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5 Andreza - Família Garcia - Manuele Cruz
5 Andreza - Família Garcia - Manuele Cruz
Manuele Cruz
Copyright © 2020 Manuele Cruz
1° Edição – 2020
Era sempre sobre ser herdeira, nunca sobre ser a Andreza, sobre
seu jeito, sobre amor e amizade verdadeira.
Mas Andreza não quer nada com Lucas, pelo menos, é o que ela
quer acreditar.
comando, e a garota que ele magoou, e que engravidou. Não deveria ser
nessa ordem, realmente, não a amou naquela época. Porém, há um clichê
verdadeiro: Só damos valor quando perdemos.
Mas Lucas não pode aceitar que perdeu Andreza. Ele ama Andreza,
Agora é o início para todos. Lucas não deixará essa chance escapar.
Não pode perder a garota mais verdadeira que conheceu na vida. Lucas
sabe que a ama, e espera que não tenha perdido o amor de Andreza.
Sumário
Nota da autora
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
(1) Nacho
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
(2) Nacho
(3) Nacho
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
(4) Calle Veintitrés
Capítulo 21
Capítulo 22
(5) Calle Veintitrés
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Epílogo
Família Garcia – Livro 6
Prólogo
Duologia ''Entre as grades '' – livro 1
Prólogo
Capítulo 1
Livros da série ''Família Garcia''
Contatos da autora
Alguns livros da autora
Nota da autora
É necessário ler:
O nosso filho!
— Falsificado.
— Ah, claro, pegue seu filho e faça outro exame de DNA. Ah, é
mesmo! Fazer pra que? Dar positivo novamente?
— É a verdade.
barulheira e começa a chorar, tento pega-lo nos braços de Lucas, mas ele
aproveita minha aproximação para me abraçar, eu o empurro e viro de
costas, meu choro se misturando ao de Henrique. — Foi uma armação, não
traí você e ela falsificou os exames. Ela voltou a San José e eu preciso ir
atrás dela.
— O Junior...
quer a nossa presença, quer a nossa volta para poder liberar Grézia e o
bebê. O filho não é meu, Andreza, mas é um bebê. Um bebê que minha
mãe e tia fizeram o teatro para ser meu, a mãe dele está morta. Sandro
matou. Você sabe muito bem como tudo isso é um jogo. O filho não é
meu, mas eu preciso salva-lo, como preciso salvar Grézia.
Eu não quero ser egoísta, não quero, não quero, não quero!
Eu não sou egoísta!
— Porque queria.
— Você sabe que eu e Chino somos mais procurados até que o meu
próprio pai...
Mas essa sou eu tentando apenas viver uma vida normal. Sendo
filha de um chefe de gangue e mãe de um herdeiro de outra gangue.
Eu quero acreditar que Lucas não me traiu, o que ele fala tem um
fundo de verdade, no entanto, é sempre todos da sua vida, não eu! É o seu
pai, o seu tio, seus amigos, Grézia... Sim, eles vieram muito antes de mim,
mas estou aqui! Estou aqui e ele não se importa comigo de modo algum.
Coloco meio litro de café em meu enorme copo, que ganhei após
comprar dez hambúrgueres, e vou para a sala, equilibrando meu filho nos
meus braços, o prato em uma mão... Me irrito, preciso fazer duas viagens
para levar tudo.
Ele finalmente larga meu peito e começa a rir. Limpo toda a baba e
o leite vazado, coloco minha roupa no lugar e tento comer sem que ele
— Para?
— Mari falou comigo, ela disse que Nacho ficou irritado, pois falta
gente na caravana, então ele acha que Anthony não confia nele. Então,
vamos a San José.
— Nem eu quero, mas se tem que ir, vamos! O navio sairá daqui a
duas horas.
Rick fica com Lizandra enquanto vou arrumando minhas tralhas, que são
poucas. Pego meu celular e leio as mensagens irritadas do meu pai.
— Não é expira?
— Eu piorar? Aquele cara ali fará isso por mim. — aponta para
frente, e ali está ele, Lucas Noriega. O meu antigo amor, quer dizer, vai
virar antigo, lutarei para virar antigo. — Confrontar ou esnobar?
— Fazer de conta que não ligo. Sem barraco, sem amor, apenas
educação.
e como sim, eu adoraria estar ali com eles, sermos uma família.
— Andreza...
Traidora babaca!
modo. — Estamos indo para San José, como deve saber, eu vim de lá.
Tenho pessoas que podem ser da minha confiança, um grupo apenas meu.
Eu não tinha como falar com eles antes, porque não poderia passar a
fronteira.
acesso a uma gangue e voltar ao poder. Você volta para San José para ter
tudo de volta, não apenas para lutar e nos ajudar. Você quer uma gangue,
quer aquilo que te pertence. E eu continuo sendo a herdeira. Eu não sei se
posso e se um dia acreditarei.
— Eu mereço, mas...
mordo meu lábio para não chorar. — É que eu desabafava com você, eu
era idiota com você, eu fazia piadas toscas. Imagina o quanto você não ria
de mim pelas costas? ''Olha só, que garota idiota, ela acha mesmo que
gosto disso?''.
Lucas não diz nada, fica apenas com essa cara de cachorro que caiu
da mudança.
Parece arrependido. Arrependido demais para arrumar uma
desculpa, ele sabe bem como errou.
Ele abre a boca para falar, mas não espero para escutar. Só vou até
Lizandra, que está com os braços abertos na entrada do navio a minha
espera.
Flacidez, tanta coisa, ele sabe como odeio tentar emagrecer e nunca
conseguir nada, só emagreci mais após amamentar Rick, mas antes eu
chorava, dizia tudo o que sentia... Lucas falava que sou linda.
Ele saía com lindas garotas, como pude me iludir tanto nisso?
LUCAS
homem. Eu acho que você tem muito mais da sua mãe do que eu imaginei.
— Por que, Lucas? Por que enganar uma garota assim? Eu falaria
''Por que enganar uma garota como Andreza?'', mas ninguém merece ser
enganado assim. Andreza tinha brilho nos olhos ao te ver, eu falava disso
com você, eu dizia que era uma boa menina. Eu mandei você se afastar. E
olhe para mim enquanto eu falo! — ele grita, nem quando eu era criança
ele gritou desse modo. Olho para meu pai. — Eu disse, se não quiser nada
sério, se afaste, não iluda ninguém, não magoe. E você a engana, por que,
Lucas?
nossas mãos. Você é acostumado a mordomia, usou uma garota para entrar
na família rica dela. Eu tenho vergonha de tudo o que fez, Lucas. Eu vim
de baixo, eu era um ninguém, e voltei a ser, mas você nunca me viu
enganando alguém por dinheiro.
— Eu não enganei...
— Mas?
— Sim, mas foi sem querer, não por dinheiro, não pensei nisso. Eu
a enganei apenas em questão de... — respiro fundo. — Eu dizia o que ela
queria escutar. Andreza se colocava para baixo, eu não ligava, só queria
que ela parasse de falar. A elogiava para ela sorrir e parar de chorar. Eu
dizia o que ela queria escutar, era sincero, porém, eu falava sem me
para ficar. Eu estava estressado, mas éramos amigos, ela falava demais,
aquilo me irritava e eu dizia o que faria se sentir bem. E quando melhorei
eu queria sair daquele local lotado de tristeza, Mari, Jade, Lya, Samuel, um
povo pra baixo. Eu queria espairecer, eu sabia que Andreza não sairia
comigo, e se saísse e começasse a desabafar? Eu preferia sair sozinho.
ela. Não sei o que é pior, usar a garota para ter dinheiro, ou não ligar para
os sentimentos dela, usa-la para ficar bem de saúde e depois descarta-la.
— E sabe que a traição, com outra mulher, nem dói tanto, o que
mais dói nela, foi se abrir com você, confiar tudo, e você nunca ter ligado
verdadeiramente.
— Eu não direi que sou inocente, não sou mesmo, longe disso. Não
sou coitado, mereço tudo o que passo. Porém, eu mudei. Eu mudei e sei
que Andreza continua me amando. Um ano e meio depois e ela me ama.
Agora eu acho que podemos dar certo.
Eu me comparava a ela.
parar de comer e eu só pensava: Então doa seu dinheiro, faz uma plástica,
Como eu me odeio!
Como odeio ter sido esse tipo de ser humano que acha que a dor
dele é maior que a dos outros.
Eu olhava para minha vida, perdi tudo, casa, dinheiro, minha mãe
quer me matar, minha tia também... Eu queria o amor da minha mãe e ela
me odeia. Eu perdi pra caralho, e Andreza tinha tudo e reclamava.
Não era reclamação, ela confiava em mim para desabafar, aos meus
ouvidos era uma conversa de menina mimada. Quando ela dizia que era
feia, eu pensava que era apenas para escutar um elogio. Mas não, ela tem
baixo autoestima, e eu considerava frescura.
Eu amo Andreza.
Hoje, depois de ver tanta gente sofrendo ao meu lado, por coisas
grandes ou pequenas, eu vejo o quanto fui egoísta.
Não tenho direito algum de pedir uma chance, talvez por isso eu
me cale quando Andreza me acusa, ela tem razão.
Mesmo assim eu amo, depois de tanta merda feita, eu sei que amo
Andreza.
Capítulo 2
ANDREZA
Sempre tive medos, uns mais fortes que outros, mas ser do Distrito
sempre foi o pior de todos. Ter aquela certeza que corria riscos, que minha
vida vale muito para inúmeras pessoas. Então, sair até do meu bairro
sozinha era motivo de pânico.
Lembro que desenvolvi seios em uma idade muito precoce, aos dez anos já
tinha um volume em mim, pequeno, mas em relação as outras meninas, eu
tinha algo acontecendo ali.
Eu não era gorda, essa era a verdade, as outras meninas que eram
muito magras, tanto que os médicos nunca falaram algo sobre essa
questão, até meu colesterol é bem tranquilo, coração também,
absolutamente tudo saudável. Mas as pessoas sempre me fizeram acreditar
no contrário disso.
interesse mesmo.
real mesmo, sou comum. Nem gostosona, nem gorda, nem modelo. Apenas
comum.
Compulsão alimentar.
mais gorda e com o braço gordo também. Ele odiava me ver naquele
estado, calor de trinta e seis graus e eu como uma muçulmana da Arábia
Saudita, porque até cobri minhas pernas com uma toalha.
Aí, a primeira vez que fico com alguém, que tenho coragem, que
mostro meu corpo, mostro tudo, era uma mentira, como sempre.
Menino rico, popular, cara e jeito de bad boy, a malícia urbana que
sempre disse que tinha... Imagina as meninas que ele ficava? Todas
como... Lizandra.
diferente lá.
Lucas é um escroto, mas não para levar uma surra do meu pai ou
morrer. Anthony Garcia jamais perdoará o que Lucas fez, e o cara é o pai
do meu filho, e sou adulta o suficiente para resolver meus problemas, não
preciso chamar meu pai para isso.
— Foi traição, não foi? Mesmo que diga que aquela criança...
— Marcelo!
sofredora?
— Estou de dieta.
— Obrigada.
— Eu sei que o que falarei não adiantará de nada, mas eu sou mais
afim de uma beleza natural do que algo fabricado. Claro, existe diversos
tipos de beleza natural, mas o padrão não me atrai. Até acho celulite algo
bonito.
— Fala sério!
— Claro que cuidarei dele, quem mais cuidaria tão bem de uma
Lucas...
— Eu já estava indo pegar Rick, acho que ficou muito tempo com
— Ok. Obrigada.
— Lucas...
— Andreza, eu nunca disse que não errei. Está certa, eu falo muito
sobre a traição que não cometi, porque disso eu sei que não fiz. E não me
defendo por te enganar porque enganei, mas não por dinheiro, nunca por
dinheiro.
— Eu não sabia o que era pior, te enganar por dinheiro ou por, sei
lá, nem eu sei o que fiz.
— Então explique.
sobre nada disso. Eu não enganei, não menti na nossa amizade. Você
sempre me fez rir, foi legal comigo, eu sempre gostei da sua companhia.
— E então?
Confessionário...
Ainda debocha da minha cara.
se tivesse falado isso na minha cara naquela época, teríamos evitado muita
coisa.
— Não era sobre dinheiro, era pena. — eu não sei se isso fez
alguma diferença. — Você tinha pena de mim.
Andreza. Olha onde nasci, olha quem são meus pais. Olha o mundo que fui
criado desde criança. E era por esse motivo que eu ficava com raiva dos
seus assuntos, por isso te considerava uma dramática por motivos fúteis.
Você sempre teve tudo na vida, e sofria por palavras, por um corpo que
achava feio.
qualquer outra coisa, só que o amo demais para ficar com raiva dele. —
Lucas continua, sua voz dura, contendo a raiva. — Minha mãe ficava
implantando ódio em mim, para que eu odiasse meu pai e tomasse tudo
dele, para que eu o matasse. Depois falava que eu deveria matar Mariana.
E, por fim, eu tentei matar minha própria mãe e não consegui prosseguir
com aquilo, me senti mal. Hoje em dia ela quer me matar, e sei que preciso
mata-la. Ela quer matar o próprio filho. Assim como meu padrinho, o cara
que considerava um segundo pai, o Sandro. Eu perdi tudo, pessoas,
dinheiro, casa, tudo. Rasparam minha conta, eu não tenho nada. Fui
— Por que nunca falou sobre isso? Por que nunca conversou?
me irritava ao extremo. Se coloca tão para baixo sendo que você é tão
perfeita, de todas as garotas, você sempre foi a melhor. Sempre deixando a
vida de lado para cuidar das pessoas, sempre abandonando tudo para
ajudar a família, mesmo com medo, nunca recusou nada, sempre com
palavras amigas, sempre ajudando as pessoas a melhorarem. Você nunca
percebeu que Anthony confia mais em você que em qualquer outra pessoa?
— nego. — Seu pai confia em você, ele não te usa, ele apenas sabe que
você é ótima em cuidar e proteger, mas você não percebe isso. E isso me
irritava, mas você é tão meiga, tão especial, que não queria te magoar
mandando você acordar para vida, então eu era suave nas minhas palavras.
— Não queria te magoar, mas magoei mesmo assim. Não dei valor
a você, ignorei todos os seus problemas e te usei. Não só para ter uma casa,
mas te usei para me confortar. Você era a pessoa que me fazia bem. E eu
sempre corri para você por causa disso, sabia que me faria sorrir, que me
faria feliz depois do caos. E eu ignorava seus problemas, para que pudesse
parar de reclamar e me fazer sorrir. Tudo o que falei naquela época era
real, eu não ligava para seus problemas, achava tudo uma frescura, mas as
minhas palavras boas para você foram reais, todas.
chorar em seus braços. E eu, como um herdeiro, como um cara que quer
pegar tudo de volta, não poderia fraquejar.
Mas na história da traição e gravidez, criada por minha própria mãe, você
notou que não era sincero em nada com você. E eu, no ódio que estava,
falei que não me importei com sua dor, que era interesse. Você entendeu
errado e sumiu da minha vida. Interpretou que era interesse financeiro. E
quando analisei as merdas que fiz, vi como fui completamente babaca.
Não foi por dinheiro. Mas ele me julgava como todos sempre me
julgaram, não foi diferente como pensei. Mas jurou pelo nosso filho que
suas palavras eram verdadeiras.
chance. Eu não quero seu dinheiro, Andreza, nunca quis. Mesmo quando
perdi tudo, não quis seu dinheiro. Apenas o conforto da sua companhia,
sem dramas. E aquela casa para ter onde ficar, e poder respirar fundo, ter
um pouco de paz. Não nego nada disso. Na época não pareceu nada de
mais, agora, vendo como você sempre foi incrível, e vendo e sabendo que
te amo, eu vejo como fui babaca. Na época gostava de você, hoje eu sei
que te amo.
novamente. Nossos risos não foram mentira, e nem menti quando falei que
gosto de você, eu não seria tão filho da puta para enganar seus
sentimentos. Não me importei com sua dor, mas não menti em dizer o
quanto você é maravilhosa. — ele pega minha mão. — E não menti, na
verdade, eu ainda acho que você é perfeita demais, que não te mereço, no
entanto, nos amamos, Andreza. É sincero dos dois lados, sei que precisa de
tempo, mas pense nisso. E me dê uma chance, só isso que te peço.
Capítulo 4
ANDREZA
Mas eu ainda preciso processar cada palavra dita por ele, cada
gesto, cada informação, cada sílaba. Eu preciso pensar em tudo o que ele
falou antes de qualquer decisão.
compara a ele, como me senti bem, segura, livre, leve... Como tive vontade
de me entregar por inteiro, o clássico ''de corpo e alma''. Um clichê, porém,
verdadeiro, pelo menos, da minha parte.
Talvez o erro tenha sido meu, ser uma bobona que fala o que sente.
— Tudo bem, vejo isso em você, percebo que foi sincero, mas é
que... — tomo uma longa respiração. — Eu preciso de um tempo.
— Não sei explicar. Foi sincero agora, tudo bem, mas eu continuo
sendo uma bobona dramática por futilidade.
— Não é futilidade.
própria vida. — agora eu sorrio com sinceridade para ele. — Eu não quero
ficar presa a palavras bonitas, a um ombro amigo, porque, no fim, é uma
forma de me deixar tranquila, de me darem apoio moral, não algo
verdadeiro. Eu ainda sou aquela pessoa que não confia tanto. Você fala que
não é futilidade, mas pensava assim, pode ser que tenha mudado, mas meu
consciente vive me boicotando e agora ele me diz que talvez não seja
sincero.
Fiz isso com meu filho, pedi ajuda nos primeiros meses, depois
mudei de casa, fui morar sozinha, precisava sentir que estava fazendo algo
por conta própria, que estava conseguindo. Todas as vezes que eu ia pra
chorar porque estava estressada com a vida, com o choro de Rick, com sua
cólica que não passava, seu choro sem motivo algum, eu lutava para ser
mais forte. Lutava para não correr até uma pessoa e pedir sua ajuda.
Mas eu não estou tão ''curada'' do que Lucas me fez. Não é rancor,
é apenas uma dorzinha, uma incerteza de até que ponto ele realmente me
entende. Se eu aceita-lo nesse momento, eu sentirei vontade de conversar,
de desabafar sobre a vida, mas aí não farei nada, vou travar, pois terei
receio do que ele me fala. Se ele é sincero, ou se não liga para meus
sentimentos. E eu não quero ter esse receio, e também não quero uma
relação onde prendo meus sentimentos por pura incerteza se ele se importa
ou não.
O fato é que esse problema pode parecer pouco para alguns, ''olha
só, ele não liga para os dramas dela'', mas esse é o problema. Demorou um
tempo para que eu mesma entendesse que nada disso é drama. Que
precisamos parar de julgar problemas, tristezas, irritação dos outros, como
drama.
Não tem nada disso de ''mas tem gente que está pior que você'',
sempre terá gente pior que você! Isso não tira o fato de podermos sofrer
por algo que para um pode parecer pequeno, para outra pessoa é um
problema gigantesco.
E saber que uma pessoa julgou do mesmo modo, me faz ter uma
tristeza, porque foi o Lucas! Aquele papo novamente de ''me despi e me
entreguei por completo a ele''. Há mágoa aqui dentro. E eu preciso crescer
mais um pouco, digo espiritualmente e psicologicamente, para poder ir em
frente com ele.
— Ok, entendi.
— Mas isso não muda o fato que podemos conversar. — falo para
uma compreensão, mas você sentiu pena de mim. E como também disse
''às vezes um sacode, um acorda pra vida, faz mais efeito que palavras
bonitas''. Você tinha medo de falar a verdade e me magoar, tudo por pena.
Então, vamos aos poucos. Talvez nem eu esteja fazendo algum sentido.
— Evita-los comigo.
— Olha, Lucas...
para assimilar tudo. Porque não é fácil pensar em tudo e ainda pensar nos
meus próprios problemas de gangue.
— Nem sempre evitar é bom, vai por mim. Agora que sou mãe que
resolvi pensar na minha própria vida, demorei tempo demais para isso.
— Quer fazer uma ''Lagoa Azul''? — faço uma careta para seu
sorrisinho. — Ei, eu disse ir com calma!
— Mas você me fez gostar disso, eu não assisto mais porque não
tem graça sem você.
— Vamos lá, Lucas, você precisa conversar sobre isso. Disse que
agora entende o que passo, que não é frescura, mas você também se julga,
está pensando em sua própria vida e deve achar fraqueza se lamentar tanto
por uma mãe que não te ama.
assim, ele fez coisas graves. Parece que você tem algo que manda matar
sua mãe, como se você devesse isso, como se fosse sua tarefa, e não é. Em
algum momento da sua vida você a amou como mãe, e ela deve ter dado
carinho a você em algum instante.
— Não mate sua mãe. Não te fará bem algum, será muito pior.
— Acha que poderia ter evitado muita coisa contando, mas quis
salvar alguém que não tem salvação. Agora você quer mata-la para reparar
algo que você acha um erro, que foi ajuda-la.
— O que você será depois daqui? — muda totalmente o assunto. —
Você é boa em escutar e falar com pessoas sobre sentimentos.
detesto ser dona de casa, então, sinceramente, não faço ideia do que fazer
com minha própria vida. Mas eu percebo como você muda de assunto
rapidamente.
— Porque ela é sua mãe, em algum momento da sua vida ela foi
boa e você lembra disso, e queria que fosse verdade. Queria que ela tivesse
salvação, uma mudança, mas parece que não tem. E não, repito, não
precisa mata-la!
— Eu vim aqui pedir seu perdão, falarmos sobre sua vida, eu dizer
que estou arrependido e tudo mais. Agora você traz o assunto para mim?
— Doeu?
cara que sempre me fez sentir bem... O único que sempre perdia tempo
com meus vídeos idiotas, memes... Ele mandava memes, já tivemos
discussão só com eles, Lucas entende a minha idiotice e participava ao
meu lado.
Foi real.
Ou não...
psicológico para voltar a uma relação com você, mas não posso negar que
você me faz bem. É diferente de irmãos e primos, me faz sorrir e sempre
me fez mudar de assunto. É como Lizandra também. Se fosse o contrário,
eu evitaria você, no entanto, não estou aqui para ficar brigando.
— Porque eu era escroto demais, sentia que não era sincero com
seus problemas. Como teria uma relação se eu era um merda julgando seus
problemas?
— Em breve beijos.
— Em breve eu dormirei...
— Posso acompanhar...
Ah, eu não deveria ser tão boazinha, mas eu gosto do cara, pelo
menos na amizade eu senti sinceridade, sem o julgamento dele da minha
dor. Eu sei bem que é difícil de me compreender, e ninguém é obrigado a
me compreender.
É pedir demais.
— Não, não serei pai. E não, não terei algo com Lizandra. —
— Quase dois anos já. — respiro fundo. — Por mais que aquela
dor não seja mais tão forte, que já falamos dele sem chorar, ainda dá muita
saudade.
— Apesar de todas as ameaças que ele fazia contra mim, acho que
nos dávamos bem. — Lizandra sorri. — Na fazenda ele riu quando eu
tentei seduzi-lo escovando os dentes. Acho que ele tinha reparado que eu
não o queria de verdade, parou de ficar tão irritado comigo.
eu meio que me apaixonei. Só que ele não queria nada comigo. Acontece
que eu sempre provocava e a reação dele, em me ignorar, me fazia pensar
que ele era o correto para mim. Não sei explicar, mas a sua recusa me fez
pensar nele ser diferente. No fim, eu gostava quando Miguel me tratava
daquele jeito, me fazia sorrir, era uma distração para a minha vida de
merda. Mari me odiava, Katya era mais apegada a Mari e por culpa minha,
Monique não me suportava. Miguel me tratava mal, mas nem tanto. No
fundo era mais engraçado que humilhante. Pelo menos na minha cabeça.
completo. Não quero perdoar e ficar sempre pensando ''Ele diz a verdade
mesmo? Ele se importa?''.
vocês foi tão clara que até na fazenda meu pai falou sobre isso, e disse que
poderia não dar certo por causa de Sandro, na época nem sabíamos como
ele era. Agora vocês têm filho, mas parecem dois estranhos. Não consigo
entender.
descobri sobre seus sentimentos falsos por mim. Quer dizer, seu
sentimento falso sobre minha dor, ele nunca se importou.
Lucas disse que não havia falado a real história do interesse por não
ter mais autoestima. Eu preciso ser forte, acreditar nisso por conta própria,
sem precisar que os outros fiquem me dizendo isso. Eu preciso ter mais
pensamentos bons. Se eu não fosse tão depreciativa, eu acho que teria sido
mais verdadeiro com Lucas.
qualquer coisa.
tanto que trabalhamos com isso. Por que transar de graça sendo que
podemos cobrar por tal coisa?
— Nem um...
— Pelo menos esse assunto idiota serviu para que a bonita voltasse
a sorrir. — Lizandra continua vermelha de vergonha. — De nada por ser
sua diversão.
Nunca procurei por San José no Google Maps, para ver o local por
satélite. E a realidade me surpreende.
Carro, carroça, bicicleta, moto, tuk-tuk... Tudo isso junto. Indo e vindo na
contra mão, pessoas andando no meio da rua e não respeitando
sinalizações, buzinas, ônibus se jogando na frente dos carros.
diversificado.
Eu observo esse local apenas para tirar a angustia, para não pensar
muito no que pode acontecer quando Lucas encontrar o Nacho...
Engulo em seco.
Passamos por essa barreira e adentramos em um bairro
relativamente tranquilo, se não fosse esses jipes que mais parecem tanques
matou, era meu sonho esfolar a puta da Monique. Ela fodeu minha vida.
costas.
Homens armados até os dentes, não sei qual o milagre dele não ter
um tanque de guerra aqui. Provavelmente não achou onde comprar.
cair nas ameaças de Nacho. — Você ainda precisa de muito para ter
alguma coisa, então, não banque o poderoso, sabemos que não é bem
assim que a banda está tocando no momento.
— Possessivo o garoto.
— Estamos de acordo?
Nacho está lutando para não nos matar nesse momento, mas como
disse, ele precisa de Anthony, isso significa que ele vai nos manter vivos.
ele conseguisse tocar em Mari. E ela era filha dele naquela época, por isso
acho que você não vai me matar, Nacho. Você sabe que te fiz um favor,
um grande favor. O cara mataria a filha, imagina se não mataria um irmão
que tinha tudo para ser mais idolatrado que ele?
matar importava mais que crescer. Ainda o amo, mas tenho prioridades no
momento. Vingar a morte dele me parece menos valioso que o nosso novo
acordo, e o fato de você não lamentar o feito, não me irrita. O que irrita
mais é o fato de Sandro subir usando todo mundo.
não sou. Somos pessoas ruins, que sabem disso, mas sabem o momento e
com quem distribuir o ódio e a violência. Eu acho que somos iguais, El
Doctorado. E Anthony é um cara somente de poder. Anthony é inteligente,
poderoso, ardiloso, mas não é movido por ódio, não mais. Ele cresceu
muito porque tinha território para isso, e conseguiu um império, e hoje ele
é mais poderoso que qualquer um de nós. E por isso estão aqui, na minha
casa. Eu não posso deixar um homem, uma família como os Garcias, em
meu território, para que cresçam, que consigam algo em minhas costas. Por
esse motivo, ficarão aqui, minha certeza que não serei atacado, como
minha família foi. Se estiverem aqui, Anthony terá cautela.
comigo.
culpado de tudo é Sandro. Eu perdi minha família toda, o único que restou
me odeia um pouco e por minha culpa mesmo. A outra que restou,
Francine, também me odeia e a culpa é minha. Mas todos que me amavam
de verdade foram mortos por culpa de vocês, direta ou indiretamente. E me
irrita saber que só causei desgraça na vida de vocês quando fiz de tudo
para separar Mariana do El Doctorado, e quando Otavio levou Safira para
matar Camila, que nem foi eu quem mandou matar, e no fim acabou sendo
algo útil. Eu não estou sendo um idiota, um fraco, por causa de Anthony, e
sim pela única pessoa que me restou e que, talvez, ainda queira algum
contato comigo. — ele olha para Andreza novamente. — Fiquem a
vontade aí.
— Até que momento esse cara vai continuar desse modo? — Chino
finalmente fala algo. — Parece um cara perdido mesmo, que quer se
redimir com esse alguém que restou na sua vida, mas pode ser um cara que
se aproveitará de todos nós para matarmos Sandro, depois ele vai nos
matar.
encontrar uma pessoa que ama, ao mesmo tempo, quer dar orgulho a
alguém. — olha para mim. — Para que essa pessoa não acabe como ele.
Capítulo 7
ANDREZA
— Hum... — murmuro.
isso eu seria o maior puxa saco do seu pai, e praticamente nem nos falamos
muito. A única pessoa importante da família é você e Rick, ninguém mais.
Quantas vezes terei que falar isso?
— Te amo.
— Ele daria um belo sugar daddy. — provoco, vendo como ele fica
vermelho de raiva. — E ele olha muito para mim, me senti poderosa. Dois
caras, com malícia urbana, olhando pra mim.
Lucas ataca a minha boca. Quer dizer, ele me beija, mas é tão duro,
tão de repente, que me pega desprevenida.
Eu o empurro, bato no seu peito, tento não retribuir, ser mais forte
que ele... É, eu retribuo o beijo.
Mas não consigo empurra-lo quando sinto sua falta, quando seu
beijo me faz ter a mesma paixão, o mesmo pensamento de antes.
— Vá a merda...
— Agora que sabe que Nacho não vai te matar no momento, fica
cheio de gracinha.
— Nem tanto por ele, e sim porque eu sinto que ainda me ama, que
posso tentar. E sinto que estou, realmente, mudando. Sinto-me melhor
— Você parecia um aspirador de pó, sugou todo meu ar, por isso
estou ofegante.
— Respeita teu filho que está bem ali. — aponto para a cadeirinha.
— E saia de perto de mim.
— Rick se importa mais com o chocalho dele que com a mãe dele
com tesão.
— Você é um babaca!
— Que você ama pra caralho!
— Depois desse beijo acha que acreditarei nisso? — ele ri, pegado
Rick no colo. — Vamos lá, filhão, vamos deixar a mamãe tomar um
fôlego.
Babaca!
Idiota!
babaria nele. Eu, por outro lado, amo meu boy urbano, faz meu tipo. —
Você tem algum problema mental?
— Uma pessoa havia falado isso comigo, dizendo que é uma guerra
sem sentido, que eu deveria parar, pegar minha família e viver longe de
tudo isso. Eu nunca a escutei, e ela estava certa. Fui atingido nessa guerra,
mas não morri, mataram minha família. E você lembra a minha filha, sorte
sua por isso.
iluminava meu dia, eu sempre a procurava quando meu outro filho discutia
comigo. Ele sempre jogou na minha cara o quanto eu sou um monstro que
não merece o amor de ninguém. Enquanto Alina dizia que eu poderia
mudar de algum jeito, ela sempre me abraçava e tinha esperança que eu
— Você nos aceita pela Alina, não é? Pela Alina e por esse outro
filho que sempre te acusou.
prosseguir o meu plano de te fazer algum mal. Até o jeito como seu olhar
suaviza para me olhar. Não deveria me encarar assim, deveria ter medo, ou
ódio, não um olhar de compaixão.
— Você quis ser como o Guille, foi pressionado a ser como seu
irmão...
escutar.
— Sabe que posso dizer isso ao meu pai. — entrego a caneca para
ele, que dá o primeiro sorriso sincero que vi em sua face.
estranho, não?
— Não. — sua voz sai bem fraca. — Se está vivo, merece uma
chance.
— Estou bem. Ainda não sei e nem consigo engolir. — sua voz
embolada me faz ter mais raiva. — Consegui dar dois passos hoje.
— Daqui a pouco estará correndo por aí. — beijo sua mão. — Eles
vão pagar por tudo o que fizeram.
— Pai...
Alina, a filha mais diferente que tive na vida. E não, não parece em
nada com Andreza.
Meu plano era dar uma ''boa estadia'' aquela gente. Deixar claro
quem manda ali. Mas não consegui prosseguir com Andreza e aquele bebê.
Apesar dela não parecer com minha filha, Andreza tem o mesmo olhar
suave e a voz calma, o mesmo olhar que uma hora é decidido, depois é
piedoso, e ela me escutou...
— Eu cresci, pai.
Ela sorri.
Eu tenho dois filhos bons, dos cinco que tive, apenas dois são bons.
Na verdade, de todos os parentes que tive, apenas eles são bons, e
Francine... No entanto, eu sei que não sou para Francine, ela merece
alguém melhor. Vejo sua forma de viver agora, seu sorriso, sua alegria...
Nunca tivemos isso. Foi casamento arranjado por Otavio que aceitei
porque... Sei lá porque, apenas aceitei, gostei dela. Sofri por achar que
Francine tinha morrido, mas ela nunca sentiu algo por mim.
outro. Agora meus outros filhos? Cada um por si. Eles amavam o fato de
saber que Arman não queria os negócios, e que Alina era quieta demais
para fazer algo contra eles ou tomar a herança.
Claro que sofri pelos meus filhos, mas eles, assim como eu, tinham
a ideia de ''mais cedo ou mais tarde morrerei, e morrerei pelos negócios''.
Meus tios, primos... Também se foram, mas como os outros da família,
eram como eu.
Alina me faz me sentir tão bem que ela tem vinte e dois anos de
idade, corpo de mulher, está debilitada, mesmo assim não sente medo por
eu dar banho nela. Ela não tem qualquer receio de estar comigo.
Passei anos da minha vida sendo visto até como estuprador, sendo
que nunca fiz algo do tipo. Culpa minha, nunca me preocupei em mostrar
inocência em algo.
Pego uma roupa e a ajudo a vestir a roupa. — Não faz nada contra eles.
— Eles podem ser verdadeiros. — sua voz quase não sai, é como se
ela falasse de boca fechada.
— Mais que tudo, Alina, sabe disso. Mas eles deixaram você
assim. Você ficou em coma por meses, não anda, quase não falava, seu
rosto estava paralisado e ainda está fazendo tratamento, talvez nunca ande
novamente...
— Eu sou ruim.
— Porque o negócio dos seus parentes eram assim, mas agora são
seus e pode mudar.
descer. — Pai, eu disse que se eu ficasse ao seu lado, uma hora ou outra
seríamos atingidos. Assumi o risco, mesmo que eu não tenha feito nada.
Essa é a vida. Você mandou matar Camila...
— Guille te fez ser isso. Pela milésima vez, apenas pare de ficar
criando guerra apenas para mostrar quem manda.
Alina chora, caída no chão. Vou correndo até ela, chorando em vê-
la em uma situação tão impotente, tão diferente da menina cheia de vida
que tive há quase dois anos.
isso. Você fez pior com outras famílias. — ela tenta me empurrar, mas eu a
seguro apertado. — Não faça outra guerra, pai. Não há indícios que seja
mentira do Distrito, eles querem vingança, mas eles estão tentando te
ajudar também...
— Preciso ir, Alina. Não posso deixar que descubram sobre uma
— Sandro.
Ela sorri.
Eu sou o Nacho, comando uma boa parte de San José, não posso
deixar que um bando de riquinhos metidos a bandidos se aproveitem de
mim. Eles vão se aproveitar, é sempre assim. Não posso acreditar na
— Eu sei, mas também sou um pai que procurou Mariana por anos.
Eu reconheço outro pai, e aquele ali é um pai sem grandes esperanças, que
já perdeu muito na vida. — ele para, parecendo que pensa em algo. — O
que é estranho ter compaixão por Nacho, deveríamos estar nos matando
nesse momento.
— É, e por isso eu acho uma burrice parar com planos contra ele.
— agora que me acalmo mais, meu pai solta o meu braço. — Muita
calmaria nunca soou de maneira correta, ainda mais estando no mesmo teto
com Nacho.
consideração que ele precisa mais do que todos nós. Quer dizer, nós dois,
Yazid e Chino estamos precisando mais que o próprio Nacho, no entanto,
faz de conta que ainda temos algo a mais que ele.
deixar todo esse assunto para trás apenas para derrotar Sandro.
— Temos que torcer para que ele entenda que Sandro é o real
culpado. — meu pai aperta meu ombro. — E, de qualquer maneira, a
família dele morreria em algum momento. É a vida que levamos, nem
todos chegarão a velhice.
— E você, veja se faz algo certo agora. — olho para meu pai. — É
uma boa garota, não merecia nada disso que um moleque fez.
— Falar não basta. Olhe tudo o que fiz por você e Mariana.
— Andreza não quer nem que eu fique a dois passos dela. Parece
que nos daremos bem, logo após ela praticamente me expulsa de perto
dela.
— Correr atrás de quem ama nunca será uma fraqueza. Entendo
bem a nossa vida, nada de amor, nada de ensinamentos sobre sentimentos,
choro é frescura, ''seja forte'', ''não chore como uma mulherzinha''. Mas, às
vezes, precisamos chorar, nem que seja sozinho. Eu lembro quando
encontrei Mariana, tentei passar a pose de homem forte, macho alfa, mas
acabei chorando, depois disso eu jurei que não faria mais nada daquilo,
atrás da mulher que ama, mas se ela demonstrar que quer, não vejo
motivos para não tentar.
— Até parece que viveu muito o amor para passar por tanta coisa
assim.
irrita. — Não é uma boa ideia brincar de fazer ciúme usando o Nacho.
Merecido!
— Eu não serei usada, porque a única pessoa que me usou foi você,
Lucas. E eu deixei por amor, porque fui cega. Ninguém além de você me
usou.
— Não sei, Lucas. Eu acho que exijo demais sua sensatez, você
não foi criado para isso, ao mesmo tempo eu vejo que você ainda não é
sincero em tudo.
sobre o assunto.
talvez meus próprios parceiros queiram me matar agora. Ela matou a mãe
da criança e a colocou para morar em um presídio com Grézia. Dê uma
solução melhor que mata-la.
— A responsabilidade é minha.
— Mas nem sempre foi assim, e essa parte da sua vida onde ela não
foi ruim, faz com que você não consiga pensar em mata-la. E falar sobre
esse assunto te faz parecer fraco. É engraçado, eu reclamava tanto da
minha vida para você e você odiava. Você não quer reclamar, mas eu
persisto em querer te escutar e cuidar de você.
que tristeza, medo, não são frescuras. — segura a minha mão. — Fale,
como seremos felizes se esconde sentimentos? Se não pode desabafar
comigo?
Por mais que pareça uma idiotice, eu não fui criado para ser tão
emotivo, para ficar falando o que sinto... Os ensinamentos foram para
matar, traficar, ser um líder impiedoso...
verdade. Então essa minha namorada era o tipo que apenas ficava calada, e
quando eu falava algo, ela sempre concordava. Então não, nunca tive a
experiência de desabafar com alguém. Eu e Chino somos iguais, então
nada de desabafar, meu pai já tinha preocupações demais e não queria
atrapalha-lo, Yazid sempre ocupado fazendo negócios, então só restava...
— Sua mãe.
— Chantagista.
— E porque me ama.
ANDREZA
vão em quem der mais vantagens, uma hora a Doce, depois a Veintitrés, e
assim vão vivendo.
Entro no fraldário junto com Lizandra, que entrou para retocar sua
maquiagem no espelho.
Abaixo-me para procurar a fralda e o lenço umedecido na bolsa.
sou eu, na versão loira e de óculos escuros, pele um tanto mais clara pela
falta de sol...
— Eu ainda estou tonta, não entendo nada, mas ok. — olho para
Lizandra, tão espantada quanto eu. — É, seremos as informantes do que
quer que seja esse assunto.
Uma tia que estava morta para todos nós, quer dizer, menos para
os mais importantes do Distrito...
fale disso com seu pai, em breve trago mais informações para vocês, ok?
— Ok.
— E fale com Denise também, diga que sinto muito por tudo, mas
se ela soubesse que eu estava viva naquele dia, o plano não seria tão
convincente como deve ser.
José, e se ele viesse para cá, não teria tanta gente importante do Distrito na
Candelária. Forjar mortes nos deixaram invisíveis tanto na Candelária,
quanto aqui. Eles têm pessoas para passarem por todos esses lados. —
segura a minha mão bem apertado. — Eles pensaram que recuamos da
Candelária, Anthony deu a entender isso, mas ele jamais perderia, jamais
deixaria tudo de mãos beijadas. Família Garcia e Juarez tem fome de
poder, não tem medo da guerra, mas ainda vão colocar seus familiares em
locais seguros. Porém, nunca recuam. E agora, agindo desse modo,
conseguimos ver cada passo sem desconfiarem, em breve derrubaremos
um por um. Pra começar, seu namorado precisará derrubar a mãe e a tia,
pegar o grupo dele de volta. Se Lucas reconquistar a confiança de uma
parte da Veintitrés, tenha certeza, Andreza, uma boa parte dos nossos
(...)
— Vocês só me dão netos brancos! — meu pai fala, enquanto fecha
o macacão de Rick, e enquanto ele tenta retirar o pacote de lenço
— Olha quem fala, o homem que casou com a loira dos olhos
azuis.
contraste, meu pai é enorme, deve ter quase dois metros de altura, e é
musculoso, nada exagerado, mas tem músculos; com seu neto pequeno e
fofo. É engraçado quando eu lembro o meu pai chegando para me buscar
no colégio, acho que nunca pensaram que meu pai fosse tão diferente de
mim.
sobre Lucas. Sua mãe queria vir no meu lugar, mas ela é muito delicada
para isso e quero ser direto com a realidade.
Eu tive que chamar meu pai para vir até aqui, porque Nacho não
confia em minhas saídas. Ele acha que tramarei um plano contra ele, para
mata-lo, então, conversas serão feitas aqui dentro. O que é horrível, por
que, como falarei de tia Helena viva, se essa casa pode ter escutas?
Suspiro.
— Ei!
— Obrigada.
— Não, não vou ficar falando das suas qualidades porque você
parece odiar todas elas ou não acredita em mim. Sua mãe conversou
comigo.
— Dona Tina sempre grita quando quer ser escutada, depois ela
fala firme. Minha mãe gritou sim, aposto!
— Ela nem é louca de gritar comigo. Quer dizer, louca ela é...
Eu lembro essas histórias. Ela rica, meu pai pobre, quer dizer, era
visto como pobre por ter vindo da favela, mas o pai dele já estava no
tráfico, logo, ele estava ganhando dinheiro.
ela estava lá, na porta do colégio mais caro da Candelária, batendo em uma
colega por causa de futebol.
— Eu amo isso, cara! — meu pai até faz uma carranca para minha
animação. — Ah, qual foi? É engraçado que vocês não aceitam grito dos
outros, mas a mulher fala mais alto e vocês aceitam.
— E pra que eu vou gritar? Pra sua mãe me ignorar por uma
semana?
— Quem manda não querer escutar? Aí ela grita para ser escutada.
Quer saber? No fundo vocês são todos iguais! Nunca escutam as mulheres,
só quando o assunto é de negócio. Vocês são surdos para várias coisas que
contamos.
— Mari o impediu, sim, ela falou que se Pedro contasse, ela falaria
com Rene para quebrar a cara dele. Pedro disse que recuou por respeito a
Mari, não por medo do sogro.
— Pai...
estiveram ao meu lado, quer dizer, quando foram crescendo vieram de vez
para o meu lado. Você não. Por ser minha única filha, tratei como uma
princesinha. Não queria mima-la para não virar uma patricinha
insuportável, mas eu coloquei uma superproteção em cima de você. Os
garotos sempre foram protegidos, mas eu os obriguei a serem fortes,
obriguei tanto que Júlio passou por toda aquela barra, e não contou porque
tinha que ser forte a todo momento.
Eu sei que meu pai se culpa sobre Júlio. Colocou uma carga
ambulante.
Sim, ele tem razão. Sempre que tentei fazer algo sozinha, alguém
aparecia para fazer por mim. Por isso quis sair de perto deles quando tive
Rick, quis crescer sozinha, mas sempre preciso voltar para eles, para o
Distrito...
súbita de assunto.
pegasse meu lugar, se um dia ele pegasse, eu lutaria contra ele, mesmo
tendo dinheiro para viver sem o Distrito, pela honra, eu lutaria para ter
meu lugar de volta. E Lucas é obstinado, quer o dele, quer justiça por tudo
o que ele fez para aquela gente e como foi enganado e quase morto. Então
não, não é pelo Distrito.
Fico feliz por isso. Eu já acreditava que Lucas não me queria pelo
Distrito, mas escutar isso da boca do meu pai, torna ainda mais verdadeiro.
— A única coisa que restou foi o fato de Lucas não ter ligado para
aquilo que ele chama de drama, mas, agora, também entendo o lado dele.
sempre precisamos deixar isso de lado. Aposto que tem pessoas que olham
para Júlio e pensam ''Por que ele pensa tanto em uma ex que não o fez
bem?'', mas só ele sabe o que passou. Mas é isso, não fomos ensinados a
falar de tristezas, a abrir a boca para falarmos de algo sentimental. Então,
talvez o seu problema com peso, aparência, seja visto como frescura para
um cara que terá que fazer a própria mãe sofrer.
— Você também pensa isso de Lucas? Que ele tem essa questão,
mas prefere ficar calado?
— São anos nesse negócio, eu via que Júlio não estava bem, mas
nunca entendi o motivo, pensei que era sobre todas as namoradas que
nunca deram certo, jamais imaginei que era aquela história. Mas sabendo
desde sempre a história de Lucas, a história do Chino, sei que ambos
de fazer alguém sofrer como você sofreu, só vale para quem te magoou de
maneira extrema, ou nem isso, diria que serve para alguém que te causou
muito, mas muito mal mesmo, tipo um inimigo. Mas um amor? Uma
pessoa que você ama? — nega com a cabeça. — Todos erram, eu errei
com você, você já deve ter errado com outro alguém. Por que
menosprezar? Para fazer o outro sofrer? Você se sente bem com isso? —
não respondo. — Lucas não menosprezou a sua dor porque ele quis, ele
tinha questões dele, que deve considerar mais fortes que a sua, no entanto,
ele até hoje não fala das questões dele, Lucas não foi ensinado a falar de
entende, passar por cima dos sentimentos bons que tem em seu coração.
Distrito, trabalhando conosco, sem saber que era mais que um soldado
armado? Lucas não faz tudo isso por ele. Ele não é um impulsivo junto a
Chino por sua causa e de Rick. A raiva deles é tão grande que jamais
pensariam neles mesmos. Lucas pensa na família que quer ter ao seu lado,
e Chino pensa na família do amigo. Então, pense nisso, o rancor é tão
grande que não pode enxergar que Lucas sofre tanto quanto você, e que te
ama? Ele pode morrer a qualquer momento, qualquer um pode, na verdade,
mas ele tem um alvo na cabeça, vai ficar esse tempo todo nessa de ''se
rasteje'' apenas para fazê-lo sofrer?
— Você é mais que isso, muito mais. Nunca percebeu quão foda
você é. Você sempre é chamada para ficar com pessoas que precisam de
segurança. Você foi chamada para estar com Mariana na fazenda, você
que já resolvia o problema. Você sabe os locais que temos para fugir, os
— Mas sempre achou que era uma babá. Sua autoestima é baixa e
nunca percebeu que é muito mais que uma babá. E como você sempre agiu
corretamente, na minha cabeça, você entendia o que acontecia. Você passa
recados, hoje mesmo passou um importante, porque até aquela pessoa
confia no seu potencial de saber falar. — ele se refere a tia Helena. —
Nem mesmo Denise foi escolhida para isso. Você não é vista como
''princesinha do Distrito'' só por ser minha filha, e sim porque você faz
parte do assunto, do seu jeito calmo, parecendo uma garotinha, você faz
bem o seu papel. Não é sobre fragilidade, é como você é diferente dos
outros membros.
Talvez tenha procurado demais seu local no mundo, e não tenha percebido
que você já tem um local, o Distrito é o seu lugar. — meu coração acelera
cada vez mais. — Você é respeitada e acatam suas ordens, você é um
membro do Distrito. Pra falar a verdade, você é a única mulher de grande
importância e influência do Distrito.
Capítulo 10
ANDREZA
— Achei que fosse agrado comum, sei lá, não trabalho. Cê também
— Por falar nisso, que bom que Cauã está se saindo bem. Eu creio
que o tiro na cabeça de Marcelo fez com que ele ficasse mais idiota, Pedro
é besta e Júlio não quer o Distrito...
— Eu não creio que Júlio vai sair do Distrito, assim como Álvaro
não sairá dos negócios.
— Sim, acredito. Penso que não serão líderes, mas acredito que
continuarão ligados ao assunto, não tão participativos, mas sair de vez? —
nega, balançando a cabeça. — Não mesmo! Eles cresceram com isso,
aprenderam os negócios, mesmo que não comandem algo, eles continuarão
fazendo parte do assunto. Agora mesmo, estamos aqui, tem mais gente
conosco, eles ficam quietos? Não, estão na ativa. O problema está no fato
deles não terem vivido normalmente, eles querem ter essa oportunidade de
família, no entanto...
— Sem pressão, Deza. Não quero que acredite que é seu lugar
apenas porque falei, mas é só pensar bem. Fez de tudo por todos nós,
abdicou de vários momentos da sua vida, correu perigo e nunca fez
oposição a isso. Você procura uma vocação, uma ocupação e nunca acha a
resposta, já no Distrito sempre fez sem pensar. Então, apenas pense nisso,
sem pressão.
— É por isso que não se preocupa tanto comigo aqui dentro, não é?
— Lucas.
— Pai! — grito.
— Minha neta e outras que estão por vir! — fala mais alto e eu
quero rir porque só minha mãe o deixava calado, agora Jade também o
deixou. — Cunhada, sobrinhas, é, somente para a família mesmo. De resto,
estou nem aí.
— Apenas com quem me importa, você tem com todos, por isso
você é foda.
— Te amo, cara!
— E ainda serei mais ativo que você e todos os seus irmãos juntos.
(...)
— Tem tempo que não nos falamos. — sento ao lado de Chino, que
está de cabeça baixa enquanto come alguma mistura de tudo o que tinha na
— Tipo isso. Lucas sempre foi muito ''vida louca'', estar com uma
garota tão calma e legal me surpreende sempre!
— Mas vamos falar de você. — mudo de assunto, pois sei que aqui
a minha frente está mais um cara que se nega a falar de
sentimentos. Sempre, homens sempre querendo pagar de macho alfa,
mesmo quando tem motivos para sofrer. — Esses homens são muito duros
na queda, não é? Nunca demonstre sentimentos, eles dizem.
— Em que página?
— E qual o primeiro?
— Proteger a família, que, nesse caso, seria a sua própria gangue.
— Sente mal por ter que matar sua própria família. — não é uma
— Saber que meu pai fez isso com a família de sangue dele me faz
pensar que vivi uma farsa, do início ao fim. Ele nunca me amou, Grézia
nunca foi sua favorita, ele nunca sofreu pela morte dos meus irmãos, ele
nunca quis libertar o povo. Sempre foi sobre poder, sempre sobre ele ter
tudo e todos aos seus pés. Isso me faz repensar em tudo e ver como amei
uma pessoa que nunca pensou em mim. Eu não queria pensar tanto nisso.
— O meu mal tem que ser, literalmente, cortado pela raiz. Mas é
— Se precisar conversar...
— De nada, cunhado.
— Pode ser que ele queira algum dos meus irmãos, tem dois
solteiros ainda. — provoco-o, virando-me para ele e para um Rick todo
sujo de morango. Chino já foi embora. — Você não sabe deixar o próprio
filho limpo, não é?
— Você que mandou lutar por você. Antes era ''ninguém solta a
mão de ninguém'', agora é ''você que lute''. Isso me magoa, Andreza.
Andreza.
— Olha só, nosso filho também não gosta do jeito que me trata,
que considera meu amor um puxa-saquismo. Quer que eu ajoelhe aos seus
pés e beije cada um deles?
— Acho uma boa ideia. — e ele tenta me entregar Rick para poder
se ajoelhar. — Ei, é uma brincadeira! Não precisa se ajoelhar não.
— Como assim?
— Mas passar vinte anos virgem é fácil, passar um ano e meio sem
sexo sabendo como ele é bom, são outros quinhentos.
— Para de falar disso com nosso filho no colo!
vai falar de negócios perigosos com o seu papai. — Rick pega a mão suja
de morango e praticamente empurra o rosto de Lucas para longe. — Ei,
garoto!
Lucas vai todo animadinho a minha frente. Eu até sorrio para sua
alegria.
— Eu ainda fico surpreso dele saber ser pai. Por uns dias fiquei
com pena de você, Andreza, Lucas não cuidava dele mesmo, quanto mais
de uma criança.
— Mas, Andreza, ele é um cara com ótimo coração. Ele ama você e
Rick, e isso eu notei desde o dia que ele te salvou do óleo fervendo, e
quando ele contou do seu hamburgão, sabia que ele tinha encontrado a
alma gêmea.
Nada vai acontecer entre eu e Jamile. E não, obrigado, não quero pensar
em amor tão cedo.
— Bela desculpa para que eu cuide do seu filho. Rene e Yazid nem
estão aqui para me defender das suas ordens.
— Eu ficaria feliz em saber que fez tudo isso para que pudesse
gemer sem ser escutada. — bato em seu braço novamente. — Mas sei que
é apenas barulho para falar sem que Nacho te escute.
Assim que citei ''mãe'', todo ar divertido que havia em Lucas se foi.
Agora ele está bastante sério, nada a ver com o Lucas brincalhão de antes.
— Que?
— É, também não entendi, mas foi essa pessoa quem contou. Dará
mais detalhes em breve, mas pediu para te avisar, para pensar em um modo
de ir até lá e conseguir seu grupo novamente. Lucas, se conseguir uma
parte da Veintitrés ao seu lado, Sandro vai perder muito. Você era de
confiança, de importância, não era?
nome. — Meu pai falou sobre ela mais cedo, sobre, talvez, Grézia estar um
presídio comandado por Katleen.
quer me matar. Grézia está sofrendo por causa do próprio pai. Coloquei
minha vida em risco várias vezes, durante anos, por aquele cara, e, no fim,
ele não é nada daquilo. E tem pessoas que continuam o enxergando como
esse homem bonzinho, salvador da pátria. Não posso deixar que Sandro
continue sendo visto desse modo, que sua ideologia continue cegando as
pessoas. Não é só por mim. Álvaro continua nessa luta porque é desse
jeito. Não podemos deixar que mais pessoas caiam nessa. O modo que
preciso agir é arriscado mesmo, porém, é o único jeito de acabar com isso.
— Um dia esquecerei que amei essa gente, que fomos uma família.
— beija a minha testa. — Rick é minha família agora, e meu sonho é que
você seja também, pelo menos em meu pensamento você já é minha
esposa. Te amo.
— Você não falou seis vezes hoje.
Ele é um cara tão legal, nem tão babaca que me faz revirar os olhos
com suas brincadeiras, nem tão sério que me faça revirar os olhos com
tanta formalidade.
Sua mão desce do meu rosto para minha cintura, depois para minha
bunda.
ficando bem de frente para ele. Com apenas uma mão ele me apoia, com a
outra ele tira as mechas do meu cabelo que ficaram grudadas no meu rosto
após me molhar no chuveiro.
— Me dará uma chance? Você acredita que tudo o que fiz não foi
sobre enganar você? Nunca quis te magoar. Fui escroto por minimizar seus
problemas, colocar os meus a frente, mas eu nunca te enganei com aquelas
palavras para te fazer bem. Por isso eu falava daquele modo. Você se acha
feia, mas é a mulher mais linda de todas, porque esse sorrisinho, essa
covinha em sua bochecha. — toca o local. — Deixa tudo ainda mais lindo.
Seu corpo é perfeito, estava morrendo de saudade de tê-lo novamente.
Tantos outros choros que você tinha, e eu só pensava ''Caralho, por que ela
chora? Ela é tão perfeita, tem tudo, é maravilhosa, por que sofre tanto?''.
Na real, você sempre foi perfeita demais para mim. E eu te amo, Andreza,
amo muito mesmo. Eu jamais insistira tanto em alguém se não fosse real...
de Nacho chamando por ele. — Ele escutou, aqui tem escutas. Certeza, e
veio nos atrapalhar.
— Não exagera, acho que separar casal não está nos planos de
Nacho.
— Como odeio essa merda. — ele rosna, depois olha para mim
com raiva, depois Lucas. — A porra do mundo se acabando e vocês
transando embaixo do meu chuveiro?
Nacho.
— Foi sim, ela te colocou tanto no seu lugar que você precisou
apertar o braço da cadeira para não explodir em fúria. — Arman olha para
mim, depois Lucas. — Falei com ela hoje, porém, ela só aceita falar de
negócios com Nacho.
— E eu, como dependo desse povo, tive que me calar para ouvir
uma fedelha que brinca de ser gangster!
Eu acho que Arman ama provocar o pai, não sei se por maldade ou
porque acha engraçado ver que Nacho é como um cara normal, que parece
Agora eu, Lucas e Arman rimos e Nacho fica com mais ódio.
para atiçar ainda mais. — Riam agora, mas eu ainda sou o Nacho que mata
pessoas.
— E eu não vejo a hora dessa porra terminar para poder voltar a ser
o Nacho de sempre.
Às vezes penso que Nacho se esforça para ser cruel, às vezes penso
que ele é cruel, mas não quer ser assim conosco e força para ser; às vezes
penso que sim, ele vai nos matar na primeira oportunidade.
Mas Nacho apenas faz um aceno com a cabeça e sai pelo corredor.
olho para trás, vendo que Nacho está aqui. — Ontem mesmo tinha TV
ligada no seu quarto, uma altura que nem meu avô surdo utilizava...
— Dom Nacho tem que pagar por tudo isso? Pensei que era só
— Não pago por nada disso, tudo cortesia por ser um bem feitor
para meu país. — quero rir da forma orgulhosa como diz isso, mas me
contenho. — Entretanto, eu quero fazer vocês pagarem. Sua criança come
— Toma! — olho para baixo, para a mão de Nacho com uma maçã.
— Claro que está vivo, mas nem para todo mundo. — paro de dar a
maçã para Rick quando ele estica as mãozinhas e pede pelo mamão. —
Você apenas...
— Ei, me respeita!
— Você nem come, o resto desse rebanho que come sem parar.
Nacho faz uma careta, um misto de ''garota esquisita'', com ''o que
esse ser está falando?''.
— Eu não sei por que eu deveria ser simpático com as pessoas que
mataram minha família.
Respiro fundo.
Pego Rick e o coloco em meu colo, para poder dar o mamão a ele e
ainda poder ficar cara a cara com Nacho.
Nacho, entendo o jeito como nos trata, e sei que sua mente está uma
confusão. — Que minha família assassinou a sua, agora tem que nos
abrigar.
— Sim, está certo. Você nunca fez algo de ruim contra a nossa
família ou a gangue, mas não fizemos aquilo porque queríamos. Foi uma
retaliação a morte de Miguel, sobrinho do chefão, e a morte da tia de Mari,
que é a nora do chefão. Naquela época tudo estava contra a Calle Doce.
Vamos lá, Nacho, sei que não quer concordar com nada que favoreça ao
nosso lado, mas vocês mesmos deixaram isso acontecer. Vocês deixaram a
fama de vilão tomar conta. Se tivessem dito alguma vez que a Calle
Veintitrés também é ruim, talvez pensaríamos melhor.
— É, mas naquela época, foi seu grupo que estava com Monique.
Espera aí! — agora falo alto, até assustando Rick. Mas eu começo a
pensar, começo a relembrar. — Você é um manipulador ridículo! — agora
Nacho começa a sorrir para mim. — Você é patético, Nacho! Entendi sua
jogada. Você quer jogar a culpa para meu pai e para Sandro, que sim,
tiveram culpa, mas você está querendo passar como se não tivesse feito
nada. Mas fez!
— Eu não fiz...
entendo tudo. — Você sabia de Katya, sabia que a tia de Mari participou
na época da junção das Calles. Você a mataria também, porque ela sabia
que vocês tinham contato com os poderosos da Candelária, e você usaria
essa gente para poder entrar no país, e se Katya falasse algo, já que estava
— Estamos quites então. Porque se não matou foi por erro do seu
grupo. E você atacaria primeiro, Nacho! Não pague de homem sofrido que
perdeu a família sem chance de defesa, que não fez nada, que Sandro e o
Distrito são os culpados por tudo. Você teve sua parcela de culpa. O
Distrito tem armas e helicópteros, conseguiu mais. Do mesmo jeito que
Mari e Lizandra são inocentes, nunca fizeram qualquer mal e você mataria
as duas, meu pai mandou matar sua família, tendo inocentes ou não. E não
vamos esquecer, Mari e sua família fugiram daqui porque você a
ameaçava.
Mas, olha só, aqui estou eu, batendo de frente com Nacho e
entendendo sua jogada.
— Nacho, você é cruel sim. Muito, assim como os caras que estão
aqui. No entanto, aí no fundo você sabe que aquelas pessoas morreriam de
qualquer maneira, ontem mesmo Arman disse que soltou foguetes com
aquelas mortes, o que me faz acreditar que eles não prestavam nem para o
parente, Arman, então não valiam nada. Aí no fundo você sabe disso. E
digo mais, aí no fundo você agradece por Rene ter assassinado seu irmão.
seu sofrimento naquela época tenha sido por pensar que Arman e Francine
tivessem morrido, porque, pelo que vejo, são os únicos que prestam. E sua
filha. Sua raiva, sua confusão, é sobre saber que o Distrito é bom para
você, ao mesmo tempo, é poderoso demais e pode ir contra você. Não é
sobre a família morta, sabe que só agimos desse jeito, porque era você na
frente de tudo.
faria, e, por isso, Sandro matou Miguel e Katya, e quase matou Marcelo.
Alguém muito importante do seu grupo te traiu, Nacho, talvez Otavio ou o
tal do Inacio. Porém, ambos já morreram. Seu maior plano contra o
Distrito foi destruído por alguém que estava ao seu lado, Anthony passou a
— Por que me contou isso? Sabe que posso dizer ao meu pai, e...
— Você sabe que está certa em tudo o que disse. — dito isso, ele
— Ou ele pode ter jogado com isso também. — minha mãe fala,
após minha teoria ser dita. — Você entendeu dessa forma, mas Nacho
pode ter deixado isso no ar para que Anthony não faça nada nesse lugar, e,
no fim, não ser esse o medo de Nacho.
— Sim, também pode ser. — concordo com ela. — Mas Nacho não
parece esse monstro todo.
louca.
Estou na casa onde minha mãe está ficando, consegui sair da casa
de Nacho, porém, Lizandra e Marcelo não poderiam vir comigo.
Aconteceram tantas coisas nesses quase dois anos, que essa parte estava
bem escondido na minha memória. Quando me recordei, percebi que foi
Nacho que tinha feito tudo aquilo, então foi tudo clareando e fui falando.
Nacho não rebateu nada disso, ele apenas aceitou o que falei. Mas ele tinha
raiva no olhar, o seu corpo demonstrou tudo o que sentiu. E quando ele age
de uma maneira mais branda, eu vejo raiva pelo o que ele faz, não raiva no
sentido de ''quero matar essa gente''. Nacho entende muito bem que o
maior causador de problemas é o Sandro, para não perder a pose de chefão,
para não ser reduzido no Distrito, Nacho continua com essa pose de durão
e de ''vou matar vocês!'', para se proteger. É só ver que ele está bem
irritado com Katleen. Ele não gosta de pessoas que batem de frente com
seus negócios. Eu acho que ele tolera pessoas que batem de frente em
Respiro fundo e olho meu celular, o vídeo que anda circulando por
aí, treze homens sem cabeça que foram encontrados em um matagal. Um
homem esquartejado na mala — que, em breve, saberão que foi um dos
chefes de armamento da Calle Veintitrés —, e seis homens sendo
torturados pela Calle Doce.
Sim, já sei de Katleen há algum tempo, sei que ficou presa por
tentativa de homicídio e está em liberdade há uns dois anos, mas de onde
veio essa gangue? Não faço ideia!
— Quem é? — ela acha mesmo que isso cola comigo? Ela sabe
— É, Katleen, meu filho não é nada para você, você só quer falar
com o alto nível. Aproveite que estou de bom humor, e aceite a porra da
conversa. — ela não vai me tratar desse jeito! — Porque você é um nada
aqui dentro, apenas uma herdeirazinha de uma gangue fajuta brincando de
ser bandida...
Arman entra nesse momento e olha para mim, depois sorri quando
olha para minha mão, onde aperto o braço da minha cadeira.
jeito.
idiotas...
porque meu ódio é para mata-la, não ficar de picuinha besta por telefone.
Sou o cara que faz, não de ficar ameaçando.
Eu preciso dela!
Mas eu matarei essa garota depois!
— Yacht clube?
Olha o que estou me tornando, até uma herdeira mimada acha que
pode bater de frente comigo.
(...)
Tive que vir a esse encontro com Cássio, Álvaro e Bernardo, fora
os seguranças do Distrito. Assim que descemos no porto do Yatch clube,
quero rir quando olho para a ''fodona Katleen''.
Dou um meio sorriso, satisfeito por saber que estou certo: Uma
garota brincando de ser bandida.
lugar.
Abro os braços, olho para o céu, reclamando que nem com essa
gente eu tenho vantagem! Até o esquisito do Bernardo conhece o possível
braço direito de Katleen.
Nacho?
Ainda bem que não atuo com Cássio, eu não aguentaria muito
tempo com esse cara!
enfiou um dedo no meu olho, mas eu consegui acabar com ele. Arranquei
um pedaço da sua bochecha com os dentes depois matei.
com Nacho?
de Álvaro na guerrilha. Inclusive foi o pai dele que falou com Sandro, me
ajudando a sair da gangue. Mas por que estão com o Nacho?
— Eu sempre deixei bem claro que a Calle Veintitrés era um lobo em pele
de cordeiro. O que eu fazia era explícito, Sandro sempre escondeu tudo.
Ganhou em cima de um bando de gente cega de ideologia, e hoje ele é
mais problemático que eu.
sua gangue domina presídios, isso nunca me interessou, entretanto, ela está
ganhando as ruas. Poucos quilômetros e você chegará ao meu território. E
não, não é medo de perder meu território, e sim uma aliança.
Em San José tem gangues menores, quando vejo risco neles, trato
logo de aniquila-los, não me alio a gente pequena... Mas tenho que me
aliar a Katleen por causa do presídio onde Grézia está.
— Castigo?
presídio para a Veintitrés ela poderia abrir a boca e falar a verdade sobre o
pai, porque Grézia tem muito crédito com a gangue, ela sempre foi por
dentro da gangue, ela herdaria a Veintitrés. E nem foi pra um presídio da
Doce, porque mesmo sendo inimigos, eles falariam isso para Nacho antes
de fazerem algo contra a garota. Então mandaram para um presídio neutro,
para que ela morra sem direito a um julgamento verdadeiro.
Agora eu atingi.
que é o seu cara. Foi um tanto difícil de achar, mas sei de alguns negócios
obscuros.
bolso.
— Então, esses dois valem tanto assim? — olho para ela, vendo o
quanto posso jogar. — O outro homem que tanto procura está com esse
lutador também, e eu sei onde estão. Meu preço não vai abaixar. Se não
aceitar, terá guerra comigo, porque eu derrubo aquele presídio, mas pego
Grézia, e ainda mato seu povo em todos os territórios. E se aceitar, eu nem
quero conversa de porcentagem dos lucros, isso vem depois. Creio que há
urgência em ambas as partes. Pegar ou largar, Katleen.
Só que o outro cara não deixa que ela responda, apenas a arrasta
para longe, junto a Tadeu.
— Nada feito.
importantes para mim, nada mais. Acho que eu tenho pessoas mais
interessantes, do que você para mim.
isso, ela vai jogar sentimentalismos para esse cara esquisito. E foi
certeiro, o espanto de Bernardo deixa claro que ele sabe de quem Katleen
está falando. — É ele quem estou a procura.
era da Veintitrés, e que deve ser marido dessa garota que não faço ideia de
quem seja. Eu acho isso incrível. Perdi minha família, mas agora sou
obrigado a salvar a família dos outros.
que foi Sandro que armou tudo, e estou cansado de escutar a mesma
ladainha sempre.
foi o Sandro que orquestrou as mortes da minha família? Que a filha dele
morra com esse bebê, não devo nada a Chino, Lucas e El Doctorado.
Cansei dessa fala mansa, cansei de apenas conversar e ser obrigado a ser
simpático com rivais. Não quer aliança? Foda-se, posso conseguir tudo
usando apenas a minha força e minha gangue.
Eu pego minha arma. Se essa garota não vai ajudar, matarei logo, já
conheço a Katleen? — Você se relacionou com ela, eu sou sua filha com a
Tania. Por isso aceitei essa reunião, porque era a chance de ver como seria
com você, saber se poderia falar que é meu pai...
E se for verdade?
— Eu sou o Merlin. — olho para aquele cara que também acho que
conheço de algum canto. — Aquele cara que já trabalhou para você. O que
pegava os inimigos com rapidez, matava e sumia com os corpos. Você
dizia que eu era como um mago, um mágico.
Eu lembro desse cara! Guille disse que não era bom confiar nele,
depois o próprio pai do Merlin veio falar comigo, disse que seu filho tinha
Merlin!
— E daí que meu pai também era da Calle Doce. — ele continua.
Não falei mais com Katleen, estou nervoso, aflito, ansioso por esse
resultado.
Ela parece Tania. Uma puta da Calle Doce. Era normal no início,
depois foi como Monique. Uma puta grudenta e insuportável!
E se for...
É minha filha!
Um soluço escapa.
Perdi três filhos no ataque do Distrito, mas Alina está viva, Arman
também, agora Katleen. E todos os outros três filhos eram ruins, não que
eu seja bom, mas nenhum deles eram de demonstrar sentimento. Agora
Eu não posso suportar mais uma filha achando que sou ruim...
Quer dizer, sou ruim, mas não quero ser ruim para eles.
Já basta pensar que quase a matei, que mirei uma arma em sua
cabeça.
— Quer dizer que posso aguentar muitos crimes sendo ditos que eu
fui o culpado, mas não posso aguentar o peso de acharem que matei a sua
mãe... — toco o rosto dela. — Que matei a mãe da minha filha.
E quase te matei.
essa paternidade. Eu nem acredito que ganhei uma filha, e logo uma filha
de Tania. — solto todo o ar pela boca e olha para cima. — Eu nem mereço
tanto. — sussurro. — Mas farei diferente agora. Mesmo que não me
conheça nem um pouco, e que nem eu te conheço, fico feliz em saber que
tenho uma filha. Uma filha boa, mais uma. — fecho os olhos com força,
me culpando por tudo. — E não deixarei que você morra. — eu
prometo. — Faremos diferente agora.
— Obrigada. — agradece.
— Pelo o que?
em sua busca.
— E eu quase a matei.
— A menina entendeu sua jogada, então sim, ela sabe o que diz.
Katleen é uma filha perdida por culpa de Guille. Supere essas mortes, teve
gente que morreu e você odiava. Supere, viva com está verdadeiramente ao
seu lado. Arman não teria saído da Armênia para te ajudar se não sentisse
algo por você. Alina te ama. Katleen está aí. Para de focar tanto em querer
destruir Distrito por mortes que eles foram coagidos a cometerem.
— Sempre fui, por isso você só me colocou aqui depois que Otavio
e Inácio morreram. Sou sua última opção, porque você sempre disse que
sentimentalismo...
(...)
Aqui de longe eu olho para Katleen e penso como teria sido se nos
conhecêssemos desde sempre. Se eu tivesse ficado com ela. Somente
Arman não conviveu comigo, já que sua mãe sempre foi sensata e me
excluiu da sua vida após descobrir quem sou.
Katleen... Uma quase pedagoga, que teve sua vida atrapalhada por
Guille, e por outro cara que estava querendo se aproximar de mim.
— Oi.
— Espera, quer dizer que não teme o Nacho? — ela sorri, mas logo
para quando vê Anthony se aproximando. Sempre atrapalhando! — Esse é
o Anthony do Distrito, o chefe da gangue do país vizinho. — e só
apresento porque ele me ajudou a descobrir mais coisas de Katleen. —
Minha filha, Anthony, a Katleen.
E o pior que não quero fazer mal, pelo menos não a Andreza
enxerida, Lizandra ex vadia e o bebê bobalhão. De resto ainda quero
que está subindo muito. Precisa da nossa ajuda e daqueles filhos da puta
que se acham os donos dessa porra toda. — aponto para frente, com raiva
de que sim, preciso do Distrito se quero ajudar Katleen. — Vamos,
precisamos conversar logo sobre tudo.
E espero que isso surta efeito, que a tal Grézia consiga convencer
uma parte da Veintitrés que Sandro não é esse cara justiceiro que muitos
imaginam.
palavra final, mas Tadeu e Merlin são mais por dentro do assunto.
Katleen só entrou nisso para salvar Brian e Renan, ela não é desse
meio.
Mais uma filha inocente que veio parar na vida bandida por minha
culpa, direta ou indiretamente, e que sofreu algo por causa da vida que
levo.
Respiro fundo.
dependemos dele.
Infelizmente, mais uma vez, terei que passar por cima de uma
vingança para o bem da minha família.
Sandro vai querer mata-los também. E preciso acabar com Sandro antes.
— Obrigada. — agradece
Meu sonho sempre foi tomar San José, virar algo somente da Calle
Doce. Mas para uma filha desconhecida, desesperada, e que entrou nessa
sem querer — e indiretamente por minha causa —, deixarei meus
negócios — que acreditei serem tudo para mim —, nas mãos de Arman,
Furtado e Perez.
ninguém sofreu, ninguém impediu ou lutou por sua vida. Quando foi o
lance de ''traiu Helena'', ainda o defenderam, afinal, isso era entre ele e tia
Helena, depois que a coisa subiu de nível, o abandono de Jade, ele
começou a ser excluído, mas quando ele tentou matar Jade, Igor, Letícia e
Mari, a coisa ficou tão grotesca que ninguém impediria sua morte. É disso
que falo, às vezes algum familiar é tão ruim que acabamos pensando ''se
ele estivesse vivo, faria coisa muito pior''. Já vi alguns casos assim nos
jornais, pais falando que era melhor ver o filho morto que vivo, porque
eram o diabo na terra. Não sei, mas algo me diz que a família de Nacho era
assim. Pensa comigo, estamos aqui há dias e o máximo que sabemos são
mortes de inimigos. Você viveu aqui, sabe a fama ruim da Doce. Vai ver
eram os outros parentes que comandavam tal coisa, Nacho sendo a
minoria, tinha que acatar as decisões. Ele era chefe, mas vai ver a família
era tão ruim que mesmo ele comandando, não poderia recusar, ou se
voltaria contra ele, Arman e a outra filha boa.
— Meu pai disse que a despensa está livre para vocês duas e o
bebê.
umas coisas claras, já que ficarei por aqui agora. Perez é o cara mais casca
grossa que vai encontrar, pior que meu pai. Meu pai ainda é tranquilo se
for com a cara de alguém, Perez não, ele é tipo um funcionário que segue
ordens de Nacho, ser simpático com possíveis traidores não está em sua
lista do que fazer. E, para ele, vocês não são aliados, apenas suportados
para o bem dos negócios.
— Não sei. Meu pai tava puto da vida porque você leu a vida dele
muito bem, então você pode ser inteligente para isso. Se Perez mostrar
algo estranho, qualquer atitude muito esquisita, diferente do que falei, me
avise.
volta e agradar o chefe, como pode ter ido ali a mando de Sandro. Não
sabemos, mas, um dia, Inácio trabalhou para os dois lados. Como era
grudado com Perez, que é muito caladão, não sei se minha desconfiança
faz algum sentido.
— Ele não concorda comigo e nem com essa união, se assim posso
chamar. Meu pai teve que terminar com esse lance ''salário baixo para
trabalhadores'' por minha causa. Depois se uniu a Anthony e era algo que
— Então agora sim corremos perigo. Porque você falou pra mim e
Lucas que Nacho não nos mataria, mas se avisa sobre Perez, isso significa
que ele é mais perigoso.
Doctorado e meu pai o Guille, só esperava o momento certo. Meu pai sabe
que um dia ele teria que acabar com eles de algum modo. Eu não vivi aqui
por conta deles, Alina morava, mas não era amiga e era odiada por duas
irmãs. Aqui era loucura. Nem um filme de terror pode ser comparado
aquelas pessoas. Quando Guille era vivo conseguia ser pior.
— Encontrar?
Estou tão presa nessa casa que até esqueço que estou na temida San
José. E escutar algo tão louco de um presídio me dá calafrio.
— Grézia deve estar viva, ela e o bebê. — tento ser mais confiante.
— Talvez escondidos com medo de uma retaliação.
— Espero que sim. Grézia não merece nada disso, ainda mais com
um bebê. Mas mudando de assunto.
— Você a odeia.
— Nem sei quem é essa, mas você é mais bonita, certeza que sim.
— Não, não sou mais bonita que a Palvin, longe disso. Mas gosto
— Eu sinto calor.
— Dois dias que não te vejo, só em reuniões com meu pai, tio, Chino, seu
pai, até com a Doce! Amo a Grézia, é uma irmã, mas amo você de outro
modo e sinto sua falta! Só conversamos sobre negócios, Rick ou alguma
piadinha. Sério, Andreza, eu só queria te encontrar e matar a saudade. Sei
carinho, vivemos tanto nesse lance de medo e perigo que queremos voltar
para casa e sorrir um pouco. E aqui ainda é um tanto ruim porque você é
do meio, então tenho que compartilhar as histórias e o assunto vem pra
casa. — acaricia meu rosto. — Mas entendo o que quer dizer. Você é
sentimental e nova nesse assunto, não quero acelerar a parte onde você tira
a roupa...
— Lucas...
Eu ruborizo.
que ele quer dizer. — Depois diz que não estava preparada?
— Tanta coisa.
— Lucas, eu te odeio!
— Isso não está sexy, Lucas! — jogo o travesseiro nele, que desvia
e começa a rir. — Nunca transaremos nessa casa, é oficial!
— Quero sim, mas não tem clima. — agora fico séria. — Eu não
consigo, Lucas. Eu quero ir embora daqui. Talvez se não fosse nessa casa
eu estaria sentando na força do ódio até quebrar seu pênis.
dia.
— Que jeito? Temos que ficar nessa casa ou o acordo com Nacho
será desfeito. Meu pai fez muito para perder um acordo por minha causa,
por um medo meu. E não quero decepciona-lo.
ou Perez não vale nada ou Arman está tramando algo. Eu não posso deixar
você e Rick nessa casa.
gosta. Vai ver já está complicado e nós somos a garantia que Anthony será
obrigado a ajuda-los após tudo.
Há algo de muito errado nessa história toda, porém, ainda não sei
dizer o que ou quem.
É normal que Perez seja mais durão, mais calado, é só ver que meu
Francine morreu, agora sou visto como o cara que matou aquela gente.
Bem, pelo menos agora há a certeza que aquele campo era da Veintitrés e
não da Doce. E tudo foi uma grande emboscada.
— Mas Katya era adolescente e ficou para trás, nunca foi salva. —
penso um pouco. — Se bem que foi Inácio quem a encontrou e a salvou.
Há uma teoria onde Inácio fez aquilo para ficar bem com Otavio, entregar
— Faz sentido também, se bem que agora não importa muito qual
era o lado de Inácio e Otavio, já estão mortos. Mas voltando sobre a
guerrilha, depois de tudo aquilo que passei com Natasha, sou visto como
traidor. Um cara de lá aceitou falar comigo porque ele estava cético. Sabe
— Sua cara de duvida, nada mais que isso. Talvez ele pense e
entenda que falo a verdade, ou talvez ele pense e ache que sou um traidor
mesmo. E você, algum avanço para seu lado?
— Meu pai e tio Yazid ficam indo para as pessoas próximas, mas
ainda não conseguiram aproximação com seus pais. Até o momento nada
consegue causar intriga e ter aliados do outro lado. É complicado porque
nós dois vimos de perto as armações de Sandro, eles enxergam Sandro
como salvador da pátria.
ideologia, você entra de vez nela e pode virar um extremista ou ficar cego.
Sandro é o ditador. Não um revolucionário como sempre pregou. Se
aproveita dos necessitados e usa a sua dor e necessidade para lucrar e
prendê-los. Ganha dinheiro protegendo da Doce, e, possivelmente, a
Veintitrés mesmo que ataca para eles terem mais dinheiro.
— San José ainda é uma incógnita para todos nós. Após Sandro
tem Nacho, o que acontece com esse país? — Álvaro faz a pergunta que
ninguém tem a resposta. — Hoje em dia o poder está dividido em duas
gangues. Polícia faz seu trabalho uma vez ou outra e o presidente nada faz,
fica pulando de lado para ver qual mais lucrativo, e Nacho e Sandro
liberam porque para eles é melhor um presidente frouxo, que um tendo um
lado ou sendo correto. No fim a ideia de Sandro nunca fez grande sentido.
A ideia do pai de Sandro sim, o idealizador da Calle Veintitrés.
— Eu não quero pensar tanto nisso, Grézia é uma irmã e está com
um bebê...
sabia disso.
— É que Andreza não falou tanto sobre esse outro bebê, por isso
que também o plano não deu certo. Andreza não espalhou a história para
que Anthony soubesse.
Bem, pelo menos fui perdoado e parei de ser escroto... Pelo menos
com Andreza.
— Mas sobre o que vim falar com você. — pigarreio. — Eu sei que
tem filhos agora, sei que tem todo o lance de fazenda, de negócios legais.
Mas Álvaro, precisamos de você. Você sempre foi um dos mais
importantes, tanto que Grézia colocou esperanças em você e ela estava
certa, você conseguiu muito sendo inteligente. Só tem eu, meu pai, tio
Yazid e Chino. Provavelmente Bernardo, Jamile e Mauro. Seu pai nem faz
— Calma, ele está aqui. — olho para Álvaro, carregando meu filho.
— Espera aí... — assim que vejo meu filho bem nos braços de
Assim que as correntes são retiradas, saio do carro e pego Rick das
mãos de Álvaro, beijo meu filho que fica rindo e também me abraça.
podendo andar livremente em San José. Seu primeiro plano foi dizer que
você lembrava a filha dele, para ver se te comovia e você não falava mal
dele para Anthony, aparentemente deu certo por um curto espaço de
tempo. Com a chegada de Katleen, veio a liberação de Grézia na prisão, ou
seja, força para Lucas.
toda dele com Katleen seria para mata-la assim que fosse feita a aliança, e
Grézia morreria assim que saísse da prisão. Não é apenas Sandro que ama
culpar a Calle Doce, Nacho faria o mesmo, culparia a morte de Grézia
falando da Veintitrés. Porém, Grézia foi liberada e tirada de lá por Arman,
não tiveram como atacar, ou Arman morreria nessa.
para Nacho com Anthony aqui dentro. O medo de Anthony crescer a ponto
de Nacho perder.
Ele não quer uma Calle Veintitrés contra Sandro, ele não quer outra
gangue de maneira alguma. Katleen o faz ficar disperso e, no momento,
em algum país da África. Só que Perez é o cara que quer escravizar
pessoas, ou seja, ele é pior que Nacho. Então tivemos que forjar esse
sequestro...
matar um ''aliado''. — faz aspas no ar. — Forjar sequestro faz parecer que
fomos atacados.
— E Perez? — pergunto.
— Vai por mim, o cara nunca vai querer falar para Nacho que
perdeu tanta gente importante. — Lucas responde. — Anthony sabe cuidar
da galera que restou, Arman está com Perez e avisará qualquer plano da
Doce. E quando Nacho finalmente chegar, mostraremos que agora sim ele
terá que dançar conforme nossa música.
— E eu posso saber o que fez para achar que isso dará certo?
Eu queria dizer que estou orgulhosa de Lucas por fazer algo de tão
importante para todos nós, tipo, tomar uma decisão como líder. Porém, é
algo perigoso e não sei se dará certo.
Compreendi tudo o que Lucas falou, ainda mais que ele detalhou
com mais calma depois.
A outra coisa que pesou mais foi o fato de Nacho ter na cabeça que
mataria Grézia, e isso faz muito sentido. Sendo cético como Nacho, tendo
medo de perder territórios, ele não poderia deixar Grézia viva para ajudar
Lucas, Chino, El Doctorado e Yazid. Principalmente, ajudar o El
Doctorado.
reviver essa época, mas também não quer perder território para o Distrito.
Mataria Sandro, fingiria de amigo, depois nos mataria.
Por isso fico dividida em ter orgulho pelo feito de Lucas, e achar
que foi arriscado, meio burro. Mas se até meu pai concordou...
É estranho que eu tenha tido ranço por essa garota. Ciúme bem
besta, mesmo Lucas sempre falando que são como irmãos e nunca
passaram disso, e que a irmandade é muito forte para que ele a veja como
mulher e ela o enxergue como homem, algo carnal.
Talvez por agora ter a atenção de Lucas, ter mais que beijos e sexo
no que Lucas falou, que não é o pai, comecei a pensar em como um bebê
veio parar em uma história que nada tem a ver com ele, e já sofreu tanto
com tão pouca idade. Agora sinto mais compaixão pelos dois, o bebê e
Grézia.
— Obrigada. — Grézia sorri, pegando uma calça verde que lhe dei
— Chino disse que tinha certeza que sentiria pena de mim por ter
dado um pai como Lucas ao meu filho.
— Mas pelo que vi, você salvou aquele cara. — termina de vesti-
lo.
— Às vezes vocês falam como se Lucas fosse um inconsequente,
tipo, como se tivesse corrido o risco dele ser um péssimo pai.
conquista-la. Não sei se ralou muito para te conquistar, mas que é o oposto
dele, isso você é.
— Fala de aparência?
— Ah, mas se Lucas ama, ele ama mesmo. Como disse, eu mesma
citava que quando ele amasse, ele correria atrás. Lucas era muito nem aí
para garotas, ficava, mas nada de se importar com elas, e se ele correu
— Não, mas imagino que deva rolar algum ciúme. Lucas ficou com
algumas meninas no passado, que juravam que seriam a esposa algum dia.
E era só eu aparecer que elas ficavam putas da vida. E como você é a
mulher dele, quero deixar claro que estou mais para cunhada que para
comigo, eu tinha acabado de ver minha mãe sendo assassinada pelo meu
pai, e aí me entregam um bebê e me prendem por assassinar minha mãe. O
choro de um bebê me irritava ao extremo, mas eu nunca faria mal a uma
criança, tentava fazer parar e com isso, com essa tarefa, digamos assim, eu
acabei tendo um porto seguro. Alguém para cuidar e receber afeto. Você
me entende, eles não falam, mas a cada olhar, a cada sorriso, a cada
momento que abrem os bracinhos pedindo um abraço, para ser carregado,
há um amor transbordando.
Olho para Rodrigo nesse momento, que está brincando com uma
caixa vazia de lenço umedecido.
— E ele não tem nada a ver com essa história. — acaricio seus
cabelos.
contar tudo ao seu pai, aí Lucas teria problemas, Rene e Yazid se meteriam
nisso, Chino tentaria ajudar Lucas e, no fim, a morte deles seria justificada
pela traição. Mas tudo deu errado porque você não abriu a boca para falar.
Lucas fez o exame de DNA, que foi falsificado para dar mais treta, mas
pelo que sei, América achou tudo muito louco, ela só imaginou que
apareceria e depois seria livre dessa loucura, tentou fugir com o filho e foi
morta. Como não teria outra pessoa para aparecer com Rodrigo, ou como
era chamado, Junior, ele acabou ficando com minha mãe por dois dias,
porque ele sabia que seria mais um para eu cuidar e me dar dor de cabeça,
era mais para me torturar. Mas acabei sendo salva por esse bebê, ele me
manteve sã.
Sofremos juntas, no fim ela morreu por achar que seria uma boa ideia
puxar o saco do meu pai, tentar envenena-lo contra Miranda e sua irmã.
Minha mãe tinha umas ideias estúpidas muitas vezes, mas não para
merecer a morte.
— Lucas está certo quando diz que precisa falar com a Veintitrés
sobre a real de Sandro. Tive que participar de várias reuniões da Veintitrés
após voltar da guerrilha, tive que fingir que estava tudo bem, e todos eles
acreditam cegamente em Sandro. Se Miranda e Fatima morrerem...
que Sandro está tão ferrado quanto o Distrito estava na época de Jorge. E
se as coisas por aqui pararam um pouco, ele estará indo para outro
território, que significa Candelária. E a reunião que está prestes a
acontecer, ou é sobre a mudança da Veintitrés comandada por Sandro, ou é
sobre a Veintitrés estar mudada por Sandro, algo contra ele. Isso significa
que, mais do que nunca, vocês precisam ir até os avós de Lucas.
Capítulo 17
ANDREZA
— Bem, eu acho que somos mais visados mesmo, tanto que estou
aqui também. — Natasha aperta a minha mão. — Eu fugi de Sandro, e
— Pelo menos não teremos Nacho falando que sim, temos que ficar
com ele. — suspiro com cansaço. — Eu não queria trazer meu filho para
essa loucura, na verdade, eu nem queria vir, mas Nacho é um idiota que só
aceitava qualquer acordo se todos estivessem aqui.
Perez.
queria fazer mal. Parecia que estava incomodado pela forma como nos
tratava.
mesmo de diálogos que poderia soar ofensivo, mas que soavam como
birra, algo divertido. Então ele parecia ranzinza por não ser tão valentão,
malvado conosco. Mas aí Nacho retornava ao seu humor mais sombrio,
sempre cauteloso, sempre de olho em tudo, e com o olhar de ódio. Em
outros momentos acreditei que não era nada daquilo que ele queria, que
não nos mataria, depois eu acreditava que sim, Nacho mataria porque nos
odeia e isso não poderia mudar.
— Então é algo mais sobre não querer mudar algo que já está
que Nacho. Sabe por que Francine não está aqui? — nego, balançando a
cabeça. — Ela não é tão importante na vida de Nacho, não precisa de
proteção. Ou seja, ela não é nada como pensamos. Nacho não tem qualquer
amor doentio por ela, Nacho não a ama a ponto de alguém ir atrás de
Francine.
— É que Francine tinha tanto medo, fugiu tanto, que até pensou
que Nacho fosse puxa-la pelos cabelos. Mas ele foi até ela e deu o
divórcio...
— Que?
Poderia ser injeção, mas Francine sempre teve seguranças e não poderia ir
a qualquer lugar e tomar injeção, e nem Inana queria aplicar, pois tinha
medo.
a pressão de ter filhos. Ela fingia estar tudo bem para Nacho, ele acreditava
e queria formar uma família com ela. Foram todas essas pressões. Não
tanto sofrimento físico. Pela sua cara, vejo que não gostou em nada dessa
história.
— A verdade é que você quer que Nacho não seja outro vilão da
história. Você não o odeia, Andreza. E nem se preocupe com isso, porque
(...)
— Pensando na vida?
— Faltam uns cinco anos para isso, até lá essa guerra terá
terminado.
vida, e chegou ao meu pai. Pelo menos era um ladrão solitário, não de uma
quadrilha que me colocará em perigo.
— Nem liguei, tanto que nem te contei, pra mim tanto faz. Estou
assim, cabisbaixa, porque estamos no meio do nada. Tão isolados que fica
claro o nível de perigo para o nosso lado. Nem ao menos Mari está aqui,
ou seja, nós corremos mais perigo que todo o resto do Distrito. Aí eu me
questiono, quando isso vai parar? Tia Katya já morreu por essa guerra,
loucura toda. Não tem mais Nacho aqui, Andreza. Não temos que ficar
nesse país para que Nacho confie em todos nós, tanto faz. Por que ainda
estamos aqui?
Odiei saber que ficaríamos em San José, nem ao menos queria vir.
Agora podemos ir embora, agora eu posso voltar a calmaria, lá do outro
lado do mundo, porém, eu não consigo ir. Mesmo sabendo que seria
— Lucas vai precisar de mim. Rick também, sou sua mãe, mas ele
terá muita gente ao lado. Lucas tem o pai, tio e os dois amigos. O que já vi
deles, nenhum está muito apto para cuidar de Lucas nessa situação. Eles
foram criados de modos diferentes. Lucas precisa de ajuda e nem ao menos
fala disso porque não foi criado para falar de sentimentos. Entende? —
Lizandra dá um sorriso fraco, mas confirma. — Lucas precisará de mim.
Mesmo que ele tenha minimizado meus problemas, ele continuou me
escutando e estando ao meu lado. Quero dizer, antes mesmo dele precisar
de um local para ficar. Lucas já conversava comigo e ficou ao meu lado.
Achou besteira meu choro, mas deixou isso pra ele, para não me fazer
sofrer mais. Eu entendi o que ele quis dizer.
ser a pior pessoa do mundo, Mari estava certa. Ela também sofreu com
essa vida, talvez menos que eu, mas sofreu. Eu entendi Lucas quando você
me contou sobre o que ele falou, por isso não o xinguei. Nessa vida aqui,
sofremos demais. Quando vemos problemas menores, até pensamos: ''Eu
bem que queria que meu problema fosse esse''. Pelo menos Lucas não
falou que seu problema era um nada, porque eu e Mari vivíamos
minimizando a dor da outra.
— Lizandra?
— Oi!
— Espero que Lucas não tenha feito merda. — fala, enquanto lava
as mãos e depois pega um pão no armário. — Tem um tempinho que não
converso com ele. Na verdade, nem com você.
matar a própria mãe. Por mais que ele diga ''tudo bem'', não está tudo bem.
— E qual o plano?
assunto?
minha culpa.
desaparecida. Lucas era meio egoísta, um pouco bad boy. Mas aí entrou de
vez na Veintitrés e foi melhorando, ficando mais sério por conta das
atividades. E talvez por isso, ele tenha tanto pensamento de ''O papel de
matar Miranda é meu''. Ensinamentos de gangue, não de pai e filho.
— ''Jeito doido''.
— Oi?
Respiro fundo.
(...)
— Você é magro...
Agarro sua nuca, para Lucas não sair de perto de mim. Beijamos
enquanto ele caminha até o banheiro, e depois rimos baixo quando ele erra
o caminho e acabamos colidindo na parede.
— Também te amo.
Nem dá para acreditar que ontem foi tudo real. Tão de repente que
até me surpreendi pela maneira como tudo aconteceu. Agora tendo ainda
mais certeza que quero estar ao seu lado. Que quero fazer tudo diferente do
que fiz no passado. E que preciso sair dessa com vida.
Saio da cama com cuidado, para não acorda-la, vou até o berço de
Rick e vejo que ele já está acordado. Grita um pouco quando me vê e logo
pego no colo, levando-o para o banheiro para poder dar banho nele e
depois tomar o meu e escovar os dentes.
que ajudou na fuga, mas o perigo era Perez. Então, e aí? O que faremos?
Seguir com o plano ou falar com Nacho?
— E ele quer falar com Andreza e Lizandra pra que? Pra tentar nos
convencer que não devemos investir aqui? — bufo, depois coloco Rick no
sofá. — Ele quer limpar San José para ele. Entendemos bem o que ele
quer.
Respiro fundo.
— Provavelmente sim.
— Não, mas sei lá, foi algo que passou por minha cabeça e ele
parece um pouco comigo. Rodrigo deveria ser uma tortura na minha vida.
Ele ficaria no presídio comigo e eu nunca o mataria, então ficaria com
mais estresse e enlouqueceria. Mas vim de uma guerrilha, cara! Um bebê
não é qualquer tortura pra mim.
— E dois irmãos.
namorava a minha mãe, ela dizia que era apaixonada por ele. Tiveram os
filhos, algum tempo depois, acho que menos de um ano, ela conheceu
Sandro. Sandro quis minha mãe, a todo custo e ela aceitou. Era muito
sonhadora, odiava a pobreza.
— Entendo, infelizmente.
— Minha mãe sempre foi a corna mansa, mas pensei que só fosse
isso mesmo. Ela era traída, descobria, discutia e fim. No outro dia chegava
com vários presentes caros. Só imaginava que era idiota para isso, não que
abandonou os filhos por Sandro.
sabem. Para não morrerem, provavelmente, dirão que não sabiam de nada.
— Vai demorar anos para que tudo entre nos eixos. — Chino pega
um copo d'água. — Em relação a tudo. Política, por exemplo.
entrarem em consenso.
— Para que San José sobreviva, temos que ceder espaço, temos que
dar a trégua.
— Mas onde ele está? Duvido que seus parentes saibam disso.
outro país apenas para fugir? — fico esperando a resposta dos dois, mas
são céticos. — Sandro nunca fica distante o suficiente, justamente por
medo de errarem ou de roubarem tudo dele. Creio que ele não estará em
San José, só se tiver em algum buraco, mas a Candelária é maior. Têm as
favelas, casas juntas umas da outra, vielas, bem mais fácil dele fugir e se
esconder. Tem o interior, tem gente poderosa também. Aqui ele ficaria
bem mais a vista, mais vulnerável. Só estamos aqui porque é território
dividido e certo. Mas não é garantia que sairemos disso vivo. Mas juntando
tudo o que temos, poderíamos atacar Sandro, só que ele não está aqui.
nenhum deles. Anthony pode ser meu sogro, pode nos ajudar, mas é
ganancioso, assim como Nacho. Um lado sairá com mais poder, mais rico,
e tentará nos levar juntos. Então, tudo o que lutamos será nosso ao todo. E
tem que ser nosso de quem sempre esteve na Veintitrés e foi enganado.
Andreza?
— Ela já saberá de tudo, não fui eu quem pediu segredo, foi meu
pai e Yazid. Estávamos na casa de Nacho, montamos esse esquema lá na
Candelária, eu não falava com Andreza. Começamos a nos falar mais na
casa de Nacho, e sempre eram em códigos, porque se tivesse escutas, ele
não entenderia.
— Então essa será a sua desculpa? — cruza os braços.
Você sabe bem que nesses negócios, não contamos tudo, ou não contamos
no momento exato em que ocorre. Não roubamos Andreza e nem o pai
dela, só estamos fazendo nosso negócio, como antes. Nada de mais
— Nacho é bem idiota das ideias, eu nunca imaginei algo assim pra
ele.
os filhos o mataria em algum momento, nunca valeram nada, por mais que
Nacho quisesse que fossem bons, diferente dele e de Guille.
preciso me vingar''. Foi aí que comecei a fingir que não conseguia andar,
que minha mão não abre. — ela abre e fecha a mão. — E me fiz de pobre
coitada. ''Não mate a todos, pai, seja bonzinho, acredite neles''. Dá certo.
— Não, Otavio deu Francine a meu pai, ele apena aceitou. Eu acho
que ele gosta dela, mas não amar. Nunca falou do assunto e nem obrigou a
volta para casa.
— Por incrível que pareça, melhor que minha mãe. Muito melhor.
Porque ela era apenas dinheiro, ele sempre foi amor. Apesar de tudo.
— E sua mãe?
dezoito anos.
— E Perez?
— Não conheço tão bem. Não fui mantida dentro dos assuntos.
— Sim! Parece que foi ontem que estávamos na paz, que todo
mundo comia junto, que saíamos. E olha agora, estamos separados, unidos
com outros, é tanta loucura. Parece que foi um dia desses que estávamos
felizes.
— Bom dia.
— Bem que Anthony poderia ser assim. — Lucas olha para mim.
— Tenha certeza que Anthony Garcia, o meu pai, vai cobrar dote,
bem século passado.
— Oh, Lucas, não precisa mais puxar meu saco. Estamos bem.
Respira aliviado.
— Como ele é?
— Meu viking russo é tão inteligente, nem sei como está comigo.
indignada.
— Não vai falar, e acho que talvez nem precise. Será que
precisamos desabafar sempre?
Olho para Lucas, que agora está rindo de algo com Álvaro, junto a
Chino.
Lizandra se aproxima, com Rick nos braços. Pego meu filho e beijo
seu rosto.
— Parece que ele vai mais com a nossa cara. — Lizandra encosta
na parede. — Sei lá, pode ser verdade, e se for uma emboscada? Claro que
a galera já tem um plano, mas não sei. Não sei se confio em Nacho nesse
nível.
— Sim, claro.
Eu lembro a conversa com meu pai, quando ele diz que não ficou
rico sendo bom samaritano, sobre Álvaro ter nado negócios ao Cássio.
Anthony, no caso. Não podemos negar do quanto ele construiu, mas... Mas
não queremos isso, o cara vai crescer em cima de todos nós. Não somos
idiotas.
ele foi com a nossa cara, mesmo não admitindo. E quer falar comigo e com
Lizandra porque somos menos chatas...
— Foi com Bernardo, ele revelou que Mauro e Jamile são irmãos
de Chino e Grézia. Depois falamos com uma galera da Veintitrés e logo
mais falaremos com meus avôs. É isso que temos para essa semana.
— Espero que sim. — beija minha testa. — Será que tem algum tio
ou tia que pode olhar o Rick?
— Por quê?
— Eu acho que devemos usar a cama dessa vez. E essa cama é bem
grande.
— Sim, não sei se são cegos para acreditar nisso. Mas eu aposto
que minha lealdade foi jogada no lixo por essas questões. E se não
acreditarem não quero usar a força com eles, nem mesmo com os pais de
Miranda, eles nunca me causaram o mal, pelo contrário, até queriam que
eu me separasse.
— Eu odeio política!
— Odiamos política!
— Estamos muito bem. Ela ainda é cheia dos ''não me toque'', mas
está melhorando mais na sua culpa. Entendendo que mesmo fazendo algo
errado, fez o certo. E me aceita agora. Acho que saímos bem nessa história
toda.
— Helena?
— Não.
bitrem por você. E você precisa parar, sempre foi Mariana, agora gangue,
apenas se aquiete e fique com alguém.
boa, nada a mais que isso. Mas quero dizer que precisamos respirar um
pouco, não focar só em vingança. Por falar na ex defunta.
''defunta'', não quero saber mais do Distrito. Isso fica com meu pai e
irmãos.
— Não sei se sair é uma boa ideia, visto que essa região parece ser
bem perigosa...
— Eu levo a bebida?
— Eu tenho adega.
Helena ri, mas vai parando quando encara o homem a sua frente.
Quase suspirando, ela pensa que deve ser a sua segunda chance.
Rene é lindo, alto, forte, esses olhos azuis claros... E ainda tem aquela cara
de homem sério, o combo perfeito para Helena.
Dia seguinte
— Até rimou!
desculpas.
— Foi ontem.
— Como foi?
— Continue a história.
— Sexo?
sequestrada, mortes...
sido mais fácil. E será sempre assim? Devemos contar com esse amor dele
pela nova filha?
— Sim, além do mais, nunca nos fez qualquer mal naquela casa.
Nacho é cruel, como meu pai é. Uns moldes aqui e outros ali e ele será
sociável.
Não sei do que vamos falar, porque seu plano era nos manter na sua
casa. Não sei se Nacho vai querer negociar para voltarmos, afinal, éramos
a garantia que meu pai não faria nada contra Nacho. Ou se ele vai querer
sobre Perez. Não posso dizer se meu pai acreditou em mim, mas acho que
plantei discórdia.
netas, vocês estão com Alina e sei que ela está bem. Meu pai terá algum
apreço por essa situação, eu imagino que sim.
Não confio nele. Ele sempre foi aquele que está ligado a antiga Calle
Doce. A era da escravidão e sequestros. Perez já estava bem irritado com
sua mudança, pai. E deixando pessoas importantes naquela casa seria o
momento perfeito para Perez crescer. Afinal, dê pessoas importantes do
— Arman...
duas são emoção. E não falo que por isso são fracas ou manipuláveis, mas
se eu falar com vocês, vocês saberão se falo a verdade ou não. Em segundo
lugar, eu não acho que seja uma garotinha, apenas não imaginei que falasse
de negócios, imaginei que fosse a garota de recados.
Nacho pensa um pouco, troca olhares com Furtado, que faz sinal
afirmativo da cabeça.
Até que a reunião com Nacho e Furtado não foi ruim. Eles nos
escuraram, negociaram daqui e dali, no fim rolou até um pedido para que
eu agradecesse por toda a ajuda referente a Katleen.
parar... Porque já era uma compulsão, e não sinto mais essa necessidade de
comer e comer.
— Você sempre foi foda, Deza. Mas agora é aquela mulher foda
que sabe que é foda. E não há nada mais foda nisso.
cá.
quando casamos ou temos filho, quando saímos de casa, a família será com
quem moramos.
— Também te amo.
Nos beijamos.
Eu quero muito estar ao seu lado, desde que o vi pela primeira vez,
lá na fazenda. Quando Lucas me ajudou, quando sorriu, quando não me
— Meu querido, olha para você. É o típico boy urbano. Essa cara
de cafajeste...
— Só a cara!
— Conselheira?
— As paredes são finas, preciso ficar lembrando que não devo falar
LUCAS
— Certo.
— Ele não perdeu nada. — meu pai é do contra e parece ter certeza
do que pensa. — Vamos pensar bem na Veintitrés agora, do ponto que
conhecemos. Ideologia cega. Tão cega que ligamos para o ideal, não para a
realidade.
mal.
Guille o vilão.
viver aonde quiser e sem se preocupar em morrer. Se ele pisar aqui, ele
morre. Sandro não volta, e nem se preocupa com o que deixou para trás. O
que são casas e negócios em San José? Talvez dez por cento da sua
riqueza, que ele logo consegue novamente.
Grézia para trás e encontra Jamile, que está sorrindo vindo a sua
direção.
— Eu sempre senti essa conexão com você, mas saber que somos
irmãs... Uau! Eu sinto muito pelo que nossa mãe fez.
— Sua mãe, Grézia. Ela nunca foi minha mãe. Bernardo, por mais
É uma dor escutar isso sobre a mãe. Grézia que tanto a defendeu,
que tanto pareceu ser boa aos olhos da filha... Mas foi aquela que prefere
dinheiro, vida boa, a família que tinha antes.
— Por um tempo quis acreditar que Sandro forçou que ela fosse
com ele, mas foi sempre sobre dinheiro. — Jamile tenta não falar tanto do
assunto, porque ainda dói lembrar quando via a mulher com os outros
filhos e eles ali, vivendo com Bernardo quase na pobreza. — E você deve
saber que foi, conviveu com ela, deve ter presenciado seus luxos, sua
vaidade, e, talvez, o amor dela por Sandro.
— Somos todos irmãos sem nem imaginar que algo assim seria
possível. — Chino se aproxima. — Bem, perdemos uns e ganhamos
outros.
reencontro já acontece quando vamos nos reunir com nossa antiga gangue.
(...)
Entrar na reunião da Calle Veintitrés nunca pareceu tão tenso
quanto agora.
Quase.
— E vai se aproveitar que o chefe não está aqui para poder semear
a discórdia? — Miranda fala mais alto, chamando a atenção de todos. Ela
tem uma arma em mãos, mas o homem ao seu lado também tem, e Rene
precisa contar com esse cara para poder prosseguir sem levar um tiro. —
Esse é o temido ''El Doctorado''? Aquele que espera um chefe sair para vir
fazer fofoca? Criar intriga?
— Claro, que Sandro está reunido em algum lugar, mas para salvar a
E todos concordam.
Rene olha para seu pai e sua mãe, que permanecem quietos no
centro do galpão.
— Tão leal que matou a esposa. — não foi a voz alta de Grézia que
fez com que todos calassem a boca, e sim o que ela disse. — Isso mesmo,
minha mãe foi assassinada a minha frente...
E Miranda só não atira, porque pode ser pior para ela. Já que
tem culpa e está nervosa por ver que seu plano está sendo contado.
mais importantes. Como seria uma traição em grupo, sendo que não
— Vocês sabem que matei o Guille. Pai, você é o que mais sabe
disso. E sabe que Nacho deixou claro que me mataria, mas agora estamos
juntos? Porque temos o mesmo inimigo. O mesmo inimigo que tramou
para parecer que Nacho matou Katya e Miguel, e que por isso atacamos
Nacho. Nacho não sequestrava pessoas, não as vendia, mas Sandro sim!
Miranda estava passando um envelope para América. Dois dias depois que
eu vi uma enorme retirada da conta bancária. Sim, Miranda, eu tenho
acesso a sua conta bancária, justamente pelos seus gastos desnecessários. E
naquele dia você inventou uma desculpa falando que América era a sua
manicure e fez sua unha. Mas agora já entendi o que fez. E entendi porque
América foi morta. Foi usada e descartada, porque o dinheiro retornou a
sua conta. Eu acredito neles.
Todos acreditam.
meu lado...
— Você deixaria seu pai me matar, como vai deixar que me mate.
(...)
Nos afastamos.
— Uma hora depois e meu pai ainda não terminou com elas.
com ele, da maneira de liderar, coisas assim. Que tiveram uma discussão
calorosa que não poderiam voltar. Já Sandro espalhava sobre traição, mas
conheço vocês muito bem, não trairiam apenas por Mariana estar no
Distrito.
— Foi um choque para todos nós, ainda mais com minha mãe e tia
envolvidas. E ainda bem que meu avô presenciou a história de América, ou
estaríamos ferrados para tentar explicar e validar a história.
— Que eu saiba, Miranda era o contato direto com ele. Pode ter
olheiro, mas algum oficial, era apenas a Miranda, talvez Fatima, já que são
aliadas.
tomará conta do lugar, para que não saiam. Seria muito desperdício matar
sem saber qualquer coisa.
— Tomou banho?
— Pra você ver que meu avô, o pai de Miranda, logo entregou a filha.
Pode ser que tenham dado esse armazém para ser vigiado apenas para
ficarem ocupados.
— Pode ser também, mas minha intuição diz que tem algo mais. Eu
mesmo vou procurar.
— E Fatima e Miranda?
— Yazid pode torturar tão bem quanto eu. Ou Chino, caso ele
apareça por aqui.
— Pai...
— Sim, Lucas. Não tem o que ver aqui. Já viu sua avó?
— Sim. Tem uma hora que voltei da sua casa, ela ficou pedindo
desculpas sem parar, pelo o que as filhas fizeram, principalmente por
terem feito contra mim.
— Mas é melhor deixar tudo claro. Está nas suas mãos, Lucas.
— Não decepcionarei.
ANDREZA
— Então, na fazenda ele foi muito solicito. Eu achei que era apenas
educação, mas me olhava demais. Aí nesse temporal super rolou. Agora só
— Uai, vocês são tão próximos, grudados, vai que amizade vire
amor?
— Ele é. — concordo com ela. — Arisco que só, mas é gente boa.
Acho que ela é grata por ter sido salva, mas não está bem para ficar. No
afastar. Mas acho que ela voltará quando tudo terminar. Tipo o que
aconteceu com vocês após a morte de Katya e Miguel. Foram para o
Azerbaijão, tentar respirar fora de toda essa angustia. E olha onde estamos
agora, todas reunidas.
— Ah, tem isso. Mas creio que Anthony Garcia não será relutante.
mercenários, aproveitadores, mas será que eles farão isso mesmo? Será que
o Distrito não exigirá menos do que vocês imaginam? Podem pensar
horrores deles e no fim ser algo bem mais simples.
tem a Veintitrés. Se Nacho der para trás, ele tem mais força.
— Então?
— Se Nacho soubesse...
— Ele tem que agradecer porque estamos tratando sua filha muito
bem. Inclusive, ela já consegue se manter um pouco em pé. Ela treina pela
manhã, hoje eu a vi com a Denise.
(...)
— Você negociou com o Nacho? — a surpresa é evidente na voz
do meu pai. — E ele aceitou?
— Júlio continua?
apoio em tudo? Não, nunca imaginei isso de Jorge. Ele era melhor amigo
de Cássio, e quando descobrimos as merdas que Jorge fez, ele já era a
pessoa que perturbava o Cássio, que tentava humilha-lo. Mas não quero
falar disso. — volta a sorrir. — Então estou perdendo minha filha para San
José?
— Dote.
Veintitrés.
Distrito para uma reunião. Vocês têm suas drogas, certo? — Lucas
confirma. — Podemos cobrar alguns valores para repassarmos a outros
locais, rotas. É isso, nada de mais.
uma Garcia, e acho até que Helena está se bandeando para esse lado, eu
prezo mais pelo bem estar e harmonia de todos. Só peço para que algumas
pessoas do Distrito possam ficar por aqui, para serem meus operadores,
para firmarmos melhor. E se alguém precisar ficar do lado de lá, sem
problema também.
que a Candelária seria espaço para a Veintitrés, porém, pediu para que eles
pudessem andar por lá sem serem ameaçados. Porque se vocês podem
entrar aqui, eles também podem entrar por lá.
Lucas aperta.
Faz três dias que Lucas voltou para sua casa de antigamente, uma
das suas casas.
Lucas me abraça.
— Não.
— Já olhou as paredes?
— Sim, Rene!
— Yazid, venha cá! — ele vai até Rene, que está com o ouvido
colado na parede. — Olhe, tem uma parte oca. Pequena, mas é oca.
Eles quebram a parede, e uma parte branca surge. É então que eles
quebram ainda mais e percebem que a parede não é oca ao todo, porque
tem concreto para cobrir, e, por algum motivo, o concreto não pegou nessa
parte.
interrompe o outro homem. — E pode relaxar, não precisa suar frio. Daqui
eu consigo ver sua testa brilhando. Não dedurarei você, mas para que isso
aconteça, precisa me ajudar. Eu ajudo quem me ajuda, essa é a regra.
— Porém, eu sei o que faz. Sei muito bem sobre seu negócio. Eu te
— Então seu medo não é que todos saibam o que faz, é sobre o
Distrito. Eu tenho dinheiro, muito. Não vou deixar tudo o que construí por
causa deles. Eu tenho apoiadores. Só preciso montar um teatro perfeito, e
— Mas teve ajuda durante anos. E agora não tem nada. Está
perdido.
AMAZON...
Presa a você
Torço para que, um dia, o dinheiro não fale tão alto como hoje em
dia.
homens a sua volta também riem e eles falam algo um com outro.
Eu estremeço.
mão para frente, ele até chega a me tocar, mas eu dou um passo para trás e
me esbarro novamente no cara das ''mãozinhas''.
Justiceira social.
Ah, Katleen, por que foi dar uma de heroína? Era só sair correndo,
não precisava furar o cara e ainda atropelar depois!
— A única que prosseguiu nessa sandice não durou três dias presa,
Katleen. Ela também não aguentou o presídio e pediu para sair. Não vale a
pena.
— Uma puta feia que vai foder a tua vida. — fico séria. — Você
vai pagar por tudo. Você pode ter ameaçado as outras vítimas, a última
menina pode não ter suportado ficar presa e te liberou da prisão, mas eu
não. Eu posso esperar anos aqui pelo nosso julgamento, mas eu vou foder
sua vida todinha, Yure. Em nome de todas as suas vítimas que devem estar
em tratamento psicológico até hoje. O seu dinheiro não vai te livrar disso.
— Katleen, acorda, a minha última menina era mais dura que você
e não durou mais de três dias no inferno do presídio, e o dela era melhor
que essa merda de lugar. Acha mesmo que a futura pedagoga vai aguentar?
— ele tenta me tocar, mas eu bato em sua mão e ele ri. — Você está
sozinha, Katleen. Você se defendeu naquela noite porque eu estava
bêbado, mas aqui não, querida. Eu estarei bem sóbrio e eu pegarei você. E
sabe o melhor? Ninguém te salvará aqui, e você estará tão fraca, tão só, tão
sem dinheiro, que eu pegarei você, e sabe o que mais? Será com raiva,
um deles e ainda chamarei mais gente para esfolar seus orifícios. Eu juro,
Katleen, você pagará por tudo o que está me fazendo passar.
— Eu mato você antes. — minha ameaça é tão fraca que ele sorri.
Eu sei que sim, Yure pode fazer isso.
— Adora até que alguém pegue mais pesado que eu. Vai nessa,
professorinha, acorda para vida, tem gente pior que eu aqui.
— E por isso você tem medo. E por isso eu não retiro minha
queixa.
encaram.
Que?
É um inferno.
Então eu vejo meu algoz ali, o Yure, tendo que entregar a camisa e
o tênis a dois presidiários.
Eu por quase ter matado o homem que me estuprou. E ele por ter
me estuprado.
Sistema de merda!
A cada olhar na minha direção eu estremeço. A cada olhar, riso,
piadinhas, eu fico fraca.
mais quando precisará dele para sobreviver aqui. Eu mando aonde você vai
dormir. — olho para esse homem. Ele deve ter uns cinquenta anos, dentes
podres, cheiro ainda mais podre, olhar de maníaco sexual. — Seja rude
comigo, e essa boquinha servirá para algo. Mas se for gentil, eu serei gentil
quando entrar na sua garganta, talvez eu nem queira que vomite.
nesse local.
Foda-se a justiça!
— Quanto custa?
— Eu posso pagar.
— Posso sim!
— Que?
— Não...
foda, Alice.
— Jordan.
— Aquele cara...
— Ah, garota, você é tão bonitinha que chega a ser meigo. Você
sabe como. Bonita, está bem tratada, dentes brancos, pele bonita, está
cheirosa até agora, talvez não tenha DST, sabe o que quero dizer. Você é
nova nesse local, sabemos como conseguir a simpatia deles.
Renan!
Quem me garante?
— Sou um dos caras que vigia o local, mas que não vai se meter
nos assuntos ali de dentro. Se quiser denunciar um abuso, vai em frente.
Olho para o portão, minha chance de saída daqui. Depois olho para
o velho estuprador, que não tira os olhos de mim, e o arrepio de pavor vem
com força quando ele morde os lábios, coloca os dois dedos ao redor da
boca e depois faz o gesto com a língua, de ''lamber''. Depois olho para
Yure, quase pelado, espancado, totalmente humilhado.
— Por favor...
Sem dizer mais nada, sigo para escada que já havia descido
Eu preciso do Renan.
Anteriormente
— Tassia...
— Tassia...
festa hoje, e pelo que conheço do meu irmão, a porta estará aberta, todos
bêbados e aí eu pego minha bolsa, não é primeira vez que precisarei fazer
isso.
— Seria mais fácil se ele não te roubasse, se ele não ficasse perto
de você. — falo, olhando para a casa a alguns metros de distância,
totalmente caótica e com o som nas alturas.
— Sim, mas minha querida mãe é aquela mãe cega, besta, que acha
ok o filhinho dela ser um drogado inútil. E quando esse filho da mãe
morrer, ela vai chorar. ''Por que o meu filho? Por quê?'', sendo que o cara é
um ladrãozinho que vive fazendo merda!
Aí, eu não sei que tipo de mãe eu seria nessa situação. A mãe de
Tassia até que educou os filhos, o pai dela morreu há muitos anos, Sulivan
— Você sabe que eles não fazem piada sobre ser professora, e sim
com algumas alunas de pedagogia, assim como as de enfermagem que
também sofrem nas mãos deles. — Priscila continua. — Então, eles não
O pior é que tenho vinte e quatro anos e meus colegas tem mais que
isso, nem quando eu era adolescente o povo era tão idiota assim.
Meu coração bate tão acelerado que acho que vai sair do meu peito.
Yure é muito conhecido na faculdade, estuda ciências contábeis.
Ele é considerado bonito — não faz o meu tipo —, e tem dinheiro. Seus
pais são empresários importantes em San José. Não diria que são
milionários, mas tem muito dinheiro e influência em vários locais.
E por ter essa influência, esse filho da puta nunca paga por nada!
E o pior, todos sabem o que Yure faz, mas ele continua sendo
popular, tem retardadas que o endeusam, que estão loucas para transarem
com ele, e quem tem juízo, como eu, fica apavorada e quer sumir de algum
jeito quando ele se aproxima.
entrar no carro, era o Yure lá dentro. Ela tentou ir embora, mas ele o puxou
para dentro... Foi estupro em pleno fim da tarde, dentro de um carro, no
meio da rua. Ela foi estuprada, espancada, estrangulada e jogada na rua.
Quando a encontraram, chamaram a polícia. Alguém a reconheceu como
aluna da faculdade, então a polícia foi até o local e pronto. Chegaram ao
nome de Yure e o cara foi preso na faculdade mesmo.
que ela pare de tomar tantos remédios. E não, ela não aceita novas pessoas,
e eu e minhas amigas tentamos nos aproximar para ajudar, ela apenas
agradeceu e disse que estava bem assim. Uma mentira, claro, porque, no
momento, ela está internada em uma clínica psiquiátrica após a terceira
tentativa de suicídio, ela acredita que Yure vai mata-la. Estuprar e matar
depois. Sei que falam para ela que Yure está preso, que não fará mais isso.
Yure fez isso. E sei que fez mais três vezes após a sua prisão, e sei
que foi preso de novo, e solto novamente. Fora tudo o que ele deve ter
feito e as vítimas se calaram.
E o pior que Yure está a minha frente, e daqui que eu abra a porta
Escutei histórias que ele é bem forte para segurar uma pessoa,
como ele é rápido em agir...
— O que faz a essa hora aqui? — pronto, ele está a dois passos de
distância agora, e eu já sinto o cheiro do seu hálito de bebida
alcóolica. Ferrou! — Katleen, meninas não devem estar a essa hora na rua.
bebê...
Começo a lutar contra Yure, mas esse cara é forte demais. Dou
socos, mordidas, chutes, grito, mas o barulho naquela casa impede que
alguém escute o que acontece aqui, e o carro ao nosso lado impede
qualquer visão do que acontece.
Yure é maior, mais forte e luta muito melhor, mas não desistirei,
então sinto um beliscão no meu seio e a dor é como um choque e uma faca
pontiaguda sendo enfiada em mim.
Ele belisca ainda mais o meu mamilo e depois sinto uma lambida
em meu pescoço. Dou socos em sua cabeça, sinto algo molhado em minhas
mãos. Eu estou ferindo o Yure, mas nada faz com que ele pare. Ele morde
meu lábio e estica, quase arrancando.
Sinto o seu dedo entrando em mim. Então soco a sua cabeça com
mais força, mas nada o para, não tenho como mover minhas pernas. Ele me
imobilizou de um modo que minhas pernas estão bem abertas e não posso
mexê-las.
O grito dele nem se compara com o meu. O dele tem mais dor, é
tanta dor que ele para tudo e começa a gritar e a colocar a mão no local
onde enfiei a chave e já retirei. Só com um empurrão ele sai de cima de
mim.
Mas Yure ainda está bem, está em pé, ele pode correr atrás de mim.
Aproveito esse momento para correr...
E quando escuto isso, vejo aquela pedra bem a minha frente. Uma
pedra de tamanho médio. Pego a pedra, Yure já vem na minha direção e eu
bato com a pedra na sua cabeça. Ele cai ajoelhado, eu bato de novo com a
pedra.
Eu acelero para frente e esse demônio ainda tem força para correr
atrás do carro.
— O meu irmão planejou tudo, ele te daria ao Yure, mas que bom
que me atendeu, você está bem. Sulivan me trancou com a Priscila no
banheiro e perguntou de você, Yure também estava aqui, só que já chamei
a polícia...
— O que foi?
— Que?
Disponível na Amazon!
Livros da série ''Família
Garcia''
Perfil no Wattpad:
@ManueleCruz
Instagram:
@ManueleCruz97
Alguns livros da autora
6)
Série Estúpido:
Meu chefe estupidamente arrogante – Estúpido
(Livro 1)
2)