações
preliminares, pela equipe de plantão, aponte respostas elucidativas.

Segundo caso

Às 2h da manhã, o telefone toca no plantão do distrito policial. Do outro lado da linha, um


homem, em desespero, diz ter encontrado sua esposa morta na área de serviço de seu
apartamento.

A equipe de plantão se desloca para o local onde encontra o seguinte cenário: o cadáver de
uma mulher em princípio de enrijecimento, em posição de decúbito ventral na área de serviço,
apresentando uma lesão na parte posterior do crânio.

Não havia qualquer sinal de luta nos compartimentos do apartamento que ficava no segundo
andar do bloco residencial. Entretanto, o aparelho de DVD havia desaparecido e, segundo o
esposo da vítima, a porta da cozinha estava destrancada no momento em que ele encontrara o
corpo da esposa.

A versão contada pelo esposo da vítima é de que os dois estavam vendo um filme quando, por
volta das 23h, cansado, fora dormir deixando sua esposa na sala. Como estava muito cansado
pelo trabalho diurno, entrou em sono profundo não tendo ouvido qualquer barulho.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 6


SENASP/MJ - Última atualização em 09/07/2009
Página 4
Ao acordar, pouco antes de ligar para a delegacia, percebeu que sua esposa não estava
deitada. Como ouvira o barulho da TV na sala, levantou-se para chamá-la.

Ao levantar-se, encontrou o cenário já descrito.

→ Você está diante de um problema? Formule as hipóteses preliminares.


Aponte as soluções de investigação viáveis para o caso com o cenário descrito.

Anote sua resposta.

Resposta:
Analise a versão apresentada pelo esposo da vítima, comparando-a com as informações
encontradas no cenário e formule a hipótese preliminar do caso.

Vejas os dados encontrados no cenário: o corpo da vítima, deitado em decúbito ventral, na


área de serviço, com uma lesão na parte posterior do crânio, a porta da cozinha aberta e a
subtração de um DVD.

A lesão no crânio é indicativa de que a vítima fora agredida por trás.

Terceiro caso

Numa manhã de domingo, quando de tudo já havia acontecido na noite anterior, compareceu à
delegacia de polícia o assessor de um alto funcionário do Governo Federal, senhor Romeu,
comunicando que sua esposa, senhora Julieta, havia desaparecido quando voltava de uma
festa de final de ano com colegas de trabalho, na madrugada daquele dia.

Contou que, depois de vários contatos, ficou sabendo que sua esposa havia deixado o local da
festa por volta de 1h da manhã, sozinha em seu veículo.
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 6
SENASP/MJ - Última atualização em 09/07/2009
Página 5
Desesperado, segundo ele, por volta das seis horas, se deslocou até a casa de eventos onde
ocorrera a festa, que fica há 15 quilômetros de sua residência, quando, além de colher
informações com funcionários, fez o trajeto que ela faria de lá até sua casa, na tentativa de
encontrar indícios do seu paradeiro.

Chegando em casa, recebeu um telefonema de alguém que dizia ter seqüestrado sua esposa e
pedia um resgate de cem mil reais.

Acionado o grupo especializado em investigação de extorsão mediante seqüestro, os dados


iniciais indicavam que Romeu vinha sendo investigado por atos de corrupção, com os quais
Julieta não concordava e os levava a constantes desavenças.

Havia registros em boletins de ocorrências dando conta de que, por duas vezes, Romeu
agredira fisicamente Julieta tendo, inclusive, a ameaçado de morte.

Na busca da formulação de hipóteses preliminares, os investigadores também colheram a


informação de que Romeu vinha sendo ameaçado por membros da quadrilha de corrupção, por
não ter distribuído parte do dinheiro de subornos que havia recebido.

Julieta já havia noticiado que, por duas vezes, fora seguida por pessoas estranhas quando ia
do cabeleireiro para casa. Nas escutas telefônicas autorizadas para apuração dos atos de
corrupção, havia registro de uma conversa onde Romeu perguntava a alguém do grupo se ele
estaria mandando seguir sua esposa e o ameaçava caso ocorresse alguma coisa com ela.
Entretanto, na mesma escuta havia registro de conversa entre Romeu e Julieta, quando se
agrediam verbalmente e ela ameaçava contar para a polícia tudo o que sabia. Romeu fechava
a conversa dizendo que ela não sabia com quem estava se metendo.

O desaparecimento de Julieta ocorreu dois dias antes de seu depoimento à polícia.

Já no quarto dia, após o desaparecimento de Julieta, nenhum outro contato fora feito pelos
possíveis seqüestradores.

→ Eis uma situação. Quais são os problemas?


→ Você tem as soluções?

Anote sua resposta.


Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 6
SENASP/MJ - Última atualização em 09/07/2009
Página 6
Resposta:
As informações colhidas, preliminarmente, possibilitam a hipótese de que Julieta seja vítima de
uma ação criminosa.
Vejas os dados: seu marido faz parte de uma quadrilha, de cujas atividades ela sabia e
ameaçava contar para a polícia. Os dois discutiram e terminaram em tons de ameaças mútuas.
A formulação das hipóteses deve seguir a trilha de informações colocadas no caso.

Conclusão

Você chegou ao final do curso Investigação Criminal 2.

Neste curso, você teve oportunidade de conhecer e discutir cada etapa da investigação da
prova de um crime e de sua autoria. Foi possível, também, comprovar que a investigação
criminal é realmente um processo científico onde é colocado ao investigador um problema,
sobre o qual ele é obrigado a formular hipóteses que irão conduzir à sua natureza,
circunstâncias em que ocorreu e quem o praticou.

Você teve, acima de tudo, a possibilidade de visualizar o processo sistêmico da investigação


criminal, que muito embora seja missão específica de alguns profissionais da segurança
pública, não abstrai a participação de cada uma das organizações que formam esse grande
sistema chamado de justiça criminal em que está incluída a segurança pública.

Cada um dos profissionais da segurança pública tem um papel importante no processo


da busca da prova. A polícia judiciária, ainda que detentora institucional da missão de coleta
das provas de um crime, depende da participação coesa de cada um dos profissionais do
sistema de segurança pública, que envolve a Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros Militar, a
Guarda Municipal, os agentes do sistema penitenciário e os agentes do serviço de trânsito,
além das Polícias do Executivo Federal e dos Poderes Legislativos. Essa importância é
ressaltada com toda ênfase na cena do crime que, invariavelmente, requer a presença de todo
o sistema.
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 6
SENASP/MJ - Última atualização em 09/07/2009
Página 7
De grande importância também, é a percepção da transversalidade dos valores éticos e de
direitos humanos em todo o processo da investigação.

Sem compreender que a busca da prova, além de forjada nas normas legais, também é
sustentada nos valores de respeito à dignidade das pessoas e às regras morais de convivência
e sobrevivência social, não haverá investigação criminal eficiente e eficaz a um processo penal
para um julgamento justo e reparador.

Reflita. Reveja os temas com uma visão crítica, buscando a possibilidade de aplicá-los
nas atividades profissionais que executa.

Agora é com você!

Na apuração da prova penal adote uma postura de cientista e colabore com a construção
de um Estado verdadeiramente democrático e de direito.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 6


SENASP/MJ - Última atualização em 09/07/2009
Página 8
Referências Bibliográficas

ALONSO QUECUTY, Mª Luisa. Delitos sin testigos. Disponível em


<http://www2.ull.es/gabprensa/rull/Rull20/10investigacion.htm> Acesso em 25/10/2007.

ARCE, Ramón e FIRIÑA, Francisca Fariña. Peritación psicológica de la credibilidad del


testimonio, la huella psíquica y la simulación: el Sistema De Evaluación Global (Seg).
Disponível em <http://www.papelesdelpsicologo.es/pdf/1247.pdf> Acesso em 14/11/2007.

BALESTRERI, Ricardo Brisola. Direitos Humanos, coisa de polícia. 2ª ed. Passo Fundo:
Capec, 2002.

BRASIL, Constituição, 1988.

BRASIL, Decreto-lei n° 3.689, de 3 de outubro de 1941.

BRASIL, Lei nº 9.034, de 3 de maio de 1995.

BRASIL, Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006.

BRASIL, Lei n° 9.296, de 24 de julho de 1996.

BROWN, Marvin T. Ética nos negócios: como criar e desenvolver uma consciência ética
dentro das empresas, visando tomadas de decisões morais e socialmente respeitáveis.
Tradução de Flávio Denny Steffen. São Paulo: Makron Books, 1993.

CÂMARA DOS DEPUTADOS. Comissão de Direitos Humanos. A polícia e os Direitos


Humanos. Brasília: Centro de Documentação e Unificação, Coordenação de Publicações da
Câmara dos Deputados, 2000.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 6


SENASP/MJ - Última atualização em 09/07/2009
Página 9
CAMPOS, Laura e ALONSO-QUECUTY, María L. Recuerdo de conversaciones delictivas y
entrevista cognitiva: analizando su eficacia en delitos del lenguaje.

CARPINETTI, Luiz César Ribeiro, MIGUEL, Paulo Augusto Cauchick e GEROLAMO, Mateus
Cecílio. Gestão da qualidade total ISO 9001:2000: princípios e requisitos. São Paulo: Atlas,
2007.

CERQUEIRA, Sonia. Técnicas de entrevista no inquérito administrativo: um verdadeiro


manual de procedimentos. Rio de Janeiro: Temas e Idéias, 2000.

CHALITA, Gabriel. Os dez mandamentos da ética. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003.

COBRA, Coriolano Nogueira. Manual de investigação policial. 3ª ed. São Paulo: Escola de
Polícia de São Paulo.

CONRAD, Frederico, BLAIR, Johnny e TRACY, Elena. Verbal reports are data: A theoretical
approach to cognitive interviews. <www.fcsm.gov/99papers/conrad1.pdf>

COPI, Irving M. Introdução à lógica. Tradução de Álvaro Cabral. São Paulo: Editora Mestre
Jou, 1978.

CORDEIRO, Bernadete Moreira Pessanha e SILVA, Suamy Santana da. Direitos humanos:
uma perspectiva interdisciplinar e transversal. 2ª ed. Brasília: CICV, 2005.

DENCKER, Ada de Freitas Maneti. Pesquisa em turismo: planejamento, métodos e técnicas.


9ª ed. São Paulo: Futura, 2007.

DOREA, Luiz Eduardo. Local de crime. 2ª ed. Porto Alegre: Sagra-Luzzato, 1995.

E. BONILLA, Carlos. La perícia em la investigación: informe técnico. Buenos Aires: Editorial


Universidad, 1996.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da Língua Portuguesa. 1ª ed. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1975. (1479 p.).

FERRO JÚNIOR, Celso Moreira e DANTAS, George Felipe de Lima. A descoberta e a análise
de vínculos na complexidade da investigação criminal moderna. Disponível em
Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 6
SENASP/MJ - Última atualização em 09/07/2009
Página 10
<http://www.mj.gov.br/main.asp?Team=%7B21F842C5%2DA1C3%2D4460%2D8A48%2D83F4
41C4808C%7D> Acesso em 18/09/2007.

JESUS, Fernando de. Perícia e investigação de fraude. Goiânia: AB Editora, 2000.

LADRIERE, Jean. Ética e pensamento científico: abordagem filosófica de problemática


bioética. Tradução de Hilton Japiassu. São Paulo: Letras e Letras.

LAMA, Dalai. Amor, verdade, felicidade: reflexões para transformar a mente. 2ª ed. Rio de
Janeiro: Nova Era, 2001.

MALATESTA, Nicola Framarino dei. A lógica das provas em matéria criminal. Tradução de
J. Alves de Sá. 2ª ed. São Paulo: Livraria Teixeira.

MARKUN, Leo. Como raciocinar com lógica. Tradução de David Jardim Júnior. São Paulo:
Ediouro.

MARIA RICO, José (Comp.). Policía y sociedad democrática. Madrid: Alianza Editorial, 1983.

MARTIN FERNÁNDEZ, Manuel. La profesión de policía. Madrid: Centro de Investigaciones


Sociológicas, 1990.

MARTÍN REICH, Rolando. Técnicas de entrevista de testigos. Disponível em


<www.psicologiajuridica.org/psj150.html> Acesso em 15/08/2007.

MARTINELLI, Dante P. e ALMEIDA, Ana Paula de. Negociação e solução de conflitos: do


impasse ao ganha-ganha através de melhor estilo. São Paulo: Atlas, 2006.

MEDEIROS, Flávio Meirelles. Do inquérito policial. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1994.

MELO, Walmick. Curso Básico de investigação criminal: manual do detetive. São Paulo:
Saraiva, 1985.

MINGARDI, Guaracy. A investigação de homicídios: construção de um modelo. Disponível


em <http://www.mj.gov.br/main.asp?Team=%7B1C29142C-AD53-4A35-B2BD-
2CD63509DAB1%7D> Acesso em 25/07/2007.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 6


SENASP/MJ - Última atualização em 09/07/2009
Página 11
MINSITÉRIO DA JUSTIÇA. Departamento de Polícia Federal. Técnicas de interrogatório.

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Departamento de Polícia Federal. Instituto Nacional de


Identificação. Identificação papiloscópica. Brasília: Serviço Gráfico do DPF, 1987.

MOJARDÍN HERÁLDEZ, Ambrocio. Creación de falsos recuerdos durante la obtencion de


pruebas testimoniales. Disponível em <www.stj-sin.gob.mx/publicaciones/aequitas35.pdf>
Acesso em15/08/2007.
NIETO ALONSO, Julio. Apuntes de criminalística. Madrid: Tecnos, 1998.

NORONHA, E. Magalhães de. Curso de direito processual penal. São Paulo: Saraiva, 1983.

OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças. Planejamento estratégico: conceitos, metodologias e


práticas. 23ª ed. São Paulo: Atlas, 2007.

PÁDUA, Elisabete Matallo Marchesini. Metodologia da pesquisa: abordagem teórico-prática.


11ª ed. São Paulo: 2005.

PAZZAGLINI FILHO, Marino. Princípios constitucionais reguladores da Administração


Pública. São Paulo: Atlas, 2000.

PEASE, Allan e PEASE, Bárbara. Desvendando os segredos da linguagem do corpo.


Tradução de Pedro Jorgensen Junior. Rio de Janeiro: Sextante, 2005.

PERGHER, Giovanni Kuckartz e STEIN, Lilian Milnitsky. Entrevista cognitiva e terapia


cognitivo-comportamental: do âmbito forense à clínica. Rev. bras. ter. cogn. [online]. Dez.
2005, vol.1, n° 2 [citado 25 Outubro 2007], p.11-20. Disponível na <http://pepsic.bvs-
psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872005000200002&lng=pt&nrm=iso>.
ISSN 1808-5687.> Acesso em 13/11/2007.

POLÍCIA CIVIL DO DISTRITO FEDERAL. Departamento de Polícia Técnica. Instituto de


Identificação(DF). Conhecendo o Instituto de Identificação: atividades, estrutura e
organização. Brasília: Sés, 2006.

RIBEIRO, Luiz Julião. Investigação criminal: homicídio. Brasília: Fábrica do Livro, 2006.

RIBEIRO. Interrogatório policial. Brasília: Academia de Polícia de Brasília, [s.d.]


Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 6
SENASP/MJ - Última atualização em 09/07/2009
Página 12
ROBLES, Paulo Roberto. Das impressões digitais nos locais de crime. São Paulo:
Paulistanajus, 2004.

ROCHA, Luiz Carlos. Investigação Policial: teoria e prática. São Paulo: Saraiva, 1998.

SANTIAGO JR., José Renato Satiro. Gestão do conhecimento: a chave para o sucesso
empresarial. São Paulo: Novatec, 2004.

SAPIRO, Idalberto Chiavenato Arão. Planejamento estratégico: fundamentos e aplicações.


Rio de Janeiro: Campus, 2004.

SILVA, João Batista Pereira da, FERRO JUNIOR, Celso Moreira e SILVA, Ronaldo Almeida da.
Apostila de planejamento estratégico, tático e operacional. Academia de Polícia Civil do
Distrito Federal.

SILVA, Lúcia Marta Giunta da et al. Comunicação não-verbal: reflexões acerca da


linguagem corporal. Disponível em <www.scielo.br/pdf/rlae/v8n4/12384.pdf> Acesso em
23/11/2007.

SÖDERMAN, Harry e O´CONELL, John J. Métodos modernos de investigación policiaca.


México: Editorial Limusa, 1971.

STEIN, Lilian Milnitsky e MEMON, Amina. Testing the efficacy of the cognitive interview in a
developing country. Disponível em
<www.abdn.ac.uk/~psy282/dept/stein%20and%20memon%202006.pdf> Acesso em
15/08/2007.

TEIXEIRA, Élson A. e MACHADO, Andréa Monteiro de Barros. Leitura dinâmica e


memorização. São Paulo: Makron Books do Brasil, 1993.

WEIL, Perre e TRMPAKOW, Roland. O corpo fala: a linguagem silenciosa da comunicação


não-verbal. 61ª ed. Petrópolis: Vozes, 2007.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 6


SENASP/MJ - Última atualização em 09/07/2009
Página 13
Filmes Recomendados

“SEVEN – OS SETE CRIMES CAPITAIS”, (EUA/1995), direção de David Fincher e roteiro de


Andrew Kevin Walker. Elenco: Brad Pitt (Detetive David Mills), Morgan Freeman (Detetive
William Somerset), Kevin Spacey (John Doe), Gwyneth Paltrow (Tracy Mills), John C. McGinley
(Califórnia) e Michael Massee (Mensageiro).

“O NOME DA ROSA” (The Name of the Rose, ALE/FRA/ITA 1986), direção de Jean Jacques
Annaud. Elenco: Sean Conery, F. Murray Abraham, Cristian Slater. Duração: 130min. Globo
Vídeo.

“CÁLCULO MORTAL”, com direção de Barbet Schroeder e roteiro de Tony Gayton. Elenco:
Sandra Bullock (Cassie Mayweather), Ryan Gosling (Richard Haywood), Michael Pitt (Justin
Pendleton), Agnes Bruckner (Lisa), Ben Chaplin (Sam Kennedy) e Chris Penn (Ray). Duração:
120min.

“UM CRIME DE MESTRE”. Direção de Gregory Hoblit e produzido por Charles Weinstock.
Estrelando: Anthony Hopkins, Ryan Gosling, David Strathaim, Billy Burke, Rosamund Pike,
Embeth Davidtz, Xander Berkeley, Fiona Shaw.

“TOCAIA” (Stakeout). Gênero: Comédia. País/Ano EUA /1987. Direção de John Badham.
Distribuição Buena Vista. Duração/Censura 12. Elenco: Richard Dreyfuss, Emilio Estevez,
Aidan Quinn e Madeleine Stowe.

Curso Investigação Criminal 2 – Módulo 6


SENASP/MJ - Última atualização em 09/07/2009
Página 14

Você também pode gostar