Você está na página 1de 13

Supremo Tribunal Federal

Decisão sobre Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 13

07/05/2020 PLENÁRIO

REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO


1.225.185 MINAS GERAIS

RELATOR : MIN. GILMAR MENDES


RECTE.(S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS
GERAIS
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE
MINAS GERAIS
RECDO.(A/S) : PAULO HENRIQUE VENANCIO DA SILVA
ADV.(A/S) : ALINE NAZARIO TEIXEIRA
AM. CURIAE. : INSTITUTO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS CRIMINAIS -
IBCCRIM
ADV.(A/S) : MAURÍCIO STEGEMANN DIETER E OUTRO(A/S)

RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. PENAL E


PROCESSUAL PENAL. TRIBUNAL DO JÚRI E SOBERANIA DOS
VEREDICTOS (ART. 5º, XXXVIII, C, CF). IMPUGNABILIDADE DE
ABSOLVIÇÃO A PARTIR DE QUESITO GENÉRICO (ART. 483, III, C/C
§2º, CPP) POR HIPÓTESE DE DECISÃO MANIFESTAMENTE
CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS (ART. 593, III, D, CPP).
ABSOLVIÇÃO POR CLEMÊNCIA E SOBERANIA DOS VEREDICTOS.
MANIFESTAÇÃO PELA EXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, reputou constitucional a


questão. O Tribunal, por unanimidade, reconheceu a existência de
repercussão geral da questão constitucional suscitada.

Ministro GILMAR MENDES

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 67A1-B84A-1C4A-5194 e senha 2851-ECA6-3DAE-C412
Supremo Tribunal Federal
Decisão sobre Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 2 de 13

ARE 1225185 RG / MG

Relator

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 67A1-B84A-1C4A-5194 e senha 2851-ECA6-3DAE-C412
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 3 de 13

REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO


1.225.185 MINAS GERAIS

RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. PENAL E PROCESSUAL


PENAL. TRIBUNAL DO JÚRI E SOBERANIA DOS VEREDICTOS
(ART. 5º, XXXVIII, C, CF). IMPUGNABILIDADE DE
ABSOLVIÇÃO A PARTIR DE QUESITO GENÉRICO (ART. 483,
III, C/C §2º, CPP) POR HIPÓTESE DE DECISÃO
MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS (ART. 593,
III, D, CPP). ABSOLVIÇÃO POR CLEMÊNCIA E SOBERANIA DOS
VEREDICTOS. MANIFESTAÇÃO PELA EXISTÊNCIA DE
REPERCUSSÃO GERAL.

MANIFESTAÇÃO

O Senhor Ministro Gilmar Mendes (Relator): Trata-se de


agravo contra decisão de inadmissibilidade de recurso
extraordinário, em face de acórdão do Tribunal de
Justiça de Minas Gerais (eDOC 3, p. 5), assim
ementado:

APELAÇÃO CRIMINAL - HOMICIDIO QUALIFICADO CONSUMADO E


HOMICÍDIO QUALIFICADO TENTADO - PRELIMINAR - SUSPEIÇÃO
DE TESTEMUNHAS - ARGUIÇÃO PRECLUSA - MÉRITO - DECISÃO
MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS -
INOCORRÉNCIA - ABSOLVIÇÃO POR CLEMÊNCIA -TESE
SUSTENTADA EM PLENÁRIO - SOBERANIA DO JÚRI POPULAR -
MANUTENÇÃO - REDUÇA0 DA PENA -BASE - IMPOSSIBILIDADE -
CORRETA ANÁLISE DAS CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS. I - Fica
preclusa a alegação de suspeição de testemunhas que
não foram oportunamente contraditadas, na forma do
art. 214, do CPP. II - A cassação da decisão por ser
manifestamente contrária às provas dos autos só é
possível quando houver erro escandaloso e total
discrepância, para que não se afronte o princípio da
soberania do Júri Popular. III - A possibilidade de

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 065F-79CE-48AE-CA9F e senha 30D9-0559-A479-057D
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 4 de 13

ARE 1225185 RG / MG

absolvição, pelo Conselho de Sentença, em quesito


genérico, por motivos como clemência, piedade ou
compaixão, é admitida pelo sistema de intima
convicção, adotado nos julgamentos feitos pelo Júri
Popular. V - Quando a análise das circunstâncias
judiciais é feita corretamente, não há que se falar em
redução da pena-base.

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais


ofereceu denúncia em desfavor de Rodrigo da Silva,
Paulo Henrique Venâncio da Silva, Marcus Vinícius de
Oliveira Euclides, Taiara Scalret Amaral da Silva e
Mara Pereira Marciano, qualificados nos autos, como
incursos nas sanções dos artigos 121, § 2º, I e IV
(vítima Thiago Amâncio), e 121, § 2º, I e IV, c/c art.
14, II, (vítima Talisson do Carmo), todos do CP, nos
termos da exordial acusatória.
No julgamento por jurados, o Conselho de Sentença
absolveu Mara Pereira Marciano das imputações que lhe
foram feitas; condenou Marcus Vinícius pela prática
dos crimes previstos no art. 121, § 2º, I e IV, e art.
121, §2º, I e IV, c/c art. 14, II, todos do CP, à pena
de 23 (vinte e três) anos e 6 (seis) meses de
reclusão, em regime fechado; e condenou Paulo Henrique
nos termos do art. 121, §2º, I e IV, do CP, à pena de
14 (quatorze) anos de reclusão, em regime inicialmente
fechado, absolvendo-o em relação ao homicídio tentado.
O Ministério Público interpôs apelação, pleiteando a
cassação do julgamento, porquanto manifestamente
contrário à prova dos autos, no que se refere à
absolvição do acusado Paulo Henrique em relação ao
homicídio tentado contra a vítima Talisson. Tal
recurso foi negado pela Primeira Câmara Criminal do
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, nos

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 065F-79CE-48AE-CA9F e senha 30D9-0559-A479-057D
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 5 de 13

ARE 1225185 RG / MG

termos acima ementados (eDOC 3, p. 5).


No recurso extraordinário, interposto com fundamento
no artigo 102, inciso III, alínea a, da Constituição
Federal, aponta-se violação ao artigo 5º, incisos
XXXVIII, c, e LV, do texto constitucional. Nas razões
recursais, sustenta-se que o recorrido foi absolvido
por meio de veredicto manifestamente contrário à prova
dos autos, motivo por que deve o acórdão ser cassado,
para que seja realizado novo julgamento. (eDOC 3, p.
80)
Sustenta o Ministério Público, ora recorrente, que a
vítima é assassino confesso do enteado do recorrido,
motivo por que teria o Júri deste se compadecido e,
assim, o absolvido. Aduz que a absolvição por
clemência não é permitida no ordenamento jurídico e
que ela significa a autorização para o
restabelecimento da vingança e da justiça com as
próprias mãos.
No Tribunal a quo, o RE não foi conhecido a partir da
aplicação da Súmula 279 do STF. (eDOC 3, p. 131-133)
O MPMG interpôs agravo em recurso extraordinário.
(eDOC 3, p. 149-159)
É o relatório.

Presentes os requisitos de admissibilidade do recurso


extraordinário, passo à análise da existência de
repercussão geral da matéria constitucional. De fato,
a matéria constitucional está prequestionada e sua
solução prescinde de revolvimento fático-probatório.

Destaca-se que a reforma do CPP de 2008 alterou de


modo substancial o procedimento do Júri brasileiro
(Lei 11.689/2008). Uma importante modificação se deu
na quesitação aos jurados.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 065F-79CE-48AE-CA9F e senha 30D9-0559-A479-057D
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 6 de 13

ARE 1225185 RG / MG

Nos termos do art. 483, Os quesitos serão formulados


na seguinte ordem, indagando sobre: I a materialidade
do fato; II a autoria ou participação; III se o
acusado deve ser absolvido; (...). Ademais, conforme o
§2º do mesmo artigo, respondidos afirmativamente por
mais de 3 (três) jurados os quesitos relativos aos
incisos I e II do caput deste artigo será formulado
quesito com a seguinte redação: O jurado absolve o
acusado?.
Portanto, inseriu-se um quesito obrigatório, que
sempre deve ser o terceiro a ser respondido pelos
jurados, em que se pergunta de forma genérica: O
jurado absolve o acusado?. Não há qualquer
especificação sobre os motivos ou fundamentos para tal
decisão. Tal quesito genérico foi uma inovação
aportada pela reforma da Lei 11.689/2008.
Diante disso, aventa-se que o recurso de apelação
cabível em situações de decisão dos jurados
manifestamente contrária à prova dos autos pode ter
assumido uma nova feição após a reforma da Lei
11.689/2008. Isso porque, se o jurado pode absolver de
um modo genérico, por qualquer motivo, questiona-se a
possibilidade de absolvição por clemência, mesmo em um
sentido manifestamente contrário à prova dos autos.
Em resumo, a questão aqui debatida diz respeito à
impugnabilidade pela soberania dos veredictos (art.
5º, XXXVIII, c, CF) de uma absolvição pelo Júri em
resposta ao quesito genérico (art. 483, III, c/c §2º,
CPP), por meio de apelação interposta pelo Ministério
Público com base na hipótese de decisão manifestamente
contrária à prova dos autos (art. 593, III, d, CPP).
Ou seja, coloca-se o seguinte problema: a realização
de novo júri, determinada por Tribunal de 2º grau em
julgamento de recurso interposto contra absolvição

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 065F-79CE-48AE-CA9F e senha 30D9-0559-A479-057D
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 7 de 13

ARE 1225185 RG / MG

assentada no quesito genérico (art. 483, III, c/c §2º


CPP), ante suposta contrariedade à prova dos autos
(art. 593, III, d, CPP), viola a soberania dos
veredictos (art. 5º, XXXVIII, c, CF)?
Na prática, se o júri, soberano em suas decisões nos
termos determinados pela CF/88, pode absolver o réu ao
responder positivamente ao quesito genérico (O jurado
absolve o acusado?) sem necessidade de apresentar
motivação, isso autorizaria a absolvição até por
clemência e, assim, contrária à prova dos autos?
Tal temática é objeto de divergências na doutrina e na
jurisprudência, o que não deixaria de refletir no
Supremo Tribunal Federal.
Em decisão liminar, o Min. Edson Fachin suspendeu a
realização de novo júri, destacando a divergência que
existe na jurisprudência do STF e no Superior
Tribunal de Justiça:

Primeiramente, embora a tradicional jurisprudência da


Corte aponte para a compatibilidade entre o princípio
da soberania dos veredictos e o juízo anulatório
empreendido pelo Tribunal de Justiça em caso de
decisões proferidas pelo Júri reputadas como
manifestamente contrárias à prova dos autos, é certo
que a questão está longe de se encontrar pacificada no
âmbito doutrinário e jurisprudencial.
No STJ, o tema foi recentemente debatido, no âmbito da
Terceira Seção, a qual, por apertada maioria, decidiu,
em síntese que A absolvição do réu pelos jurados, com
base no art. 483, III, do CPP, ainda que por
clemência, não constitui decisão absoluta e
irrevogável, podendo o Tribunal cassar tal decisão
quando ficar demonstrada a total dissociação da
conclusão dos jurados com as provas apresentadas em

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 065F-79CE-48AE-CA9F e senha 30D9-0559-A479-057D
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 8 de 13

ARE 1225185 RG / MG

plenário. (HC 313.251/RJ, Terceira Seção, relator


Ministro Joel Paciornik, julgado em 28.02.2018). Nada
obstante, a substancial corrente divergente instaurada
naquele decisum, composta pelos Min. Sebastião Reis
Júnior, Reynaldo Soares da Fonseca, Ribeiro Dantas e
Antonio Saldanha Pinheiro, bem demonstra o quão
intrincada e tortuosa é a matéria ora proposta.
Também a respaldar o entendimento de que a temática
comporta verticalização, são as esclarecedoras
ponderações, em sentido aparentemente diverso ao
habitual decote que se dá à matéria na Corte, exaradas
pelo Min. Gilmar Mendes, Celso de Mello e Joaquim
Barbosa, em feitos que tangenciaram a celeuma
relacionada ao poder revisional da Corte de Apelação
versus a soberania dos veredictos. (...). (RHC 168.796
MC, Rel. Min. Edson Fachin, j. 29.3.2019)

Sobre o debate, já afirmei anteriormente que:

O quesito genérico quanto à absolvição passou a ser


obrigatório desde a edição da Lei 11.689/2008, que
trouxe a atual redação do § 2º e do inc. III do caput,
ambos do art. 483 do CPP. Somente não é feita a
indagação em tela se o quesito quanto à materialidade
ou o quanto à autoria/participação forem respondidos
negativamente, na forma do § 1º do referido art. 483 e
do § ú. do art. 490 do Codex processual penal. E esse
quesito engloba tudo quanto alegado em favor do réu
pela defesa, nos debates que antecedem a votação pelos
jurados, sem que seja necessário quesitação técnica
quanto aos componentes de eventuais excludentes
alegadas.
Tal é a abrangência desse quesito, que mesmo que os
jurados respondam positivamente quanto à

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 065F-79CE-48AE-CA9F e senha 30D9-0559-A479-057D
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 9 de 13

ARE 1225185 RG / MG

autoria/participação e a negativa de autoria seja a


única tese alegada pela defesa, ainda assim não se
mostra contraditório responderem positivamente quanto
ao quesito da absolvição. Os jurados sempre podem
absolver por clemência aquele que consideraram com
participação no fato. A clemência compõe juízo
possível dentro da soberania do Júri, ainda que
dissociada das teses da defesa. (RE 982.162, de minha
relatoria, j. 31.8.2018)

Conforme decidido pelo Min. Celso de Mello, não se


pode ignorar a existência de expressiva orientação
jurisprudencial no sentido de que, com o advento da
Lei nº 11.689/2008, os jurados teriam passado a gozar
de ampla e irrestrita autonomia na formulação de
juízos absolutórios, não se achando adstritos, em sua
razão de decidir, seja às teses suscitadas em plenário
pela defesa, seja a quaisquer outros fundamentos de
índole estritamente jurídica. (RHC 117.076 MC, j.
16.9.2013)
Dessa forma, nos termos do art. 1.035, § 1º, do Código
de Processo Civil, há repercussão geral da questão
constitucional. Verifica-se que a temática é
reiteradamente abordada em sede de recursos
extraordinários e habeas corpus, de modo que se mostra
pertinente assentar uma tese para pacificação.
Além do interesse jurídico, verifica-se relevância
política e social, pois envolvidos temas de política
criminal e segurança pública, amplamente valorados
pela sociedade em geral. Ademais, o conflito não se
limita a interesses jurídicos das partes recorrentes,
razão pela qual a repercussão geral da matéria deve
ser reconhecida.
A questão aqui discutida não se confunde com aquela

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 065F-79CE-48AE-CA9F e senha 30D9-0559-A479-057D
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 10 de 13

ARE 1225185 RG / MG

cuja repercussão geral foi reconhecida no tema 1.068


(RE 1.235.340, Rel. Min. Roberto Barroso, j.
25.10.2019), visto que lá se discute a possibilidade
de execução imediata de pena aplicada por Tribunal do
Júri, ou seja, execução provisória de condenação em
primeiro grau, sem se questionar os efeitos ou o
cabimento da apelação sobre tal decisão.
Por fim, destaca-se que a questão aqui analisada não
demanda reexame fático-probatório, vedado em sede de
recurso extraordinário nos termos da Súmula 279 do
STF. Embora existam precedentes desta Corte que
reconhecem tal óbice formal, o problema levantado
neste momento diz respeito somente à tese jurídica
delimitada.
Não se questiona se há prova em um ou outro sentido,
tampouco se a decisão no caso concreto é ou não
manifestamente contrária aos autos. Discute-se
exclusivamente se a soberania dos veredictos é violada
ao se modificar uma absolvição assentada em resposta
ao quesito genérico obrigatório.
Vê-se, assim, que o pronunciamento desta Corte é
relevante para balizar demandas futuras, de modo que
se fixa a seguinte questão-problema: a realização de
novo júri, determinada por Tribunal de 2º grau em
julgamento de recurso interposto contra absolvição
assentada no quesito genérico (art. 483, III, c/c §2º
CPP), ante suposta contrariedade à prova dos autos
(art. 593, III, d, CPP), viola a soberania dos
veredictos (art. 5º, XXXVIII, c, CF)?

Diante do exposto, manifesto-me pela existência de


repercussão geral da questão constitucional suscitada
e submeto a matéria à apreciação dos demais Ministros
da Corte.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 065F-79CE-48AE-CA9F e senha 30D9-0559-A479-057D
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 11 de 13

ARE 1225185 RG / MG

É a manifestação.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 065F-79CE-48AE-CA9F e senha 30D9-0559-A479-057D
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 12 de 13

REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO


1.225.185 MINAS GERAIS

MANIFESTAÇÃO

AGRAVO – PROVIMENTO.

TRIBUNAL DO JÚRI – ABSOLVIÇÃO


POR CLEMÊNCIA – QUESITO
GENÉRICO – RECURSO
EXTRAORDINÁRIO – REPERCUSSÃO
GERAL CONFIGURADA.

1. O assessor David Laerte Vieira prestou as seguintes informações:

Eis a síntese do discutido no recurso extraordinário com


agravo nº 1.225.185, relator ministro Gilmar Mendes, inserido
no sistema eletrônico da repercussão geral em 17 de abril de
2020, sexta-feira, sendo o último dia para manifestação 7 de
maio, quinta-feira:

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais interpôs


extraordinário, com alegada base na alínea “a” do inciso III do
artigo 102 da Constituição Federal, em face de acórdão por
meio do qual a Primeira Câmara Criminal do Tribunal de
Justiça do Estado de Minas Gerais assentou, com fundamento
no princípio da soberania dos veredictos, a possibilidade de o
Conselho de Sentença absolver, a partir do quesito genérico, por
motivo de clemência.

Aponta violação do artigo 5°, incisos XXXVIII, alínea “c”,


e LV, da Lei Maior. Sustenta inobservadas as garantias do
contraditório e do duplo grau de jurisdição, tendo em vista o
reconhecimento da materialidade e da autoria do crime,
ausente excludente da ilicitude e da culpabilidade, sendo
absolvido o réu, em quesitação genérica, manifestamente

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 4F74-197D-2EA0-3C62 e senha 7FE8-B0AF-13F9-8EAD
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 13 de 13

ARE 1225185 RG / MG

contrária às provas constantes do processo, ante perdão, o que


é, segundo argui, vedado no ordenamento jurídico. Sublinha
ultrapassar o tema os limites subjetivos da lide, mostrando-se
relevante do ponto de vista social e jurídico.

O recurso foi inadmitido na origem. Seguiu-se


protocolação de agravo. O Relator, entendendo atendidos os
requisitos de admissibilidade, submeteu o processo ao Plenário
Virtual, manifestando-se pela repercussão geral da questão
constitucional. Propõe a seguinte tese: “A realização de novo
júri, determinada por Tribunal de 2º grau em julgamento de
recurso interposto contra absolvição assentada no quesito
genérico (art. 483, III, c/c § 2º CPP), ante suposta contrariedade
à prova dos autos (art. 593, II, d, CPP), viola a soberania dos
veredictos (art. 5º, XXXVIII, c, CF)?”.

2. Tomo como provido o agravo interposto com a finalidade de


imprimir trânsito ao recurso extraordinário.

Tem-se matéria a merecer o crivo do Plenário. Cumpre ao Supremo


definir a higidez constitucional de absolvição, assentada em quesito
genérico, por clemência.

3. Pronuncio-me no sentido de encontrar-se configurada a


repercussão maior. O extraordinário deve ter a sequência que lhe é
própria.

4. À Assessoria, para acompanhar a tramitação do incidente.

Brasília, 23 de abril de 2020.

Ministro MARCO AURÉLIO

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 4F74-197D-2EA0-3C62 e senha 7FE8-B0AF-13F9-8EAD

Você também pode gostar