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UNIVERSIDADE LÚRIO

FACULDADE DE ENGENHARIA

Licenciatura em Engenharia Civil

Apontamentos auxiliares de Introdução a Estruturas Metálicas


(Dimensionamento prático, de acordo com o REAE (ENV1993-1-1)

Autor: Gabriel Jonas Pinto Simão Mulaúzi

Pemba, 2017
OBSERVAÇÕES:

Estes apontamentos servem de apoio às aulas de Introdução a Estruturas Metálicas,


contendo informação verídica extraída do Regulamento de Estruturas de Aço para Edifícios
(REAE) e acrescida com informações de outros artigos científicos consultados, apresentando
o conteúdo de forma resumida de modo a direccionar os estudantes aos objectivos
principais das aulas teóricas e práticas. Não sendo um documento autenticado, caso se
pretenda elaborar algum trabalho ou artigo científico com informação encontrada nesta
brochura, recomenda-se a extracção da informação directamente do REAE. Os exercícios
serão elaborados a parte e as resoluções destes deverão obedecer as recomendações do
REAE, as Tabelas Técnicas e o Regulamento de Segurança e Acções para Edifícios e Pontes
(RSA). As tabelas de perfis metálicos em anexo são parte das tabelas técnicas para
elementos de construção metálica (da versão 2012).

O REAE é um Regulamento autenticado que obedece as recomendações do RSA, gerado a


partir da norma europeia (ENV1993-1-1) para o dimensionamento de edifícios em
estruturas metálicas e obras análogas, considerando somente a utilização de perfis
laminados a quente. Caso se pretenda fazer algum projecto com outros tipos de perfis
(como por exemplo os perfis laminados ou enformados a frio e projecto especiais de
estruturas construídas por tubos com ligações amovíveis), recomenda-se a consulta das
especificações da norma europeia (ENV1993-1-3).

O RSA é um regulamento que estabelece regras gerais para a verificação de segurança das
estruturas de edifícios, pontes rodoviárias, passadiços e outros tipos de estruturas,
independentemente da natureza ou material estrutural.

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Docente: Eng. Gabriel Mulaúzi
PLANO ANALÍTICO

 Comportamento do aço
 Perfís metálicos e construções metálicas
 Elementos comprimidos
 Elementos tracionados
 Elementos flexionados
 Dimensionamento de estruturas metálicas
o Vigas e asnas
o Pilares, contraventamentos e bases de fundação
o Treliças
 Ligações metálicas
 Fabrico e montagem
 Trabalho prático

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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 1
2. PROPRIEDADES DO AÇO ................................................................................................................. 2
2.1. Propriedades mecânicas ......................................................................................................... 3
2.2. Resistências mecânicas ........................................................................................................... 4
3. CONSTRUÇÕES METÁLICAS ................................................................................................................. 5
3.1. Perfis metálicos (laminados a quente)......................................................................................... 6
4. ELEMENTOS COMPRIMIDOS, ELEMENTOS TRACIONADOS E ELEMENTOS FLEXIONADOS ........... 10
a) Elementos comprimidos ........................................................................................................... 10
b) Elementos tracionados ............................................................................................................. 12
c) Elementos flexionados .............................................................................................................. 12
5. DIMENSIONAMETO DE PERFIS METÁLICOS COM TABELAS TÉCNICAS (Elementos de pórticos e
coberturas: treliças, asnas, vigas, pilares e fundações) ........................................................................ 14
5.1. Vigas (e asnas) ....................................................................................................................... 14
5.2. Pilares e bases de fundação .................................................................................................. 15
5.3. Treliças .................................................................................................................................. 23
6. LIGAÇÕES METÁLICAS ................................................................................................................... 24
6.1. Parafusos e rebites................................................................................................................ 24
6.2. Ligações soldadas .................................................................................................................. 26
7. REQUISITOS PARA O FABRICO E MONTAGEM .............................................................................. 26
8. TRABALHO PRÁTICO...................................................................................................................... 27
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................................... 28
10. ANEXOS ..................................................................................................................................... 29

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1. INTRODUÇÃO
O uso de metais como matéria-prima para estruturas começou com o ferro fundido. Muitas
pontes de ferro fundido foram construídas entre 1777 e 1820, geralmente em arco, com vigas
principais compostas por peças de ferro fundido formando barras ou treliças, como por
exemplo a ponte Coalbrookdale, construída na Inglaterra entre 1777 e 1779. A partir de 1840,
o ferro fundido foi substituído pelo ferro forjado. O exemplo importante mais antigo é uma
ponte britânica construída em 1846-1850, feita de chapas e cantoneira de ferro forjado.
O processo de laminar várias formas foi se desenvolvendo a medida que ferro fundido e
forjado passaram a ser mais utilizados. A fabricação de barras em escala industrial começou a
partir de 1780 e a de trilhos começou por volta de 1820 e se estendeu aos perfis tipo “I” por
volta de 1870. A aceleração do desenvolvimento da siderurgia, propiciou a obtenção de aço
em escala industrial. Com isso, desde 1890 o aço vem substituindo o ferro forjado como o
principal material metálico para a construção de edifícios.

A Engenharia Civil tem vindo a enfrentar desafios propostos por diversos projectos de
Arquitectura, onde se verificam edifícios, pontes ou estruturas de longos vãos e
sobrecarregadas, que leva à aplicação do betão e da madeira em peças de grandes secções ou
betão pré-esforçado para alcançar a resistência pretendida. Para além destas soluções antes
mencionadas, a construção civil tem vindo a utilizar as estruturas metálicas como alternativa
estruturalmente segura e economicamente viável já a muitos anos para diversos tipos de
construção.
As estruturas metálicas são constituídas por elementos metálicos como chapas, barras e
perfis, ligados entre si por aparafusamento, rebitagem ou soldadura, onde a qualidade final
destas estruturas depende da correcta aplicação de métodos e procedimentos em todas as
fases do projecto, desde a fase de definição, dimensionamento, fabricação, montagem da
estrutura no terreno até a recepção definitiva

Como parte da Engenharia Civil, é importante que o engenheiro conheça a disciplina de


Estruturas Metálicas e tenha o domínio desta matéria na prática, pois, actualmente, a indústria
de construção civil tem vindo a apostar nesse tipo de estruturas pelo facto de apresentar
grande campo de vantagens na sua aplicação, satisfazendo as principais exigências de um
projecto de engenharia (custo acessível, alta qualidade e curto tempo de execução da obra).

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2. COMPORTAMENTO DO AÇO
O Aço

As formas mais usuais de metais ferrosos são o aço, o ferro fundido e o ferro forjado, sendo o
aço, actualmente, o mais importante dos três. O aço e o ferro fundido são ligas de Ferro e
Carbono, com outros elementos de dois tipos: elementos residuais decorrentes do processo de
fabricação, como o Silício, Manganês, Fósforo e Enxofre, e elementos adicionados com o
intuito de melhorar as características físicas e mecânicas do material denominados elementos
de liga.

O aço é a liga ferro-carbono em que o teor de carbono varia desde 0,008% até 2 , 1 1 %.
O carbono aumenta a resistência do aço, porém o torna mais frágil. Os aços com baixo teor
de carbono têm menor resistência à tracção, porém são mais dúcteis. As resistências à ruptura
por tracção ou compressão dos aços utilizados em estruturas são iguais, variando entre
amplos limites, desde 235 MPa até valores acima de 1 200 MPa.

Classificação do Aço
 Em função da presença, na composição química, de elementos de liga e do teor de
elementos residuais, os aços são classificados em aços-carbono, que contêm teores
normais de elementos residuais, e em aços-liga, que são aços-carbono acrescidos de
elementos de liga ou apresentando altos teores de elementos residuais.

 Do ponto de vista de suas aplicações, os aços podem ser classificados em diversas


categorias, cada qual com suas características. Por exemplo, dos aços para estruturas são
requeridas propriedades de boa ductilidade, homogeneidade e soldabilidade, além de
elevada relação entre a tensão resistente e a de escoamento. A resistência à corrosão é
também importante só sendo, entretanto, alcançada com pequenas adições de cobre. Para
atender a estes requisitos, utilizam-se em estruturas os aços-carbono e os aços em baixo
teor de liga ou microligados, ambos os tipos com baixo e médio teores de carbono. A
elevada resistência de alguns aços estruturais é obtida por processos de conformação ou
tratamentos térmicos.

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2.1. Propriedades mecânicas

 Constantes físicas do aço


Módulo de deformação longitudinal (módulo de elasticidade) E = 2,06 × 10⁵ MPa
Módulo de flexão (Módulo de elasticidade transversal) G = 0,8 ×10⁵ MPa
Coeficiente de Poisson v = 0.3
Coeficiente de dilatação térmica ∝ = 12 × 10−6
Massa específica (Densidade) 𝜌 = 7850 kg/m3
Peso específico (peso volúmico) 𝛾 = 77 𝑎 78,5 kN/m³

 Ductilidade

Denomina-se ductilidade a capacidade de o material se deformar sob a acção das cargas. Os


aços dúcteis, quando sujeitos a tensões locais elevadas, sofrem deformações plásticas capazes
de redistribuir as tensões. Esse comportamento plástico permite, por exemplo, que se
considere numa ligação aparafusada a distribuição uniforme da carga entre parafusos. Além
desse efeito local, a ductilidade tem importância porque conduz a mecanismos de ruptura
acompanhados de grandes deformações que fornecem avisos da actuação de cargas elevadas.

 Fragilidade
É o oposto da ductilidade. Os aços podem se tornar frágeis pela acção de diversos agentes:
baixas temperaturas ambientes, efeitos térmicos locais causados por exemplo, por solda
eléctrica. O estudo das condições em que os aços se tornam frágeis tem grande importância
nas construções metálicas, uma vez que os materiais frágeis se rompem bruscamente, sem
aviso prévio. Dezenas de acidentes com navios e pontes, foram provocadas pela fragilidade
do aço decorrente de procedimento inadequado de solda.

 Resiliência e tenacidade
Estas duas propriedades se relacionam com a capacidade do metal de absorver energia
mecânica.
Resiliência é a capacidade de absorver energia mecânica em regime elástico, ou, o que é
equivalente, a capacidade de restituir energia mecânica absorvida.
Tenacidade é a energia total, elástica e plástica que o material pode absorver por unidade de
volume até a sua ruptura.

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 Dureza
Denomina-se dureza a resistência ao risco ou abrasão. Na prática mede-se a dureza pela
resistência que a superfície do material oferece à penetração de uma peça de maior dureza.

 Dilatabilidade
É a propriedade que sujeita o aço ao efeito de dilatação em temperaturas elevadas (a cima de
100 ⁰ C.

 Fadiga
A resistência à ruptura dos materiais é, em geral, medida em ensaios estáticos. Quando as
peças metálicas trabalham sob efeito de esforços repetidos em grande número, pode haver
ruptura em tensões inferiores às obtidas em ensaios estáticos. Esse efeito denomina-se fadiga
do material.

 Corrosão (ferrugem)
Denomina-se corrosão o processo de reacção do aço com alguns elementos presentes no
ambiente em que se encontra exposto, sendo o produto desta reacção muito similar ao
minério de ferro. A corrosão promove a perda de secção das peças de aço, podendo se
constituir em causa principal de colapso.

2.2. Resistências mecânicas


A resistência mecânica do aço é testada em ensaios de compressão e tracção em diversas
etapas. Actualmente, os valores estabelecidos em tabelas são referentes aos valores
característicos, tensões de corte, limites de resistência à tracção e à compressão (anexo A).

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3. CONSTRUÇÕES METÁLICAS
Actualmente, o metal tem sido utilizado na construção civil em diversas obras de engenharia.

As construções metálicas são compostas por diversos elementos, desde chapas, barras, tubos,
parafusos, solda, rebites e cabos de aço. Estas devem ser executadas por profissionais
capacitados para a construção da base de fundação e montagem dos perfis, de modo não
comprometer o produto final da obra por efeito de alguma incapacidade na parte dos
operários.

Geralmente, os perfis são produzidos no local industrial de transformação do aço e trazidos


em seguida para o local da obra, onde já se encontra construída a base de betão para receber a
estrutura metálica. Depois vem a montagem, que é feita manualmente por operários com
apoio de máquinas elevadoras como a grua ou veículos munidos de dispositivos de elevação
de cargas, que possibilitam a elevação das peças até a altura da sua fixação (ligação), seja por
soldadura, rebites ou por parafusos.

 Vantagens
 Fabricação das estruturas com precisão milimétrica, possibilitando um alto controle de
qualidade do produto final;
 Material resistente a vibração e a choques;
 Possibilidade de execução de obra mais rápida e limpa;
 Possibilidade de montagem e desmontagem da estrutura a qualquer momento;
 Alta resistência estrutural, possibilitando a execução de estruturas leves para vencer
grandes vãos;
 Possibilidade de reaproveitamento de materiais ou mesmo sobras de obra.

 Desvantagens
 Limitação de execução em fábrica, em função do transporte até ao local de obra;
 Necessidade de tratamento superficial das peças contra a oxidação;
 Necessidade de mão-de-obra e equipamentos especializados para sua fabricação e
montagem.

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3.1. Perfis metálicos (laminados a quente)
O aço dos perfis a utilizar nos elementos estruturais não deve ser de resistência inferior ao
Fe360. Deve também satisfazer as condições estabelecidas no REAE e nas normas
portuguesas. Caso se pretenda utilizar um aço diferente de Fe360, Fe430 ou Fe510, deve-se
verificar os mesmos critérios de dimensionamento e valores de resistência não inferiores ás
do Fe360. A figura a baixo mostra diferentes configurações de alguns perfis metálicos
actualmente utilizados na construção civil.

Alem destes, existem também perfis “Z” e “T” que em alguns casos podem surgir da
combinação de outros perfis soldados em sentidos opostos. Em casos especiais, pretendendo
adicionar enrijecedores ou suportes ao longo da secção pode-se alcançar os perfis compostos.

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Estas representações, são tidas como vistas em planta das secções transversais dos perfis,
cujas vistas reais de alguns são apresentadas nas imagens a seguir.

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Algumas estruturas de edificações metálicas frequentemente vistas são as apresentadas nas
imagens a seguir.

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4. ELEMENTOS COMPRIMIDOS, ELEMENTOS TRACIONADOS E ELEMENTOS
FLEXIONADOS
Verificações de segurança aos estados limites últimos (REAE, artigo 39⁰)

As verificações de segurança das estruturas de aço para edifícios devem ser efectuadas de
acordo com os critérios estabelecidos no Regulamento de Segurança e Acções para Estruturas
de Edifícios e Pontes (RSA), atendendo as disposições que constam no presente regulamento
(REAE). Os valores de cálculo a empregar no dimensionamento devem ser obtidos através
das teorias de elasticidade ou de resistência dos materiais, considerando as combinações das
acções e os coeficientes de segurança estabelecidos no RSA para a verificação dos estados
limites pretendidos. O dimensionamento é feito estudando primeiro a direcção mais frágil
entre X e Y do perfil.

Por questões de segurança, nenhum elemento estrutural (que absorve tensões), deve ser
de espessura menor que 4 milímetros num ambiente moderado, ou 7mm num ambiente
corrosivo (REAE, artigo 12⁰).

NB: Os critérios apresentados a seguir, são parte das especificações do REAE, resumidos para direccionar o
estudante da presente disciplina aos objectivos principais de verificação de segurança aos estados limites
últimos. Caso se pretenda aprofundar as informações, recomenda-se a apreciação do REAE.

a) Elementos comprimidos
 Nestes elementos, deve ser verificada a resistência das tensões transversais e a resistência
a encurvadura (flambagem);
 Nos elementos comprimidos sujeitos ao risco de varejamento, a verificação de segurança
consiste em satisfazer a condição da tensão solicitante ser menor ou igual a tensão
resistente da peça;
 A secção a considerar no dimensionamento de uma peça comprimida para os estados
limites últimos, é a secção cheia da peça, mesmo que haja furo;

 O dimensionamento das peças é feito estudando a direcção mais frágil entre X e Y da


secção do perfil. Se durante o dimensionamento uma direcção apresentar dificuldade no
alcance de solução em diversas tentativas e levando a utilização de perfis de grandes
secções, recomenda-se o contraventamento dessa direcção e dimensionar o perfil em
função da outra;

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 No caso de barras longas comprimidas, deve-se verificar a segurança à encurvadura, que
𝜋2 ∗𝐸∗𝐼
surge por efeito da compressão excessiva causada pela carga crítica Nₑ = .
𝑙𝑒 2

a.I) Passos para o dimensionamento à compressão simples de barras

Depois de conhecida a força de compressão (Nsd) actuante na barra, geralmente tomam-se os


seguintes passos:

I. Determinar a área da secção transversal inicial (A') da barra que resiste ao esforço de
𝑁𝑠𝑑
compressão (Nsd), a partir da fórmula A' = , onde fyd é o valor da resistência
𝑓𝑦𝑑

mecânica do aço em utilização (anexo A);


II. Consultar a tabela do perfil pretendido e escolher uma área maior ou igual a A' para
poder extrair os dados do momento de inércia (I) e do ráio de giração da secção
transversal (i) na direcção em estudo;
𝑙𝑒
III. Determinar o coeficiente de esbelteza (𝜆) da barra a partir da fórmula 𝜆 = , onde
𝑖
𝑙𝑒 é o comprimento de encurvadura da barra (anexo B). Depois determinar o
coeficiente de encurvadura (𝜑) conforme as recomendações do REAE encontradas no
anexo C;
IV. Determinar a área da secção transversal sujeita à encurvadura (𝐴𝑒 ) a partir da fórmula
𝐴′
𝐴𝑒 = , para depois comparar com a área do perfil (𝐴) que corresponde ao valor de
𝜑
”A” escolhido na tabela dos perfis, de modo a verificar se a área do perfil é maior que
a área sujeita à encurvadura (𝐴 > 𝐴𝑒 ), por fim fazer a verificação das tensões.
NB: Caso não se verifique esta condição de superioridade, deve-se escolher um perfil de maior área
do que a anteriormente escolhida e repetir os cálculos até que se satisfaça a condição. Se em diversas
tentativas não se alcançar a condição, para evitar a utilização de grandes secções, recomenda-se o
contraventamento da direcção em estudo e dimensionar a outra direcção.
 Verificadas satisfatoriamente todas condições, pode-se dizer que a peça esta
dimensionada para atender as solicitações dos estados limites últimos à
compressão simples, segundo REAE.

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b) Elementos tracionados
 A verificação de segurança destes elementos também deve satisfazer a condição das
tensões (𝜎𝑠𝑑 ≤ 𝜎𝑟𝑑);
 Nestes elementos, deve ser verificada a resistência da secção transversal mais frágil da
barra. Isto é, se existir alguma possibilidade de perfuração da secção para fixação de
parafusos ou outros, a secção em estudo deve ser a perfurada, ou se haver variação de
espessura na peça deve-se estudar a zona de menor espessura;
 No dimensionamento, depois da escolha da área do perfil tabelado, deve-se descontar a
área dos furos e considerar apenas a área líquida restante para se verificar a segurança das
tensões;

b.I) Passos para o dimensionamento à tracção simples de barras

𝑁𝑠𝑑
I. Determinar a área da secção transversal inicial A' = ;
𝑓𝑦𝑑

II. Consultar a tabela de perfis e escolher um valor de A que seja maior ou igual a A' ;
III. Caso existam furos em alguma secção do perfil, deve se descontar as áreas dos furos
para obter a área líquida 𝐴𝑙𝑖𝑞 do seguinte modo: 𝐴𝑙𝑖𝑞 = 𝐴 − (𝑑 ∗ 𝑎) onde:
a - é a espessura da peça na zona perfurada
d - é o diâmetro do furo (se for abertura circunferencial) ou largura do furo (se for
abertura diferente de uma circunferência);
IV. Fazer a verificação de segurança das tensões atendendo a área líquida, para saber se
mesmo com a presença dos furos o perfil ainda suportará a carga actuante, a partir da
𝑁𝑠𝑑
seguinte expressão: 𝜎𝑠𝑑 ≤ 𝜎𝑟𝑑 ↔ ≤ fyd
𝐴𝑙𝑖𝑞

NB: Caso não se verifique esta condição, deve-se escolher outro perfil maior e refazer os cálculos até
alcançar a solução.

 Verificadas satisfatoriamente todas condições, pode-se dizer que a peça está


dimensionada para atender as solicitações dos estados limites últimos à tracção
simples, segundo REAE.

c) Elementos flexionados
 A verificação de segurança destes elementos deve satisfazer a condição das tensões
normais (𝜎𝑠𝑑 ≤ 𝜎𝑟𝑑) e das tensões tangenciais ( 𝜏𝑠𝑑 ≤ 𝜏𝑟𝑑 ), onde 𝝉𝒔𝒅 é a tensão
tangencial actuante, e 𝝉𝒓𝒅 é a tensão tangencial resistente do aço;

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 Os momentos de inércia e os momentos estáticos serão determinados em relação ao eixo
no centro de gravidade da secção bruta da peça;
 A verificação de segurança deve envolver o peso próprio da peça.

c.I) Passos para o dimensionamento à flexão de barras

I. Conhecida a carga que causa flexão, representa-se o sistema estático da barra e


determinam-se os diagramas dos esforços transversos e momentos flectores para
extrair os valores máximos destes (Msd e 𝑉𝑠𝑑), onde Msd é o momento máximo
existente e Vsd é o esforço transverso máximo existente;
II. De seguida atende-se as tensões normais para poder isolar o valor do módulo de
flexão (W) da direcção em estudo, a partir da seguinte condição: 𝜎𝑠𝑑 ≤ 𝜎𝑟𝑑 onde:
𝑀𝑠𝑑
𝜎𝑠𝑑 = e 𝜎𝑟𝑑 = fyd ;
𝑊

 Poderá ocorrer também a flexão composta, onde a barra sofre compressão ou


tracção em simultâneo com a flexão. Nesse caso, a tensão solicitante será
dada por:
𝑀𝑠𝑑 𝑁𝑠𝑑
𝜎𝑠𝑑 = +
𝑊 𝐴
III. Conhecendo o valor de W, consulta-se a tabela, nas colunas da direcção em estudo,
para escolher o perfil com módulo de flexão maior ou igual ao calculado de modo a
obter o valor da massa do perfil;
IV. Calcular o peso do perfil, majorar e adicionar a carga inicial de flexão para determinar
novamente o Msd e Vsd tendo em conta o peso próprio da peça;
V. Verificar se o novo Msd dividido pelo módulo de flexão anteriormente escolhido
causa uma tensão ainda menor que fyd, de modo a satisfazer a condição de segurança
das tensões normais;
VI. Caso a verificação anterior seja satisfeita, já se pode extrair da tabela os valores do
momento de inércia (I), espessura da alma (a), momento estático (S) e a base do perfil
𝑉𝑠𝑑∗𝑆
(b) e verificar finalmente a condição 𝜏𝑠𝑑 ≤ 𝜏𝑟𝑑, onde 𝜏𝑠𝑑 = e
𝑏∗𝐼
1
𝜏𝑟𝑑 = *fyd
√3

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5. DIMENSIONAMETO DE PERFIS METÁLICOS COM TABELAS TÉCNICAS
(Elementos de pórticos e coberturas: treliças, asnas, vigas, pilares e
fundações)

Neste capítulo serão feitos os dimensionamentos de elementos que compõem os pórticos de


estruturas metálicas para os estados limites últimos. Apresentar-se-ão apenas alguns aspectos
normativos e exercícios propostos que serão resolvidos durante às aulas, recorrendo a
utilização do REAE, RSA e algumas tabelas técnicas para a devida normalização,
quantificação de cargas e determinação de valores a utilizar durante os cálculos.

5.1. Vigas (e asnas)

Vigas, são barras horizontais ou inclinadas,


normalmente apoiadas nas extremidades, com o
objectivo principal de absorver todas as cargas acima e
encaminhar para os pilares.

As vigas, normalmente, sofrem a flexão simples, causada por esforços perpendiculares ao seu
eixo. Pode ocorrer a flexão composta, devida a actuação de cargas perpendiculares e axiais de
compressão ao eixo. Outro caso é da flexão desviada, raramente ocorre, mas deve-se ao facto
da actuação de três cargas em simultâneo em eixos distintos (Fx, Fy e Fz), onde duas destas
actuam perpendicularmente e uma actua axialmente ao eixo da viga. O método de
dimensionamento das vigas deve atender os requisitos dos elementos flexionados.

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Asnas, são barras inclinadas, que constituem a estrutura de cobertura de edifícios, apoiadas
nos pilares, desempenhando função semelhante à das vigas.

As asnas metálicas, têm o mesmo tratamento das vigas no dimensionamento. A considerável


diferença é que as asnas são elementos que somente aparecem na estrutura de coberturas,
apresentando sempre uma inclinação, enquanto as vigas podem ou não ter esta inclinação e
aparecem em qualquer parte da estrutura quando necessária.

5.2. Pilares e bases de fundação

Pilares, são elementos estruturais e geralmente verticais, que suportam as vigas, lajes, ou
qualquer carregamento, com o objectivo de absorver todas as cargas acima de si e
encaminha-las para a fundação.

Os pilares em perfis metálicos podem ter qualquer configuração de secção, desde que se
verifique a resistência desta secção ao esforço actuante e as especificações mínimas
estabelecidas pelas normas em vigor. São afixados por meio de chapas e chumbadores por
cima da base de fundação, para evitar o contacto directo entre as superfícies do pilar e o solo,
ou águas e impurezas superficiais.

O dimensionamento destes, pode atender a tracção, compressão ou ainda a flexão (no caso
de bases encastradas sujeitas a forças perpendiculares ou esforço de momento flector).

As barras do contraventamento devem ser dimensionadas tendo em conta 1% da tensão


actuante no elemento que se pretende contraventar (REAE, artigo 54⁰).

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Bases de fundação (chapa da base, chumbadores e bloco da base em betão)
As bases de pilares metálicos têm por objectivo:
- Distribuir a pressão concentrada no fuste do pilar sobre uma área da fundação;
- Garantir a vinculação da extremidade inferior do fuste do pilar na fundação, de acordo com
o sistema estrutural adoptado.
Existem dois tipos de bases: bases articuladas (rotuladas) e bases encastradas (engastadas)

Bases articuladas – São responsáveis pela transmissão de esforços normais e cortantes, do


pilar para o elemento de fundação. As mais simples são as formadas por uma chapa soldada
no pé do pilar e dois chumbadores no centro, lateralmente a alma da secção.

o Estas bases, são mais económicas para as fundações e mais indicadas para solos sujeitos a
assentamentos excessivos;
o Para armazéns sem pontes rolantes ou outros edifícios em que as cargas das fundações
são de pequena intensidade;
o Recomenda-se um mínimo de 16mm, tanto para a espessura da chapa de base, como para
o diâmetro dos chumbadores neste tipo de bases;
o São admissíveis nos casos em que o pilar não esteja sujeito ao esforço de momento
flector.

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Bases encastradas – São responsáveis pela transmissão de esforços normais, cortantes e
momentos flectores do pilar, para o elemento da fundação.

As bases encastradas mais simples, são as que o pé do pilar é soldado a uma chapa, com os
chumbadores afastados afixados depois dos banzos (superior e inferior) do pilar;

o Propiciam melhor distribuição de esforços, mas conduzem à fundações menos


económicas do que as rotuladas;
o Quando as cargas são elevadas e conduzem a chapas de base de grande espessura, utiliza-
se o artifício de enrijecedores com pequenas nervuras para reduzir a necessidade de
grandes espessuras na chapa;
o Recomenda-se um mínimo de 19mm para a espessura da chapa de base e 22mm para o
diâmetro dos chumbadores.

5.2.1. Critérios de dimensionamento das bases de fundação

O dimensionamento das bases para pilares metálicos, baseia-se no método de tensões


admissíveis. Assim, as solicitações de cálculo são tomadas com os seus valores
característicos.

 O betão é somente analisado à compressão a 35% da sua tensão característica (fck) para
a tensão admissível, dependendo da classe do betão (ver anexo D);
 O aço é analisado à compressão (40% de fyd), tracção (33% de fyd) e flexão (75% de
fyd).

Tensão admissível de cálculo (𝜹𝒂𝒅𝒎)


Material
Compressão Tracção Flexão
Betão 0,35fck - -
Aço 0,4fyd 0,33fyd 0,75fyd

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 Raciocínio de cálculo da base:

Para todos efeitos, os valores de cálculo devem ser característicos. Isto é, todas as solicitações
𝑆𝑑
que estiverem majoradas deveram ser minoradas a 50%, ou seja, (𝑠𝑘 = )
1,5

 No caso de bases articuladas, primeiro estabelece-se a área mínima necessária para


transmitir a carga vertical de modo que a tensão última do betão não seja ultrapassada.
Daí, o raciocínio se inverte e tudo será tratado como uma placa com determinadas
condições de contorno, carregada de baixo para cima.
- Para esforço de compressão, dimensionar-se-á a espessura da chapa e as dimensões do
bloco da base. Para os chumbadores poderá ser adoptado no mínimo 16mm de diâmetro
sem necessidade de dimensionamento, porque este não precisa de atender a compressão,
mas sim a tracção que não existe neste caso.

 Outra situação possível é de bases encastradas, quando ocorre um esforço de momento


flector combinado com uma carga de compressão no pilar (flexão composta
flexocompressão). Nesse caso, os esforços da zona tracionada por efeito do momento
flector terão de ser absorvidas pelos chumbadores, e os esforços da zona comprimida
deverão ser absorvidos pela chapa de base em contacto com a superfície do bloco de base
(betão). Dimensionar-se-á a chapa de base, os chumbadores e o bloco de base.

a) Área e espessura da chapa de base


I. Determinar as dimensões mínimas que a chapa deve ter para atender as tensões, a
partir da condição: 𝛿 sdc ≤ 𝛿 adm, onde:
𝑁𝑘 𝑀𝑘
𝛿 sdc = ± tensão solicitante de compressão (máxima+ ou mínimas-)
𝐴𝑐ℎ 𝑊

𝛿 adm – É a tensão admissível do betão em utilização.


𝑁𝑘 – É a força axial característica actuante na base;
𝑀𝑘 - É o momento flector característico actuante na base;
𝐴𝑐ℎ - É a área da chapa de base (rectangular ou quadrada 𝐴𝑐ℎ = B*L);
𝐵∗𝐿2
𝑊 - É o módulo de flexão na chapa de base; W =
6
Substituindo o módulo de flexão e a área pelas suas equações, fazendo assim a
condição de segurança, teremos:

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𝑁𝑘 6∗𝑀𝑘
± ≤ 𝛿adm
𝐵∗𝐿 𝐵∗𝐿²

II. Depois de determinar as dimensões da chapa de base, traça-se um desenho desta em


planta, centralizando a secção do pilar no desenho para determinar as dimensões entre
os banzos do pilar e os bordos da chapa de base (m,n);

III. A seguir, calcular a tensão máxima, apresentando o diagrama de tensão de


compressão na chapa, para finalmente determinar a espessura (t) mínima que a chapa
deve ter para resistir à compressão máxima, a partir da fórmula:
𝛿sdc,max
t = 2 ∗ 𝑚√ 𝑓𝑦𝑑

𝛿sdc, max (Compressão das bases articuladas)

b) Chumbadores

São elementos de secção circular, cuja função é fixar os pilares na base da fundação.

Podem ser submetidos ao esforço de tracção, força cortante ou a combinação destes dois
esforços. O cálculo destes consiste em determinar o diâmetro da barra e o comprimento de
ancoragem. Alem disso, devem ser observados diversos detalhes construtivos que variam em
função do tipo de chumbador, como por exemplo a distância mínima entre o chumbador e o
bordo da chapa de base (que deve ter 3cm no mínimo). Os tipos comuns são os chumbadores
com gancho recto ou curvo, e chumbadores com rosca e porca. A figura abaixo mostra estes
três tipos de chumbadores.

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b.I) Chumbadores submetidos à esforços cortantes

O esforço num único chumbador (𝑯𝟏 ) deve ser obtido dividindo a força cortante (H) total na
base do pilar pelo número de chumbadores (n) previstos a existir zona de actuação da força
total. O esforço pode também actuar nas duas direcções x e y simultaneamente, calculando-se
a resultante (H) pelas seguintes expressões:

𝐻𝑥 𝐻𝑦
𝐻𝑥1 = e 𝐻𝑦1 = , a resultante total em cada chumbador é dada por:
𝑛 𝑛

𝐻1 = √𝐻𝑥12 + 𝐻𝑦12

b.II) Chumbadores submetidos à tracção

Estes, estão submetidos à tracção apenas quando o momento flector actua na base causando
inversão de esforços na chapa de base. Nesta actuação, metade de chumbadores estará
submetido a tracção. A força de tracção ( T ) nos chumbadores, pode ser determinada a partir
do equilíbrio de momentos na base do pilar, considerando o ponto de rotação R, como
mostrado na figura abaixo.

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𝑀𝑘−𝑁𝑘∗𝑎
∑ 𝑀𝑅 = 0; 𝑇 ∗ 𝑦 − 𝑀𝑘 + 𝑁𝑘 ∗ 𝑎 = 0 ; 𝑙𝑜𝑔𝑜 𝑇 = ;
𝑦

O esforço de tracção em cada chumbador será determinado dividindo o T pelo número de


chumbadores na parte tracionada. Assim, pode-se determinar o diâmetro de cada chumbador
pela expressão de 𝒅𝒄𝒉𝒖𝒎𝒃 apresentada na figura acima.

NB: O comprimento de ancoragem é determinado em tabelas a partir do diâmetro escolhido


(anexo E).

b.III) Chumbadores submetidos ao esforço cortante e de tracção

 Neste caso, efectua-se o dimensionamento do chumbador considerando acção separada do


esforço de tracção e do cortante. O diâmetro a assumir para o chumbador será o maior
encontrado entre o cálculo à tracção e ao corte;

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 Depois faz-se a verificação de segurança considerando acção conjunta dos esforços.
Lembrar que a força deve ser dividida pelo número de chumbadores na zona tracionada
e na zona de corte em cada caso, para obter a tensão por cada chumbador.
 Assim, as tensões serão obtidas pelas expressões:
𝑇 𝐻
𝜎𝑠𝑑𝑡𝑟𝑎𝑐çã𝑜 = 𝜏𝑐𝑜𝑟𝑡𝑒 =
𝐴 𝐴

2
E a verificação de segurança é dada por: 𝜎 = √𝜎𝑠𝑑𝑡 + 3 ∗ 𝜏𝑐𝑜𝑟𝑡 2 ≤ 0,33𝑓𝑢

Ou seja, a tensão solicitante resultante da combinação dos dois esforços, não deve exceder a
33% da tensão última do aço nos chumbadores.

NB: Depois de dimensionar o diâmetro do chumbador, extrai-se as características deste, na


tabela apresentada no anexo E para poder prosseguir com o dimensionamento do bloco de
base.

c) Bloco de base

O bloco de base é estruturado em betão. É o elemento que absorve grande parte das tensões
de compressão, encaminhando-as para o solo. O dimensionamento deste, simplesmente
consiste em determinar as suas dimensões, que dependem das características dos
chumbadores e da chapa de base. Para tal, recorre-se ao método apresentado no anexo F.

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5.3. Treliças

Treliças, são estruturas constituídas de segmentos de hastes, unidos em pontos denominados


nós, formando uma configuração geométrica estável, de base triangular, que pode ser
isostática (estaticamente determinada) ou hiperestática (electricamente indeterminada).
As treliças são muito adequadas para estruturas metálicas, nas quais os perfis são produzidos
em segmentos de comprimento limitado.
São utilizadas na construção de diversas peças estruturais, sendo mais predominantes nas
coberturas.
O dimensionamento das barras das treliças compreende os critérios de peças comprimidas e
peças tracionadas.

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6. LIGAÇÕES METÁLICAS

 O objectivo de ligar as peças estruturais, consiste em garantir que os esforços actuantes


em cada peça estrutural seja transmitido e absorvido pelos outros até chegar a fundação e
por sua vez esta encaminha as cargas para o solo.
 Os perfis devem ser ligados de modo que os eixos das peças coincidam num único ponto,
porque somente assim os esforços serão devidamente transmitidos de uns para os outros.

6.1. Parafusos e rebites

a) Parafusos (REAE, artigo 21 e 58⁰)


 Os parafusos a utilizar nas ligações não devem ter resistência inferior ao aço Fe360;
 O diâmetro dos furos para os parafusos não deve exceder em mais de 2mm do diâmetro
do liso, excepto se o liso tiver diâmetro acima de 24mm, ai os furos podem ter até 3mm;
 O liso da espiga do parafuso deve ter comprimento suficiente para abranger a espessura
de todo conjunta da ligação;
 O esforço de corte deve ser dividido pelo número de parafusos previstos, para poder-se
dimensionar o diâmetro destes por unidade;

 Estas ligações consistem em determinar o diâmetro mínimo que os parafusos devem ter
para resistir as solicitações presentes;
 A ligação aparafusada pode estar sujeita a três casos de esforços (corte, tracção,
esmagamento) e o diâmetro a escolher para os parafusos é o maior entre os calculados
nos três casos.

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I. Corte no liso
Aqui, analisa-se a área do liso da espiga do parafuso. Pode compreender dois tipos de
corte: corte simples e corte duplo, como mostra a figura:

𝑇𝑠𝑑 𝑇𝑠𝑑
Corte simples: 𝜏𝑠𝑑 = ≤ 0,7𝑓𝑦𝑑 Corte duplo: 𝜏𝑠𝑑 = ≤ 0,7𝑓𝑦𝑑
𝐴 2∗𝐴

𝜏𝑠𝑑 - Tensão solicitante de corte no liso do parafuso


Tsd – Esforço transverso de corte na ligação
A – Área do liso do parafuso
fyd – Tensão resistente do aço no parafuso (anexo G)

II. Tracção no núcleo


Aqui, analisa-se a área do núcleo do parafuso
𝑁𝑠𝑑
𝜎𝑠𝑑 = ≤ 0,8𝑓𝑦𝑑
𝐴
𝜎𝑠𝑑- Tensão de tracção no núcleo
𝑁𝑠𝑑 - Força de tracção no núcleo
𝐴 - Área do núcleo
fyd – Tensão resistente do aço no parafuso (anexo G)

III. Esmagamento na ligação


Aqui, analisa-se a situação do esmagamento no bordo da chapa de ligação entre as
peças a ligar. Nestes casos, se o aço do parafuso for diferente da chapa de ligação, a
tensão resistente a considerar no cálculo é a do aço de menor resistência entre estes.
𝑇𝑠𝑑
𝜎𝑠𝑑 = ≤2,25fyd
𝑛∗𝑑∗𝑒
𝜎𝑠𝑑 - Tensão de esmagamento
n – Número de parafusos na ligação
d – Diâmetro dos parafusos
e – menor espessura entre a do perfil soldado na chapa e própria a chapa

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IV. Outro aspecto a verificar nas ligações é a existência de secções insuficientes para
transmitir esforços. Em particular, para os furos de parafusos próximos das
extremidades da chapa deve-se verificar a seguinte condição:
0,8𝑇𝑠𝑑
≤ 𝑓𝑦𝑑
𝑎∗𝑒
Tsd – Esforço transverso de corte na ligação
e – espessura da chapa
a – distância referida na disposição dos parafusos
Disposição dos parafusos (REAE, artigo 20⁰)
1) 2d ≤ a ≤ 3d
2) 1,5d≤ b ≤ 2,5d
3) 3d ≤ c ≤ 7d (ambientes agressivos)
3d ≤ c ≤ 10d (ambientes moderados)

b) Rebites (ver REAE, artigo 18⁰ e 57⁰)

As ligações rebitadas assumem os mesmos critérios dos parafusos, variando nas tensões
admissíveis em cada um dos três casos de segurança anteriormente vistos, assumindo
tensões admissíveis apresentadas na tabela abaixo.

Valores de tensões admissíveis 𝜹𝒂𝒅𝒎 para ligações rebitadas


Corte Tracção Esmagamento
0,8fyd 0,3fyd 2,25fyd

6.2. Ligações soldadas (Ver REAE, artigo 26⁰ e 60⁰)

7. REQUISITOS PARA O FABRICO E MONTAGEM


I. Projecto Estrutural – Conjunto de desenhos, memórias de cálculo, documentos e
especificações técnicas que incluem todas as informações sobre a concepção
estrutural da obra, tratamento de superfície, cálculo e dimensionamento de todos os
elementos da Estrutura e suas ligações diante das cargas aplicadas de acordo com as

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normas aplicáveis. O projecto estrutural sempre deverá ser elaborado por engenheiro
projectista habilitado.

II. Desenhos de Fabricação – Desenhos de detalhas de cada peça da estrutura, com


todas as informações necessárias à sua produção na fábrica.

III. Especificações Técnicas – Parte integrante dos documentos contratuais que


consistem na descrição dos requisitos técnicos necessários aos materiais, escolha do
aço, fabricação, montagem, tratamento de superfície, ligações, soldagem, qualificação
da mão-de-obra, critérios de aceitação, ensaios, tolerâncias, certificados, padrões e
normas aplicáveis.

IV. Fabricação – É o conjunto dos trabalhos destinados a receber a matéria-prima,


preparar as chapas e perfis estruturais através de operações de traçado, corte, dobra,
furação, desempeno, pré-montagem e composição, ponteamento, soldagem e
acabamento de todas as peças da estrutura de acordo com os desenhos de fabricação.

V. Desenhos de Montagem – Desenhos que identificam, mostram a locação,


posicionamento e fixação de cada peça na estrutura a ser montada.

VI. Desenhos de Projecto – São desenhos preparados pelo Projectista que mostram a
concepção da estrutura, sua locação, níveis, eixos e filas, com a locação e todas as
principais dimensões. Estes desenhos incluem: plantas de base, plantas de níveis,
elevações, vistas laterais e frontais, secções, indicação e especificação de materiais,
indicação de bitolas, tipos de ligação, detalhes típicos, peso estimado e notas
explicativas. Estes desenhos geralmente fazem parte dos documentos contratuais.

VII. Plano de Montagem – Desenhos, descritivos, para ilustrar a sequência e o processo


de montagem, com todos os requisitos para a instalação de suportes e travamentos
temporários, as exigências para içar, aparafusar ou soldar as peças, bem como o
dimensionamento e especificação dos equipamentos de montagem.

VIII. Montagem – União de todas as peças fabricadas da estrutura no local da obra, com o
objectivo de formar todo o seu conjunto de maneira estável de acordo com os
desenhos de projecto e de montagem.

8. TRABALHO PRÁTICO
 (Dimensionamento de um projecto em estrutura metálica)

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9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Curso de dimensionamento de estruturas de aço – EAD CBCA (Módulo 6).

FARINHA, J. S. Brazão, REIS, A. Correia dos. Tabelas Técnicas, 2012.

PFEIL, Walter, PFEIL, Michèle. Estruturas de Aço – Dimensionamento prático. Livros


Técnicos e Científicos Editora: 8ª edição - Rio de Janeiro, 2009.

Regulamento de Estruturas de Aço para Edifícios (REAE).

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10. ANEXOS

Anexo A: Tipos de aços estruturais e valores de resistência mecânica

Tipo de aço Tensão de cedência Tensão tangencial Tensão


estrutural fyd (MPa) 𝜏𝑟𝑑 (MPa) característica fk ou
𝑓𝑦𝑑 de ruptura
𝜏𝑟𝑑 =
√3
fu (MPa)
Fe360 235 135 360
Fe430 275 160 430
Fe510 355 205 510

Anexo B: Valores de comprimento de encurvadura (le)

Anexo C: Valores de coeficiente de encurvadura (𝝋)

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Anexo D: Valores de tensões caracteristicas (fck) para algumas Classes dos betões

Tensão Classes do betão


caracteristica B15 B20 B25 B30 B35 B40 B45 B50 ...
fck (MPa) 15 20 25 30 35 40 45 50 ...
(. . .) Existêm mais classes do betão em diante.

Anexo E: Tabelas de Chumbadores

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Anexo F: Metodos de determinação das dimensões do bloco de base

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Anexo G: Definições dos parafusos

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