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A CIGARRA E AS FORMIGAS

Adaptação livre
da Fábula de Laveausier,
por Pablito Torres.

- Formigas trabalham em um campo, carregando alimentos para sua casa. Enquanto trabalham, uma cigarra
canta e as formigas, displicentemente, cantam acompanhando a melodia da cigarra.

FORMIGAS : UM, DOIS, TRÊS


SACOS DE FARINHA
QUANTRO, CINCO, SEIS
SACOS DE FEIJÃO
TRABALHANDO
VÃO AS FORMIGUINHAS
PARA ENCHER
DE COMIDA SEU PORÃO.

- A Cigarra, enquanto canta, observa as formigas trabalhando. A cigarra se aproxima das formigas.

CIGARRA: Olá, Dona Formiga ? Que lindo dia, não ?


FORMIGA I: Por enquanto o dia está lindo. Mas logo-logo o inverno chega.
FORMIGA II: Por falar em inverno ! A senhora não vai estocar comida para o inverno, não ?
CIGARRA: Estocar comida ?! Nós, cigarras, não costumamos fazer isso.
FORMIGA III: Mas deveriam. Afinal, o que vocês, cigarras, costumam fazer ?
CIGARRA: Ora, nós cantamos.

- A Formiga Chefe se aproxima.

FORMIGA CHEFE: Deixem de conversa e voltem ao trabalho. O inverno se aproxima.

- As formigas saem.

CIGARRA: Olá, Formiga chefe. Como vai ?


FORMIGA CHEFE: Trabalhando, trabalhando... E a senhora, não vai trabalhar não ?
CIGARRA: Cantar é meu oficio. Sou uma artista.
FORMIGA CHEFE: Artista ! Sei bem !
CIGARRA: Sim, sou uma artista. Cantar é o meu trabalho.
FORMIGA CHEFE: E desde quando cantar é trabalho ? A senhora é uma vadia. Não gosta de trabalhar.
CIGARRA: Isso não é verdade.
FORMIGA CHEFE: Claro que é. Enquanto nós nos matamos carregando mantimentos para nos alimentarmos
durante o inverno, o que a senhora faz ? Nada ! Fica aí, cantando.
CIGARRA: Mas esse é meu trabalho. Não é porque meu trabalho é diferente do seu, que ele é menos
importante.

- Uma formiga se aproxima.

FORMIGA IV: Formiga chefe, os sacos de mantimentos estão todos empilhados. O que devemos fazer agora ?
FORMIGA CHEFE: Continuem juntando mantimentos.
CIGARRA: Vou cantar uma música para vocês.
FORMIGA IV: Obrigado, Dona Cigarra.

- A Formiga IV sai.
FORMIGA CHEFE: Não precisamos de sua música. Precisamos, é de comida para nos alimentarmos durante o
inverno.
CIGARRA: Cruzes, Formiga chefe ! Para que tanta hostilidade ?
FORMIGA CHEFE: Eu quero ver o que a senhora vai fazer quando o inverno chegar. Já pensou nisso ?
CIGARRA: Ora, vou continuar cantando.
FORMIGA CHEFE: Formiguinhas, formiguinhas. Venham aqui.

- Entram as formigas I, II, III e IV.

FORMIGA I : A senhora chamou, Formiga chefe ?


FORMIGA CHEFE: Quero que digam a dona Cigarra como será o inverno este ano.
FORMIGA I: Esse inverno vai ser o pior dos últimos tempos.
FORMIGA II: Ouvi dizer que todas as plantações vão morrer por causa do frio.
FORMIGA III: Os rios vão congelar e todos vão sentir muito frio.
FORMIGA IV: Coitado de quem não tiver casa e comida para se garantir no inverno.
FORMIGA CHEFE: Está ouvindo, dona Cigarra ? E a senhora diz que vai continuar cantando! O Inverno vai
castigar a todos. E a senhora, vai é sentir muito frio e passar muita fome.
FORMIGA I: Dona Cigarra, a senhora pretende continuar cantando quando o inverno chegar ?
CIGARRA: Claro ! è isso que sei e que gosto de fazer. A minha música alegra a alma.
FORMIGA CHEFE: Mas não enche barriga. A Senhora vai é morrer de frio e de fome, se não tratar de arrumar
logo uma trabalho que lhe garanta casa e comida durante o inverno.
CIGARRA: Mas eu já disse que cantar é meu trabalho.
FORMIGA II: A Formiga chefe tem razão. Cantar não enche a barriga de ninguém. Música não alimenta.
CIGARRA: Pode não alimentar o corpo, mas alimenta a alma. O dia fica muito mais alegre quando tem música
pelo ar.
FORMIGA CHEFE: Quando o inverno chegar, eu quero ver a senhora continuar pensando assim.
CIGARRA: Saiba, Formiga chefe, que sou uma artista e me orgulho muito do meu trabalho. Ele pode até ser
diferente o seu, mas também é honesto e merecedor de respeito. Nós artistas trabalhamos entretendo pessoas
como vocês, para que seus dias sejam mais alegres. Mas vocês parecem não reconhecer isso. Ficam nos
discriminando e nos chamando de vagabundos. Saiba que a profissão de artista é tão digna e necessária quanto
qualquer outra profissão.
FORMIGA CHEFE: Não me venha com essa conversa fiada. A senhora deveria trabalhar como nó, formigas...
Atenção formiguinhas, ao trabalho.

- As formigas voltam a trabalhar num ritmo acelerado.

FORMIGAS : UM, DOIS, TRÊS


SACOS DE FARINHA
QUANTRO, CINCO, SEIS
SACOS DE FEIJÃO
TRABALHANDO
VÃO AS FORMIGUINHAS
PARA ENCHER
DE COMIDA SEU PORÃO.

- As formigas trabalham e a cigarra canta. Aos poucos, as formigas vão saindo de cena. A cigarra fica sozinha
ao centro do palco.

CIGARRA: Nossa ! O tempo está mudando. Tá ficando frio. Acho que o inverno tá chegando.

- A Cigarra, já sentindo muito frio, sai de cena. Entra o Inverno.

INVERNO: Eu sou i inverno. O senhor do frio. Vou congelar as águas, esfriar o vento, vou fazer com que
todos sintam muito frio. As plantas morrerão congeladas. Vai chover, vai nevar e ninguém na face da terra vai
se livrar do frio. Pobre daquele que não tiver abrigo. Vai sentir frio e vai passar fome.
- O Inverno sai de cena e a Cigarra volta, quase congelando.

CIGARRA: Nossa ! Está fazendo muito frio. Acho que vou congelar. Se eu não arrumar um lugar para me
abrigar, posso até morrer congelada. Também estou com fome e esse frio congelou todas as plantas. Está tudo
coberto de neve e eu não consigo nada para comer. Não sei o que vou fazer.

- A Cigarra anda de um lado para o outro procurando o que comer.

CIGARRA: Não encontro nada para comer. Preciso arranjar um jeito de me abrigar e me alimentar.

- A Cigarra pensa.

CIGARRA: Já sei ! Vou pedir abrigo pra as formigas.

- A Cigarra vai até uma extremidade do palco e bate palmas.

FORMIGA CHEFE: Quem está ai ?

- A Formiga chefe vem a cena atender o chamado.

CIGARRA: Sou eu, Formiga chefe. A Cigarra.


FORMIGA CHEFE: O que a senhora quer ?
CIGARRA: Está muito frio aqui fora. Estou precisando de um abrigo e de comida também.
FORMIGA CHEFE: Abrigo ?! Comida ?! A senhora passou todo o verão cantando por aí, sem se preocupar em
trabalhar e agora vem pra cá dizer que precisa de abrigo e de comida! Ora, vá se virar. Porque a senhora não
canta agora ?
CIGARRA: Eu até cantaria se não tivesse tão frio aqui fora e se eu não estivesse com tanta fome.
FORMIGA CHEFE: Por falta de viso não foi. Eu bem que disse a senhora para trabalhar. Mas não, a senhora
só queria saber de cantar. Eu lhe disse que o inverno seria muito frio, mas a senhora não quis me ouvir. Agora
vire-se.

- Formiga chefe vira as costas para a Cigarra que de cabeça baixa vai saindo de cena. As outras formigas vêem
à cena.

FORMIGA I: Quem estava aqui com a senhora, Formiga chefe ?


FORMIGA CHEFE: Ninguém! Ninguém! Voltem lá para dentro e comam.
FROMIGA II: Mas tá muito chato lá dentro.
FORMIGA III: É mesmo. Não existe nada para nos entreter. Para nos alegrar.
FORMIGA CHEFE: Deixem de reclamar. Vocês têm comida e isso é o que importa.

- A Formiga chefe sai de cena.

FORMIGA IV: Temos muita comida, mas não temos diversão.


FORMIGA I: Isso aqui tá parecendo até um velório de tanta tristeza. Quando era verão e a gente trabalhava, os
dias eram mais alegres.
FORMIGA II: Isso porque a Cigarra cantava para nos alegrar.
FORMIGA III: É mesmo ! Nunca me dei conta disso, mas quando a Cigarra cantava, sua música tornava
nossos dias mais alegres e nos dava ânimo para os dias de trabalho.
FORMIGA IV: Agora, sem a música da Cigarra, tudo fica muito triste e muito chato.

- As formigas em silencio se olham, tentando achar uma solução para seu problema.

FORMIGA IV: Tive uma idéia ! Por que a gente não chama a Cigarra para cantar aqui, pra gente ? Assim, isso
aqui ficaria mais alegre.
FORMIGA I: É uma ótima idéia.
FORMIGA II: Será que a Formiga chefe vai concordar com isso ?
FORMIGA III: A gente convence a ela.
FORMIGA IV: Vou chamá-la para gente falar com ela.

- A Formiga IV sai de cena e volta em seguida com a Formiga chefe.


FORMIGA CHEFE: O que vocês querem?
FORMIGA I: Nós estamos achando tudo aqui muito triste e chato.
FORMIGA II: Estivemos pensando que, no verão, quando a Cigarra cantava enquanto nós carregávamos
comida para o formigueiro, os dias eram mais alegres.
FORMIGA III: Queremos convidar a Cigarra para cantar aqui para a gente.
FORMIGA IV: Sua música nos alegra.
FORMIGA CHEFE: Convidar a Cigarra !? Mas ela é uma vadia.
FORMIGA IV: Não, Formiga chefe. Ela não é. Nós também pensávamos assim. Agora entendemos que o seu
trabalho é diferente nos nosso, mas, assim como o nosso, é muito importante.
FORMIGA CHEFE: Vocês não podem estar falando sério.
FORMIGA I: Estamos sim. Respeitamos o trabalho da Cigarra, porque agora nós entendemos que o trabalho do
artista é tão importante quanto qualquer outro.
FORMIGA II: É isso mesmo. Sem a arte a vida não teria a menor graça, e a arte é o trabalho do artista.
FORMIGA III: Vai dizer que senhora nunca admirou a música que a Cigarra cantava no dia a dia ?
FORMIGA CHEFE: Já... Mas...
FORMIGA IV: Não tem mais nem menos. Temos que admitir, e a senhora também, que a música da Cigarra
nos faz muita falta.
FORMIGA: Tudo bem ! Vocês me convenceram. Vão buscar a Cigarra que eu quero falar com ela.

- As Formigas saem de cena.

FORMIGA CHEFE: Sou obrigada a admitir que eu também gostava daquelas músicas que a Cigarra cantava.
Eu fui muito preconceituosa quando a discriminei pelo seu trabalho. No fundo, eu tinha era certa inveja. Acho
que com ela aqui, o ambiente vai ficar mais alegre.

- As formigas voltam com a Cigarra.

FORMIGA I: Dona Cigarra, a formiga chefe que falar com a senhora.


CIGARRA: Pode falar. Sou toda ouvidos.
FORMIGA CHEFE: Dona Cigarra, que me desculpe por tudo que eu disse a seu respeito. Agora reconheço o
valor do seu trabalho. A sua música está nos fazendo muita falta. Gostaria de contratá-la para cantar para nós
durante todo o inverno. Não podemos pagar muito, mas podemos lhe oferecer abrigo, comida e amizade, além
da garantia de que nossas portas lhe estarão sempre abertas.
CIGARRA: Formiga chefe, fico muito feliz por vocês reconhecerem e respeitarem o meu trabalho. Eu me
orgulho muito de ser uma artista e poder viver dignamente de sua arte, é tudo que todos os artistas desejam. Eu
aceito o seu convite e prometo cantar como nunca, para alegrar a todos e tornar os dias de inverno mais felizes
e divertidos. Agora, vamos cantar todos juntos.

- Todos cantam.

FIM

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