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O HOMEM DO MANTO
De
PABLITO TORRES
1
O HOMEM DO MANTO
De Pablito Torres
Quando a poderosa Roma espalhava seus tentáculos pelo mundo antigo, entre seus
domínios figurava um pequeno lugar ao Oriente conhecido como Palestina, dividida em
três territórios: Galiléia, Samaria e Judéia.
Na Galiléia residia o rei Herodes, um estrangeiro sustentado por Roma, para garantir os
tributos à senhora do mundo.
Os presidentes do Sinédrio eram Anás e Caifás, sendo que Anãs, o mais velho, era sogro
de Caifás. A palavra final, entretanto, era sempre do procurador Pôncio Pilatos, homem
autoritário e violento que já havia mandado crucificar 2 mil homens que haviam se
revoltado contra Roma. Era assim que a senhora do mundo controlava seus domínios:
impostos e pena de morte.
Pilatos podia destituir os chefes dos sacerdotes e o rei da Galiléia, Herodes era líder do
partido dos herodianos. Já o Sinédrio era composto pelos saduceus e ainda havia o
grupo dos fariseus. Interesses de Roma e das elites governantes andavam de acordo, e
muitos exploravam os trabalhadores rurais, com impostos: tributos para o templo,
tributos para Herodes, tributos para Roma! Mulheres, pobres e doentes eram proscritos
naquela sociedade de opressão.
Para isso, o grupo dos zelotes fazia atentados e revoltas, na tentativa de levantar o povo
à revolução e unificar Israel como no tempo do rei Davi. Esperavam um novo Davi, em
meio ao calor do deserto e à violência da opressão.
Este é o cenário desta fantástica história! Pagar impostos a Roma e às elites, respeitar as
500 leis de Moisés, viver sob a sandália romana e o dedo dos sacerdotes. Até que um
dia, na Galiléia, surgiu um homem... João!
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- A CENA CONVERTE PARA PARTE BAIXA DO PALCO, ONDE UM RIO É
VISTO. ENTRA JOÃO E FALA O POVO.
JOÃO – Eu sou a voz que clama no deserto! Arrependam-se de seus pecados e Deus os
perdoará. Isso aconteceu como o profeta Isaías tinha escrito no seu Livro. Alguém está
gritando no deserto! preparem o caminho do Senhor. Abram estradas retas para ele!
Todos os vales serão aterrados e os montes serão aplainados! As estradas tortas ficarão
retas e os caminhos com altos e baixos ficarão planos. E toda a humanidade verá a
salvação que Deus dá. Raça de cobras venenosas! Quem disse que vocês escaparão do
terrível castigo que Deus vai mandar? Façam coisas que mostrem que vocês se
arrependeram. E não comecem a dizer entre vós mesmos – Abraão é nosso antepassado,
porque eu afirmo que até dessas pedras Deus pode fazer descendentes de Abraão! O
machado já está pronto para cortar as árvores pela raiz. Toda árvore que não dá bons
frutos, será cortada e jogada no forno.
JOÃO – Quem tiver duas túnicas deve dar uma a quem não tem e quem tiver comida
deve repartir com quem não come.
HOMEM I – E eu?
JOÃO – Tu, publicano, cobrador de impostos! Não cobre mais do que a lei manda!
JOÃO – Não tome à força o dinheiro de ninguém, nem por meio de falsas acusações. E
fique contente com o ordenado que recebe.
JOÃO - Eu batizo vocês com água, mas chegará alguém mais importante do que eu e
ele os batizará com um espírito santo. Com a pá que tem em sua mão, separará o trigo
da palha e ajuntará o trigo no seu celeiro, mas queimará a palha no fogo que nunca se
acaba!
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HOMEM DO MANTO – Ele ficava lá, sozinho no deserto, comendo gafanhotos e
batizando que o procurava. Criticava duramente Herodes e os herodianos. Até que num
outro dia, aconteceu...
JESUS – João!
JOÃO – Eu que preciso ser batizado por você e você é que vem a mim?
JESUS – Por enquanto deixe como está, porque assim faremos o que Deus quer...
JOÃO – Herodes, rei da Galileia, se veste de ricas roupas, presta sacrifício no templo e
come a Páscoa. Ofendeu a Deus, casando-se com a mulher do seu próprio irmão!
Adultério! Ele se senta á mesa com satanás, comendo e bebendo com o que conseguiu
arrancar dos pobres, ofendendo o nome do Senhor! Mas o dia da vingança está próximo
e o machado vai cortar a árvore que dá mau fruto, pela raiz...
HOMEM DO MANTO – E aquele homem, chamado Jesus, foi então para o deserto. Lá
ia ele, lentamente, até sumir no horizonte. Nunca pude imaginar o que foi fazer por lá...
SATANÁS – Jesus, se você é mesmo o filho de Deus, mande que esta pedra vire pão e
mate a sua fome...
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JESUS LEVANTA-SE E ENCARA SATANÁS.
JESUS – As escrituras sagradas afirmam: Não só de pão vive o homem, mas de toda a
palavra que sai da boca de Deus...
SATANÁS – Se você é o filho de Deus, jogue-se daqui para baixo, porque as escrituras
sagradas afirmam que seu pai mandará seus anjos para cuidarem de você e vão segurá-
lo com suas mãos, para que nem os pés você machuque nas pedras...
JESUS – As escrituras sagradas afirmam: Não colocarás à prova o senhor teu Deus...
SATANÁS – Olhe Jesus... Eu lhe darei todo este poder e riqueza, pois tudo isto me foi
dado e eu posso dar a quem eu quiser. Isto tudo será seu, se você se ajoelhar diante de
mim e me adorar...
JESUS – As escrituras sagradas afirmam: Adore somente o Senhor teu Deus e sirva
somente a ele!
EXPULSA SATANÁS.
MANTO VERMELHO – Depois que voltou, começou a realizar uma série de prodígios
inacreditáveis... Eu mesmo o vi mesmo curar um leproso...
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MULHER II – Cuidado Senhor! Ele tem lepra.
JESUS – Calem-se!!!
LEPROSO – Mestre... Eu sei que se o senhor quiser pode me curar! Cure-me mestre,
pois não suporto mais...
JESUS – Então, homem: fique limpo! Estás livre de suas feridas. Vá ao Sacerdote para
que sejas examinado e ofereça o sacrifício da lei.
DISCÍPULO II – Mas mestre, estamos seguros aqui e agora queres voltar para onde
quiseram apedrejá-lo?
JESUS – Apenas disse a eles quem sou, pois quem anda na luz não tropeça, mas quem
anda nas trevas, sim. Vamos para Betânia. Lázaro está doente e irá morrer. Para que
Deus seja glorificado... Lázaro está dormindo e eu vou acordá-lo...
JESUS – Lázaro morreu. Estou contente de não ter estado lá com ele, porque assim
vocês vão acreditar. Vamos agora mesmo lá. Eu quero vê-lo...
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HOMEM DO MANTO – E assim foi. Partiu em direção a Judéia, rumo à Betânia.
Tinha em mente um propósito único: realizar mais um de seus milagres, afim de que
todos acreditassem que era ela, o filho do Deus vivo.
MARTA – Mestre... Se o senhor estivesse aqui, meu irmão não teria morrido, mas sei
que mesmo assim, Deus dará tudo o que o senhor pedir.
HOMEM DO MANTO – Eles o levaram. Chegando lá, pediu para que retirassem a
pedra. O homem estava morto já fazia quatro dias. Que cheiro terrível! Uma mulher ao
meu lado vomitou e todos recuaram. Então, ele aproximou-se e chorou... Chorou e
depois ergueu o braço como se fosse dar um golpe de espada. De repente gritou:
Lázaro! Vem para fora! Foram os instantes mais angustiantes que já vivi. Pensei: este
homem é mais doido que aquele João Batista! Todos olhavam fixos para o túmulo...
Uns choravam... Outros balançavam negativamente a cabeça. Então, Lázaro apareceu
coberto com as faixas. O mau cheiro sumira e ele mandou que as retirassem e lhe
dessem de comer. Não dormi naquela noite...
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HOMEM II- Mestre é certo curar no sábado?
JESUS- Se a sua vaca está atolada em dia de sábado, não vai você porventura trabalhar
para salvá-la?
HOMEM DO MANTO - Tive que rir da cara dos sacerdotes. Pareceu-me que para ele,
eram aqueles pobres, pecadores e mulheres, os mais importantes... Até mais que as suas
próprias leis. O povo quis até fazer dele rei. Acho que um plano daqueles zelotes
malditos. Só... Que ele não quis! Mas eles não queriam, como disse aquele João, um dia
da vingança e um vingador? Nunca me esquecerei daquele dia em que os sacerdotes
vieram a ele. Que batalha de inteligência!
SACERDOTE – Mestre, sabemos que aquilo que senhor fala é certo e sabemos também
que não julga os outros pela aparência, mas ensina a verdade sobre a vontade de Deus
para o homem. Diga-nos: é ou não é certo pagar impostos a Roma?
HOMEM DO MANTO – Serpentes esses sacerdotes. Se Jesus dissesse sim, diriam que
era aliado de Roma e se dissesse não, que se insurgia contra ela. Pensei: dessa, ele não
sai...
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SACERDOTES SAEM ENVERGONHADOS. OS SOLDADOS ROMANOS
RETIRAM-SE IMPASSÍVEIS. JESUS SENTA-SE E VOLTA A SE ALIMENTAR. O
HOMEM DO MANTO, AINDA AO LADO.
HOMEM DO MANTO – Quase aplaudi! Era realmente difícil pegá-lo! Mas bem que
tentaram. Contava histórias para crianças e para todo o povo. Nunca o vi tratar ninguém
com desrespeito... Crianças, velhos, doentes, prostitutas, samaritanos, estrangeiros,
soldados romanos. Mas nem sempre era aquela mansidão toda... Lembro que expulsou
os comerciantes do templo, que extorquiam as pessoas nos preços. Gritava que não
queria mais sacrifícios e chegou a dizer que iria destruir o templo e em três dias o
reconstruiria.
O homem era um gigante de forte e não apareceu ninguém para pará-lo. Divertia-se com
as crianças e jogava bola com elas... Uma hora, enfurecido, outra hora, um crianção, em
outra, um doutor da Lei. Andando pela Palestina, muita gente o seguia: mulheres que
encontravam nele uma fonte de carinho, prostitutas, adúlteras, pecadores, estavam
sempre com ele e os outros.
JESUS – Aquele de vocês que nunca cometeu pecado, pode atirar a primeira pedra nesta
mulher.
JESUS – Mulher, onde estão eles? Não ficou ninguém para condenar você?
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A MULHER BEIJA-LHE AS MÃOS E SAI DE CENA. JESUS ACOMPANHA SUA
SAIDA COM O OLHE E EM SEGUIDA SAI TAMBÉM. O HOMEM DO MANTO
VEM PARA O CENTRO DA CENA.
HOMEM DO MANTO – Ele fazia sempre prodígios. Curou muitos de doenças, que os
sacerdotes diziam ser demônios e que tinham que purificar, pois as doenças vinham dos
seus pecados. Mas, estranho, ele foi contra tudo isto, pois disse... Disse... “Este homem
não é cego por causa dos pecados dele ou de seus pais!”
Também matou a fome de muitos com pães e peixes. Até comi um pedaço e confesso
que estava mesmo com fome naquele dia. Seguir esse homem cansava... Ele não parava
de andar! Engraçado... Que me recordo nunca o vi cobrar dinheiro nenhum pelas coisas
que fazia. O seu grupo de seguidores sempre aparecia com alguma comida, mas é certo
que por vezes passou fome, pois colhiam restos de espigas das plantações dos
lavradores.
Mas mesmo assim , esse homem era perigoso, pois poderia vir a inspirar uma revolta
contra Roma... Não quis ser rei, mas, se conversava com todos, devia ter contado com
os zelotes... Este homem era um perigo... Um perigo para Roma. Tão perigoso que
entrou em Jerusalém quase com a mesma pompa de um general em triunfo.
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HOMEM II – De que forma você quer entregar o Galileu?
JUDAS - No dia da festa da Páscoa, após a ceia, ele vai ao jardim das Oliveiras rezar.
Lá vocês chegarão e eu lhes indicarei com um beijo quem vocês deverão prender.
JUDAS – O plano não terá falhas! Mas para tal, desejo receber 30 moedas de prata.
SOLDADO I – Aclamado... Entre eles é certo que havia zelotes, mas seus dias estão
contados e do seu líder Jesus, também. Vá homem e não comente nada a ninguém sobre
nosso plano. Não falhe e será bem recompensado.
HOMEM DO MANTO – Judas achava que entregando Jesus poderia provocar a revolta
do povo e causar a derrota de Roma. Mas não foi bem isso que aconteceu... Lembro-me
da ceia que fez com seus discípulos, em comemoração á sua Páscoa. Foi ali que percebi
o que estava para acontecer...
JESUS – Amigos, tenho muito desejado comer este jantar da Páscoa com vocês antes do
meu sofrimento, pois nunca mais comerei este jantar até que ele se torne realidade no
reino de Deus.
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JESUS OLHA DIRETAMENTE PARA JUDAS.
JESUS – Mas para que isto se cumpra, o Filho do Homem deve ser traído e entregue às
forças das trevas. Este é o momento de Satanás. Um traidor está aqui, sentado entre nós,
à mesa.
JESUS – Pai, é chegada a hora. Glorifica teu filho, para que teu filho te glorifique.
Assim como tu me deste poder sobre todos os homens, a fim de que eu dê a vida eterna
a todos aqueles que tu me deste. A vida eterna, porém, consiste em que eles conheçam a
ti como um só e verdadeiro Deus, e a Jesus Cristo, que tu, Pai, enviaste. Eu te
glorifiquei sobre a terra. Eu acabei a obra que tu me encarregaste de fazer. Tu, pois,
agora, Pai, glorifica-me em ti com aquela glória que eu tive junto de ti, mesmo antes
que houvesse mundo. Pai, se é do teu agrado, afasta de mim este cálice! Não se faça,
contudo, a minha vontade, mas sim, a tua.
JESUS – Acalmem-se todos!!! Por acaso não vou beber o cálice que meu pai tem
preparado para mim? Façam o que vieram fazer.
HOMEM DO MANTO - Estava terminada minha missão, cuja última tarefa foi entregar
a Judas o saco com as trinta moedas de prata... O pagamento pela sua traição. Naquele
momento, um gosto amargo invadiu a minha boca...
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UM SOLDADO ENTRA SEGURANDO JESUS PELO BRAÇO. O HOMEM DO
MANTO CRUZA A CENA E O AJUDA CONDUZIR JESUS. INCIA-SE O
JULGAMENTO.
HOMEM DO MANTO – Caifás, chefe dos sacerdotes, eis Jesus, o Galileu, como
combinado...
TESTEMUNHA I – Ele não respeita o sábado, o dia mais sagrado da nossa religião,
pois até mesmo ordenou que os seus seguidores arrancassem espigas de trigo nesse dia.
Ele não obedece a nossa lei!
TESTEMUNHA III – Permita-me que também testemunhe, senhor. Este homem diz
que perdoa pecados!
TESTEMUNHA IV – Eu ouvi este homem afirmar que pode, se quiser, destruir este
templo e em três dias o reconstruí-lo!
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CAIFÁS DIRIGE-SE A JESUS.
CAIFÁS – Você não se arrepende destas acusações? Em nome do Deus vivo eu exijo
que você me responda: Você é o messias, filho de Deus?
JESUS– Sim, eu sou! E vocês verão o filho do homem sentado á direita do deus todo
poderoso, descendo com as nuvens do céu!
CAIFÁS – Blasfemou!
SACERDOTE II- Não há o que se discutir. Blasfêmia!!! Deve ser condenado a morte.
HOMEM DO MANTO – Mas esta é tua recompensa. O que você fez, já está feito!
JUDAS – Que fiz? Enviei o mestre para a morte certa... Ele, que tanto me amou...
HOMEM DO MANTO – Cumpriste a tua missão! Pega tuas trinta moedas e vai... Não
pode fazer mais nada!
HOMEM DO MANTO – O povo? Você pensou mesmo que o povo se levantaria para
enfrentar o poder de Roma? Se esqueceu dos dois mil que Pilatos mandou crucificar?
Você está louco, homem... Agora pega teu dinheiro sujo e vai!
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HOMEM DO MANTO - Cumpri a missão que foi dada e deixei aquele homem lá, só,
com seus remorsos. Soube tempos depois que se enforcara, tamanho era sua culpa e
arrependimento.
PILATOS – Que tenho eu com suas loucuras? Já tenho que suportar este calor e este fim
de mundo, longe de Roma... Levem-no e julguem-no de acordo com suas leis!
CAIFÁS – Este homem vive espalhando a subversão entre nosso povo. Ele diz para que
não se paguem impostos ao Imperador e o povo diz que ele é rei!
PILATOS HESITA.
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PILATOS – Tragam ele aqui!
PILATOS – Então, você é Jesus, a quem os sacerdotes dizem ser rei... Você é o rei dos
judeus?
JESUS – Esta pergunta vem de você mesmo ou foram outros que dissertam isto a
respeito de mim?
JESUS – Se eu falei errado, me corrija, mas se falei certo, por que você está me
batendo?
PILATOS (EXPLOSIVO) – Você pensa que sou judeu? Foi sua própria gente que veio
entregá-lo a mim! O que é que você fez?
JESUS – O meu reino não é deste mundo. Se o fosse, os meus lutariam para eu não ser
entregue a você.
JESUS – Você é quem está dizendo. Foi para falar a verdade que eu vim ao mundo e
quem crê na verdade ouve a minha voz.
DEPOIS AUTORITÁRIO.
PILATOS – Tragam-no!
CAIFÁS – Ele está incitando o povo à revolta. Começou na Galiléia e agora chegou
aqui!
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CAIFÁS – Já fizemos isto!
PILATOS IMPACIENTA-SE.
PILATOS – Tragam este (IRONIA) “rei dos judeus”. Vou falar com os sacerdotes.
SOLDADO I – Vamos antes fazer honras ao rei dos judeus!! Você! Traze a coroa! E
você (PARA O HOMEM DO MANTO) me dá teu manto!
HOMEM DO MANTO – Não vou sujar meu manto com o sangue de um justo!
PILATOS – Judeus! Eis o seu rei! Já lhe fiz perguntas e não encontrei nada contra ele!
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PILATOS – Querem que eu mande crucificar o seu rei?
PILATOS – Tragam minhas lavandas! (UM SERVO TRAZ). Não vou sujar minhas
mãos com o sangue deste justo, mas se assim querem, levem-no e crucifiquem-no.
HOMEM DO MANTO – O Percurso que aquele homem fez, levando sobre seus
ombros o peso de todos os pecados do mundo, só foi possível porque ele era, em
verdade, o filho de Deus. Eu segui toda jornada. Presenciei todas as humilhações, todos
os maus tratos, todas as covardias. Mas também pude ver a piedade de alguns, a
solidariedade de outros e o sofrimento daqueles que já o reconheciam como o salvador.
Nunca três cravos e um martelo foram tão pesados. Até hoje sinto em minhas mãos o
cheiro de metal enferrujado.
JESUS – Mãe!
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MAIS UM POUCO E AS CARPIDEIRAS O ENCONTRAM. JESUS PARA, SE
DIRIGE AS MULHERES QUE CHORAM E FALA.
JESUS – Mulheres, não chorem por mim, mas por vós mesmas! O dia virá em que se
dirá: Felizes são as estéreis, que não geraram, feliz o peito que não amamenta. Aí então
dirão aos montes: Caí sobre nós e cobri-nos, porque se crucificam um inocente, que
farão aos pecadores?
HOMEM DO MANTO – Ver aquele homem ali, despido de toda sua dignidade,
humilhado, violentado física e moralmente, tendo plena consciência de sua inocência,
me causou feridas que até hoje trago comigo. Não queria ter que fazer o que fiz, mas se
me negasse, poderia ser morto ali mesmo, ao seu lado.
SOLDADO I - Já chega!
JESUS – Eli! Eli! Lama Sabactáni. Pai, pai, por que me abandonaste?
JESUS DÁ UM GRITO.
JESUS – Tudo está consumado! Pai! Em tuas mãos entrego meu espírito!
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JESUS MORRE. OS TROVÕES AUMENTAM. O POVO SE ASSUSTA. HÁ
GRITARIA E TULMULTO. O HOMEM DO MANTO SE APROXIMA DA BOCA
DE CENA E GRITA PARA A PLATEIA.
HOMEM DO MANTO – E esta é minha história e pelo meu pecado, fui condenado a
vagar eternamente contando-a para quem passa e fica para ouvi-la. Ainda posso ouvir o
som da marreta sobre os cravos, os gritos... Não sei como pude aguentar... Contemplar
aquele homem ser crucificado. Quantos outros crucifiquei... O sepultaram foi em cova
emprestada. Soube que ressuscitou e subiu à Gloria dos Céus... Se algum de vocês o
conhece, avise-o que estou aqui, esperando para pedir o meu perdão e me livrar deste
suplício eterno.
FIM
20
PERSONAGENS
1- HOMEM DO MANTO
2- JOÃO BATISTA
3- JESUS
4- SOLDADO I
5- SOLDADO II
6- SATANÁS
7- MULHER I
8- TESTEMUNHA I
9- MULHER II
10- HOMEM I
11- TESTEMUNHA II
12- HOMEM II
13- TESTEMUNHA III
14- LEPROSO
15- DISCIPULO I
16- DISCIPULO II
17- MARTA IRMÃ DE LAZARO
18- MARIA IRMÃ DE LAZARO
19- SACERTOTE I
20- SACERDOTE II
21- JUDAS ESCARIOTE
22- CAIFÁS
23- PILATOS
24- MARIA MÃE DE JESUS
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