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A CARTA

Abre a luz. Actriz entra e senta-se, escrevendo uma carta.

Almada, tantos de Novembro de 1900 e meio.


Minha querida: É com a mão chorosa que eu seguro a caneta para te escrever. Há tanto
tempo que tu não escreves.. Porquê?
Ainda mais porque, não há muito tempo, tu dizias numa carta que me escreverias, se eu
não te escrevesse. O meu pai escreveu-me ontem e disse-me que te escreveu. Tu, pelo
contrário, não escreveste nem uma palavra para me dizer que ele te tinha escrito. Se tu me
tivesses escrito para me dizer que o meu pai te escreveu, eu teria escrito ao meu pai
dizendo que tu gostarias de lhe escrever, mas que, infelizmente, não tinhas tido tempo de
lhe escrever, senão já lhe terias escrito.
Tu não escreveste nenhuma carta a responder àquelas que eu te escrevi, pelo que eu penso
que essas histórias todas de escrituras são bem tristes. Se tu não soubesses ler, era outra
coisa, eu não te iria escrever de maneira nenhuma. Mas tu sabes escrever e não escreves
mesmo quando eu te escrevo.
Termino minha carta escrevendo-te na esperança de que tu me escrevas. Senão será a
última carta que te escrevo. Se desta vez não me escreveres, escreve-me ao menos para me
dizer que não me queres mesmo escrever. Assim, ficarei a saber porque é que nunca me
escreveste.
Desculpa a minha maneira de escrever, mas é que eu tenho uma espécie de artrite típica
dos que escrevem sempre. Isto acontece sempre que eu escrevo. Tu, evidentemente, não
terás isso nunca, porque nunca escreves. Cumprimentos e um beijo, tua

Júlia

A ENCADERNADORA

Sai Actriz CARTA, entra A ENCADERNADORA, marca um número no telefone. Entra


gravação: mensagem boas-vindas, música de espera (Para Elisa).

Porteiro – está, aqui é da companhia de construções.


Encadernadora – com quem estou a falar?
Porteiro – com o porteiro.
Encadernadora – aqui é a encadernadora. Eu queria avisar que os livros estão prontos e que
gostaria de os mandar entregar.
Porteiro – um momento.
Encadernadora – com certeza.
Música de espera
Secretária – está, aqui é a secretária da companhia de construções.
Encadernadora – aqui é a encadernadora. Eu queria avisar que os livros estão prontos e que
gostaria de os mandar entregar.
Secretária – um momentinho, por favor.
Encadernadora – sim, senhora.
Música de espera
Director – está, aqui é da gestão da companhia de construções.
Encadernadora – e aqui é a encadernadora. Eu gostaria de avisar que os livros que
mandaram encadernar já estão prontos. Posso mandar entregar?
Director – um momento que eu vou passar à administração.
Encadernadora – com certeza.
Música de espera
Administradora – está, aqui é da administração da companhia de construções.
Encadernadora – ah, é? Pois aqui é a encadernadora. Eu só quero saber se posso mandar
entregar os livros que já estão prontos.
Administradora – ligue para a extensão 33. Eles é que podem responder-lhe.
Música de espera
Extensão 33 – está, aqui é da companhia de construções.
Encadernadora – com quem estou a falar?
Extensão 33 – com a extensão 33.
Encadernadora – eu já disse isto várias vezes, mas vou dizer outra vez: os vossos livros, que
vieram para encadernar, já estão prontos. Posso mandar entregar?
Extensão 33 – só um momento que eu vou passar para a Engenheiro.
Encadernadora – quem?
Extensão 33 – A Engenheiro. Um momento.
Encadernadora – sim.
Música de espera
Engenheiro – aqui é a Engenheiro.
Encadernadora – aqui é a companhia de constru... aqui é a encadernadora. A companhia de
construções é que mandou encadernar 12 livros. Já estão prontos. Mando entregar?
Engenheiro – bem, eu não estou informada sobre o assunto.
Encadernadora – e então?...
Engenheiro – a senhora vai ter que perguntar à arquitecta. Aguarde na linha.
Encadernadora – Sim! Sim!
Música de espera
Arquitecta – está, aqui é a arquitecta.
Encadernadora – encadernadora. a encadernadora queria saber… eu quero saber, se
mando os livros que o engenheiro mandou dizer que estão prontos.
Arquitecta – isso quem pode responder é o director, mas ele não está na firma neste
momento.
Encadernadora – e onde é que ele anda?
Arquitecta – vou passar à directora.
Música de espera
Directora – sim, aqui é a directora.
Encadernadora – eu encadernei a senhora, não, eu encadernei os vossos livros que vão se
entregar e eu quero saber se eles se entregam agora, ou seu eu mando os 12 ou depois.
Directora – eu não me envolvo com essas coisas. Vou passar a chamada à secção 3.
Encadernadora – ah! Que bom!
Música de espera
Secção 3 – Está. Aqui é da secção 3.
Encadernadora – eu preciso perguntar aos livros do director se querem ir para aí hoje ou se
ficam os 12 aqui. já perguntei aos outros se sou a encadernadora e mandei perguntar à
secção 3.
Secção 3 – um minuto, vou passar à contabilidade.
Música de espera
Encadernadora – está, quem fala?
Contabilidade – companhia de construções, contabilidade.
Encadernadora – aqui são os livros do director da seção 3 do engenheiro que o arquitecto
não sabe se manda entregar.
Contabilidade – ah, sim, finalmente os livros estão prontos. Telefone amanhã de manhã
porque hoje já fechou o expediente.
Encadernadora – ah, com certeza, muito obrigada. E desculpe ligar a esta hora. (desliga).

Entra música separador (Lig lig lig lé.)


Sai a ENCADERNADORA, dta baixa
Dança: entram e saem esq. alta, trazem espelho, jarra com flores
Manuel e Rui entram dta. alta e deslocam mesa para cima e colocam-na paralela.
Deslocam cadeira e trazem outra cadeira. Saem dta. baixa. Sai a música.

A IDA AO TEATRO

Entra MARIDO dta alta, senta-se, lê o jornal; mulher entra precipitadamente esq alta.

MULHER - Adivinha o que a nossa vizinha me ofereceu... Adivinha o que ela me ofereceu?

MARIDO - Deixa de te portares como uma criança. Diz lá.

MULHER - Toma, olha. (entregando um papel) Dois bilhetes de teatro para o Fausto. Que é
que dizes?

MARIDO (estranhando) -E a que horas é que isso começa?

MULHER - Não sei.

MARIDO (sem olhar o bilhete) - Tá bom, começa às sete e meia.

MULHER (olhando o relógio) - Já são quinze prás sete. Não vamos estar prontos a tempo.

MARIDO - E ainda nem jantámos.

MULHER- O jantar está pronto.

MARIDO - Eu despacho-me rápido. É só o tempo de me pentear.

MULHER - Podes fazer isso depois, primeiro vamos comer. (Ela sai dta alta, o marido pega
num espelho e opõe à mesa; o espelho cai sempre. A mulher chega com pratos, talheres,
salsichas e batatas.)

MARIDO (com desdém) - O mesmo prato outra vez.

MULHER - Mas aqui nunca há outra coisa. (Há uma salsicha pra cada um. Ele pega ambas,
tira um metro do bolso das calças, mede as salsichas, dá a menor pra mulher e fica com a
maior.)

MULHER - Toma: batatas fritas. (Ela levanta-se e põe as batatas no prato dele. O marido
impede-a com a mão.)

MARIDO - Eu posso muito bem servir-me. (Os dois comem ruidosamente.)

MARIDO (lembrando-se) - E o rapaz? O que é que a gente faz com o rapaz quando ele voltar
do trabalho?

MULHER - Já pensei nisso. A gente deixa o jantar dele quente e antes de sair escrevemos
um bilhete. (levantando-se) Continua a comer, eu vou escrever. (Pega papel e lápis.) Vou
escrever que nós não estamos em casa.

MARIDO - Não precisas de escrever isso, ele vê. Tens de escrever que nós saímos.

MULHER - Mas é isso que eu queria dizer. Vou escrever que nós não estamos aqui, porque
saímos.

MARIDO - Escreve: "Almada, 20 de Novembro..."

MULHER - Não, vou escrever: "Querido..." (pára, confusa)

OS DOIS - Como é que ele se chama?

MULHER - Tu és o pai dele, devias saber como é que ele se chama.

MARIDO - Tu és a mãe dele. Tu é que devias saber.

MULHER - A gente chama-lhe sempre "rapaz"… Mas como é que ele se chama? (aflita) Ai,
Jesus, Maria, José. Ah. É José que ele se chama. Bom... "Meu caro José..."

MARIDO - Não podes escrever isso! Ele é meu também.

MULHER - Nesse caso vou escrever: "Nosso caro José..." (para o marido) a ver se me deixas
em paz, "Nosso caro José. O teu jantar está na cozinha, no forno. Aquece-o outra vez
porque pode arrefecer."

MARIDO (alarmado) - Pode arrefecer? Mas já estamos no Inverno, vai arrefecer mais?

MULHER - Estou a falar do jantar, que pode arrefecer quando estivermos no teatro.
MARIDO - Então, escreve: "...nós fomos ao..."

MULHER -"Caso o teatro esteja fechado, nós voltaremos, talvez certamente, para casa.
Recebe as saudações..."

MARIDO - "As mais respeitosas..."

MULHER - "Dos teus pais que saíram, assim como da tua mãe."

MARIDO - Mas a mãe já está incluída nos pais.

MULHER - E agora eu vou pôr ponto final, senão aquele imbecil vai continuar a ler.

MARIDO - Acrescenta: "No caso de preferires o jantar frio, não precisas de o aquecer."

MULHER - "Porque senão ele ficará muito quente." (levanta-se) Agora vamos deixar o
bilhete na mesa. (Ele põe o bilhete na mesa e coloca o vaso por cima.)

MULHER - Aí não pode ser. Com a jarra de flores ele vai pensar que é o aniversário dele.

MARIDO - Mas não é o aniversário dele.

MULHER - Mas isso vai confundi-lo. (O marido põe a carta no espelho.)

MARIDO - É sensacional, olha: ele entra, vai até ali, olha-se ao espelho e diz: que será esse
bilhete? E então vê o bilhete.

MULHER - E se ele não se olhar ao espelho? Ah, já sei! Eu vou escrever: "Quando chegares,
olha-te logo ao espelho para veres uma coisa." Bem, perdemos tanto tempo com o bilhete
que já vão dar sete horas. Felizmente o teatro só começa às oito.

MARIDO - Começa às sete e meia.

MULHER - Acho que vou lavar a loiça só amanhã de manhã, senão vai ficar muito tarde.

(Ele levanta a mesa. Ela sai dta. alta. Ele penteia-se cuidadosamente. A mulher volta com
um vestido castanho.)

MULHER - Mas tu estás vestido dessa maneira? Que camisa é essa?

MARIDO - É uma camisa de homem.

MULHER - Eu não saio contigo com essa camisa de maneira nenhuma. As pessoas vão
pensar que somos uns miseráveis.

MARIDO - Ah, não tem importância.


MULHER - Não senhor, vais tirar essa camisa já e vestir outra. Eu vou lá buscá-la. (Sai dta
alta.)

MARIDO - Nunca mais, nunca mais vou ao teatro. (Ele tira a roupa e fica só com a camisa.
Nesse momento entra a vizinha, esq. alta. Ao vê-lo só de camisa, dá um grito.)

MULHER (voltando) - Por que é que você não bate à porta antes de entrar? E tu vais ficar aí
parado, nu dessa maneira? Vai-te vestir no quarto. (Ele sai. À vizinha:) Agora estamos muito
ocupados; vamos ao teatro.

VIZINHA - Ah... desculpe incomodar; eu só queria um poucochinho de azeite para a salada.

MULHER - Você aparece sempre no pior momento. Além do mais está sempre a pedir
alguma coisa emprestada. (Vai buscar a garrafa de azeite.) Bom, quanto é que quer?

VIZINHA - Só uma gotinha (A mulher deita o azeite numa chávena: nesse instante o marido
volta, ainda com as calças na mão. Ao passar dá um encontrão no cotovelo da mulher, no
momento em que ela deita o azeite.)

MARIDO - Mas onde é que puseste a minha camisa? (O azeite entorna-se no vestido da
mulher.)

MULHER - Meu Deus do Céu! Só me faltava esta!

VIZINHA - Sinto muito, nem sei como me desculpar...

MULHER - O vestido todo estragado! Pelo menos é azeite, não vai ficar manchado.

VIZINHA - Muito obrigada... (Sai esq. alta.)

MARIDO - Mas afinal de contas onde está a minha camisa?

MULHER - Em cima da cadeira.

MARIDO - (Pega na camisa e vê que é uma camisa de criança.) Meu Deus, meu Deus... É
uma camisa de criança.

MULHER - É a única que estava no guarda-fatos.

MARIDO - Despacha-te, senão vamos atrasar-nos. (A mulher ajuda-o a vestir-se)

MULHER - Pronto!

MARIDO- Anda, anda. Tens os bilhetes?

MULHER - Não, tens tu.

MARIDO - Eu? (Começa a procurá-los)


MULHER - Eu dei-tos logo que cheguei.

MARIDO - Vais ver que caíram ao chão. (Procuram)

MARIDO - Estão aqui.

MULHER - Até que enfim! Deixa-me confirmar a que horas começa. Está aqui: oito em
ponto. Quem tinha razão, mais uma vez? Eu. As mulheres têm sempre razão. Está escrito
aqui no bilhete: o espectáculo tem início às oito em ponto.

MARIDO - É, tens razão. Início às oito em ponto, segunda-feira, 20 de Novembro.

MULHER - Como? Segunda -feira?

OS DOIS - Mas hoje é Domingo!

Música separador (Lig lig lig lé)


Saem MARIDO e MULHER dta. alta, levando coisas da mesa.
Dança: entram esq. alta, 2 levam as cadeiras e saem esq. alta, outros poem a mesa dta
alta, levam o que está na mesa, saem dta alta. Sai a música
Entra sons da tempestade (vento, chuva, trovoada, barulhos de rua, buzinas, travagens,
batidas de carros, conversas, gritos).

Entram ISABEL e JAIME esq. baixa

AÍ VEM O TEMPORAL

Isabel: Mas que ventania! Eu não disse que devias ter trazido o guarda‐chuva? Olha, já
começou a chover! E agora só temos o meu guarda-chuva!

Jaime: De que é que adianta um guarda-chuva neste vento, Isabel?

Isabel: Fica quieto e ata o pacote! Não, pelo cordão não. Vai desatar-se.

Jaime: Não vai nada desatar-se! [o pacote cai no chão]

Isabel: Viste? Eu não disse! Pega nesse pacote de uma vez, senão vai molhar-se!

Jaime: Dá-me o guarda-chuva! E pega no meu chapéu, que vai voar.

Isabel: ‐ O chapéu não voa, Jaime!

Jaime: Pega no meu chapéu, Isabel!

Isabel: Já peguei! Agora ata o pacote!

Jaime: Toma o guarda-chuva que eu vou atar o pacote.


Isabel: Toma o chapéu que eu ato o pacote.

Jaime: ‐ Pára, pára, pára! Vamos decidir quem faz o quê.

Isabel: Estou parada.

[A tempestade aumenta. Trovões]

Jaime: Uma tempestade horrorosa destas e nós parados no meio da rua!

Isabel: Jaime, se nós estivéssemos dentro de casa, a tempestade seria exactamente igual.

Jaime: Claro, Isabel, mas nós estaríamos secos.

Isabel: Se abrisses o guarda-chuva nós estaríamos secos.

Jaime: Então abre o teu guarda-chuva!

Isabel: Como, Jaime? Estamos no meio de um tufão! [Mais ventania]

Jaime: É mesmo! Está a relampejar. Vem aí um temporal!

Isabel: Quem é que vem? [Relâmpago]

Jaime: Surda! Eu disse que vem aí um temporal!

Isabel: Quando?

Jaime: Agora!

Isabel: A que horas?

Jaime: Imediatamente! Já está a trovejar.

Isabel: Deixa trovejar. O trovão não é perigoso. O raio, sim. Do trovão a gente protege-se,
mas contra o raio não há defesa.

Jaime: Ai é??

Isabel: Claro, Jaime. Se o raio te acerta, ficas em carvão. [Trovão]

Jaime: Vamos escapar daqui antes do raio! Lá vem o 13.

Isabel: Ah, não. O 13 eu não apanho. Dá azar. [passa o autocarro]

Jaime: Pronto, lá vem o 28, que também serve. [passa outro autocarro] Cheio. Isabel, faz
alguma coisa, eu estou encharcado.

Isabel: O que é muito lógico. É impossível ficar seco na chuva.


Jaime: Então vamos para casa! Vamos ser razoáveis.

Isabel: As pessoas razoáveis foram para casa antes do temporal. Mas tu não és do tipo
razoável.

Jaime: Como?

Isabel: Se fosses razoável, já tinhas posto o chapéu. Pelo menos tinhas a cabeça seca.

Jaime: E por que é que tu não abres o guardachuva?

Isabel: Porque agora já estou toda molhada.

Jaime: Agora que estamos molhados, podemos ir para a casa a pé.

Isabel: ‐ Então pega no pacote e vamos.

Jaime: ‐ Enfim, tudo resolvido. [Saem dta alta]

Música separador (Lig lig lig lé)


Entra VENDEDORA centro (?) com os chapéus, põe-nos na mesa. Sai a música. Entra
CLIENTE esq. alta.

A LOJA DE CHAPÉUS

VENDEDORA - Bom dia, senhor. O que deseja?

VALENTIN - Um chapéu.

VENDEDORA -Que tipo de chapéu?

VALENTIN - Um chapéu para pôr na cabeça.

VENDEDORA - Certamente, meu senhor, um chapéu não é para vestir; usa-se sempre na
cabeça.

VALENTIN -Sempre, não. Na igreja, por exemplo, eu não posso usar o chapéu na cabeça. Eu
quero um chapéu que a gente ponha e possa tirar...

VENDEDORA - Todos os chapéus se podem pôr e tirar. O senhor quer um chapéu mais
flexível ou mais rígido?

VALENTIN - Quero um cinzento.

VENDEDORA- Eu queria dizer, de que género?

VALENTIN - Do género de cor pastel.


VENDEDORA - Discreto, quer dizer? Nós temos todos os tipos de modelos, tudo muito
elegante, de todas as cores. (mostra alguns chapéus)

VALENTIN - De todas as cores? Então quero um amarelo claro.

VENDEDORA - Um chapéu amarelo claro só vai conseguir encontrar no carnaval. Além do


mais eu não posso acreditar que o senhor vá usar um chapéu amarelo claro.

VALENTIN - Não é para usar, é para pôr na cabeça.

VENDEDORA- Com um chapéu amarelo claro, o senhor vai ficar ridículo.

VALENTIN - Mas os chapéus de palha são amarelo claro.

VENDEDORA- Ah, mas o senhor quer um chapéu de palha?

VALENTIN -Não! Os chapéus de palha são facilmente inflamáveis.

VENDEDORA (impaciente) - Bem, infelizmente ainda não os fabricam de amianto. Mas


vamos receber uns de feltro bem macios.

VALENTIN - O inconveniente dos chapéus de feltro é que a gente nunca ouve quando eles
caem no chão.

A VENDEDORA - Bem, então pode comprar um capacete de ferro, assim vai ouvir quando
ele cair.

VALENTlN - Sendo um civil, minha senhora, eu não tenho o direito de usar um capacete de
ferro.

VENDEDORA - O senhor vai ter de decidir que tipo de chapéu quer usar.

VALENTIN - Eu quero um chapéu novo.

VENDEDORA- É claro, meu senhor, aqui só trabalhamos com chapéus novos.

VALENTIN - Exactamente: quero um novo.

VENDEDORA- Sim, mas de que tipo?

VALENTIN - Um chapéu de homem.

VENDEDORA- Nós não fabricamos chapéus de senhora.

VALENTIN - Mas eu não quero um chapéu de senhora.

VENDEDORA (zangada) - O senhor é realmente uma pessoa difícil de atender. Eu vou


mostrar-lhe alguns modelos.
VALENTIN (nervoso) - Como alguns modelos? Eu só quero um! Eu só tenho uma cabeça.

VENDEDORA - Não. Eu vou mostrar-lhe vários modelos, para que o senhor possa escolher.

VALENTIN - Eu não estou a pedir para escolher, eu só quero um chapéu que me caia bem.

VENDEDORA - Certamente. É preciso que o chapéu lhe caia bem. Agora, se tiver a fineza de
me dizer qual a sua medida de cabeça, eu encontro um chapéu que lhe caia bem.

VALENTIN - A minha medida de cabeça? Eu tenho 55 de cabeça, mas quero um chapéu de


60.

VENDEDORA - Vai ficar muito grande…

VALENTIN - Mas, pelo menos fica bem preso. Se eu levar um número mais pequeno, ele vai
acabar por cair.

VENDEDORA - Desculpe, mas isso não faz o menor sentido: quando se tem um 55 de
medida, usa-se um chapéu 55. Sempre foi assim.

VALENTIN - Sempre? Isso é que é o mais triste. Os comerciantes recusam-se a mudar os


velhos hábitos; são incapazes de acompanhar os tempos modernos.

VENDEDORA - Qual é a relação entre uma medida de chapéu e os tempos modernos?

VALENTIN - Agora a senhora vai-me desculpar, mas as cabeças dos homens não
permanecem sempre exactamente iguais. Estão sempre a mudar.

VENDEDORA - Por dentro sim, mas por fora… Olhe, o meu conselho é que leve este aqui,
tamanho 55. Custa só 15 euros, é bonito, de óptima qualidade e ainda por cima, muito
moderno.

VALENTIN - Eu vou seguir o seu conselho, já que a senhora é uma especialista. Então a
senhora diz que este chapéu é muito moderno?

VENDEDORA - É. Enfim, o que é ser moderno hoje em dia? Há pessoas que saem sem usar
chapéu. Tanto faz ser Verão como Inverno, e dizem que isso é o que há de mais moderno.

VALENTIN - Ah, é? Quer dizer que o que há de mais moderno é não usar nenhum chapéu?
Sendo assim, não vou comprar nenhum. Até logo, minha senhora (sai esq. alta)

Música separador (Lig lig lig lé)


VENDEDORA sai dta. alta com chapéus.
Dança: Fernando e Manuel entram esq. alta e levam mesa para fora, pela dta alta; Rui e
Estácio entram esq. alta com o balcão do café com os adereços (portátil tb) e saem esq alta;
Fernando e Manuel trazem 1 mesa pequena e 2 bancos; António traz 2 bancos dta alta;
Fernando e Manuel trazem a outra mesa e 4 bancos. Cada um põe os seus adereços nas
mesas (vêm todos no balcão) e António, Fernando, Rui e Estácio ficam em cena. A música
sai quando estiverem todos sentados.
Entra Palmira esq. alta a cantar.

O CLIENTE TEM SEMPRE RAZÃO


Um café. Vê-se uma placa que diz “café do Preguiça”. O Sr. Preguiça está sentado ao
balcão. Numa mesa está um individuo bêbado a dormir rodeado de garrafas de cerveja.
Tem uma garrafa de cerveja na mão. Noutra mesa está outro individuo a ler um jornal.
Noutra mesa estão vários turistas muito animados, a beber cerveja.

Palmira: (entra, de auriculares, a cantar muito mal, dta alta)


Ai meu amor, meu amor
Porque é que em vez de porrada,
Não me dás uma flor?
Ai meu amor, meu amor
Porque é de em vez de porrada
Não me dás calor?

Durante a cantiga entra o Dr. Faustino da esq. Veste uma bata branca e traz um
estetoscópio. Senta-se.

Sr. Preguiça: Oh Palmira, chegou um cliente! Deixe-se de cantilenas e vá atender o senhor!

Palmira: (não ouve e continua a cantar) Ai que vida esta, valia mais… (Sr. Preguiça levanta-
se e tira-lhe os auriculares dos ouvidos) Ai senhor Preguiça!

Sr. Preguiça: Nem ai, nem ui! Chegou um cliente!

Palmira: Eu estava a cantar!

Sr. Preguiça: Você chama a isso cantar? Eu chamo poluição sonora!

Palmira: Canto assim tão mal?

Sr. Preguiça: (irónico) Não! (normal) Que ideia! Até espantou os clientes quase todos!

Palmira: Se não gostam de me ouvir cantar, problema deles!

Sr. Preguiça: Problema deles não, problema seu que incomoda os clientes! Se eles não
gostam de a ouvir cantar, a senhora não canta! Pois o cliente tem sempre razão!

Palmira: Ai é? Fique sabendo que ali o vizinho da frente diz que eu canto bem!

Sr. Preguiça: Fique sabendo que ali o vizinho da frente é surdo! E agora vá atender aquele
cliente que é para isso que lhe pago! (senta-se novamente)
Palmira: Não pode lá ir o senhor?

Sr. Preguiça: Eu? Era o que faltava! Vá lá você que é a empregada. Eu tenho mais que fazer!
Estou ocupadíssimo no facebook, a meter likes e a cuscar a vida dos outros.

Palmira: Mas eu estou a lavar a louça.

Sr. Preguiça: A louça fica para depois. Primeiro está o cliente!

Palmira: Mas o senhor no outro dia disse que não queria que eu deixasse um serviço por
fazer.

Sr. Preguiça: Mas isso é quando não há clientes para atender.

Palmira: Ah, ok!

Sr. Preguiça: Agora vá atender o cliente antes que eu perca a cabeça.

Palmira: Pronto está bem, não perca a cabeça que ela faz-lhe falta! (vai atender o Dr.
Faustino) Olá Dr. Faustino como está?

Dr. Faustino: Estou capaz de a esganar! Uma pessoa aqui à espera de ser atendido e a
senhora no paleio com o seu patrão!

Palmira: Ai que mau humor!

Dr. Faustino: Mau humor, não! Primeiro está o cliente, depois é que está o paleio.
Percebeu?

Palmira: Percebi! Percebi!

Dr. Faustino: Traga-me um café!

Palmira: Sim senhor! (vai a virar as costas)

Dr. Faustino: Frio!

Palmira: Está frio? Por acaso até está, mas se quiser desliga-se o ar condicionado.

Dr. Faustino: Mas para que é que vai desligar o ar condicionado?

Palmira: Então o senhor doutor disse que estava frio!

Dr. Faustino: Mas quem é que disse que estava frio? Eu quero é um café frio!

Palmira: Ah! Quer um café frio! Não estava a perceber!

Dr. Faustino: Também era de admirar se percebesse alguma coisa.


Palmira: Mas tem a certeza que quer um café frio?

Dr. Faustino: A Palmira faz cada pergunta! Claro que tenho a certeza que quero um café
frio, senão não lho estava a pedir.

Palmira: Pois, mas como não é costume pedir café frio…

Dr. Faustino: Mas hoje apetece-me um café frio. Não posso?

Palmira: Claro que pode!

Dr. Faustino: Então está à espera de quê?

Palmira: De nada! Só acho estranho beber um café frio!

Dr. Faustino: Você não está aqui para achar nada. Você está aqui para servir o que os
clientes pedirem, percebeu?

Sr. Preguiça: Oh Palmira, se o Dr. Faustino quer um café frio, serve-lhe um café frio e ponto
final. O cliente tem sempre razão, mulher.

Palmira: Pronto está bem! Vou-lhe servir um café frio! (entra no balcão e enche um copo de
vinho tinto)

(Toca o telemóvel do Dr. Faustino)

Dr. Faustino: Estou sim? / Olá Dona Gertrudes!/ Sim, é o próprio!/ Ir agora para o centro de
saúde? Era o que faltava, ainda agora de lá saí / Desculpe mas a senhora vai ter de esperar /
O que é que a Dona Gertrudes quer que eu faça? Já lhe disse que agora não vou para o
centro de saúde/ É uma urgência e depois?/ Sim, os enfermeiros estão no centro de saúde,
estão. Estão numa reunião de enfermeiros/ Ai só acaba lá para a noitinha…/ Então o que é
que a senhora quer que eu faça?/ Não me esteja atazanar a cabeça mulher! Mas o que é
que essa senhora tem para estar assim tão aflita? Está constipada é? Ai já sei! Está outra
vez com hemorróidas! / Ai não?/ Partiu a cabeça? Pensei que fosse mais grave. Olhe então
se partiu a cabeça cole-a, que eu agora estou no café. (desliga o telemóvel) Esta gente não
tem respeito por ninguém!

Palmira: Ora aqui tem o café frio! (põe o copo de vinho na mesa)

Dr. Faustino: Mas quem pediu isto?

Palmira: Foi o Dr. Faustino!

Dr. Faustino: Eu? Eu pedi um café frio, não foi um copo de vinho tinto.

Palmira: Mas um café frio é um copo de vinho tinto!

Dr. Faustino: Ouça lá, você está a brincar comigo?


Palmira: Eu não! Aqui a Palmira não brinca em serviço!

Dr. Faustino: O livro de reclamações! O livro de reclamações imediatamente!

Palmira: Já não dá para escrever mais nada no livro de reclamações, está cheio.

Dr. Faustino: Pois, claro que deve estar cheio! Você é uma incompetente, não serve os
clientes como deve ser.

Palmira: Não está a perceber! O livro não está cheio de reclamações, está cheio de riscos de
um miudito que veio aqui há bocado. Um malandro, aquele miúdo! Apanhou-me distraída,
entrou no balcão e toca a fazer disparates.

Dr. Faustino: É como você. Sempre que entra no balcão é só para fazer disparates.

Palmira: Eu não fiz disparate nenhum. O senhor doutor é que me pediu um café frio. Ora
aqui na terrinha, um café frio é um copo de vinho tinto!

Dr. Faustino: Pois, mas isso é para os bêbados sem nível nenhum que costumam frequentar
este café. Para mim, que sou uma pessoa com categoria, um café frio é um café numa
chávena fria. Percebeu?

Palmira: Ah! Podia ter dito logo!

Sr. Preguiça: Mas o que passa aqui? Será que uma pessoa já não pode estar o dia todo no
facebook em paz e sossegado?

Dr. Faustino: É a sua empregada. Pedi-lhe um café frio e serve-me um copo de vinho tinto.

Sr. Preguiça: Oh Palmira, por amor da santa. Será que você não dá uma para a caixa?

Palmira: Não dou uma para a caixa? Olhe que já lá meti alguns trocos! Não posso fazer
mais, os clientes não aparecem!

Sr. Preguiça: Mas o que é que você está para aí a dizer mulher? Eu queria dizer que não faz
nada de jeito!

Palmira: Ah! Pensei que se referisse á caixa registadora!

Sr. Preguiça: Pois, mas pensou mal. Pensa sempre tudo mal. Por isso é que só faz
disparates.

Palmira: Eu não tenho culpa, os clientes é que não fazem os pedidos como deve ser.

Dr. Faustino: Você é que não entende nada. Tem o cérebro de uma galinha retardada.

Palmira: Quem? Eu?


Dr. Faustino: Não. Sou eu!

Palmira: Ah! Ok! Você lá sabe!

Dr. Faustino: Mas sei o quê?

Palmira: Então, que tem o cérebro de uma galinha retardada!

Dr. Faustino: O que está para aí a dizer? Você está-me a insultar? É assim que trata os
clientes?

Palmira: O senhor doutor é que se insultou a si próprio!

Dr. Faustino: (levanta-se) Não suporto mais isto! Vou beber o meu café a outro lado!
Primeiro demora um ano para me atender, depois sou mal servido e agora sou insultado.

Sr. Preguiça: Oh Palmira, francamente! Não lhe ligue, Dr. Faustino, não lhe ligue! Ela não fez
por mal!

Dr. Faustino: Pois não. Fez por bem, se calhar.

Sr. Preguiça: Sente-se, Dr. Faustino, eu vou servir-lhe o seu café e fica por conta da casa.

Dr. Faustino: Não, não é preciso. Enquanto esta incompetente cá trabalhar eu não quero
mais nada daqui.

Sr. Preguiça: (suplicando) Não se vá embora Dr. Faustino! Não se vá embora!

(Faustino sai)

Sr. Preguiça: Viu o que fez? Por causa de si perdemos mais um cliente!

Palmira: Menos um para me chatear a cabeça.

Sr. Preguiça: É sempre a mesma coisa, mulher! Está farta de fazer asneira hoje. De manhã
serviu uma torrada toda preta a uma senhora, há bocado espantou os clientes todos com as
suas cantorias.

Palmira: Essa das torradas não tive a culpa. A senhora é que gosta delas bem torradas.

Sr. Preguiça: Ai Palmira! Palmira! Você não aprende. Tem que tratar bem os clientes! Senão
lá vai o negócio à vida!

(Senta-se novamente no balcão. Escreve no portátil, enquanto fala)

Caros Facebookeanos, perdi mais um cliente no meu café! (pára de escrever) Ena pá tantos
likes! Tanta gente feliz com a minha desgraça!
Sr. Custódio: Ó Palmira, tire-me aí um café.

Palmira vai tirar o café. Entra um rapaz. Usa óculos e traz uma mochila às costas.

Tópê: Palmira! Palmira! Atende-me depressa!

Palmira: Ó Tópê, agora não posso, estou ocupada!

Tópê: Vá lá, Palmira!

Palmira: Eu agora estou a tirar um café! Ou será que nem com quatro-olhos vês?

Tópê: Mas eu vou ter matemática daqui a nada.

Palmira: Então e depois?

Tópê: Se volto a levar falta, o meu pai corta-me o pescoço.

Palmira: Deus o ajude! Deus o ajude!

Sr. Preguiça: Oh Palmira porque é que não atende o Tópê?

Palmira: Eu agora não estou disponível.

Sr. Preguiça: Não está disponível? Para um cliente está-se sempre disponível, mesmo que
não se esteja.

Palmira: Mas…

Sr. Preguiça: Nem mas, nem meio mas. Se o rapaz quer ser atendido, a senhora atende e
mais nada. Pois o cliente tem sempre razão!

(Palmira bufa e vira-se para Tópê)

Palmira: Diz lá, o que queres?

Sr. Preguiça: Não é diz lá o que queres! É: o que deseja? E é com um sorriso nos lábios, não
é com essa cara de ovelha mal parida!

Palmira: (bufa novamente) O que deseja, Tópê?

Sr. Preguiça: Assim está melhor!

Sr. Custódio: Oh Palmira, o meu café sai hoje ou amanhã?

Sr. Preguiça: Então o café do Sr. Custódio?

Palmira: Está aqui!


Sr. Preguiça: Então porque é que não o vai levar à mesa?

Palmira: Porque o senhor não deixou!

Sr. Preguiça: Não deixei o quê? Vá levar o café ao homem! Está à espera de quê? Peço
desculpa, Sr. Custódio, mas esta rapariga anda com a cabeça na lua.

(Sr. Custódio abana a cabeça. Palmira leva o café ao senhor Custódio. Enquanto isso o Tópê
repara se está alguém a olhar, tira umas gomas do frasco das gomas e mete-as no bolso
das calças)

Palmira: Ora aqui tem o seu cafezinho!

(Palmira vai pôr o café na mesa, mas o sr. Custódio bate na chávena e Palmira entorna o
café para cima dele)

Sr. Custódio: (salta da cadeira) Olhe para isto! Sujou-me as calças todas! Agora quero ver
quem vai aturar a minha mulher!

Palmira: Desculpe, mas o senhor é que bateu com a mão na chávena.

Sr. Custódio: Foi para enxotar uma mosca!

Palmira: Ah! Está a ver?

Sr. Custódio: Estou a ver o quê? A mosca?

Palmira: Mas qual mosca? É a razão pela qual eu entornei o café. Se o senhor não tivesse
abanado a mão, nada disto teria acontecido.

Sr. Preguiça: (levanta-se) Mas o que aconteceu desta vez?

(O Tópê aproveita a confusão, tira mais umas gomas e mete-as no outro bolso das calças)

Sr. Custódio: Foi a sua empregada que entornou café para cima das minhas calças!

Palmira: Mas…

Sr. Preguiça: Oh Palmira, francamente! Outra vez a fazer asneira!

Palmira: Mas eu não tive a culpa. O senhor Custódio é que bateu na chávena.

Sr. Custódio: Tivesse desviado a chávena, olhem que esta!

Palmira: Ai eu é que devia ter desviado a chávena?

Sr. Preguiça: Pois devia sim senhor! O cliente tem sempre razão! Vá mas é buscar um pano
e traga outro café.
(Tópê repara que o Cabras está a dormir e tira-lhe a garrafa das mãos. Olha para dentro da
garrafa, bebe e volta a pô-la no mesmo sítio)

Sr. Custódio: Não! Já não quero café nenhum! Aliás, já não quero mais nada daqui!
(levanta-se) Vou passar o resto do dia noutro café!

Sr. Preguiça: Não faça isso, senhor Custódio. Deixe-se estar! O senhor é cliente da casa há
tanto tempo!

Sr. Custódio: Pois sou! Desde a semana passada! Mas estou farto da incompetência da sua
empregada. Adeus! Passem bem! (sai)

Sr. Preguiça: Está a ver o que você fez? Mais outro cliente que se foi embora por causa de
si!

Palmira: Eu não tive a culpa!

Sr. Preguiça: Pois! É sempre a mesma desculpa! Nunca tem a culpa! (senta-se e escreve no
portátil)

Caros Facebookeanos, a minha empregada entornou uma chávena de café para cima de um
cliente. E o cliente foi-se embora chateado!

(Palmira vai atender o Tópê)

Palmira: Diz lá o que queres, ó caixa de óculos?

Sr. Preguiça: (repreende) PALMIRA!

Palmira: Pronto está bem! (sorriso falso) O que é que deseja?

Tópê: Há Sumol de laranja?

Palmira: Claro que sim!

Tópê: Então dá-me um Sumol de ananás!

Palmira: Mau! Estás a brincar comigo ou quê? Queres de laranja ou ananás?

Tópê: Tanto faz!

Palmira: Então vai de ananás! (vai a virar costas)

Tópê: Olha, pensando bem, dá-me antes uma coca-cola fresquinha!

Palmira: Bem, tu decide-te!

Tópê: É a coca-cola! (Palmira vai a virar costas) Olha coca-cola, não! Dá-me antes uma
pastilha de 1€!

Palmira: Tu estás a gozar com a minha cara?

Tópê: Vá lá, dá-me a pastilha!

Palmira: Aqui tens!

Tópê: Quanto é que custa?

Palmira: Eu não acredito no que estou a ouvir! Nem sei como chegaste ao 10º ano com essa
inteligência de frango!

Tópê: Eu também não! Pergunta aos professores, eles é que me passam todos os anos.
Então, quanto é que custam as pastilhas?

Palmira: É 1 euro!

Tópê: 1 euro? É muito caro! Dá-me antes um copo de água. Quer dizer, não, não quero
nada!

Palmira: (irritada) Tu estás a gozar comigo? (atira-lhe com a pastilha) Toma! Podes ficar
com elas de borla!

(Tópê agarra na pastilha e sai)

Sr. Preguiça: O que é que você está a fazer?! Ficou maluca ou quê, rapariga? Atirar pastilhas
a um cliente?

Palmira: Ele estava gozar com a minha cara!

Sr. Preguiça: Estava a gozar consigo o quê? O rapaz é tão bem comportado, não faz mal a
uma mosca, ia lá gozar consigo? Você é que é tem mau feitio! (volta a escrever no portátil)
Caros Facebookeanos, a minha empregada expulsou um cliente do café, atirando-lhe com
pastilhas.

(Entretanto o Cabras acorda, leva a garrafa de cerveja á boca, mas está vazia. Vira o
gargalo para baixo, para se certificar que está mesmo vazia, abana a garrafa duas vezes)

Cabras: Olha! Está… está vazia! (para a Palmira) Ó da casa! Ó da casa! Outra… outra cerveja
aqui para o Cabras.

Palmira: Não há cerveja para ninguém! Acabou!

Cabras: O Cabras… o Cabras tem sede! O Cabras tem sede! Traga outra cerveja para o
Cabras se faz favor!

Palmira: Tens sede, bebe água!


Sr. Preguiça: Ó Palmira, dê uma cerveja ao Cabras, se faz favor!

Palmira: Mas ele está podre de bêbado!

Sr. Preguiça: Nem que estivesse em coma alcoólico profundo. Se o Cabras quer uma
cerveja, serve-lhe uma cerveja e ponto final. Pois ele é cliente, e o cliente tem sempre
razão! Mesmo que não tenha! Percebeu? Veja se encaixa isso na sua cabeça uma vez por
todas!

Palmira: Pronto! Está bem! Só acho que ele já bebeu muita cerveja hoje!

Sr. Preguiça: Melhor para nós! Quanto mais ele beber mais facturamos ao fim do dia. E
agora se me dá licença vou ali á casa de banho! (volta a escrever no portátil) Caros
facebookeanos, vou ter de vos deixar por uns minutos, pois vou á casa de banho!

(o Sr. Preguiça sai à esq. e Palmira serve uma cerveja ao Cabras. Entretanto os Espanhóis
levantam-se)

Espanhol: Senhora, senhora nós no queremos pagar!

Palmira: Não querem pagar? Não faz mal! Pois o cliente sempre razão, não é verdade? Vá
fiquem bem! Voltem sempre!

Espanhol: Gracias, senhorita!

(Espanhóis saem à esq., cantando. Palmira canta com os Espanhóis; o senhor Preguiça
entra)

Sr. Preguiça: Os Chineses já se foram embora?

Palmira: Chineses?

Sr. Preguiça: Sim, aqueles estrangeiros que estavam naquela mesa!

Palmira: Ah! Eles não eram Chineses, eram Espanhóis!

Sr. Preguiça: Tanto faz! Para mim é a mesma coisa, desde que paguem a despesa!

Palmira: Pois. Mas não pagaram!

Sr. Preguiça: Não pagaram? E deixou-os irem embora sem pagar?

Palmira: Então não é o Sr. Preguiça que diz que o cliente tem sempre razão?

Sr. Preguiça: (irritado) Palmira! Está despedida! Estou farto da sua incompetência!

Palmira: Ai estou despedida? Quero lá saber. Eu também não sou sua empregada!
Sr. Preguiça: Não é minha empregada? A senhora não é a Palmira?

Palmira: Não! Sou a irmã gémea!

Sr. Preguiça: Não sabia que a Palmira tinha uma irmã gémea!

Palmira: Pois tem! Desde pequenina! É que ela hoje não lhe apeteceu vir trabalhar, então
vim eu em vez dela.

Sr. Preguiça: Olha, a Palmira não quis vir trabalhar! Mas não faz mal. Eu também não sou o
patrão da Palmira.

Palmira: Ah! não é o Sr. Preguiça?

Sr. Preguiça: Não! Sou o irmão gémeo. É que ele hoje também não lhe apeteceu vir
trabalhar.

Música separador (Lig lig lig lé) Agradecimentos:

Lucinda + Fernando, Venâncio + Dália, Joaquina, Noémia + Estácio, Fátima M + Rui, Emília +
António, Fátima Lopes + Júlia + Manuel, Mª de Jesus + Mª José.

Música só sai no final dos aplausos

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