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E XPEDIENTE

Prova Material - Revista Científica do Departamento da Polícia Técnica, vinculado à Secretaria de Segurança
Pública do Estado da Bahia.
Av.Centenário, s/nº, Vale dos Barris, Salvador/ Bahia, CEP 40.100-180.
Telefone (71) 324 1692 - Fax (71) 324 1672
Esta revista é um periódico quadrimestral com distribuição gratuita. Os artigos assinados são de inteira
responsabilidade de seus autores. Tiragem desta edição: 1000 exemplares, 32p.

Paulo Ganem Souto Fotografias


Governador do Estado da Bahia Paulo Lázaro
General Edson Sá Rocha Silvio N. Amorim
Secretário da Segurança Pública Arquivo DPT
Luiz Eduardo Carvalho Dorea Capa
Diretor Geral do Departamento de Polícia Técnica Fábio Souza
Antonio dos Santos Vital Neto Revisão
Coordenador Executivo Tania Cristina Brites Gesteira e
Rita de Cássia Monteiro de Carvalho Mariacelia Vieira
Diretora do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues Secretário
Iracilda Mª de Oliveira Santos Conceição Djalma Conceição Silva
Diretora do Instituto de Identificação Pedro Mello Conselho Editorial
Marcelo Antonio Sampaio Lemos Costa Adriana Santana Queiroz Melo (ICAP)
Diretor do Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto Antonio César Morant Braid (ICAP)
José Felice Cunha Deminco Elson Jeffeson Neves da Silva (LCPT)
Diretor do Laboratório Central da Polícia Técnica Joaci Gama de Sant’Anna (LCPT)
Editora Geral Jose Antonio Vilela Dourado (IIPM)
Mariacelia Vieira Hélio Paulo de Matos Júnior (IMLNR)
Jornalista - RG DRT/MG nº 2266 Luis Geraldo Nascimento Luciano de Sena (ICAP)
Editor Gráfico Maria de Lourdes Sacramento Andrade (DPT/A.T)
Luciano Soares Rego Paulo César Teixeira Vieira (ICAP)
Jornalista RG MTB nº 958 Raul Coelho Barreto Filho (IMLNR)
Artefinalista Socorro de Maria de A. A. Ferreira (IIPM)
Fábio Souza Tania Cristina Brites Gesteira (LCPT)

Prova Material - v. 1 - n. 2 - abr. 2004 – Salvador: Departamento de Policia Técnica, 2003.


Quadrimestral
ISSN 1679-818X

1. Criminalística – Bahia – Periódico

CDU 343.9 (813.8) (05)

4
S UMÁRIO

Editorial ...................................................................................................... 06

Um caso de criptografia (Artigo Original)


Iracilda Maria de Oliveira Santos Conceição e
Socorro de Maria de Araújo Alves Ferreira ............................................... 07

O Caso “Jomara” - mudanças na trajetória (Relato de Caso)


Marco Aurélio Dultra .................................................................................. 11

Transcrição fonográfica não é perícia (Ponto de Vista)


Antônio César Morant Braid ...................................................................... 13

Um estudo sobre a técnica de análise qualitativa de partículas


de chumbo provenientes de resíduos de disparo com armas de fogo,
em mãos de supostos atiradores (Artigo Original)
Djalma Conceição Silva e Jorge Borges dos Santos ............................... 14

Reflexões sobre perícia criminalística - dúvidas que persistem


no campo da perícia contábil (Comunicação)
Antonio Pedro Ferreira da Silva ................................................................ 19

Crimes contra os costumes na Bahia (Artigo Original)


Lídia Ramos de Araújo .............................................................................. 21

Energia de projéteis (Discussão de Caso)


Adeir Boida de Andrade ............................................................................. 26

Eventos ...................................................................................................... 28

Resenha Literária ....................................................................................... 29

Normas ....................................................................................................... 30

5
E DITORIAL
Presente, passado e futuro
A Polícia Técnica da Bahia passa por trans- Houve melhoramento da infra-estrutura dos prédi-
formações. O propósito é deixá-la em um nível de os, de material utilizado e substituição de prestado-
excelência capaz de efetivamente contribuir para a res de serviços. Os projetos de melhoria previstos,
“garantia de segurança pública à sociedade e as ins- para os quais são buscados recursos nas mais diver-
tituições, com a finalidade de promoção da paz so- sas fontes, inclusive no Exterior, devem ser deslan-
cial”. Não cabe a atual diretoria listar erros cometi- chados a curto e médio prazos. Profissionais são trei-
dos em passado recente, mas assegurar que não te- nados e enviados a participar de cursos, no País e
rão continuidade. E isso vem sendo feito. Há seis fora dele. Através da revista Prova Material, lança-
meses foi tornado realidade o projeto de promoções da em dezembro passado, agora em sua segunda
regulares, de acordo com o surgimento de vagas na edição, a Polícia Técnica da Bahia mostra os avan-
estrutura funcional. Espaços físicos foram reorde- ços na área pericial, e mantém vivo um veículo téc-
nados e ampliada a Coordenação de Execução Or- nico-científico de divulgação. É inteligente e impor-
çamentária, considerada a circunstância que, a par- tante essa troca contínua de conhecimentos, entre
tir do ano em curso, o DPT estará gerindo os seus profissionais que visam como objetivo comum: a de-
próprios recursos. Novas técnicas e metodologias, fesa da sociedade e do cidadão que a constitui. É
que permitem resultados mais seguros, estão sendo indispensável entender essa realidade no presente,
agregadas. Os plantões reformulados dão oportuni- como o seu inexorável avanço tecnológico, para as-
dade aos profissionais do DPT de melhor atender as segurar uma melhor aplicação da Justiça.
solicitações. Equipamentos de Informática e softwa-
res de ponta agilizam a velocidade de resposta no
atendimento e realização das perícias. A Coordena-
ção de Crimes Contra o Meio Ambiente foi criada
no ICAP, para atender à crescente demanda de ca-
sos nessa nova modalidade de crimes, cuja legisla-
ção específica foi recentemente aprovada. No Insti-
tuto de Identificação o Arquivamento pelo Código
de Endereçamento da Caixa (ACEC) é a inovação.
Otimizaram-se os processos de identificação civil e
criminal. Ainda no IIPM foi reduzido o prazo de
encaminhamento do Boletim de Informação Crimi-
nal (BIC) ao Departamento de Polícia Federal
(DPF)/Instituto Nacional de Identificação (INI) e
saneadas prestações de contas referentes a Postos
de Identificação. O Interior vem recebendo atenção
especial, de acordo com a filosofia de Segurança
Pública implementada pelo Governo do Estado.
6
UM CASO DE CRIPTOGRAFIA

IRACILDA MARIA DE OLIVEIRA SANTOS CONCEIÇÃO


Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto
Perita Criminal

SOCORRO DE MARIA DE ARAÚJO ALVES FERREIRA


Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto
Perita Criminal

Artigo Original

RESUMO from an 1998 agenda with manuscript in cursive handwri-


Em outubro de 2001, foram encaminhadas para exame na ting, drawings and cryptographied writing made by gra-
Coordenação de Documentoscopia e Perícias Contábeis phite and ink – item A; two copies in paper with printed
do Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto, oito folhas characters and blanks with capital letters – item B; pages
destacadas de uma agenda do ano de 1998, apresentando taken from a university notebook – item C; university no-
manuscritos em letra cursiva, desenhos e escrita criptogra- tebook without cover, showing written and cryptographi-
fada produzidos à grafite e à tinta - peça A; duas cópias em ed manuscripts– item D. In these parts, manuscripts were
folha de papel tipo ofício, trazendo caracteres impressos e analyzed to verify the uniqueness of the handwriting. This
preenchimento dos claros em letra de forma - peça B; technical paper presents studies and conclusions related a
folhas destacadas de caderno tipo universitário - peça real case which ocurred in January 1999, when the
C; caderno tipo universitário, sem capa, apresentando teenager´s body was found in a beach of Ilhéus, a city oh
textos manuscritos cursivos e criptografados - peça D. Bahia. The victim was identified as Ria Kinita Schod-
Em tais peças, os manuscritos foram analisados com o ler, who was born on 1982 April, 22, from Wettingen,
objetivo de verificação de unicidade do punho escre- Switzerland and lived in Ilhéus city with her family.
vente. Este trabalho apresenta os estudos e resultados However, the investigations haven’t led to the author
relativos ao caso real ocorrido em janeiro de 1999, of the crime yet.
quando foi encontrado o corpo de uma adolescente em
uma praia da cidade de Ilhéus, interior da Bahia. A ví- KEY WORD
tima foi identificada como Ria Kinita Schodler, nasci- Cryptography
da em 22/04/1982, na cidade de Wettingen, Suíça, re-
sidindo em Ilhéus com a família. As investigações, INTRODUÇÃO
porém, não levaram à autoria do crime. Criptografia é a arte de escrever ocultamente. Tão antiga
como a própria escrita, hoje é um dos métodos mais efici-
PALAVRA CHAVE entes de se transferir informações sem que haja a possibili-
Criptografia dade de comprometimento do sigilo. Baseada em chaves,
uma informação pode ser codificada através de algum al-
ABSTRACT goritmo de criptografia, de modo que, tendo conhecimen-
On October 2001, they were sent to be examined at Docu- to do algoritmo e da chave utilizados, é possível recuperar
mentocopy and Accountancy Investigation Departament a informação original fazendo o percurso contrário da en-
of the Afrânio Peixoto Criminal Institute, eight pages taken criptação, a decriptação.
7
DESENVOLVIMENTO palavra de ligação poderia ser “então”. Foi feito o
Os peritos deram início ao estudo, visando pri- trabalho inverso. Contando com a descoberta de
UM CASO DE CRIPTOGRAFIA¹

meiramente a verificação de unicidade do punho três vogais e duas consoantes, os peritos passa-
escrevente. Constataram a presença de manuscri- ram a substituir os símbolos em um trabalho de
tos referentes a assuntos didáticos, que inicialmen- experimentação e, após inúmeras tentativas, con-
te apresentam características de produção por seguiram realizar a decriptação, ou seja, a decodi-
punho escolar, sobretudo no caderno - peça D, ficação, e revelar as mensagens que antes esta-
evoluindo o traçado no dinamismo, no calibre e vam ocultas.
na forma dos gramas, conservando, entretanto, a
morfogênese e a tendência para uma escrita jus- CONCLUSÃO
taposta, com caracteres predominantemente Após os estudos realizados, conclui-se que os gra-
curvilíneos. Nas peças A e D foi identificada fismos atribuídos à Ria Kinita Schodler foram
escrita criptografada, seguida por outras cita- produzidos pelo mesmo punho escritor, autor dos
ções curtas ou mais extensas. A análise tinha caracteres criptografados. Estas citações foram
por objetivo estudar a concepção genética dos decodificadas a partir da descoberta da chave uti-
grafismos, a fim de catalogar os elementos in- lizada na encriptação, sendo os textos ocultos,
dividualizadores, ficando constatada a partici- devidamente traduzidos e transcritos.
pação de mais de um punho escritor na produ-
ção da peça D. Nos demais grafismos foi en- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
contrada identidade morfogenética¹, embora DEL PICCHIA, José Filho. Tratado de Docu-
existam modificações desde os lançamentos mentoscopia. São Paulo: Universitária de Direi-
examinados datados de 1995 e 1996 (cader- to, 1976.
no), os quais apresentam-se com elementos MENDES, Lamartine. Tratado de Perícias Cri-
mais curvilíneos, escrita ligada, aos poucos minalísticas – Documentoscopia. Porto Alegre:
tendendo para uma escrita sincopada, com tra- Sagra Luzzatto, 1999.
çado rebuscado, quase ornamental, procedi- http://www.nucc.pucsp.br/novo/cripto/cripto.html
mento este comum na adolescência, quando o www.catar.com.br/hg/leohomepage/
indivíduo deixa transparecer, também no gra- criptograia.htm
fismo, a instabilidade de comportamento e as www.dei.isep.ipp.pt/~andre/documentos/
mudanças que ocorrem no corpo e na mente. criptografia.html
A peça C, embora com datas dos anos de 1996,
1997 e 1998, apresenta evidências de ter sido *** Segundo Drª Silvia S. Vieira, Delegada da 7ª
produzida em datas contemporâneas e muito Coordenadoria de Polícia do Interior – Ilhéus/
próximas, o que se constatou também pelo uso BA, o êxito dos exames realizados levou à desco-
do papel com características idênticas. berta da autoria do crime que foi vítima Ria Ki-
No exame, os peritos verificaram tratar-se de uma nita Schodler e provocou a reabertura de outros
linguagem cifrada em que na representação de casos de homicídio cometidos contra mulheres
alguns símbolos pode-se fazer relação com letras em Ilhéus, os quais encontravam-se arquivados e
iniciantes de determinadas palavras. A decodifi- apresentavam idêntico “modus operandi”, inclu-
cação teve início com o texto que começa codifi- sive o caso de um corpo encontrado em uma praia
cado e, em dado momento, passa a ser produzido da cidade em 12/10/98, citado por Ria Kinita
com escrita cursiva, deduzindo os técnicos que a Schodler, em uma das peças examinadas. ***
¹ Identidade morfogenética – convergências na forma e na concepção genética dos caracteres.
8
SOCORRO DE MARIA DE ARAÚJO ALVES FERREIRA PRIMEIRO TEXTO DECODIFICADO
IRACILDA MARIA DE OLIVEIRA SANTOS CONCEIÇÃO

HOJE NO ANIVERSARIO DO
PAI DE PIPOCA EU ES?(T)AVA
SUPER A FIM DE FIGAR COM
DAMODA. EU FALEI COM JULI
PARA ELA ME ARMAR COM
ELI ENTÃO ELA MAIS PIPOCA
FORAM LA PERGUNTAR SE
ELE NÃO QUERIA FICAR
COM ALQUEM E ELE DISSE
QUE NÃO.
QUANDO RECEBI A RESPOSTA
FIQUE TODA SEM CRAÇA,
ENTÃO comecei a beber im montão
de vinho até ficar tonta. Depois de
pouco tempo tomei coragem e sentei
no braço...

1 - ESTOU COM MEDO


2 - DE CAXIXI !
3 - ELE QUER ME MATAR !

9
UM CASO DE CRIPTOGRAFIA¹

1 - CAXIXI FALOU PARA ME QUE EU


2 - TENHO QUE CALAR A MIA BOCA!
3 - ELE VAI ME MATAR COMO ESSA
4 - MOCA NA PRAIA!

10
O CASO “JOMARA” - MUDANÇA NA TRAJETÓRIA

MARCO AURÉLIO LUZ DULTRA


Instituto de Identificação Pedro Mello
Perito Técnico

Relato de Caso

Através de denúncias anônimas, foi encontrada em 7 elas e fazendo suaves compressões. Na quarta e úl-
de setembro de 2003, uma ossada parcialmente reco- tima etapa, removeu-se o tecido gorduroso com ins-
berta por camadas de pele ressecada , e impregnada de trumento cirúrgico, facilitando o estiramento e tam-
uma substância na cor preta similar ao betume. Estava bém a passagem da luz para se obter um contraste
enterrada em uma oficina mecânica, situada na Região entre os sulcos e as cristas digitais.
Metropolitana de Salvador, supostamente pertencente a Realizadas então as etapas preliminares, foi feita a rei-
uma mulher conhecida por “Jomara”. Removida ao Insti- dratação do tecido, através de água e glicerina líquida,
tuto Médico Legal Nina Rodrigues, o corpo recebeu o nº para facilitar a manipulação da peça em lide, objeti-
de registro 3228/2004IMLNR (vide foto nº 1) e foi logo vando o estiramento total do tecido, que se encontrava
encaminhado à Coordenação de Antropologia Forense para enrugado. Após a primeira reidratação do tecido, ob-
exames que possibilitariam a identificação. servou-se que não poderia ser efetuado o estiramento
Durante a perícia, encontrou-se um fragmento de teci- da pele em um só momento, pois danificaria a peça.
do dérmico do polegar, motivando a realização do exa- Assim sendo, partiu-se para processos de desidratação
me de confronto necropapiloscópico entre o fragmento utilizando álcool etílico a 98º e reidratação, alternadamen-
do tecido e os datilogramas dos polegares da ficha de “Jo- te, esticando o tecido por etapas (vide foto nº 2).
mara”. Preliminarmente, foi feita a análise das dificulda- Era o momento então, de desvendar a identificação.
des encontradas para tentar efetuar a identificação do cor- Buscas foram feitas nos arquivos do Instituto de Iden-
po através do exame necrodatiloscópico. tificação Pedro Mello e, com a ficha de “Jomara” em
O trabalho exigiu quatro etapas: Primeiro, se definiu mãos, partiu-se para a confrontação datiloscópica. As
quais os produtos que possibilitariam retirar a substân- peças apresentavam a mesma classificação datiloscó-
cia similar ao betume, sem causar danos ao tecido. Na pica básica: verticilo, nos polegares! Os processos de
segunda fase, se fez a limpeza e a remoção da substân- identificação adotados pelo IMLNR/DPT (antropomé-
cia impregnada, deixando para a fase três os procedi- trico e arcada dentária) não tinham uma definição con-
mentos de estiramento da pele. Na quarta e última eta- clusiva, devido à dificuldade do estado de conservação do
pa, retirou-se o tecido gorduroso da camada mais pro- corpo e à inexistência da ficha dentária de “Jomara”.
funda do derma (hipoderme), facilitando os processos Depois de feita a inversão dos datilogramas da ficha
fotográficos. Utilizou-se na primeira e segunda etapas de “Jomara”, transformou-se as impressões digitais em
o detergente líquido para dissolver a substância que desenhos digitais. Cumpridas todas as etapas para a
impregnava e limpeza do tecido examinado, na tercei- realização do exame de confronto necrodatiloscópico,
ra fase do processo, procedeu-se ao estiramento utili- e, após confrontadas as peças em lide, observou-se que
zando-se lâminas de vidro, colocando o tecido entre as conformações morfológicas das estruturas das linhas
11
apresentaram divergências quanto à subclas-
sificação datiloscópica, espiral no tecido e si-
O CASO “JOMARA” - MUDANÇA NA TRAJETÓRIA

nuosas na ficha (vide fotos nº 3 e 4). O traba-


lho foi extremamente técnico e, mesmo com
todas as dificuldades de preservação que a peça
impunha, pode-se concluir que o tecido dér- Foto 04
mico do polegar (Peça Questionada) não per- Fonte: Datilogramas (invertidos) dos Polegares da
ficha
tencia a “Jomara”, identificada e cadastrada no
IIPM/BA, fato que mudou definitivamente a tra-
jetória na investigação policial, pelo resultado BIBLIOGRAFIA
negativo para a identidade de “Jomara”. Afinal, ARAUJO, Clemil José, Identificação
qual a verdadeira identidade desse corpo? Papiloscópica, MJ-SENASP/ANP/DPF,
publicado em 2000.
QUADROS FOTOGRÁFICOS KEHDY, Carlos, Elementos de Datiloscopia,
Edições e Publicações Brasil, publicado em
Foto 01
1940.
Fonte: do KEHDY, Carlos, A Datiloscopia nos Locais
corpo
nº 3228/
de Crime, Edições e Publicações Brasil,
2003- publicado em 1940.
IMLNR
IMPRESSÕES Nº 02, Revista, do Instituto
Nacional de Identificação, publicada em 09/1999.
Manual do Instituto Nacional de
Identificação – INI/DPF/MJ, publicado em
1987.

Foto 02

Fonte: Tecido
Dérmico (Peça
Questionada)
após o
processo de
estiramento.

Foto 03

Fonte: do Tecido
Dérmico da
Região Central
do Núcleo,
apresentando a
classificação
datiloscópica:
Verticilo Espiral.

12
TRANSCRIÇÃO FONOGRÁFICA NÃO É PERÍCIA

ANTONIO CÉSAR MORANT BRAID


Engenheiro Eletrônico / Bacharel em Direito
Instituto de Criminalistica Afrânio Peixoto
Coordenação de Fonética Forense
Perito Criminal

Ponto de Vista

É evidente que o delegado de polícia, o promotor de ironia, por exemplo. Na transcrição não existe trata-
Justiça e o juiz de Direito necessitam recorrer a especi- mento pericial em sentido próprio, não há conclusões
alistas para, com os exames periciais, desincumbir-se ou qualquer tipo de análise criminalística, como tam-
de seus misteres, seja o delegado ao instruir seus inqu- bém não há juízos valorativos, dessemelhando-se de
éritos, o promotor ao acusar, seja o juiz ao julgar, todos uma narrativa literária, que além da fala do persona-
amparados em provas de materialidade e autoria for- gem ainda apresenta-se o sentido implícito. Portanto,
necidas pelo perito. A atividade pericial, assim, tem não raro, um relatório de transcrição não fornece o co-
objeto determinado, devendo ser requisitada quando nhecimento necessário para resolver a lide, podendo-
necessária e respeitando estritamente atribuições. se incorrer em erro de interpretação, sobretudo para os
Seria inconcebível constar nos autos de um processo judi- crimes cuja existência depende da intenção do agente,
cial apenas o texto de transcrição sem existir o correspon- como os crimes de intenção ou tendência.
dente registro de áudio, todavia o inverso não afeta o plano O perito criminalístico é um apreciador técnico, com
de existência da materialidade do fato. O objeto de prova função bem definida, qual seja, a de fornecer dados
material eventualmente existente está contido na fala gra- instrutórios de ordem material e a proceder à verifica-
vada, pois só ela apresenta as características fonéticas que ção do corpo de delito. É a perícia um elemento subsi-
acompanham e dão pleno sentido à informação. Uma trans- diário para valoração e, se possível, solução da prova
crição jamais conterá os componentes prosódicos indis- destinada a descoberta da verdade. Afora tal situação,
pensáveis em alguns casos para assinalar o modo entoaci- torna-se a atividade do perito despicienda. A transcri-
onal responsável pelo sentido de uma elocução. ção não é atribuição do perito, podendo ser efetuada
Uma locução transcrita mitiga a força informativa da fala, por qualquer funcionário detentor de fé pública.
pois não se infere o conteúdo de uma mensagem apenas Vale ressaltar que no Brasil vigora o sistema de livre
pelo que se diz, mas, sobretudo, como se diz. As dúvidas convencimento, isto é, o juiz forma sua convicção pela
de interpretação do texto de transcrição devem ser sanadas livre apreciação da prova, não ficando adstrito a crité-
recorrendo-se à oitiva da fala gravada, desprezando-se a rios valorativos apriorísticos. Nesse diapasão, um rela-
transcrição, o que evidentemente demonstra que o meio tório de transcrição realizado por um funcionário dota-
de prova está na fala, e não no texto escrito. do de fé pública, não terá menos valor do que se fosse
O perito criminalístico é o funcionário encarregado de es- elaborado por perito criminalístico.
clarecer por meio de laudo uma questão de fato. Assim, A mera transcrição fonográfica não tem natureza jurídica de
não lhe seria permitido constar em um relatório de trans- perícia e não compõe uma categoria dentro da Criminalística.
crição a sua própria interpretação do discurso, que pode Assim, a atividade de transcrição fonográfica não é perícia,
variar a depender do modo de fala, como em situação de não sendo, portanto, atribuição de perito criminalístico.
13
UM ESTUDO SOBRE A TÉCNICA DE ANÁLISE QUALITATIVA DE
PARTÍCULAS DE CHUMBO PROVENIENTES DE RESÍDUOS DE DISPARO
COM ARMAS DE FOGO, EM MÃOS DE SUPOSTOS ATIRADORES

DJALMA CONCEIÇÃO SILVA


Laboratório Central de Polícia Técnica
Perito Criminal

JORGE BORGES DOS SANTOS


Laboratório Central de Polícia Técnica
Perito Criminal

Artigo Original

RESUMO KEY WORDS


Após a implantação no Laboratório Central de Polícia Lead metallic parties. Firearms. Shooter’s hand.
Técnica do Estado da Bahia – LCPT/BA, da técnica
de análise qualitativa de partículas metálicas de chum- INTRODUÇÃO
bo oriundas de disparos com armas de fogo em mãos e Desde muito tempo, o problema da determinação
vestes de supostos atiradores, faz-se um estudo crítico, de resíduos provenientes de disparos de armas de
indicando as variáveis que influenciam os resultados fogos em mãos de supostos atiradores aflige a co-
obtidos, tais como: concentração de rodizonato de só- munidade científica da área Criminalística.
dio, e uso da solução-tampão ácida e tempo de seca- A inexistência de elementos marcadores na confec-
gem, sugerindo modificações que possibilitam o aper- ção dos propelentes de cartuchos de armas de fogo é
feiçoamento do método, citando-se as análises realiza- o motivo principal para a existência dessa dificul-
das no LCPT/BA, entre os anos de 1999 e 2003. dade de encontrar uma técnica analítica ideal.
As técnicas usuais para determinação de nitrito,
PALAVRAS CHAVES chumbo e cobre, embora não sejam ineficientes, não
Partículas metálicas. Chumbo. Arma de fogo. Mãos garantem que as espécies identificadas sejam origi-
atiradores nadas exclusivamente de disparos, pois elas são co-
muns no meio ambiente.
ABSTRACT Os exames por Espectrofotometria de Absorção Atô-
After the implementation by the Bahia’s Technical mica apresentam o empecilho da obtenção de valo-
Police Central Laboratory Experts – LCPT/BA, of the res comparativos que possuam confiabilidade sufi-
qualitative technical analysis of lead metallic parties ciente para serem tomados como padrões.
arising from firearms shooters in hand and vestments Atualmente, existe a concordância de que a pesqui-
of supposed shooters, we make a critical study indica- sa conjunta de chumbo, bário e antimônio, elemen-
ting the variables that influence the obtained results, tos constituintes das substâncias presentes nas mis-
such as, sodium rodizonate concentration, use of acid turas iniciadoras das espoletas, caso seja positiva,
cover solution and the drying time, suggesting chan- traduz a materialidade de que ocorreu um tiro, fa-
ges that make possible improvements of the method. The zendo-se a ressalva de que a pessoa em questão pode
analysis acheved in LCPT/Ba, from year 1999 to 2003. ter disparado uma arma de fogo ou tê-la manusea-
14
do, ou ainda simplesmente ter estado próxi-
ma a um evento onde ocorreu o disparo. A
DJALMA CONCEIÇÃO SILVA
JORGE BORGES DOS SANTOS

técnica da Microscopia Eletrônica de Varre-


dura (MEV) tem sido usada com relativo
sucesso na pesquisa destes resíduos. No en-
tanto, devido à sofisticação do equipamen-
to, apresenta a desvantagem de ser dispen-
diosa, principalmente se levarmos em conta
a utilização em processos rotineiros de um
Papel de filtro e tiras de esparadrapo
laboratório forense. Desde 2001 /2003, téc-
nicos do Instituto de Criminalística do Esta-
do de São Paulo, associados a especialistas
do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nu-
cleares – IPEN - CNEN/SP vêm estudando
a implantação da técnica de Espectrometria
de Massas com Fonte de Plasma Indutivo
(HRICP – MS) na identificação de resíduos
de disparos de arma de fogo.

OBJETIVOS Região 1
coleta de resíduos químicos no dedo indicador
O presente trabalho visa estudar as variáveis
que influenciam os resultados obtidos pela
técnica de análise qualitativa das partículas
metálicas de chumbo, oriundas de disparos
com arma de fogo, através de uma reação
com solução aquosa de rodizonato de sódio
a 0,1% em pH=2, a influência do tempo de
secagem do materi-
al, o pH do meio re-
agente e a concen-
Região 2
tração da solução coleta de resíduos químico no dedo polegar

reveladora.

METODOLOGIA
a) COLETA: conforme as fotos
As amostras são coletadas em mãos de su-
postos atiradores, utilizando tiras de fita ade-
siva dupla face ou esparadrapo, aplicadas di-
retamente em três regiões específicas das
mãos. As fitas são então suportadas indivi-
dualmente em papéis de filtro e enviadas ao Região 3:
coleta de resíduos químicos dedo polegar na região palmar
laboratório para análise.
15
b) REVELAÇÃO do método situa-se na faixa entre 9 a 10% do
Gases, resíduos metálicos e não metálicos são total de exames. As mudanças efetuadas no
UM ESTUDO SOBRE A TÉCNICA DE ANÁLISE QUALITATIVA DE PARTÍCULAS DE CHUMBO PROVENIENTES
DE RESÍDUOS DE DISPARO COM ARMAS DE FOGO, EM MÃOS DE SUPOSTOS ATIRADORES

projetados no momento do disparo, podendo- LCPT mostram um crescimento desta faixa


se afirmar que corpúsculos de chumbo estão percentual, chegando até 13,7% em 2001.
presentes, tanto no estado iônico, na forma de
trinitroresorcinato de chumbo (II) ou estifina- A INFLUÊNCIA DO TEMPO
to de chumbo (II) da carga de espoletamento, DE SECAGEM
como na forma de chumbo metálico (Pbº) proce- Observa-se que quando se emprega a solução
dente da liga constituída dos projéteis de chumbo de rodizonato de sódio, depois da nebulização
cru, em abrasão com a alma do cano da arma. do papel de filtro contendo a fita adesiva onde
A revelação é feita utilizando a solução aquo- foram coletados os resíduos, isto é, com o
sa do sal de sódio do ácido rodizônico (rodi- material em estado úmido, nos casos positi-
zonato de sódio) recentemente preparada. A vos logo após disparos efetuados em câmaras
concentração indicada por Feigl e Sutter, pio- de tiro, o desenvolvimento da cor vermelha-
neiros do método, é de 0,1% m/vol. púrpura nos pontos onde se encontram as par-
tículas de chumbo detectadas demora de 30
RESULTADOS E DISCUSSÃO segundos a 1 minuto, e se faz de forma tênue,
A tabela abaixo indica o número de exames tendendo a clarear cada vez mais, chegando
realizados no LCPT no período de setembro ao desaparecimento em cerca de 24 ou 48 ho-
de 1999 a dezembro de 2003 e os números de ras, exigindo que muitas vezes seja necessário
resultados positivos e negativos, com as res- o uso de fotografia para comprovação.
pectivas percentagens: Modificando o tempo de secagem para 12 ho-
ANO EXAMES RESULTADOS RESULTADOS ras e 24 horas ao ar livre, verifica-se, na etapa da
REALIZADOS POSITIVOS NEGATIVOS
1999 96 9 (9,6%) 87 (90,6%) revelação, o aparecimento da mesma cor, com a
2000 520 52 (10,0%) 468 (90,0%)
2001 489 67 (13,7%) 422 (86,3%)
manutenção, até agora, com tempo indefinido, já
2002 551 62 (11,2%) 489 (88,8%) havendo casos superiores há um ano.
2003 395 45 (11,4%) 350 (88,6%)
Para agilizar o processo de análise, o papel de
Fonte:
Banco de Dados da Coordenação de Química do LCPT filtro contendo a tira adesiva com os resíduos
Nos laudos com resultados negativos, estão coletados, após nebulização com a solução áci-
contidas ressalvas a título de esclarecimentos da, foi colocado sobre vidro de relógio em estufa
de que, por exemplo, os tipos de arma e muni- com circulação de ar, na faixa de temperatura de
ção, a empunhadura e eventuais contamina- 50 a 55ºC por uma hora, o que promove uma
ções, além de outros fatores tais como o tipo secagem mais rápida sem a destruição do papel.
de secreção ou o próprio metabolismo da pes- A etapa seguinte, revelação com o rodizonato de
soa, podem interferir nos resultados, que de- sódio, destaca um desenvolvimento de coloração
vem ser considerados apenas como orientação intensa para os casos positivos.
técnica, juntando-se a outros exames de evi-
dências materiais (do local, balística, etc.), além A SUBSTITUIÇÃO DA SOLUÇÃO
de provas circunstanciais ou testemunhais que TAMPÃO ÁCIDA
venham a auxiliar na formação da convicção O uso da solução tampão tem como um dos
que cada caso requer. objetivos promover a ionização das partículas
Dados estatísticos revelam que a positividade metálicas de chumbo (Pbº) para o cátion Pb++.
16
Outra finalidade é a de garantir e preservar do por toda a área do papel de filtro seco, após
meio adequado (pH=2,8) para a reação do ro- nebulização ácida. Verifica-se que há o desen-
DJALMA CONCEIÇÃO SILVA
JORGE BORGES DOS SANTOS

dizonato de sódio com o chumbo iônico, for- volvimento tênue da mancha vermelho-púrpu-
mando o rodizonato de chumbo (cor verme- ra característica, com o breve desaparecimen-
lha-púrpura). Entretanto, neste mesmo pH, o to. O fato ocorre devido a uma possível de-
rodizonato de sódio reage também com os íons: composição da solução de rodizonato de só-
Tl+; Ag+, Cd++, Ba++e Sr++, produzindo com- dio, graças ao contato do swab com o meio
postos coloridos. Embora estas reações possuam ácido do papel.
uma sensibilidade menor em relação ao chumbo Para evitar este fato, a concentração da solu-
iônico (Pb++), de qualquer forma, trata-se de uma ção reveladora foi elevada para valores até o
contaminação possível de ocorrer. dobro da inicial (0,1% m/vol) e passamos a
Foram realizados experimentos no sentido de usar frasco nebulizador durante a revelação,
reduzir o valor de pH de trabalho, acidifican- abandonando o swab de madeira.
do o meio-reagente, com o uso de ácido tartá- A observação feita revela que uma solução de
rico em diferentes concentrações. rodizonato de sódio preparada com 0,2% p/v
A concentração de 10% m/vol da solução (20mg de reagente em 10ml de água destila-
de ácido tartárico conduz o pH durante a ne- da) reduz eficazmente este problema prático,
bulização do papel de filtro para uma faixa sem interferência nos resultados.
de 1,8 (inicio da nebulização – papel úmi-
do) até 2,0 (papel após secagem ao ar livre CONCLUSÕES
ou aquecido em estufa). 1. As análises realizadas com papel de filtro
As medidas feitas com a impregnação das ti- seco ao ar por 12 a 24 horas ou em estufa de
ras de esparadrapo com finíssimas partículas 50 a 55ºC produziram resultados positivos mais
de chumbo obtidas por pulverização de projé- nítidos e com maior tempo de preservação.
teis de arma de fogo, apresentaram positivida- 2. O uso da solução de ácido tartárico 10%
de com o aparecimento de uma coloração mais (m/vol), substituindo a solução tampão ácida
nítida dos pontos ou manchas detectados. (ácido tartárico + tartarato de sódio e potás-
As análises realizadas em coletas nas mãos sio), modificando o meio reacional de um pH
de atiradores e vestes atingidas por disparos igual a 2,8 para uma faixa de 1,8 a 2, 0, provo-
de arma de fogo, revelam idêntica nitidez e cou resultados de revelação mais rápidos e de-
alta preservação dos pontos e manchas duran- senvolvimento de pontos ou manchas verme-
te a revelação, levando a crer que nesta faixa lho-púrpura de maior nitidez visual.
de pH a reação química principal permanece 3. O aumento da concentração do rodizonato
ocorrendo sem maiores comprometimentos. de sódio de 0,1%para 2,0%, permitiu a diminui-
ção da decomposição ácida do reagente, garan-
A CONCENTRAÇÃO DA SOLUÇÃO tindo maior eficiência durante as análises.
DE RODIZONATO DE SÓDIO
Durante a etapa de revelação das amostras ana- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
lisadas no LCPT/BA, usamos o swab de ma- COWAN, M. E. et all barium and antimony
deira com algodão numa das pontas, impreg- levels on hands significance as indicador of
nado com a solução de rodizonato de sódio gunfire residue. Journal of Radioanalytical
preparada no momento do exame, percorren- Chemistry, 15: 203-218, 1973.
17
ENCYCLOPEDIA OF CHEMICAL TE-
CHNOLOGY. 2. ed, New York, Interscien-
UM ESTUDO SOBRE A TÉCNICA DE ANÁLISE QUALITATIVA DE PARTÍCULAS DE CHUMBO PROVENIENTES
DE RESÍDUOS DE DISPARO COM ARMAS DE FOGO, EM MÃOS DE SUPOSTOS ATIRADORES

ce, v. 8, 1975. P. 647-654.


STONE JR, I.C. & PETTY; C.S. Examina-
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ZARZUELA, J. L. & ARAGÃO, R.F, Tra-
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gal e Incêndios, Editora Sagra Luzatto – 1ª
Edição Porto Alegre/RS, 1999.
FARIGNOLE, M. M. C. & Takai, A.H. Da
Praticidade em Criminalística dos Testes para
Residuografia - Instituto de Criminalística do
Estado de São Paulo.

18
REFLEXÕES SOBRE A PERÍCIA CRIMINALÍSTICA - DÚVIDAS
QUE PERSISTEM NO CAMPO DA PERÍCIA CONTÁBIL

ANTONIO PEDRO FERREIRA DA SILVA


Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto
Coordenação de Documentoscopia e Ciência Contábil
Perito Criminal

Comunicação

APRESENTAÇÃO tentes e profissionais, cujas áreas de labor estão liga-


A natureza interdisciplinar da Criminalística é incon- das à prova pericial, notadamente a Contábil.
testável, uma vez que os vários ramos das Ciências
Naturais e Sociais integram o seu conteúdo técnico- QUEM PODE REQUISITAR A PERÍCIA?
científico, dando-lhe o corpo de uma Ciência Aplicada. No dia a dia dos trabalhos periciais, em regra, o pri-
Prescindindo das questões filosóficas que giram em meiro contato do perito criminalístico com a perícia é
torno dessas premissas, destaca-se a contribuição da com o documento que a requisita. Neste, algumas for-
Ciência Contábil no campo da Criminalística, com o malidades devem ser observadas. Na área contábil,
objetivo de compor a prova material contábil. destacamos a autoridade que requisita a perícia e os
O trabalho ora apresentado visa esclarecer alguns ques- quesitos formulados.
tionamentos que ainda permanecem entre os peritos Atendo-se ao ponto autoridade requisitante e promo-
oficiais, notadamente no ramo da Perícia Contábil. vendo uma interpretação sistemática dos dispositivos
legais pátrios que tocam no tema Prova Pericial em
INTRODUÇÃO geral, observa-se que são legitimadas a requisitar a pe-
A prova material, com a Constituição Pátria de 5 de rícia as seguintes autoridades: a autoridade policial (de-
outubro de 1988, ganhou força surpreendente, consti- legado de polícia); o Ministério Público; a autoridade
tuindo-se numa forma de proteção ao cidadão contra judiciária competente (juiz); e o perito criminalístico,
arbitrariedades e injustiças, isto porque a Assembléia quando necessita de exames complementares.
Constituinte imprimiu uma ideologia garantista dos Como não é intenção do presente artigo desenvolver o
direitos do cidadão, tendo em vista o fortalecimento e tema em seu aspecto jurídico, somente serão citados
a manutenção do regime democrático. alguns dispositivos legais pertinentes, são eles: artigo
A pureza da prova material e a sua legitimidade per- 6º, inciso VII; artigo 168; artigo 180; parágrafo único
passam pelo atendimento a requisitos como: a auto- do artigo 181; todos do Código Processual Penal; e o
ridade competente para requisitar a perícia e o pro- art. 129, III e VIII da Carta Magna de 1988.
fissional devidamente habilitado para o exercício do
múnus pericial. QUEM É O PROFISSIONAL HABILITADO
Neste Contexto, delimitando a apreciação da matéria PARA REALIZAR A PERÍCIA CONTÁBIL?
apenas no campo processual penal, ao qual a perícia O Código de Processo Penal, em seu artigo 159 e pará-
oficial está umbilicalmente ligada, o trabalho será de- grafos prevê que os exames serão procedidos por dois
senvolvido com a intenção de explicitar questões que peritos oficiais ou por profissionais de nível superior –
ainda hoje não são claras para as autoridades compe- devidamente compromissados – escolhidos, preferenci-
19
almente, entre os que tiverem habilitação téc- tador, ainda que exerça a função pública de
nica relacionada à natureza do exame. Perito Criminalístico.
REFLEXÕES SOBRE A PERÍCIA CRIMINALÍSTICA - DÚVIDAS
QUE PERSISTEM NO CAMPO DA PERÍCIA CONTÁBIL

Cabe neste ponto esclarecer que no tocante


à classe contábil, contabilista é a denomina- CONCLUSÃO
ção dada a todos os profissionais que labo- Pontuadas as questões suscitadas em torno da
ram no campo da Ciência Contábil, tendo Perícia Criminalística, com enfoque na área
como categorias, independentes e distintas, Contábil, defluem-se as seguintes conclusões:
o Contador (bacharel em Ciência Contábil) a) As autoridades requisitantes de perícias
e o Técnico em Contabilidade (nível médio). em geral no campo processual penal são: a
O Decreto-lei nº 9.295 de maio de 1946 em autoridade policial; a autoridade judiciária
seus dispositivos estabelece atribuições aos competente; o Ministério Público; e o Peri-
profissionais da área Contábil, impondo a to Criminalístico, quando requer exames
realização da Perícia Contábil por Contador, complementares;
cabendo aqui a observação do Prof. Marti- b) A perícia contábil é atividade exclusiva de
nho Ornelas: Contador (bacharel em Ciências Contábeis) de-
vidamente habilitado pelo Conselho Regional
“(...) Art. 26. Salvo direitos adquiridos ex- de Contabilidade. Esta imposição se estende à
vi do disposto no art. 2º do Decreto nº área pública, alcançando a função pública de
21.033, de 8 de fevereiro de 1932, as atri- Perito Criminalístico.
buições definidas na alínea c do artigo an-
terior são privativas dos contadores diplo- BIBLIOGRAFIA
mados e daqueles que lhes são equiparados, Alberto, Valder Luiz Palombo. Perícia Con-
legalmente” (grifo nosso). tábil, 1ª edição, ed. Atlas, São Paulo, 1996.
Anjos Filho, Robério Nunes dos. Direito
Para regulamentar os dispositivos do decre- Constitucional, 1ª edição, ed. Juspodium,
to-lei, visando dirimir dúvidas surgidas en- Salvador, 2003.
tre os contabilistas, quanto ao regular exer- Ornelas, Martinho Maurício Gomes de. Pe-
cício da perícia contábil, o Conselho Fede- rícia Contábil, 3ª edição, ed. Atlas, São Pau-
ral de Contabilidade editou a Resolução nº lo, 2000.
858/99 de 21 de outubro de 1999, que em Constituição Federal, Código Processo Pe-
seu item 13.1.2 estabelece: nal e Código Penal. Organizador Luiz Flá-
vio Gomes, 5ª edição revisada, atualizada e
“A Perícia Contábil, tanto a judicial, (...), é ampliada, ed. RT, São Paulo, 2003.
de competência exclusiva de Contador Re- Princípios Fundamentais e Normas Brasilei-
gistrado em Conselho Regional de Conta- ras de contabilidade, de auditoria e perícia /
bilidade.” Conselho Federal de Contabilidade. Brasí-
lia, 2003.
Assim, ante as premissas acima expostas, Revista Brasileira de Contabilidade, nº 90,
destaca-se que para realizar os exames rela- Dezembro/94.
cionados à Ciência Contábil, o profissional
deve ser devidamente registrado no Conse-
lho Regional de Contabilidade como Con-
20
CRIMES CONTRA OS COSTUMES DA BAHIA
EVOLUÇÃO E PECULIARIDADES EM TRÊS DÉCADAS

LIDIA RAMOS DE ARAÚJO


Instituto Médico Legal Nina Rodrigues
Perita Médica

Artigo Original

RESUMO ABSTRACT
Objetiva-se fornecer conhecimentos sobre evolução e The objective of this work is to offer a knowledge
peculiaridades dos crimes contra os costumes, nos úl- about the evolution and its peculiarities of the sexu-
timos 30 anos, a partir de estudo sistematizado de perí- al crimes in the last 30 years, with a special focus on
cias, realizadas no Instituto Médico Legal Nina Rodri- the technical medical exams, done in the INSTITU-
gues-BA, e de experiência docente assistencial, da au- TO MEDICO LEGAL NINA RODRIGUES-
tora, em Sexologia Forense, nesse período, incluindo BAHIA, and the work developed by the author, as a
participação em projeto para assistência às vítimas de Law Sexology Teacher, at that time, as well as the
violência sexual. Este ensaio tem, ainda, como escopo active participation in the project that takes care of
informar sobre projeto assistencial, hoje implantado no the victims of the sexual violence. More over, this
Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, pela Secreta- work gives information on the care project that takes
ria da Segurança Pública/Ba, para atenção às vítimas place in the INSTITUTO MEDICO LEGAL NINA
de violência sexual, estabelecendo um novo paradig- RODRIGUES-BAHIA, by the SECRETARIA DE
ma de Segurança Pública, que integra a pesquisa mé- SEGURANÇA PUBLICA-BAHIA, to protect the
dico legal à assistência integral da saúde, através da victims of the sexual violence, introducing a new
vertente de bem estar social, componente do conceito paradigm in social security, because integrates the
de saúde emitido pela Organização Mundial de Saúde law-medical research with the hole health care pro-
– OMS. Além do estudo dos registros periciais dos cri- gram, what leads to the social well-being, that is part
mes contra os costumes, nas décadas de setenta, oiten- of the health concept adopted by the ORGANIZA-
ta e noventa, realizou-se entrevistas estruturadas para ÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE-OMS. There are the
recolher informes da real possibilidade para assistên- study of the technical exams about the sexual cri-
cia multidisciplinar e multinstitucional às vítimas de mes in the 70´s, 80´s and 90´s, in addition to intervi-
violência sexual familiar, que resultou na disposição ews that had the purpose of collecting opinions on
motivada de aproximadamente 80% dos entrevistados. the real possibility to create an interdisciplinary and
Da análise dos resultados destacam-se mudanças quan- institutional care to the victims that suffered any kind
titativas e qualitativas dos delitos sexuais nas três dé- of sexual violence, which had the approval of the 80
cadas: do tabu da virgindade na primeira década, ao % of the interviewed people. The results were a chan-
estupro associado a outros delitos, praticados no con- ge in numbers and kinds of the sexual crimes in the
curso de mais de duas pessoas, na segunda década e ao last three decades: from the virgin taboo of the first,
crescimento vertiginoso da violência sexual familiar to the rape and other crimes, practiced by two or
na terceira década. more people, in the second, and the incredibly fast
21
grow of sexual violence inside the family, participar de estudos, projetos ou programas
in the third one. referentes à violência sexual familiar.
CRIMES CONTRA OS COSTUMES DA BAHIA
EVOLUÇÃO E PECULIARIDADES EM TRÊS DÉCADAS

Divulgar projeto assistencial, implantado no


INTRODUÇÃO Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, pela
A partir do levantamento e estudo de perícias Secretaria da Segurança Pública para atenção
realizadas na Seção de Sexologia do Instituto às vítimas de violência sexual.
Médico Legal Nina Rodrigues e de experiên-
cia vivenciada em trinta anos, buscamos in- METODOLOGIA
formar, analisar e motivar para um novo posi- Realizamos levantamento e estudo de perí-
cionamento da ciência médico-legal, no inte- cias de verificação de virgindade, sedução,
resse da coletividade e no desencadeamento estupro e atentado violento ao pudor, exe-
de ações de ordem pública e social, saneado- cutadas no Instituto Médico Legal Nina Ro-
ras da violência. drigues, nos períodos: 1972 a 1979; 1980 a
1989 e de 1990 a 1999, e entrevistas estrutura-
OBJETIVOS das através de um questionário aplicado a 83
Fornecer conhecimentos sobre evolução e pecu- profissionais de diversas áreas, visando pes-
liaridades dos crimes contra os costumes, na Bahia, quisar a predisposição desses em participar de
em três décadas (setenta, oitenta e noventa). estudos, projetos ou programas referentes à
Informar a predisposição de profissionais em violência sexual familiar.

Tabela 1

Tabela 2

Fonte IMLNR/DPT

22
Tabela 3
LIDIA RAMOS DE ARAÚJO

Fonte IMLNR/DPT

Tabela 4

Exemplo de interpretação: pros em que o agressor foi membro da pró-


Ao compararmos o número total de estupros pria família (VSF).
ocorridos no triênio 97/99 com o total ocor- No triênio 97/99, houve também elevação de
rido no triênio 78/80, observamos que hou- perícias de Atentado Violento ao Pudor em
ve aumento de 209,5%. Contribuiu para esta comparação com o triênio 78/80. Contribuiu
evolução, o aumento de 470,7% nos estu- para esta evolução o aumento de 489,5% em
23
que o agressor foi membro da própria família. exemplo de interpretação desse fato é a cons-
*VSF – Violência Sexual Familiar tatação da quebra do silêncio pelas mulhe-
CRIMES CONTRA OS COSTUMES DA BAHIA
EVOLUÇÃO E PECULIARIDADES EM TRÊS DÉCADAS

**VSNF – Violência Sexual Não Familiar res, a partir do exercício da cidadania femi-
Fonte: IMLNR/BA nina.
Nessa década, talvez pelo mesmo motivo,
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E cresceu o volume de denúncias de violência
INFORMAÇÕES ADICIONAIS sexual familiar. O tabu da virgindade, en-
Após trinta anos dedicados à perícia e ao ensi- tretanto, continuava presente e expresso atra-
no da sexologia forense, é valioso informar a vés de 36,72% de perícias de verificação de
evolução e peculiaridades dos crimes sexuais virgindade e 29,28% de sedução. O estupro
ocorridos na Bahia, destacando, especialmen- já representava 28,77% dos casos registra-
te, os crimes contra a liberdade sexual. dos e o atentado violento ao pudor, 5,23%.
No curso desse período, além das mudanças O perfil do agressor difere da década anteri-
quantitativas, aqui expressas em tabelas e or; na maioria dos casos, eram desconheci-
gráficos, testemunhamos mudanças qualita- dos da vítima. Aumentou, também, a práti-
tivas radicais. ca da violência sexual, no concurso de mais
Na década de 70, ao tempo em que eclodi- de duas pessoas e sua associação a outros
am os movimentos feministas, a luta pelos delitos, praticados com grave ameaça, sob a
direitos da mulher, e se propalava a guerra mira de arma de fogo. O assalto a casais em
dos sexos, observamos na Seção de Sexolo- automóvel, seguido de violência sexual, tor-
gia do Instituto Médico Legal Nina Rodri- nou-se freqüente, mas o registro desta ocor-
gues-BA, que 57,05% dos casos periciados rência delituosa era feito apenas pela mulher,
eram de sedução e 18,13%, de verificação embora ambos fossem violentados, conforme
de virgindade, exibindo a persistência do declarações de agressores a estudantes de Di-
tabu da virgindade, àquela época. O estu- reito, no curso de um trabalho acadêmico.
pro, apesar do crescimento positivo, repre- A violência presumida pela idade também
sentava 16,97% das perícias e, na maioria passa a ser destaque nessa década. A década
dos casos, o agressor era conhecido da vítima: de 90 foi marcada pelo crescimento da vio-
namorado, vizinho, etc. O atentado violento lência sexual, expresso por 51,35% de perí-
ao pudor figurava em 7,85% dos casos. cias de estupro e 11,71% de atentado vio-
Em 18 de maio de 1973, em Vitória do Es- lento ao pudor. Nessa década, houve redu-
pírito Santo, o caso, inusitado, da menor ção significativa do total de perícias regis-
A.C.S., que aos 8 anos, foi seqüestrada, dro- tradas na Seção de Sexologia do Instituto
gada, violentada sexualmente e morta, aba- Médico Legal Nina Rodrigues, talvez, pela
lou o país, e a data dessa ocorrência simbo- diminuição considerável de requisições de
liza hoje o “DIA NACIONAL DE COMBA- perícias de sedução e de verificação de vir-
TE AO ABUSO E EXPLORAÇÃO SEXU- gindade, representada por 17,18% e 19,76%,
AL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES”. respectivamente. Acreditamos que o volu-
Na década de 80, houve significativo aumen- me de delitos sexuais violentos nesta época
to de perícias sexológicas no Instituto Mé- era bem maior que os indicados pelas esta-
dico Legal Nina Rodrigues, quase o dobro tísticas; algumas pessoas violentadas prefe-
de registros ocorridos na década anterior. Um riam o silêncio à exposição, sobretudo pes-
24
soas do sexo masculino. CONCLUSÃO
Registrou-se, ainda, nesse período, o cres- Esses informes servem, perfeitamente, como
LIDIA RAMOS DE ARAÚJO

cimento vertiginoso da violência sexual fa- indicadores de desorganização social, cujas


miliar, representando 16% dos casos de vi- causas devem ser investigadas com profun-
olência sexual, periciados no IMLNR. As didade e envidado esforços para prevenção
doenças sexualmente transmissíveis, espe- e reparação dos danos.
cialmente a papilomatose, tornaram-se acha- O interesse para atuação interdisciplinar
do freqüente nas perícias sexológicas. é real, assim como é possível aglutinar di-
A prática do delito sob grave ameaça foi des- versas instituições no combate à violên-
taque nessa época, assim como a violência cia sexual.
de natureza presumida, pela idade da víti-
ma. Os agressores, na maioria dos casos, BIBLIOGRAFIA
eram os pais ou padrastos. Araújo, Lídia Ramos de. Delitos Incestuo-
Do questionário aplicado a 83 profissionais sos - Um Estudo Sobre Violência Sexual em
de diversas áreas, visando pesquisar o inte- Família. Recife, Pernambuco, VI Congres-
resse em participar de estudos, projetos ou so Brasileiro de Medicina Legal, 1980.
programas referentes à violência sexual fa- Araújo, Lídia Ramos de;Araújo, Paulo Ser-
miliar, obtivemos, conforme demonstrado, gio Peixoto de; Lima, Augusto Henrique C
motivação em quase 80% dos entrevistados, Dias; Regis,José Carlos da Anunciação. Vi-
prevalecendo o interesse institucional sobre olência Sexual Familiar - Uma Proposta de
o individual, tanto em profissionais da capi- Assistência Multidisciplinar Integrada. Re-
tal, que representaram 55,4%, como do in- cife, Pernambuco. Forense 2000.
terior do Estado, com representação de Butles, Sandra. A Conspiração do Silêncio
44,6%. – O Trauma do Incesto. Rio de Janeiro. Zahar
Finalmente, vale informar que na Bahia, es- Editores, 1979.
pecificamente no Instituto Médico Legal Cohen, Claudio. O Incesto, um desejo. São
Nina Rodrigues, foi implantado pela Secre- Paulo: Casa do Psicólogo. Livraria e Edito-
taria da Segurança Pública, em dezembro de ra Ltda, 1993.
2001, um serviço de atenção às vítimas de Freud, S. Totem e Tabu. Traduzido pelo
violência sexual, tendo como objetivos: Prof. J.P. Porto Carrero. Rio, pág 11. ed.
· Reduzir os efeitos da agressão sofrida pe- Guanabara.
las vítimas da violência sexual através de Rich, A. On lies, secrets and silence. New
atendimento institucional especializado, com York: ww norton, 1979.
apoio psicossocial e médico; Uchoa, Darcy de Mendonça. Sobre a Psico-
· Assegurar o acolhimento terapêutico e es- patologia do Incesto, volume XI, X Ofici-
cuta das vítimas; nas Gráficas de Assistência a Psicopatas –
· Proporcionar um atendimento imediato Juqueri, SP, 1994.
adequado à situação de violência vivida; Vargas, Alvarado, E. Medicina Legal. 3 ed.
· Possibilitar a criação de um grupo de estu- San José, Costa Rica: Lehmann, 1983.
do e pesquisa interinstitucional permanen- Thomas, Eva. A Violação do Silêncio. São
te, sobre as questões ligadas à violência se- Paulo: Livraria Martins Fontes, Editora Ltda,
xual e determinantes. 1986.
25
ENERGIA DE PROJÉTEIS

ADEIR BOIDA DE ANDRADE


Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto
Coordenação de Balística
Perito Criminal

Artigo de Discussão

Fórmulas matemáticas para o cálculo da energia N = Kg. m/s2 (observe que o Kilograma-força, que é o
dos projéteis disparados pelas armas de fogo são peso de uma massa de 1 Kg na superfície da terra seria
apresentadas de diferentes formas em textos da nossa Kgf = Kg . 9,8m/s2, ou seja kgf = 9,8 N).
Balística Forense, sendo que em muitas delas apa-
recem fatores multiplicadores constantes, ao lado A Energia de 1 Joule, por outro lado, é aquela que se
da aceleração da gravidade (g). transfere a uma massa de 1 Kg, mediante o trabalho
No texto o autor mostra como efetuar o cálculo da realizado por uma força de um Newton quando lhe é
energia cinética dos projéteis (valores que apare- aplicada por todo o intervalo de 1 m, ou seja: A aplica-
cem nas tabelas balísticas dos fabricantes de muni- ção da força altera a velocidade da massa, que ganha
ção), empregando, como não poderia deixar de ser, energia cinética medida por E = ½ m. v2.
as fórmulas simples da Física Clássica.
E = Trabalho = F . d = 1/2mv2, ou, em unidades do SI
J = N . m.
O Joule (J) é a unidade de energia do Sistema Interna-
cional (SI). Trata-se de uma unidade extremamente Observe a correção, em termos do uso das unidades:
pequena, que veio compor a unidade de potencia (que m.v2 = Kg . m2/s2 = Kg . m/s2 . m = N . m
corresponde à taxa de produção ou de consumo de ener-
gia no tempo) chamada Watt (W), sendo que 1 W = 1 Exemplo: Calcular a energia de um projétil disparado
Joule/segundo. por um revólver de calibre .38SPL com cano de 4 po-
A energia que compramos da Concessionária de eletri- legadas. A massa do projétil é de 158gr (10,24g) e sua
cidade é medida em kWh, ou seja, 1.000 Wh. O seu velocidade na boca do cano da arma foi medida com
preço atual gira em torno de R$0,40/kWh. sendo de 260m/s:
Veja quantos Joules isto representa:
E = ½ 0,01024Kg . 2602 m2/s2 = 346,112 Kg. m/ s2 . m
1 kWh = 1.000 J/s . 1 hora = 1.000 J/s. 60min. 60s/min = 346 N. m = 346 J (Joules)
= 3.600.000 Joules
Sendo 1 N = 1/9,8 Kgf, esta mesma energia poderia
No mesmo SI, a unidade de força é o Newton (N), que ser encontrada como sendo:
é a força capaz de alterar a velocidade (acelerar) uma
massa (m) de 1Kg a uma taxa de 1 m/s a cada segundo, E = 346/9,8 Kgf.m = 35.3 Kgf.m (aqui temos o kilograma-
ou seja 1m/s2: força x metro, e não o kilograma-massa x m)
26
No sistema Inglês, a massa é medida em Libras (l Observe-se que esta pressão tem um valor
lb = 0,454Kg) e a velocidade é dada em pés por cerca de 300 vezes maior que a do pneu do
ADEIR BOIDA DE ANDRADE

segundo (fps), sendo que 1 pé = 12 polegadas = seu carro, e que é apenas a pressão média
12 . 2,54cm = 0,3048m. resultante, e não o pico de pressão dos gases
queimando!
No caso, a velocidade seria v=260m/s = 260 f/
0.3048/s = 853 fps, e isto corresponde a multipli-
car o valor em m/s por 1/0.3048, ou seja 3,28!

Considerando que a aceleração da gravida-


de na face da terra é de 32.144ft/s2 (9,8m/s2
. 3,28), e que as 10,24 g correspondem a
0.0226lb, esta mesma energia poderia ser
dada por:

E = ½ 0.0226 lb . (853ft/s)2 = 8.222 lb . ft2/s2


= 8.222 ft/s2 . ft,

Dividindo o resultado pela aceleração da gravi-


dade na face da terra (g = 32.144ft/s2), temos:

E = 8.222/32.144 = 256 lb.ft. (sendo que aqui


temos a libra-força, e não a unidade de massa).

Prosseguindo com o exemplo calculado, de-


terminamos a força média resultante (pressão
dos gases menos o atrito do raiamento) que
acelerou aquela massa no cano de 4”
(=101,6mm) de um revólver .38SPL:

E = F. d
346 N . m = F . 0,1016m, donde F = 3.406 N =
3.406/9.8 = 347Kgf = 347/.454 = 764lbf

Esta força média resultante, aplicada sobre um


círculo de 9mm de diâmetro (S= ¶ (0,9cm)2/4
= 0,636 cm2), equivale a uma pressão, tam-
bém média, de:
P = 347/0.636 = 546 Kgf/cm2 sendo Kgf =
2.2lbf, e cm2 = 0.155 pol2, teremos:
P = 546 . 2,2 lb/0.155pol2 = 7.750 lb/pol2 =
7.750 psi.
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E ventos

Fonte: Associação Brasileira de Criminalistica

28
R ESENHA LITERÁRIA

NOVIDADES NAS LIVRARIAS E BIBLIOTECA DOCUMENTOSCOPIA, Autor: Lamartine Bi-


ANIBAL MUNIZ SILVANY FILHO - IMLNR. zarro Mendes, 2ª Edição, Editora Millennium - Faz
detalhadas recomendações sobre procedimentos pe-
ACIDENTES DE TRÃNSITO – Aspectos téc- riciais e orienta quanto aos cuidados na seleção, co-
nicos e jurídicos, Autor: Ranvier Feitosa Ara- leta e manejo de elementos de prova, interpretação
gão , 3ª Edição , Editora Millennium - Esta obra dos dados, elaboração de laudos, e conclusões. Ca-
constitui valioso guia para os operadores e apli- pítulos especiais são dedicados a análises sobre
cadores do direito na utilização de laudos perici- moeda metálica, cédulas do Real, Dólar norte-ame-
ais em seus misteres, estabelecendo, de modo sim- ricano, e de selos. Comenta sobre a modernização
ples, claro e objetivo, uma ponte entre o mundo dos recursos em segurança e proteção contra frau-
jurídico e o mundo da perícia em matéria de aci- des, práticas de falsificação e formas de atuação dos
dentes de tráfego, guiando-se pelos meandros da criminosos.São narrados, também, inúmeros casos
perícia, penetrando no âmago das coisas e na es- de crimes famosos.
sência dos fenômenos.
ENTOMOLOGIA FORENSE - Quando os inse-
DESENHO PARA CRIMINALISTICA E RE- tos são vestígios, Autora: Janyra Oliveira Costa,
TRATO FALADO, Autor: Albani Borges dos Editora Millennium - A Entomologia Forense é a
Reis, 1ª Edição, Editora Millennium - O desenho aplicação do estudo de insetos na elucidação de ques-
aplicado à criminalística é largamente utilizado tões judiciais, tais como a morte violenta, tráfico de
como instrumento de otimização da prova à dis- entorpecentes, danos em bens imóveis, contamina-
posição da afirmação da Justiça, em países desen- ção de materiais e produtos estocados, e inúmeros
volvidos. Com o advento da informática e a glo- outros casos que se apresentam à Justiça. Em mui-
balização das técnicas, padrões de comunicação e tas dessas situações, os insetos constituem, com a
convenções gráficas e visuais, as práticas perici- sua presença, vestígios de grande valor criminalísti-
ais ganham em celeridade, acuidade e confiabili- co nos procedimentos de perícias.
dade. No Brasil, as fontes de consulta eram, até
agora, um tanto esparsas, desorganizadas e não LEGISLAÇÃO AMBIENTAL, Autor: Carlos Go-
sistematizadas. mes de Carvalho, 2ª Edição, Editora Millennium –
Em linguagem simples, didática e consistente, a Esta obra reúne sistematicamente toda a vasta e mul-
obra é apresentada em duas partes: Croqui e Re- tifária legislação ambiental brasileira. Dividida em
trato Falado. Reúne grande seleção de símbolos, seis livros, traz diversas normas vigentes (Decretos,
convenções e elementos canônicos, orienta a co- Leis,Resoluções, Portarias), além de jurisprudênci-
leta de provas, inclusive por meio de entrevistas, as, sobre a política ambiental, biosfera, tecnosfera,
a elaboração de laudos claros, fomentando e faci- legislação processual, legislação constitucional (fe-
litando sobremaneira as decisões e sentenças aos deral e dos estados), acordos e tratados internacio-
que promovem a Justiça. nais, indígenas, etc.

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N ORMAS PARA PUBLICAÇÃO

Destinada a divulgar trabalhos científicos e português, que não exceda 70 linhas e resumo em inglês
pesquisas produzidas pelos profissionais que atuam no fiel ao resumo em português. O autor deve fornecer o(s)
Departamento de Polícia Técnica da Bahia (IMLNR, ICAP, nome(s) do(s) autor(es) e da instituição em que o elaborou.
IIPM, LCPT), nas mais diversas áreas de conhecimento, No rodapé, serão mencionados auxílios ou dados relativos
conforme resolução do diretor Geral, Eduardo Dorea. Os à produção do artigo e seus autores.
trabalhos devem seguir as seguintes normas: II – Os trabalhos relativos à pesquisa experimental devem
ter todas as informações necessárias que permitam ao leitor
1º - A Revista Prova Material será aberta, preferencialmente, avaliar conclusões do autor.
a profissionais da Policia Científica, e destinada à publicação III - Os artigos originais deverão conter obrigatoriamente
de matérias, que, pelo seu conteúdo, possam contribuir para titulo, nome(s) do(s)autor(es), introdução, material e
a formação e o desenvolvimento científico, além da métodos, resultado, discussão e conclusão (os três últimos
atualização do conhecimento nas diferentes áreas do saber. itens podem ser agrupados em um só) e bibliografia citada.
2º - A revista científica do DPT terá periodicidade IV – Todos os trabalhos devem ser elaborados
quadrimestral com tiragem inicial de mil exemplares e preferencialmente em português e encaminhados em três
distribuição interna, em congressos, simpósios e eventos vias, com texto corrigido e revisado, além de gravado em
onde o Departamento de Polícia Técnica da Bahia estiver disquete.
representado. V – As ilustrações e tabelas com respectivas legendas devem
3º -A responsabilidade de recebimento, seleção e edição do ser confeccionadas eletronicamente, indicando o programa
material será do Editor (a) e do Secretário.O Conselho utilizado para sua produção.
Editorial, formado por profissionais lotados no DPT, ICAP, VI – A bibliografia e as citações bibliográficas, quando
IML, IIPM e LCPT, analisará o material recebido e emitirá exigidas, deverão ser elaboradas de acordo com as normas
pareceres.O calendário de publicação da revista Científica, de documentação da ABNT – 6023.
bem como as datas de fechamento de cada edição, serão VII – Os limites estabelecidos para os diversos trabalhos
definidas pelo editor (a) da revista, em consonância com o podem ser excedidos, em casos excepcionais, a critério do
conselho editorial e as disponibilidades orçamentárias. Conselho Editorial.
4º - O Departamento de Polícia Técnica publicará em sua VIII – O papel utilizado é o A4 (210x297), impresso de um
revista científica os seguintes trabalhos: só lado, espaço 1,5 cm de entrelinhas, margem 2cm de cada
I – Artigos originais, que envolvam abordagens teóricas ou um dos lados. O corpo do texto deverá estar em caixa alta e
práticas referentes à pesquisa e trabalhos que atinjam baixa, tamanho/fonte 12. O título e subtítulo deverão estar
resultados conclusivos e significativos, não devendo em caixa alta tamanho/fonte 14, tipo Times New Roman.
ultrapassar 200 linhas de 70 toques cada; IX – O suporte utilizado será o disquete 3¹/² , composto no
II – Comunicações, envolvendo textos mais curtos, nos quais editor de textos word for windows, em fonte Times New
são apresentados resultados preliminares de pesquisa em Roman, tamanho 12.
curso, ou recém concluídas, devendo ter no máximo 40 linhas 6º - O Conselho Editorial poderá propor ao(a) editor(a)
de 70 toques cada. adequação dos procedimentos de apresentação dos trabalhos
III – Notas, entendidas como complementos de trabalho já às especificidades da área.
publicados, dissertações ou comentários de autoria própria 7º- Ao autor serão oferecidos dois exemplares da edição em
ou de outro, devendo ter, no máximo, 40 linhas de 70 toques; que o seu trabalho for publicado
IV – Artigos de revisão ou atualização, que correspondam a 8º - O original será entregue mediante comprovante de
textos preparados por especialistas, a partir de uma análise recebimento aos representantes do Conselho Editorial.
crítica da literatura sobre determinado assunto de interesse 9º - Casos não previstos nesta norma serão analisados pelo
da comunidade de peritos, não devendo ultrapassar 100 Conselho Editorial.
linhas de 70 toques cada; Art. 10º - Os originais devem ser encaminhados ao Conselho
5º - A entrega dos originais para a revista obedecerá aos Editorial, na Coordenadoria de Comunicação, Cerimonial
seguintes requisitos: e Marketing, 2º andar do DPT, e contatos mantidos também
I – O artigo original e o de revisão ou atualização deverão pelo telefone (71) 324-1692, Fax símile (71) 324-1622/1672.
ser acompanhados, obrigatoriamente, de resumo em E-mail: provamaterial@ptecnica.ba.gov.br.

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