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O ARRANJO DE DEUS PARA SALVAR OS SEUS ESCOLHIDOS

Meu nome é João Margarido Diniz, ex-funcionário da Itaipu Binacional, parte da equipe
precursora da construção daquela hidrelétrica onde fui o responsável pelo setor da
medição física das obras realizadas, desde quando existia apenas uma picada na direção
do eixo da barragem e apenas dois marcos de concreto com coordenadas geográficas em
suas extremidades, um do lado brasileiro e outro do lado paraguaio. Participei ativamente
de toda aquela grande construção até a geração de energia e além. Lá cheguei com vinte
e três anos, no dia 28 de fevereiro de 1975 e permaneci até o mês de agosto de 1998.
Chefiei uma boa equipe de funcionários brasileiros e paraguaios durante os quase vinte e
quatro anos de trabalho que ali me coube.

De fato, houve um arranjo de Deus para todos nós nos encontrarmos e convivermos um
tempo juntos em Itaipu. Olhando para a soberania de Deus creio que a Itaipu foi
construída por causa de seus eleitos. Nossas vidas de certo modo foi dividida em duas
etapas: antes de Itaipu e depois de Itaipu.

Em Itaipu pude crer que Deus é o Soberano dos reis da terra. Que o coração dos reis é
como água em suas mãos. Ele é o Oleiro que molda o barro como lhe aprouver. Pode
quebrar o vaso e descartá-lo ou refazer o vaso e usá-lo segundo o seu propósito. Cri e
creio firmemente que Deus é o nosso Governador, Ele está no comando. Desde então
mantenho-me atento para ouvir suas ordens e direção, mesmo quando as coisas não estão
muito boas, mas como está escrito em Eclesiastes 10:4: "Levantando-se contra ti o espírito
do governador, não deixes o teu lugar...”

Ele afasta, aproxima, alinha, ilumina, orienta e nos fala muitas vezes e de muitas maneiras
nestes últimos dias pelo Filho Jesus Cristo, o Senhor Espírito, que habita em nosso
espírito, pois cremos no seu nome e o invocamos para termos mais de Sua Vida e por ela
vivermos como filhos de Deus, para, no dizer do apóstolo João: “Tal qual ele é, somos
nós também neste mundo” (1 Jo 4:17).

Ali na Itaipu Deus me aproximou a um grupo de pessoas e usou cada um de nós segundo
o dom e a capacidade que concedeu para nos transformar um a um. Transformou os
inimigos em amigos e os amigos em irmãos. Usou um crente, Sebastião Lucas, para
testificar da fé em Jesus Cristo segundo a Palavra de Deus. Seu testemunho foi o seu viver
de fé entre nós. Nunca foi um pregador, mas vivia como um crente em Cristo e em seu
Evangelho.

De minha parte afirmo que o rejeitava muitíssimo naquele aspecto. Até o dia em que o
telefone tocou, ele atendeu a ligação e devido a parede de minha sala ser de madeira ouvi-
o dizer: "Um momento, vou passar a ligação para alguém que te poderá informar." E
entrou em minha sala e disse: “Tem uma pessoa ao telefone que quer saber sobre algo da
Itaipu e eu não sei responder.” Respondi-lhe, transfira a ligação. Tomei o telefone e disse:
"Pois não!" Do outro lado alguém disse, "Olá, eu sou o Fulano de Tal (não me lembro
mais o seu nome), moro em Cascavel, sou dos Gideões Internacionais, e gostaria de saber
se a Itaipu vai construir alguma obra na cidade de Guaíra. Ouvi dizer que ela construirá
uma obra lá para evitar o assoreamento da barragem e quero me certificar disso, pois
tenho negócios naquela cidade." Respondi a ele: "Não sei prestar essa informação, mas
vou transferir a tua ligação para a Superintendência, ela saberá dar-te a resposta." E
transferi.

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Aí aconteceu algo comigo. Ficou na minha mente a palavra "Gideões Internacionais,
Gideões Internacionais...". Nunca tinha ouvido falar sobre isso. Fiquei curioso e
incomodado. Logo depois o Lucas entrou em minha sala para tratar de um trabalho e eu
perguntei: "Lucas, que negócio é esse de Gideões Internacionais?" Ele respondeu: "Ah,
os Gideões Internacionais é uma associação de pessoas cristãs que distribuem a Bíblia
gratuitamente em hospitais, hotéis, presídios e outros lugares para que as pessoas
conheçam a palavra de Deus e creiam em Jesus Cristo. Eu sou um Gideão Internacional.
Só um minuto...". E saiu da sala e voltou com um Novo Testamento bilingue, português
inglês, e disse: "Olha, este é um exemplar dos que distribuímos, nele...." E eu o interrompi
asperamente: "Um momento, rapaz, eu não quero saber de tua fé. Você tem a tua fé e eu
tenho a minha. Você crê no teu Deus e eu creio no meu. Aqui nosso assunto é só de
trabalho. Não quero saber de tua religião."

Então o Lucas, humildemente, disse: "Mas eu só queria te dar esse livro!". De forma
soberba, respondi: "Deixe aí, se eu tiver tempo o leio, se tiver dúvida te pergunto.” Ele
deixou o livro sobre a minha mesa e saiu da sala. Tomei o livro, abri, folheei, e subiu-me
uma tremenda raiva contra o Lucas. Pensei: "Crente dos infernos! Acha que só ele sabe
das coisas de Deus. Vou ler esse livro, vou achar um erro nele e esfregar na cara desse
crente." Dali em diante, cada vez que me sobrava um tempo, abria a gaveta pegava o livro
e o lia, de forma meio oculta, pois não queria que alguém me visse lendo. Se entrava
alguém na sala escondia o livro na gaveta antes de dar atenção à pessoa.

Despois de uns meses, finalizei a leitura. Li o Novo Testamento, de Mateus a Apocalipse.


Durante a leitura me foi sendo apresentada uma pessoa que eu não conhecia: Jesus Cristo,
o Verbo de Deus, o Deus encarnado que se tornou visível aos homens para que eles
conhecessem o Deus invisível. Fiquei profundamente tocado por Ele e por sua palavra. O
padrão de sua vida era o que gostaria de ter, a sua promessa de dar a vida eterna a quem
nele cresse me encheu de esperança, o seu acolhimento aos pecadores, o seu perdão...
Tudo ficou impressionante para mim.

Dias depois que terminei a leitura o Lucas entrou em minha sala e eu perguntei: "Lucas,
onde está o resto desse livro?” E mostrei o Novo Testamento que ele me dera. Ele
respondeu: “Só um momento!”. Saiu e voltou com uma Bíblia. Disse: "Olha, eu tenho
duas Bíblias, fica com essa, pode lê-la, não precisa ter pressa para devolver". E saiu da
sala. Então comecei a leitura da Bíblia em Gênesis e a li até o livro de Apocalipse. Levei
uns meses para fazer aquilo. O conhecimento da história do povo de Deus, das vitórias
dos crentes, das derrotas dos incrédulos, a prova do cuidado e da bondade de Deus para
com o seu povo que nele cria, as promessas de Deus para toda a família de quem nele
cresse e guardasse a sua palavra, tudo isso, mudou minha forma de pensar. O que eu não
sabia era que o Lucas, sua família e seus amigos crentes oravam incessantemente pela
minha vida, e creio, pela vida de todos nós seus colegas de trabalho, para que Deus nos
convertesse das trevas para a luz, da incredulidade para a fé no Filho de Deus, Jesus
Cristo.

Um dia, o Lucas convidou-me para assistir um “culto” em sua igreja, a Assembleia de


Deus, em um fim de domingo. Relutei um pouco porque não queria ser um crente como
via que ele era e enfrentar as zombarias que o via enfrentar, mas, para não ser mal
educado, disse que iria. E fui. Ele me esperava lá, tinha até um local escolhido para que
me sentasse. O culto começou, cantaram vários hinos, lindos hinos, o Lucas estendia para

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mim a página aberta do hinário para que eu acompanhasse as letras, o ambiente era de
alegria e fé. Após os cânticos o pastor aproximou-se do púlpito, abriu a Bíblia e leu uma
passagem sobre o bom pastor que dá a sua vida pelas ovelhas. Falou de tal maneira que
me vi descoberto em minhas faltas e pecados. Me senti o pior dos pecadores. Eu era a
ovelha perdida e desamparada. Aí pensei, “Esse Lucas está falando de minha vida para
esse homem. Que pessoa desprezível é esse Lucas. Preparou bem as coisas aqui.” A partir
daquele momento suportei o resto do culto até o final. Na saída não me contive e
perguntei: “Lucas, você está falando de minha vida para aquele pastor?” Ele disse: “De
forma alguma, João Margarido, não estou fazendo isso.” Então, retruquei, como ele pode
saber de minha vida ao ponto de falar de coisas que somente eu e quem convive comigo
sabe? “Ah, isso é o Espírito Santo, Ele sabe de sua vida e está falando com você.”,
respondeu ele. Retruquei: “Que Espírito Santo que nada, rapaz, não acredito nisso.” Para
mim, pus ali um ponto final na tentativa do Lucas em me converter à sua fé.

Passado um tempo, o Lucas pediu-me que lhe concedesse uma licença para que ele e sua
família, disse, fossem assistir um casamento de “um irmão da igreja” que iria se casar na
cidade de Uberaba, em Minas Gerais. O casamento seria no final da semana e ele
precisaria de folga na segunda-feira, pois estariam viajando de volta. Concedi e perguntei:
“Quem de Foz do Iguaçu também vai além de vocês?”. “Nós vamos em um ônibus
fretado, com muitos irmãos da igreja, pois o irmão que vai se casar é muito querido de
todos. Vai o pastor José Polini, o irmão Demóstenes, aqueles que te apresentei naquele
dia do culto.” Concedi a licença e o Lucas viajou.

Naquele final de semana, no domingo, o tempo fechou a tal ponto que parecia que o céu
iria desabar. No início da noite caiu um temporal próprio de Foz do Iguaçu. Com aquele
tempo estava quieto em casa e me veio um pensamento: “Que boa oportunidade você tem
de ir à igreja do Lucas para ver se esse tal Espírito Santo fala mesmo contigo ou não! Não
tem ninguém que conhece lá. Poderá provar se é verdade ou mentira.” Levantei-me do
sofá troquei a roupa e disse à minha esposa: “Vou lá na igreja do Lucas!”. “Ah, não, não
vá, olha o temporal, eu não quero que você se torne um crente. Deus me livre de um
marido crente!” Respondi: “Já me decidi, vou lá.” E fui. Entrei na igreja, sentei-me num
dos últimos bancos, próximo da saída, observei que tinha poucas pessoas, nada a ver com
a multidão daquele domingo em que tinha vindo e para mim todos eram estranhos.

O culto começou, os presentes cantaram um hino, bem desafinado, e depois se aproximou


do púlpito um senhor magrinho e pediu que, quem tivesse uma Bíblia abrisse no livro de
Josué, capítulo 24, versículo 15. E leu: “Porém, se vos parece mal aos vossos olhos servir
ao Senhor, escolhei hoje a quem sirvais; se aos deuses a quem serviram vossos pais, que
estavam além do rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais; porém eu e a
minha casa serviremos ao Senhor.” Fechou a sua Bíblia e começou a pregar sobre a
escolha que Deus dá aos homens para servi-lo ou não. Falou sobre a vida dos que
escolhem servir a Deus em comparação com a vida daqueles que não o servem. E
reafirmava o exemplo de Josué: “Eu e a minha casa serviremos ao Senhor!”. Aquelas
palavras me atingiram. Falei interiormente com Deus, “meu Deus eu nunca te servi, eu
sirvo a mim mesmo, minha vida é voltada somente para os meus interesses.” E lembrei-
me das dificuldades de relacionamento que eu tinha com todas as pessoas, da minha forma
egoísta e orgulhosa de viver, das discussões em que sempre estava metido contra os que
pensavam diferente de mim, das tristezas que sentia pela falta de paz interior, enfim, me
vi como de fato eu era: um tremendo pecador que vivia distante de Deus.

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Terminada a pregação, aquele senhor disse: “Agora vamos orar! Quem quiser receber
uma oração levante de seu lugar e venha até aqui à frente que vou orar por você.” Alguns
se levantaram e foram até em frente ao púlpito e ali se ajoelharam para orar. Eu permaneci
impassível no meu lugar. Então, aquele senhor, a quem eu não conhecia, começou a
chorar de forma intensa, falou uma língua estranha que eu não entendia, e disse em alta
voz: “Eu não posso orar! O Espírito Santo está me falando que trouxe ao culto uma pessoa
que ele escolheu para servir a Deus. Não posso orar até que essa pessoa venha aqui.
Levante de seu lugar e venha até aqui!”, gritou ele. “Deus te escolheu, ele vai transformar
a sua vida e cuidar de você. Venha aceitar Jesus como seu salvador!” Aquelas palavras
me atingiram, “Sou eu!”, pensei. Levantei-me e caminhei até onde estavam as pessoas
ajoelhadas. Ao me levantar e caminhar pelo corredor de bancos observei que todos os
presentes choravam em alto pranto e davam glórias a Deus, gritavam o nome de Jesus
Cristo e diziam que Ele era bendito. Ajoelhei-me para receber a oração. Então aquele
senhor disse: “Agora eu posso orar, agora o Espírito Santo me diz que o seu trabalho está
feito.” Dirigiu-se a mim e disse: “Ore você também, entregue a tua vida ao Senhor,
escolha servir a Deus.” E ele orou de forma veemente entregando a vida de cada um dos
presentes a Deus. Eu não sabia orar, mas disse: “Senhor Jesus, eu não sei orar e não te
conheço, mas eu me entrego ao Senhor e te recebo como meu salvador. Ensina-me a tua
palavra e eu te servirei por todos os dias de minha vida.” Aí fui tomado por uma profunda
emoção e chorei profundamente. Senti um alívio interior como se um fardo tivesse sido
retirado de meu peito. Fiquei cheio de alegria e de gratidão a Deus. Agradeci a Deus pelo
que estava acontecendo comigo.

Terminada a oração, todos que ali estavam vieram me abraçar e me abençoar, inclusive o
senhor que fez a pregação. Disse que seu nome era João Apóstolo e que era evangelista.
Abraçou-me fortemente e chorou e deu glórias a Deus por minha vida. Voltei para minha
casa cheio de alegria e fé, crendo que “eu e a minha casa serviremos ao Senhor.”

Minha vida mudou a partir daquele dia. Tornei-me um crente em Cristo, comecei a
estudar a Palavra de Deus e por misericórdia o Senhor me foi abrindo a porta da Palavra.
O Senhor tornou-me um pregador do Evangelho da Graça, pelas praças, ruas, favelas,
presídios, hospitais e para quem e onde o Senhor Jesus me conduzia, no Brasil, Paraguai,
Argentina e Uruguai. Depois o Senhor Jesus mostrou-me o seu Mistério, a Igreja, que é
o seu Corpo e a Sua Plenitude, e abriu-me a porta do Evangelho do Reino para que por
misericórdia eu o anuncie e participe da edificação de Sua Casa para apressar Sua vinda.
Assim, até hoje, a Palavra da fé está em meu coração e também em minha boca. Ela é o
meu conteúdo. É a Palavra que falo, anuncio e prego. Falo a todos das insondáveis
riquezas de Cristo como Evangelho para que creiam em Seu Nome, em Sua encarnação,
vida, morte, ressurreição, e confessem com suas bocas que Jesus é o Senhor de todos e
aprendam a invocar o Seu Nome a fim de serem salvos por Sua vida, pois “todo aquele
que invocar o nome do Senhor será salvo.”

A Bíblia que o Lucas me emprestou eu a devolvi, mas logo depois ele presenteou-me com
uma nova onde escreveu na contracapa:

“Ao amigo Margarido:


Motivado pelo seu interesse pelas Escrituras, satisfeito com essa atitude, lhe ofereço esta
Bíblia. Aberta e lida é Deus falando conosco, fechada é Deus nos esperando. Será também
uma recordação, através dos anos, destes últimos dias aqui em Itaipu.
Itaipu, 22 de setembro de 1982.”

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Essa é a minha Bíblia preferida. Li-a muitas vezes, ao ponto de sua capa ser consumida.
Cada vez que consumia mandava reencadernar, até que encontrei no Paraguai uma capa
de couro cru, trabalhada por um artesão de couros, e mandei encaderna-la com ela. Ficou
e está durável até o dia de hoje. Já designei que ela será herdada por minha filha Priscila.
É o maior tesouro que lhe posso deixar como herança: o testemunho de minha fé.

Contei-lhes essa parte de minha história para registrar o arranjo de Deus para a vida de
seus escolhidos e a importância de cada um deles para a nossa vida. Como que Deus usa
um dos seus para proferir uma pequena palavra: “Sou dos Gideões Internacionais..”, e por
ela converter muitos das trevas para a luz. Dos amigos da Itaipu todos se tornaram crentes
em Cristo, de todos tenho lembranças agradáveis que me serviram e servem de referência
em muitas ocasiões. A todos sou grato, grato a Deus pela vida de cada um. Minha oração
é: “Senhor Jesus, graças Te dou porque és o Verdadeiro Deus e a Vida Eterna. Glorifico
o teu nome pela fé que nos deste para tornar-nos filhos de Deus. Abençoe os meus irmãos!
Sê com eles como o Senhor é comigo, vivo e presente. Seja com cada um de nós para que
desfrutemos a vida de unidade com Deus. Como disseste: “E eu dei-lhes a glória que a
mim me destes, para que sejam um, assim como nós somos um. Eu neles e tu em mim,
para que eles sejam perfeitos em unidade.” Senhor Jesus, por tua graça somos um espírito
contigo. A tua graça nos basta. Amém!”

Curitiba, 27 de julho de 2021.

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