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PARTE 3:

Charles Culpepper, presidente do seminário batista em Shantung, na cidade de


Hwanghsien, foi uma das peças importantes que Deus usou durante o avivamento naquela
região. Depois que a missionária norueguesa, Marie Monsen, perguntou para ele se já havia
sido batizado no Espírito Santo, Culpepper ficou profundamente incomodado e iniciou uma
busca intensa em oração que levou quatro anos até receber a resposta. Na segunda parte
desta série, vimos como ele foi poderosamente batizado no Espírito Santo enquanto,
simultaneamente, Deus já estava visitando outras cidades na província.

Logo após o batismo de Culpepper, Deus começou a agir na escola que os missionários
mantinham na mesma cidade. A história do que aconteceu está na continuação do
testemunho do próprio Culpepper.

Avivamento nas Escolas

Na noite daquele domingo [um dia após o meu batismo no Espírito], uns três ou quatro
casais reuniram-se em nossa casa, outra vez. Oramos por aproximadamente duas horas, e
o grupo inteiro de 10 a 12 pessoas foi tremendamente visitado. Todos ficaram cheios de
alegria, alegria transbordante e indizível, cheio de glória. Rimos, choramos, louvamos a
Deus por muito tempo. Estávamos cheios de gozo, mas não sabíamos o que Deus estava
para fazer. Ele estava preparando tudo para um grande avivamento, trabalhando em nossos
corações, não só em Hwanghsien, mas em vários outros lugares ao mesmo tempo.

A missão batista tinha uma escola em Hwanghsien, para alunos de 12 a 18 anos. Havia
umas 600 garotas na escola feminina e uns 1000 garotos na escola masculina. Na
segunda-feira, as escolas estavam recomeçando as aulas, depois das férias de inverno.
Embora fosse uma escola missionária, só havia uns 150 garotos e 120 garotas batizados.
Os outros eram, quase todos, de famílias cristãs, mas que ainda não tinham experimentado
uma conversão.

Ao chegarem à escola naquela segunda de manhã, os alunos encontraram um ambiente já


fortemente carregado com a presença do Espírito Santo. Sem que ninguém organizasse
nada ou tomasse qualquer iniciativa, os alunos começaram a sentir forte convicção de
pecados. Tomados de surpresa, os professores nos chamaram, no seminário, para ir até lá
e ajudá-los.

Quando cheguei lá, havia quatro ou cinco garotos e o mesmo número de garotas em salas
desocupadas. Sentindo grande convicção de pecados e chorando, confessaram que haviam
mentido aos pais, colado nas provas, roubado objetos uns dos outros e sido desonestos em
outras ocasiões. Ficamos com eles por algumas horas, até acertarem a vida com Deus e
alcançarem a paz.

Pensamos que no dia seguinte tudo voltaria ao normal e que as aulas começariam para
valer. Mas não foi o que aconteceu. O diretor das duas escolas mandou um recado para
mim e para o Pr. Wong (um dos pastores chineses), dizendo que Deus estava enviando um
avivamento e que ele iria cancelar as aulas por um tempo. Pediu que eu assumisse uma
reunião por dia (às 10 horas da manhã) e o Pr Wong, a outra (às 19 horas).

Os alunos enchiam a capela, mais ou menos 1.500 pessoas, em cada reunião. Um bom
grupo daquelas 200 pessoas que haviam sido visitadas na semana anterior [veja a parte II
desta série] estava presente também. Ficavam em pé, em volta do auditório, nas paredes.

Começávamos a reunião, eu lia alguns textos nas Escrituras e explicava como podiam ser
salvos. Mal terminava a explicação, sem esperar o início dos cânticos, os garotos e as
garotas da escola já corriam para frente, chorando e caindo de joelhos. Aqueles que já
haviam encontrado com Deus na semana anterior vinham e ajoelhavam-se ao lado de cada
um, ajudando-os a achar o caminho da conversão e da paz com Deus. Dezenas de alunos
tiveram experiências com Deus em cada reunião. Ao final de dez dias, cada uma das 600
alunas já estava convertida. Dos 1000 garotos, 900 tiveram experiências de salvação.

Numa ocasião, no meio da primeira semana, depois de ter pregado e feito o convite,
dezenas de alunos vieram para frente e oramos com cada um. Estávamos quase prontos
para encerrar a reunião quando um dos professores veio correndo e disse: “Irmão
Culpepper, um rapaz, lá no fundo, embaixo da cadeira, está chamando você”.

Fui até lá e ajoelhei-me ao seu lado. Ele disse: “Sr. Culpepper, o senhor não me conhece.
Sou um ateu, sou comunista. A escola não sabe disso, ninguém sabe. Mas temos aqui uma
célula de uns oito ou dez alunos que também são comunistas. E estávamos planejando
matar o senhor e todos os missionários. Queríamos queimar as igrejas, exterminar o
cristianismo. Hoje ouvi falar sobre esse avivamento. Falei: ‘Não existe nenhum Deus e não
existe nenhum fenômeno que possa ser chamado de avivamento. Aquele missionário está
hipnotizando as pessoas, e eu vou lá esta noite para impedi-lo’. Cheguei aqui e ouvi o
senhor pregar, vi as pessoas indo para frente, confessando os pecados e chorando. Então
eu disse: ‘Vou calar esse homem agora!’. Comecei a levantar-me do meu lugar, mas nem
cheguei a ficar totalmente em pé quando algo me atingiu bem no coração. Sei que foi Deus
que me derrubou e me jogou aqui embaixo desta cadeira. Agora aqui estou e quero lhe
dizer, sr. Culpepper, que o senhor está certo e eu estou errado.”

Na noite seguinte, o Pr. Wong estava dirigindo a reunião. Um garoto do meu lado caiu da
cadeira e ficou esticado no chão rígido como uma tábua, rangendo os dentes e apertando
os punhos. Depois de despedir a reunião, quando os outros haviam ido embora, os
professores ficaram em volta do rapaz, orando por ele. Mas ele disse: “Não orem por mim,
levem-me para casa para morrer”. Continuamos a orar, e finalmente ele disse: “Oh, Deus,
se não me matares, confessarei meus pecados”. Em seguida, confessou praticamente a
mesma coisa que o primeiro do grupo comunista havia confessado.

No final, metade daquele grupo de 10 comunistas foi convertida e metade fugiu.

Avivamento nas Igrejas


Na semana seguinte, um dos pastores veio falar comigo. Ele era responsável por uma igreja
que eu conhecia bem. Por dois ou três anos, eu havia dado assistência lá. Com um total de
30 e poucos membros, geralmente a frequência nos cultos oscilava entre 15 e 20 pessoas.
Era uma igreja seca, sem vida. Nada do que fazíamos surtia qualquer resultado. Quando
havia um ou dois convertidos dentro do período de um mês, ficávamos muito felizes.

Mas, naquela semana depois do avivamento na escola, esse pastor chegou e disse: “Irmão
Culpepper, o povo está chegando aos montões. Estão enchendo a casa e a área do lado de
fora. Preciso de ajuda.”

Fui naquela mesma noite, e realmente o local estava abarrotado. Tinha gente dentro do
pequeno edifício e em todo o espaço em volta dele. Tentavam ouvir através das janelas e
das portas. Fizemos reuniões durante uma semana, e cada vez que eu pregava, dezenas
de pessoas vinham para frente. Ao todo, 100 pessoas fizeram uma decisão por Jesus, e
batizei 86 pessoas no mesmo dia.

Eu estava transbordando de alegria. Nunca havia batizado mais do que cinco ou seis
pessoas, talvez 8, no mesmo dia. Geralmente, tínhamos que esperar dois ou três meses
para ajuntar esse número. Meu gozo estava completo, quase insuportável, de poder ficar
quase como espectador, vendo Deus agir e fazer milagres tão tremendos!

Poucas semanas depois, outro pastor veio, desta vez de uma região mais distante, a uns
150 km da missão. Fui para a cidade dele, e tivemos duas semanas de reuniões. Deus agiu
poderosamente, e 300 pessoas se converteram. Batizei 203 em um só dia. Mais uma vez,
senti tanta alegria que mal conseguia contê-la.

Na província de Pingtu, onde o avivamento começou (antes de chegar à nossa província),


houve 3000 conversões no primeiro ano. Jamais sonhamos em ver tantas conversões em
apenas um ano. O número de igrejas dobrou-se, triplicou-se. Não havia mais problemas
financeiros na obra de Deus, pois as pessoas traziam seu dinheiro, traziam seus corações.
Elas cantavam, decoravam os salmos, creio que memorizaram mais de 30 salmos e os
adaptaram a melodias chinesas. Amavam a Bíblia, liam muito a Palavra de Deus. Coisas
maravilhosas aconteciam todos os dias.

É claro que o inimigo não estava satisfeito e não ficou sem ação, não deixou que
avançássemos sem oposição. Usou todos os seus recursos para nos atacar. Tentou
impedir-nos, confundir-nos, imitar-nos. Tentou de tudo para parar a obra de Deus. Contudo,
Deus deu-nos discernimento. Para isso, dou todo o crédito a ele. Não éramos nós os
“entendidos” ou os “espertos”. Era simplesmente Deus concedendo discernimento ao seu
povo.

Testemunhos da Ação de Deus

Houve vários casos de restituição. Um dia, estávamos orando, todos de joelhos. No final,
quando nos levantamos, vimos um pacote de dinheiro em cima da mesa. Havia moedas (de
valor equivalente a um dólar) e algumas notas. Junto com o pacote, havia uma nota escrita
pela esposa de um dos pastores, dizendo que era o dinheiro do dízimo que ela roubara do
Senhor, retendo-o para si mesma.
Em outra ocasião, um diácono da igreja veio ao culto de santa ceia trazendo uma cesta
carregada de moedas (também com valor aproximado de um dólar cada). Estava pesada,
tinha umas 500 moedas. Ele chegou e colocou a cesta em cima da mesa da ceia do
Senhor. Dentro da cesta, havia um bilhete explicando que era o dízimo que roubara de
Deus durante muito tempo. Várias outras pessoas começaram a sentir o mesmo toque de
Deus para acertar a vida nessa área.

Certa manhã, um homem chegou à reunião de oração com o rosto inchado e vermelho,
lágrimas escorrendo pelas faces. Foi naquela primeira semana, quando a reunião começou
numa terça e continuou, sem interrupção, durante quatro dias. Sempre havia gente na sala
de oração, às vezes pouco mais de dez pessoas, em outras até 200. Naquela manhã
específica, havia umas 50.

“Vocês sabem”, ele nos disse, “que minha esposa não é convertida. Deus mostrou-me
ontem à noite que ela não é convertida por causa de mim. É impossível ela se converter.
Estou vivendo uma vida hipócrita.

“Vocês não conhecem minha esposa. Tenho medo dela, pois é um verdadeiro terror. Ela
não quer que eu dê meu dízimo à igreja. Então tenho mentido para ela. Tiro o dízimo do
meu dinheiro e depois chego em casa e digo que é só isso que tenho.

“Também em outro assunto eu a tenho enganado. Ela não quer que eu vá para os cultos.
Acha que é uma perda de tempo. Sempre há tanta coisa para arrumar, para consertar em
casa, e ela quer que eu faça essas coisas no lugar de perder tempo indo para os cultos. Se
eu insistisse em ir para os cultos, ela ameaçava seguir-me até o local e entrar na reunião,
gritando, caindo no chão, fazendo um escândalo e me envergonhando. Vocês não
conhecem minha esposa – ela seria capaz de fazer exatamente isso! Tenho medo dela!

“Então, aos domingos, falo que preciso ir ao mercado. Vou ao culto primeiro e depois passo
no mercado e faço algumas compras. É assim que a tenho enganado.

“Mas ontem à noite, Deus tratou duramente comigo. Preciso ir para casa e confessar que
tenho mentido para ela. Preciso contar tudo que tenho feito. Quero que orem por mim.”

Em seguida, ele saiu, enquanto o grupo ficou em oração. Depois de uma hora ou mais, ele
voltou, os olhos ainda cheios de lágrimas, só que desta vez eram lágrimas de alegria. Em
seguida, contou-nos como Deus operara.

Ao bater na porta, a esposa saiu xingando, pois ele não voltara para casa na noite anterior.
Xingou e humilhou o marido com todo o vocabulário que conhecia. Mas ele disse: “Pare de
xingar. Voltei para casa para confessar meus pecados para você”.

Quando ouviu as palavras “confessar pecados”, a esposa parou. Pela primeira vez na vida,
algo calou os seus lábios. Ela estava surpresa, atônita. Ele, então, entrou e contou-lhe tudo
que Deus lhe havia mostrado como pecado em sua vida. Ao terminar, ele disse: “Agora já
lhe contei tudo que Jesus apontou em minha vida”.
“Foi Jesus que mandou você me contar tudo isso?”, ela perguntou.

“Sim, foi Jesus. Eu não poderia continuar vivendo sem confessar essas coisas, sem acertar
minha vida com você.”

“Então, acho que preciso de Jesus na minha vida também”, ela respondeu.

Foi assim que, no espaço de umas duas semanas, ela se converteu e também todos os
seus filhos.

Sentimento de Indignidade
Esse foi apenas um exemplo das coisas maravilhosas, dos milagres que Deus operou
naqueles dias. Em tudo, nos sentíamos muito insignificantes, era apenas assistir, ficar de
lado observando enquanto Deus agia. Eu me sentia tão indigno que queria morrer, sumir de
tão indigno.

Senti-me como os discípulos, quando Jesus estava no barco deles e ordenou que se
dirigissem para o meio do lago e lançassem as redes. “Senhor”, eles responderam,
“trabalhamos a noite inteira e não pegamos nada. Porém, sobre tua palavra, o faremos.”

Abaixaram as redes e pegaram peixes para encher dois barcos. Ficaram tão estupefatos
que caíram aos pés de Jesus. “Senhor”, disse Pedro, “retira-te de mim, porque sou
pecador.”

Era exatamente assim que me sentia. Antes do avivamento, labutávamos, nos


esforçávamos, empurrávamos, usávamos nossos métodos e recursos, tudo que podíamos
imaginar para ganhar pessoas para Cristo, para achar o avivamento, para fazer a obra de
Deus. Depois, quando o avivamento chegou, de acordo com a ordem de Deus, ele desceu
com o poder do seu Espírito. Vimos multidões sendo salvas. Coisas impressionantes
aconteceram, e isso continuou por mais ou menos 15 anos.

O Propósito de Deus no Avivamento

Havia períodos de explosão, quando o avivamento espalhava-se como chamas de fogo fora
de controle durante alguns meses. Depois, acalmava-se, entrando em uma fase mais quieta
em que o Espírito Santo aprofundava a obra. Nesses períodos, havia mais ensinamento,
mais estudo da Palavra. Depois de algum tempo, as chamas irrompiam outra vez.

O avivamento espalhou-se por toda nossa província de Shantung e por mais cinco
províncias no norte. Continuou sem parar por quase 15 anos, até a chegada dos
comunistas. Até durante a guerra com o Japão, quando todos os missionários foram
expulsos, os pregadores e obreiros chineses continuaram levando a Palavra.

Tenho muita convicção de que Deus, sabendo o que viria para a China (a guerra com os
japoneses e, depois, a vinda dos comunistas), enviou o avivamento para preparar o seu
povo. Ele sabia que todos os missionários, todos os auxílios e suportes que foram dados
para fundamentar e fortalecer a Igreja na China seriam retirados. E ele queria que os
próprios chineses, os pastores e obreiros e todos os homens e mulheres na igreja
pudessem realmente conhecer a Deus, face a face, e ser cheios de poder.

Hoje, quando não há mais missionários lá, ninguém pode pregar abertamente e as igrejas
estão fechadas, as pessoas lá têm a presença de Deus. Não têm permissão de possuir
Bíblias, não podem reunir-se em igrejas. Porém, têm um sistema subterrâneo, um jeito de
superar isso que é maravilhoso. E Deus está ali com eles.

Creio firmemente que Deus queria prepará-los para o que viria e, por isso, enviou esse
grande avivamento no tempo apropriado. Agora, recebemos notícias deles por vias que não
podemos revelar.

Embora seja ilegal possuir Bíblias, eles ainda têm algumas. Nunca podem levar uma Bíblia
a uma reunião. Mas usam uma senha secreta e reúnem-se em grupos de quatro ou cinco
pessoas, em noites escuras, debaixo de uma ponte ou outro local afastado. Escondem uma
página da Bíblia dentro de um tubo de bambu, ajoelham-se juntos, embaixo de uma
coberta, usando uma lanterna, choram juntos, lêem uma passagem, oram e consolam um
ao outro. Para eles, a Bíblia é um tesouro de valor infinito. Dariam tudo para desfrutar das
oportunidades que temos aqui no mundo livre.

Deus sabe o quanto precisamos de um avivamento como aquele em nossos dias, aqui no
mundo ocidental. No avivamento, Deus mesmo age. Ninguém mais nos poderá ajudar.
Somente Deus.

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