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CATEGORIA: CONCLUÍDO
SUBÁREA: Direito
INTRODUÇÃO
Nos dias atuais os animais no cerne do sistema jurídico brasileiro são considerados
“propriedade”, termo adotado pelo filósofo John Locke no século XVII, como também
suscetíveis ao sofrimento sistemático para a satisfação do interesse humano, como
por exemplo, aos ramos a indústria, entretenimento, pesquisas científicas, etc. Na
perspectiva histórica, a ideologia cartesiana contribuiu para que o ser humano
explorasse com violência e crueldade o animal, pois ele concluiu em seus
experimentos no século XVI que os animais não tinham alma e dessa forma, não
tinham sensibilidade e não sentiam dor quando maltratados. Com a teoria
evolucionista de Charles Darwin, houve a revolução do entendimento da evolução
humana, concluindo que todos somos animais e que a diferença é por grau e não por
tipo. Darwin trouxe uma nova interpretação sobre os animais, provando que eles têm
a capacidade de pensar e para a ampliação da compreensão, o filósofo Jeremy
Bentham pregou que os animais adentrassem na nossa consideração ética, pois eles
têm capacidade de sentir, ou seja, são sencientes. Logo depois, o filósofo Peter Singer
expôs o princípio ético da igual consideração e interesses, o qual idealiza a igualdade
entre os seres sencientes humanos e não-humanos, ideologia essa que desafia a
compreensão da ética tradicional ao defender os animais como membros da
comunidade moral na sociedade atual. Na perspectiva jurídica, surgiu o Decreto
24.645 de 1934 que regula as práticas abusivas contra os animais, considerando-as
crime, incluindo-as na LCP (Lei das Contravenções Penais). Logo depois, é criada a
Lei Federal 5.197 de 1967 que protege a fauna, e o Brasil se torna signatário da
Declaração Universal dos Direitos dos Animais em 1978, assim como outros países
integrantes da ONU. Com a promulgação da Constituição Federal em 1988, em seu
artigo 225, vem a proteção da fauna e flora, dos animais domésticos e silvestres,
vedando práticas que coloquem em risco a função ecológica e as que provoquem a
extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade. Em 1998 surge a Lei
Federal 9.605 (Lei de Crimes Ambientais) que proíbe a prática de abuso de maus
tratos. Há criações de ONGs (Organizações não governamentais) para a defesa dos
animais. Em 2008 aparece a Lei Arouca (Lei 11.794), a qual prevê o controle e a
orientação da ética adequada para a utilização de animais para pesquisa no Brasil. Já
no ano de 2012 há a Declaração de Cambridge, que declara que os animais têm
consciência e têm sensibilidade. E surge o desenvolvimento originário das 5
liberdades no tratamento do animal pelo Conselho do Bem-Estar de Animais e
Produção do Reino Unido (Farm Animal Welfare Council - FAWC), o qual expõe os
critérios de tratamento dos animais dentro das 5 liberdades, que são: 1) viver livre do
medo e do stress; 2) livre para exercer seus comportamentos naturais; 3) livre de um
ambiente não condizente com a sua natureza; 4) viver livre da fome e sede; 4) viver
livre da dor, do sofrimento e angústia. Liberdades essas que foram recepcionadas
como forma de campanha pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) em
2017 no Brasil. Verifica-se que tais legislações brasileiras são ineficazes para
assegurar a proteção dos animais em razão da ausência da fiscalização do governo
e a interferência das instituições e indústrias na criação de tais leis, sem assegurar
direitos aos animais plenamente. Houve um retrocesso legal no nosso País com a
Emenda Constitucional de nº 96 de 2017, que permite a vaquejada, a qual contraria o
Decreto Legislativo 24.645 de 1943, que dispõe sobre as práticas abusivas contra os
animais, considerando-as crime. Esta E.C (Emenda Constitucional), nº: 96 de 2017 no
presente está sendo discutida no STF (Supremo Tribunal Federal) a respeito de sua
inconstitucionalidade, pois há contra ela uma ADIn (Ação Direta de
Inconstitucionalidade), a qual é a ADI 5728/DF que sustenta que a E.C, nº: 96 de 2017
afronta o núcleo essencial do Meio Ambiente equilibrado na modalidade da proibição
de submissão de animais a tratamento cruel, previsto no art. 225, §1º, VII da C.F
(Constituição Federal), hoje ela está sob análise da Procuradoria Geral da República.
Há projetos de lei em tramitação nas casas legislativas, já aprovados pelas comissões,
tais como, o P.L.S (Projeto de Lei do Senado), nº: 631 de 2015, o qual institui o
Estatuto dos Animais que pretende reconhecer a força jurídica dos direitos dos
animais, considerando-os seres vivos, alterando o art. 32 da Lei Ambiental (Lei
9.605/98); o P.L (Projeto de Lei), nº: 3670/15 que dá novo status legal aos animais e
determina que eles não sejam considerados “coisas” e altera o art. 82 do Código Civil,
tratando-os como bens com valor imaterial; o P.L, nº: 1365/15 que dispõe sobre a
guarda dos animais de estimação nos casos de dissolução litigiosa da sociedade e do
vínculo conjugal entre seus possuidores, dando outras providências, também. Enfim,
existem vários projetos em tramitação na Câmara dos Deputados e no Senado
Federal, referentes à defesa e proteção dos animais e diante da existência deles,
analisa-se o início da mudança do pensamento e consideração do ser humano sobre
o tratamento com os animais. No exterior, países como a França, Portugal, Suíça,
Alemanha e Áustria, já alteraram suas legislações reconhecendo os animais como
seres vivos dotados de sensibilidade e objetos de proteção jurídica em virtude da sua
natureza senciente. Concluindo, há expectativa da sociedade de que haja mudança
na legislação brasileira de forma que proteja os animais e forneça para eles, direitos
que sejam garantidos de forma plena com a instrumentalização e políticas públicas
para o cumprimento efetivo da futura previsão legal a ser criada.
OBJETIVOS
A finalidade da presente pesquisa é que o animal seja desconsiderado “coisa” no
ordenamento jurídico brasileiro, não sendo mais titularizado como propriedade do ser
humano, por conseguinte seja considerado ser senciente, um ser “consciente da dor
e do prazer”1, como também, tenha direitos fundamentais relativos, como o direito à
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FRANCIONE, Gary Lawrence. Introdução aos Direitos Animais: seu filho ou o cachorro?. Campinas: Editora
Unicamp, 2013.
vida, à liberdade e à integridade física. O objetivo do trabalho é contribuir para esta
mudança futuramente, já que há possibilidade. Digo possibilidade, porque os
pareceres e conclusões médicas e de nutricionistas afirmam que o ser humano não
precisa comer a carne animal e que consegue viver bem e de forma saudável com a
alimentação vegetariana. Ressalta-se que o direito proposto aos animais é o de não
ser oprimido pelo ser humano e não ser tratado como propriedade, sendo um direito
de acordo com a sua natureza. Note-se que o direito à vida pretendido aqui requer a
abolição da morte e sofrimento do animal para satisfação do interesse do ser humano
desnecessário. É notório e lógico que na sociedade atual esta tese é radical e
inconcebível, já que o ser humano no dia de hoje tem uma cultura antropocêntrica e
visão especista. O que proponho é uma mudança futura para a sociedade evoluída
eticamente, uma sociedade sensocentrista que tem a ética centrada aos animais e
que reafirma a consideração de valor aos animais não – humanos. A maioria das
pessoas não tem ciência do tratamento jurídico dos animais na legislação brasileira,
dessa forma é necessária a disseminação da informação e conhecimento para a
contribuição do pensamento (princípios, ética, ideologia, moral) e conduta
(comportamentos, atitudes) do ser humano em relação aos animais não – humanos,
podendo até ocorrer a manifestação do povo para tal mudança, pois o poder emana
do povo. Vê-se que as pessoas não consideram os animais objetos inanimados, muito
pelo contrário, chegam até considerá-los como membros da família, como por
exemplo, o cachorro, o gato, porquinho – da – índia, etc... Dessa forma, é evidente
que a atualização na legislação brasileira é cabível e urgente para se adaptar à
realidade da consideração e natureza em relação ao animal. Espera-se que o Direito
Natural seja incorporado ao Direito Positivo de acordo com a mudança dos costumes
e a manifestação do povo, pois é ético e moral que a vida do animal é mais importante
do que o prazer degustativo e o prazer de entretenimento do ser humano.
METODOLOGIA
DESENVOLVIMENTO
“Por mais que esta visão tenha uma aparência egoísta, somos
obrigados a reconhecer que o nosso ordenamento jurídico não
confere direitos à natureza, aos bens ambientais. São eles, dessa
forma, tratados como objetos de direito, não como sujeitos. São
objetos que atendem a uma gama de interesses dos sujeitos – os
seres humanos”. (BECHARA; 2003; p. 72).
Para tanto é necessário que todos tenham ciência da forma que os animais são
titularizados no ordenamento jurídico brasileiro, porque há parcelas da sociedade que
tratam os animais como membros da família, como seres sencientes, mas não sabem
que os animais são vistos como coisas na nossa legislação. Sendo assim, é preciso
uma conscientização social desse equivocado tratamento jurídico para que haja a
participação coletiva da sociedade no processo de mudança ou criação da lei que
confira direitos relativos e inerentes aos animais.
RESULTADOS
Diante das pesquisas realizadas para a elaboração do trabalho sobre este tema,
verificou-se a relatividade do antropocentrismo existente na sociedade, pois várias
pessoas consideram o animal como um ser senciente, um ser que tem consciência da
sua dor ou prazer. Sendo assim, com base na realidade do ser humano em seu
tratamento com o animal, há uma expectativa de que haja mudança no ordenamento
jurídico brasileiro, já que em seu costume atual, o ser humano não considera o animal
“coisa”. Dessa forma, é necessária a mudança da tipificação jurídica dos animais
baseada nos costumes e práticas da sociedade sobre eles.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
FONTES CONSULTADAS
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 12ª edição. Rio de Janeiro: Lumen
Juris Editora, 2010.
LEVAI, Laerte Fernando. Direito dos Animais. 2. ed. revista, ampliada e atualizada.
OLIVEIRA, Kaluaná Furtado. Direito dos animais e a quarta dimensão dos direitos
fundamentais: Análise da jurisprudência do STF. Disponível em:
<http://repositorio.uniceub.br/bitstream/235/11265/1/21270847.pdf> Acesso em: 06
de Junho de 2018.
MEDEIROS, Fernanda Luiza Fontoura de. Princípio da dignidade da vida para além
do animal humano: um dever fundamental de proteção. Disponível em:
<https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/92358/268586.pdf?seq
uence=1&isAllowed=y> Acesso em: 06 de Junho de 2018.
CASTRO JÚNIOR, Marco Aurélio de; VITAL, Aline de Oliveira. Direitos dos animais
e a garantia constitucional de vedação à crueldade. Disponível em:
<https://portalseer.ufba.br/index.php/RBDA/article/view/13825>. Acesso em: 09 de
Agosto de 2018.
FRANCIONE, Gary Lawrence. Introdução aos Direitos dos Animais: Seu filho ou
o cachorro?. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2013.