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Teoria e Prática da Arquitectura em Vitrúvio, Alberti, e outros:


Similitudes, Mudança, Diferenças

J. M. Simões Ferreira, Arq.to


IHA – Centro de Investigação – FLUL

Resumo: Teoria e Prática da Arquitectura em Vitrúvio, seus herdeiros antigos, e na Idade Média; Teoria
e Prática em Alberti e outros autores da Idade Moderna até à Contemporaneidade; a Teoria da
Arquitectura como disciplina específica e autónoma, e como forma de compreensão do Mundo.

Palavras-Chave: Teoria, Prática, Arquitectura, Similitudes, Mudança, Diferenças, Autonomia da Teoria.

O arquitecto é um pedreiro que sabe Latim – Loos, A., «Ornament und Erziehung», 1924.

Architecti est scientia pluribus disciplinis et uariis eruditionibus ornata (...) Ea nascitur ex
fabrica et ratiocinatione. Fabrica est continuata ac trita usus meditatio quae manibus perfici-
tur e materia (...) Ratiocinatio autem est quae res fabricatas sollertiae ac rationis pro portione
demonstrare atque explicare potest1.

Que a Arquitectura era ciência constituída de Teoria e Prática ou, segundo a ordem de nomea-
ção de Vitrúvio (Séc. I, a.C.), de Prática (fabrica) e Teoria (ratiocinatio) pode-se considerar
um dado adquirido, e que é possível condensar, sintetizando-o em três tópicos:

1) Arquitectura: ciência composta de Prática e Teoria, Prática em 1.º lugar


2) Prática: exercício de experiência manual, conseguida a partir da matéria
3) Teoria: demonstração e explicação, através do engenho e a racionalidade

Como se julga evidente a Prática (fabrica) sai bastante dignificada pelo autor, que até a
nomeia em primeiro lugar, à frente da Teoria (ratiocinatio, ratiocinatione). Mas o enfoque
vitruviano, na relação Teoria-Prática, agudiza-se logo a seguir, no § 2. – Veja-se:

os arquitectos que exerceram sem uma formação teórica mas apenas com base na experiência
das suas mãos não puderam realizar-se ao ponto de lhes reconhecerem autoridade pelos seus

1
Vitruve, De l’architecture (De architectura) (25-15 a.C.), Liv. I, 1, 1, texte établi, trad. et commenté par Ph.
Fleury, Paris, 1990, CUF / Les Belles Lettres, p. 4; id., Vitrúvio, Tratado de Arquitectura, I, 1, 1, trad., introd. e
notas M. J. Maciel, ilust. Th. N. Howe, Lisboa, 2006, IST Press, p. 30: A ciência do arquitecto é ornada de mui-
tas disciplinas e de vários saberes (...) Nasce da prática e da teoria. A prática consiste na preparação contínua e
exercitada da experiência, a qual se consegue manualmente a partir da matéria (...) Por sua vez, a teoria é aqui-
lo que pode demonstrar e explicar as coisas trabalhadas proporcionalmente ao engenho e à racionalidade;
4

trabalhos; também aqueles que se basearam somente nas teorias e nas letras foram considerados
como perseguindo a sombra e não a realidade. Todavia, os que se aplicaram numa e noutra
coisa, como que protegidos por todas as armas (uti omnibus armis ornati), atingiram mais
depressa, com prestígio (cum auctoritate), aquilo a que se propuseram2.

De novo a Prática é identificada com a experiência manual, vista como insuficiente, sem
autoridade, ou seja, não fundamentada, contrapondo-se-lhe a exclusividade da Teoria, como
uma persecução da sombra (umbram) e não da realidade (rem). A superação desta contra-
dição fazia-se reconhecendo a necessidade de uma e outra para se atingir resultados com
prestígio. – De resto, usar em conjunto e equilibradamente a Prática e a Teoria seria como
estar protegido por todas as armas (omnibus armis ornato)! – E o De architectura, ou De
architectura libri decem, no seu desenvolvimento, comprova este equílibrio entre Teoria e
Prática, pois dos seus 10 livros, 7 dedicados à aedificatio, 3, ou seja, cerca de metade dos
que tratam a aedificatio, têm por tema a Prática (fabrica), isto é, os Materiais e Técnicas de
Construção: o Livro II, tratando o domínio da Firmitas ou dos materiais e construção em
Toscos; o VI, dentro do âmbito da Utilitas, expõe a habitação numa óptica em que predomina
o enfoque prático, e os materiais e técnicas de construção de Limpos; o VII, descrevendo
os aspectos mais práticos para se alcançar a Venustas (pinturas e ornamentação). – Essa
Venustates enim persequitur uisus, ou seja, a beleza que o olhar persegue, e que exigiria
uoluptati proportione3. – Além destes 3 livros há ainda a descrição da Basílica de Fano, em
V, 1, 4-5, que seria comprovativa da habilitação e competência prática de Vitrúvio, cujos
editores, a partir de Cesariano, 1521, sempre intentam recriar em desenho.

É de lembrar que Platão, filósofo sempre presente em todos os aspectos da Cultura Ocidental4,
no Político (Πολιτικός)5 definira o saber prático, como o da charpentage ou toute autre

2
Vitrúvio, ob. cit., I, 1, 2 (ed. 2006), p. 30; id., Vitruve, ob. cit., I, 1, 2 (ed. 1990), p. 4: architecti qui sine
litteris contenderant ut manibus essent exercitati non potuerunt efficere ut haberent pro laboribus auctorita-
tem; qui autem ratiocinationibus et litteris solis confisi fuerunt umbram non rem persecuti uidentur. At qui
utrumque perdidicerunt, uti omnibus armis ornati, citius cum auctoritate quod fuit propositum sunt adsecuti.
3
Vitrúvio, ob. cit., III, 3, 13 (ed. 2006), p. 115; id., Vitruve, De l’architecture (De architectura), Livre III, 3,
13, texte établi, traduit et commenté par P. Gros, Paris, 1990, p. 21: Venustates enim persequitur uisus, cuius
si non blandimur uoluptati proportione et modulorum adiectionibus, uti quod fallitur temperatione adaugea-
tur, uastus et inuenustus conspicientibus remittetur aspectus.
4
Ver, Heidegger, M., Nietzsche II, Pfullingen, 1961, G. Neske, in GA 6.2, hrsg. B. Schillbach, Frankfurt am
Main, 1997, Vittorio Klostermann, S. 196: alle abendländische Philosophie ist Platonismus. Metaphysik,
5

construction manuelle, um saber liée, pour ainsi dire, originellement à l’action6, e é esta
definição que se sente a ressoar em Vitrúvio, tal como a relativa ao saber teórico, dépouillé
de toute attache à l’action, limitado a fournir une connaissance7, além de na metáfora do
conhecimento teórico como uma sombra ecoar a platónica alegoria da caverna8. – De resto,
Platão apresenta o arquitecto (ἀρχιτέκτων) como exemplo de quem fournit un savoir, et non
pas un travail de mains, e assim qu’il participe à la sciencie théorique9. Porém, o platonismo
de Vitrúvio terá sido obtido com a intermediação dos Estóicos, cuja doutrina do significado
ecoa no quod significatur et quod significat10, e através de Cícero (106-43 a.C), mestre de
todas as gerações romanas que se lhe seguiram, e basicamente essa intermediação consistiu
em domesticar o Saber Grego temperando-o com a Sabedoria Prática dos Romanos.

Os “imediatos” continuadores de Vitrúvio, Plínio, o Velho, Faventino, e Paládio, mais do


que à Teoria ligaram à Prática: Faventino, cuja obra é tida como um característico manual de
instruções práticas11, dirigido àqueles que querem construir uma habitação, ou une sorte de
guide du propriétaire qui fait bâtir12, chega mesmo a referir-se à Teoria com algum desdém,
embora afectando o seu conhecimento e até um certo respeito:

Sur l’architecture et la maîtrise de cet art, Vitruve Pollion et d’autres auteurs ont écrit de
longs traités très savants. Mais pour éviter que leur éloquence ample et diserte ne rende cette
étude étrangère à des espirits plus modestes, mon dessein a été d’extraire de chez eux un petit

Idealismus, Platonismus [e Utopismo, acrescenta-se] bedeuten im Wesen dasselbe (toda a filosofia ocidental é
platonismo. Metafísica, Idealismo, Platonismo significam essencialmente o mesmo, trad. do autor do artigo).
5
Platon, Le Politique (Πολιτικος), 258d, texte établi et traduit par A. Diès, Paris, 2e éd. revue et corrigée,
1950, Collection des Universités de France / Les Belles Lettres.
6
Platon, ob. cit., 258d-e (ed. 1950), p. 3: Αἱ δέ γε περὶ τεκτονικὴν αὖ καὶ σύµπασαν χειρουργίαν ὥσπερ ἐν ταῖς
πράξεσιν ἐνοῦσαν σύµφυτον τὴν ἐπιστήµην κέκτηνται, καὶ συναποτελοῦσι τὰ γιγόµενα ὑπ’ αὑτῶν σώµατα
πρότερον οὐκ ὄντα. – Transcreve-se a frase inteira.
7
Platon, ob. cit., 258d (ed. 1950), p. 3: Ἇρ οὖν οὐκ ἀριθµητικὴ µὲν καί τινες ἕτεραι ταύτῃ συγγενεῖς τέχναι
ψιλαὶ τῶν πράξεών εἰσι, τό δὲ γνῶναι παρέσχοντο µόνον. – Idem, frase inteira
8
Platão, A República, VII, 514a ss., trad., introd. e notas de M.ª H. da Rocha Pereira, Lisboa, 1972, Fundação
Gulbenkian.
9
Platon, ob. cit., 260a (ed. 1950), p. 5: ∆ικαίως δὴ µετέχειν ἂν λέγοιτο τῆς γνωστκῆς ἐπιστήµης.
10
Vitruve, ob. cit., I, 1, 3 (ed. 1990), p. 4.
11
Ver, Plommer, H., Vitruvius and Later Roman Building Manuals, Cambridge, 1973, Cambridge Univ. Press.
12
Cam, M.-Th., «Introduction», in Faventinus, ob. cit. (ed. 2000, referenciada na nota 6), p. XI.
6

nombre de connaissances et, quoique dans un style ordinaire, d’en faire une présentation
ordonné pour l’usage privé13.

Paládio, que começa o seu tratado chamando a atenção para a necessidade de ter em conta,
aqueles a quem se propõe instruir (se fasse une idée juste de la personne qu’on se propose
d’instruire), dirá não pretender rivalizer avec les effets de style et d’éloquence d’un profes-
seur de rhétorique, comme l’ont fait la plupart (...) qui, en faisant de la littérature à l’adresse
des campagnards, ont trouvé le moyen de rendre leur enseignement inintelligible aux lettrés
eux-mêmes14. E, na realidade, o seu enfoque é predominantemente do tipo prático, expresso
em linguagem simples, quer no respeitante à localização, implantação e construção da villa,
quer nos procedimentos análogos para as instalações rurais, notando-se, em geral, uma forte
dependência de Vitrúvio e, mais directamente, de Faventino.

Na Idade Média, a relação Prática-Teoria começa a inverter-se, dando-se primazia à Teoria


(identificada com a alma e Deus), e menosprezando-se a Prática (tida como corpo, matéria,
Mundo). E a Arquitectura, sentida como arte manual (ars mechanica, logo, coisa corpórea,
material, mundana), é vista como actividade do âmbito da Prática, não merecendo sequer a
dignidade da reflexão Teórica, daí a pobreza da Teoria da Arquitectura Medieval, de que são
exemplo algumas das definições apresentadas por Isidoro de Sevilha (560-636). – Veja-se:

Arquitectos são os pedreiros que fazem as fundações15.


A edificação consta de três momentos: a planificação, a construção e o embelezamento16.
O antigo cânone era que a largura das colunas devia equivaler à terceira parte da sua altura17.

13
Faventinus, C., Abrégé d’architecture privée (Artis architectonicae privatis vsibvs), Prologo, texte établi,
traduit et commenté par M.-Th. Cam, Paris, 2001, Collection des Universités de France / Les Belles Lettres,
p. 4: De artis architectonicae peritia multa oratione Vitruuius Pollion aliique auctores scientissime scripse-
re. Verum ne longa eorum disertaque facundia humilioribus ingeniis alienum faceret studium, pauca ex his,
mediocri licet sermone, priuatis usibus ordinare fait consilium.
14
Palladius, R. T. E., Traité d’agriculture (Opvs agricvltvrae), I, 1, texte établi, traduit et commenté par R.
Martin, Paris, 1976, Collection des Universités de France / Les Belles Lettres, p. 3: I. – De praeceptis rei
rvsticae. / Pars est prima prudentiae ipsam cui praecepturus es aestimare personam: neque enim formator
agricolae debet artibus et eloquentiae rhetoris aemulari, quod a plerisque factum est qui, dum diserte loquun-
tur rusticis, adsecuti sunt ut eorum doctrina nec a disertissimis possit intelligi. – Transcreve-se a frase inteira.
15
Isidoro de Sevilla, Etimologías (Etymologiarum), XIX, 8, ed. bilingüe de J. Oroz Reta y M. Marcos Cas-
quero, Madrid, 2000, Vol. II, p. 444: Architecti autem caementarii sunt, qui disponunt in fundamentis.
16
Isidoro de Sevilha, ob. cit., XIX, 9 (ed. 2000), Vol. II, p. 444: Aedificiorum partes sunt tres: dispositio,
constructio, venustas.
7

De venustate (...) é tudo o que se incorpora ao edifício para seu ornato e decoração, como os
artesonados dourados, as inscrições de mármore precioso ou pinturas de diferentes cores18.

Enfim, isto revela grande imprecisão nos conceitos, além da desvalorização do métier de
arquitecto, visto como idêntico ao dos pedreiros, ou seja, um ofício marcadamente prático.
Todavia, na última das citações, evidencia-se o que foi mais marcante na arquitectura medie-
val do Paleo-Cristão e do Bizantino: a ornamentação profusa, incorporada, aquilo que mais
tarde Alberti referirá, fazendo um distinguo crítico, como bellezza ausiliaria (...) un attributo
accessorio, aggiuntivo, piuttosto che naturale19. – Logo, um caso de Teoria, e mais, com
correspondência na Praxis duma Arquitectura, da qual Alberti virá a demarcar-se.

Note-se, todavia, que o decisivo na organização territorial (no sentido espacial-geográfico) e


no ordenamento urbanístico da Europa é durante este período que se giza, e é quando, por
volta do Ano 1000, com o Românico, irrompe a arquitectura da janela20, expressão do anseio
pelo infinito da alma fáustica, que culminará na imaterialidade luminosa do Gótico, e de
que a fachada cortina envidraçada (glass curtain wall) do nosso tempo será uma derivação
corrompida. – A complexidade e riqueza da arquitectura e da urbanística medieval coloca
uma questão: é possível produzir Arquitectura e Urbanismo com tal complexidade e riqueza
sem uma Teoria específica de suporte? – A melhor resposta a esta questão terá sido dada por
D. Marcelino, quando concluiu que a Teoria da Arquitectura da Idade Média não podia
deixar de ter existido, mas está inscrita nas pedras, não escrita em livros21.

O desequilíbrio na relação Teoria-Prática acentua-se nos alvores da Idade Moderna com o


primeiro dos seus tratadistas, Leon Battista Alberti (1404-1472), cujo tratado, De re aedifi-

17
Isidoro de Sevilla, ob. cit., XV, 8, 14 (ed. 2000), Vol. II, p. 246: Antiqua ratio erat columnarum altitudinis
tertia pars latitudinum.
18
Isidoro de Sevilla, ob. cit., XIX, 11 (ed. 2000), Vol. II, p. 448: Venustas est quidquid illud ornamenti et decoris
causa aedificiis additur, ut tectorum auro distincta laquearia et pretiosi marmoris crustae et colorum picturae.
19
Alberti, L. B., L’architettura [De re aedificatoria], esc. 1443-52, imp. 1485, VI, 2, f. 93v, texto latino e trad. a
cura di G. Orlandi, introd. e note di P. Portoghesi, Milano, 1966, Ed. il Polifilo, Vol. II, p. 446-447: ornamentum
quasi subsidiaria (...) ornamentum autem afficti et compacti naturam sapere magis quam innati.
20
Spengler, O., Der Untergang des Abendlandes – Umrisse einer Morphologie der Weltgeschichte, Bd. 1,
Gestalt und Wirklichkeit, 3, 2, 10, München, 1919, 3. Auflage 1922, C. H. Beck, S. 258 ff.
21
Menéndez Pelayo, M., Historia de las Ideas Estéticas en España, Madrid, 1883, ed. 1994, Consejo Superior
de Investigaciones Cientificas, Vol. I, p. 479. – Citação ligeiramente alterada na forma, não no significado.
8

catoria, proclama: Fabri enim manus architecto pro instrumento est22, e promove o disegno
(lineamenta), a fundamento principal da Arquitectura (Tota res aedificatoria lineamentis et
structura constituta est23), e procedimento essencial do projecto, que consistiria em coligar
lineas et angulos24. – Assim, um desenho essencialmente abstracto, não mimético, cujo
objectivo era a produção de traçados25 de formas geométricas, logo, artificiais, embora esta
costruzione = structura, onde ressoa o aristotélico distinguo de Causa Formal (µορφή αἰτία) e
Causa Material (ὑλικός αἰτία)26, revele que a Prática não está de todo afastada das preocupa-
ções de Alberti, mas seria uma Prática a conformar e submeter à Teoria.

Aliás, o carácter instrumental da Cultura da Idade Moderna, e a sua sede de domínio27,


manifesta-se claramente na passagem citada primeiro, cuja tradução portuguesa é: a mão
do artífice, na verdade, não passa de um instrumento para o arquitecto28, embora, no total
da obra, Alberti, não deixe de conceder uma certa importância à Prática, chegando até a ser
minucioso, como na descrição que faz dos animais e parasitas que infestavam os edifícios,
e os tratamentos para os eliminar (De re aedif., X, 14-15, f. 198v-199v).

De resto, na Idade Moderna, a arquitectura foi desde logo postulada como uma arte aristo-
crática, a Arte do Poder, por excelência, da qual estava afastada la poveraglia (...) perché

22
Alberti, ob. cit., Prologo, f. 2 (ed. 1966), p. 7. – Na trad. ital.: il lavoro del carpentiere infatti non è che
strumentale rispetto a quello dell’architetto (tradução soft, diminuindo o carácter árduo da frase de Alberti).
23
Alberti, ob. cit., I, 1, f. 4 (ed. 1966), p. 19. – Na trad. ital.: L’architettura nel suo complesso si compone del
disegno e della costruzione (p. 18).
24
Alberti, ob. cit., I, 1, f. 4-4v (ed. 1966), Vol. I, p. 19.
25
Este termo, traçado ou traça, é o que parece corresponder melhor, no português vernáculo de uso nos gabi-
netes de arquitectura, na construção, e nas oficinas, ao lineamenta de Alberti, embora o termo delineamento,
mais erudito, mas menos corrente, também se ajuste. – Para as dificuldades da tradução de lineamenta, ver,
Donati, G., Leon Battista Alberti: Vie et théorie, Bruxelles, 1989, Pierre Mardaga, p. 29-30; para a tradução
por delineamento, ver, Teixeira Krüger, M. J., «Introdução. As leituras da Arte Edificatória», in Alberti, ob.
cit. (ed. 2011, descrita na nota 28), p. 53-67.
26
Aristote, Physique (Φυσιχή), II, 3, 194b 16-35, texte établi, trad. et commenté par H. Carteron, Paris, 1926,
Collection des Universités de France / Les Belles Lettres.
27
Utiliza-se estas noções dentro do sentido que têm na Kritische Theorie, Frankfurter Schule (Adorno, Hork-
heimer, Benjamin), no pensamento de Gadamer, de Habermas, e de Heidegger (2.ª fase, essencialmente).
28
Alberti, L. B., Da Arte Edificatória, trad. do latim de A. Espírito Santo, introd., notas e revisão disciplinar de
M. J. Teixeira Krüger, Lisboa, 2011, Fund. Gulbenkian, p. 138. – A pág. 7, o texto é apresentado como trad.
do original latino intitulado De re aedificatoria, segundo o texto da Edizioni Il Polifilo, Milão, 1966.
9

non v’entra troppa spesa neanche magistero29. – Esta perspectiva, da Arquitectura não se
destinar nem aos pobres, nem à habitação comum, é frequente na Teoria da Arquitectura da
Idade Moderna, apresentando-se no Vitrúvio de Caporali, 1536, edição traduzida, resumida
aos 5 primeiros livros, logo, saneando os dedicados à habitação comum (Livros VI e VII),
e os que tratam da Hidráulica, Gnomónica, e Machinatio (Livros VIII, IX e X)30.

É de lembrar que, Vitrúvio, faz remontar as origens da Arquitectura à construção da Cabana


Primitiva, ou seja, da Habitação, com as casae (cabanas) devindo domus (casas) através da
reflexão e comunicação (logo, da Teoria) num intenso processo de sociabilização ou inter-
acção social (Vygotsky, avant la lettre) à volta do fogo31 (Mito de Prometeu).

A primazia da Teoria atenua-se com os Manuais Práticos de Serlio, editados entre 1537-7532,
e sua estratégia de tornar a Teoria, em si mesma, uma coisa prática, através do predomínio das
figuras; os seus tratados não demonstram, mostram; dos seus nove livros nenhum é dedicado à
Prática, no sentido da fabrica, mas todos obedecem ao intuito manualístico de simplificação

29
Filarete, A. A., detto il, Trattato di architettura (esc. 1460-1464, imp. 1890), II, f. 11r, trascrizione a cura
di A. M. Finoli e L. Grassi, introd. e note di L. Grassi, Milano, 1972, Edizioni il Polifilo, Vol. I, p. 52.
30
Caporali, G., Architettura com il suo commento et figure, Vetruvio in volgar língua raportato per..., Perv-
gia, 1536; acessível in www.digi.ub.uni-heidelberg.de/. – Nos anos 60 um reputado arqueólogo e historiador
da arte, italiano, Silvio Ferri, fará algo de similar, saneando os Livros VIII, IX e X da sua edição de Vitrúvio,
ver: Ferri, S., Vitrúvio Pollione. Architettura (dai libro I-VII), testo critico, trad. e commento di..., Roma,
1960, nuova edizione con introduzione de S. Maggi, Milano, 2002, Rizzoli.
31
Vitrúvio, ob. cit., II, 1, 1-9 (ed. 2006), p. 71-74; Vitruve, De l’architecture (De architectura), II, 1, 1-9, texte
établi e trad. par Louis Callebat, introd. et commenté par P. Gros, Recherches sur les manuscrits et apparat
critique par C. Jacquemard, Paris, 1999, Collection des Universités de France / Les Belles Lettres, p. 4-10.
32
Serlio, S., Regole generali di architettura...(Lib. IV), Venetia, 1537; id., Il Terzo libro... nel qval si figvrano,
e descrivono le Antiqvita di Roma..., Venetia, 1540; id., Il Primo libro d’Architettura (Geometria), junto com,
Il Secondo libro di Perspettia, Paris, 1547 (texto bilingue, italiano-francês, trad. de J. Martin); id., Il Quinto
libro d’architettura... de tempj sacri, Paris, 1547; id., Extraordinario libro di architettura... trenta porte di
opera rustica... e uenti di opera dilicata..., Lyon, 1551; id., Il Settimo libro d’architettura... nel quale si tratta di
molte accidenti che possono occorrere all’Architetto... (texto italiano-latim), Francfort, 1575; o Libro VI,
sobre habitação, e o VIII, sobre o acampamento militar e a cidade, só foram editados em 1966. – Os livros
editados entre 1537-1575, agora estão editados em facsimil: Serlio, S., L’architettura. I libri I-VII e “Extra-
dordinario” nelle primi edizioni, ed. in formato ridotto, con introd. in italiano e in inglese di P. Fiore, Milano,
2001, Edizioni il Polifilo, 2 vols.. Sobre as eds. de Serlio nos Sécs. XVI-XVII, ver: Vène, M., Bibliographia
serliana. Catalogue des éditions imprimées des livres de Sebastiano Serlio (1537-1681), Paris, 2007, Picard.
10

prática, mostrando em desenho formas e modelos facilmente reprodutíveis ou mimetizáveis.


Esse predomínio da forma e do desenho continua nos Quattro libri dell’architettura33, de
Palladio, 1570, mas a Teoria acentuar-se-ia com Scamozzi, 1614, que concebe a architettura
universale como expressão da Idea e da precognitione34 (formada pelas vitruvianas pluribus
disciplinis et uariis eruditionibus), embora tempere a coisa, propondo as formas da arquitec-
tura como um terzo genere35, entre o natural (prática) e o artificial (teoria).

No Séc. XVIII, século dourado da utopia36 (e, acrescenta-se, da Teoria), no contexto do


Iluminismo, a primazia da Teoria, ou melhor, das Teorias, que foram múltiplas nessa época,
é absoluta. Marc-Antoine Laugier (1713-69), o mais radical dos teóricos desse tempo,
logo no início da sua obra, chegará a afirmar:

Nous n’avons point encore d’Ouvrage qui en établisse solidement les principles, qui en mani-
feste le véritable esprit, qui propose des régles propres a diriger le talent & à fixer le goût. Il
me semble que dans les Arts qui ne sont pas purement méchaniques, il ne suffit pas que l’on
sache travailler, il importe sur-tout que l’on apprenne à penser37.

Este régles propres a diriger le talent & à fixer le goût caracteriza bem o papel atribuído à
Teoria (a verdadeira Teoria) pelo Iluminismo, que nem sempre terá sido muito iluminado.

No Séc. XIX, com seu característico relativismo e eclectismo cultural, gizaram-se posições
dando prioridade à Teoria, outras dando prioridade à Prática. De resto, o legado kantiano,
33
Palladio, A., I Qvattro libri dell’architettvra..., ne’ quali, dopo un breve trattato de’ cinque ordini, & di
quelli avertimenti, che sono piu necessarii nel fabricare; si tratta delle Case Privata, delle Vie, de i Ponti,
delle Piazze, de i Xisti, et de’ Tempij..., Venetia, 1570; acessível in www.cesr.univ-tours.fr/.
34
Scamozzi, V., Idea della Architettura Universale, I, 1, 2, 1614, ed. facsimil, Bologna, 1982, A. Forni, p. 7:
sotto questa voce di Precognitione intendiamo tutte le eruditioni, e discipline necessarie all’Architetto... e na
frase anterior tinha proposto a divisão da arquitectura in quattro parti; cioè Precognitione, Edificatione, Fini-
mento, e Ristauratione, ou seja, elevará a Teoria a uma das quatro partes em que a arquitectura se dividia.
35
Scamozzi, ob. cit., I, 1, 12 (1982), p. 41: In tanto che non può seruirsi propriamente, nè delle naturali, ne meno
delle artificiali; mà và ricercando col suo intelletto, & ritrouando vn terzo genere di forme tra queste, e quel-
le; le quali possano seruire alla perpetuità, al comodo, & all’vso, accompagnate com molta gratia, e bellezza.
36
Trousson, R., Voyages aux pays de nulle part: Histoire littéraire de le pensée utopique, Bruxelles, 1979,
Université Libre de Bruxelles, p. 161.
37
Laugier, M.-A., Essai sur l’architecture, Preface, Paris, 1753, 2. ed. 1755, ed. facsimil, introd. par G. Bekaert,
Bruxelles, 1978, Pierre Mardaga, p. xxxiij. – A par desta primazia à Teoria houve tratados, como o de Bullet,
P., L’architecture pratique..., Paris, 1691, com numerosas reedições no Séc. XVIII, entre muitos outros,
cumprindo a tradição francesa de considerar a arquitectura, antes de mais, como art de bien bastir.
11

exigia que a Teoria (reinen Vernunft) fosse realizada na Prática (praktische Vernunft), e
Hegel, nas suas Vorlesungen..., 1817-1829, advertira para o carácter ilusório e insuficiente
da “natação teórica”, pois ninguém aprendia a nadar sem se lançar à água38.

Flaubert, na Éducation sentimentale, 1869, viria a caricaturar os excessos e ingenuidade dos


teóricos, através da personagem Pellerin, jovem pintor (que ia já nos cinquenta anos), genial
para o seu círculo, embora não tendo pintado, ainda, quadro algum, porque tinha um método
infalível: estudar a Teoria da Arte e a Estética, em busca da verdadeira Teoria do Belo; depois,
seria só aplicar a Teoria sobre as telas, e as obras-primas sairiam em catadupa39.

O Movimento Moderno, por um lado, pretendeu-se essencialmente prático, anti-teórico


mesmo, como o viria a definir Mies van der Rohe:

Rechaçamos: toda a especulação estética / toda a doutrina / e todo o formalismo. A arquitectura


é a vontade da época expressa espacialmente. Viva. Cambiante. Nova40.

Por outro lado nunca, no domínio da Arquitectura, se terá publicado tantas obras teóricas
como as devidas a alguns dos seus representantes maiores: Le Corbusier, Walter Gropius,
F. L. Wright, enchem uma biblioteca com suas múltiplas edições e reedições.

Nos anos 60, na onda da Pop Art, chegaram a afirmar-se arquitectos e grupos que quase só
produziram obras teóricas, algumas, mais do que pela escrita, marcadas pelo desenho, a col-
lage, a mixed, e a instalação; apontando umas para a utopia, outras para a distopia, e outras
de carácter onírico: Paolo Soleri, Archigram, Yona Friedmann, Buckminster Fuller,
Theo Crosby, Massimo Scolari, etc41. – Em França, tal já acontecera, com alguns dos
Arquitectos da Revolução, E.-L. Boullé (1728-1793), e J.-J. Lequeu (1757-1826), cujas
Teorias se expressam, sobretudo, através de desenhos, ora espectaculares, apontando para a

38
Hegel, G. W. F., Vorlesungen über Äesthetik, lições de 1817-29, imp. 1835-38 – ed. port., Estética, trad. de
Á. Ribeiro e O. Vitorino, introd. «Vida e Obra de Hegel – por Pinharanda Gomes», 1993.
39
Flaubert, G., L’éducation sentimentale, 1869 – ed. port., A Educação Sentimental, trad. J. Barreira (notável
historiador da arte), Porto, 1904, Chardon, Vol. I, p. 58.
40
Mies van der Rohe, L., «Bürohaus», in G 1, 1923, agora in Neumeyer, F., Mies van der Rohe. La palabra
sin artificio. Reflexiones sobre arquitectura 1922-1968, ed. J. Siguán, Madrid, 1995, El Croquis, p. 363.
41
Ver, Frampton, K., Modern architecture: a critical history, London, 1980, Thames and Hudson, p. 280 ss.;
id., Simões Ferreira, J. M., História da Teoria da Arquitectura no Ocidente: De forma resumida e como
Guião para o seu estudo mais aprofundado, Lisboa, 2010, Vega, p. 172-73; id., obras de Soleri, Friedmann,
Fuller, Archigram, etc., que são acessíveis no mercado livreiro da Net, www.abebooks.com, por exemplo.
12

Utopia (Boullé), ora sarcasticamente críticos, insinuando a Distopia (Lequeu). C.-N. Ledoux
(1736-1806), embora pertencendo a este conjunto, com obra marcada pela expressão de um
utópico desejo de pureza, de absoluto, de autonomia, e de atectonicidade42, distingue-se dos
outros por ter uma arquitectura construída significativa, ainda que também nessa arquitectura
se manifeste o mesmo tipo de desejos, de que é exemplo a cidade salineira de La Chaux,
primeira cidade industrial, tratada de raiz, como um projecto de cidade ideal43.

Assim, resumindo, pode-se considerar que o vitruviano equilíbrio Prática-Teoria, muito cedo
se modificou, assistindo-se, em todas as épocas, a duas atitudes diferentes: uma dando prima-
zia à Prática, outra à Teoria, embora se note, a partir da Idade Média e, acentuadamente, com
Alberti, a tentativa de impor o domínio da Teoria e a subordinação da Prática. – Hoje assiste-se
a um período de primazia da Prática, a que a Crise Financeira e o Crash Imobiliário retiraram
a motivação e fundamento, assim, é de esperar um giro no sentido da Teoria, ou da Reflexão
Crítica sobre uma “prática” que tão desvairada e pouco ou nada prática se mostrou.

No princípio do Séc. XX, do lado da História e Filosofia da Arte, encaradas com reserva
crítica, expressaram-se fortes objecções ao conceito mais comum das relações entre Teoria e
Prática, como mutuamente se influenciando, independentemente de qual delas teria primazia,
ou se andavam em círculo, e viajando com bilhete de ida e volta:

As teorias “não” explicam nem “designam” os valores e os significados das obras, mas consti-
tuem fenómenos paralelos, com uma história própria, objecto e não meio de interpretação44.

A teoria da arte não é outra coisa senão uma manifestação do sentir de uma época e a sua
importância não radica em indicar o caminho ao presente mas sim em servir à posteridade
como documento da intelectualidade pretérita45.

Se há posições com que o autor deste artigo se identifique será com estas últimas, que per-
mitem considerar a Teoria da Arte, logo, da Arquitectura também, como uma disciplina

42
Ver, Sedlmayr, H., Die Revolution der modernen Kunst, Hamburg, 1956, Rowholts – ed. port., A Revolução
da Arte Moderna, trad. de M. Henrique-Leiria, Lisboa, s.d. (1958?), Libros do Brasil, p. 63 ss..
43
Ver, Kruft, H.-W., Geschichte der Architekturtheorie. Von der Antike bis zur Gegenwart, München, 1985,
4. Auflage 1995, C. H. Beck, S. 183.
44
Panofsky, E., Dürers Kunsttheorie. Vornhemlich in hirem Verhältnis zur Kunsttheorie der Italiener, Berlin,
1915, Walter de Gruyter, S. 191.
45
Kaufmann, E., «Die Architekturtheorie der französischen Klassik und des Klassizismus», in Repertorium
für Kunstwissenschaft 44, 1924, S. 235.
13

específica e autónoma, em que a Arquitectura não é mais que uma das suas referências,
talvez a principal, mas apenas isso. O que deve interessar a todos é compreender a Existência,
a Vida, a História e o Mundo, no qual tudo ocorre (der Fall ist46). – E, se perguntarem
porque me dedico à Teoria da Arquitectura, teria de responder que ela me ajuda a
compreender essas Existência, Vida, História, e Mundo, onde Arte, Arquitectura, Teoria, e
Prática se subsumem e realizam. – Não servirá esta teoria para nada? – Não me importa
que assim seja, pois teorias servis é honra minha não as cultivar.

46
Wittgenstein, L., Logisch-philosophische Abhandlung / Tractatus Logico-Philosophicus, 1919, 1922, Kritis-
che Edition, hrsg. von B. McGuiness und J. Schulte, Frankfurt am Main, 1988, Suhrkamp, S. 4, und S. 185:
1. Die Welt ist alles, was der Fall ist. – A expressão der Fall tende hoje a ser traduzida por “o caso”, mas
optou-se por “o que ocorre”, expressão similar à usada por Tierno Galván, primeiro tradutor de Ludwig Witt-
genstein em castelhano, ver: Tractatus Logico-Philosophicus, trad. E. Tierno Galván, Madrid, 1956, reed.
1973, Alianza. Já posteriormente a esta edição, a mesma editora publicou uma nova edição do Tractatus...,
traducción e introducción de Jacobo Muñoz e Isidoro Reguera (1973, reeds. sucessivas), em que a expressão
em causa é assim traduzida: 1. El mundo es todo lo que es el caso. – Na edição portuguesa da Fundação Gul-
benkian, Tratado Lógico-Filosófico, trad. e pref. de M. S. Lourenço, introd. de Tiago de Oliveira, a tradução
é similar: 1. O mundo é tudo o que é o caso.
14

O Arquitecto Teórico e o Arquitecto Prático, gravuras de N. de L’Armessin, c. 1680

O equilíbrio entre a Prática (fabrica) e a Teoria (ratiocinatio), como prova de habilitação,


Interpretações de Rusconi, 1590, Cesariano, 1521, e Perrault, 1673

Os irónicos “desvairos” da Teoria, caminhando para a Utopia ou Distopia, Archigram


15

BIBLIOGRAFIA

Citada ou referida no texto e notas de rodapé, por ordem alfabética de autores e datas.

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sonnerie, Charpenterie, Menuiserie, Serrurerie, Plomberie, Vitrerie, Ardoise, Tuille, Pavé de Grais &
Impression. / Avec vne explication de la covtvme sur le Titre des Servitudes & Rapports qui regardent
les Bastimens. / Ouvrage tres-necessaire aux Architectes, aux Experts, & a tous ceux qui veulent bastir,
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extenso da obra ilustra o que se entendia por arquitectura prática (a construção, a velha fabrica de Vitrúvio),
e a quem se dirigia, ou qual era o seu público-alvo, no jargão erudito de hoje. – De resto, a tradição da
arquitectura entendida como arte da construção, em França, remonta a Pierre Le Muet, 1623, ou mesmo
a Jean Martin, tradutor de Vitrúvio, e que fez a correcta leitura do De architectura, como tratado que, a
par da Teoria, dava grande importância à Prática, ou Art de Bien Bastir. – Referencia-se os autores e
obras nomeadas nas letras respectivas desta bibliografia.
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––– Extraordinario libro di architettura... nel qval si dimostrano trenta porte di opera rustica... e uenti di
opera dilicata..., Lyon, 1551; acessível in www.cesr.univ-tours.fr/;
17

––– Il Settimo libro d’architettura... nel quale si tratta di molte accidenti che possono occorrere
all’Architetto... (texto italiano-latim), Francfort, 1575; acessível in www.digital.slub-dresden.de/;
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in italiano e in inglese di P. Fiore, Milano, 2001, Edizioni il Polifilo, 2 vols..
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18

réunies par..., Provence, 2005, Presses Universitaires de Provence.


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fulgor, que provocaram polémica e agitação, tenham sido as acentuadamente teóricas e especulativas,
como as de Alberti, Vitrúvio-Barbaro, Scamozzi, Fréart de Chambray, Perrault, Juan Caramuel,
Cordemoy, Laugier, Lodoli, os dois Blondel, Ledoux, e, já fora do período catalogado, as de Ruskin,
Viollet-le-Duc, Semper, Loos, Le Corbusier, Gropius, Wright, etc..

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