Você está na página 1de 2

O PEDIATRA

Adaptação livre do conto


de Nelson Rodrigues
Por Pablito Torres

- Numa sala de repartição pública, três amigos trabalham e um está ao telefone.

MENESES - Topou! Ela topou!


MEIRELES - Batata?
MENESES - Batatíssima.
ROBERTO - Vale? Justifica?
MENESES - Se vale? Se Justifica? Ô rapaz! È a melhor mulher do rio de Janeiro! Casada,
e te digo mais: séria pra chuchu.
JOAQUIM - Série e trai o marido?
MENESES - Gosta de mim, entende? De mais a mais, escuta: o marido é uma fera! O
marido é uma besta!
MEIRELES - Você dá sorte com mulher! Como você nunca vi... Você tem uma estrela
miserável.
MENESES – Agora só falta arrumar um lugar para levar a dona. Vocês sabem, né? Tenho
que impressionar a mulher.
ROBERTO – Leva num motel daqueles de luxo.
MENESES – Você tá louco! Mulher séria, recatada. Se eu sugerir levá-la para um motel
ela pode pensar que eu só quero sexo com ela e acabar pulando fora.
JOAQUIM – Ora bolas! Mas não é só sexo o que você quer com ela?
MENESES – É sim, mas ela não precisa ficar sabendo disso. Além do mais, é casada. Eu
tenho que ir com calma se não acabo assustando.
JOAQUIM – Você conhece o marido dela?
MENESES – Só sei que é um pediatra. Dizem que é um médico muito sério e respeitado.
ROBERTO – E não te dá um peso na consciência estar corneando o pobre enquanto ele
fica lá, cuidando das criancinhas.
MENESES – As vocês até que fico com isso na cabeça. Mas vocês sabem, né? É uma
mulher e tanto! Roberto, você precisa me emprestar seu apartamento.
ROBERTO – Tá maluco? Minha mãe mora lá também. Pode tirar essa idéia da cabeça.
MENESES – É por uma boa causa. Além do mais, você é o único solteiro... Não tem essa
coisa de mulher em casa o dia todo.
ROBERTO – E minha mãe? Não fica em casa o dia todo não?
MENESES – Sua mãe... você dá um jeito dela passar uma tarde fora.
MEIRELES – É isso aí Roberto! Você não pode deixar de colaborar. Afinal, somos ou não
somos amigos.
ROBERTO – Você fala isso porque não é sua casa. Não é sua mãe.
MENESES – Rapaz, se você conhecesse a mulher iria entender o porque da minha
dedicação. A mulher á um espetáculo. Um poço de virtude. Só está saindo comigo porque o
marido dela é um banana. E vocês sabem... Os bananas sempre dançam.
JOAQUIM – To achando você interessado demais nessa mulher.
MENESES – Vou confessar uma coisa a vocês. Eu estou na cola dela a algum tempo.
Encantei-me pela mulher. Acho até que seria capaz de ter algo mais sério com ela, se ela
topasse deixar o marido dela.
MEIRELES – Nossa! Então o caso é sério mesmo? Você está apaixonado pela tal.
MENESES – Estou de quatro! Também, uma mulher como ela não se acha por ai dando
sopa.
ROBERTO – Tudo bem! Como tem sentimento envolvido nisso aí, vou quebrar seu galho.
Liga pra ela e marque o encontro na minha casa que eu dou um jeito de minha mãe passar a
tarde fora.
MENESES – Obrigado, meu amigo! Obrigado!

- Meneses pega o telefone e faz a ligação.


MENESES – Alô! Sou eu, o Meneses. Já arrumei um lugarzinho ótimo para nos
encontrarmos. É um apartamentinho sensacional na Barata Ribeiro, esquina com a
Atlântica. Vamos fazer o seguinte: eu vou primeiro, por volta das duas horas e você chega
uma hora depois. É no n° 321, apartamento 204. Vou deixar a porta aberta, encostada. Você
vai entrando. Tudo bem! Estarei te esperando. Um beijo.

- Meneses desliga o telefone e mal consegue falar de emoção. Abraça os amigos,


um por um. Todos saem de cena. O ambiente que antes era a repartição
pública, agora é a sala do apartamento. Meneses ansioso anda de um lado para
o outro.

MENESES – Calma Meneses, calma!

- Algum tempo depois, ela chega.

MULHER – Oi! Desculpe o atraso.


MENESES – Eu já estava ansioso. Achei que você não viesse.
MULHER – Demorei porque meu Marido se atrasou.
MENESES – Como assim, seu marido se atrasou?
MULHER – Foi ele quem me trouxe.
MENESES – O que? Então seu marido...
MULHER – Está lá em baixo me esperando. Eu não posso demorar muito. Melhor a gente
ir direto ao assunto.
MENESES – Não é possível! Não pode ser! Ou é piada sua?
MULHER – Meu marido sabe sim. Vai desabotoa logo a sua calça.
MENESES – Quer dizer que...

- A mulher desabotoando sua blusa, estende a mão a fala.

MULHER – Quinhentos reais.


MENESES – Não! Assim eu não quero. Melhor a gente desistir.
MULHER – Desistir! Nem pensar. São Quinhentos reais. É quanto meu marido cobra.
Meu marido é quem trata os preços. Quinhentos reais.

- Meneses, fora de si, deixa a mulher plantada no centro da sala e sai gritando.

MENESES – Prostituta! Prostituta! Prostituta! FIM.

Você também pode gostar