Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Enegep2000 E0064
Enegep2000 E0064
PRINCIPAIS TENDÊNCIAS
ABSTRACT: Nowadays the rapid pace of economic changes in the world impels companies to
restructure themselves to be able to survive in an extremely competitive market. It is in this context
that the automobile industry is expanding its horizons, growing and becoming highly competitive in
several markets. With respect to the Brazilian automobile sector it is necessary to have a full
understanding of the main characteristics of the sectorial dynamics in order to be able to trace a
profile of this sector including its assemblers and suppliers.
KEY-WORDS: automobile industry, industrial reestruturing, sectorial dynamics, productivity.
RESUMO: Com as crescentes mudanças na economia mundial, as empresas buscam cada vez mais
reestruturar-se para sobreviverem em um mercado altamente competitivo. É neste processo que a
indústria automobilística vem ampliando seu horizontes, expandindo-se e tornando-se altamente
competitiva em vários mercados. No caso do setor automobilístico nacional torna-se necessária a
compreensão das principais características da dinâmica setorial, para se traçar um perfil deste setor
que engloba as montadoras e as autopeças.
PALAVRAS-CHAVE: indústria automobilística, reestruturação industrial, dinâmica setorial,
produtividade
1. Introdução
O setor automobilístico nacional (montadoras e autopeças) recentemente tem passado por uma
profunda reestruturação. Com a abertura do mercado nacional, o acirramento da competição
internacional e outros efeitos causados pela globalização, este setor viu-se obrigado a procurar novos
métodos e formas para superar tanto suas defasagens tecnológicas, como organizacionais em relação à
outros países, principalmente Estados Unidos, países Europeus e mais recentemente o Japão.
Este trabalho tem como objetivo traçar um perfil e fazer uma breve análise deste setor,
apresentando para isso as principais características da dinâmica setorial. Em uma primeira etapa será
apresentada a evolução e a caracterização da indústria automobilística mundial. Em seguida, tem-se um
breve histórico da indústria automobilística nacional, destacando-se os fatos mais relevantes deste
período. Em outra etapa, analisa-se a situação atual das indústrias montadoras e autopeças no Brasil, e
descreve-se detalhadamente suas principais características da dinâmica setorial. Também é abordada a
atual reestruturação produtiva no país. Na última etapa, são apresentadas as considerações finais à
respeito da análise realizada.
Além desse caráter oligopolista, o mesmo autor dá outra classificação para a indústria montadora
de veículos: é um monopsônio pois estas empresas detém “exclusividade na fabricação e
comercialização de suas marcas e modelos de veículos” e também por trabalharem com especificações
específicas de peças e componentes.
O segmento ainda pode ser caracterizado por economias de escala multi-planta, instalando plantas
junto ao mercado consumidor, especificando suas estratégias de propaganda e marketing de acordo com
os hábitos de consumo de cada região. A vantagem dessa estratégia encontra-se na área de abrangência
da empresa, ou seja, se esta possui uma maior área de abrangência maior será seu retorno de consumo.
Outra peculiaridade das economias multi-planta é a concentração dos investimentos em P&D no
desenvolvimento de produtos que poderão ser comercializados em qualquer lugar do mundo.
As economias multi-planta empregam-se com sucesso em grandes empresas com elevado poder de
mercado, pois para estas é vantajoso instalar unidades em outros lugares do mundo na medida em que o
custo de capital para elas é extremamente inferior ao custo para empresas sem essas características. O
custo de cada unidade de produção torna-se efetivamente mais baixo com a construção de uma nova
planta. Isto porque quanto maior a empresa menores são os riscos a ela relacionados. Em primeiro lugar
porque as unidades são instaladas em mercados distintos e não correlacionados, assim é fácil de
entender que seus riscos são inferiores aos de uma empresa cuja estrutura total situa-se em um único
lugar, vulnerável às condições econômicas do mesmo. Além disso, o risco de interrupção da produção
(por exemplo em casos de greve) é menor.
Mais especificamente para a indústria montadora a estratégia de multi-plantas se dá através da
“instalação de linhas de montagem de veículos CDKs (completamente desmontados), pelo
estabelecimento de subsidiárias (unidades de negócios incumbidas da fabricação e montagem) e pela
formação de joint-ventures com firmas já estabelecidas nos países de destino. Nos últimos tempos as
joint-ventures têm sido utilizadas com maior freqüência em função das resistências ao crescimento das
importações de veículos e como alternativa de absorção de novas tecnologias”(BEDÊ, 1996, p.80).
Até o início dos anos 90 a estratégia predominante de concorrência das empresas desse segmento
era de diversificação de modelos e de diminuição progressiva do ciclo de vida dos veículos. Atualmente,
visando economizar recursos de desenvolvimento e aumentar a eficiência da produção, as montadoras
estão reduzindo esse ritmo e concentrando-se na estratégia de diferenciação dos produtos, como bem
disse BEDÊ (1996). Isso é decorrência da reestruturação produtiva iniciada com a difusão do sistema
de produção enxuta, que se traduz na corrida das montadoras em busca de capacidade competitiva1.
Antes de fazer menção à essa reestruturação produtiva, é importante caracterizarmos o segmento
de autopeças, visto que aquela abrange toda a cadeia produtiva. Na ótica dos fornecedores de autopeças
o segmento é caracterizado pela heterogeneidade das empresas que o compõem. Heterogeneidade quanto
a tamanho, capital constitutivo, capacidade tecnológica e mesmo quanto a produtos e processos.
O setor de autopeças é dominado por um grande número de pequenas e médias empresas
(PMEs). Nos EUA estima-se que por volta de 15.000 PMEs fornecem diretamente para as montadoras,
e no caso de alguns países europeus, a participação de empresas com menos de 100 empregados
representa até 55% do mercado (POSTHUMA, 1996). Apesar disso, em 1991, 30 empresas dominavam
mais de um terço da produção mundial, caracterizando o setor como altamente concentrado.
Na verdade, o setor de autopeças, devido sua interdependência com as montadoras, potencializa
alguns de seus caracteres. É por isso que as grandes fornecedoras de autopeças dos Estados Unidos,
Europa e Japão instalaram-se no exterior na mesma época em que se deu o processo de
internacionalização das montadoras.
A heterogeneidade quanto à constituição do capital pode ser exemplificada pelo Brasil, em que a
maioria das grandes empresas é constituída por capital estrangeiro. Já as pequenas e médias empresas,
que se apresentam em maior número que as citadas anteriormente, são de capital predominantemente
nacional e de controle familiar.
As pequenas e médias empresas possuem um baixo grau de sofisticação e capacitação tecnológicas
em contraposição aos grandes investimentos em P&D realizados pelas grandes empresas.
1
Cabe aqui expor os três níveis de competitividade distinguidos por FERRO (1993): Fatores internos às
empresas, fatores estruturais e fatores sistêmicos.
Outro fato importante a ser lembrado é a o aumento significado das vendas de carros populares,
com preços relativamente mais baixos e os prazos de financiamento maiores, levando então a uma
mudança na composição da demanda das empresas. Isto significa que nos anos 90 a concentração da
demanda ocorreu em carros populares, ao contrário dos anos oitenta onde a concentração dava-se em
carros médios e de luxo.
Assim, analisando-se o período entre 1974 e 1993, percebe-se que a produção da indústria
automobilística brasileira permaneceu em torno de um milhão de veículos anuais, com o faturamento
líquido anual acima dos 9 bilhões. Em 1993, a produção subiu 30% em relação ao ano anterior,
marcando uma inflexão na série que até então seguia o movimento de recuperação gradual e em 1994
tem-se um ano de recordes. As expectativas para 1995 eram da expansão de 15%, levando a produção
para a casa de 1,8 milhões de unidades. Esses números são representativos, pois significam a retomada
do mercado de automóveis no Brasil. Em 1996, tem-se um ligeiro recuo de vendas com as medidas de
contenção ao crédito estabelecidas pelo governo, e em 1997 o volume de autoveículos vendidos no país
cresceu cerca de 26% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Atualmente, a reestruturação do setor, tem produzido resultados considerados contraditórios.
Isto ocorre, porque ao mesmo tempo que “...o setor apresenta sucessivos recordes de produção, aumento
de produtividade, multiplicação dos investimentos, construção de novas plantas e modernização dos
produtos; observa-se também uma poderosa rede de benefícios estatais, aprofundamento do grau de
internacionalização do setor, desagregação da malha de pequenas, médias e grandes indústrias nacionais
de autopeças, enfraquecimento dos centros de desenvolvimento e pesquisa locais, reduzida atividade de
transferência de tecnologia e a diminuição constante dos postos de trabalho ao longo de toda cadeia
produtiva” (SALERNO, 1998, p.17).
6 . Considerações finais
A Indústria Automobilística Nacional, seguindo a tendência mundial, vive desde o início da
década de 90 um processo reconhecido como “Reestruturação Produtiva”, resumida basicamente como
um novo padrão de relacionamento entre as indústrias montadoras de autoveículos e as autopeças. As
transformações na cadeia produtiva continuam ocorrendo em todo o Brasil, aliás essa é uma das
transformações, ou seja, verifica-se um processo de desconcentração espacial tanto das montadoras
como dos fornecedores de autopeças.
Um aspecto importante e, para muitos até contraditório é o fato das empresas da cadeia
produtiva adotarem, ao mesmo tempo, práticas de proximidade geográfica e do global sourcing,
fenômeno que segundo SALERNO et al. (1998) como as bases industriais procuram atingir uma escala
relativamente elevada – como é o caso da indústria automotiva no Brasil, cuja produção é superior a
dois milhões de veículos/ano (1997) – há viabilidade de produção local de significativa parte dos
componentes dos veículos, sendo o global sourcing utilizado pelas montadoras como base de
negociação de preços e como forma de lançar mais rapidamente novos produtos enquanto não é iniciada
a produção local de componentes.
É evidente que, devido à “proteção” dada pelo governo às montadoras e de seu forte poder a
nível mundial, estas acabam ditando as regras do mercado, enquanto que fornecedores de autopeças tem
que se adaptar e se modernizar para conseguir sua sobrevivência e uma posição competitiva. O impacto
da reestruturação da cadeia produtiva tende a eliminar uma parcela da indústria de autopeças local.
Além disso, o elevado grau de exposição à concorrência internacional, particularmente nesse momento
de reestruturação e o reduzido grau de proteção efetiva a que vem sendo submetida a indústria de
autopeças tendem apenas a reforçar, no país as conseqüências negativas deste processo.
Apesar da abertura do mercado às importações, a constatada concentração do mercado
automobilístico nacional não apresenta sinais de mudanças, pois a hegemonia das quatro grandes
empresas no país (VW, Fiat, GM e Ford) é basicamente assegurada por sua forte estrutura de
produção, distribuição e comercialização (desenvolvida desde os primeiros anos da industrialização
brasileira) e suas estratégias de mercado.
7. Referências bibliográficas
ANFAVEA, Anuário Estatístico da Indústria Automobilística Brasileira. São Paulo, Associação
Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, 1997-98.
ARBIX, G.; ZILBOVICIUS, M. De JK a FHC - A reinvenção dos carros. São Paulo: Edições
Sociais Ltda, 1997.
BEDÊ, M.A. A indústria automobilística no Brasil nos anos 90: Proteção efetiva, reestruturação e
política industrial. São Paulo. 1996. Tese (Doutorado). Faculdade de Economia Administração e
Contabilidade da USP.
BEDÊ, M. A . Autonomia e mudança tecnológica na indústria brasileira de autopeças. São Paulo.
208p. São Paulo. 1990. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade, Universidade de São Paulo.
COMIN, A. De volta para o Futuro – Política e reestruturação industrial do complexo
automobilístico nos anos 90. Relatório Final da Pesquisa “Os Cavaleiros do Anti-Apocalipse”,
Cebrap, dez. 1996.
COUTINHO, L.G.; FERRAZ, J.C. Estudo da competitividade da indústria brasileira. Campinas:
Papirus, 1994.
FERRO, J. R. Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira. Nota Setorial do complexo Metal-
mecânico do Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT, Campinas, 1993.
HOFFMAN, K; KAPLINSKY, R. The point of transition: from machinofacture to systemofacture. In:
Hoffman, K; Kaplinsky, R. Driving force: the global restructuring of technology, labour and
investment in the automobile and components industries. London, Westirew, 1988.
MELLO, J.M.C. O capitalismo tardio. São Paulo: Brasiliense, 1990.
PINHO, M. Reestruturação e retomada dos investimentos na indústria automotiva: impactos na região
de Campinas. Leituras de Economia Política, n.5, p. 125-158, dez. 1997.
SALERNO, M. S., et al. Mudanças e persistências no padrão de relações entre montadoras e autopeças
no Brasil. Revista de Administração, v. 33, nº3, p. 16-28, julho/setembro de 1998.
SCHERER, F. M. Industry, structure, strategy, and public policy. Harper Colins, 1996.
SINDIPEÇAS. Perfil do Setor, 1998.
VASSALLO, C. Revolução? – Herbert Demel corre contra o tempo para transformar a Volks
brasileira numa empresa de classe mundial. Exame. Ano 32, n. 4, 24/fev/1999, p. 60-64.
WOMACK, J.P.; JONES, D.T.; ROOS, D. A Máquina que mudou o mundo. Rio de Janeiro:
Campus, 1992.