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E XPEDIENTE

Prova Material - Revista Científica do Departamento da Polícia Técnica, vinculado à Secretaria de Segurança
Pública do Estado da Bahia.
Av.Centenário, s/nº, Vale dos Barris, Salvador/ Bahia, CEP 40.100-180.
Telefone (71) 324-1692
Esta revista é um periódico quadrimestral com distribuição gratuita. Os artigos assinados são de inteira
responsabilidade de seus autores. Tiragem desta edição: 1000 exemplares, 32p.

Paulo Ganem Souto Fotografias


Governador do Estado da Bahia Paulo Lázaro
General Edson Sá Rocha Silvio N. Amorim
Secretário da Segurança Pública Arquivo DPT
Luiz Eduardo Carvalho Dorea Capa
Diretor Geral do Departamento de Polícia Técnica Fábio Souza
Antonio dos Santos Vital Neto Secretária
Coordenador Executivo Tania Cristina Brites Gesteira
Rita de Cássia Monteiro de Carvalho Revisão
Diretora do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues Tania Brites Gesteira e
Iracilda Mª de Oliveira Santos Conceição Mariacelia Vieira
Diretora do Instituto de Identificação Pedro Mello
Marcelo Antonio Sampaio Lemos Costa Conselho Editorial
Diretor do Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto Antonio César Morant Braid (ICAP)
José Felice Cunha Deminco Elson Jeffeson Neves da Silva (LCPT)
Diretor do Laboratório Central da Polícia Técnica Hélio Paulo de Matos Júnior (IMLNR)
Editora Geral Luis Geraldo Nascimento Luciano de Sena (ICAP)
Mariacelia Vieira Maria de Lourdes Sacramento Andrade (DPT/A.T)
Jornalista - RG DRT/MG nº 2266 Paulo César Teixeira Vieira (ICAP)
Editor Gráfico Tania Cristina Brites Gesteira (LCPT)
Luciano Soares Rego
Jornalista RG MTB nº 958
Artefinalista
Fábio Souza

Prova Material - v. 3 - n. 3 - dez. 2004 – Salvador: Departamento de Policia Técnica, 2004.


Quadrimestral
ISSN 1679-818X

1. Criminalística – Bahia – Periódico

CDU 343.9 (813.8) (05)

4
S UMÁRIO

Editorial .................................................................................................................... 06

A mortalidade e anos produtivos de vida perdidos


precocemente nos homicídios por armas de fogo
na Região Metropolitana do Salvador (Artigo Original)
Hélio Paulo de Matos Júnior ...................................................................................... 07

A missão superior da Polícia Técnica (Ponto de Vista)


João Freitas Neto ......................................................................................................... 11

O calibre de armas e munições (Artigo de Atualização)


Adeir Boida de Andrade ............................................................................................. 14

A perícia nos casos de poluição sonora desenvolvida pela


Coordenadoria Regional de Santo Antonio de Jesus (Artigo Original)
Gerson Alves de Santana, Hénel Francisco da Silva Filho ............................... 16

Fonética Forense:
Identificação dos falantes (Artigo de Discussão)
Antonio César Morant Braid ...................................................................................... 19

Considerações a respeito da economia do crime (Artigo Original)


Elson Jeffeson Neves da Silva .................................................................................. 22

Investigação do sexo através de mensurações de


suturas cranianas (Artigo original)
Jeidson Antonio Morais Marques, Patrícia Keler Freitas Machado,
Luis Carlos Cavalcante Galvão ................................................................................ 25

Resenha Literária ......................................................................................................... 29

Normas ............................................................................................................................ 30

5
E DITORIAL

VENCER FRONTEIRAS

A Polícia Técnica encerra este ano com bons resultados para apresentar. A identificação da
Bahia passa a fazer parte do Sistema Nacional de Informação Criminal – SINIC e vai dispor
ainda do Sistema Automatizado de Identificação por impressão digital – AFIS. O método ACEC
também permitiu a otimização e a modernização dos arquivos de identificação. O DNA Forense
estará implantado até abril, no DPT, permitindo à Polícia Técnica se destacar também na biologia
molecular. Reformularam-se procedimentos, projetos foram implantados. Sempre na busca da
modernização, da qualidade e do cumprimento dos prazos legais. Tem-se planejado, treinado e
informado, com a determinação de atingir os objetivos de uma contínua melhoria. A Medicina
Legal e a Criminalística também apresentam novas realidades, com destaque, nessa segunda
área, para a Balística Forense e o seu Sistema Integrado de Identificação - IBIS. Com o apoio
institucional da Secretaria da Segurança Pública da Bahia, através do Exmº. Sr. Secretário General
Edson Sá Rocha, e a ajuda financeira da Secretaria Nacional de Segurança Pública, crescemos e
melhoramos em vários setores. O convênio com o Banco Expansion, da Espanha, também se
constituí em importante fonte de recursos. Assim, o DPT evoluiu na pesquisa e na qualidade da
prova material que produz. A aprovação da sua nova estrutura, que passa a vigorar a partir de 1º
de Janeiro, cria, entre outras coisas, a Diretoria de Polícia Técnica do Interior, destinada a gerir as
atividades periciais nos diversos municípios baianos, através de seis Coordenadorias Regionais.
Em breve o quadro funcional será ampliado, com profissionais que chegarão através de concurso
a ser realizado em breve. Com esses novos meios será possível investir na construção de um
novo futuro. Assim, o DPT venceu e vencerá desafios. E atravessara fronteiras.

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A MORTALIDADE E ANOS PRODUTIVOS DE VIDA PERDIDOS
PRECOCEMENTE POR HOMICÍDIOS POR ARMAS DE FOGO
NA REGIÃO METROPOLITANA DO SALVADOR

HÉLIO PAULO DE MATOS JÚNIOR


Perito Médico Legal
Instituto Médico Legal Nina Rodrigues

Artigo Original

RESUMO Esperança de vida, mortalidade geral e por causas


O autor estudou os homicídios por arma de fogo que especificas e taxas de mortalidade infantil são indicadores
ocorreram na Região Metropolitana de Salvador em 1996, largamente utilizados na avaliação das condições de saúde
quanto ao sexo, idade e determinou o APVD (anos de populações, assim como em comparações entre
produtivos de vida perdidos). Para determinação dos APVP diferentes populações. No entanto medidas de
foi utilizada a fórmula de Romeder e McWhinnie modificada mortalidade são incompletas para avaliar o estado real
para anos potenciais de vida perdidos entre 10 e 70 anos. de saúde de uma população, medidas sintéticas de saúde
Foi feita a comparação dos APVD por sexo e devem integrar informações de mortalidade e morbidade.
diferentes causas de morte na região metropolitana do Um avanço nesta direção é a utilização do cálculo de
Salvador neste mesmo ano. anos produtivos de vida perdidos.
O Autor encontrou maior concentração na faixa etária Para determinação dos APVP foi utilizada a fórmula de
entre 10-29 anos, em ambos os sexos, atingindo a Romeder e McWhinnie modificada para anos potenciais de
população em sua fase economicamente mais produtiva vida perdidos entre 10 e 70 anos.
que foi responsável pela perda de 31.771 anos de vida
produtiva em 1996, correspondendo a 50.2% dos APVP OBJETIVOS
das demais causas externas de óbito na mesma faixa etária. Determinar os APVP relacionados a homicídios por
arma de fogo ocorridos na região metropolitana do Salvador
PALAVRA CHAVE no ano de 1996.
Medicina Forense. Anos produtivos de vida perdidos. Compara com os APVP relacionados com outras causas
de morte no mesmo período.
ABSTRACT
The author studied the homicides for firearm that MATERIAL E MÉTODO
happened in the metropolitan area of Salvador in 1996, as
for the sex, age and it determined productive years of life AMOSTRA
lost. To determination of productive years of life lost was Óbitos ocorridos na região metropolitana do Salvador e
used the formula of Romeder and McWhinnie modified for que tiveram como causa de morte lesão por projétil de arma
potential years of life lost between 10 and 70 years. de fogo, necropsiados no IML “NR”.
It was made the comparison of productive years of life Número da amostra: 725 indivíduos
lost by sex and different death causes in the metropolitan Período de observação: Janeiro a dezembro de 1996
area of Salvador on this same year. Faixa etária: Variou entre 10 e 70 anos.
The Author found larger concentration in the age group Ambos os sexos.
among 10-29 years, in both sexes, reaching the population Coleta dos dados: análise dos laudos necroscópicos
economically in this phase more productive than was do IML “NR”.
responsible for the 31.771 year-old loss in 1996, Para determinação dos APVP foi utilizada a fórmula de
corresponding to 50.2% of productive years of life lost of Romeder e McWhinnie modificada para anos potenciais de
the other external causes of death in the same age group. vida perdidos entre 10 e 70 anos.

KEY WORDS RESULTADOS


Forensic Medicine. Productive years of life lost. O Autor encontrou como principais causas de morte
na região metropolitana de Salvador no ano de 1996 as
INTRODUÇÃO doenças cárdio-circulatórias, seguida das neoplásicas,
Políticas na área de saúde têm sido freqüentemente endócrino-metabólicas, respiratórias, infecciosa e causas
planejadas com base em informações sobre mortalidade. externas (figura 1).

7
HOMICÍDIOS POR ARMAS DE FOGO NA REGIÃO METROPOLITANA DO SALVADOR
A MORTALIDADE E ANOS PRODUTIVOS DE VIDA PERDIDOS PRECOCEMENTE POR

A população economicamente ativa da região O cálculo dos APVD por causa de morte na
metropolitana de Salvador, estratificada por faixa região metropolitana de Salvador no ano de 1996
etária, mostrou maior concentração entre 30 e 39 no sexo feminino evidenciou as doenças do
anos em ambos sexos, seguida de perto pela faixa aparelho circulatório como as que apresentaram
de 20 a 29 anos e 40 a 49 anos (figuras 2 e 3). maior índice de anos perdidos seguida das doenças
neoplásicas, doenças infecto-contagiosas e causas
externas. Os homicídios por arma de fogo
individualmente como causadores de anos de vida
perdido ficou abaixo das doenças endócrino-
metabólicas.(figura 6).
Quando observamos os APVP por faixa etária
comparando as doenças circulatórias com as causas
externas no sexo feminino observamos que nas
doenças circulatórias a perda se concentrou em idades
mais avançadas, predominando de 40 a 49 anos,
seguida de 50 a 59 e 30 a 39 anos (figura 7), nas doenças
de causas externas a perda se concentrou numa faixa
etária menor, entre 10 e 19 anos e se manteve estável
nas faixas etárias seguintes (figura 8).
No sexo masculino, ao contrario do que se
observa no sexo feminino, a maior concentração
dos APVP foram nas causas externas seguida de
doenças cárdio-circulatórias. Como no sexo
feminino as doenças cárdio-circulatórias os APVP
concentrou-se nas faixas etárias mais altas,
predominando de 40 a 49 anos, seguida de 50 a 59
e 30 a 39 anos (figura 9).
As causas externas foram as principais
responsáveis pelo maior APVP e tem como segunda
O levantamento dos homicídios por lesão causa estratificada os homicídios por arma de fogo
de projétil de arma de fogo mostrou que a faixa (figura 10). Quando observamos os APVP por faixa
etária de 20 a 29 anos é a mais acometida, etária nos homicídios por arma de fogo a grande
seguida de 10 a 19 anos e 30 a 39 anos, em maioria se localiza na faixa etária de 10 a 19 anos
ambos os sexos (figuras 4 e 5). seguida da faixa etária de 20 a 29 anos (figura 11).

8
DISCUSSÃO
Políticas na área de saúde têm sido
HÉLIO PAULO DE MATOS JÚNIOR

freqüentemente planejadas com base em


informações sobre mortalidade. No entanto
medidas de mortalidade são incompletas para
avaliar o estado real de saúde de uma população,
medidas sintéticas de saúde devem integrar
informações de mortalidade e morbidade.
Para medir estas necessidades, o ideal seria
utilizar indicadores de morbidade, mas estes
dados não estão usualmente disponíveis, daí que
se utilizam, com maior freqüência, dados de
mortalidade, principalmente as taxas de
mortalidade.
Contudo, alguns autores têm argumentado
que seria preferível que o indicador utilizado
desse mais peso aos grupos mais vulneráveis e
sobre os quais os serviços de saúde pudessem
ter um maior impacto, características próprias
do indicador APVP.
O cálculo dos APVP em conseqüência das
mortes por causas externas tanto no sexo
masculino quanto no feminino mostram uma
realidade extremamente cruel, pois as mortes por
causas externas atingem a população na sua faixa
etária mais jovem, entre 10 e 29 anos, justamente
a população preste a entrar no mercado de
trabalho ou economicamente ativa, o que
demonstra uma perda social muito importante.
No sexo masculino foi o que apresentou a
maior mortalidade por causas externas, e dentre
estas os homicídios por arma de fogo foi a que
evidenciou a maior perda de anos produtivos.

CONCLUSÕES
As causas externas são responsáveis pelo maior
índice de APVP na faixa etária de 10-29 anos
comparando-se com as demais causas de óbito.
Os APVP relacionados a homicídios por arma
de fogo correspondem a 50.2% dos APVP das
demais causas externas na mesma faixa etária.
Os homicídios por arma de fogo:
Acometem principalmente o sexo masculino
(95%)
Concentram-se na faixa etária entre 10-29
anos, em ambos os sexos.
Atingem a população em sua fase
economicamente mais produtiva.
Foram responsáveis pela perda de 31.771
anos de vida produtiva em 1996, comparando-
se com 42.824 anos para doenças circulatórias.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BORJA-ABURTO, V.H et al.Anos de vida
potencial perdidos en Mexico: aplicaciones en
la planificacion de serviços de salud. Salud
Pública Mex; 31(5):601-9, 1989 Sep-Oct.
BUSTAMANTE,M.L.P.et al. Efectos de la

9
aplicacion del indicator de anos productivos
HOMICÍDIOS POR ARMAS DE FOGO NA REGIÃO METROPOLITANA DO SALVADOR perdidos (modelo inversion produccion consumo)
A MORTALIDADE E ANOS PRODUTIVOS DE VIDA PERDIDOS PRECOCEMENTE POR

en el ordenamiento de las causas de muerte en


Mexico, 1990. Rev Saude Publica; 28(3): 198-203,
1994 Jun.
GARDNER JW, Sanborn JS. Years of potencial
life lost (YPLL) - What does it measure?
Epidemiology 1990; 1:132-9
MARLOW, A.K. Potencial Years of life lost: what
is the denominator?. Journal Epidemiol
Community Health; 49(3):320-2, 1995 Jun.

10
A MISSÃO SUPERIOR DA POLÍCIA TÉCNICA

JOÃO FREITAS NETO


Perito Criminal
Coordenaçãode Fonética Forense
Instituto de Criminalistica Afrânio Peixoto - ICAP

Ponto de Vista

A vida moderna acelerou o passo, encurtou as distânci- paro, da falta de objetivos, de materiais ou de métodos por
as e tornou a sociedade altamente complexa pelas facilida- parte de quem compete estabelecê-la. O trabalho pericial
des que gerou e pelos conhecimentos que passou a exigir há de ser meticuloso e preciso, assim como há de chegar às
dos seus cidadãos. Nesse contexto, de grande velocidade e mãos da justiça na condição de permitir a justa sentença.
exigência de conhecimento, muitas pessoas tornaram-se in- Pois, ainda que uma sentença injusta possa ser revista e um
defesas diante da impossibilidade de acompanhar o ritmo inocente possa ser ressarcido nos seus direitos materiais,
das mudanças que, na vertente policial, favorece grande- jamais serão obtidas a plenitude da lei e a excelência da
mente a ação dos criminosos dado à inovação permanente justiça enquanto um inocente tiver consigo a mácula da vio-
na prática de crimes que lhes permite fazer uso da maior lência moral e um culpado, a sensação de que possa haver re-
das estratégias: o elemento surpresa. A surpresa é um alia- compensa no crime. Em todas essas situações, a verdade não se
do poderoso da criminalidade porque atinge a sua vítima na estabelece e a sociedade perde por se alimentar do erro e por
boa-fé, desarmada para a defesa, impulsionando os dese- perpetuar um estado de coisas não desejado. O foco nos crimes
quilíbrios no já frágil tecido social, desacreditando as insti- de natureza penal visa concentrar esforços para preservar os
tuições e fortalecendo o equívoco de que a cada um cabe cidadãos quanto à conduta ética e moral, não se ocupando das
promover a sua própria segurança. Contrária a essa conjun- questões materiais relacionadas aos contratos e à propriedade,
tura é que se apresenta a Polícia Técnica, com o trabalho de cuja ação recai na esfera civil.
revelar à sociedade a sua complexidade, traduzida e simpli- Uma vez esclarecido o caráter superior da missão, como
ficada no esclarecimento dos fatos, com resposta rápida para em todo processo de qualificação, é necessário que ela ve-
quebra do elemento surpresa ainda nas primeiras ações, ao nha associada a um programa, no qual se proponha plane-
tornar o “modus operandis” conhecido e compreensível aos jar e levantar informações, traçar um diagnóstico da situa-
olhos de todos e em especial daqueles que têm o ofício de ção vigente e apontar as soluções de melhoria através de
julgar os atos praticados por seus cidadãos. Com isso, con- um plano de ação. Durante a aplicação do plano de ação,
tribui para o estabelecimento da verdade e o cumprimento devem ocorrer avaliações para aferir os pontos fortes e os
da lei, devolvendo a todos a confiança nas instituições e pontos fracos do programa, devendo estes últimos ser rees-
fazendo o próprio cidadão mais cauteloso e elemento ativo truturados através de ações corretivas para início de um novo
na segurança da sociedade, inibindo a ação criminal de ciclo de atividades: mais aprimorado e adequado aos obje-
maneira eficaz. Para esse mister, o homem da Polícia Téc- tivos da organização. É um ciclo que se repete progressiva-
nica há de se manter na vanguarda da sociedade, aprimo- mente, planejando e executando ações, avaliando resulta-
rando o seu comportamento e o seu conhecimento para dos para novo diagnóstico e aplicando ações corretivas num
maior eficácia da sua organização, onde deverá continua- planejamento de ações melhoradas.
mente contribuir na redefinição dos papéis e dos métodos, Pelo que se pode depreender, o primeiro passo do pro-
objetivando o cumprimento da sua missão superior, qual seja a grama foi estabelecer a missão da organização, ou seja, de-
de estabelecer a verdade dos fatos nos crimes de natureza penal, finir a sua razão de existir, porque isso orienta o foco das
de forma a permitir o pleno cumprimento da lei, contribuindo suas ações. Em seguida, para a consecução da missão, vêm
para a excelência da justiça e da sociedade. as políticas para definir o que será feito e por que meios a
Convém reforçar que estabelecer a verdade e cumprir a missão será cumprida. Depois, vêm os procedimentos, de-
lei é retomar o fio de ligação entre o menor vestígio obser- finindo os processos produtivos, o fluxo da informação e
vado e analisado no local do crime, identificando os seus dos materiais, no contexto da inter-relação entre as pessoas
autores, o modo e os instrumentos pelos quais foi pratica- e os setores organizacionais, assim como das ferramentas
do, na forma e no tempo adequados para fornecer como de controle. Finalmente, vêm as instruções de trabalho como
resultado a liberdade dos justos e a punição dos culpados. uma ação individual no cumprimento de uma tarefa especí-
Não há verdade quando um culpado é liberto ou quando fica. Note-se que há um nível de detalhamento cada vez
um inocente é preso. Como também não existem verdades maior que se desdobra do topo da administração até o exe-
possíveis, verdades necessárias, verdades parciais ou ver- cutor final, na seguinte ordem: missão - políticas - procedi-
dades transitórias, toleradas como decorrentes do despre- mentos - instruções de trabalho. Como sistema de controle,

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há a necessidade permanente de se verificar se a 1) MISSÃO DO ICAP/DPT
instrução de trabalho, na ponta final do processo,
A MISSÃO SUPERIOR DA POLÍCIA TÉCNICA

está em consonância com a missão estabelecida Estabelecer a verdade dos fatos nos crimes de
no topo da organização, tanto no nível normativo, natureza penal, de forma a permitir o pleno cum-
pela coerência das políticas e dos procedimentos, primento da lei, contribuindo para a excelência da
quanto no nível executivo, pelo fiel cumprimento justiça e da sociedade.
deles. Veja-se que a missão é de caráter superior, ele-
É importante perceber que um processo de vado e filosófico, arremessando os seus agentes
qualificação de uma organização começa neces- para uma ação de melhoria contínua na busca da
sariamente de cima para baixo. Isso significa excelência. É a missão que determina em cada um
tratar a questão da qualidade como a vontade o nível de satisfação e o sentimento do dever cum-
do líder maior da organização, imbuído do pro- prido, por isso deve impulsioná-los para além das
pósito e revestido da autoridade necessários para tarefas de apenas fazer perícias e elaborar laudos,
levar à cabo a árdua tarefa de mudar comporta- levando-os a perseguir o ideal de fazê-las preci-
mentos e redefinir rumos. Mas, para lograr su- sas, no tempo hábil para o cumprimento da lei e
cesso, é necessário o envolvimento de toda a com qualidade continuamente crescente, colocan-
comunidade na qual se destina regular as rela- do-os no mais alto nível das aspirações humanas:
ções das pessoas e os processos de produção. É a satisfação de contribuir para a construção de um
de fundamental importância o envolvimento de mundo melhor.
toda a comunidade e é esse o maior desafio,
porque papéis escritos não mudam comporta- 2) POLÍTICAS DO ICAP/DPT
mentos se não forem assimilados no nível da
consciência, com a aceitação de que as mudan- a) Realizar perícias relacionadas a crimes de natu-
ças são necessárias e que produzirão melhores reza penal com elevada precisão científica, aten-
resultados para todos. É sabido que as pessoas dendo aos prazos processuais;
têm resistência natural às mudanças, que é enor- b) Desenvolver um ambiente de trabalho com cres-
memente agravada quando se sentem alijadas cente padrão de atendimento e comprometimen-
do processo criativo da nova forma de trabalho, to com a sociedade;
independentemente da boa intenção dos seus c) Estabelecer programas de permanente desen-
agentes. As boas intenções, embora essenciais, volvimento pessoal e técnico-científico do cor-
por si mesmas não têm força suficiente para po pericial;
alavancar um processo de qualificação. As ações é d) Promover programas de integração com os sis-
que determinam o sucesso ou o fracasso de um pro- temas policiais e judiciários.
grama bem intencionado. É preciso envolver a todos,
informar, ouvir, convidar, realizar encontros e semi- Veja-se que as políticas ainda são macro-
nários, fazer perceber que o espaço está aberto, que a diretrizes para alcançar a missão estabelecida e
mudança é pra valer e que é irreversível, mostrando que deverão nortear a organização dos procedi-
que todos podem contribuir verdadeiramente. É mentos.
preciso que o responsável pelo programa faça o
seu papel de motivador e facilitador, ainda que 3) PROCEDIMENTOS DO ICAP/DPT:
muitos se recusem a exercer o direito de partici-
par dele, sendo quase certo que os descontentes a) Procedimentos administrativos
atribuirão as conseqüências das suas omissões a Procedimento para o recebimento de solicitação
terceiros, mas, em verdade, elas são o reflexo da de perícias
falta do alinhamento que não se permitiram reali- Procedimento para concessão de férias
zar, frustrando as suas aspirações mais profundas: Procedimento para uso e condução de viatura
o desejo de reconhecimento e de aceitação na co- Procedimento para concessão de treinamento
munidade da qual faz parte. Procedimento para o recebimento de material
No nível concreto da realização, cabe ao co- para perícia
mando da organização disponibilizar os recursos Procedimento para expedição de laudo peri-
materiais e humanos necessários para a organiza- cial, etc.
ção do programa, traçar o plano de ação, desen- b) Procedimentos técnicos
volver procedimentos, instruções de trabalho e sis- Procedimento da Coordenação de Perícias In-
temas de controle, assim como para assegurar o ternas
cumprimento deles. Procedimento da Coordenação de Perícias Ex-
Como uma sugestão de roteiro, desenha-se a ternas
seguir uma estrutura organizacional voltada para Procedimento da Coordenação de Fonética
a qualidade na Polícia Técnica. Forense

12
Procedimento da Coordenação de Crimes con-
tra a Pessoa, etc.
JOÃO FREITAS NETO

Veja-se que os procedimentos já são ações exe-


cutivas dentro do processo de produção, garantin-
do a inter-relação das partes para alcançar as polí-
ticas e fazer cumprir a missão. É fundamental ve-
rificar se, no conjunto, estão obedecendo às políti-
cas e conduzindo para a missão estabelecida, por-
que é aonde se dão as relações para o encadea-
mento das partes no todo, definindo os papéis para
eliminar áreas de conflito e fazendo convergir as
ações para os objetivos da organização.

4) INSTRUÇÕES DE TRABALHO
PARA O ICAP/DPT:

a) Instruções de trabalhos administrativos


Instrução para protocolar o recebimento de ma-
teriais para perícia
Instrução para recepção e acesso de pessoas às
instalações do ICAP/DPT
Instrução para a condução de viaturas policiais
do ICAP/DPT
Instrução para a coleta e classificação de dados
estatísticos do ICAP/DPT, etc.
b) Instruções de trabalhos técnicos
Instrução para elaboração de laudo pericial
Instrução para o levantamento de local de crime
contra a pessoa
Instrução para o cadastramento de perícias rea-
lizadas
Instrução para tomadas fotográficas em locais
de crime
Instrução para o cálculo de velocidade em aci-
dentes de veículos, etc.

Veja-se que as instruções de trabalho são ações


individuais e específicas, ou seja, é uma pessoa
que segue passo a passo a execução de uma tarefa,
como um receituário: pegue isso, faça aquilo,
aguarde tantos minutos, depois vire, etc. Eviden-
temente, cada instrução de trabalho está ligada a
um procedimento de uma dada coordenação ou
setor da organização. É na instrução de trabalho
que se patenteia a credibilidade do processo de qua-
lificação e onde se mensura o nível de sucesso do
programa, porque é aonde as ações concretas acon-
tecem e onde se manifesta, de forma indubitável,
o nível de assimilação e aceitação do modelo de
gestão da qualidade implantado. Aqui se dá a ação
no nível mais simples, repetitivo e mecânico, sendo
imperioso o perfeito alinhamento ao conjunto norma-
tivo da qualidade, de forma que o executante perceba
a tarefa mais humilde com um ato sublime, condizen-
te com a envergadura da sua missão.

13
O CALIBRE DE ARMAS E MUNIÇÕES

ENG.º ADEIR BOIDA DE ANDRADE


Perito Criminal
Balística Forense
Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto

Artigo de Revisão

inteiro (Ex.: diz-se calibre 28, e


No artigo, o autor renova conceitos relativos ao não .28), indicativo do diâmetro in-
calibre das armas de fogo e suas munições, terno do cano, e equivale ao nú-
esclarecendo pontos obscuros, que não raras vezes mero de esferas de chumbo, do di-
dificultam o trabalho pericial. âmetro, necessárias para comple-
tar a massa de uma libra. Por este
Quando se trata de artefatos tubulares, a palavra ca- motivo, o calibre diminui, na me-
libre refere-se sempre ao seu diâmetro interno, em uni- dida em que o número indicativo
dades do sistema métrico decimal. O mesmo ocorre na aumenta, conforme tabela abaixo:
lingua inglesa, onde caliber é também designativo do
diâmetro interno de um cano, ou do diâmetro externo de
um projétil ogival de arma de fogo.
Em Balística Forense, deve-se, porém, considerar a
grande diferença entre o substantivo calibre, e a expres-
são calibre nominal (em inglês, cartridge para canos
raiados ou gauge para os canos lisos das espingardas).
Enquanto calibre refere-se ao diâmetro (do cano ou do
projétil), a segunda expressão deve ser entendida como
uma nomenclatura identificadora, um nome de batis-
mo pelo qual a munição (ou a arma que a utiliza) é co-
nhecida em qualquer lugar do planeta. Cartuchos de di- Nomeclatura indica o número de balins (esferas) de chumbo,do
diâmetro do calibre, necessários para completar uma libra
ferentes calibres nominais são constituídos por projéteis
(453,6g) de massa de chumbo.
do mesmo calibre, e é aí que está a diferença... Ex.: Calibre 12 - são nacessárias 12 esferas no diâmetro do calibre
A dificuldade reside, parcialmente, no emprego cor- para completar uma libra de chumbo.
rente de medidas em unidades inglesas, já que foram
norte-americanos os inventores do revólver (Samuel Colt, As espingardas de antecarga não têm calibre específi-
por volta de 1850) e da pistola semi-automática (John co, mas existem registros de armas deste tipo com diâmetro
Moses Browning, em 1900). É importante fixar alguns de cano superior aos 18,5mm (mormente naquelas de fa-
conceitos antes de prosseguir com o texto: bricação artesanal), indicando tratar-se de arma de “calibre
equivalente” superior ao calibre 12 (máximo permitido pela
 1" = uma polegada (unidade de comprimento) = 2,54 legislação brasileira), motivo pelo qual este fato deve ser
cm = 25,4 mm consignado no Laudo Pericial.
 1’ = um pé (comprimento) = 12" = 12 polegadas = 12

x 2,54 =30,48 cm O CALIBRE NOMINAL


 1 Lb = uma libra (unidade de massa) = 453,6 g = DAS ARMAS RAIADAS
7.000 grains
 O zero à esquerda é desprezado, e o ponto (.) é empre- Nos canos raiados, temos em
gado para separar as casas decimais, enquanto que a vir- verdade dois “calibres” ou diâ-
gula (,) indica a casa do milhar, exatamente o oposto do metros internos: o primeiro é o
que fazemos. Ex: U$ 1,536.47 ou .45" diâmetro entre cheios (conheci-
do como calibre real), correspon-
O CALIBRE NOMINAL DAS ESPINGARDAS dente ao diâmetro original do
Nas armas de retrocarga de cano liso (espingardas), o tubo utilizado, antes da abertura
calibre nominal (gauge em inglês) é sempre um número do raiamento; o segundo é o diâ-

14
metro entre os cavados do raiamento, levemente Saliente-se que, embora seja corrente na lin-
superior, e dimensionado na exata medida do cali- guagem coloquial, tecnicamente é incorreto afir-
ENG.º ADEIR BOIDA DE ANDRADE

bre do projétil a ser utilizado. É esta diferença a mar que um revólver é do calibre 38 ou .38" (trinta
maior no diâmetro que vai forçar o projétil de en- e oito centésimos da polegada). Afinal, nem o cano
contro ao raiamento, para adquirir a rotação ne- nem o projétil que a arma dispara têm este calibre
cessária à estabilização da sua trajetória. (9,65mm) restando, ainda, a dúvida: se não se tra-
O calibre nominal, ou a nomenclatura desig- taria do .38 ACP, do .38 Long Colt, do .38 Smith
nativa das munições e armas de fogo de cano raia- & Wesson, do .38 Short Colt ou do .38 Super Auto.
do, não segue uma regra determinada, como ocor- Da mesma forma, o 7,65mm poderia ser o 7,65
re com as espingardas. O calibre nominal de uma mm Roth-Sauer, 7,65mm Borchardt, 7,65mm Mas,
munição, em verdade, corresponde a uma identi- ou o 7,65mm Luger.
dade e tem por objetivo sua individualização, num Nas munições, deve-se considerar que os car-
universo de muitas outras constituídas por projé- tuchos +P (recurso utilizado pela indústria apenas
teis do mesmo “calibre”, porém com característi- para velhos calibres, dotando-os de mais energia,
cas balísticas e estojos de dimensões distintas. conforme permite a tecnologia das armas moder-
No sistema inglês ou norte-americano, o ca- nas) não caracterizam novos calibres nominais. Ex.:
libre nominal é sempre indicado por números cartucho do calibre nominal .380 Auto, com ins-
(relativos a uma dimensão em fração da pole- crição (ou carga propelente) +P.
gada e, portanto, sempre
precedidos por um ponto),
seguidos de palavras ou
letras destinados à sua in-
dividualização. O sistema
é, de certa forma anárqui-
co, já que os números, ora
indicam o diâmetro entre
cheios do cano (calibre
real), ora o diâmetro do
projétil, e, muitas vezes,
nem uma coisa nem outra!
No sistema métrico de-
cimal, os calibres são usu-
almente designados por
dois números, em milíme-
tros, seguidos ou não por le-
tras ou palavras. O segun-
do número sempre se refe-
re ao comprimento do esto-
jo, podendo ser dispensado
no caso de calibres muito
conhecidos como o
9x19mm (9mm Luger ou
9mm Parabellum).
No caso das armas de
fogo, o calibre nominal indi-
ca a munição para a qual a
arma foi dimensionada. Im-
portante consignar no Laudo
Pericial a eventual constatação da conversão ilegal
(proibida pela lei brasileira) do calibre nominal da arma REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
examinada. É o caso dos revólveres fabricados para o RABELLO, Eraldo. Balística forense. 3ª ed. Por-
calibre .38 Special, quando convertidos para o calibre to Alegre: Sagra Luzzatto, 1995. 488p
.357 Magnum (mediante a simples extensão da câ- TOCHETTO, Domingos. Balística forense: as-
mara), e, mais recentemente, da conversão de pisto- pectos técnicos e jurídicos. 3ª ed. Campinas, São
las 7,65mm Browning para o calibre .380 Auto Paulo: Millennium, 2003. 352p.
(feito mediante a reabertura do cano e feitura de Introduction to Ballistics. Website Firearmsid.
um novo raiamento), como tem sido constatado Disponível em www.firearmsid.com. Acessado em
nas pistolas Taurus modelo PT-57. 08.07.2004 às 15h25min.

15
A PERÍCIA NOS CASOS DE POLUIÇÃO SONORA DESENVOLVIDA PELA
COORDENADORIA REGIONAL DE POLÍCIA TÉCNICA DE SANTO
ANTÔNIO DE JESUS, PERÍODO 2000 - 2003.

GERSON ALVES DE SANTANA


Perito Criminal
C.R.P.T. – Santo Antônio de Jesus.

HÉNEL FRANCISCO LOPES DA SILVA FILHO


Perito Criminal
C.R.P.T. – Santo Antônio de Jesus.

Artigo Original

RESUMO INTRODUÇÃO E OBJETIVOS


Com a intensificação dos trabalhos periciais para Dentre as várias formas de poluição que comprome-
constatação de poluição sonora, realizada por peritos de tem a qualidade de vida das pessoas, encontra-se a po-
diferentes áreas de formação da Coordenadoria Regio- luição sonora. Considerada atualmente uma forma gra-
nal de Policia Técnica – Santo Antônio de Jesus, foi sur- ve de agressão ambiental, esse tipo invisível de poluição
gindo a necessidade de padronização dos exames. Dessa atinge níveis intoleráveis, e, dependendo, de fatores como
forma, os peritos da regional criaram um roteiro onde intensidade e tempo de exposição, pode trazer sérias con-
constavam dados a serem verificados no local dos exa- seqüências à saúde da população. Embora estipulado o
mes, proporcionando, assim, um trabalho mais dire- limite tolerável de 65db pela OMS, a contínua e excessi-
cionado e objetivo. Quando reunidos em quadro esta- va emissão de ruídos, ocorrida principalmente nos cen-
tístico, tais dados ainda permitiram melhor compre- tros urbanos, vem se tornando cada vez mais um caso de
ensão do problema ambiental. A tomada dessas inici- saúde pública.
ativas levaram, sem dúvida alguma, a uma maior se- Concomitante ao agravamento das questões ambi-
gurança durante a execução dos exames e resultaram entais, especificamente nos casos de poluição sonora,
na melhoria de qualidade do Laudo Pericial. intensificou-se, também, a participação dos órgãos do
governo, juntamente com representantes da sociedade
PALAVRAS CHAVES civil, visando amenizar o problema. Foram criadas, nes-
Poluição Sonora. Problema Ambiental. ses últimos anos, normas e leis ambientais, incluindo-se
as que tratam da poluição sonora, destacando-se, dentre
ABSTRACT outras, a Constituição Federal (art. 225) e a Lei de Cri-
With the intensification of the works for verifica- mes Ambientais 9.605/98 (art.2o), como instrumentos ju-
tion of resonant pollution, accomplished by experts rídicos para controlar a emissão excessiva de ruídos, as-
of different areas of formation of Regional Coordina- segurando assim, o sossego público, bem como o direito
tion of Technical Police. - Santo Antônio de Jesus, de todos ao meio ambiente equilibrado.
went appearing the need of standardization of the exa- A polícia técnica também se encontra cada vez mais
ms. In that way, the experts of the regional created an engajada nas questões ambientais, atuando constante-
itinerary with information to be verified at the place mente nas realizações de perícias na referida área. Uma
of the exams, providing a work more addressed and comprovação dessa intensificação dos trabalhos perici-
objective. When such data were inserted in statistical ais ambientais desenvolvidos pela Polícia Técnica pode
program, they allowed a better understanding of the ser feita na Coordenadoria Regional de Santo Antonio
environmental problem. The initiatives taken by the de Jesus. Nessa regional, que abrange 29 municípios,
experts resulted, without any doubt, in a larger safety foram atendidas 44 solicitações para realização de exa-
during execution of the exams and in the improve- mes periciais ambientais nas suas diversas formas de de-
ment of quality of the conclusive report. gradação, no período compreendido entre 2000 e 2003.
Desse total, 18 exames (39,5%) referiam-se à prática de
KEY WORDS emissão de ruídos. Durante a realização dos exames, os
Resonant Pollution. Environmental Problem. peritos tinham como objetivo não apenas constatar a ocor-
16
rência de crime ambiental devido à emissão exa- das delegacias de polícia nas questões ambien-
gerada de ruídos, como também obter dados que tais, especificamente no que se refere à polui-
ENG.º ADEIR BOIDA DE ANDRADE

caracterizassem a área examinada. ção sonora, acionando mais freqüentemente os


peritos criminalísticos para a realização dos
METODOLOGIA trabalhos ambientais. Entendemos que a com-
Consistia no deslocamento do perito até o pilação e análise dos dados obtidos durante
local onde se encontrava a fonte geradora da as perícias ambientais podem direcionar me-
poluição sonora, conforme especificada em guia lhor quanto à tomada de medidas conscienti-
ou oficio, procurando informar-se previamen- zadoras que visem a amenizar o problema, e
te, junto à autoridade requisitante, quanto ao dia que, atuando de forma conjunta e ordenada,
da semana e horário a serem efetuados os exa- bem como criteriosa, conforme requer o tra-
mes; tomada de medições dos níveis máximo e balho cientifico, é que poderemos auxiliar o
mínimo de ruído, com utilização de aparelho judiciário na comprovação material dos crimes
decibelímetro, direcionado para frente da fonte ambientais e contribuir cada vez mais para a
emissora do ruído, situando-se em local onde preservação da saúde ambiental.
se encontrava a parte prejudicada; preenchimen-
to de roteiro adotado pelos peritos da regional REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
(em anexo); introdução dos dados em quadro BRASIL, Lei de Crimes Ambientais. Lei no
estatístico e análise dos resultados, tendo como 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Disponível
referência os níveis de som toleráveis para uma em: http://www.planalto.gov.br>.
pessoa sem que venham a afetar a sua saúde, CONSTITUIÇÃO – Brasil (1988). Constitui-
determinados de acordo com a zona e o horá- ção da República Federativa do Brasil – Brasí-
rio, conforme norma da ABNT no 10.151 em lia, Senado Federal, Centro Gráfico, 1988; 292p.
quadro abaixo. MACHADO, Paulo A. Leme. Direito Ambi-
ental Brasileiro. 4a ed. Revista e Ampliada – Ma-
lheiros Editores, 1992; 606p.
ODUM, Eugene P. Fundamentos de Ecologia.
4a ed. (Tradução: Antonio Manuel de Azevedo
Gomes), Fundação Calouste Gulbekian; Lisboa,
Nov. 1988, p.927
SANTOS, Antônio Silveira Ribeiro. Programa
Ambiental: A Última Arca de Noé, 1999. http:/
/www.aultimaarcadenoe.com/index1.htm
RESULTADO
Das 18 solicitações emitidas pelas autori- ANEXO - ver página 18
dades requisitantes para constatação de polui-
ção sonora, 16 (88,8%) foram provenientes do
Ministério Publico de Santo Antonio de Jesus.
Os peritos constataram, durante a realização dos
exames, ocorrência de poluição sonora em 15
casos (83,3%), todos ocorridos em área urbana.
Desse total, verificou-se que a maior parte
(33,3%) tinha origem em bares e 26,6 % de car-
ros de propaganda. Além disso, verificou-se que
10 casos (66,6%) de emissões excessivas fo-
ram efetuados em áreas predominantemente
residenciais, sendo 50% destes em período no-
turno, após as 22:00hs.

CONCLUSÃO
Os dados acima citados, embora ainda re-
presentem uma pequena amostra, diante da mag-
nitude em que se apresenta o problema, refle-
tem o descaso por parte dos infratores com a
saúde ambiental coletiva, ocorrida, principal-
mente na cidade de Santo Antônio de Jesus.
Torna-se necessário, entretanto, um melhor apa-
relhamento da Regional e maior envolvimento

17
18
A PERÍCIA NOS CASOS DE POLUIÇÃO SONORA DESENVOLVIDA PELA COORDENADORIA REGIONAL DE
POLÍCIA TÉCNICA DE SANTO ANTÔNIO DE JESUS, PERÍODO 2000 - 2003.
FONÉTICA FORENSE: IDENTIFICAÇÃO DE FALANTES

ENG.º ANTONIO CÉSAR MORANT BRAID


Perito Criminal
Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto

Artigo de Discussão

A FONÉTICA FORENSE gico do aparelho fonador, estudando seus órgãos e articu-


Os aspectos comuns de comportamento dos indivíduos ladores e os sons por ele produzidos, além de suas configu-
expressam características adquiridas do grupo regional e rações durante a produção desses sons. O aparelho fonador
social em que tiveram a sua formação cultural. Os modos representa-se por um tubo ressonante com início nos pul-
comportamentais de um homem são reflexos de suas expe- mões e final ramificando-se para a boca e o nariz, portanto
riências vividas, sobretudo no seu período de formação e composto pelas seguintes partes: pulmões, traquéia, larin-
crescimento. Assim, os traços lingüísticos do falante tam- ge com as pregas vocais, faringe, nariz e boca.
bém são marcados pelo ambiente de sua formação e cresci- Do ponto de vista fisiológico, a produção da fala ocorre
mento, portanto, ao se comunicar através da fala, o indiví- segundo três sistemas, atuando de modo sucessivo, contro-
duo expressa o seu pensamento de acordo com a sistemáti- lados pelo falante, cada qual contribuindo especificamente
ca de suas idéias, de seu conhecimento, dos padrões de com- para o resultado final, estando descritos a seguir:
portamento adquiridos, e atitudes que dão pistas do seu perfil
e ambiente de origem. Nessa perspectiva, a fala não trans- • Respiratório: há a emissão de corrente de ar dos pul-
mite apenas uma mensagem em sentido estrito, como numa mões, que é a fonte de energia aerodinâmica da fala, per-
simples frase escrita numa folha de papel, ela veicula, ao correndo a traquéia e alcançando a laringe. Por meio do
mesmo tempo, informações de caráter pessoal que qualifi- sistema respiratório, o falante controla vários aspectos de
cam o falante quanto à sua formação lingüística e cultural, sua sua fala, como a intensidade sonora ou as pausas durante
origem regional e social, além de estabelecer dados sobre sua uma locução.
identidade física e o seu estado de humor momentâneo. • Laringeal: na laringe, a corrente de ar atravessa as pregas
A Fonética (do grego, phonetiké) tem por objeto a fala, vocais, podendo ou não esta corrente transformar-se em
mediante o estudo da produção e percepção dos seus sons. pulsos de ar pela vibração das pregas vocais. Neste siste-
Portanto, trata-se de um extraordinário meio que pode ser ma, o falante decide se quer produzir um som vibratório,
utilizado para o conhecimento dos traços característicos de como o existente em [a], ou sem vibração, como ocorre
um indivíduo, do seu perfil e de todas as outras pistas que em [s].
puderem ser inferidas a partir do seu material fonético. As- • Supralaringeal: os pulsos ou a corrente contínua de ar,
sim, este tipo de informação vem a ser um meio de identifi- após atravessarem a laringe e alcançarem a faringe, po-
cação humana e, em muitos casos, quando existe apenas a derão sofrer as mais diversas obstruções ou constrições à
voz como fator de identificação, o único. A análise da fala sua passagem, em vários pontos de articulação desse sis-
apresenta-se como uma ferramenta auxiliar a várias áreas, so- tema, até serem irradiados pelos lábios ou o nariz, for-
bretudo a forense. A utilização da Fonética na área forense é mando o som desejado pelo falante e completando a ca-
necessária e, quase sempre, insubstituível para a solução de cri- deia da produção da fala. Configurando os órgãos e arti-
mes em relação aos quais existam vozes registradas em algum culadores do sistema supralaringeal, o falante determina
tipo de mídia, sendo possível a identificação do falante. qual código sonoro da fala quer produzir, como abaixan-
do a língua para realizar [a], ou elevá-la, em [i].
A IDENTICAÇÃO DE FALANTES
A identificação de falantes é a atividade pericial den- A produção de cada código sonoro da fala exige confi-
tro da Fonética forense capaz de determinar se duas fa- gurações específicas do aparelho de fala, seja, por exem-
las foram produzidas por um mesmo indivíduo. Este tipo plo, pela vibração ou não das pregas vocais ou o posiciona-
de exame é realizado por meio de análises técnico-com-
parativas das vozes dos falantes para que o perito possa
concluir quanto a unicidade.
A análise da fala possibilita a identificação de ele-
mentos característicos do falante, no entanto, para que
seja realizada de modo eficaz, é preciso conhecê-la se-
gundo vários aspectos. Através de um deles, pode-se bus-
car compreender o comportamento anatômico e fisioló-

19
mento adequado de lábios e língua, como em [p], ticas fisiológicas que podem ser refletidas na
[t] e [g]. fala, como anomalias, protusões ou ausênci-
Pode-se perceber que, apesar das pessoas as dentárias e gagueira;
procurarem produzir sons padronizados para • Idiossincrasias: constatando a forma própria
serem compreendidos e interpretados pelo ou- do falante de reagir e empregar a fala.
vinte, há diferenças entre as falas. Este fato se
deve às naturais diferenças motoras, anatômi- A conjugação adequada de todos os fatores
cas e fisiológicas dos aparelhos fonadores dos de caráter perceptual permite se estabelecer um
indivíduos, resultando em configurações geo- perfil do falante e também se obter elementos
métricas e texturas de material distintas, agra- qualitativos de sua fala de modo a compará-la
vando-se pelo alto dinamismo do ato de falar. com a de outros indivíduos.
Além disso, por ser a fala um fenômeno apren- Apesar de toda a capacidade perceptiva da
dido, a formação lingüística do indivíduo exer- audição, a fala é um ato que se realiza de modo
ce forte influência no comportamento da sua transiente e não deixa vestígios no ar. Portanto,
FONÉTICA FORENSE: IDENTIFICAÇÃO DE FALANTES

fala, acentuando ainda mais as distinções entre logo após a sua produção, todos os seus efeitos
elas. O exame de identificação de falantes, as- físicos desaparecem, só podendo ser resgatados
sim, exige um método que permita analisar a recorrendo-se à memória auditiva. Entretanto,
fala como o resultado acústico de tubos resso- os eventos da fala mais marcantes lingüística
nantes do aparelho fonador associado às influ- ou foneticamente, em geral, se sobrepõem quan-
ências exercidas pela formação lingüística do to à fixação das informações, fazendo com que
indivíduo. Este método corresponde à análise os de incidência menos acentuada sejam pobre-
perceptual conjugada com a análise acústica. mente fixados na memória auditiva, e nem sem-
Numa primeira fase da identificação de falan- pre os eventos mais marcantes lingüística e fo-
tes, a impressão auditiva serve para determinar os neticamente são os mais importantes na com-
traços fonéticos do indivíduo, fazendo uma sele- paração de detalhes acústicos. Também, os even-
ção dos aspectos de sua fala, para comparação per- tos acontecem de modo muito rápido e dinâmi-
ceptual com os traços de outro locutor. co, e a quantidade de informações acústicas reu-
A análise perceptual é fundamental e cor- nidas é enorme. Assim, torna-se indicada a rea-
responde a exames qualitativos que enfocam lização de exames que permitam observar to-
desde a Fonética articulatória da produção dos dos os detalhes acústicos que não podem ser
sons da fala, passando pela Fonologia, até a Lin- examinados e mensurados mediante a análise
güística. Trata-se de exames que atuam sobre perceptual, registrando-os eletronicamente em
as falas dos locutores visando a compará-las, sistemas de processamento e análise acústica.
observando-se aspectos do tipo: Portanto, associada à análise perceptual,
deve estar a análise acústica, sendo possível,
• Segmentais: estudando os padrões de vogais dessa forma, se obter informações além da im-
e consoantes, suas qualidades, aplicações e ar- pressão auditiva, mas também acústica, obser-
ticulações; vando em modelos gráficos, numéricos e esta-
• Supra-segmentais: analisando os padrões de tísticos, o comportamento acústico da fala e os
entonação e acentuação, o ritmo de fala e seu efeitos das configurações do aparato vocal.
comportamento temporal; A análise acústica possibilita a mensuração,
• Fatores paralingüísticos: observando fenô- através de valores numéricos de freqüência,
menos relativos à qualidade de voz do falante energia e tempo, de fenômenos da fala que in-
e à sua velocidade de fala, além de ocorrênci- dicam os efeitos produzidos a partir de confi-
as como cacoetes, risos, tosses e outros even- gurações específicas do aparelho fonador, como
tos afins; devido às geometrias na cavidade oral e as vi-
• Dialetais: investigando a aplicação de pala- brações das pregas vocais.
vras nas sentenças, o uso das regras gramati- A análise de espectrogramas, por exemplo,
cais, a prosódia típica e demais aspectos que fornece informações para se observar o com-
denotam hábitos adquiridos pelo falante a par- portamento dos parâmetros das vozes investi-
tir do grupo do qual ele faz parte; gadas e para se extrair valores de freqüência,
• Socioleto: estabelecendo inferências sobre o energia e tempo. A figura abaixo mostra dois
nível social do falante a partir do modo de se espectrogramas, correspondentes à palavra “Ge-
expressar pela fala; raldo”, utilizados como um dos exames acústi-
• Idioleto: verificando características individu- cos num caso real de verificação de locutor que,
ais do falante, como sexo, faixa etária, estado quando comparados, forneceram informações
emocional e outros fatores correlatos; convergentes quanto à unicidade do locutor que
• Fatores fisiológicos: constatando caracterís- produziu as falas.

20
ENG.º ANTONIO CÉSAR MORANT BRAID

Espectrogramas da palavra “Geraldo” – Laudo n º 5356 DPT-BA.

CONCLUSÃO
A identificação de falantes, assim, tem o obje-
tivo de determinar a autoria de uma voz e, portan-
to, serve como meio de prova, na área forense,
para atribuir a alguém a autoria de um crime, a sua
participação nele, ou a ele relacionar. Na maioria
dos casos, é um meio suficiente de prova e, em
outros, e não pouco freqüentes, o único, sem o
qual jamais poderá ser comprovado o autor do
delito. Um exame de identificação de falante tam-
bém é capaz de desvincular o envolvimento de
um inocente num crime que lhe possa estar sendo
imputado, o que talvez seja até mais importante
do que incriminar um culpado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Braid, Antonio César Morant. Fonética Forense.
2. ed. - Campinas, SP: Millennium, 2003.

21
CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DA ECONOMIA DO CRIME

ELSON JEFFESON NEVES DA SILVA


Perito Criminal
Mestre em Análise Regional - UNIFACS
Especialista em Comunicação e Política-UFBA
Químico e Sociólogo - UFBA

Artigo Original

RESUMO Para Castells (1999) a discriminação social e segrega-


Este artigo analisa a relação entre o crime organizado e ção espacial são os principais fatores de formação e conso-
a política de segurança pública, buscando evidenciar os prin- lidação de guetos como sistema de exclusão social, que tor-
cipais elementos desse fenômeno criminal e ressaltando na o ambiente propício para a proliferação do crime. A eco-
fatores sociais, causadores de desequilíbrios que provocam nomia do crime oferece aos segmentos dessas populações
o crescimento da violência urbana. estratégias de sobrevivência que têm como conseqüência o
aumento da violência urbana. Nesse contexto, a cidade tor-
PALAVRA CHAVE na-se o local do embate social, entre grupos aceitos como
Crime Organizado, Economia do Crime. legítimos e grupos excluídos social e economicamente. Em
sua obra “A Economia Urbana”, Fernando Pedrão (2002)
ABSTRACT diz que nas cidades brasileiras grande parte do corpo social
This article analyzes the relation between the organi- se organiza segundo regras que são formalmente ignora-
zed crime and the politics of public security, searching to das, mas que de fato se impõem sobre a maioria dos habi-
evidence the main elements of this criminal phenomenon tantes. Esse processo se apresenta no campo físico, isto é,
and being standed out social, causing factors of disequili- na forma como são construídas as casas e habitações em
bria that provoke the growth of the urban violence. geral, e também nas formas de organização social e nas
estratégias de sobrevivência que tendem a refletir no cam-
KEY WORD po da segurança pública.
Economy of the crime, organized crime. As estatísticas demonstram o efeito da violência no
comportamento da sociedade, modificando sensivelmen-
INTRODUÇÃO te a organização urbana, principalmente em regiões onde
O tema violência urbana está na ordem do dia e este há maior exclusão social e maior penetração de organi-
artigo pretende fazer uma leitura do fenômeno, analisando zações criminosas.
seus efeitos sobre a sociedade e seus desdobramentos, real-
çando a economia do crime como principal elemento da CRIME ORGANIZADO:
ascensão da criminalidade. UMA QUESTÃO CONCEITUAL
O crescimento da violência nos países de economia pe- O avanço da economia do crime nas grandes cidades
riférica deve ser analisado levando em consideração a fra- brasileiras, principalmente o tráfico de drogas, que se-
gilização dessas economias, ocasionada por mudanças es- guramente é o ramo mais lucrativo e de maior visibilida-
truturais nos mercados de trabalho, que provocaram o de- de das atividades criminosas, nos leva à análise dos con-
semprego estrutural, mudanças culturais e alterações das ceitos de crime organizado e suas diversas facetas na
aspirações de consumo. sociedade.
Isto aliado à crise do Estado do bem-estar social, desa- Devem ser mencionados outros tipos de modalida-
gregação da família patriarcal sem a substituição desses mo- des operadas pelo crime organizado para o melhor di-
delos por uma forma alternativa de convívio social e o sur- mensionamento desse gênero criminoso que se amplia
gimento de uma economia do crime global, causou a inten- com o advento da globalização: tráfico de armas, tecno-
sificação da criminalidade nos centros urbanos. Esse cres- logia, materiais radioativos, órgãos humanos, contraban-
cimento substancial da violência urbana é a conseqüência do e descaminho dos mais diversos, cujos crimes devem
mais visível da penetração da economia do crime nas esfe- ter o mesmo tratamento pelo aparelho repressivo do Es-
ras da sociedade e nas suas instituições, que se apoderaram tado. Essas modalidades são tratadas principalmente pela
de territórios, onde segmentos da população pobre destitu- imprensa como atividade secundária e de pouca impor-
ída dos direitos básicos de cidadão não são assistidos, trans- tância, mas, na verdade, elas também alimentam a de-
formando-se em bases operacionais dessas organizações. sestabilização e subversão do Estado Nação.

22
Dos conceitos aplicados ao crime organizado, dem seu espectro de atividades para ações ilícitas,
nos remetemos aos dois principais discursos a ele mergulhando parte de sua estrutura na economia
ELSON JEFFESON NEVES DA SILVA

dirigidos: o norte-americano e o europeu, mais pre- do crime.


cisamente o italiano. No discurso americano, fica Nesta arena do mercado globalizado, as asso-
claro o tom xenófobo, definindo o crime organi- ciações ou estruturas empresariais constituídas para
zado como uma conspiração de grupos étnicos es- atividades criminosas buscam controlar certos ter-
trangeiros contra o “modelo de vida e governo ritórios em posição de vantagem econômica na
americanos”. As denominações das quadrilhas que competição com outras empresas. Aproximam-se
atuam na economia do crime denominadas de “sin- do Estado na busca no poder político e intercâm-
dicato do crime” (máfia italiana, máfia russa, má- bio com suas instituições, no intuito de facilitar
fia chinesa, etc.) comprovam esta tese. O estudo e seus negócios, que estão no campo do contraban-
o discurso sobre o crime organizado na Itália estão do, tráfico de drogas, tráfico de armas, tráfico hu-
vinculados à Máfia Siciliana. mano e outros.
Esses conceitos oriundos da criminologia ame- Em síntese, essas organizações criminosas são
ricana e européia para o crime organizado não sa- sujeitos econômicos estruturados como empresas
tisfazem a complexidade do fenômeno nos países baseadas na associação do capital legal e ilegal,
do terceiro mundo. Seria mais bem explicado se entretanto, são formadas por uma elite criminosa
analisarmos o modelo político neoliberal implan- com o objetivo de acumulação de capital. As em-
tado nos países de economia periférica, como o presas que atuam como fachada das organizações
Brasil, e pela dinâmica do mercado globalizado, criminosas desenvolvem empreendimentos no in-
que criou novas áreas do mercado (jogos eletrôni- tuito de legitimar e ampliar o fluxo de seu capital
cos, o mercado da droga, jogos de azar, entre ou- e, para isto, utilizam-se de métodos violentos e ile-
tros), não disciplinadas por um Estado que não gais para a condução dos seus empreendimentos,
acompanhou as evoluções e foi terrivelmente ata- no intuito de levar vantagens competitivas, e para
cado por ideologias liberais que propõem o Esta- o desencorajamento da concorrência. A função da
do mínimo e a total liberdade para o mercado. Isso empresa legal na estrutura da organização é ga-
reduziu o papel do Estado e dificultou sua atuação rantir acesso ao mercado financeiro, facilitando a
nos diversos campos, uma vez que a mobilidade “lavagem” do dinheiro, transformando o capital
de capitais acentuada torna os países extremamente ilegal em capital legal.
vulneráveis a mudanças nas expectativas, inviabi- É mister salientar que a liberação do jogo de
lizando o prosseguimento de políticas internas nos azar pelos Governos dos Estados torna-se o calca-
campos social e econômico e refletindo, de forma nhar de Aquiles para o combate a essas organiza-
marcante, nas questões de segurança pública. Esse ções, pois facilita a lavagem de dinheiro, permi-
reflexo provoca alterações na dinâmica e na estru- tindo a elas legalizarem enormes quantidades de
tura da sociedade, tendo como resultado mais vi- dinheiro pelo pagamento de impostos sobre valo-
sível o crescimento da economia do crime, que, res declarados muito superiores aos arrecadados.
aproveitando-se da fragilidade do Estado e da mão Isto proporciona capital suficiente a essas organi-
de obra farta para suas atividades, floresce como zações para se aproximarem da estrutura do poder
um Estado Paralelo. do Estado, infiltrando-se no aparelho repressivo e
Os conceitos de crime organizado tratados político através da sedução financeira dos prepos-
pelos diversos autores nos remetem a questões no tos do Estado (juízes, deputados, senadores e ou-
âmbito da política econômica, desenhada pelo fe- tros elementos do aparelho repressivo do Estado),
nômeno da globalização, que é caracterizado: pelo de modo a garantir a imunidade aos negócios ilíci-
deslocamento espacial das diferentes etapas do tos e isenção de seus membros no que tange à re-
processo produtivo; desenvolvimento tecnológi- pressão policial.
co acentuado nas áreas de telemática e informáti- Para efeito ilustrativo do poder dessas organi-
ca; mobilidade externa de capitais. Assim como a zações e para que se tenha exata dimensão do po-
economia e as relações sócio - políticas foram adap- der da economia do crime e sua ameaça ao Esta-
tadas ao modelo imposto, o crime adaptou-se ao do, apresentamos alguns dados que comprovam
novo modelo econômico, criando estruturas e ali- esse poder: segundo a ONU, na conferência so-
anças com empresas que operam dentro desses bre o crime global organizado, o mercado mun-
novos parâmetros. dial de drogas atinge por ano a cifra de US$ 500
bilhões por ano; em 1994, na cidade de Nápo-
RELAÇÃO INCESTUOSA DO les, na Itália, realizou-se a conferência sobre a
CAPITAL “LEGAL E ILEGAL” economia do crime em escala global patrocina-
Empresas criadas sob esse signo buscam ma- da pela ONU, que denunciou que cerca de US$
ximizar o lucro e, nessa busca, algumas empresas 750 bilhões por ano são lavados no sistema fi-
associam-se a organizações criminosas ou esten- nanceiro mundial.

23
O Brasil, na conexão formada na América pelas forças de mercado. Ampliado pelos efeitos
Latina, tem como função principal o refino e dis- da reengenharia e do enxugamento da produção,
CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DA ECONOMIA DO CRIME

tribuição das drogas. Isso ocorre em virtude de sua intensamente aplicado nas décadas de 1980 e 1990,
larga extensão territorial e pelo fato de ter frontei- que trouxe um sentimento de precariedade, au-
ras com a Colômbia, a Bolívia e o Peru, que são mentando as desigualdades sociais e criando um
grandes produtores de tóxicos. Consta que pelo ambiente propício para o fortalecimento da eco-
corredor brasileiro do tráfico passam cerca de 120 nomia do crime.
toneladas de cocaína por ano. Com essa cifra, pode- Em síntese, o crime organizado na sua faceta
se imaginar o poder de sedução desse segmento globalizante compromete a autonomia e a capaci-
do crime organizado. dade de decisão do Estado, fragilizando-o. Por isso,
Na análise sobre o crime organizado, deve-se a importância do fortalecimento do aparelho re-
evitar as teorias simplistas que defendem que o pressivo do Estado, principalmente no campo da
crime organizado tem como causa exclusivamen- inteligência e Polícia Científica, não deixando de
te a criminalidade, excluindo da análise as respon- lado as políticas sociais inclusivas.
sabilidades do capital financeiro internacional que,
aliado às elites conservadoras dos países do Ter- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ceiro Mundo, criam as condições adequadas à ex- CASTELLS, Manuel. Fim do milênio. A era da
pansão da criminalidade em termos globais e, even- informação: economia, sociedade e cultura. Vo-
tualmente, de organizações criminosas locais, que lume 3, Paz e Terra. São Paulo - SP.
estão vinculadas ao aumento da pobreza e da ex- PEDRÃO, Fernando. Economia Urbana. Edito-
clusão social que lhes oferece mão de obra abun- ra da UESC. Ilhéus-Ba.2002.
dante e barata. FERNANDES, Newton. Criminologia integra-
da. Editora Revista dos Tribunais São Paulo-SP
CONCLUSÃO 2002.
As estratégias utilizadas para reduzir a crimi- YOUNG, JOCK. A Sociedade Excludente. Ex-
nalidade tornaram-se ineficientes frente à moder- clusão social, criminalidade e diferença na mo-
nização e à organização do crime, que se vale de dernidade recente. Coleção Pensamento Crimi-
métodos empresariais. Somente uma polícia inves- nológico vol. 7 Editora Revan 2002 Rio de Janei-
tigativa e científica bem equipada, atuando com ro-RJ.
tecnologia de ponta, pode minimizar os efeitos de- ZAFFARONI, EUGENIO RAÚL. Crime orga-
vastadores desse crescimento. nizado: uma categorização frustrada, in Discur-
Levando em conta que todo sistema crimino- sos sediciosos, 1 (1996), p. 59-63.
so só faz sentido, do ponto de vista empresarial, se
os lucros gerados puderem ser aplicados e rein-
vestidos na economia legal, a lavagem do dinhei-
ro é a grande matriz do crime organizado. E não
devemos deixar de reafirmar que a inserção do di-
nheiro ilícito na economia legal se dá através do
sistema financeiro, via bancos ou instituições fi-
nanceiras, por isso o combate a essa modalidade
criminosa deve-se empenhar, com mais afinco, no
combate à lavagem de dinheiro, criando mecanis-
mos legais para esse fim.
Não podemos esquecer que, aliado à moder-
nização do aparelho repressivo do Estado, é extre-
mamente necessário políticas públicas com a fina-
lidade de distribuição de renda, com o intuito de
evitar a convocação, pelo crime organizado, das
classes subalternas que se encontram nos níveis
mais baixos de distribuição de renda/bens, que, no
estágio de exclusão em que se encontram, têm
como única estratégia de sobrevivência a aliança
com a economia do crime que lhes garante a sua
reprodução e sobrevivência.
O crescimento da criminalidade e, por conse-
qüência, a economia do crime, estão intrinseca-
mente ligados aos efeitos excludentes de segmen-
tos sociais gerados pelo projeto social moldado

24
INVESTIGAÇÃO DO SEXO ATRAVÉS DE MENSURAÇÃO
DE SUTURAS CRANIANAS

JEIDSON ANTÔNIO MORAIS MARQUES


Mestre em Deontologia e Odontologia Legal (USP)

PATRÍCIA KELER FREITAS MACHADO


Cirurgiã-Dentista

LUÍS CARLOS CAVALCANTE GALVÃO


Perito Médico Legal
Professor Titular do Departamento de Saúde (UEFS)

Artigo Original

RESUMO gistic regression and analysis of discritibe function in


Os autores estudaram 200 crânios de indivíduos adul- future comments being a method more for the diagnosis
tos, sendo 100 masculinos e 100 femininos, que falece- of the sex through the skull and that the index of right-
ram com idade superior a 20 anos, com sexo e idade ness for the logistic regression was of 70,3%.
conhecidos com absoluta segurança. Os crânios eram de
indigentes ou de pessoas cujas famílias não reclamaram KEY-WORKS
os ossos em tempo hábil administrativo estabelecido pela Human Identification – Physical Anthropology – Fo-
Instituição e que teriam como destino final o crematório rensic Odontology
ou inumação em vala comum. Diante dos dados obtidos
e submetidos à análise estatística, concluiu-se que: as INTRODUÇÃO
suturas cranianas estudadas apresentam dimorfismo se- A questão da identificação acompanha o homem des-
xual através de suas dimensões lineares; que é possível de os primórdios da sua existência.
a investigação do sexo por metodologias encontradas pela Inicialmente, teve que identificar os elementos da
média e intervalo de confiança, regressão logística e aná- natureza como a água, o ar, o fogo, e a terra, e identificar
lise de função discriminante em observações futuras, o que cada um poderia trazer de bom ou de ruim. Assim,
sendo um método a mais para o diagnóstico do sexo atra- aprendeu que não podia sobreviver sob a água, que o
vés do crânio, e que o índice de acerto pela regressão fogo lhe provocava queimaduras. Identificava seu seme-
logística foi de 70,3%. lhante pelo cheiro e pela aparência. À medida que foram
se agrupando e começaram a disputar comida e territó-
PALAVRAS-CHAVE rio, tiveram a necessidade de identificar seus inimigos.
Identificação Humana – Antropologia Física – Odon- À medida que a população crescia, se organizava em
tologia Legal vilas e cidades, surgiram os delitos considerados noci-
vos pela ética e moral da sociedade e esta passou a iden-
ABSTRACT tificar os criminosos e delinqüentes. Na França antiga, o
The authors had studied 200 skulls of adult indivi- ferrete (ferro para marcar gado) era usado na forma de
duals, being 100 mans and 100 womans, that the 20 ye- flor de lis na região frontal ou escapular, a depender da
ars dead with superior age, with known sex and age with peculiaridade do indivíduo marcado. Com as idéias de
absolute security. The skulls were of beggars or people Cesare Lombroso, o “mestre de Turim” nasce a antropo-
whose families had not complained the bones in admi- logia criminal, e com ele a antropometria, que teve seu
nistrative skillful time established by the Institution and desenvolvimento acelerado a partir de Aphonso Berti-
that r burial in common ditch would have as final desti- llon. Homens, como Lacassagne, Brouardel, e outros,
nation. Ahead of the data gotten and submitted to the desenvolveram a antropometria forense, aprimorando
statistics analysis that as was concluded studied skulls conhecimentos ao longo dos tempos.
sutures presents sex dimorfism through its linear dimen- Não raro, os peritos recebem para exame, ossadas
sions; that it is possible the inquiry of the sex for metho- ou partes delas, ou até mesmo um osso isolado. Através
dologies found for the average and reliable interval, lo- de metodologias antropológicas, qualitativas e quantita-
25
tivas, estes “experts” buscam a investigação e Estadual de Feira de Santana e o Cemitério Quin-
DE SUTURAS CRANIANAS estimativa de dados biotipológicos como: sexo, ta dos Lázaros, pertencente à Secretaria de Saú-
INVESTIGAÇÃO DO SEXO ATRAVPES DE MENSURAÇÃO

fenótipo cor da pele, estatura e idade. de do Estado da Bahia, celebrado dentro dos
O sexo não oferece dificuldade na sua iden- valores éticos e legais vigentes.
tificação quando diante de um cadáver íntegro As mensurações foram feitas tomando-se
e recente, no entanto, em condições especiais como base as seguintes distâncias: lambda-breg-
como putrefação, carbonização, esqueletização, ma (arco); lambda-bregma (corda); sutura sagi-
esta tarefa torna-se difícil, incerta e às vezes im- tal palatina anterior; sutura sagital palatina pos-
possível por métodos antropológicos. terior; sutura sagital palatina (total); distância
As suturas cranianas têm sido vistas do pon- entre a espinha nasal posterior e borda anterior
to de vista investigatório, direcionadas para a do forame magno.
questão da idade através das sinostoses. Parece
importante, portanto, que se faça estudo destas RESULTADOS
suturas relacionando as dimensões com o dado Os dados obtidos foram submetidos à aná-
biotipológico sexo. lise estatística, verificando-se os seguintes re-
GALVÃO (1998)1 mensurou 151 crânios de sultados: foi estabelecido a média e intervalo
indivíduos com mais de 20 anos, todos de pro- de confiança para cada uma das medidas efetu-
cedência, sexo e idade conhecidos, estudando o adas, no entanto o teste X2 apresentou valor de
comprimento da curva frontal. Após a análise P> 0,05, o que indica que a investigação do sexo
estatística, obteve um modelo de regressão lo- pela média e intervalo de confiança nesta meto-
gística com acerto de 80,3%. dologia pode ser vista com reserva, pois a mar-
SALIBA (1999)2 estudou medidas crania- gem de erro é próxima de 39%.
nas em 198 crânios, sendo 93 femininos e 105
masculinos, de pessoas adultas com mais de 23
anos de idade, e elaborou-se uma fórmula que
permite grau de confiabilidade de 69,33% para
sexo feminino e 73,08% para o masculino.
MACHADO et al. (2000)4 pesquisaram 51
crânios e analisaram o índice condílio de Bau-
doin e concluíram que houve concordância de
58,1% dos casos analisados, e discordância de
39,4%, sendo 2,5%, casos duvidosos. Finali-
zaram, afirmando que a metodologia empre-
gada por Baudoin, quando aplicada em brasi-
leiros, é factível de erros na demonstração do
dimorfismo sexual.
GALVÃO (2003)6 estudou 170 mandíbu-
las, sendo 70 femininas e 100 masculinas. Não
foram levadas em consideração variáveis
como fenótipo cor da pele, idade adulta, e es-
tatura dos indivíduos a quem as mandíbulas
pertenceram. Os resultados permitiram esta-
belecer uma fórmula por regressão logística
com índice de acerto de 84% na investigação
do sexo em avaliações futuras.

MATERIAL E MÉTODOS
Os autores estudaram 200 crânios de indi- Pela regressão logística pôde-se estabelecer a
víduos adultos, sendo 100 masculinos e 100 fe- fórmula:
mininos, que faleceram com idade superior a
20 anos, com sexo e idade conhecidos com ab-
soluta segurança. Os crânios eram de indigen-
tes ou de pessoas cujas famílias não reclama-
ram os ossos em tempo hábil administrativo es- Legenda:
tabelecido pela Instituição e que teriam como e = constante neperiana 0,71828
destino final o crematório ou inumação em vala ssag - arco - comprimento do arco da sutura sa-
comum. O presente estudo foi viabilizado atra- gital
vés do convênio existente entre a Universidade sps - total - comprimento da sutura palatina

26
espnas - formag - distância da espinha nasal pos- o feminino.
terior à borda anterior do forame magno A análise de função discriminante e regres-
JEIDSON ANTÔNIO MORAIS MARQUES

LUÍS CARLOS CAVALCANTE GALVÃO


PATRÍCIA KELER FREITAS MACHADO
são logística revelou a possibilidade do estabe-
Por esta metodologia, obteve-se um índice lecimento de metodologias que podem ser usa-
de acerto na amostra de 70,3%. das em observações futuras como mais um
Através do estudo da análise de função dis- método para investigações do sexo através do
criminante foi possível estabelecer as seguintes crânio. Os resultados obtidos não diferem
fórmulas: muito daqueles encontrados por outros auto-
res em trabalhos realizados em amostra naci-
onal e estrangeira.
Por vezes, há situações onde o Perito irá dis-
por de apenas um osso para exame e através dele,
tentará investigar os dados biotipológicos, como
espécie, sexo, fenótipo cor da pele, idade e es-
tatura. Nesta difícil tarefa é necessário que se
use todas as metodologias disponíveis, morfo-
lógicas e quantitativas, e a análise do resultado
em conjunto, questionando-se taxas de erros e
limitações dos métodos. Assim, o presente es-
O maior resultado indica o sexo; o índice de tudo oferece uma grande contribuição quando a
acerto por esta metodologia foi de 64%. tarefa pericial for a investigação do sexo pelo
estudo de suturas cranianas.
DISCUSSÃO
Os Peritos Médico-Legais e Odonto-legais, CONCLUSÕES
por vezes, recebem para exame apenas um úni- Diante dos dados obtidos e submetidos à
co osso. Muitas vezes sem informações sobre análise estatística, podemos concluir que:
suspeitos desaparecidos, para uma comparação 1) As suturas cranianas estudadas apresentam
através de metodologia genética bio-molecular dimorfismo sexual através de suas dimensões
(DNA). A osteologia e a antropometria são in- lineares.
dispensáveis quando se realiza procedimentos 2) É possível a investigação do sexo por meto-
identificatórios através dos ossos. Os aspectos dologias encontradas pela média e intervalo
morfológicos são subjetivos, podendo sofrer va- de confiança, regressão logística e análise de
riações interpretativas pessoais que tornem vul- função discriminante em observações futu-
neráveis os resultados apresentados por este pro- ras, sendo um método a mais para o diagnós-
cedimento isolado. tico do sexo através do crânio.
As observações de autores durante mais de 3) O índice de acerto pela regressão logística
um século sobre aspectos morfológicos da man- foi de 70,3%, o que representa uma taxa
díbula são tomados como dogmas, muitas ve- satisfatória.
zes sem questionamento ou comprovação por 4) Todas as medidas efetuadas na amostra,
experiência científica. Por outro lado, há de se mostraram-se, em média, maiores no sexo
levar em conta fatores climáticos, alimenta- masculino.
res, culturais e sócio-organizacionais, segu- 5) É possível estabelecer e confeccionar um software
ramente interferem na ossatura humana, pro- para execução das fórmulas encontradas.
duzindo uma diversidade de resultados, quan-
do comparados em diferentes populações. Daí REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
a necessidade do desenvolvimento de pesqui- 1. Galvão LCC. Determinação do sexo através
sas antropológicas e antropométricas em da curva frontal e apófise mastóidea [Tese de
amostra de população nacional. Doutorado]. Piracicaba. Faculdade de Odon-
Os resultados demonstram que existem di- tologia de Piracicaba - UNICAMP; 1998. 142
ferenças entre as medidas estudadas em relação p.
ao sexo, sendo todas elas estatisticamente sig- 2. Saliba CA. Contribuição ao estudo do dimor-
nificantes, portanto, as suturas cranianas em fismo sexual, através de medidas do crânio.
referência às suas dimensões lineares se mos- [Tese de Doutorado] Piracicaba. Faculdade
traram diferentes, em média, entre os sexos. de Odontologia de Piracicaba - Universidade
As médias masculinas mostraram-se maiores Estadual de Campinas; 1999. 127p.
que as femininas, demonstrando o aspecto 3. Galvão LCC et al. Determinação do sexo por
morfológico citado por vários autores3,5,7 de análise quantitativa da mandíbula. Pernambu-
que o crânio masculino é, em geral, maior que co: Rev Cons Reg Odont 1999b;2(1):16-19.

27
4. Machado SR et al. Verificação da aplica-
DE SUTURAS CRANIANAS bilidade do índice de Baudoin para a deter-
INVESTIGAÇÃO DO SEXO ATRAVPES DE MENSURAÇÃO

minação do sexo. 2000. Disponível em: URL:


http://www.ibep-ba.com.br/publica9.htm
[2001 out. 02].
5. Abe DM. Avaliação do sexo por análise da
função discriminante a partir de dimensões
lineares do crânio [Dissertação de Mestrado].
FOP/ UNICAMP; 2000. 125 p.
6. Galvão LCC. Avaliação morfológica e quan-
titativa da mandíbula humana para investi-
gação do sexo [Tese Professor Titular]. Feira
de Santana. Universidade Estadual de Feira
de Santana; 2003.
7. Rissech C, García M, Malgosa A. Sex and
age diagnosis by ischium morphometric
analysis. Forensic Sci Intern 2003; 135(3):
188-196.

28
R ESENHA LITERÁRIA

A NOVA LEI DAS ARMAS DE FOGO (Comentários pressões Digitais, os Afis. A obra segue com estudos a res-
à Lei n. 10.826, de 23 de dezembro de 2003), Autor: peito da identificação humana através do DNA, a técnica
José Geraldo da Silva, 1ª Edição, Editora Millennium. de PCR, Genética dePopulações e as probabilidades asso-
Existem no país, cerca de 8 milhões de armas de fogo, ciadas ao exame do DNA, investigação de crimes sexuais e
um terço das quais em condições ilegais. Mais de 45.000 determinação de paternidade, sendo comentados uma série
pessoas morrem por ano, vítimas de homicídios provo- de casos reais e interessantes. Minuciosa abordagem é feita
cados por armas de fogo, e os números não param de à Perícia Odontolegal, sendo tratada a investigação pelos
crescer. Para reverter esse quadro, os nossos legislado- dentes, arcos dentários, Identificação Antropológica e ou-
res, de forma responsável e decidida, se apressaram na tras técnicas nas investigações criminais, inclusive relacio-
aprovação do projeto de lei que proíbe os portes e regis- nando a odontologia legal à identificação humana pelo DNA
tros indiscriminados de armas de fogo em todo o territó-
rio nacional. Sancionada a Lei n. 10.826, de 23/12/03 LEIS PENAIS ESPECIAIS ANOTADAS – Autores:
pelo Presidente da República, foi regulamentada pelo De- José Geraldo da Silva, Wilson Lavorenti e Fabiano
creto n. 5.123, de 1º de julho de 2004. Genofre, 6ª Edição Editora Millennium . Prefaciado por
Guilherme de Souza Nucci, Luiz Flávio Borges D’Urso
GUIA QL – 2004/IDENTIFICAÇÃO DE VEÍCULOS e Fernando da Costa Tourinho Filho Esta sexta edição,
– Autores: Victor Manoel Quintela e Orlando Laitano revista e atualizada, reúne agora 22 principais Leis Pe-
Lionella Filho, 4ª Edição, Editora Millennium. Publicada nais Especiais. Comenta a recém regulamentada Lei das
pela primeira vez em 1986 pela Associação de Criminalís- Armas de Fogo, Estatuto do Idoso e Lei das Contraven-
tica do Rio Grande do Sul com o título de “Identificação de ções Penais. O escopo desta obra é fornecer aos estudio-
Veículos”, esta obra encerrava dados e informações coleta- sos e operadores do direito penal uma visão esquemáti-
dos ao longo de mais de 40 anos de atividades de perícias ca das leis penais especiais que surgiram nos últimos
em veículos, passando a ser largamente utilizada por opera- decênios, sem a preocupação de detalhar cada emissão
dores de licenciamento, vistoriadores de companhias de se- normativa de forma exaustiva. A intenção dos autores
guros e revendedores de veículos, além dos peritos crimi- não foi a de esgotar o assunto pertinente a cada matéria,
nalistas. As edições subseqüentes foram atualizadas com mas sim, delinear as usuais indagações formuladas em
informações fornecidas por fabricantes, representantes e re- torno de cada uma das leis. As considerações dispendi-
vendedores de marcas nacionais e estrangeiras, além de das a cada uma das leis permitem, tanto ao acadêmico
contribuições de inestimável valor oferecidas por leitores, quanto ao profissional, não só uma análise contextuali-
a quem dedicamos os nossos esforços. Esta quarta edição, a zada de cada lei, como também uma resposta às princi-
mais completa no gênero no Brasil e agora sob a denomi- pais questões relativas ao tema em análise.
nação de Guia QL 2004 – Identificação de Veículos, passa
a ter periodicidade anual. É apresentada em novo formato, MANUAL DE REDAÇÃO PROFISSIONAL - Autor:
nova organização das partes e impressão em duas cores sobre José Maria da Costa, 2ª Edição, Editora Millennium . Des-
papel especial na cor bege, facilitando, sobremaneira, as tinada não só a advogados, mas a profissionais de todas as
consultas pelos usuários. áreas, constitui guia seguro na redação de petições, recur-
sos, relatórios, textos, cartas, teses, livros, poemas, discur-
IDENTIFICAÇÃO HUMANA – Autores: Adriano Ro- sos, etc. Sobre o livro, assim se referiu Saulo Ramos, advo-
berto da Luz Figini, José Roberto Leitão e Silva, Luiz gado e ex-Ministro da Justiça: “Esta obra é fantástica! ...
Fernando Jobim, Moacyr da Silva, Edição,Editora Mil- um trabalho monumental de pesquisa e inteligente organi-
lennium Este livro apresenta algumas das principais técni- zação, em ordem alfabética, das expressões em português e
cas utilizadas para se estabelecer uma investigação a partir em brasileiro, tudo bem comentado, explicado em lingua-
de vestígios que podem ser encontrados em local de crime. gem simples, com exemplos didáticos e enriquecido, com
É organizado em quatro partes, cada qual consignada a re- citações de outros autores quase todos os que contribuíram
nomado especialista. Aborda, inicialmente, as impressões para a construção da catedral do idioma. Melhor do que as
digitais, apresentando breve história da identificação, suas quase noventa mil páginas da internet, melhor que todos os
características técnicas e processos de revelação mais co- autores de trabalhos sobre “a arte de escrever”, melhor que
muns. Trata, a seguir, das suas divisões e dos principais todas as respeitáveis obras até hoje publicadas como orien-
sistemas de classificação. Um capítulo é dedicado à intro- tadores lingüísticos e gramaticais, ou como auxílio e tira-
dução aos Sistemas Automáticos de Identificação de Im- dúvidas da língua portuguesa.

29
N ORMAS PARA PUBLICAÇÃO

Destinada a divulgar trabalhos científicos e ser acompanhados, obrigatoriamente, de resumo em


pesquisas produzidas pelos profissionais que atuam no português, que não exceda 70 linhas e resumo em inglês
Departamento de Polícia Técnica da Bahia (IMLNR, ICAP, fiel ao resumo em português. O autor deve fornecer o(s)
IIPM e LCPT), nas mais diversas áreas de conhecimento, nome(s) do(s) autor(es) e da instituição em que o elaborou.
conforme resolução do diretor Geral, Eduardo Dorea. Os No rodapé, serão mencionados auxílios ou dados relativos
trabalhos devem seguir as seguintes normas: à produção do artigo e seus autores.
II – Os trabalhos relativos à pesquisa experimental devem
1º - A Revista Prova Material será aberta, ter todas as informações necessárias que permitam ao leitor
preferencialmente, a profissionais da Polícia Científica, e avaliar conclusões do autor.
destinada à publicação de matérias que, pelo seu conteúdo, III - Os artigos originais deverão conter obrigatoriamente
possam contribuir para a formação e o desenvolvimento titulo, nome(s) do(s)autor(es), introdução, material e
científico, além da atualização do conhecimento nas métodos, resultado, discussão e conclusão (os três últimos
diferentes áreas do saber. itens podem ser agrupados em um só) e bibliografia citada.
2º - A revista científica do DPT terá periodicidade IV – Todos os trabalhos devem ser elaborados preferencialmente
quadrimestral com tiragem inicial de mil exemplares e em português e encaminhados em três vias, com texto corrigido
distribuição interna, em congressos, simpósios e eventos e revisado, além de gravado em disquete.
onde o Departamento de Polícia Técnica da Bahia estiver V – As ilustrações e tabelas com respectivas legendas devem
representado. ser confeccionadas eletronicamente, indicando o programa
3º -A responsabilidade de recebimento, seleção e edição do utilizado para sua produção.
material será do Editor(a) e do Secretário(a).O Conselho VI – A bibliografia e as citações bibliográficas, quando
Editorial, formado por profissionais lotados no DPT, ICAP, exigidas, deverão ser elaboradas de acordo com as normas
IMLNR, IIPM e LCPT, analisará o material recebido e de documentação da ABNT – 6023.
emitirá pareceres.O calendário de publicação da revista VII – Os limites estabelecidos para os diversos trabalhos
Científica, bem como as datas de fechamento de cada edição, podem ser excedidos, em casos excepcionais, a critério do
serão definidas pelo editor (a) da revista, em consonância Conselho Editorial.
com o conselho editorial e as disponibilidades orçamentárias. VIII – O papel utilizado é o A4 (210x297), impresso de um
4º - O Departamento de Polícia Técnica publicará em sua só lado, espaço 1,5 cm de entrelinhas, margem 2cm de cada
revista científica os seguintes trabalhos: um dos lados. O corpo do texto deverá estar em caixa alta e
I – Artigos originais, que envolvam abordagens teóricas ou baixa, tamanho/fonte 12. O título e subtítulo deverão estar
práticas referentes à pesquisa e trabalhos que atinjam em caixa alta tamanho/fonte 14, tipo Times New Roman.
resultados conclusivos e significativos, não devendo IX – O suporte utilizado será o disquete 3¹/² , composto no
ultrapassar 200 linhas de 70 toques cada; editor de textos word for windows, em fonte Times New
II – Comunicações, envolvendo textos mais curtos, nos quais Roman, tamanho 12.
são apresentados resultados preliminares de pesquisa em 6º - O Conselho Editorial poderá propor ao(a) editor(a)
curso, ou recém concluídas, devendo ter, no máximo, 40 adequação dos procedimentos de apresentação dos trabalhos
linhas de 70 toques cada. às especificidades da área.
III – Notas, entendidas como complementos de trabalho já 7º- Ao autor serão oferecidos dois exemplares da edição
publicados, dissertações ou comentários de autoria própria ou em que o seu trabalho for publicado
de outro, devendo ter, no máximo, 40 linhas de 70 toques cada; 8º - O original será entregue mediante comprovante de
IV – Artigos de revisão ou atualização, que correspondam recebimento aos representantes do Conselho Editorial.
a textos preparados por especialistas, a partir de uma análise 9º - Casos não previstos nesta norma serão analisados pelo
crítica da literatura sobre determinado assunto de interesse Conselho Editorial.
da comunidade de peritos, não devendo ultrapassar 100 Art. 10º - Os originais devem ser encaminhados ao Conselho
linhas de 70 toques cada; Editorial, na Coordenação de Comunicação, Cerimonial e
5º - A entrega dos originais para a revista obedecerá aos Marketing, 2º andar do DPT, e contatos mantidos também pelo
seguintes requisitos: telefone (71) 324-1692, Fax símile (71) 324-1622/1692. E-mail:
I – O artigo original e o de revisão ou atualização deverão provamaterial@ptecnica.ba.gov.br.

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