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Universidade Estadual

de Londrina

BIOMEDICINA TURMA 6 -2007


Revisado pela
BIOMEDICINA TURMA 12 - 2013

1
ATLAS DE PATOLOGIA
GERAL
1ª. edição

Alexandre Haruo Inue


Ana Carolina Andrade
Ana Lívia Ferreira
Ana Paula Segantine Dornellas
Andressa Megumi Niwa
Diogo Campos Vesenick
Julie Massayo
Luana Soares Silva
Lucimara Sensiate
Mateus Prates Mori
Natália Aparecida de Paula
Nathália Maciel Maniezzo
Paola Bianca Barbosa Cavalin
Priscila Rumi Yamaoka
Raquely Moreira Lenzi
Silvia Emanoele Cestari
Simone Cristine Semprebom
Thiago Cesar Fujita
Vander Cardoso de Matos
Vinicius Antonio Hiroaki Sato

Orientadora: Profa. Dra. Alessandra L. Cecchini Armani

2007

2
ATLAS DE PATOLOGIA
GERAL
2ª. edição
Ana Camila V. Ferreira
Andressa Busetti Martins
Danilo Koiti Matsuda
Ellen Cristine Duarte Garcia
Fernanda Nogueira Tomiotto
Gabriella Pasqual Melo
Giovana Carvalho
Karina Maturana Pinheiro
Marcelly Chue Gonçalves
Marília Fernandes Manchope
Natalia Kimie Matsubara
Nichelle Antunes Vieira
Victor Hugo Clébis

Orientadora: Profa. Dra. Alessandra L. Cecchini Armani

2013

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INDEX – LAMINÁRIO
INTRODUÇÃO À PATOLOGIA

1. TUMEFAÇÃO TURVA
2. DEGENERAÇÃO HIDRÓPICA
3. ESTEATOSE HEPÁTICA
4. AMILOIDOSE
5. NECROSE HEPÁTICA CENTRO-LOBULAR
6. NECROSE RENAL
7. APOPTOSE
8. EDEMA AGUDO – CONGESTÃO DAS PAREDES ALVEOLARES
9. TROMBO EM VASO COM ATEROSCLEROSE
10. TROMBO COM INICIO DE RECANALIZAÇÃO
11. INFARTO PULMONAR
12. INFARTO ANÊMICO DO BAÇO
13. MIOCARDITE COM COLÔNIA DE BACTÉRIAS
14. INFLAMAÇÃO CRÔNICA (HEPATITE) E ESTEATOSE
15. TUBERCULOSE PULMONAR
16. HANSENÍASE VIRCHOWIANA DA PELE
17. BLASTOMICOSE NO BAÇO
18. BLASTOMICOSE DE PULMÃO
19. PNEUMONIA EM FASE DE HEPATIZAÇÃO CINZENTA
20. CICATRIZAÇÃO
20.1 CICATRIZAÇÃO POR PRIMEIRA INTENÇÃO
20.2 CICATRIZAÇÃO POR SEGUNDA INTENÇÃO
21. CARCINOMA BASOCELULAR
22. TUMOR DE WALKER-256
23. CÉLULA B16F10
24. METÁSTASES

INTRODUÇÃO À PATOLOGIA

O termo Patologia significa estudo (logos) das doenças (pathos). A Patologia pode ser
conceituada como a ciência que estuda as causas das doenças, os mecanismos que as produzem, as
sedes e as alterações morfológicas e funcionais que apresentam (Bogliolo Patologia, 7ª. ed., 2006). A
patologia tenta explicar a causa e os motivos dos sinais e sintomas que os pacientes manifestam
fornecendo meios de estudo e de tratamentos adequados (Robbins & Cotran Patologia, 7ª ed.1999).
Este Atlas se destina à elucidação das características de algumas doenças, bem como a explicação de
alguns mecanismos de desenvolvimento.
As degenerações são alterações morfológicas que uma célula apresenta e se restringem a
processos reversíveis. Para as microscopias de TUMEFAÇÃO TURVA, DEGENERAÇÃO
HIDRÓPICA, ESTEATOSE HEPÁTICA E AMILOIDOSE, o termo degeneração indica as lesões
reversíveis decorrentes de alterações bioquímicas que resultam no acúmulo de substâncias no interior
das células. Os itens de 1 a 4 explicam cada um desses casos separadamente.

1. TUMEFAÇÃO TURVA

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TUMEFAÇÃO TURVA e DEGENERAÇÃO HIDRÓPICA são sinonímias das lesões reversíveis
que apresentam a mesma alteração, definindo-se: é a lesão celular reversível caracterizada pelo
acúmulo de água e eletrólitos no interior da célula, tornando-a tumefeita e aumentada de volume. A
tumefação turva é considerada uma fase anterior a degeneração hidrópica.
Esse processo degenerativo atinge células parenquimatosas, principalmente dos rins, fígado e
coração. Os órgãos afetados por esse processo apresentam como alterações macroscópicas um aumento
de volume (devido ao aumento do volume das células) e palidez (devido à compressão dos vasos).
Microscopicamente podemos encontrar alterações como inchaço das células, organelas distendidas ou
rompidas, deslocamento do núcleo e citoplasma mais. Á microscopia ótica as células apresentam-se
tumefeitas e são mais turvas.
A célula que apresenta a tumefação turva possui vacúolos de água menores e um menor inchaço
quando comparada a uma célula já em um processo de degeneração hidrópica.
Pode ser causada por vários distúrbios diferentes, mas podemos destacar: infecção aguda, agentes
tóxicos endógenos ou exógenos e hipóxia. Como toda degeneração, este é um processo reversível,
desde que cesse o agente causador antes de a célula sofrer danos permanentes.
A B

Figura 1: Em (A) microscopia de rim normal, aumento de 10x. Em (B) microscopia de rim com
tumefação turva. Aumento de 10x.

2. DEGENERAÇÃO HIDRÓPICA

A tumefação turva evolui para degeneração hidrópica através do aumento do volume de água e
eletrólitos no interior da célula devido á continuidade da lesão química ou tóxica, levando a alterações
bioquímicas, modificando a função da célula. Devido a essas alterações ocorre a diminuição da
atividade da bomba de Na+ e K+, fazendo com que haja um aumento do nível intracelular de Na+ e um
influxo de H2O na tentativa de restabelecer o equilíbrio eletrolítico. Como consequência também ocorre
diminuição da síntese proteica e entrada de Ca++ na célula.
Características macroscópicas:
• Aumento de volume tecidual;
• Tonalidade pálida;
• Perda da elasticidade do tecido;
• Brilho característico.

Características microscópicas:

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Células aumentadas de volume;

Núcleo deslocado para a periferia, resultado do acúmulo de água;

Presença de grânulos eosinofílicos;

Aumento do volume celular, com alteração da proporção citoplasma/núcleo e
vacuolização citoplasmática que aumenta de volume, freqüência e intensidade de acordo
com o estágio da lesão;
• Presença de figuras mielínicas (resíduos de organelas e proteínas precipitadas devido a
queda do pH intracelular).
Na TUMEFAÇÃO TURVA os vacúolos (organelas distendidas ou rompidas) são pequenos. Já na
DEGENERAÇÃO HIDRÓPICA há um aumento da quantidade de água no interior da célula com a
compartimentalização desta.

A B

Figura 2.1: Microscopia renal com (A) Degeneração hidrópica. Aumento 40x e (B) Degeneração
hidrópica. Aumento 20x.

3. ESTEATOSE HEPÁTICA

Esteatose é uma alteração degenerativa reversível que se refere à deposição de gorduras neutras
(mono, di e triglicerídios) no citoplasma de células parenquimatosas Ela também é chamada de
degeneração, infiltração ou metamorfose gordurosa, ou ainda esteatose de gorduras neutras. É
observado com maior freqüência no fígado, principal órgão envolvido no metabolismo lipídico, mas
também pode ocorrer no epitélio tubular renal, miocárdio, músculo esquelético e pâncreas.
A patogênese da esteatose no fígado ocorre a partir do metabolismo de lipídeos. O hepatócito
sintetiza lipídeos e os exporta para o tecido de armazenamento, que é o tecido adiposo. Se existe algum
comprometimento nas vias de metabolismo, aumento da síntese, dificuldade na utilização, transporte
ou excreção dos ácidos graxos, pode ocorrer o acúmulo destas gosduras. Os fatores que contribuem
para a instalação da esteatose são: desnutrição protéica, diabetes mellitus, anemia, difteria, etilismo,
intoxicação por tetracloreto de carbono, entre outros.
Em condições experimentais pode se induzir a esteatose por administração oral de tretracloreto de
carbono (CCl4). Um metabólito deste agente é um radical livre, que ataca principalmente as membranas
do retículo endoplasmático rugoso, dispersando os ribossomos e interferindo diretamente na síntese
proteica. O transporte dos triglicerídeos é feito por uma lipoproteína, VLDL, com o comprometimento
da síntese proteica não há produção da apoproteína, logo, o transporte para fora do hepatócito não
ocorre.

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O acúmulo de gordura ocorre no interior de vacúolos na célula, sendo que em estágios mais
avançados há o deslocamento do núcleo para periferia, formando uma estrutura histologicamente
conhecida como anel de Bacharel. Macroscopicamente, o fígado aumenta em volume e peso.
Para análise microscópica dos vacúolos com gordura recorre-se a corantes especiais como: sudan
IV ou Oil Red-O, os quais coram os lipídios em vermelho-alaranjado. Na coloração com HE
(hematoxilina e eosina) os lipídios são perdidos durante o processamento histológico e os vacúolos são
identificados por um espaço em branco no interior da célula (imagem negativa).

Figura 3.1: Fígado de rato com esteatose induzida por CCl4 (rato da esquerda, círculo). Com
parar a alteração da cor em relação ao fígado do rato normal (rato da direita).

Figura 3.2: Esteatose hepática. Nota-se uma desorganização do parênquima hepático devido ao
cúmulo de gordura e a presença de inúmeros vacúolos no interior dos hepatócitos. Aumento de 10x.

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Figura 3.3: Esteatose hepática em maior aumento. Observar os hepatócitos com um grande
vacúolo único de gordura e núcleo deslocado para periferia (estrutura conhecida como “anel de
bacharel”). Aumento de 40X.

4. AMILOIDOSE

Doenças que apresentam em comum a deposição de material protéico fibrilar (substância


amilóide), intracelularmente ou no interstício, pertencem a um grupo de lesões reversíveis chamado de
Amiloidose. Contrariamente ao próprio nome, a amiloidose não tem relação com o carboidrato amido e
sim com o acúmulo proteínas. O foco principal no estudo desse tipo de lesão é o auxílio no diagnóstico
de doenças.
Normalmente, as proteínas amilóides são produzidas em processo inflamatórios agudos gerais, e
não causam maiores conseqüências, apenas reduzem a função/metabolismo das células. A maioria das
proteínas que se acumulam são proteínas estruturais, e geralmente são aquelas que sofreram defeitos
em seu dobramento. Sistemas proteolíticos intracelulares, em células normais, degradam as proteínas
produzidas em grandes concentrações ou com esse tipo de defeito no seu dobramento.
Quando o acúmulo é extracelular, os macrófagos residentes são responsáveis pela degradação
dessas proteínas, não existe um sistema proteolítico específico no interstício.
As causas dessa lesão podem ser:
• Para que a proteína tenha a sua função correta ela necessita expor os aminoácidos
funcionais em uma conformação correta. O dobramento incorreto dessa proteína pode
acontecer devido ao defeito nas chaperoninas (proteínas que auxiliam na conformação
estrutural de proteínas recém produzidas). Assim, essa deficiência nas chaperoninas irá
permitir que proteínas com o dobramento incorreto permaneçam dessa forma, sem poder
então executar suas funções plenamente;
• Defeito em apenas um aminoácido (troca de aminoácido, por exemplo) irá
influenciar no dobramento. Essa proteína com a conformação incorreta não expõe o
aminoácido específico e o sistema ubiquitina-proteassoma não a reconhece para degradá-
la, ou o próprio sistema ubiquitina-proteassoma, sabendo que esse sistema é composto por
proteína, possui um aminoácido incorreto ou conformação errada não podendo realizar
seu trabalho;

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• Defeitos no macrófago causam acúmulo protéico extracelular, através de
alterações na capacidade fagocítica ou na capacidade de hidrólise. Exemplo: Doença
granulomatosa crônica – o macrófago possui uma alteração no gene que leva a ineficácia
na capacidade fagocítica.
A proteína amilóide se cora em corante vermelho congo e possui aspecto característico sobre luz
polarizada (birrefringência).

Figura 4.1: Amiloidose Hepática. Não é possível distinguir com clareza os lóbulos hepáticos,
observa-se uma densa massa eosinofílica e infiltrado proteíco fibrilar intracelularmente. Aumento
de 10x.

5. NECROSE HEPÁTICA CENTRO-LOBULAR

O termo necrose é utilizado para indicar morte celular ocorrida em um organismo vivo e seguida
de fenômeno de autólise. Sendo uma consequência comum de inflamações, processos degenerativos e
infiltrativos e também alterações circulatórias. É o resultado de uma lesão celular irreversível, quando
então o ponto de não retorno é ultrapassado, caracterizando a incapacidade de restauração do equilíbrio
homeostático.
As células necróticas são incapazes de manter a integridade da membrana e os seus conteúdos
extravasam. As enzimas responsáveis pela digestão da célula são derivadas dos lisossomos das próprias
células que estão morrendo ou dos lisossomos dos leucócitos que são recrutados como parte da reação
inflamatória das celular mortas.
Alterações nucleares:
• Picnose (gr. "" = espessamento): Redução de volume e aumento da basofilia, com
homogeneização do núcleo (Contração nuclear e condensação da cromatina);
• Cariorrexe (gr. "" = Ruptura): Ruptura em vários fragmentos, com distribuição
irregular da cromatina, acúmulo de grumos em torno da carioteca e posterior
desintegração em grupos amorfos com perda dos limites nucleares.
• Cariólise ou cromatólise (gr. "" = dissolução): Dissolução da cromatina por
hidrólise dos ácidos nucléicos gerando hipoacidez e redução da basofilia nuclear.
• Ausência de núcleos: Conseqüência da cariólise total.
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Figura 5.1: Necrose hepática centro lobular- Aumento de 10X

A figura 5.1 mostra as seguintes características: (a) Área do retângulo: área de necrose, perda da
morfologia celular e destruição dos sinusóides hepáticos; (b) Área do círculo: veia centro-lobular
hepática; (c) Células tumefeitas ao redor da veia centro-lobular; (d) Notar hemorragia por diabrose:
hemácias espalhadas devido à diabrose (digestão da parede dos vasos). Neste aumento não é possível
analisar as alterações nucleares.

6. NECROSE RENAL

A necrose, como explicado no tópico 5 (Necrose hepática centro-lobular) é um processo


patológico que ocorre somente no organismo vivo, em que a célula sofre o fenômeno de autólise,
obrigatoriamente com a presença de inflamação no tecido adjacente. Uma característica importante da
necrose é a perda da integridade nuclear, em que o núcleo sofre alterações, sendo elas a picnose
(condensação da cromatina, tornando o núcleo intensamente basófilo e bem menor que o normal), a
cariorrexe (fragmentação do núcleo com sua dispersão no citoplasma) e a cariólise (digestão da
cromatina, com desaparecimento da afinidade tintorial do núcleo).
Na necrose o dano às membranas é severo e o conteúdo celular sofre digestão enzimática e pode
extravasar para fora da célula. Constitui-se, portanto, no estágio final da lesão irreversível e pode ser
causada por isquemia, por exemplo. Algumas das características da célula na necrose: tumefação das
organelas; influxo intenso de cálcio para dentro da célula; perda de ATP, proteínas, enzimas,
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coenzimas e metabólitos; perda da permeabilidade plasmática e, como mencionado, inflamação. Ao
microscópio, as células possuem a presença de figuras de mielina e eosinofilia. Há, também, a perda da
estrutura original do tecido na área necrosada.
Há vários tipos de necrose, dentre eles:
• Coagulativa - ocorre em tecidos com irrigação terminal (coração, pâncreas, baço, supra
renal, rim).
• Liquefação - ocorre em tecidos moles, com grande quantidade de enzimas hidrolíticas
(cérebro, pâncreas, baço)
• Gangrena - ocorre em tecidos expostos, em contato com ar, bactérias.

Figura 6.1: Rim com necrose coagulativa. Os túbulos renais perdem sua morfologia original e as
células não apresentam núcleo normal.

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Figura 6.2: Rim normal com suas estruturas características.

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7. APOPTOSE

A apoptose é a via de morte celular que é regulada por um programa, no qual as células ativam
enzimas que degradam seu DNA nuclear e as proteínas citoplasmáticas, deixando intacta a membrana
da célula, e não ocorrendo a presença, importante, de inflamação. Esta característica de morte celular
ocorre na apoptose fisiológica, sendo que a apoptose patológica inclui alguns mecanismos distintos.
Portanto, ela de forma fisiológica (para eliminar células danosas) ou patológica, causada por
estímulos nocivos, lesão da célula por vírus, atrofia indesejáveis e células potencialmente patológica,
morte celular por neoplasias ou morte por razões indefinidas.

Figura 7.1: Epiderme de camungondo hairless com célula apoptótica (Sun burn cell) em evidência

8. EDEMA AGUDO – CONGESTÃO DAS PAREDES ALVEOLARES

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Edema: é o acúmulo de líquido no interstício ou em cavidades do organismo. Sua presença faz
diminuir a circulação do sangue, assim prejudicando a nutrição e eficiência dos tecidos.
O edema pulmonar é uma preocupação clínica comum, mais tipicamente no contexto de
insuficiência ventricular esquerda, mas também ocorre na insuficiência renal, síndrome de insuficiência
respiratória do adulto, infecções pulmonares e reações de hipersensibilidade.
Edema por aumento da pressão hidrostática capilar surge quando há aumento da pressão nos
capilares pulmonares (congestão das paredes alveolares). Condições patológicas que levam a falência
aguda ou crônica do ventrículo esquerdo (arritimias cardíacas, lesões na válva vitral ou perda da massa
ventricular funcional), com preservação relativa do débito cardíaco direito, elevam a pressão nos
capilares pulmonares e aumentam a movimentação de fluidos do compartimento intravascular para o
interstício. Caso esse fluxo ultrapasse a capacidade de drenagem intersticial, o fluido extravasado dos
capilares atinge a luz alveolar e compromete as trocas gasosas. Devido à isso, a formação de edema
pulmonar, devido à congestão das paredes alveolares, depende de dois fatores principais: quantidade de
fluído extravasado e capacidade de adaptação do sistema de drenagem linfática.
O acúmulo de líquidos no interstício causa redução da distennsibilidade pulmonar, prejudicando a
aeração; além disso, causa prejuízo nas trocas gasosas por causa do espessamento dos septos
(membrana de trocas), que ficam ainda mais prejudicadas com o acúmulo de líquidos e inundação dos
alvéolos, não permitindo o fluxo de ar. Pode haver também agressão endotelial, promovendo a
intensificação do edema.

Classificação:
1. De acordo com sua localização:
- Edema Localizado: Provocado por um fator que atua localmente;
- Edema Sistêmico ou Generalizado: Aumento de líquido intersticial em muitos (ou todos os)
órgãos.

2. De acordo com sua composição:


Microscopicamente, o edema pulmonar aparece como material hialino, homogêneo, na luz dos
alvéolos, podendo ser:
- Transudato: líquido com baixo conteúdo de proteínas (densidade <1,020 g/ml). Dá-se por
aumento na pressão hidrostática ou diminuição da pressão oncótica intravascular.
- Exsudato: líquido rico em proteínas (densidade > 1,020 g/ml). Dá-se por alterações da
permeabilidade da parede vascular ou por obstrução linfática.

Edema Agudo de Pulmão


É o caso mais grave da Congestão Pulmonar, também conhecida como Hiperemia Passiva. Nesse
caso, há redução da drenagem venosa, por obstrução intrínseca ou extrínseca de uma veia das paredes
alveolares (congestão localizada), ou por redução do retorno venoso, como acontece na insuficiência
cardíaca esquerda (congestão sistêmica). Este edema caracteriza-se como sendo um transudato,
enquanto que o edema resultante da reação inflamatória aguda é classificado como um exsudato.
Outros fatores, como aumento da pressão capilar, redução da pressão oncótica intravascular ou
agressão aos capilares contribuem para a formação do edema pulmonar.

- Inicialmente, o líquido se acumula nos septos interalveolares (onde normalmente não existem
vasos linfáticos).
- Se a causa persiste, o líquido passa para os alvéolos.
- Quando há agressão endotelial, ocorre também perda de proteínas, causando aumento da pressão
oncótica intersticial e intensificação do edema.
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Histologia: Os capilares alveolares encontram-se dilatados e os septos tornam-se alargados por edema
intersticial; em longo prazo, os septos sofrem fibrose e ficam espessados (Figura 5.1). Os alvéolos
apresentam precipitados de proteínas em seu interior, devido ao aumento da pressão do endotélio e
extravasamento das proteínas do sangue (Figura 7.2).

Figura 8.1: Corte histológico de pulmão com edema agudo. Em verde, o contorno de um alvéolo
dilatado, devido ao extravasamento de líquido intersticial em seu interior. O contorno em azul destaca
um alvéolo em tamanho e condições normais. Aumento de 10 X.

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Figura 8.2: Corte histológico de pulmão com edema agudo. Os pontos em rosa no interior dos
alvéolos são precipitados de proteínas plasmáticas (transudato). Aumento de 40X.

9. TROMBO EM VASO COM ATEROSCLEROSE

O termo ARTERIOSCLEROSE (etimologicamente endurecimento e espessamento das artérias) é


empregado para designar três doenças que cursam com espessamento e endurecimento da parede
arterial: (1) arteríolosclerose; (2) calcificação da média de Mönckeberg (arteriosclerose de
Mönckeberg) e (3) aterosclerose.
A OMS define a aterosclerose como a doença de artérias de grande ou médio calibre
caracterizada por alterações representadas pelo acúmulo, na íntima, de lipídeos, carboidratos
complexos, componentes do sangue, células e material intercelular.
A arteríolosclerose pode ser de dois tipos: (1) lesão hiperplásica ou lesão em casca de cebola,
sendo esta doença característica da hipertenção maligna, presente principalmente em artérias e
arteríolas renais que sofrem intensa hiperplasia da camada íntima, com redução da luz do vaso; (2)
hialina ou hialinose arteriolar, sendo esta vista mais comumente em hipertensão benigna e em diabetes
mellitus, onde ocorre a absorção da proteína do plasma para a camada íntima.
A arteriosclerose de Mönckeberg ocorre principalmente em indivíduos acima de 50 anos, mas é
clinicamente insignificante.
A Aterosclerose é definida como uma placa focal e fibrinogordurosa elevada na túnica íntima,
com núcleo central de lipídeos e capa fibrosa. Existem algumas teorias para explicar a patogenia desta
doença, e dentre elas, a mais aceita é a teoria da reação à agressão. Essa teoria cita que durante uma
lesão ou disfunção endotelial, surgem fatores mediadores do processo inflamatório (quimiotáticos), que
atraem para o tecido subendotelial macrófagos, e estes trariam consigo lipídeos (LDL), sendo então
chamados de células espumosas, por conterem vesículas de LDL. Não só seriam liberadas substâncias
de inflamação, mas também fatores de crescimento, que levariam à proliferação de células musculares
lisas.
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Aspectos Morfológicos: a aterosclerose acomete preferencialmente a camada íntima das artérias,
podendo afetar secundariamente, também a camada média. É composta com uma placa
fibrinogordurosa de 0,3 a 1,5 cm no centro do material gorduroso.
Nas microscopias apresentadas nas figuras a seguir, a artéria apresenta espessamento fibroso de
sua camada íntima contendo, de permeio, depósito de numerosos cristais de colesterol (vistos como
imagem negativa, após sua dissolução durante a preparação da lâmina). O lúmen da artéria, já reduzido
pelo processo aterosclerótico anterior, apresenta a instalação recente e superposta de um trombo,
diminuindo ainda mais a luz do vaso. Com isso, instala-se um processo de trombose arterial em vaso
com aterosclerose.
A trombose é uma solidificação com elementos do sangue, e pode ser desencadeada por uma
lesão endotelial de variadas causas, dentre elas, a aterosclerose. A trombogênese pode ser descrita pela
tríade de Virchow, onde inicialmente ocorre a lesão endotelial, seguida da alteração do fluxo laminar
devido à interrupção do fluxo, com consequente turbulência e diminuição da velocidade do mesmo, e,
por fim, a alteração da composição do sangue (aumento do número de plaquetas, de fatores de
coagulação, diminuição da atividade fibrinolítica e da antitrombina III).

T A

Figura 9.1: Vaso sanguíneo com placa de ateroma (A), trombo (T) e camada muscular (M)
visualizáveis. Aumento de 40X.

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T M
A

Figura 9.2: Vaso sanguíneo com espessamento da camada íntima devido à placa de ateroma (A),
trombo causando obstrução do lúmen do vaso (T) e camada muscular (M). Aumento de 10x.

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*

* *

T A

Figura 9.3: Vaso sanguíneo com placa de ateroma (A) e inúmeros depósitos de cristais de
colesterol (células espumosas) visto como imagens negativas na camada íntima (*). Percebe-se a
formação de um trombo (T) ocluindo o lúmen do vaso. Aumento de 40x.

10. TROMBO COM INICIO DE RECANALIZAÇÃO

Trombose é o processo patológico caracterizado pela formação de uma massa estruturada-


chamada de Trombo- com elementos figurados (como eritrócitos, leucócitos e plaquetas) no tecido
endotelial. Ele difere do Coágulo por este não ser estruturado nem formado endotélio; podendo surgir
mesmo após a morte.
A trombose resulta da ativação do processo da coagulação sanguínea, que pode ocorrer quando
existe: (1) lesão endotelial, fator este que sozinha pode iniciar a trombose (principalmente em casos ade
arterosclerose); (2) alteração do fluxo sanguíneo; (3) hipercoagulabilidade do sangue. A integridade do
revestimento vascular pelas células endoteliais, que produz fatores anticoagulantes, é essencial para a
manutenção da fluidez do sangue (chamada de hemostasia). Mas, na ocorrência uma lesão vascular, há
a redução do controle pelas células endoteliais (já que o revestimento endotelial foi perdido com a
lesão) e ativação da coagulação pelo contato direto do sangue com o conjuntivo subendotelial (via
intrínseca); ou pela ativação por fatores presentes no próprio plasma após a lesão (como o fator de
crescimento tecidual), caracterizando a via extrínseca; ocasionando na adesão e agregação plaquetária.
Entretanto, o aumento na intensidade de ação desse sistema, aliado à diminuição da velocidade
sanguínea (estase venosa); induz a formação do trombo em uma situação patológica, isto é, no interior
do vaso; logo, ao mesmo tempo em que exerce sua função selante, o trombo impede também o bom

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funcionamento dos vasos e da circulação sanguínea, tal a sua grande proporção. Daí o nome trombose,
indicativo de uma formação anormal do trombo no vaso.
A formação de trombos pode ocorrer em qualquer local dentro do sistema cardiovascular.
Apresentam dimensões e formato variáveis ditados por sua região de origem e pelas circunstancias que
conduziram seu desenvolvimento (Robbins, 1996).
Quase sempre, o trombo encontra-se superposto a uma lesão aterosclerótica, embora, mais
raramente, possam estar envolvidas outras formas de doença vascular, como vasculite aguda e lesão
traumática. Quando estes trombos apresentam uma mistura mais rica em hemácias são denominados de
trombos vermelhos, de coagulação ou estase; que ocorrem geralmente em veias pela adesão de
hemácias ao trombo.
No decorrer do processo, o trombo pode se desenvolver e criar estrutura. O caminho que o
trombo pode seguir consiste em:
• Propagação: o trombo pode propagar-se e terminar por levar à obstrução de algum vaso
fundamental;
• Embolização: os trombos podem ser fragmentados, e os fragmentos deslocados até regiões
distais da árvore vascular;
• Dissolução: O trombo pode ser removido por atividade fibrinolítica;
• Organização e Recanalização: os trombos podem induzir inflamação e fibrose
(organização) e terminar por serem recanalizados, ou pode-se ter a construção de um novo
endotélio sobre o trombo, removendo-o do vaso.
A recanalização em si é a organização das estruturas do vaso (como capilares) dentro do trombo.
Tal organização refere-se ao crescimento de tecido de granulação, de células musculares lisas,
subendoteliais e de células mesenquimatosas para o interior do trombo rico em fibrina. Com o tempo, o
trombo fica povoado por essas células e inicia-se a formação de pequenos canais capilares.
Esses canais capilares podem anastomosar-se para permitir o reestabelecimento do fluxo
sanguíneo, criando caminhos por onde o sangue pode fluir, e assim o(s) tecido(s) que teve (ou tiveram)
sua nutrição reduzida pelo trombo possa(m) recuperar parte da captação de nutrientes que tinha(m).

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Figura 10.1: Trombo com início de recanalização. Observam-se vasos que se formam dentro no trombo
(setas).

11. INFARTO PULMONAR

Infarto: Definição Geral

O infarto é caracterizado como uma área de necrose isquêmica causada por oclusão do
suprimento arterial ou da drenagem venosa em um determinado tecido (Robins & Cotran, 2010).
Grande parte da ocorrência de infarto é resultante da oclusão arterial trombótica ou embólica, e
ocasionalmente causado por outros mecanismos, como o vasoespasmo local, a hemorragia dentro de
uma placa ateromatosa ou compressão do vaso por ação extrínseca. Algumas causas incomuns incluem
a torção dos vasos (torção testicular ou no intestino), aprisionamento em um saco herniario, a ruptura
traumática ou compressão vascular por edema.
Os infartos têm enorme importância clínica. Nos Estados Unidos 40% dos óbitos são causados
por doenças cardiovasculares, sendo a maioria atribuível ao infarto do miocárdio ou cerebral.
Os infartos são classificados de acordo com a cor e a presença ou não de infecção, e podem ser:
brancos ou anêmicos (serão vistos mais adiante) e vermelhos ou hemorrágicos, sendo essa última forma
a mais predominante no infarto pulmonar.

Infarto Vermelho ou Hemorrágico


Infarto vermelho ou hemorrágico é aquele em que a região atingida tem cor vermelha justamente
pela intensa hemorragia que se forma na área de necrose. É encontrado em órgãos complacentes (p. ex.
22
pulmão); naqueles com irrigação dupla que permitem o fluxo sanguíneo, na zona necrótica, de um vaso
paralelo desobstruído; em tecidos previamente congestionados pelo fluxo lento; quando há a reperfusão
do local prévio de oclusão e necrose arteriais.
A área atingida no infarto vermelho possui a tendência de apresentar o formato de “cunha”, pois o
vaso ocluído aparece no ápice e a periferia do órgão forma a base, caracterizando essa forma. As cores
características da área atingida é vermelho-escura ou azulada, dura e saliente sobre a superfície do
órgão emal delimitada do tecido adjacente pela infiltração hemorrágica, além de, freqüentemente,
ocorrer a inflamação fibrinosa na área do infarto.

Etiopatogênese do Infarto Pulmonar

O infarto pulmonar é classicamente hemorrágico e tende a ser raro e jovem. Aproximadamente


três quartos de todos os infartos afetam os lobos inferiores e em mais da metade dos casos ocorrem
lesões múltiplas. Essas lesões se estendem para a periferia do pulmão em forma de cunha com o ápice
apontando na direção do hilo do pulmão. No infarto pulmonar ocorre a obstrução de ramos médios da
artéria pulmonar e as artérias brônquicas são incapazes de manter a irrigação. Nesse caso, a pressão do
sangue nas artérias brônquicas é incapaz de vencer a resistência pós-capilar aumentada pela congestão;
consequentemente, o fluxo pára e estabelece-se a anóxia com necrose e hemorragia da área
correspondente.
Clinicamente, o infarto pulmonar manifesta-se por crise aguda de dispnéia, dor torácica
ventilatório-dependete e hemoptise.

23
Figura 11.1: Área de hemorragia em um quadro de infarto pulmonar.
Observa-se claramente a difícil distinção entre a área enfartada e o tecido adjacente.

12. INFARTO ANÊMICO DO BAÇO

O infarto anêmico, ou branco, ocorre quando há obstrução arterial (infarto isquêmico) em órgãos
sólidos(pouco complascentes) com circulação terminal (com pouca ou nenhuma circulação colateral);
são tipicamente encontrados no coração, baço e rins, com necrose do tipo coagulativa. Como o
território de distribuição das artérias é em forma de cunha, com o ápice voltado para o interior do
órgão, os infartos também tendem a ter forma de cunha, com o ápice voltado para o ramo obstruído.
Macroscopicamente, o infarto branco se apresenta como uma área em forma de cunha com ápice
no ponto de obstrução vascular e base voltada para a superfície do órgão. A partir de 6 a 8 h ocorre uma
demarcação leucocitária. No 2° dia evidencia-se uma reação inflamatória / exsudativa de neutrófilos e
macrófagos (fagocitam restos celulares) e posteriormente forma-se tecido de granulação e cicatriz
fibrosa.

Figura 12.1: Infarto anêmico do Baço. Aumento de 40x.


As setas indicam a necrose coagulativa (observar a ausência de núcleos)

13. MIOCARDITE COM COLÔNIA DE BACTÉRIAS

Defini-se miocardite como: comprometimento miocárdico por processo inflamatório


acompanhado de agressão e intensa degeneração ou necrose das fibras miocárdicas.
Histologicamente, portanto, é definido pela presença de um infiltrado de células inflamatórias no
miocárdio. Tal infiltrado aparece em vista de distúrbios de hipersensibilidade ou antígenos (resultantes
de casos de septicemia- que ocorre por disseminação hematogênica- quanto de doenças autoimunes) no
miocárdio; entretanto, uma miocardite não constitui o foco principal da infecção, mas representa

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apenas o componente secundário. Casos de septicemia clássicos são casos de infecções por
meningococos, estafilococos ou pneumococos.
A miocardite, em sua fase aguda, é caracterizada pela dilatação dos vasos coronários e das
câmaras cardíacas. Então pode ocorrer a formação de edemas (que ao longo da doença se tornam
inflamatórios com a entrada de leucócitos) de abscessos. O abscesso caracteriza um caso inflamação
purulenta (ou seja, que formam pus) e é composto por uma camada central de pus formada pelo
estimulador da resposta cercado por macrófagos; uma camada periférica de leucócitos circundada por
uma membrana piogênica. A miocardite pode evoluir em uma pericardite no caso de extravasamento
dos estímulos pró-inflamatórios extravasarem para o pericárdio.
A miocardite pode ser assintomática ou resultar em sintomas como arritmias, diminuição da
respiração e retenção de líquidos, sendo o diagnóstico clínico e o tratamento por uso de
vasodilatadores, evitando a retenção nas câmaras cardíacas.

Figura 13.1: Corte histológico de coração com inflamação.


Observar ao redor do abscesso células cardíacas lesadas. Aumento de 40X.

14. INFLAMAÇÃO CRÔNICA (HEPATITE) E ESTEATOSE

O conceito de hepatite inclui o conjunto de lesões necróticas e inflamatórias que acometem o


fígado de modo difuso, embora com distribuição heterogênea, e que se expressam clinicamente por
icterícia, colúria, acolia fecal, astenia e outras manifestações sistêmicas. Hepatites são provocadas,
sobretudo por vírus e, menos frequentemente, por outras causas, como drogas, distúrbios auto-imunes e
transtornos metabólicos. ,

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A hepatite pode se manifestar das seguintes formas: (1) infecção assintomática; (2) hepatite aguda
(ictérica ou anictérica); (3) hepatite fulminante; (4) hepatite crônica; (5) portador assintomático e (6) o
pano de fundo para o virús da hepatite D
Em geral, é resultado da ação de um vírus. Menos frequentemente, a hepatite pode dever-se a
outras infecções virais, tais como a mononucleose infecciosa, febre amarela e infecção por
citomegalovírus. As principais causas da hepatite não viral são a esteato-hepatite alcoólica e
medicamentosa. No primeiro caso, a hepatite é causada por consumo excessivo de álcool. Gotículas
lipídicas pequenas acumulam-se nos hepatócitos, porém com a ingestão crônica, o acúmulo de lipídios
chega ao ponto de criar grandes glóbulos macrovesiculares claros, comprimindo e deslocando o núcleo
para a periferia do hepatócito. Essa transformação inicialmente é centro-lobular, mas pode atingir todo
o lóbulo nos casos intensos.
A hepatite aguda apresenta infiltrado de células inflamatórias, inicialmente mononucleares, que
pode não se limitar aos espaços-porta, “transbordando” para o parênquima periportal junto à placa
limitante lobular, mas geralmente sem lesão de hepatócitos da interface. Na hepatite aguda, a lesão dos
hepatócitos assume a forma de tumefação difusa (degerenação em balão), de modo que o citoplasma
parece estar vazio e contém apenas feixes esparsos de remanescentes citoplasmáticos. Um achado
inconstante é colestase, com tampões biliares nos canalículos e pigmentação castanha dos hepatócitos.
Esteatose é incomum, exceto com o HCV.
A hepatite autoimune (HAI) é uma doença causada por um distúrbio do sistema imunológico, que
passa a reconhecer as células do fígado (principalmente hepatócitos) como estranhas. A partir daí o
sistema imune desencadeia uma inflamação crônica, com destruição progressiva do fígado e a
formação de cicatrizes (fibrose). Sem o tratamento adequado em tempo, isso pode levar a progressão
para cirrose com suas complicações.
Na hepatite crônica há persistência de lesão hepática de natureza inflamatória associada a níveis
séricos elevados de aminotransferases por mais de 6 meses.O diagnóstico histológico de hepatite
crônica é reservado aos quadros de acomentimento difuso do fígado por infiltrado inflamatório portal..
As características histológicas da hepatite crônica variam de extremamente leves a graves. Nas formas
mais leves, a inflamação significativa limita-se aos tratos portais e consiste em linfócitos, macrófagos,
plasmócitos eventuais e raros neutrófilos ou eosinófilos. A marca da lesão hepática irreversível é o
depósito de tecido fibroso. No início, somente os tratos portais exibem fibrose aumentada, mas a
fibrose periportal ocorre com o tempo, seguida por conexão dos septos fibrosos entre lóbulos.
A perda continuada de hepatócitos e a fibrose resultam em cirrose, com septos fibrosos e nódulos
regenerativos de hepatócitos.
Esteato-Hepatite Alcoólica: Doença hepática gordurosa, podendo ou não ser por natureza
alcoóloca. Infiltrado celular no espaço porta, com macrófagos e linfócitos, mas principalmente
neutrófilos ao redor da veia centro lobular do fígado. Algumas células apresentam núcleos picnóticos,
característicos de processos necróticos dos hepatócitos. Destruição celular em razão de inflamação
ativa, desestruturação dos cordões de hepatócitos, assim como de sinusóides. Abundância de proteínas
e fibrina, que progressivamente levará à cirrose, que é a marca da lesão hepática irreversível. A
esteatose pode ser observada através dos glóbulos de gordura intracitoplasmáticos.
Hepatite alcoólica se caracteriza-se pelo seguinte:
Tumefação e necrose de hepatócitos. Focos isolados ou espalhados de células sofrem tumefação
e necrose. A tumefação resulta do acúmulo de gordura e água.
Cospúsculos de Mallory. Hepatócitos espalhados acumulam meadas emaranhadas de filamentos
intermediários de citoceratina e outras proteínas, visíveis como inclusões citoplasmáticas eosinofílicas
nos hepatócitos em degeneração.
Reação neutrofílica. Neutrófilos permeiam o lóbulo e acumulam-se ao redor de hepatócitos em
degeneração.
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Fibrose. A hepatite alcoólica quase sempre é acompanhada de fibrose sinusoidal e perivenular
acentuada; a fibrose periportal às vezes predomina, sobretudo com episódios repetidos de ingestão de
alcoólica.

Veia
centrolobular Inflitrado
perivascular
de células
inflamatórias

Figura 14.1: Corte histológico de fígado apresentando esteato-hepatite alcoólica, corada com
hematoxilina e eosina. Ao redor da veia centro-lobular, observa-se um infiltrado de células
(macrófagos, linfóticos e neutrófilos, indiferenciáveis nesse aumento). A gordura citoplasmática é vista
como vacúolos claros, representando a esteatose (setas vermelhas). Aumento de 10X.

15. TUBERCULOSE PULMONAR

É uma infecção crônica granulomatosa causada pelo Mycobacterium tuberculosis, um bacilo


álcool ácido resistente (BAAR). Este microrganismo instala-se preferencialmente no ápice do pulmão
onde a pressão de O2 é maior.
No tecido afetado ocorre a formação de granulomas, agregados microscópicos de macrófagos que
estão transformados em células de aparência epitelial circundado por leucócitos. Estas células
epitelióides podem se fundir formando a célula gigante de Langhans ou multinucleada.
Os granulomas podem ser de corpo estranho ou imunológicos, sendo que na tuberculose
pulmonar formam-se granulomas do tipo imunológicos também chamados de tubérculo, na qual há
acúmulo de fibras elásticas e matriz extracelular.

27
Na tuberculose primária, os pacientes são assintomáticos e as lesões sofrem fibrose e calcificação.
Já na secundária, que representa uma reativação de uma infecção antiga, as lesões são maiores.
Histologicamente observam-se os granulomas imunológicos e áreas de necrose caseosa. O termo
caseoso origina-se da aparência macroscópica (branco e semelhante a queijo) da área de necrose, típica
de tecido pulmonar. Diferentemente da necrose coagulativa, a arquitetura tecidual não é mantida. Para
identificação do microrganismo recorre-se à coloração de Ziehl-Nielsen.

Figura 15.1: Tuberculose pulmonar. A seta aponta um granuloma. Notar a grande área de necrose
caseosa (círculo), composta de células fragmentadas e coaguladas e restos granulares. Aumento de 40x.

16. HANSENÍASE VIRCHOWIANA DA PELE

A Hanseníase é uma doença infecciosa causada pelo Mycobasterium leprae, um bacilo Gram-
positivo e álcool-ácido-resistente (BAAR). Esse bacilo também possui um caráter lipídico, que leva a
sua visualização negativa em colorações de HE (dando aspecto espumoso às células de Virchow).
A Hanseníase pode se manifestar de várias formas, variando de indivíduo para indivíduo e no
decorrer do desenvolvimento da doença.
A Hanseníase Virchowiana, revela macrófagos incapazes de destruir os bacilos, permitindo sua
multiplicação citoplasmática. A epiderme mostra-se atrófica e retificada na maioria dos casos, tendo
faixa de derme subjacente desprovida de infiltrado inflamatório, denominado de faixa de Unna. Na
derme, encontram-se grandes grupamentos de macrófagos de citoplasma abundante e vacuolado,
estendendo-se à hipoderme. Há grande número de bacilos íntegros, isolados ou em globias, no interior
dos macrófagos, filetes nervosos, vasos, músculos eretores de pêlos, bainha de pêlos, etc. Em fase mais
avançada, o infiltrado mostra agrupamento de macrófagos de aspecto espumoso, chamadas células de
Virchow.

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Figura 16.1: Lâmina de Hanseníase Virchowiana da Pele. Nota-se claramente uma faixa de
colágeno (setas) logo abaixo da epiderme, onde não se encontra infiltrado celular. Esta faixa é chamada
de FAIXA DE UNNA. Coloração em HE. Aumento de 10X.

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Figura 16.2: Lâmina de Hanseníase Virchowiana da Pele. As setas indicam a faixa de Unna.
Nota-se macrófagos; células de Virchow (seta vermelha). Coloração em HE. Aumento de 10X.

Chamam a atenção acúmulos de macrófagos em todos os níveis da derme, mais notadamente na


porção superficial. Estas células têm citoplasma claro, finamente vacuolado e limites imprecisos, sendo
difícil individualizá-las. Nesta coloração (HE) não é possível ver, mas estes macrófagos têm o
citoplasma abarrotado de bacilos de Hansen formando acúmulos conhecidos como globias. Raramente
estas podem ser visualizadas como massas basófilas. O meio correto de ver os bacilos é com a
coloração de Ziehl-Nielsen. Os macrófagos fagocitam os bacilos e não conseguem destruí-los. Pelo
contrário, os bacilos proliferam no seu citoplasma, já que são parasitas intracelulares. Os macrófagos
ricos em bacilos de Hansen são chamados células de Virchow e caracterizam a forma virchowiana da
hanseníase (antigamente chamada de lepra lepromatosa). Não ocorrem só na pele, mas também em
nervos periféricos (local preferencialmente acometido tanto na hanseníase virchowiana como na
tuberculóide) e órgãos internos como o baço (estes, só na forma virchowiana). O termo 'leproma', hoje
em desuso, foi substituido por hansenoma. Os hansenomas são o nome dado clinicamente aos nódulos
subcutâneos salientes, resultantes do acúmulo de células de Virchow. Ocorrem na face (dando um
aspecto conhecido como fácies leonina), tronco e membros. Há também alopécia (queda de pelos e
cabelos) e madarose (perda dos supercílios). Além das alterações na derme, notar que a epiderme está
retificada (ou seja, o limite dermo-epidérmico, que normalmente é ondulado, perde estas ondulações
ficando plano; isto geralmente é evidência de atrofia da epiderme, no caso através de compressão pelos
hansenomas na derme).

17. BLASTOMICOSE NO BAÇO

A Paracoccidioidomicose ou Blastomicose Sul-Americana, também conhecida por Doença de


Lutz, é uma micose sistêmica causada pelo fungo dimórfico Paracoccidioides brasiliensis.
O Paracoccidioides brasiliensis, também conhecido por Blastomyces brasiliensis, tem como
forma sexual multicelular um bolor com micélios constituídos por hifas (filamentoso), mas no homem
adapta a forma unicelular levedura com multiplicação assexuada por germinação.
A paracoccidiomicose existe nas zonas rurais do Brasil e de outros países da América do Sul.
Afeta principalmente os agricultores que trabalham a terra que contém os seus esporos (produzidos pela
forma sexual livre). A infecção se dá pela inalação desses esporos infecciosos.
As leveduras localizam-se nos pulmões, sendo fagocitadas pelos macrófagos, (células de
Langhans) no interior dos quais o fungo sobrevive e se multiplica. Na maioria dos casos a infecção é
assintomática e o sistema imunológico destrói o invasor. Há freqüentemente formação de granulomas
que limitam a disseminação das leveduras.
A Blastomicose compreende uma inflamação granulomatosa, que é um padrão distinto de reação
inflamatória crônica. Caracteriza-se por acúmulo focal de macrófagos ativados, que geralmente
desenvolvem uma aparência epitelial. Possui padrão de resposta Th2, podendo haver um centro
necrótico e presença de infiltrado eosinofílico. Também ocorre a presença de neutrófilos no local da
inflamação. Nos cortes corados por hematoxilina eosina as células epitelióides apresentam citoplasma
granular rosa-pálido com perda dos limites celulares, geralmente parecendo que se fundem umas às
outras. O núcleo é menos denso do que dos linfócitos, oval ou alongado e a membrana nuclear pode
apresentar dobras. Frequentemente as células epitelióides se fundem para formar células gigantes na
periferia ou, algumas vezes, no centro do granuloma, que são chamadas Células Gigantes de Langhans.
Essas células gigantes podem alcançar diâmetros de 40 a 50 µm, tem grande quantidade de citoplasma,
onde ocorre um rearranjo do citoesqueleto, e contêm 20 ou mais pequenos núcleos periféricos.
30
Blastomicose no baço

Figura 17.1: Inflamação Granulomatosa no Baço (crônica). Em (a) observa-se corte histológico
do baço em menor aumento (4x), o qual mostra uma Célula Gigante de Langhans. Em (b) observa-se
(aumento de 40x) a Célula Gigante de Langhans com citoplasma homogêneo secretado pelos
macrófagos (fibrina, proteínas e metabólitos);, e na seta menor célula epitelióide agente infeccioso
isolado; e um infiltrado leucocitário formando uma espécie de colar (ausente nesta figura).

31
Figura 17.2 : Blastomicose de baço. Aumento 10X.

32
Figura 17.3: Corte Histológico de Pulmão evidenciando uma célula gigante de Langhans rodeada
por leucócitos. Aumento de 10X.

18. PNEUMONIA EM FASE DE HEPATIZAÇÃO CINZENTA

Pneumonia é a infecção do parênquima pulmonar, com quadro inflamatório característico. Pode ser
causada por diversos agentes infecciosos como bactérias, vírus, fungos, parasitas, além de terapia com
radiação, ingestão e inalação de substâncias químicas, porém a maioria das pneumonias é bacteriana. O
parênquima pulmonar está constantemente exposto à agressão de agentes infecciosos, porém consegue
manter-se estéril graças à eficácia de vários mecanismos de defesa do organismo, imunológicos e não
imunológicos. Quando os mecanismos de defesa “falham” ou quando o agente é demasiadamente
agressivo, surge o quadro infeccioso – pneumonia – em que os bronquíolos respiratórios e alvéolos são
preenchidos por exsudato inflamatório, levando ao comprometimento da função de troca gasosa.
A pneumonia pode ser classificada, tendo por base a sua distribuição anatômica, em três subtipos:
• Pneumonia lobar (disseminação inflamatória uniforme no parênquima dos lobos pulmonares);
• Pneumonia lobular ou broncopneumonia (focos inflamatórios no parênquima dos lóbulos
pulmonares);
• Pneumonia intersticial (inflamação do interstício pulmonar)
Segue abaixo uma microscopia de pneumonia lobar:

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Figura 18.1. Pneumonia em fase de hepatização cinzenta. A – alvéolos congestos, B – fibrina e
neutrófilos

A pneumonia lobar é comumente causada por Streptococcus pneumoniae. O lobo atingido consolida-se
de forma homogênea pela substituição do ar dos alvéolos e sacos alveolares por exsudato inflamatório,
enquanto as vias aéreas maiores permanecem permeáveis. Se não tratada, pode evoluir em quatro fases:
(1) inicial ou de congestão, em que há congestão intensa dos capilares septais e edema, presença de
poucos neutrófilos e numerosas bactérias nos alvéolos; (2) hepatização vermelha, quando os alvéolos
ficam repletos de exsudato inflamatório, fibrina e bactérias. O lobo então adquire consistência firme e
semelhante à do fígado (por isso o termo “hepatização”); (3) hepatização cinzenta, onde há um
aumento dos leucócitos e fibrina nos alvéolos, diminuição da congestão e desaparecimento das
bactérias; (4) fase de resolução, quando ocorre lise da fibrina e redução progressiva do exsudato,
permitindo a entrada de ar nos alvéolos. Caracteristicamente, na pneumonia lobar há preservação dos
septos alveolares.

19. CICATRIZAÇÃO

Cicatrização é o processo pelo qual um tecido lesado é substituído por tecido conjuntivo
vascularizado. Esse processo ocorre quer a lesão tenha sido traumática ou causada por necrose, sendo
que, em ambos os casos, segue-se a mesma sequência de eventos: (1) reação inflamatória; (2)
proliferação fibroblastica e endotelial (que vai formar o tecido conjutivo cicatricial); (3) remodelação
do tecido. Dependendo do tamanho da lesão e da ocorrência ou não da infecção ela pode ocorrer de
duas formas: cicatrização por primeira intenção, ou primária, e cicatrização por segunda intenção ou
secundária. Os dois itens que se seguem explicam esses dois processos.

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CICATRIZAÇÃO POR PRIMEIRA INTENÇÃO

A cicatrização de primeira intenção é mais rápida e forma cicatrizes menores no indivíduo. Ela
pode ser bem exemplificada pela seguinte circunstância: uma ferida na pele, cujas bordas foram
aproximadas por sutura e que não tenha sido infectada. A explicação desse processo de cicatrização se
dará com base nesse caso. Primeiro ocorre a instalação da resposta inflamatória no local lesado. Ela se
instala a partir de mediadores originados do coagulo de fibrina, das células que ficaram aprisionadas no
coagulo, do tecido conjuntivo da borda das feridas e das células epiteliais da margem da lesão, que são
principalmente TNF-α e IL-1. Essas moléculas fazem com que as células endoteliais exponham suas
moléculas de adesão (ICAM, VCAM e selectinas), o que vai favorecer a adesão dos leucócitos. Esses
leucócitos após cerca de 24h já são as células predominantes no exsudato inflamatório.
O coágulo começa a ser fagocitado por fagócitos, iniciando assim a produção do tecido
conjuntivo cicatricial e portanto a regeneração do epitélio. Uma peça importante desse processo são os
ceratinócitos, células da borda da ferida, que expõem os receptores CXCR 2, que induzem a produção
de citocinas, quimiocinase fatores de crescimento. Além disso, eles ainda se proliferam, se deslocam,
se prendem a matriz provisória de fibrina e começam a sintetizar a membrana basal, restabelecendo
assim uma ligação normal com a matriz extra celular (MEC).
Os fatores FGF-α e β e também o TGF-β e PDGF são responsáveis pela proliferação de
fibroblastos e ativação da síntese de componentes da MEC. Os fibroblastos proliferados vão se deslocar
e depositar os componentes da matriz, inicialmente com bastante poliglicanos e colágeno do tipo III,
com fibras finas. Forma-se assim uma MEC mais fluida e que permite a migração de células, assim
como a sua diferenciação. Simultaneamente a esse processo ocorre a formação de novos capilares.
Esse tecido recém formado, é frouxo, rico em capilares sanguíneos, contem leucócitos, MEC
formada por fibras colágenas finas, ácido hialurônico, além de uma quantidade moderada de
proteoglicanos, e é chamado de tecido de granulação.
Começa então a remodelação do tecido cicatricial. Ocorre o aumento da produção de colágeno
(em cerca de 2 semanas há o predomínio de fibras colágenas no local), proteoglicanas (principalmente
o ác. Hialuronico), ocorre predomínio de colágeno tipo I (que faz com que as fibras colágenas tornem-
se mais grossas, suprimindo os capilares e reduzindo seu numero), as células fagocitárias vão
desaparecendo. O tecido conjuntivo vai se tornando então mais denso e menos vascularizado.

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Figura 19.1. Cicatrização por primeira intenção. Aumento de 10x.

CICATRIZAÇÃO POR SEGUNDA INTENÇÃO

Cicatrização por segunda intenção é o tipo de cicatrização onde o tecido de granulação abundante
cresce a partir da margem para completar a reparação. Ela ocorre quando há uma perda excessiva de
células, em feridas grandes, onde as bordas do tecido ficam afastadas. Tem uma reação inflamatória
mais intensa do que a cicatrização por primeira intenção por ter maior coágulo de fibrina, detritos
necróticos e exsudato que devem ser removidos.
Diferentemente da cicatrização por primeira intenção, ocorre a contração da ferida feita pela ação dos
miofibroblastos (fibroblastos alterados com características de células musculares lisas).

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Figura 19.2. Cicatrização por segunda intenção. Aumento de 20x.

Figura 19.3. Cicatrização por segunda intenção. Aumento de 20x.

37
Figura 19.4. Cicatrização por segunda intenção. Aumento de 40x.

Alguns fatores podem interferir no processo de cicatrização como: idade (diminuição do colágeno),
nutrição, estado imunológico, oxigenação do tecido, diabetes ( menor síntese do colágeno e menor
oxigenação), tabagismo, hemorragia, tensão da ferida.

20. CARCINOMA BASOCELULAR

O carcinoma basocelular é a neoplasia maligna cutânea mais prevalente (75%). O termo


carcinoma é preferível a epitelioma, pois eles têm a capacidade de destruição local, em especial na
face.
Os carcinomas basocelulares são tumores comuns, de crescimento lento, que raramente sofrem
metástases. Tendem a ocorrer mais comumente em locais sujeitos à exposição crônica ao sol, sobretudo
a face, e excepcionalmente na região panmoplantar, ocorreem indivíduos de pigmentação clara e
indivíduos idosos, acima da 6ª década. A exemplo do de células escamosas, a incidência do carcinoma
basocelular aumenta acentuadamente com a imunossupressão e em pacientes com defeitos hereditários,
replicação ou no reparo do DNA (xerodermia pigmentosa).
Clinicamente, esses tumores aparecem como pápulas peroladas que, freqüentemente, contêm
vasos sangüíneos subepidérmicos dilatados e proeminentes (telangiectasias). Alguns tumores contêm o
pigmento melanina e, por conseguinte, assemelham-se a nevos nevocelulares ou melanomas. As lesões
avançadas podem ulcerar, podendo ocorrer invasão local extensa do osso ou dos seios faciais depois de
muitos anos de negligência ou em tumores inusitadamente agressivos, justificando a antiga designação
de “úlceras roedoras”.
Histologicamente, em todos os tipos desse carcinoma, a lesão é constituída por proliferação de
células basaloides. Às vezes, o centro da massa neoplásica desintegra-se, dando o tipo cístico. Outras

38
vezes, surgem formações tubulares e glandulares (tipo adenoide), ou aparecem cistos córneos nas
massas celulares (tipo ceratótico).
Morfologia: Ao exame histológico, as células tumorais assemelham-se àquelas da camada normal
de células basais da epiderme. Originam-se a partir da derme ou do epitélio folicular e não ocorrem nas
mucosas. São observados dois padrões: crescimentos multifocais, que se originam a partir da epiderme
e se estendem por vários centímetros quadrados ou mais de superfície da pele (tipo superficial
multifocal), e lesões nodulares, que crescem profundamente na derme, como cordões e ilhotas de
células com basofilia variável com núcleos hipercromáticos e freqüentemente circundadas por
numerosos fibroblastos e linfócitos. As células que formam a periferia das ilhotas de células tumorais
tendem a exibir um arranjo radial, com seus eixos longos em alinhamento aproximadamente paralelo
(em paliçada). O estroma sofre retração, afastando-se dos ninhos de tumor epitelial, criando fendas ou
artefatos de separação que ajudam a diferenciar os carcinomas basocelulares de certos tumores de
anexos que também se caracterizam pela proliferação de células basalóides (por exemplo:
tricoepitelioma).

Figura 20.1: Células indiferenciadas da camada basal da epiderme que migram para a derme,
ficando uma do lado da outra em forma de paliçada (seta amarela). Aumento de 40X.

21. CARCINOMA ESPINOCELULAR

O carcinoma espinocelular é o mais freqüente tumor da pele das membranas mucosas de


transição. Ao contrário do carcinoma basocelular, ele produz metástases através das vias linfáticas e
vasos sangüíneos. Este carcinoma ocorre inicialmente na forma de coloração não evidente da pele,
simulando uma ceratose actínica. Essas estruturas tornam-se inflamadas e transformam-se em células
tumorais vulneráveis, de crescimento interno ou externo, acometendo com maior frequência as áreas da
39
mucosa aparente, como boca ou o lábio, cicatrizes de queimaduras antigas, áreas que sofreram
irradiação ou exposição prolongada e repetida ao sol.

O carcinoma espinocelular é também responsável por 90% das neoplasias malignas orais. Dos
intraorais, 50% ocorrem na língua; enquanto que dentre os extraorais, o mais frequente está localizado
no lábio inferior.

São muitos os fatores identificados que podem constituir risco para o desenvolvimento de um
carcinoma espinocelular. Eles são divididos em três grupos:
- Processos inflamatórios, infecciosos e produtores de cicatrizes;
- Exposições ao sol;
- Outras dermatites primárias;
Histologia - Tumores cônicos que consistem em células escamosas malignas sofrem protrusão a
partir da epiderme para a derme. Às vezes, são observadas pérolas córneas (de queratina), que
consistem de diversas camadas de células escamosas malignas, envolvendo um foco comum de
queratinização.

Figura 21.1. Pérolas córneas de queratinização indicada pela seta amarela. Aumento de 10X.

40
Figura 21.2. Pérola córnea (queratinização). Aumento de 40X.

22. TUMOR DE WALKER-256

O tumor de Walker -256 é um carcinossarcoma de origem espontânea, descoberto por Geoger


Walker em 1928, a partir de estudos com adenocarcionomas mamário de rata. As células do tumor de
Walker -256 possuem comportamento biológico agressivo, sendo localmente invasivo e possui um alto
poder de metastatização por via linfática e hematogênica. A linhagem celular se disseminou para os
laboratórios de pesquisa no mundo todo e desde então o tumor de Walker-256 tem sido empregado em
modelos experimentais visto o sua capacidade de induzir síndromes neoplásicas como a caquexia. Um
grande número de trabalhos são publicados sobre o desenvolvimento do tumor e sobre a síndrome
neoplásica que gera, e que tem auxiliado na compreensão de diversos fenômenos bioquímicos sobre
seu comportamento biológico, alterações bioquímicas e imunológicas.

CITOLOGIA

As células dos tumores malignos possuem características distintas das células normais. Elas
tendem a ser maiores que as células normais, com contornos irregulares e formas bizarras,
apresentando pleomorfismo ou seja variação no tamanho e na forma da célula. Células gigantes,
freqüentemente com vários núcleos e formas atípicas, são comuns nos cânceres com alto grau de
malignidade. Os núcleos das células tumorais apresentam alterações mais evidentes. Usualmente, os
núcleos das células tumorais estão aumentados, em desproporção ao tamanho da própria célula.
Normalmente a relação núcleo/citoplasma é de 1/6, sendo que nas células neoplásicas malignas pode
apresentar ma relação de até 1/1, com núcleos aumentados e desproporcionais em relação ao
citoplasma. A cromatina está aumentada ou condensada, e os nucléolos se tornam evidentes. Estes,
freqüentemente, apresentam lobulação ou então, forma irregular e podem mostrar a mesma tendência
ao pleomorfismo da própria célula. A quantidade de núcleo-proteína está aumentada. Geralmente, as
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mitoses são mais frequentes que no tecido normal, e ocorrem mitoses atípicas, originando células
multinucleadas. Observa-se também um espessamento na membrana nuclear. No tumor de Walker-256
algumas características podem ser visualizadas através do microscópio óptico. São elas:
• Pleomorfismo
• Cromatina distribuída de forma aleatória
• Núcleo hipercromático
• Célula gigante multinucleada
• Fusos mitóticos bizarros (mais de 2 fusos)
• Aumento do número de mitoses.

Figura 22.1: Nota-se células de tamanhos variados, ora grandes, ora pequenos, aumento do
múmero de mitoses (círculos). A seta indica um agrupamento de células indiferenciadas, característico
de células neoplásicas malignas. Células de Tumor de Walker 256 coradas com hematoxilina-eosina.
Aumento (40x)

23. CÉLULA B16F10

O melanoma é uma neoplasia maligna originada a partir dos melanócitos, sendo a principal
causa de morte por doença de pele, o qual caracteriza-se pela alta capacidade de infiltração no sistema
nervoso central. O prognóstico de pacientes com melanoma metastático é desfavorável, com sobrevida
média de 8 a 9 meses, e o tratamento com fármacos quimioterápicos e/ou compostos imunoterápicos e
hormonais tem falhado em fornecer melhorias clínicas significativas.
A B16F10, célula tumoral murina causadora do melanoma e muito utilizada em estudos
científicos do melanoma. Neste tipo celular é possível fazer a observação das alterações clássicas
encontradas em células de tumores malignos.

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As anaplasias (perda das características típicas das células do tecido, também chamadas de
atipias celulares) encontradas na lâmina são determinantes no diagnóstico de neoplasia maligna. As
células apresentam os pelomorfismos:
• Alteração na proporção núcleo/citoplasma;
• Hipercromasia
• Alteração na proporção núcleo/citoplasma
• Células gigantes polinucleares (com mais de um núcleo)
• Pontes interfásicas com figuras mitóticas
Além das características individuais das células, o tecido, como um todo, apresenta índice
mitótico elevado, reforçando as características de neoplasias malignas.

Figura 23.1: Cultura de células B16F10. As setas ( ) apontam células com pontes
interfásicas com figuras mitóticas e as setas ( ) apontam células com alterações na proporção
núcleo/citoplasma. Aumento de 40x.

24. METÁSTASE

As metástases são implantes tumorais descontínuos em relação ao tumor primário. As


metástases inequivocamente definem um tumor como maligno, visto que as neoplasias benignas não se
metastatizam. A invasão dos cânceres permite sua penetração nos vasos sanguíneos, linfáticos e
cavidades corporais, proporcionando-lhes, assim, a oportunidade de disseminação. Com poucas
exceções, todos os cânceres podem sofrer metástase. As principais exceções são as neoplasias malignas
de células gliais do sistema nervoso central, denominado glioma, e os carcinomas basocelulares da
pele. Ambas representam formas altamente invasivas de neoplasias, entretanto, raramente sofrem
metástase. É evidente que as propriedades de invasão e metástase são separáveis.

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Quanto mais agressivas, de crescimento mais rápido e maior a neoplasia primária, maior a
probabilidade de sofre metástase ou de já apresentá-las. A disseminação metastática reduz
acentuadamente a possibilidade de cura. Por conseguinte, na ausência de forma de prevenção de
câncer, nem uma medida poderia ser mais benéfica para o paciente do que os métodos para impedir a
sua disseminação.
A disseminação dos cânceres pode ocorrer através de uma dentre 3 vias, podendo ser ela
implantação direta nas cavidades corporais ou superfícies, disseminação linfática ou disseminação
hematogênica. Em geral, as metástases apresentam-se macroscopicamente como nódulos numerosos,
bem delimitados, de tamanhos diversos, na superfície ou na intimidade de órgãos. Muitas vezes o
nódulo metastático tem característica macroscópica de tumor benigno. Ao microscópio o quadro é bem
variado. As células metastáticas podem ter as mesmas características do tumor primário ou até,
raramente, ser mais diferenciado; na maioria das vezes, com tudo, são menos diferenciadas e mais
atípicas. Por isso mesmo, ao se analisarem metástases em um órgão, nem sempre é possível determinar
o tumor de origem.
O fígado é o principal órgão acometido por metástases hematogênicas provenientes da
circulação portal e um freqüente alvo de metástases advindas da circulação sistêmica. O acometimento
hepático por um tumor metastático é muito mais comum do que por um tumor primário, chegando a ser
vinte vezes mais freqüente. Em necropsias, cerca de 40% dos pacientes com tumores extra-hepáticos
apresentavam metástase hepática. Esse fato pode ser atribuído ao fato do fígado ser a maior víscera
sólida do organismo, recebendo grande fluxo sangüíneo arterial e venoso (todo sangue da cavidade
abdominal drena para a veia porta, passando obrigatoriamente pelo fígado antes de atingir a veia cava).
Os principais sítios primários dos tumores metastáticos do fígado são cólon, pâncreas, mama, ovário,
reto, estômago, pulmões e rins, respectivamente (Tabela 1).
Tabela 1: freqüência de tumores metastáticos no fígado:

Tumor primário % de pacientes com metástase hepática

Vesícula biliar 77,6%

Pâncreas 70,4%

Primário desconhecido 57,0%

Cólon 56,0%

Mama 53,2%

Melanoma 50,0%

Ovário 48,0%

Estômago 44,0%

Broncogênico 41,8%

PATOGÊNESE

As metástases chegam ao fígado de quatro formas básicas:


1)Por contiguidade: ocorre devido à proximidade do tumor primário ao fígado, como no caso dos
tumores de estômago, cólon, ducto biliar e vesícula biliar;
2)Por via linfática: a disseminação por via linfática ocorre dos tumores de mama, pulmão e também dos
órgãos drenados pela veia porta;
3)Pela artéria hepática: a dissemicação pela artéria hepática, por via sistêmica, ocorre em casos como
tumores pulmonares e melanomas;

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4)Pela veia porta: as metástases chegam ao fígado predominantemente através da veia porta, de forma
que metástases hepáticas podem ser encontradas em quase que a metade dos casos em que há
acometimento de um órgão drenado pela veia porta.
Embora a via preferencial de metastatização seja a veia porta, as metástases hepáticas são
supridas quase que exclusivamente através da artéria hepática. Nos carcinomas colorretais parece haver
uma predileção pela metastatização para o lado direito do fígado, embora não haja substratos que
expliquem totalmente essa tendência.
Os passos biológicos relacionados ao surgimento de uma metástase envolvem além da perda do
controle da proliferação celular a ocorrência de alterações na regulação da motilidade celular, de
fatores relacionados à adesividade celular e de proteólise estromal. Os sítios de instalação das
metástases pode estar relacionado à existência de estruturas celulares ou endoteliais que permitam a
adesão das células metastáticas. As moléculas de adesividade celular têm estruturas semelhantes a
anticorpos, tendo sido identificada como no caso do DCC e CEA (relacionados ao câncer colo-retal).

25. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo Patologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,


2011.
2. KUMAR, Vinay; PERKINS, James A. Robbins e Cotran patologia: bases patológicas
das doenças. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
3. Earle, WR A Study of the Walker rat mammary carcinoma 256 in vivo and in vitro. Am
J Cancer. 1935; 8:566-612.
4. Camargo, AEI. Redução do estresse oxidative no músculo cardíaco de ratos com
caquexia induzida por tumor de Walker-256. 2008. Dissertação (Mestrado em
Patologia Experimental) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina.
5. Guarnier FA, Cecchini AL, Suzukawa AAI, Maragno ALGC, Simão AANC, MD,
Cecchini R. Time course of skeletal muscle loss and oxidative stress in rats with walker
256 solid tumor. 2006. Dissertação (Mestrado em Patologia Experimental) –
Universidade Estadual de Londrina, Londrina.
6. FEDELE, T. A.; Análise metabolômica de animais portadores de melanoma murinho
B16F10 por espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear (RMN). Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo. São Paulo; 2012. Disponível em:
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5160/tde-22012013-165318/fr.php

referencias

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