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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2017.0000579496

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº

0000065-02.2015.8.26.0541, da Comarca de Santa Fé do Sul, em que é apelante

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, é apelado FÁBIO

DE PÁDUA CARNEIRO.

ACORDAM, em 10ª Câmara Criminal Extraordinária do

Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram

provimento ao apelo. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que

integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmo. Desembargadores

NUEVO CAMPOS (Presidente), RACHID VAZ DE ALMEIDA E CARLOS

BUENO.

São Paulo, 4 de agosto de 2017.

Nuevo Campos
RELATOR
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

APELAÇÃO CRIMINAL nº 0000065-02.2015.8.26.0541.


MM. Juiz de Primeira Instância: Dr. José Gilberto Alves Júnior.
Comarca: Santa Fé do Sul - SP.
Apelante: Justiça Pública.
Apelado: Fábio de Pádua Carneiro.
Voto: 40.959 (10ª Câmara Criminal Extraordinária).

APELAÇÃO ESTUPRO DE VULNERÁVEL


ABSOLVIÇÃO EM PRIMEIRO GRAU DE
JURISDIÇÃO PROVA INSUFICIENTE PARA A
CONDENAÇÃO MANUTENÇÃO DA R.
SENTENÇA RECORRIDA APELO IMPROVIDO.

Vistos.

Trata-se de recurso interposto pelo D.


Representante do Ministério Público em primeiro grau de jurisdição
contra a r. decisão monocrática de fls. 157/162, que, com fulcro no
art. 386, VII, do Cód. de Proc. Penal, absolveu Fábio de Pádua
Carneiro da imputação de se achar incurso no art. 217-A, caput, do
Cód. Penal.

Pugna, em suma, pela procedência da


inicial, por entender que o conjunto probatório é suficiente a tanto
(fls. 169/183).

Contra-arrazoado o recurso (fls. 193/207),


manifestou-se a D. Procuradoria de Justiça pelo não provimento do
apelo (fls. 217/224).

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É, em síntese, o relatório.

O apelo não procede.

Não ficou demonstrado, estreme de


dúvidas, que, nas condições de tempo e lugar referidas na inicial, o
apelado praticou atos libidinosos diversos da conjunção com G. V.
G., à época menor de 14 (quatorze) anos.

A vítima estava, juntamente com seus


genitores Jair Gentine Junior e Aline Lara Vieira, na residência do
acusado, em uma confraternização.

A ofendida, então, teria se deitado em uma


rede, oportunidade em que o acusado teria a submetido a pratica de
atos libidinosos, consistentes em passar a mão em suas partes
íntimas, com a introdução do dedo na vagina da ofendida.

Posteriormente, a ofendida teria descrito o


ocorrido à testemunha Ana Pereira Gino, que, então, adotou as
providências policiais cabíveis.

Insta ressaltar, de início, que, em casos


como o presente, notoriamente, a clandestinidade é a regra na
execução, razão pela qual, na ausência de testemunhas presenciais,
as declarações da vítima assumem particular importância, que, no
entanto, só comportam acolhimento quando possuírem ressonância
na prova.

No caso em tela, tais declarações não

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encontram qualquer espécie de apoio direto e concreto no conjunto


probatório, ou mesmo em indícios veementes, prova indireta.

Importa considerar, a propósito, que os


indícios, prova indireta, no âmbito do sistema do livre
convencimento motivado, possuem o mesmo valor da prova direta.

Entretanto, à evidência, em conformidade


com a interpretação razoável, sistemática, que se deve extrair do art.
239, do Cód. de Proc. Penal, à luz dos princípios constitucionais, os
indícios que podem ser considerados para sustentar qualquer solução
condenatória são os veementes, razão pela qual, em casos como o
em tela, em que, quando muito, há indícios apenas remotos, não há
como se reconhecer a possibilidade de sua consideração como base
para solução condenatória.

É certo que, em princípio, a prova oral da


acusação, constituída, em especial, pelas declarações da vítima (fls.
10 e 107) e pelos depoimentos de Ana Pereira Gino (fls. 11/12 e
108), refere circunstâncias desfavoráveis ao acusado.

No entanto, embora existam indícios da


prática delitiva pelo réu, estes não são suficientes para demonstrar,
com a necessária segurança, que cometeu o crime em tela, como
assinalado pelo r. decisório de primeiro grau de jurisdição.

Importa considerar, neste sentido, que os


relatos da menor apresentam divergências sobre a dinâmica dos
fatos, em especial, quanto ao desenrolar dos atos constitutivos do

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alegado abuso sexual.

Há que se considerar, também, que a


versão exculpatória apresentada pelo acusado ao longo da
persecução penal (fls. 23/24 e 113), no sentido de negar a prática
delitiva, não pode ser desconsiderada, pois não foi afastada, com
segurança, pela prova dos autos.

Neste aspecto, da análise do conjunto


probatório, não restou suficientemente demonstrado que o acusado
passou a mão nas partes íntimas da vítima, introduziu o dedo em sua
vagina, ou, ainda, tenha praticado quaisquer atos de cunho
libidinosos aptos e tendentes à satisfação de sua lascívia,
circunstância indispensável à integração da figura típica do crime de
estupro de vulnerável.

Importa anotar, neste sentido, que as


declarações dos genitores da vítima (fls. 26, 27, 33, 34 e 109), que
estavam no local onde os abusos teriam, em tese, ocorrido, não
apontam para a existência de indícios veementes de que o réu assim
tenha agido.

Por outro lado, o laudo pericial, relativo a


vestígios de práticas sexuais (fls. 28/30), não se apresentou como
conclusivo a respeito da ocorrência da violência sexual.

Importa considerar, neste aspecto, como


bem anotado no r. parecer ministerial, o teor da declaração, prestada
na fase extrajudicial, do médico legista Damião Donizte Bermal (fl.

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35).

No que tange ao comprovante de


atendimento do conselho tutelar (fls. 5/6), também não se apresenta
como conclusivo, referindo considerações objetivas, a partir dos
relatos da ofendida e da testemunha Ana Pereira Gino, porém não
forneceu elementos que pudessem conferir suporte ao relato da
vítima de modo a sustentar um desate condenatório.

A prova oral da defesa e demais


testemunhos não se prestam a alterar o panorama do conjunto
probatório (fls. 13/14, 18/22, 25 e 118).

Não é demais anotar, ainda, que há notícia


nos autos da existência de processo judicial relativo à guarda da
menor, envolvendo a testemunha Ana Pereira Gino, o que, como
bem anotado na r. decisão recorrida, indica que suas declarações, à
evidência, devem ser recebidas com reservas.

Como se vê, na ausência de prova


suficiente para suportar a grave imputação dirigida ao recorrido, o
pronunciamento do non liquet era de rigor.

Face ao exposto, meu voto nega


provimento ao apelo.

NUEVO CAMPOS

Relator

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