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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

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21/02/2020 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 1.485 DISTRITO FEDERAL

RELATORA : MIN. ROSA WEBER


REQTE.(S) : PARTIDO DOS TRABALHADORES - PT
ADV.(A/S) : LUIZ ALBERTO DOS SANTOS
REQTE.(S) : PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA - PDT
ADV.(A/S) : ILDSON RODRIGUES DUARTE
INTDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
INTDO.(A/S) : CONGRESSO NACIONAL
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. SERVIDORES


PÚBLICOS. ATUAÇÃO REMUNERADA EM CONSELHOS DE
ADMINISTRAÇÃO E FISCAL DE EMPRESAS ESTATAIS.
CONSTITUCIONALIDADE.
1. A autorização dada pela Lei 9.292/1996 para que servidores
públicos participem de conselhos de administração e fiscal das empresas
públicas e sociedades de economia mista, suas subsidiárias e controladas,
bem como entidades sob controle direto ou indireto da União não
contraria a vedação à acumulação remunerada de cargos, empregos e
funções públicas trazida nos incisos XVI e XVII do artigo 37 da
Constituição, uma vez que essa atuação como conselheiro não representa
exercício de cargo ou função pública em sentido estrito.
2. Não é objeto da ação saber se a remuneração por esse exercício
poderia ser recebida por servidores remunerados em regime de subsídio
ou estaria sujeita ao teto remuneratório constitucional.
3. Ação direta julgada improcedente, mantido o entendimento
ensejador do indeferimento da medida cautelar. (Rel. Min. José Néri da
Silveira, 07.8.1996, DJ de 05.11.1999)

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do

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ADI 1485 / DF

Supremo Tribunal Federal em julgar improcedente o pedido formulado


na ação, mantido o entendimento ensejador do indeferimento da medida
cautelar, nos termos do voto da Relatora e por maioria de votos, vencidos
os Ministros Edson Fachin e Ricardo Lewandowski, em sessão virtual do
Pleno de 14 a 20 de fevereiro de 2020, na conformidade da ata do
julgamento. Tendo em vista ter o STJ suspendido o julgamento da AC 46
para que fosse aguardado o julgamento desta ação, oficie-se àquela
egrégia Corte de Justiça. O Ministro Roberto Barroso acompanhou a
Relatora com ressalvas. Não participou deste julgamento, por motivo de
licença médica, o Ministro Celso de Mello.

Brasília, 21 de fevereiro de 2020.

Ministra Rosa Weber


Relatora

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 1.485 DISTRITO FEDERAL

RELATORA : MIN. ROSA WEBER


REQTE.(S) : PARTIDO DOS TRABALHADORES - PT
ADV.(A/S) : LUIZ ALBERTO DOS SANTOS
REQTE.(S) : PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA - PDT
ADV.(A/S) : ILDSON RODRIGUES DUARTE
INTDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
INTDO.(A/S) : CONGRESSO NACIONAL
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO

RELATÓRIO

A Senhora Ministra Rosa Weber (Relatora): Trata-se de ação direta


de inconstitucionalidade ajuizada pelo Partido dos Trabalhadores – PT e
pelo Partido Democrático Trabalhista – PDT com pedido para que seja
declarada a inconstitucionalidade dos artigos 2º e 5º da Lei 9.292, de 12 de
julho de 1996, que, a teor de sua ementa, “dispõe sobre a remuneração
dos membros dos conselhos de administração e fiscal das entidades que
menciona e dá outras providências”.
Os dispositivos cuja constitucionalidade é impugnada têm a
seguinte redação:
“Art. 2º O art. 119 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de
1
1990 , passa a vigorar acrescido do seguinte parágrafo único:
‘Art. 119 .....
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica à
remuneração devida pela participação em conselhos de
administração e fiscal das empresas públicas e sociedades de
economia mista, suas subsidiárias e controladas, bem como
quaisquer entidades sob controle direto ou indireto da União,
observado o que, a respeito, dispuser legislação específica.’”
“Art. 5º Revogam-se a Lei nº 7.733, de 14 de fevereiro de

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1989, e as demais disposições em contrário.”

O referido artigo 119 da Lei 8.112/1990 tinha, à época, a seguinte


redação:
“Art. 119. O servidor não poderá exercer mais de um cargo
em comissão, nem ser remunerado pela participação em órgão
de deliberação coletiva”2.

Por sua vez, a Lei 7.733/1989 tinha os seguintes artigos:


“Art. 1º O exercício de mandato de membro de Conselho
Consultivo, Conselho de Administração, Conselho Fiscal, ou
outros órgãos colegiados, nas empresas públicas, sociedades de
economia mista, suas subsidiárias controladas ou coligadas, por
servidores da Administração Federal direta ou indireta, não
será remunerado.
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 3º Revogam-se as disposições em contrário. ”

Sustentam os autores que “a referida Lei ofende a Constituição


Federal ao permitir, a partir de sua vigência, a acumulação remunerada
de cargos, empregos e funções públicas, contrariando o disposto no art.
37, XVI e XVII”.
Defendem que o artigo 2º da Lei 9.292/1996 tem a intenção de afastar
a restrição constitucional à acumulação de cargos, empregos e funções,
permitindo-a “quando se trate de participação remunerada em conselho
de administração ou fiscal de entidades da administração indireta”.
Argumentam que o artigo 5º vai na mesma direção, ao revogar a Lei
7.733/1989 que estabelecia que o exercício de mandato de membro de
Conselho Consultivo, Conselho de Administração, Conselho Fiscal ou

2 A partir da Lei 9.527/1997, a redação da citada cabeça do


artigo 119 da Lei 8.112/1990 passou a ser de que “o servidor não poderá
exercer mais de um cargo em comissão, exceto no caso previsto no
parágrafo único do art. 9º, nem ser remunerado pela participação em
órgão de deliberação coletiva.”

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outros órgãos colegiados das empresas públicas, sociedades de economia


mista, suas subsidiárias, controladas ou colegiadas, por servidores da
Administração Federal direta ou indireta não seria remunerado.
Transcrevendo lições doutrinária sobre o conceito de função pública,
dizem ser evidente que “a designação de servidor público para o
exercício de funções de membro de conselho de administração e fiscal em
entidades da Administração Indireta caracteriza-se como investidura em
função pública, dado o acréscimo de responsabilidades e tarefas” a atrair
a vedação da acumulação remunerada de cargos, emprego os funções
públicas, não excepcionalizada pelo inciso XI do artigo 37 da
Constituição.
Defendem que, pelo contrário, a acumulação é expressamente
vedada pelo inciso XVII do mesmo artigo 37, que estende a proibição ao
acúmulo de empregados e funções públicas, abrangendo autarquias,
empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações mantidas
pelo Poder Público.

Intimado, o Presidente da República apresentou petição em que


junta uma série de manifestações sobre a constitucionalidade da lei
elaboradas no âmbito dos Ministérios da Fazenda, Administração Federal
e Reforma do Estado e do Planejamento e Orçamento, bem como da
Advocacia-Geral da União, sem sua consolidação em um peça única de
informações (eSTF evento 12).
Por sua vez, o Presidente do Senado Federal prestou informações
onde defende que a proibição de acumulação aplica-se a cargos,
empregos e funções efetivas e não a cargos em comissão ou funções de
confiança. Argumenta ser notório que o servidor efetivo pode ser
nomeado para o exercício de cargo comissionado, sem a perda da
remuneração do cargo efetivo e com direito a um plus pelo exercício do
cargo comissionado, invocando manifestação do Ministro Carlos Velloso
no RE 163.204. Afirma que os servidores elevados à condição de membros
dos conselhos de administração e fiscal estão em situação análoga à dos
titulares de “função comissionada” (eSTF evento 14).

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O pedido de liminar foi indeferido, em 07.8.1996, à unanimidade,


pelo Plenário do Supremo, em acórdão que recebeu a seguinte ementa:

“EMENTA: - Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Arts.


2º e 5º, da Lei nº 9.292, de 12.7.1996. O primeiro introduz
parágrafo único no art. 119 da Lei nº 8.112/1990 e o segundo
revoga a Lei nº 7.733, de 14.2.1989, e demais dispositivos em
contrário. Exclui do disposto no art. 119 da Lei n° 8.112/1990 a
remuneração devida pela participação em conselhos de
administração e fiscal de empresas públicas e sociedades de
economia mista, suas subsidiárias e contratadas, bem como
quaisquer atividades sob controle direto ou indireto da União.
3. Alega-se vulneração ao art. 37, XVI e XVII, da Constituição,
quanto à acumulação remunerada de cargos, empregos e
funções públicas. 4. Não se cuida do exercício de cargos em
comissão ou de funções gratificadas, stricto sensu,
especialmente porque se cogita, aí, de pessoas jurídicas de
direito privado. 5. Não se configura, no caso, acumulação de
cargos vedada pelo art. 37, XVI, da Lei Maior. 6. Não
caracterização do pressuposto da relevância jurídica do pedido.
7. Medida cautelar indeferida.”
(ADI 1.485 MC, Rel. Ministro Néri da Silveira, Tribunal
Pleno, julgado em 07.8.1996, DJ 05.11.1999)

O Advogado-Geral da União opinou pela manutenção da decisão


proferida quando do julgamento do pedido de liminar, “ uma vez que a
função nos Conselhos de administração e fiscal das empresas públicas e
sociedades de economia mista, bem como de quaisquer outras entidades
sob controle direto ou indireto da União, não caracteriza a natureza de
uma função pública, stricto sensu”.

O Procurador-Geral da República opinou pela improcedência da


ação ao fundamento de que “descaracterizada, portanto, a participação
em conselhos de administração e fiscal das empresas públicas e

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sociedades de economia mista, suas subsidiárias e controladas, e de


entidades sob controle direto ou indireto da União, como exercício típico
de função pública, nada obsta à acumulação remunerada de suas
atribuições.”

Juntada aos autos ofício da 2ª Vara Federal de Passo Fundo, RS, em


que noticiado ali ter curso a ação popular 5003643-37.2012.404.7104
ajuizada por Marcelo Boberto Zeni contra o Banco Nacional do
Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES e outros, cujo objeto seria
conexo ao da presente ação direta.
O Ministro Francisco Falcão, relator no Superior Tribunal de Justiça
da apelação interposta contra a sentença proferida na referida ação
popular enviou cópia de decisão onde, reconhecida a prejudicialidade
externa da presente ADI 1.485, determinada a suspensão da tramitação
daquela (eSTF evento 43).

Determinei que a Secretaria Judiciária fornecesse ao STJ as


informações requeridas sobre o andamento da ação (eSTF evento 50).

É o relatório.

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VOTO

A Senhora Ministra Rosa Weber (Relatora): Senhor Presidente,


trata-se de ação direta ajuizada pelo Partido dos Trabalhadores – PT e
pelo Partido Democrático Trabalhista – PDT arguindo a
inconstitucionalidade dos artigos 2º e 5º da Lei 9.292/1996 que, em síntese,
permitem que servidores públicos recebam remuneração pela
participação em conselhos de administração e fiscal das empresas
públicas e sociedades de economia mista, suas subsidiárias e controladas,
bem como quaisquer entidades sob controle direto ou indireto da União.
Mais precisamente, o artigo 2º da lei impugnada introduziu
parágrafo único no artigo 119 da Lei 8.112/1990, que previa que “o
servidor não poderá exercer mais de um cargo em comissão, nem ser
remunerado pela participação em órgão de deliberação coletiva”,
excepcionando-o para autorizar a atuação remunerada em conselhos de
administração e fiscal das empresas estatais.
Referido artigo 119 da Lei do Regime Jurídico Único dos Servidores
da União passou, então, a ter a seguinte redação:
“Art. 119. O servidor não poderá exercer mais de um cargo
em comissão, nem ser remunerado pela participação em órgão
de deliberação coletiva.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica à
remuneração devida pela participação em conselhos de
administração e fiscal das empresas públicas e sociedades de
economia mista, suas subsidiárias e controladas, bem como
quaisquer entidades sob controle direto ou indireto da União,
observado o que, a respeito, dispuser legislação específica.”

Consigno, por amor à precisão, que o caput do artigo 119 da Lei


8.112/1990 posteriormente sofreu alteração promovida pela Lei
9.527/1997, para permitir que servidor ocupante de cargo em comissão ou
de natureza especial possa ser nomeado para exercício interino de outro

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cargo de confiança. Trata-se, porém, de alteração estranha ao objeto desta


ação, sem relevância, portanto, para o seu julgamento.

Mais relevante, por outro lado, o fato de que o parágrafo único do


artigo 119 da Lei 8.112/1990, incluído pelo impugnado artigo 2º da Lei
9.292/1996, recebeu a seguinte nova redação dada pela Medida Provisória
2.225-45/2001:
“Art. 119. [...]
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica à
remuneração devida pela participação em conselhos de
administração e fiscal das empresas públicas e sociedades de
economia mista, suas subsidiárias e controladas, bem como
quaisquer empresas ou entidades em que a União, direta ou
indiretamente, detenha participação no capital social,
observado o que, a respeito, dispuser legislação específica.”

É sabido que a jurisprudência desta Suprema Corte é no sentido da


prejudicialidade da ação direta de inconstitucionalidade, por perda
superveniente de objeto, quando sobrevém a revogação ou alteração
substancial da norma questionada em sua constitucionalidade. Nesse
sentido, reporto-me ao voto que proferi na ADI 1.080, em que fiquei como
redatora para o acórdão, que recebeu a seguinte ementa:

“CONSTITUCIONAL. CONTROLE DE
CONSTITUCIONALIDADE. AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE. QUESTÃO DE ORDEM.
ALTERAÇÃO, POR EMENDA, DO TEXTO
CONSTITUCIONAL ESTADUAL IMPUGNADO.
ALTERAÇÃO SUBSTANCIAL DO TEXTO NORMATIVO
ANTERIOR. PERDA SUPERVENIENTE DE OBJETO.
AUSÊNCIA DE REVOGAÇÃO ESTRATÉGICA COM O FIM
DE IMPEDIR OU OBSTACULIZAR O EXERCÍCIO DA
JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL. PREJUÍZO DA AÇÃO.
1. Questão de ordem apresentada no sentido da perda
superveniente de objeto da ação direta de

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inconstitucionalidade, a ensejar-lhe a declaração de prejuízo,


haja vista a revogação, por reforma constitucional posterior a
seu ajuizamento, do ato normativo impugnado.
2. A jurisprudência formada nesse Supremo Tribunal
Federal e confirmada nas decisões posteriores ao julgamento da
ADI 709, Rel Min. Moreira Alves, é no sentido da
prejudicialidade da ação direta de inconstitucionalidade, por
perda superveniente de objeto, quando sobrevém revogação ou
alteração substancial da norma questionada.
3. A alteração do texto legal impugnado não se resume a
mera redução do âmbito de incidência do ato normativo
anterior, consubstanciando alteração substancial, uma vez
excluídos os Poderes Legislativo e Judiciário da regra de
impedimento de realização de prova oral nos concursos
públicos. Cumpre registrar, conquanto não vincule a causa de
pedir, que circunscritos os fundamentos jurídicos
determinantes da iniciativa de ajuizamento da presente ação
direta à violação da autonomia e independência do Poder
Judiciário.
4. Não há falar, na espécie, em revogação estratégica do
ato normativo inquinado de inconstitucional, com o intuito
deliberado e ilegítimo de impedir o exercício da jurisdição
constitucional abstrata. A nova disposição normativa,
consistente na Emenda à Constituição do Estado do Paraná de
nº 07/2000, que alterou o §11º do art. 27, não configura réplica
idêntica daquele ato, presente alteração substancial do texto
normativo.
5. Reafirmação da atual jurisprudência desta Suprema
Corte, ante a inexistência de motivos para sua superação.
6. Perda superveniente de objeto da ação direta de
inconstitucionalidade, motivo pelo qual configurado o prejuízo
(art. 21, IX, do RISTF) ensejador da extinção do processo sem
resolução do mérito.”
(ADI 1.080, Rel. Ministro Menezes Direito, Relatora p/
acórdão Ministra Rosa Weber, Tribunal Pleno, DJe 13.9.2018) ”

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No caso concreto, considero que a nova redação dada pela MP 2.225-


45/2001 ao parágrafo único do artigo 119 da Lei 8.112/1990 não representa
alteração substancial da norma jurídica, uma vez apenas explicitado que a
inexistência de vedação para participação em conselhos alcança não só as
empresas controladas, direta ou indiretamente, pela União, mas também
aquelas em que esta tem simples participação.
Em relação às empresas em que a União, direta ou indiretamente,
não tenha o controle, parece-me que sequer haveria questionamento
constitucional, uma vez que o inciso XVII do artigo 37 da Carta Política se
refere apenas às “empresas públicas, sociedades de economia mista, suas
subsidiárias, e sociedades controladas, direta ou indiretamente, pelo
poder público”.
Concluo, portanto, pela inexistência de prejuízo da ação direta.

Já o outro dispositivo impugnado, ou seja, o artigo 5º da Lei


9.292/1996 revogou a Lei 7.733/1989 que estabelecia que o exercício de
mandato de membro de conselhos em empresas estatais por parte de
servidores públicos federais não seria remunerado. Para efeito de
documentação, transcrevo o único artigo da lei revogada com conteúdo
substancial, já que os demais traziam apenas cláusula de vigência e de
revogação:
“Art. 1º O exercício de mandato de membro de Conselho
Consultivo, Conselho de Administração, Conselho Fiscal, ou
outros órgãos colegiados, nas empresas públicas, sociedades de
economia mista, suas subsidiárias controladas ou coligadas, por
servidores da Administração Federal direta ou indireta, não
será remunerado.

Em síntese, portanto, os dispositivos impugnados permitiram que


servidores públicos possam participar de conselhos de administração e
fiscal de empresas estatais (empresas públicas, sociedades de economia
mista, suas subsidiárias controladas ou coligadas), recebendo
remuneração por isso.
Sustenta-se violação dos incisos XVI e XVII do artigo 37 da

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Constituição, que vedam a acumulação remunerada de cargo, emprego e


função em entidades públicas, inclusive empresas estatais. Transcrevo os
dois incisos para mais rápido exame:

“Art. 37 [...]
XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos
públicos, exceto, quando houver compatibilidade de horários,
observado em qualquer caso o disposto no inciso XI:
a) a de dois cargos de professor;
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou
científico;
c) a de dois cargos ou empregos privativos de
profissionais de saúde, com profissões regulamentadas;
XVII - a proibição de acumular estende-se a empregos e
funções e abrange autarquias, fundações, empresas públicas,
sociedades de economia mista, suas subsidiárias, e sociedades
controladas, direta ou indiretamente, pelo poder público;”

O argumento dos partidos autores é, em brevíssima síntese, de que a


atuação em conselhos das empresas estatais seria uma função pública,
razão pela qual claramente incidiria a vedação constitucional à
acumulação de cargos públicos, que se estende a empregos e funções
públicos, inclusive em empresas públicas, sociedades de economia mista,
suas subsidiárias, e sociedades controladas, direta ou indiretamente, pelo
poder público (incisos XVI e XVII do artigo 37, CF).

A tese é improcedente pelo fundamento acolhido pelo Plenário


quando do julgamento da liminar, também defendido pelo Advogado-
Geral da União e pelo Procurador-Geral da República: o exercício pelo
servidor público de mandato como membro de Conselho Fiscal ou de
Administração de empresa estatal não representa exercício de cargo ou
função pública stricto sensu, de forma a atrair a vedação constitucional.
A língua portuguesa, como qualquer outra, tem palavras
polissêmicas, vale dizer, utilizadas com variados sentidos, seja na
linguagem coloquial, seja em textos legislativos. A própria Constituição

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por vezes utiliza vocábulos e expressões em sentidos diversos.


Especificamente quanto à expressão “função pública”, na qual os
autores consideram se enquadrar o exercício em conselhos de
administração e fiscal das empresas estatais, a atrair a vedação dos incisos
XVI e XVII do artigo 37 da Carta Polícia, Fabrício Macedo Motta aponta
que a Constituição usa a expressão em sentidos variados:
“Resta verificar qual tratamento o ordenamento
constitucional dispensa às funções públicas. Um primeiro
sentido, demasiado amplo, entende função como sinônimo de
atribuição ou conjunto de atribuições, desempenhadas por
qualquer agente público, independente de cargo ou emprego.
Outro sentido é o materializado na referência constante no
inciso V deste artigo 37, adiante comentado, tocante às funções
de confiança exercidas por titulares de cargo efetivo. Por
derradeiro, também se reconhece o exercício de função pública
no caso das contratações temporárias efetivadas com
fundamento no art. 37, inciso IX, em razão de excepcional
interesse público. Há, em todo o texto constitucional, normas
que utilizam a expressão tratada nos três sentidos referidos, o
que exige a atenção do intérprete em cada situação”1.

O mesmo autor mostra como o vocábulo cargo também é empregado


em sentidos diversos pela Carta Política:

“No tocante à expressão cargo, o primeiro significado a ela


atribuído pela Constituição refere-se aos mandatos públicos
eletivos, aos quais se habilita mediante sufrágio popular. Trata-
se das posições estruturais componentes dos poderes Executivo
e Legislativo, ligadas à organização do Estado e criadas pela
própria Carta, que também estabelece as principais notas do
regime jurídico respectivo.
A segunda acepção é, ao mesmo tempo, mais difusa no

1 Canotilho, J.J. Gomes. Mendes, Gilmar Ferreira. Sarlet, Ingo Wolfgang. Streck, Lenio
Luiz (coordenadores). Comentários à Constituição do Brasil. 2ª edição. São Paulo: Saraiva, 2018,
p. 891.

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ADI 1485 / DF

texto constitucional e também mais genérica; liga-se


diretamente à estruturação da Administração Pública e
comporta subclassificações [...]. Pode-se fazer referência à
acepção tratada invocando a lição de Celso Antônio Bandeira
de Mello, que define cargos como ‘(...) as mais simples e
indivisíveis unidades de competência a serem expressadas por
um agente, previstas em número certo, com denominação
própria, retribuída por pessoas jurídicas de Direito Público e
criadas por lei, salvo quando concernentes aos serviços
auxiliares do Legislativo, caso em que se criam por resolução,
da Câmara ou do Senado, conforme de trate de serviços de uma
ou de outra dessas Casas’”2.

Maior amplitude de significados pode ser encontrada na linguagem


empregada pela legislação ordinária, pelos atos administrativos, pelos
operadores jurídicos e pela população.
Todavia, embora usuais afirmativas como “fulano foi nomeado para
o cargo de conselheiro fiscal do Banco do Brasil” ou “Beltrano foi
indicado para função no Conselho de Administração da Petrobrás”, isso
não quer dizer que essa atuação como conselheiro em Conselho Fiscal ou
Conselho de Administração represente exercício de cargo ou função
pública em sentido estrito, que é aquele considerado pela Carta Política
quando estabelece a vedação de acumulação de cargos, empregos e
funções públicas.
O que a Lei Maior pretende impedir é que uma mesma pessoa
ocupe, salvo as exceções que especifica, mais de um posto de trabalho
remunerado na Administração Direta e/ou Indireta, sejam eles cargos,
empregos ou funções, mas sempre em sentido estrito.
A vedação constitucional à acumulação remunerada não impede,
assim, que determinado servidor público seja nomeado para uma função
gratificada. Embora o servidor tenha um cargo efetivo (por exemplo,
Técnico Judiciário) e passe a ocupar determinado “cargo comissionado”
(por exemplo, Oficial de Gabinete), não existe acumulação ilícita, pois

2 Op. Cit., p. 890.

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Voto - MIN. ROSA WEBER

Inteiro Teor do Acórdão - Página 15 de 29

ADI 1485 / DF

esse segundo não é cargo em sentido estrito.


O mesmo acontece com a atuação nos conselhos de administração e
fiscal das empresas estatais. Embora usualmente designados “cargo de
conselheiro” ou “função de conselheiro”, a atuação como conselheiro pelo
servidor público não significa exercício de novo cargo, emprego ou
função público em sentido estrito, que é aquele considerado pelos incisos
XVI e XVII da Carta Política. Como defendido nas informações do
Presidente do Senado Federal, a nomeação para conselheiro assemelha-se
mais à nomeação para um “cargo comissionado”, constitucionalmente
lícita.

Por relevante, consigno que questão inteiramente diversa seria saber


se a remuneração pelo exercício de cargo de conselheiro pelo servidor
público estaria sujeita ao teto remuneratório constitucional ou se seria
possível o recebimento de remuneração adicional por servidores sujeitos
à remuneração por subsídio. Essas questões não são objeto da ação e,
portanto, não podem ser aqui decididas. Naturalmente sempre será
possível que esses questionamentos venham a ser trazidos ao Supremo
Tribunal Federal, possivelmente até em recurso que venha a ser oferecido
do julgamento, pelo Superior Tribunal de Justiça, da Apelação Cível 46,
interposta nos autos da ação popular 5003643-37.2012.404.7104, cuja
existência foi noticiada nos autos3.

Ante o exposto, mantendo o entendimento do colegiado adotado


quando do julgamento da liminar, julgo improcedente a ação direta.

Tendo em vista ter o STJ suspendido o julgamento da AC 46 para


que fosse aguardado o julgamento desta ação, oficie-se àquela egrégia
Corte de Justiça.

É como voto.

3 O recurso da sentença estaria no STJ em virtude de ser parte no processo organismo


internacional (Itaipu Binacional).

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21/02/2020 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 1.485 DISTRITO FEDERAL

RELATORA : MIN. ROSA WEBER


REQTE.(S) : PARTIDO DOS TRABALHADORES - PT
ADV.(A/S) : LUIZ ALBERTO DOS SANTOS
REQTE.(S) : PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA - PDT
ADV.(A/S) : ILDSON RODRIGUES DUARTE
INTDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
INTDO.(A/S) : CONGRESSO NACIONAL
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO

O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN: Saúdo o bem lançado


proferido pela e. Ministra Rosa Weber.
Apenas para explicitar as premissas que subsidiam minha
manifestação, rememoro tratar-se de ação direta ajuizada pelo Partido
dos Trabalhadores e pelo Partido Democrático Trabalhista arguindo a
inconstitucionalidade dos artigos 2º e 5º da Lei 9.292/1996 que, em síntese,
permitem que servidores públicos recebam remuneração pela
participação em conselhos de administração e fiscal das empresas
públicas e sociedades de economia mista, suas subsidiárias e controladas,
bem como quaisquer entidades sob controle direto ou indireto da União.
O dispositivo impugnado alterou o art. 119 da Lei 8.112/1990, que
passou a ter a seguinte redação:

“Art. 119. O servidor não poderá exercer mais de um cargo


em comissão, nem ser remunerado pela participação em
órgão de deliberação coletiva.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica à
remuneração devida pela participação em conselhos de
administração e fiscal das empresas públicas e
sociedades de economia mista, suas subsidiárias e
controladas, bem como quaisquer entidades sob controle
direto ou indireto da União, observado o que, a respeito,
dispuser legislação específica.”

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ADI 1485 / DF

Sustenta-se violação dos incisos XVI e XVII do art. 37 da


Constituição, os quais proíbem a acumulação remunerada de cargo,
emprego e função em entidades públicas, incluindo empresas estatais.
Reproduzo a redação dos dispositivos cuja violação se alega:

“Art. 37 [...]
XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos
públicos, exceto, quando houver compatibilidade de horários,
observado em qualquer caso o disposto no inciso XI:
a) a de dois cargos de professor;
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou
científico;
c) a de dois cargos ou empregos privativos de
profissionais de saúde, com profissões regulamentadas;
XVII - a proibição de acumular estende-se a empregos e
funções e abrange autarquias, fundações, empresas públicas,
sociedades de economia mista, suas subsidiárias, e sociedades
controladas, direta ou indiretamente, pelo poder público;”

Os partidos autores alegaram que a atuação em conselhos de estatais


consubstanciaria função pública, razão pela qual incidiria a vedação à
acumulação de cargos, nos termos do art. 37, XVI, CRFB.
Ao indeferir a medida liminar pleiteada, o Plenário desta Corte
concluiu que ao exercer mandato como membro de Conselho Fiscal ou de
Administração de empresa estatal o servidor público não ocupa cargo ou
função pública em sentido estrito. Reproduzo a ementa do julgado:

“Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Arts. 2º e 5º, da


Lei nº 9.292, de 12.7.1996. O primeiro introduz parágrafo único
no art. 119 da Lei nº 8.112/1990 e o segundo revoga a Lei nº
7.733, de 14.2.1989, e demais dispositivos em contrário. Exclui
do disposto no art. 119 da Lei n 8.112/1990 a remuneração
devida pela participação em conselhos de administração e fiscal
de empresas públicas e sociedades de economia mista, suas

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ADI 1485 / DF

subsidiárias e contratadas, bem como quaisquer atividades sob


controle direto ou indireto da União. 3. Alega-se vulneração ao
art. 37, XVI e XVII, da Constituição, quanto à acumulação
remunerada de cargos, empregos e funções públicas. 4. Não se
cuida do exercício de cargos em comissão ou de funções
gratificadas, stricto sensu, especialmente porque se cogita, aí,
de pessoas jurídicas de direito privado. 5. Não se configura,
no caso, acumulação de cargos vedada pelo art. 37, XVI, da Lei
Maior. 6. Não caracterização do pressuposto da relevância
jurídica do pedido. 7. Medida cautelar indeferida.” (ADI 1485
MC, Rel. Min. Néri da Silveira, Tribunal Pleno, julgado em
07.08.1996). Grifei.

Era o que cabia rememorar.


Acompanho a conclusão da e. Relatora quanto à ausência de perda
de objeto, eis que não houve alteração substancial provocada pela MP
2.225-45/2001 ao parágrafo único do art. 119 da Lei 8.112/1990. A norma
alteradora limitou-se a explicitar que a inexistência de vedação para
participação em conselhos alcança não apenas as empresas controladas
pela União, mas também aquelas em que há simples participação desta.
Em relação ao mérito, apresento, respeitosamente, manifestação
divergente.
O pedido formulado pelos partidos autores foi no sentido da
declaração de inconstitucionalidade da acumulação remunerada de
cargos. O julgamento que concluiu pelo indeferimento da medida
cautelar, realizado em 1996, foi, portanto, anterior à edição da Emenda
Constitucional n.º 41/2003. A referida emenda alterou o inciso XI do art.
37 da Constituição. Como já manifestei por ocasião do julgamento do RE
602.043 (Tema 384 da Repercussão Geral), o Plenário deste Supremo
Tribunal Federal, no julgamento do RE 609.381, Rel. Ministro Teori
Zavascki definiu qual deve ser o alcance e a interpretação a ser dada ao
disposto no art. 37, XI, da Constituição Federal.
Ao interpretar o referido dispositivo, a Corte assentou que:

“CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. TETO DE

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ADI 1485 / DF

RETRIBUIÇÃO. EMENDA CONSTITUCIONAL 41/03.


EFICÁCIA IMEDIATA DOS LIMITES MÁXIMOS NELA
FIXADOS. EXCESSOS. PERCEPÇÃO NÃO RESPALDADA
PELA GARANTIA DA IRREDUTIBILIDADE. 1. O teto de
retribuição estabelecido pela Emenda Constitucional 41/03
possui eficácia imediata, submetendo às referências de valor
máximo nele discriminadas todas as verbas de natureza
remuneratória percebidas pelos servidores públicos da União,
Estados, Distrito Federal e Municípios, ainda que adquiridas de
acordo com regime legal anterior. 2. A observância da norma de
teto de retribuição representa verdadeira condição de
legitimidade para o pagamento das remunerações no serviço
público. Os valores que ultrapassam os limites préestabelecidos
para cada nível federativo na Constituição Federal constituem
excesso cujo pagamento não pode ser reclamado com amparo
na garantia da irredutibilidade de vencimentos. 3. A incidência
da garantia constitucional da irredutibilidade exige a presença
cumulativa de pelo menos dois requisitos: (a) que o padrão
remuneratório nominal tenha sido obtido conforme o direito, e
não de maneira ilícita, ainda que por equívoco da
Administração Pública; e (b) que o padrão remuneratório
nominal esteja compreendido dentro do limite máximo pré-
definido pela Constituição Federal. O pagamento de
remunerações superiores aos tetos de retribuição de cada um
dos níveis federativos traduz exemplo de violação qualificada
do texto constitucional. 4. Recurso extraordinário provido.” (RE
609381, Rel. Min. Teori Zavascki, Tribunal Pleno, julgado em
02.10.2014).

Como se depreende da ementa do acórdão, fixou-se, naquela


oportunidade, a interpretação constitucionalmente adequada do teto
remuneratório definido pelo art. 37, XI. A garantia de irredutibilidade só
se aplica se o padrão remuneratório nominal tenha sido obtido de acordo
com o direito e se ele estiver compreendido dentro do limite máximo
fixado pela CRFB. Ademais, nos termos do art. 17 do ADCT, os valores
que ultrapassam o teto remuneratório devem ser ajustados, sem que o

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ADI 1485 / DF

servidor possa alegar direito adquirido. Finalmente, a alteração


promovida pela Emenda Constitucional 41/03 tem aplicação imediata.
O caso em tela, no entanto, comporta particularidades em relação ao
precedente citado. Discute-se a possibilidade de cumulação de
remuneração de cargo efetivo de servidor público com remuneração
devida pela participação deste mesmo servidor em conselho de
administração de estatal (jetom).
Acompanho a conclusão da e. Relatora quanto à possibilidade de
cumulação. No entanto, considero que a referida cumulação só é possível
se respeitar o teto remuneratório, nos termos do art. 37, XI, CRFB.
No voto que proferi no RE 606.358, Rel. Ministra Rosa Weber, Pleno,
DJe 07.04.2016, pude rememorar, seguindo o caminho indicado pelo
Ministro Teori Zavascki, o histórico da interpretação constitucional fixada
pelo Supremo Tribunal Federal relativamente ao teto remuneratório.
Naquela oportunidade, afirmei que:

“A redação original do inciso XI do artigo 37 da


Constituição já previa a necessidade de adequação ao teto
remuneratório de qualquer parcela de vencimentos ou
proventos e não fazia nenhuma ressalva quanto às vantagens
pessoais ou quaisquer outros adicionais. À época, como bem
ressaltou o Min. Teori, a controvérsia instaurada perante esta
Corte dizia respeito à compatibilidade entre esse dispositivo e a
redação original do art. 39, §1º, o qual colocava a salvo da
isonomia de vencimentos, justamente, as vantagens de natureza
individual e as decorrentes da natureza ou local de trabalho; e
por esse motivo, as vantagens pessoais foram excluídas do teto
remuneratório, conforme precedente na ADI 14 e demais
julgados que se seguiram a ele. Com a Reforma Administrativa
introduzida pela Emenda Constitucional nº 19/98, tentou-se
uma primeira correção interpretativa do disposto na redação
original do texto constitucional, extirpando a previsão da
isonomia de vencimentos e, ademais, modificando a redação do
artigo 7, XI, tornando explícita a inclusão das vantagens
pessoais no teto remuneratório. Nada obstante, como a lei de

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iniciativa conjunta dos Chefes do Poder Executivo e do


Judiciário, e dos Presidentes da Câmara e do Senado, para
definição da remuneração dos Ministros do Supremo Tribunal
Federal jamais adveio, esta Corte manteve o entendimento
anteriormente exposto, no sentido de considerar excluídas do
limite as verbas de natureza pessoal. Nova Emenda
Constitucional, de nº 41/2003, intentou colocar fim à
controvérsia, incluindo expressamente no teto remuneratório as
vantagens pessoais e, no art. 8º, dispondo que o teto a ser
considerado seria a maior remuneração percebida por Ministro
do Supremo Tribunal Federal, até que fosse fixado por lei o
valor do subsídio do cargo. Essa análise leva à inarredável
conclusão de que a EC nº 41/2003 não instituiu o teto
remuneratório do serviço público, ele existe desde a
promulgação da Constituição Federal, por expressa
manifestação do Constituinte originário. Retornando ao caso
em debate, questiona-se se, com a nova conformação do artigo
37, inciso XI da Constituição Federal, alterado pela Emenda
Constitucional nº 41/2003, é possível que as vantagens pessoais
adquiridas pelos servidores sejam excluídas do teto
remuneratório fixado no dispositivo em comento, pelo
princípio da irredutibilidade dos vencimentos.”

Por ocasião do julgamento do RE 602043 (Tema 384 da Repercussão


Geral), consignei que o regime constitucional dos tetos remuneratórios
sofreu duas alterações fundamentais.
A primeira diz respeito à Emenda Constitucional n. 19 que alterou os
incisos XI e XVI do art. 37 da Constituição:

“Art. 37 (…)
XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos,
funções e empregos públicos da administração direta,
autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais
agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie

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remuneratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas


as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não
poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros
do Supremo Tribunal Federal;
(…)
XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos
públicos, exceto, quando houver compatibilidade de horários,
observado em qualquer caso o disposto no inciso XI;”

Como se observa da leitura do texto alterado, a emenda relacionou


diretamente o dispositivo relativo ao teto constitucional (art. 37, XI,
CRFB), como o regime das acumulações (art. 37, XVI, da CRFB). A
expressa remissão, assim como a previsão de incidência do teto sobre a
remuneração e o subsídios “percebidos cumulativamente ou não, incluídas as
vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza” são as diretrizes de
interpretação que a Constituição oferece para a hipótese dos autos. O
jetom é vantagem que se enquadra nessa categoria, eis que percebido
cumulativamente com a remuneração devida pelo cargo efetivo de
servidor público que toma assento no conselho de administração de
estatal. Assim, não há como exceder ao teto remuneratório.
Registre-se, ademais, que mesmo a Emenda Constitucional 41, de 19
de dezembro de 2003, não alterou o texto normativo a ser interpretado.
Com efeito, prevê a nova redação do art. 37, XI, da CRFB:

“XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos,


funções e empregos públicos da administração direta,
autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais
agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie
remuneratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas
as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não
poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros
do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos
Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito

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Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder


Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no
âmbito do Poder Legislativo e o subsidio dos Desembargadores
do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e
cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos
Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder
Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério
Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos;”

Como bem destacou o e. Ministro Teori Zavascki, no julgamento do


RE 609.381:

“o teto de retribuição (a) continuou a incluir as vantagens


pessoais ou de qualquer natureza (assim como tinha pretendido
fazer a Emenda Constitucional 19/98); (b) voltou a depender de
iniciativas políticas isoladas para a sua fixação; e (c) produziu
eficácia imediata, porquanto o art. 8º da EC 41/03 determinou
que, enquanto não fixado o valor do subsídio, “será
considerado, para os fins do limite fixado naquele inciso, o
valor da maior remuneração atribuída por lei na data da
publicação desta Emenda a Ministro do Supremo Tribunal
Federal, a título de vencimento, representação mensal e de
parcela recebida em razão de tempo de serviço”. De modo
semelhante ao que dispunha a EC 19/98, o art. 9º da EC 41/03
determinou fosse aplicado o disposto no art. 17 do ADCT “aos
vencimentos, remunerações e subsídios dos ocupantes de
cargos, funções e empregos públicos da administração direta,
autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais
agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie
remuneratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas
as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza,

Na ocasião, o Ministro Teori Zavascki rememorou ainda o voto


proferido pelo e. Ministro Cezar Peluso no MS 24.875, Rel. Ministro

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Sepúlveda Pertence, DJ 06.10.2006, no qual Sua Excelência assentou:

“O texto original da Constituição estabeleceu três coisas:


primeiro, fixou um limite de remuneração para a magistratura;
segundo, incluiu, na apuração desse limite, qualquer parcela
correspondente da estrutura da remuneração, ou seja,
prescreveu textualmente que esse limite consideraria qualquer
parcela, a qualquer título, do que fosse percebido por Ministros
do Supremo Tribunal Federal. Relembro, observados como
limite máximo dos respectivos poderes, os valores percebidos
como remuneração em espécie, a qualquer título, por Ministro
do Supremo Tribunal Federal. Terceiro, não admitiu, para efeito
de observância deste teto, a subsistência de direitos adquiridos
na ordem jurídico-constitucional anterior.
Estes três pontos, a meu ver, não foram alterados nem pela
Emenda nº 19, nem pela Emenda nº 41. Tiro algumas
consequências: quando a Constituição, no texto primitivo,
inciso XI do artigo 37, se referia a valor recebido a qualquer
título, isso significava que abrangia não apenas as parcelas
preexistentes, mas também toda parcela que fosse criada após o
advento da Constituição, sob pena de outra interpretação
permitir uma fraude, uma burla ao próprio texto constitucional.
O que a Constituição estava querendo tratar, a meu ver, e com o
devido respeito, era que parcelas ou valores, a qualquer título
decorrentes da legislação anterior ou de legislação
infraconstitucional subsequente, estavam incluídos na apuração
do valor do limite constitucionalmente fixado. Tanto estava que,
em relação às vantagens preexistentes, não deixou nenhuma
dúvida, e o artigo 17, embora exaurido temporalmente,
significava que as remunerações excedentes do teto deveriam
ser decotadas imediatamente para se ajustar ao texto
constitucional. Evidentemente se tratava de norma transitória,
porque se referia às vantagens preexistentes. E excluiu, por isso
mesmo, a invocação de direito adquirido.
Quanto às vantagens novas, à evidência não era o caso de
estabelecer nenhum dispositivo de caráter transitório, até

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porque a própria norma do inciso XI já previa que qualquer


vantagem criada por norma infraconstitucional deveria, nos
termos dessa limitação, compor o teto da remuneração.
A mim me parece, com o devido respeito, que a Emenda
19/98 em nada alterou esses três pontos. Ela, pura e
simplesmente, modificou o critério de apuração desse teto e
repetiu a fórmula, que já estava na redação original, prevendo:
“incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra
natureza”
E tampouco a Emenda 41/03 introduziu qualquer
alteração, porque tornou a incluir vantagens pessoais ou de
qualquer outra natureza.
Ora, o perfil da disciplina constitucional, a despeito da
mudança dos critérios de apuração desse limite, a partir dos
quais os subsídios absorveriam todas essas parcelas que já
estavam incluídas na definição e na estrutura desse limite, não
alterou, em nenhum momento, a situação da magistratura.
Desde o início, as limitações da magistratura eram as mesmas.
Pouco importa que, na prática, elas não tenham sido alteradas.
A verdade é que o texto constitucional não sofreu alteração
substancial em relação à redação primitiva e às duas emendas
que tornaram a regular o assunto.
Ora, diante disso, não vejo como possa ser oposto direito
adquirido, nem em termos de vantagens preexistentes, por
força da regra expressa do art. 17 do ADCT, porque nenhum
dos textos constitucionais permitiu que qualquer vantagem,
ainda que criada superveniente pela legislação subalterna,
poderia escapar a este teto.
Daí, quando o eminente Relator se escusou de entrar nas
águas procelosas da questão do alcance da garantia do direito
adquirido perante emendas constitucionais, eu diria que – nem
chego perto dessas águas, passo longe – a vantagem tratada
aqui foi repristinada por uma Lei de 1990, donde esta vantagem
não ficou fora da composição do teto: estava abrangida pela
norma constitucional!
De modo que não há, a meu ver, necessidade de se

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ADI 1485 / DF

recorrer à discussão de direitos adquiridos, de fonte infra ou de


fonte constitucional, porque essa vantagem, de caráter pessoal,
superveniente, encontrou no próprio texto constitucional então
vigente, que era o primitivo, a limitação de que ela também não
escaparia à apuração do teto.”

Acolhendo a argumentação trazida pelo Ministro Cezar Peluso, o


Ministro Teori Zavascki afirmou, então, que:

“De fato, na linha daquilo que já havia sido observado


pelo Min. Cezar Peluso no voto proferido no MS 24.875, o
preceito constitucional do teto de retribuição possui comando
normativo claro e eficiente, que veda o pagamento de excessos,
ainda que adquiridos após a promulgação da Constituição
Federal de 1988. Assim, mesmo que a norma do art. 9º da EC
41/03 venha a ser invalidada, a mensagem enunciada pela
Constituição será a mesma. Vale dizer: os excessos que
transbordam o valor do teto são inconstitucionais, e não
escapam ao comando redutor estabelecido pelo art. 37, XI, da
CF. Em suma, ao conceder a segurança para permitir que os
recorridos continuassem a perceber verbas de natureza
remuneratória além dos limites do teto aplicável aos Estados-
membros após a EC 41/03, endossando um regime de
retribuição que destoa da norma constitucional do teto de
retribuição, o acórdão recorrido infringiu o inciso XI do art. 37
da CF, razão pela qual deve ser reformado.”

Ante o exposto e respeitando conclusão diversa, julgo parcialmente


procedente a presente ação direta, para conceder interpretação conforme
ao art. 119 da Lei 8.112/1990, considerando possível a cumulação entre a
remuneração do servidor público e a remuneração devida pelo assento
em conselho de estatal, desde que limitada ao teto constitucional prescrito
no inciso XI do art. 37, da Constituição da República.
É como voto.

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 1.485 DISTRITO FEDERAL

RELATORA : MIN. ROSA WEBER


REQTE.(S) : PARTIDO DOS TRABALHADORES - PT
ADV.(A/S) : LUIZ ALBERTO DOS SANTOS
REQTE.(S) : PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA - PDT
ADV.(A/S) : ILDSON RODRIGUES DUARTE
INTDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
INTDO.(A/S) : CONGRESSO NACIONAL
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO

VOTO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – Atentem para a


organicidade do Direito, em especial dos procedimentos relativos ao
itinerário processual das demandas trazidas à apreciação do Supremo.
Nada obstante a iniciativa em prol da racionalidade no regular
andamento dos trabalhos do Pleno, cuja atividade judicante vem sendo
sobremaneira dificultada pela invencível avalanche de processos, tem-se
por premissa inafastável, levando em conta a formalização de ação direta
de inconstitucionalidade, a impropriedade de este Tribunal pronunciar-
se, não em ambiente presencial, mas no dito Plenário Virtual, quando há
o prejuízo do devido processo legal, afastada a sustentação da tribuna.
Faço a observação reiterando, por dever de coerência, ser o
Colegiado – órgão democrático por excelência – somatório de forças
distintas, pressupondo colaboração, cooperação mútua entre os
integrantes, quadro de todo incompatível com a deliberação em âmbito
eletrônico.

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21/02/2020 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 1.485 DISTRITO FEDERAL

RELATORA : MIN. ROSA WEBER


REQTE.(S) : PARTIDO DOS TRABALHADORES - PT
ADV.(A/S) : LUIZ ALBERTO DOS SANTOS
REQTE.(S) : PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA - PDT
ADV.(A/S) : ILDSON RODRIGUES DUARTE
INTDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
INTDO.(A/S) : CONGRESSO NACIONAL
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO

VOTO

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO:

Acompanho a relatora, para julgar improcedente o pedido


formulado na ação direta de inconstitucionalidade. Destaco, no entanto,
que não me pronuncio sobre a questão relativa a saber se incide o teto
constitucional previsto no art. 37, XI, da Constituição no somatório da
remuneração percebida pelo servidor público e da retribuição devida em
razão do exercício da função de conselheiro em estatais, por entender que
o dispositivo cuja validade constitucional é impugnada nesta ação direta
não trata dessa questão.

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Extrato de Ata - 21/02/2020

Inteiro Teor do Acórdão - Página 29 de 29

PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 1.485


PROCED. : DISTRITO FEDERAL
RELATORA : MIN. ROSA WEBER
REQTE.(S) : PARTIDO DOS TRABALHADORES - PT
ADV.(A/S) : LUIZ ALBERTO DOS SANTOS (26485/RS)
REQTE.(S) : PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA - PDT
ADV.(A/S) : ILDSON RODRIGUES DUARTE (11060/DF)
INTDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO
INTDO.(A/S) : CONGRESSO NACIONAL
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO

Decisão: O Tribunal, por maioria, julgou improcedente o pedido


formulado na ação, mantido o entendimento ensejador do
indeferimento da medida cautelar, nos termos do voto da Relatora,
vencidos os Ministros Edson Fachin e Ricardo Lewandowski. O
Ministro Roberto Barroso acompanhou a Relatora com ressalvas. Por
fim, e tendo em vista ter o STJ suspendido o julgamento da AC 46
para que fosse aguardado o julgamento desta ação, foi determinado
que se oficie àquela egrégia Corte de Justiça. Não participou
deste julgamento, por motivo de licença médica, o Ministro Celso
de Mello. Plenário, Sessão Virtual de 14.2.2020 a 20.2.2020.

Composição: Ministros Dias Toffoli (Presidente), Celso de


Mello, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Cármen
Lúcia, Luiz Fux, Rosa Weber, Roberto Barroso, Edson Fachin e
Alexandre de Moraes.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Assessora-Chefe do Plenário

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