Você está na página 1de 10

Aula Prática 1 – Medidas e Expressão dos Resultados

Teoria abordada: Será evidenciado os cuidados na realização de medidas de sólidos e


líquidos; Expressão de medidas acompanhadas de suas incertezas; Aplicação do
tratamento estatístico para um conjunto de medidas.

1. OBJETIVOS

- Realizar medições de líquidos em vidrarias com diferentes graus de exatidão.


- Expressar o valor da medida acompanhada da incerteza.
- Calcular a propagação de incertezas.
- Avaliar o significado de média e desvio padrão.
- Diferenciar Exatidão e Precisão.

2. INTRODUÇÃO

2.1 Representação das medidas e Uso das Vidrarias

As experiências de laboratório em química, assim como em outras ciências quantitativas,


envolvem muito freqüentemente medidas de massa, volume e temperatura. Estes dados
são posteriormente tratados estatisticamente para uma avaliação do resultado obtido.
Para toda medida que realizamos temos uma incerteza envolvida e todo trabalho
experimental deve ter seus resultados expressos corretamente.

Medidas obtidas através de instrumentos envolvem erros e incertezas. Entre alguns


erros podemos citar: equívoco do analista, calibração malfeita, variações aleatórias e
incertezas nos resultados.

Um exemplo esta na leitura do volume de uma bureta. Como


representado na figura ao lado quando o menisco está entre as duas
unidades graduadas da bureta a leitura apresentará uma incerteza, ou seja,
um erro com relação ao valor real. Assim, está incerteza deve ser expressa
como (30,25 ± 0,05) mL. A unidade inexata e a unidade centesimal 30,25 , a
qual pode ser para mais ou para menos em 0,05 centésimos. Logo, o valor
obtido através da bureta apresenta uma faixa que esta entre 30,20 a 30,30
mL.

Os valores de incerteza podem ser obtidos através de cálculos ou informados pelo


fabricante do equipamento. Em sua maioria equipamentos denominados de volumétricos
apresentam a incerteza gravada no frasco, como balões volumétricos e pipetas
volumétricas. Vidrarias que não contém este dado, apresentam incerteza estimada, ou
seja, é o valor da menor medida dividido por dois. Em buretas que não apresentam a
incerteza impressa o cálculo é feito da seguinte maneira. Valor da menor unidade de
volume da bureta, 0,1 mL. A razão entre (0,1/2) fornece a incerteza do volume mensurado
o qual é 0,05 mL. A expressão correta do valor medido na bureta deve ser, por exemplo,
de (20,00 ± 0,05) mL. Para qualquer equipamento utilizado para obter uma determinada
medida a expressão da incerteza do valor dever estar presente junto ao valor encontrado.

Quanto maior o número de algarismos significativos na medida e menor a incerteza da


medida mais exata será o valor mensurado pelo equipamento.

2.2 Algarismos Significativos

A representação do volume da bureta acima 30,25 mL, como pode ser identificado,
levou em consideração duas casas decimais após a vírgula. Esta representação tem como
fundamento a identificação dos algarismos significativos os quais devem ser levados em
consideração na expressão do resultado. Os algarismos significativos em um número são
todos os dígitos certos (valores exatos) acompanhados de um dígito incerto (incerteza).
Por exemplo, quando se lê a escala de uma bureta de 50 mL verifica-se que a menor
unidade é 0,1 mL. Mas, como todo valor encontrado ele apresenta os dígitos exatos
seguido de um digito não exato (incerteza), o valor do volume de uma bureta deve ser
expresso com 4 algarismos significativos.

A contagem da quantidade de algarismos significativos em um valor é bastante


simples. A presença de zero em um valor pode ou não ser significativo, dependendo da sua
posição. Zeros cercados por outros dígitos são considerados significativos (tal como em
30,24 mL) por que é lido diretamente e com certeza. Por outro lado, zero que apenas
localizam a casa decimal para nós não são significativos. Um exemplo seria a expressão do
valor 30,24 mL como 0,03024L. O número de algarismos significativos continua sendo 4 e
os dois zero a esquerda no valor não são contabilizados como valores significativos. Assim,
todo o algarismo zero a esquerda de um algarismo diferente de zero será considerado não
significativo. A tabela 1 faz relação com um valor medido e numero de algarismos
significativos do valor.

Tabela 1 - Identificação do número de algarismos significativos expressos em alguns


valores

Valor medido Algarismos significativos

8,80 3

8,08 3

0,008 1

0,00808 3

8 x10-3 1

8,12 x 10-2 3

Resumindo:
- Zeros entre dígitos diferentes de zero são significativos;

- Zeros além do ponto decimal no final de um número são significativos;

- Zeros que precedem o 1º dígito diferente de zero não são significativos.

2.3 Algarismos significativos nos Cálculos Aritméticos

Algumas considerações devem ser levadas em consideração quando operações aritméticas


são aplicadas em valores com diferentes quantidades de algarismos significativos.

Adição e Subtração

Se os números ao serem somados e subtraídos têm o mesmo número de algarismos, a


resposta deve ter o mesmo número de casa decimais que os números envolvidos na
operação.

Exemplo: 1,362 x 10-4 + 3,111 x 10-4 = 4,473 x 10-4

Caso os números a serem somados não possuírem o mesmo número de algarismos


significativos, a resposta estará limitada pelo o número que tem o menor número de
algarismos significativos e de casas decimais. Por exemplo, a massa molecular do KrF 2 é
conhecida comente até a terceira casa decimal, pois a massa atômica do Kr apresenta 5
números significativos e três casas decimais, já o Flúor, 9 algarismos significativos e 7 casas
decimais.

Exemplo:

Massa Flúor = 18,9984032 g

Massa Kr = 83,798 g

Logo a massa molecular do KrF2 deve ser escrita como: 121,795 g/mol

Multiplicação e Divisão

Na multiplicação e divisão, o resultado obtido deve ser expresso em função do valor com o
menor número de algarismos significativos e de casas decimais, como realizado
anteriormente na subtração e soma.

Exemplo:

3,26 x 10-5 x 1,7802 = 5,80 x 10-5

2.4 Propagação da incerteza presentes nas medidas


Como relatado anteriormente as medidas apresentam incertezas. Estas incertezas devem
ser propagadas em função do calculo aritmético aplicado sobre os valores.

Adição e Subtração

Admita que se deseja realizar a seguinte soma, na qual as incertezas experimentais,


simbolizadas por e1 e e2, estão entre parênteses:

Exemplo: 1,76 ± (0,03)  e1

+ 1,89 ± (0,02)  e2

3,65 ± (?)  e3

Sabe-se que a soma aritmética é 3,65. Mas qual é a incerteza associada ao resultado?

Para as operações de adição e subtração, a incerteza na resposta (e3) é obtida a partir da


fórmula:

Exemplo: e3 = (e12 + e22 )1/2

e3 = 0,036

Assim o valor acima deve ser expresso como: (3,65 ± 0,04), acompanhado pela a unidade
de medida, metros, segundos, metros/segundos, etc. Atenção! O valor 0,036 da incerteza,
foi representado como 0,04, pois a incerteza deve ser escrita com apenas 1 algarismo
significativo, e como o valor após o número 3 é o 6, o algarismo 0,036, será arredonda
para 0,04.

Multiplicação e Divisão

Para a multiplicação e divisão, convertemos inicialmente todas as incertezas em incertezas


relativas. A incerteza relativa é a razão da incerteza pela valor da medida.

Incerteza relativa = (0,04/3,65) = 0,01

O cálculo da imprecisão para a multiplicação ou da divisão é dado pela equação a seguir:

Incerteza na multiplicação e na divisão:

e3 = ( (e1/M1)2 + (e2/M2) 2 )1/2

Onde, e é a imprecisão da medida e M é o valor da medida.

Dessa forma, o calculo da propagação do erro ou incerteza nas operações de multiplicação


e quociente, devem ser feitos da seguinte maneira:
Exemplo:

1,76 ± (0,03)  e1

x 1,89 ± (0,02)  e2

3,33 ± (?)  e3

Inicialmente, faz se a multiplicação dos fatores 1,76 e 1,89 e para identificar a incerteza do
resultado obtido, aplica-se a equação da incerteza para as operações de multiplicação e
divisão.

Exemplo: e3 = ((0,03/1,76)2 + (0,02/1,89)2 )1/2

e3 = 0,019

como a incerteza deve apresentar apenas 1 algarismo significativo o valor de e 3 será expresso
como:

e3 = 0,02

O resultado final mais a incerteza do exemplo, deve ser expresso como: ( 3,33 ± 0,02)
unidade.

2.5 Tratamento estatístico de dados experimentais

Quando um conjunto de resultados são obtidos através de análises quantitativas


(triplicatas) o uso do tratamento estatístico deve ser aplicado aos dados para obter os
valores de desvio padrão, média e intervalo de confiança.

Média Aritmética

A média aritmética representa o valor aproximado da análise realizada e possibilita


identificar o erro da análise. A média é obtida através da fórmula:

N
1
x̄= ∑ xi
N 1=i

A discrepância entre o resultado padrão (valor real) e o valor médio encontrado


leva ao erro da análise. Análises com considerável grau de exatidão devem conter erros
relativos menores que 3%.

Erros
Os erros cometidos em um experimento são classificados em erros sistemáticos e
aleatórios. O erro sistemático é causado por fontes identificáveis, e a princípio podem ser
eliminados ou compensados. Estes erros fazem com que as medidas feitas estejam
consistentemente acima ou abaixo do valor real, prejudicando a exatidão da medida.
Decorre de uma imperfeição no equipamento de medição ou no procedimento de
medição, pode ser devido a um equipamento não calibrado. O erro aleatório decorre de
fatores imprevisíveis. São flutuações, para cima ou para baixo, que fazem com que
aproximadamente a metade das medidas realizadas esteja desviada para mais, e a outra
metade esteja desviada para menos, afetando a precisão da medida. Decorre da limitação
do equipamento ou do procedimento de medição, que impede que medidas exatas sejam
tomadas. Nem sempre é possível identificar as fontes de erros aleatórios.

Os tipos de erros são calculados através das fórmulas expressas, a seguir:

X Valor médio encontrado experimentalmente.

R  Valor real

Erro Absoluto: e = X – R

Erro Relativo e = ((X – R)/R). 100%

Precisão e Exatidão

Precisão é quando, pressupõe-se que, se a análise para obtenção de resultados


quantitativos for repetida várias vezes a variação da mesma em relação ao valor médio é
baixa. Portanto, quando o conjunto de medidas realizadas se afasta muito da média, os
dados são pouco precisos e o conjunto de valores obtidos tem alta dispersão (Figura 1 (a,
b)). Quando os valores obtidos são próximos da média diz-se que há precisão dos dados é
alta (Figura 2 (c, d)). A exatidão tem relação com a existência de um conjunto valores que
apresentam o valor médio próximo ao valor real (Figura 1 (c, d)).

a) Baixa precisão e b) Baixa precisão e c) Alta precisão e d) Alta precisão e


baixa exatidão alta exatidão baixa exatidão alta exatidão

Figura 2: Representação da precisão e exatidão em medidas experimentais

A discrepância entre os valores obtidos pode ser identificada através do cálculo do


desvio. O desvio que iremos utilizar em nosso estudo é o desvio padrão. Este valor
possibilita identificar a discrepância entre os valores e afirmar se a análise realizada é
precisa ou imprecisa. A fórmula do desvio padrão (s) é representada, a seguir.

xi  valores encontrado experimentalmente.

x  média

N  número de medidas

O coeficiente de variação (CV) permite identificarmos a relação entre o desvio padrão em


função da média e relacionar o quanto os dados obtidos são preciso ou imprecisos, ou
seja, pode-se identificar se análise realizada foi precisa. Serão consideradas análises
precisas quando o coeficiente de variação for inferior ou igual a 5%.

3. PARTE EXPERIMENTAL

3.1 – Materiais

Materiais Reagentes
Provetas de 100 mL, 50 mL e 10 mL Água
Pipetas Volumétricas de 5 mL
Pipeta graduada de 5 mL
Béquer de 100 mL
Balão volumétrico de 50 mL
Bureta de 50 mL
Balança Marte
Pipetador

3.2 Procedimentos

a) Comparação de volumes medidos com a proveta e com o balão


volumétrico

1. Meça 50 mL de água em uma proveta adequada e transfira para um balão


volumétrico de 50 mL de capacidade.

2. Verifique se houve equivalência entre os volumes das vidrarias.


3. Complete 50 mL de água no balão volumétrico e transfira para a proveta de 50 mL

4. Verifique se houve equivalência entre os volumes do balão volumétrico e da


proveta.

5. Justifique a diferença entre os volumes medidos nas duas vidrarias.

Volumes (mL) Justificativa

Proveta:____________________________

Balão Volumétrico:___________________

b) Adição de Volumes medidos em instrumentos diferentes

1. Em uma proveta de 50 mL de capacidade, adicione consecutivamente:

- 5 mL de água medidos em uma pipeta volumétrica;

- 5 mL de água medidos em uma pipeta graduada;

- 5 mL de água medidos em uma bureta;

10 mL de água medidos em uma proveta.

2. Represente os volumes mensurados em cada uma das vidrarias com o número de


algarismos significativos corretos acompanhados da usa incerteza.

Instrumento Medida (mL)

Pipeta Volumétrica

Pipeta Graduada

Bureta

Proveta

Volume Total (somado)

3. Compare o valor somado dos volumes de cada instrumento com o volume


observado na proveta de 50 mL e justifique a diferença entre os dois valores.

Volume Total (somado)

Volume Observado na Proveta:

Justificativa:
c) Treino de Pesagem

1. Pese um béquer de 100 mL vazio e anote na tabela a seguir, a sua massa


considerando o número de algarismos significativos e a incerteza da
medida.

2. Adicione a este mesmo béquer, 50 mL de água medidos em uma proveta e


determine a massa do conjunto. Anote também a massa na tabela a
seguir.

3. Considerando que a densidade da água é 1,000 g.cm -3. Calcule o volume da


água através do seu peso.

Peso do béquer vazio

Peso do sistema béquer + água

Peso da água

Volume da água calculado pela


densidade

4. Compare o volume de água medido com o valor calculado. Justifique se


houve coincidência destes valores e as possíveis causas de erro.

Valor de água medido (cm3)

Valor de água calculado pela densidade (cm3)

Justificativa da diferença:

4. REFERÊNCIAS

KOTZ, J. C.; TREICHEL, P. M. Química Geral & Reações Químicas. São Paulo: Ed. Cengage
Learning (2008).

RUSSEL, J. B. Química Geral. São Paulo: Ed. Pearson Makron Books (1994).
MORTIMER, E. F; MACHADO, A. H. Química para o ensino médio. São Paulo: Scipione
(2002).

GIESBRECHT, E. Experiências de Química, Técnicas e Conceitos Básicos - PEQ - Projetos de


Ensino de Química. São Paulo: Ed. Moderna - Universidade de São Paulo (1982).

TRINDADE, D. F.; OLIVEIRA, F. P.; BANUTH, G. S.; BISPO, J. G. Química Básica Experimental.
SãoPaulo: Ed. Ícone (2006).

Você também pode gostar