passos para atravessar

a zona produzida
pelo firehosing na rede
e (tentar) bloquear
seus efeitos

Grupo Sismógrafo
“No desastre instantâneo
há uma fulguração
que não é do sol
nem de nenhuma
luz exterior”

Aníbal Machado
 -4-

O que é firehosing?
Transmissão epidêmica de conteúdo, de
modo contínuo e repetitivo, sem
nenhum comprometimento com a rea-
lidade e consistência quase inexistente,
geralmente falso, desencontrado, de
checagem difícil, às vezes com forte
carga de moralismo. É como se menti-
ras - muitas verossíveis - inundassem o
que estivesse ao redor, afetando o humor
de quem as recebe levando as pessoas a
colocarem a realidade em dúvida.
 -5-

Onde o firehosing age?

Na sua sensibilidade, no seu estado de
espírito e sobre suas crenças e valores.
 -6-

Qual o efeito disso?

Dissociação cognitiva: de um lado,
abala as crenças daqueles que as têm,
confundindo-os, irritando a sensibilida-
de, prevendo e pautando à distância a
sua reação; de outro, capitaliza os já
descrentes produzindo uma espécie de
realidade paralela por anestesiamento
e reação.
 -7-

Do que ele se alimenta?

O firehosing se alimenta da reação, da
descrença e da retransmissão desses
conteúdos - retransmissão realizada
justamente pela irritabilidade induzi-
da pelos conteúdos. Por isso, é muito
importante: passar menos tempo na
rede (tornar concentrado e potente
esse tempo), conviver com as pessoas
de seu círculo, praticar a vitalidade no
mundo (energizar-se no concreto),
afirmar seu modo de existência para
poder agir na rede.
 -8-

O que ele usa?

A linguagem e as emoções.
 -9-

Como evitar o firehosing nas redes?

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1 | Se uma narrativa falsa chegar até

você, não rebata repetindo (e comparti-
lhando) os termos de falseamento (por
ex: no lugar de repetir “kit gay”, use
“cartilha opcional sobre educação sexual
para pré-adolescentes que o governo
federal recusou”). Recuse o vocabulário
do adversário. Produza outra narrativa.

2 | Mais importante de tudo, ao escrever

ou postar nas redes, afirme o seu modo
de existência e outros modo de existência
para além do seu; exercite seu estilo pró-
prio. Use a linguagem, não seja usado
por ela. Esteja atento às flutuações do
seu humor durante sua permanência nas
redes: o firehosing visa minar sua potên-
cia criadora - desvie-se, faça outras
coisas que considere importantes, salva-
guarde seu poder de afetar e ser afetado.
 - 11 -

3 | Cada vez que reproduzimos os

termos de falseamento em nossos posts e
comentários, nós os disseminamos e nos
ocupamos de jogar o jogo do adversário.
Por jogar o jogo do adversário pode-se
entender isto: distribuir entre seus
amigos nas redes a mesma tristeza e o
mesmo desalento que te afetou ao rece-
ber o firehosing. Isso endossa a estraté-
gia e o discurso adotado pelo adversário.
Proteja-se, busque o que te inspira a
inventar uma ação.

Faça o mesmo por seus amigos.

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4 | Esforce-se para não entrar na onda

do ultraje e do ressentimento com as
declarações que são feitas, rapidamente
eles são virados contra você e de uma
maneira bem simples: consomem suas
forças e seu tempo. O eleitorado do pre-
sidente eleito (e o próprio presidente
eleito) é agradado e alimentado pelo seu
ultraje e ressentimento.

5 | Retire do adversário o poder de te

nomear. Quanto menos poder você dá a
ele, menos força ele tem sobre você. É
uma questão de aritmética afetiva: não
deixar seu vigor existencial oscilar para
baixo. Novamente: esteja atento às flu-
tuações do seu humor - aprenda o que te
convém, o que te vitaliza. Evite o que te
desvitaliza.
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6 | Insultos diários serão dirigidos à opo-

sição das maneiras as mais variadas, às
vezes diretamente, às vezes para seg-
mentos específicos (LGBTQI+, negros,
indígenas, mulheres, artistas, professo-
res). Eles servem para confundir, irritar,
e também para distrair de pautas con-
cretas. Não reaja, aja: afirme seu apoio
aos diferentes grupos de forma simples e
direta, acompanhe as pautas do congres-
so ou os perfis da bancada que você
elegeu. Divulgue os bons trabalhos e o
que vem sendo feito de interessante
pelas pessoas e grupos.

Isso fortalece você e sua rede.

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7 | Não “compre” de primeira o que é dito.

Se vc se enfurecer, não responda nas redes
sociais, se não puder evitar, poste música,
um poema, um trecho de livro etc. que dê
conta de sua putice e frustração de uma
maneira ativa, ou saia da rede, esbraveje,
xingue até a última geração de presidentes
eleitos, dê um tempo e volte depois. Prote-
ja a sua sensibilidade e a de sua rede.

8 | Atente ao que é feito. Pense antes de

agir e estude medidas efetivas. Fazer
barulho no twitter ou textão-denúncia
no Facebook não funciona, apenas ali-
menta o adversário. Aja: denuncie no
sindicato ou associação de sua categoria
profissional, ou outra entidade ou insti-
tuição. Encaminhe o material para de-
putados e mídias de sua preferência.
Derrube perfis falsos.
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9 | Se você perceber firehosing acontecen-

do, indique. Não enlouqueça a rede,
acalme as pessoas, forneça links explican-
do o que é e porque a pessoa deve evitar se
desesperar.

10 | Intencionalmente ou não, todos esses

perfis que propagam posts de gente “arre-
pendida” de ter votado no presidente con-
tribuem para a multidão de informações
tranqueira, de baixa relevância, possivel-
mente falsas e potencialmente desacredita-
doras da esquerda. Ademais, é mau sinal
se o “arrependimento” de alguém está te
fazendo “feliz”. Mais uma vez: esteja
atento às oscilações do seu humor, se esse
tipo de “felicidade” está te satisfazendo, é
provável que o ressentimento esteja pre-
sente. Fique atento à qualidade daquilo
que te satisfaz. Persiga a potência e a ação.
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11 | A mídia tem sido pouco criteriosa

publicando suposições e boatos estrate-
gicamente plantados pelo presidente
eleito com a finalidade de “causar” na
rede para depois desmenti-los e desacre-
ditá-los. Não reaja aos boatos, aja: pro-
cure se informar em outras fontes, peça
aos amigos da rede confirmação. Não
republique, não passe adiante sem con-
firmação, é uma tranqueira a menos no
mundo, ou seja, menos gente confusa,
triste, desesperada.

12 | Quando você publica algo ou repu-

blica, você se torna mídia, cria linguagem
e regime afetivo. Então, seja uma mídia
mais esperta e potente do que a que
temos. Evite usar a bola de cristal e tocar
o terror. O catastrofismo reativo alimenta
o adversário e enfraquece a rede.
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13 | Pratique a economia política do dis-

curso. Selecione com cuidado as pala-
vras. Use-as com precisão. Na falta do
que dizer, fique em silêncio, ou poste
música, ou qualquer outra coisa. A estéti-
ca e a ética são formidáveis combustíveis
para a política. Compartilhe conteúdos
que potencializem as redes na dimensão
da sensibilidade.

14 | O humor é bem-vindo, porque não

reconhece a lei do adversário, a ironia
nem tanto, porque ela usa exatamente o
discurso do adversário e assim o legiti-
ma. O humor cria o campo que envolve
o discurso do adversário e o faz funcio-
nar de outra maneira. A ironia funciona
dentro da atmosfera de linguagem já
criada pelo poder. O humor é ação, a
ironia é reação.
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15 | Não perca seu tempo indo na inter-

net atacar o presidente eleito e seus elei-
tores somente porque você é oposição.
Fazer isso alimenta o jogo do adversá-
rio, te desvia, consome seu tempo e ener-
gia, e da sua rede também. Não reaja,
aja: jogue outro jogo, fortaleça sua rede.
Se quiser, acompanhe propostas nas
quais acredita, interaja com elas, inter-
pele-as, ou acompanhe as ações coletivas
de sua preferência.

Divulgue o que pode fortalecer.

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16 | Se há assuntos que te interessam

mais especialmente, estude a coisa, e
devolva para a rede algo que possa ser
uma ferramenta de reflexão/ação/forta-
lecimento. O precioso é o que você
possui de mais singular: não submeta
sua linguagem a padrões grupais de
reação, desenvolva a sua e coloque-a
para circular. Contamine as redes com a
diferença.

17 | Lembre-se que a rede é feita de uma

maioria de pessoas, quando você reage,
desencadeia uma onda reativa que afeta
forte todas elas. Aja: se fortaleça para
fortalecer os seus.
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18 | Por fim, nem tente mudar a cabeça

de um eleitor do presidente eleito. Eles
estão operando dentro de um enquadra-
mento totalmente diferente do tradicio-
nal. Não vai ser por força do seu discur-
so que vc romperá com o anestesiamen-
to. Ao invés disso, aja: viva a vida, ex-
panda-a, afirme-a, crie.

A alegria é a prova dos nove.

Não a entregue.
Quer saber mais sobre firehosing?
https://medium.com/@mbrancaglione/a-nova-direita-a-disson%C3%A2
ncia-cognitiva-e-seus-estrategistas-militares-a21ef73bb3b8?fbclid=IwAR
0tq1WffNsZ9_aUX3-O-K_QgL0_PNj5fKsv_T46iO4XPP0OFXabCwf1H
IQ

https://revistacult.uol.com.br/home/nao-matem-a-democracia/

https://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/24/politica/1540408647_371089.ht
ml?fbclid=IwAR0n6XBKrsTNXZWS1TDtI_qeZ6DAwhBZtDxnj0htol-H
KBB8yO49139IJ2Y

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/11/uso-de-fake-news-nos-eua
-em-2018-ja-ultrapassa-eleicao-de-trump-diz-oxford.shtml?fbclid=IwAR
3ZcMdd7g-g3dwdwnHVFYGXJTiCdOvRKNmw8wtxs_XpDmrqJ2YlE6
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Esse texto foi elaborado pelo Grupo Sismógrafo

a partir de materiais coletados nas redes.

gruposismografo@gmail.com

São Paulo | outubro 2018

1ª versão