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Hooker e Asa Gray o fizeram notar, a variabilidade que observamos entre todas as
nossas produções domésticas não é obra direta do homem. O homem não pode
produzir nem impedir as variações; pode apenas conservar e acumular as que se
lhe apresentam.
Toda a variação, por menos nociva que seja ao indivíduo, traz forçosamente o
desaparecimento deste. Dei o nome de seleção natural ou de persistência do mais
apto à conservação das diferenças e das variações individuais favoráveis e à
eliminação das variações nocivas. As variações insignificantes, isto é, que não são
nem úteis nem nocivas ao indivíduo, não são certamente afetadas pela seleção
natural e permanecem no estado de elementos variáveis, como as que podemos
observar em certas espécies polimorfas, ou terminando por se fixar, graças à
natureza do organismo e às das condições de existência.
O que a seleção natural não saberia fazer, era modificar a estrutura de uma espécie
sem lhe procurar qualquer vantagem própria e unicamente em benefício de outra
espécie. Ora, posto que as obras sobre história natural apresentem, por vezes,
semelhantes fatos, não encontrei um único que possa resistir ao exame. A seleção
natural pode modificar profundamente uma conformação que somente fosse
muito útil uma vez durante a vida de um animal, se é importante para ele.
É então possível que a seleção natural modifique os dois sexos relativamente aos
hábitos diferentes da existência, como algumas vezes sucede, ou que um sexo se
modifique relativamente ao outro sexo, o que acontece freqüentemente. Isto me
leva a dizer algumas palavras a respeito do que denominei seleção sexual.
Se interrogamos a natureza para lhe pedir a prova das regras que acabamos de
formular, e se considerarmos uma pequena região isolada, seja qual for, uma ilha
oceânica, por exemplo, posto que o número das espécies que a habitam seja
bastante reduzido, como veremos no capítulo sobre a distribuição geográfica-
todavia a maior parte destas espécies são endêmicas, isto é, foram produzidas
neste lugar, e em mais parte nenhuma do mundo. Pareceria então, à primeira
vista, que uma ilha oceânica era muito favorável à produção de novas espécies.
Mas estamos muito expostos a enganarmo-nos, porque, para determinar se uma
pequena região isolada tem sido mais favorável do que uma grande região aberta
como um continente, ou reciprocamente, à produção de novas formas orgânicas,
seria preciso poder estabelecer uma comparação entre tempos iguais, o que nos é
impossível fazer.
A seleção natural atua unicamente por meio da conservação das variações úteis a
certos respeitos, variações que persistem em razão desta mesma utilidade. Devido
à progressão geométrica da multiplicação de todos os seres organizados, cada
região contém já tantos habitantes quantos pode nutrir; resulta daí que, à medida
que as formas favorecidas aumentam em número, as formas menos favorecidas
diminuem e tornam-se raras. A geologia ensina-nos que a raridade é o precursor da
extinção. É fácil de compreender que uma forma qualquer, tendo apenas alguns
representantes, tem grandes probabilidades para desaparecer completamente,
quer em razão de alterações consideráveis na natureza das estações, quer por
causa do aumento temporário do número dos inimigos.
M. H. C. Watson julga que atribuo demasiada importância à divergência dos
caracteres (de que me parece, além disso, admitir a importância) e que o que pode
chamar-se a sua convergência deve igualmente desempenhar qualquer papel.