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1 Apresentação
É mister que o ensino de Literatura não tem sido alvo de muitas pesquisas nem
estudos de casos nos últimos anos. Além disso, quando se aborda o assunto, não há
esclarecimentos teóricos embasados. Dentro da academia, o estudo ainda não está muito
bem estruturado e organizado. Faz-se necessário pensar sobre isso, e tal preocupação
despertou-nos o interesse não só pessoal, mas científico.
Ainda assim, verificamos, entrando em diversas salas de aula (seja para
observar, seja para ensinar) que também não há interesse do aluno por esta disciplina.
Ler, para ele, é difícil. Por que ler se outras mídias oferecem conhecimento mais rápido
e de forma mais prazerosa? Nota-se que há um problema com duas pontas
desconectadas.
Assim, podemos pensar nos resultados de práticas pedagógicas que possibilitem
que o aluno chegue ao conhecimento literário sem sair do seu mundo. Seria uma espécie
de integração com a sua vivência, mostrando que ali também existe o terreno literário,
que o aluno está rodeado de Literatura. Para tanto, e tendo em vista a conjuntura atual
da sala de aula, convém se apropriar de alguns conceitos da Educomunicação, pois
assim fundamenta-se sobre a incorporação de diferentes mídias dentro da sala de aula e
o processo de apropriação do aluno com o conhecimento literário a ser transmitido.
Na outra ponta deste plano pedagógico, seria interessante verificar como a criação
literária (no caráter de oficina) pode influenciar a leitura do aluno, pois esta dá ao aluno
capacidade crítica de ler melhor, pois ele se coloca na posição de autor. Pretende-se
examinar, então, se, no resultado final, há uma maior interação em todos os níveis:
tecnológico, literário, criativo e, por conseguinte, dos conceitos literários.
2 Problemática
3 Objetivos
4 Fundamentação Teórica
Então, uma leitura de qualidade (sem nos determos a fundo sobre os processos
literários subjacentes) é aquela que tem a capacidade de fazer um movimento de
suspensão do leitor, segundo definiu Joel Birman,
[...] o leitor é desconcertado pela leitura, que o desarruma nos seus sistemas
de referência. Um certo livro não passa em branco para um leitor
determinado, quando uma experiência dessa ordem se realiza. Somente,
então, as páginas plenas de sinais gráficos passam a ser escritas com palavras
ressonantes. (BIRMAN, 1996, p.55)
Através disso, podemos pensar, nesse caso, que a “boa” leitura de Literatura
resulta da associação da apreciação estética (perceber os elementos da narrativa) à
ampliação de conhecimento de mundo do indivíduo. Temos um indivíduo “suspenso”
quando isso ocorre, ou seja, há um momento em que o leitor é confrontado com a sua
realidade e coloca-a em questão (para depois voltar à realidade” modificada). Além
disso, tal movimento perpetua não só o arquivo pessoal como memorialístico do
universo do leitor. Forma-se então um movimento dinâmico e constante de
comunicação para conhecer o outro:
Pensando na importância do leitor, é mister também pensar como ele se forma. Para
tanto, há vários métodos, entre eles o criativo, relevante para este projeto. Este modelo
tem como base não somente o lazer, mas também a aquisição do conhecimento e o
desenvolvimento das habilidades individuais e culturais. Bordini e Aguiar apresentam
os objetivos educacionais a que se propõe o método criativo:
Pensando na ideia de que todo leitor quando produz a leitura recria-a a sua
maneira, constitui-se um processo passivo de criação literária que considera seu
arquivo. Quando se escreve um texto (narrativo ou não), a produção é muito mais ativa
e consciente. Um pode ser complemento do outro. É nesse sentido que se torna evidente
a pertinência do exercício de criação literária, visto que permite que o discente perceba
a constituição do universo literário, possibilitando que este seja um agente do processo
criativo. Esse movimento faz com que o aluno desenvolva uma capacidade crítica
maior, visto que, segundo Bordini e Aguiar, o método criativo desenvolve diversas
habilidades: “[...] analisar, comparar, combinar, classificar e ordenar, efetuar inferências
e, principalmente, extrapolações, vinculando essas operações intelectuais à ação física e
à prática social, nos produtos criados.” (1993, p.71)
Para realizar este processo (considerando a conjuntura educativa atual), é
pertinente o uso da Educomunicação como suporte para a aplicação do que foi dito
acima. Trata-se de um “conceito ou metodologia pedagógica que propõe o uso de
recursos tecnológicos modernos e técnicas da comunicação na aprendizagem. Como se
entende pelo nome, é o encontro da educação com a comunicação, multimídia,
colaborativa e interdisciplinar”1. Ela se torna importante visto que valoriza as
multiplicidades discursivas (música, cinema, games, redes sociais e Literatura) e produz
1
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Educomunica%C3%A7%C3%A3o> Acesso em: 27
jun. 2011
A partir que o campo de aplicação da Educomunicação é a disciplina de
Literatura, desenvolverei esse trabalho por meio de uma oficina de criação literária.
Esse movimento é favorável para o desenvolvimento das multiplicidades discursivas
(música, cinema, games, redes sociais, etc) uma vez que dá conta das representações, ou
seja, a mimesis. A representação (nesse caso a narrativa), conforme definiu Aristóteles,
imita a vida, e para garantir sua verossimilhança, organiza-se a partir dos seguintes
elementos: Espaço, Narrador, Tempo, Enredo e Personagem (definido didaticamente
por “PENTE”). É interessante, segundo Cândida Vilares, que o leitor de Literatura
perceba os elementos acima citados. (GANCHO, 2008)
Dar-se-á mais ênfase, então, na personagem, visto que é o que dá movimento à
narrativa. É por suas ações que o leitor se move dentro da ficção. Segundo Carlos Reis e
Ana Cristina Lopes, em Dicionário de Narratologia, a personagem é uma:
2
Após consulta no portal da CAPES, Google Acadêmico, Scielo, entre outros.
5 Metodologia
5.6 Etapas
1 – Apresentação dos objetivos e identificação de personagens em videogames.
Recomendação de Leitura para casa nº1.
2 – Identificação de personagens em HQs.
3 – Teorização sobre a personagem. Exercícios. Debate sobre a recomendação de
Leitura nº1 e identificação de personagem em Stand up Comedy. Recomendação de
Leitura para casa nº2.
4 – Sessão de Filme nº 1. Se possível, identificação de personagens dentro dele.
5 – Teorização e identificação de Espaço e contos curtos e visualização em HQs. Debate
sobre a recomendação de Leitura nº2. Identificação de personagem em minicontos.
Criação da própria personagem. Criação do Facebook da personagem. Recomendação
de Leitura para casa nº 3. Recomendação de produção narrativa nº1.
6 – Identificação de personagem em músicas narrativas. Leitura de alguns textos
narrativos nº1. Interação das personagens no Facebook. Recomendação de produção
narrativa nº 2.
7 – Teorização e identificação de narrador em audiobooks. Debate sobre a
recomendação de Leitura nº3. Exercícios. Leitura de alguns textos narrativos nº2.
Criação do Twitter da personagem. Recomendação de Leitura nº 4. Recomendação de
produção narrativa nº 3.
8 – Leitura de alguns textos narrativos nº3. Interação de mídias entre os alunos.
Recomendação de produção narrativa nº4.
9 – Debate sobre a recomendação de Leitura nº4. Teorização e exercícios sobre o
Tempo narrativo em contos contemporâneos. Leitura de alguns textos narrativos nº4.
Recomendação de Leitura nº 5. Recomendação de produção narrativa nº 5.
10 – Criação do blog pessoal. Teorização e exercícios sobre o Enredo narrativo em
notícias de jornais. Leitura de alguns textos narrativos nº5. Interação das mídias entre os
alunos. Recomendação de produção de narrativa nº 6.
11 – Debate sobre a recomendação de Leitura nº5. Jogo narrativo nº 1. Leitura de alguns
textos narrativos nº 6. Criação de um podcast falando sobre o pente da personagem.
Recomendação de Leitura nº 6. Recomendação de produção de narrativa nº 7.
12 – Debate sobre os meios de divulgação preferenciais dos alunos. Jogo narrativo nº 2.
Leitura de alguns textos narrativos nº 7. Interação final de mídias entre os alunos.
Recomendação de produção narrativa nº8.
13 – Debate sobre a recomendação de Leitura nº6. Divulgação da personagem em forma
de Cozplay pelos espaços do colégio de Aplicação. Leitura de alguns textos narrativos
nº 8. Elaboração de cartazes explicando a criação da personagem.
14 –. Término de alguns cartazes explicando a criação da personagem. Fechamento.
4 – Intertextualidade – Gato Preto, Edgar Allan Poe, Venha ver o pôr-do-sol, Ligia
Fagundes Telles e Paixão, de Rubem Fonseca
5 – Temática – Guerra Greco-pérsicas, de Sérgio Faraco, Missa do Galo, de Machado
de Assis e Uma estrangeira em nossa rua, de Milton Hatoum
6 – Livre
Referências
BIRMAN, Joel. Por uma estilística da existência. São Paulo: Editora 34, 1996.
BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira de. A formação do leitor. Porto
Alegre: Mercado Aberto, 1993.
GANCHO, Cândida Vilares. Como analisar narrativas. São Paulo: Ática, 2008.
MANGUEL, Alberto. A cidade das palavras: as histórias que contamos para saber
quem somos. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.