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MODERNISMO EM

PORTUGAL
FERNANDO PESSOA: A POESIA ORTÔNIMA
Contexto Histórico
Início do século XX;
Otimismo da Belle Epóque;
Progresso material;
Proclamação da República (1910);
Primeira Guerra Mundial (1914-18);
Revolução Russa (1917);
Vanguardas europeias;
Golpe de Direita (1926);
Governo ditatorial de Salazar (1928).
Início Histórico

1915, publicação da revista Orpheu.


Fernando António Nogueira Pessoa
(Lisboa, 13 de Junho de 1888 — Lisboa, 30 de
Novembro de 1935)

Um caso de alteridade.
Tempo de Travessia
Há um tempo em que é preciso abandonar
as roupas usadas que já têm
a forma do nosso corpo e esquecer
os caminhos que nos levam
sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia.
E, se não ousarmos fazê-la,
teremos ficado para sempre,
à margem de nós mesmos.
(Fernando Pessoa)
" Nunca amamos alguém.
Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém.
É a um conceito nosso –
em suma, é a nós mesmos –
que amamos.”
(Livro do Desassossego)
POESIA ORTÔNIMA DE FERNANDO PESSOA)
(“ELE MESMO”)
Fernando Pessoa (“Ele Mesmo”)

Avesso ao sentimentalismo;
Emoções pensadas; metalinguagem;
Não possuiu uma filosofia nítida;
Sebastianista →nacionalismo → ideal de grandiosidade
portuguesa → Mensagem;
Preferência pelas quadras e, em sua poesia ortônima, de
redondilhas;
Musicalidade;
“Gosto do Pessoa na pessoa” (C. Veloso).
Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,


Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda


Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Dizem que finjo ou minto

Dizem que finjo ou minto Sobre outra coisa ainda.


Tudo que escrevo. Não. Essa coisa é que é linda.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação. Por isso escrevo em meio
Não uso o coração. Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Tudo o que sonho ou passo, Sério do que não é,
O que me falha ou finda, Sentir, sinta quem lê !
É como que um terraço
Mensagem
Está dividido em três partes, com uma nota
preliminar antecedendo-as. Todas elas, incluindo a
nota preliminar, possuem epígrafes em latim.
A primeira, Brasão, utiliza os diversos componentes
das armas de Portugal para revisitar algumas
personagens da história do país.
A segunda, Mar Português, debruça-se sobre a época
das grandes navegações, batendo à porta de figuras
como Infante D. Henrique, Vasco da Gama e Fernão
de Magalhães, mas não se limitando a elas.
A terceira, O Encoberto, é a parte mais
marcadamente simbólica, voltando, ainda a falar de
outras figuras da história de Portugal. O termo "O
Encoberto" é uma designação ao antigo rei de
Portugal D. Sebastião I, o que demonstra o
“sebastianismo”.
BRASÃO
“Bellum sine bello”
O DOS CASTELOS
A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.

O cotovelo esquerdo é recuado


O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.

Fita, com olhar esfíngico e fatal


O Ocidente, futuro do passado.

O rosto com que fita é Portugal.


Ulisses
O Mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo __
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.

Este, que aqui aportou,


Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.

Assim a lenda se escorre


A entrar na realidade,
E a fecunda-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.
D. DINIS
Na noite escreve um seu Cantar de Amigo
O plantador de naus a haver,
E ouve um silêncio murmúrio consigo:
É o rumor dos pinhais que, como um trigo
De Império, ondulam sem se poder ver.

Arroio, esse cantar, jovem e puro,


Busca o oceano por achar;
E a fala dos pinhais, marulho obscuro,
É o som presente desse mar futuro,
É a voz da terra ansiando pelo mar.
D. SEBASTIÃO, REI DE PORTUGAL
Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.

Minha loucura, outros que a tomem


Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?
MAR PORTUGUÊS
“Possessio maris”
Mar Português
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar


Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

Quem quere passar além do Bojador


Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
EPITÁFIO DE BARTOLOMEU DIAS

Jaz aqui, na pequena praia extrema,


O Capitão do Fim. Dobrado o Assombro,
O mar é o mesmo: já ninguém o tema!
Atlas, mostra alto o mundo no seu ombro.
Padrão
O esforço é grande e o homem é E ao imenso e possível oceano
pequeno. Ensinam estas Quinas, que aqui
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei vês,
Este padrão ao pé do areal Que o mar com fim será grego ou
moreno romano:
E para diante naveguei. O mar sem fim é português.

A alma é divina e a obra é E a cruz ao alto diz que o que me


imperfeita. há na alma
Este padrão signala ao vento e E faz a febre em mim de navegar
aos céus Só encontrará de Deus na eterna
Que, da obra ousada, é minha a calma
parte feita: O porto sempre por achar.
O por-fazer é só com Deus.
O ENCOBERTO
“Pax in Excelsis”

D. SEBASTIÃO
Esperai! Caí no areal e na hora adversa
Que Deus concede aos seus
Para o intervalo em que esteja a alma imersa
E sonhos que são Deus.

Que importa o areal e a morte e a desventura


Se com Deus me guardei?
É O que eu me sonhei que eterno dura,
É Esse que regressarei.
NEVOEIRO
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer —
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.


Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!
Valete, Frates.

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