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edição
TEOHA DA
==LATIVIDADE
=SEDECIAL
R. GAZZINELL
Teoria da relatividade especial i
Teoria da
relaTividade
especial
ii Teoria da relatividade especial
Teoria da relatividade especial iii
RAMAYANA GAZZINELLI
Professor Emérito
Universidade Federal de Minas Gerais
TEORIA DA
RELATIVIDADE
ESPECIAL
2ª Edição
www.blucher.com.br
iv Teoria da relatividade especial
2ª edição – 2009
ISBN 978-85-212-0488-6
FICHA CATALOGRÁFICA
Gazzinelli, Ramayana
Teoria da relatividade especial/Ramayana Gazzinelli –
2ª ed. – São Paulo: Editora Blucher, 2009.
Bibliografia
ISBN 978-85-212-0488-6
09-01427 CDD-530.11
conteúdo
1 da 2ª edição.........................................................................................VII
Siglas...................................................................................................................IX
Prefácio
1.1.
1.2.
1.3.
1.4.
1.5.
Em
1.6.
1.7. busca dada
Referências
Princípio
Aceleração
Teoria
A
Aberração
velocidade
experiência da
doeletromagnética
espaçoabsoluta de Mach .................................................7
de Fizeau..........................16
inerciais..................................................................................1
relatividade
luz
de
absoluto..............................................................................1
luz
Michelson
das..................................................................................11
eestrelas
princípio
dedeMaxwell..........................................................8
Galileu..........................................................4
e eMorley.....................................................12
experiência
Notas.........................................................................................................18
2 Problemas.................................................................................................23
Postulados
2.1. Contração
2.2.
2.3.
2.4.
2.5. Postulados do
Simultaneidade.........................................................................................27
Relatividade
Dilatação
da teoria
dodeda
tempo
comprimento.....................................................................33
Einstein
da
simultaneidade...............................................................28
relatividade
..................................................................................28
............................................................................25
especial...................................................25
Notas.........................................................................................................36
3 Problemas.................................................................................................37
3.2.
3.3.
3.5.
3.6
3.7
3.1.
3.4.
A transformação
Dilatação
Contração
Transformação
Efeito
O
A
Diferença de
do
transformação
modelo develocidades...............................................................47
Doppler..........................................................................................49
do
dodetempo
Big
sincronização
comprimento.....................................................................43
Lorentz..............................................................................39
dasBang..............................................................................53
..................................................................................43
Lorentz....................................................................40
de relógios...................................................45
Notas.........................................................................................................55
4 Problemas.................................................................................................58
4.2.
4.3.
Mecânica
4.1. Energia......................................................................................................64
O
Conservação
efeito
relativística.........................................................................................61
Compton.....................................................................................70
do momento .......................................................................61
Notas.........................................................................................................78
5 Problemas.................................................................................................79
5.5.
5.6.
5.7.
5.8.
5.9.
5.10.
Formalismo
5.1.
5.2.
5.3.
5.4. denoconservação
de dee momento-energia
da transformação
Quadrivetores...........................................................................................87
Quadrivetor
A
Interpretação
Vetores......................................................................................................81
Eventos
Cone
O lei
modelo eluz...............................................................................................84
espaço-tempo............................................................................81
do
intervalos.................................................................................82
velocidade............................................................................89
momento..............................................................................90
força.....................................................................................94
Big
geométgrica
Bang o cone de luz....................................................86
e decaimento
de Lorentz......................95
nuclear........92
Notas.........................................................................................................97
6 Problemas.................................................................................................98
6.5.
6.6.
Relatividade
6.1
6.2.
6.3.
6.4
6.7.
6.8. O de do de Maxwell........................................102
Tensores..................................................................................................106
Formulação
Forma
Equação
Potenciais
Transformação
Campo
campo ediferencial
eletrodinâmica..........................................................................101
de
eletromagnético......................................................................109
uma
continuidade
covariante
campo
do
partícula
das
campo
eletromagnético..................................................105
equações
..........................................................................101
carregada
......................................................................102
eletromagnéticoem movimentosob umauniforme.............113
TL ......................111
7 Problemas...............................................................................................116
7.5 Os
7.7.
7.6.
Teoria
7.1.
7.2.
7.3.
7.4. Avanço
Princípio
Curvatura
Dilatação
Oda“peso”
buracos
relatividade
doda
da
gravitacional
da
do
periélio
negros deo Mercúrio.............................................................133
do tempo..........................................................126
luz.......................................................................................127
equivalência.......................................................................120
luz
espaço-tempo
geral.............................................................................119
num
e campo
tempo ..................................................................130
................................................................134
gravitacional..........................................124
Notas.......................................................................................................136
Bibliografia........................................................................................................143
Constantes
Problemas...............................................................................................139
úteis...............................................................................................141
Índice remissivo................................................................................................145
Teoria da relatividade especial vii
prefácio da 2ª edição
A teoria da relatividade especial (TRE), mesmo não fazendo parte dos currículos
atuais como disciplina autônoma, tem um papel relevante na formação do físico, do
químico teórico e mesmo do engenheiro que se especialize em alguns ramos moder
nos da engenharia, não só pelo que ensina de novo, mas sobretudo por causa de seu
modo abstrato e não intuitivo de analisar os fenômenos.
Por esta razão decidiu-se publicar a segunda edição deste livro, que pouco difere
da primeira. Foram apenas modificados poucos trechos e figuras para tornar a expo
sição mais clara, corrigidos pequenos erros de impressão e feita uma revisão ortográ
fica conforme o acordo ortográfico da língua portuguesa.
Este livro se destina principalmente a estudantes de graduação em física. A mate
mática exigida do leitor é o cálculo diferencial e integral dos primeiros anos do curso
universitário e noções básicas de cálculo matricial. A TRE tem sido ensinada, às ve
zes, de forma introdutória, já no início do curso de física na universidade e, por isso,
é difícil estabelecer um ponto de partida que convenha a todos os estudantes. Este
texto foi escrito supondo que o estudante não tenha tido contato prévio com a teo
ria, e a expectativa do autor é que ao terminar o livro, ele compreenda os principais
conceitos e consiga um domínio razoável dela.
Recomendamos que o estudante resolva os problemas distribuídos ao longo do
texto, exatamente quando chegar a eles, porque seu objetivo é consolidar os con
ceitos aprendidos até aquele ponto. Quanto aos problemas de fim de capítulo, evi
tamos os repetitivos e os que se apresentam como paradoxos, que são, em geral, de
resolução muito difícil. Acreditamos que poucos problemas resolvidos com uma boa
reflexão ensinam mais do que muitos problemas resolvidos mecanicamente. Demos
as respostas de alguns problemas a fim de que o estudante, comparando sua resposta
com a do livro ganhe confiança no aprendizado; mas, não de todos, para que o domí
nio da teoria fique mais seguro.
Não é fácil ser original na criação de problemas de teoria da relatividade, tantos
são os apresentados em livros didáticos existentes, em formas às vezes, apenas li
geiramente diferentes. Por isso, muitos dos problemas deste livro foram inspirados
pelos dos livros citados na bibliografia e, algumas vezes imitaram-nos. Procurei ser
seletivo de modo que todos os conceitos fossem de alguma forma envolvidos, que o
nível de dificuldade fosse adequado ao texto e que não houvesse muita repetição.
O texto foi escrito de maneira sucinta para que possa ser utilizado em disciplina
semestral, trimestral, ou mesmo bimestral, por uma escolha judiciosa dos assuntos
(capítulos). O sexto capítulo pode ser abandonado se os estudantes não tiverem es
tudado antes a teoria eletromagnética de Maxwell.
viii Teoria da relatividade especial
R. Gazzinelli
Belo Horizontes, fevereiro de 2009
Teoria da relatividade especial ix
siglas
CM Centro de massa
MM Michelson-Morley
PE Princípio da equivalência
PR Princípio da relatividade
TG Transformação de Galileu
TL Transformação de Lorentz
em busca do espaço
absoluto
v2 2
a= RT ⎛ 2π ⎞
=ω2RT = ⎜ ⎟ ⋅6,4⋅106m⋅s−2 ≅ 3,4⋅10−2m⋅s−2,
⎝ 8,6⋅104 ⎠
4 Capítulo 1 — Em busca do espaço absoluto
Exemplo 1.1
Solução
Tomamos o referencial R da plataforma, fixo na Terra, como inercial. O refe
rencial R! do vagão, que se move com velocidade uniforme u em relação à pla
taforma, é também inercial. Fazemos os eixos dos dois referenciais paralelos e
tomamos o eixo Ox como direção do movimento do vagão. Um ponto do espaço
tem coordenadas (x, y, z) em R e (x!, y!, z!) em R!. Como o vagão se move
6 Capítulo 1 — Em busca do espaço absoluto
O observador no vagão não pode, por essa experiência, dizer se está ou não em
movimento porque o objeto obedece à mesma lei que obedeceria se o vagão
estivesse parado na plataforma.
No referencial R da plataforma,
x = d + ut
y=
h–1 2 gt2
y = h−
g
( x − d )2
2u2
1.3 — Aceleração absoluta e princípio de Mach 7
A primeira lei de Newton é obviamente invariante sob a TG, porque é utilizada
para definir o referencial inercial. A massa e a força são grandezas físicas indepen
dentes do referencial. Como a terceira lei de Newton só envolve o conceito de força,
também ela é invariante sob a TG. A segunda lei envolve os conceitos de aceleração,
massa, e força, todos três invariantes sob a TG e é, por isso, também invariante. As
três leis de Newton são, portanto, invariantes sob a TG e como elas constituem os
fundamentos da mecânica clássica, concluímos que todas as leis da mecânica são in
variantes sob a TG. Esse é o conteúdo do PRG, que podemos formular assim: as leis
da mecânica são invariantes sob a TG. O fato de não haver mudança na forma da
lei quando o fenômeno é examinado em diferentes referenciais inerciais indica que
um movimento uniforme não altera o fenômeno. Podemos então enunciar o PRG
numa forma que salienta o conteúdo físico da lei: é impossível detectar por meio
de uma experiência mecânica o movimento de um referencial inercial. Apesar
de descoberto por Galileu no século XVII, esse princípio só recebeu o nome de prin
cípio da relatividade no contexto da teoria da relatividade de Einstein.
O leitor deve observar que, quando transformamos uma equação qualquer da me
cânica clássica de um referencial inercial para outro – o que devemos fazer utilizando
as equações da TG –, sua forma permanece a mesma, isto é, o PRG é obedecido.
Concluímos que: a mecânica de Newton, a transformação de Galileu e o prin
cípio da relatividade de Galileu são consistentes, isto é, formam um sistema de
leis sem contradições internas.
Esse sistema permaneceu válido, com imenso sucesso, até o início do século
XX e, com alguma restrição, que discutiremos depois, é utilizado até hoje. A quase
totalidade da mecânica planetária e a mecânica de foguetes, satélites artificiais e
corpos macroscópicos na Terra podem ser realizadas com esse sistema de leis. Apesar
de críticas à mecânica de Newton terem surgido desde sua publicação, dificuldades
realmente consideráveis só foram levantadas no fim do século XIX, quando se tentou
achar um referencial absoluto para o eletromagnetismo.
Figura 1.5
(a)A espira se y y9
desloca com
velocidade v para B B
fora de uma região
onde há um campo
magnético uniforme
b, perpendicular ao
plano da espira. v v
(b) O ímã que cria o
va Fe
campo magnético R R9
b move-se com x9
velocidade v para
fora da espira. x
(a) (b)
1.5 — A velocidade da luz 11
Uma pequena reflexão colocará o leitor diante de três alternativas para resolver
o conflito:
a) O PR não pode ser estendido ao eletromagnetismo. Nesse caso, deve existir um
referencial absoluto para o eletromagnetismo.
b) O PR pode ser estendido ao eletromagnetismo; a mecânica de Newton e a TG são
corretas. Nesse caso, a formulação do eletromagnetismo por Maxwell não é cor
reta (porque não é invariante sob a TG) e exige modificação.
c) O PR pode ser estendido ao eletromagnetismo e a teoria eletromagnética de Ma
xwell é correta. Nesse caso, a TG e a mecânica de Newton não são corretas e
exigem modificações.
A escolha entre essas três opções só poderá ser feita por meio de experiências.
Vamos examinar inicialmente a tentativa de Michelson e Morley de determinar o re
ferencial absoluto (o éter), que poderia ou não eliminar a opção (a).
∂t2= 0 (1.4)
vemos que ela pode ser interpretada como uma equação de onda para os campos E
e B. Nessa última equação, u é a velocidade da onda, e podemos então concluir que
a velocidade v da onda eletromagnética será dada por
2 1
v = µ0ε0 (1.5)
Vemos pelas Equações 1.4 e 1.5 que a velocidade da luz é parte integrante das equa
ções de Maxwell. Na verdade, essas equações podem ser escritas escolhendo-se o sis
tema de unidades, de forma que a velocidade da luz apareça explicitamente nelas(5)
em lugar das constantes m0 e 0. Coloca-se, então, na física clássica, uma importante
questão: em relação a que referencial devemos medir c? Isso, porque somente
nesse referencial as equações de Maxwell estarão formalmente corretas. A resposta
dada por Maxwell a essa pergunta foi que c deveria ser medida em relação ao éter,
meio que seria o suporte para as ondas eletromagnéticas. Maxwell e os físicos de
sua época não conseguiam imaginar um campo como uma entidade auto-suportável,
capaz de propagar-se no vácuo e introduziram por isso o conceito de éter. Como
deveria servir de suporte às oscilações transversais das ondas eletromagnéticas, o
éter teria propriedades bem peculiares: preencher todo o espaço, inclusive os cor
pos materiais, estar em repouso em relação ao espaço absoluto, ser infinitamente
elástico, não ter massa e, coroando todas essa propriedades, ser imperceptível. Pelo
fato de estar o éter em repouso em relação ao espaço absoluto, seus referenciais são
indistinguíveis, de forma que nos referiremos muitas vezes, no que se segue, aos re
ferenciais dos dois sem distinção.
Se o éter está em repouso no espaço absoluto, é claro pela física clássica (TG) que,
se medirmos a velocidade da luz num laboratório terrestre, nas duas condições – em
que o movimento da Terra tem o mesmo sentido do feixe de luz e no sentido oposto
–, teremos resultados diferentes. Para obter a velocidade absoluta da luz (velocida
de em relação ao éter), levando em conta a TG, deveríamos somar ou subtrair a velo
cidade da Terra ao valor medido. Um resultado negativo dessa experiência – isto é, se
forem medidos valores iguais para a velocidade da luz nas duas situações – indicaria
que o éter é arrastado pela Terra em seu movimento.
No fim do século XIX, a determinação do movimento relativo da Terra e do éter,
denominado vento do éter, tornara-se um dos problemas mais embaraçosos da físi
ca. A experiência de Michelson e Morley, que analisaremos a seguir, foi uma tentativa
de resolvê-lo.
v
ct!
L2
2
C vt!
I4 Capítulo 1 — Em busca do espaço absoluto
-[^{## (…)
Para achar O tempo de percurso do trajetO ACA pelo feixe 2 é preciso levar em
conta a velocidade orbital U da Terra na direção perpendicular à da luz. No tempo t"
que a luz leva para ir do espelho A ao espelho C, percorrendo a distância ct", o espe
lho C avança a distância Ut". O trajeto da Onda luminosa é representado na Figura 1.7
pela linha pOntilhada. PortantO
cºtº = vºtº . L3
L2
cº - v2
O tempo de percurso do trechO ACA é, então:
2 Li L (17)
cA = c(n-1)= == === L2 •
|1– Bº |1 — Bº
O instrumentO foi girado de 90° e a experiência repetida de forma que Os dois
feixes trocam de papéis: O feixe 1 é agora perpendicular aO movimentO da Terra e O
feixe 2 situa-se ao longo dele. Com a nova observação se obtém:
t/ 2.Li t% 2.L2
1 = —=, — —
cVI— Bº c{1-5)
A nova diferença de caminhos ópticos será:
2 L
cA" = c(tí—1)=== L === 1 (1.8)
Ni-Bº V1— Bº
A diferença entre as duas observações (Equações 1.7 e 1.8) será:
2 Li + L_2
c(A —A")= —(L + L)|=(L + L)B", (1.9)
Wi-Bºt Wi-Bº
—}
Onde fizemos a aproximação (1— pº) * =1+ * pº, pOSSÍVel, porque U << C.
1.6 — A experiência de Michelson e Morley 15
Essa diferença (Equação 1.9) deveria produzir um deslocamento das franjas de
interferência e é isso que Michelson tentou observar. Para um comprimento de onda
l da luz, o padrão é deslocado de DN franjas, sendo
(L
c(Δtλ−Δ′t)= 2λ 1−
1+ β2 λ L2 β2
L2)≅ L1 +
ΔN = . (1.10)
Notas
(1) O tratado Philosophiae naturalis principia mathematica, cume da obra científica de
Isaac Newton (1642-1727)*, foi publicado em 1687, na maturidade desse grande mate
mático e físico. Aos 25 anos, Newton já tinha realizado suas maiores descobertas: o cál
culo diferencial e integral, a gravitação universal, a dispersão da luz e o telescópio de re
flexão. Os Principia, que sistematizam pesquisas realizadas desde a juventude, criaram
um paradigma que dominou as ciências físicas nos dois séculos seguintes e continuam a
ser, até nossos dias, os fundamentos para cálculos de mecânica no mundo macroscópico.
A obra ultrapassou os limites das ciências físicas, influenciando a filosofia e, em conse
quência, toda a cultura dos séculos XVIII e XIX. Newton dedicou ainda parte considerá
vel de seu tempo a pesquisas em alquimia e cronologias bíblicas.
Muitas vezes somos tentados a separar a obra de Newton em uma parte boa e outra inú
til. Não devemos, no entanto, tomar seus estudos das cronologias bíblicas e de alquimia
de forma derrisória, mas no contexto da época e, sendo assim, como uma demonstração
de sua tentativa de abarcar todo o conhecimento humano para compreender o universo.
Newton era um homem profundamente religioso e até intolerante no que se relacionava
à religião. Mesmo nos Principia pode-se perceber a manifestação de sua crença religio
sa. Para Newton, Deus não cria o espaço – o espaço absoluto e eterno é parte integrante
da existência da divindade. Deus percebe os corpos físicos por sua onipresença no espa
ço absoluto; é como se o espaço fosse o órgão de percepção de Deus. Ele também atua
no mundo físico, corrigindo as perturbações mútuas nas órbitas dos planetas, evitando
que elas venham a se desorganizar e causem colisões. Leibniz, contemporâneo e opositor
de Newton em muitas questões, ironizava o talento do Deus newtoniano como relojoeiro,
incapaz de construir um mecanismo à prova de perturbações.
Infelizmente, as características sociais de Newton não acompanhavam suas qualidades
intelectuais. Provavelmente, sua vida afetiva foi prejudicada pela orfandade antes do
nascimento, seguida pelo casamento da mãe com um homem por quem ele não desenvol
veu nenhuma afeição. Não aceitava facilmente o sucesso de outros e gastou parte de sua
vida em disputas inúteis a respeito de prioridades de descobertas científicas. Conservava
ressentimentos por toda a vida. Teve poucos amigos, ainda assim, mais pela dedicação
deles do que dele. Sua falta de humor era tal que um servidor da Universidade de Cam
bridge, contemporâneo, afirmava só tê-lo visto rir uma única vez em cinco anos! E mesmo
dessa vez, por um motivo peculiar: Newton havia emprestado um volume da geometria de
Euclides a um conhecido e este perguntou-lhe de que lhe valeria estudá-lo.
A mais completa biografia de Newton é a obra de Richard S. Westfall, Never at rest: a
biography of Isaac Newton, da qual existe uma edição condensada pelo próprio autor,
com tradução em português: Westfall, Richard S., A vida de Isaac Newton, Rio de Janei
ro: Editora Nova Fronteira,1995. A pequena biografia: Newton – a órbita da terra em
um copo d´água, Valadares, Eduardo C., São Paulo: Odysseus Editora, 2003, tem cará
ter pedagógico, com explicação de várias descobertas de Newton. Há ainda, com tradu
ção em português, as biografias: Isaac Newton, o último dos feiticeiros, White, Michael,
Notas 19
Rio de Janeiro: Editora Record, 2000 e Isaac Newton, Gleick, James, São Paulo: Com
panhia das Letras, 2004. Há também a tradução de uma seleção de textos de Newton:
Newton. Textos, antecedentes, comentários, Cohen, I. B. e Westfall, R.S. (org.), Rio de
Janeiro: Editora Uerj/ Contraponto, 2002.
(2) De acordo com a mecânica newtoniana, se o estado (posições e velocidades das par
tículas) de um sistema for conhecido num certo instante, poderá ser determinado em
qualquer momento passado ou futuro. Esse é o núcleo da ideia de determinismo, à qual
Laplace (Pierre Simon, Marquês de Laplace, 1749-1827) deu uma elegante formulação
filosófica:
“Uma inteligência que, num dado instante, conhecesse todas as forças que animam a
natureza e a situação de todos os elementos que a compõem e se, além disso, fosse su
ficientemente grande para submeter todos esses dados à análise, abrangeria na mesma
fórmula os movimentos dos maiores corpos do universo e os do mais minúsculo átomo:
nada para ela seria desconhecido, e o passado, como o futuro, estaria aberto diante de
seus olhos. A mente humana provê uma fraca semelhança dessa inteligência, com a per
feição dada à astronomia”.
Salviati – Sem recorrer a outras experiências, podemos provar claramente, por meio de uma
demonstração breve e concludente, que não é verdade que um corpo mais pesado se
move com maior rapidez do que outro menos pesado, desde que ambos sejam da mesma
matéria, como é o caso daqueles de que fala Aristóteles. Porém, diga-me Simplício, se
você admite que a cada corpo pesado em queda corresponde uma determinada rapidez
fixada pela natureza, de modo que não se possa aumentá-la ou diminuí-la a não ser usan
do força (violenza) ou opondo-lhe alguma resistência?
Simplício – Não se pode duvidar que o mesmo corpo, movendo-se no mesmo meio, tem
a rapidez fixada e determinada pela natureza, que não pode ser aumentada a não ser
acrescentando-lhe um novo ímpeto, nem diminuída salvo por algum impedimento que o
retarde.
Salviati – Se tivéssemos, portanto, dois corpos, cujas rapidezes naturais são desiguais, é
evidente que, se unirmos os dois, o mais rápido será parcialmente retardado pelo mais
lento, enquanto este aumentará em parte sua rapidez devido ao mais veloz. Não concor
da com minha opinião?
Simplício – Parece-me que assim é indubitavelmente.
Salviati – Porém, se é assim, e se uma grande pedra se move, por exemplo, com uma rapidez,
digamos de oito, enquanto uma menor se move com uma rapidez de quatro, então quan
do estão unidas, o sistema se moverá com uma rapidez menor do que oito. No entanto,
as duas juntas formam uma pedra maior do que aquela que se movia com rapidez de oito
graus; do que se segue que esse sistema, que também é maior do que a primeira pedra,
mover-se-á mais lentamente do que a primeira pedra, que é menor, o que contradiz sua
suposição. Você vê que, de sua suposição de que um corpo mais pesado se move com
mais rapidez do que um menos pesado, concluo que o mais pesado se move com menor
rapidez.
Simplício – Estou completamente confuso, pois parece-me que a pedra menor, unida à
maior, aumenta seu peso e, aumentando seu peso, não vejo como não deva aumentar-lhe
também a rapidez ou, pelo menos, não diminuí-la.
(4) Ernst Mach (1838-1916), físico e filósofo, publicou uma análise crítica e histórica da me
cânica que se tornou uma obra clássica e teve grande influência em Einstein, que a leu na
juventude, especialmente porque balançou sua fé dogmática na mecânica. As principais
inovações na mecânica de Mach são a abolição do espaço absoluto e a formulação da lei
de inércia em relação ao referencial das estrelas. Positivista, mantinha como central em
sua filosofia o princípio de que nenhuma proposição nas ciências naturais seria permis
sível se não fosse verificável empiricamente. Isso o levou a rejeitar como metafísicas as
ideias de espaço e tempo absolutos e o éter. Mas também o levou à rejeição de molécu
las e átomos nas teorias físicas, porque não eram diretamente observados, posição que,
ainda em sua vida, seria verificada como insustentável. Para Mach nada existe no mundo
* Mach, Ernst, Scien além de sensações e suas conexões. Por isso, a física deveria ser estudada num contexto
cia, 7, 225 (citado mais amplo que envolvesse psicologia e fisiologia: “Física não é o mundo inteiro; a biolo
por Holton, Gerald, gia também está presente e pertence essencialmente à visão do mundo.”*
Thematic origins of
Einstein tinha grande admiração por Mach e o colocava entre os poucos cientistas que
scientific thought,
Cambridge, Mass., considerava como seus precursores: Newton, Maxwell, Mach, Planck e Lorentz. No iní
Harvard University cio de sua vida científica, Einstein sofreu forte influência da epistemologia radicalmente
Press 1988, Cap. 7, positivista de Mach, mas afastou-se dela na maturidade. Para Mach, o conhecimento
p. 256) científico do mundo consiste na descrição mais simples possível das conexões entre as
Notas 21
sensações (leis, teorias) e tem como único objetivo o domínio intelectual desses fatos
com o menor esforço possível (princípio da economia do pensamento); para Einstein,
a invenção de conceitos científicos e a construção de teorias científicas eram livres cria
ções da mente humana.
Nos primeiros anos após a publicação da TRE, Mach manifestou-se a favor dela, mas
afastou-se depois por julgá-la cada vez mais dogmática. Einstein, com sua permanente
autoconfiança, debitou a mudança de posição de Mach na diminuição da capacidade des
te em absorver novas ideias com a idade.
—∫S B⋅dA=0,
E—∫⋅dl=−1cdϕdtB,
—∫B⋅dl =4cj+1cdϕdtE .
(6) Na conclusão de sua primeira experiência com o interferômetro (1881), Michelson afir
mou que o resultado nulo implicava ser incorreta a hipótese de um éter estacionário. O
resultado nulo foi decepcionante não apenas para ele, que esperava poder medir a velo
cidade da Terra em relação ao éter – o vento do éter –, como para físicos eminentes que
acompanhavam os desenvolvimentos da teoria eletromagnética. Lorentz teve dúvidas
quanto à interpretação do resultado e Michelson foi instado por Rayleigh a repeti-la. Foi
o que fez em 1887, com seu colega Edward. W. Morley, aperfeiçoando ainda mais o apa
relho, que já era notável por sua precisão. O resultado nulo se repetiu. Muito trabalho
foi envolvido na análise dos detalhes do aparelho e do resultado, mas não se descobriu
nada que invalidasse a experiência. Abriu-se assim um problema de difícil solução para
a física clássica.
Albert Abraham Michelson (1852-1931) não obteve nenhum grau universitário formal
mente – todos lhe foram concedidos honoris causa. Antes da experiência de 1881, ele
já se tornara o físico norte-americano mais conhecido no meio científico, devido a suas
medições da velocidade da luz. Os extremos cuidados e a precisão com que fazia suas
experiências explica por que o resultado da experiência de medida da velocidade da Ter
ra em relação ao éter, mesmo sendo totalmente inesperado, foi merecedor de crédito no
meio científico. Michelson foi agraciado com o Prêmio Nobel de 1907, citado pela inven
ção de seu interferômetro e suas aplicações em metrologia e espectroscopia e não pelas
experiências relacionadas à medida da velocidade da Terra em relação ao éter, discutidas
neste texto.
22 Capítulo 1 — Em busca do espaço absoluto
(7) O físico irlandês G. F. FitzGerald foi o autor da conjetura de que os corpos se contraem
por um fator de !1–v2/c2 na direção do movimento, hoje denominada contração de
FitzGerald-Lorentz. No breve artigo em que propõe a contração, FitzGerald fez o se
guinte comentário a respeito do arrastamento do éter na experiência de MM*:
“Li com muito interesse a maravilhosa e delicada experiência dos senhores Michelson e
Morley que tenta decidir a importante questão de quanto o éter é arrastado com a Terra.
O resultado deles parece oposto a outras experiências, que mostram que o éter no ar
não pode ser arrastado, a não ser de forma desprezível. Eu sugeriria que talvez a única
hipótese que poderia conciliar essa oposição é que o comprimento dos corpos materiais
varia quando eles se movem através do éter, dependendo de se moverem ao longo de seu
comprimento ou perpendicularmente a ele, de uma grandeza que depende do quadrado
da razão da velocidade deles para a da luz.”
Segue-se uma discussão a respeito de forças moleculares, mostrando que ele pensava
numa contração devida à modificação das forças moleculares no objeto por causa do
movimento deste e não devida diretamente ao movimento do objeto em relação ao ob
servador. Esse fato e a menção ao éter como uma entidade objetivamente real, mostram
que a contração proposta é uma hipótese ainda no contexto da física clássica e não tem
relação com a teoria da relatividade de Einstein.
Em sua excelente biografia de Einstein, A. Pais** desenha um perfil curioso de FitzGe
rald. Era um cientista ao mesmo tempo ousado e modesto, desprovido da competitivi
dade que hoje caracteriza o trabalho científico. Dizia de si mesmo: “Não sendo nada sen
sível ao fato de cometer erros, me apresso em expor todo tipo de ideias, mesmo cruas,
com a esperança de que elas possam motivar outros e conduzir a algum avanço.” Tendo
Lorentz chegado independentemente à conjetura da contração dos corpos em movi
mento três anos depois de FitzGerald e, tendo sido informado da ideia anterior deste,
escreveu-lhe para obter referência da publicação e poder citá-la em seus trabalhos. A
resposta de FitzGerald é muito interessante: informa que seu artigo fora enviado para a
Science, mas que não está certo de que fora publicado e prossegue modestamente: “Es
tou bastante seguro de que sua publicação (sobre o assunto) é anterior a qualquer das
minhas publicações impressas”.
Há na obra mencionada de Pais uma citação de Oliver Heaviside, que fora amigo de Fit
zGerald, que vale a pena reproduzir, pela originalidade com que expõe o perfil científico
deste: “Ele tinha, sem dúvida, entre nós todos o cérebro mais rápido e mais original. Isso
era uma grande distinção; mas era, penso, uma infelicidade para sua vida científica. Ele
via muitos caminhos. Seu cérebro era muito fértil e inventivo. Penso que teria sido me
lhor para ele se tivesse sido um pouco estúpido – digo, não tão rápido e versátil, mas mais
pertinaz. Ele teria sido melhor apreciado, exceto por poucos”.
Em 1892, Lorentz, ao tentar conciliar o resultado nulo da experiência de MM com a
* FitzGerald, G. F., ideia do éter, chegou à mesma conjetura de FitzGerald, que é, por isso, denominada
Science, 13, 390 hipótese de FitzGerald-Lorentz. De acordo com Lorentz, também, a contração dos
(1889), conforme objetos na direção do movimento é um efeito objetivamente real e não um efeito re
a biografia citada
abaixo. lativo ao movimento do observador e o éter persiste como ente real da natureza (éter
de Fresnel ou de Maxwell). A hipótese de FitzGerald-Lorentz desagradava os físicos da
** Pais, Abraham, época, porque era ad hoc – inventada explicitamente para explicar o resultado nulo da
Sutil é o Senhor – a experiência de MM.
ciência e a vida de
Albert Einstein, Rio
de Janeiro, Editora
Nova Fronteira, 2000.
Problemas 23
Problemas
Os problemas 1 a 3 estão relacionados à interpretação clássica da experiência de
Michelson-Morley.
1.1 A bússola de um avião indica que ele voa na direção S N e o velocímetro
indica uma velocidade de 200 km/h relativa ao ar. Há um vento de 80 km/h na
direção O L. a) Qual é a velocidade do avião em relação ao solo? b) Em que
direção o piloto deverá apontar o avião para atingir um objetivo ao norte e qual
será sua velocidade relativa ao solo?
1.2 Um rio de 100 m de largura corre para o norte com velocidade de 5 km/h; um
homem rema uma canoa, cruzando o rio, com velocidade de 5 km/h perpendi
cularmente à corrente. a) Qual é a velocidade da canoa relativa à margem? b)
Em que ponto ao norte do ponto de partida a canoa atingirá a margem oposta?
c) Quanto tempo a canoa levará para atravessar o rio?
1.3 Um avião faz o trajeto de ida e volta entre as cidades A e B com velocidade u
em relação ao ar estacionário. Calcule a diferença dos tempos de trajeto entre
as situações em que há um vento com velocidade v de A para B e perpendicular
a AB.
postulados da teoria
da relatividade
especial
Esse texto merece ser lido cuidadosamente. Nele, Einstein apresenta os princi
pais argumentos que suportam a teoria – a relatividade da teoria de Maxwell aparen
te em experiências da eletrodinâmica e os resultados nulos das experiências para se
medir a velocidade da Terra relativamente ao éter –, estabelece os dois postulados
da teoria e sugere que o éter se mostrará supérfluo na nova teoria. Não existe uma
experiência que prove a teoria da relatividade, porém, como discutimos no capítulo
anterior, há resultados experimentais que: a) dão evidências contra a concepção de
um éter estacionário ou arrastado por corpos providos de massa, e b) as modifica
ções já imaginadas da teoria eletromagnética de Maxwell não resistem a verificações
experimentais.
Foram destacados no texto reproduzido os dois postulados da TRE, que repeti
mos a seguir de outra forma:
1. Postulado da relatividade:
As leis da física têm a mesma forma em todos os referenciais inerciais.
2. Postulado da constância da velocidade da luz:
A velocidade da luz é independente do movimento de sua fonte.
Observe o leitor que, ao dizermos que as leis da física têm a mesma forma em to
dos os referenciais inerciais estamos negando a possibilidade de escolher um deles
como absoluto, ou seja, estamos na verdade afirmando que os fenômenos da física
não apresentam nenhuma propriedade que corresponda à ideia de repouso abso
luto. São então equivalentes à forma dada anteriormente para o postulado 1 e a que
aparece no texto introdutório de Einstein.
O primeiro postulado estende o princípio da relatividade de Galileu a todas as leis
da física. As equações de Maxwell devem, portanto, como todas as outras leis da fí
sica, permanecer invariantes quando se passa de um referencial inercial para outro.
Uma consequência imediata desse postulado é que a velocidade da luz independe
do movimento uniforme relativo dos observadores; isto é, dois observadores que se
movem com velocidades uniformes diferentes em relação a uma fonte de luz obterão
o mesmo valor para a velocidade da luz no vácuo. Representaremos esse valor da
velocidade da luz por c.
Como veremos, os postulados da teoria da relatividade tornam sem significado as
ideias de espaço absoluto e de tempo absoluto. Por isso, muitas vezes, é destacado
2.2 — Simultaneidade 27
o aspecto relativístico da teoria. No entanto, o que a teoria se propõe é justamente
o contrário: procurar leis físicas absolutas, isto é, que não dependam da escolha do
referencial inercial (na teoria da relatividade geral – TRG – essa busca é estendida a
referenciais arbitrários). Einstein se referia à teoria, no início, como uma teoria da
invariância, mas o nome teoria da relatividade, utilizado por H. Poincaré(2) e M.
Planck(3), tornou-se comum e ele o adotou também.
Os postulados da teoria da relatividade especial (TRE) obrigam à revisão do sig
nificado de vários conceitos físicos que consideramos intuitivos. Começaremos nossa
análise pelo exame da ideia de simultaneidade, tal como fez Einstein em seu notável
artigo de 1905.
2.2 Simultaneidade
Toda medida de tempo se baseia numa verificação de simultaneidade. Quando dize
mos que um acontecimento ocorreu às 5 horas, estamos de fato afirmando a simul
taneidade do acontecimento com a indicação do relógio, correspondente a 5 horas.
A sincronização de relógios exige, portanto, o estabelecimento prévio de um critério
para verificar a simultaneidade de dois acontecimentos.
Aceitaremos como razoável o seguinte critério: Dois eventos em um referencial
são simultâneos se sinais luminosos provenientes dos eventos atingirem um
observador equidistante no mesmo instante.
Consideremos a situação representada na Figura 2.1. Nos pontosA e B do referen
cial R, são colocadas lâmpadas comandadas por células fotoelétricas. O observador
colocado em M, no meio do segmento AB, dispara um flash. A frente de luz esférica
que parte de Matinge as células fotoelétricas e acende as lâmpadas. As frentes de luz
que partem de A e B atingem o observador no mesmo instante, porque a velocidade
da luz é a mesma para as duas frentes, de acordo com o segundo postulado de Eins
tein. Pelo critério estabelecido, o observador pode afirmar que as lâmpadas A e B se
acenderam simultaneamente.
É óbvio que o observador em M poderá sincronizar relógios situados em A e B
disparando um flash. Os sinais luminosos que partem de M dão partida a relógios
idênticos situados em A e B e, como têm a mesma velocidade nos sentidos MA e
MB, os relógios serão sincronizados. Estamos supondo que, por causa da homo
geneidade do espaço, os relógios têm o mesmo passo,
isto é,do
que a posição do relógio no espaço não altera o
passo relógio. Com esse processo, todos os relógios c c c c
deobservador
o um referencial
se coloque
podemem
serposições
sincronizados.
equidistantes
Basta que
do
A M B
relógio tomado como referência e de cada um dos re
lógios do mesmo referencial que pretenda sincronizar
e envie sinais luminosos sincronizadores nos dois sentidos. Podemos então falar em Figura 2.1 de
Sincronização
tempo de um referencial, que é o tempo indicado por um relógio local, previamente
dois relógios no
sincronizado com um relógio tomado como base, por exemplo, o relógio situado na mesmo referencial.
origem do sistema de coordenadas. Acontecimentos simultâneos em um determina
28 Capítulo 2 — Postulados da teoria da relatividade especial
a)
R R!
O
b) R R!
Figura 2.4
Um relógio de
luz está parado
Δt/2 no referencial R!
c d u que se desloca
com velocidade
u em relação ao
referencial R. O
observador em R!(a)
e o observador em R
O x1 uΔt x2 (b) medem tempos
diferentes.
30 Capítulo 2 — Postulados da teoria da relatividade especial
O intervalo de tempo próprio entre dois eventos será menor do que o inter
valo de tempo entre os mesmos eventos, medido em qualquer outro referencial
inercial.
Solução
Imaginemos um pulso de múons formados na atmosfera, a uma altitude de
aproximadamente 10 km, com velocidade v > 0,998c. Se considerarmos a vida
média de repouso, os múons percorrerão, antes de desintegrar-se, a distância
2.4 — Dilatação do tempo 31
l = 0,998c · 2 · 10–6 s < 600 m e não serão capazes de chegar até à superfície
da Terra. Mas, o certo é considerar a vida média deles no referencial da Terra,
onde estão sendo observados, então
2⋅10−6
τ = 2⋅10−6γs = 1−v s≅ 30⋅10−6 s.
2c2
O percurso do múon será, então, l > 0,998c· 30· 10–6 s > 9· 103m, suficiente
para chegar à superfície da Terra.
O aparente paradoxo no Exemplo 2.2 está no fato de poder o gêmeo B alegar que
o referencial R9 da nave ficou parado enquanto o referencial R foi e voltou, porque
na TRE só importam movimentos relativos. Nesse caso, A é quem estaria 4 anos mais
novo do que B e teríamos um paradoxo na teoria. Observe, no entanto, que não há
simetria entre os dois casos. O astronauta B sente a aceleração da nave ao partir e
quando atinge a estrela e inverte o sentido do movimento, sabe, então, que foi ele
quem fez a viagem e estará mais novo. Não há, portanto, paradoxo!
Exemplo 2.3
Qual deve ser a velocidade relativa de dois observadores para que suas medi
das de intervalo de tempo difiram 1%?
Solução
O referencial R9 de um observador tem velocidade u em relação ao referencial
R do outro. Queremos que:
ΔtΔ Δ′t
= 0,01.
−′t
Como Dt = g D t9,
ΔtΔ′t
− Δ′t γΔ′tΔ′tΔ′t
− = γ −1.
=
Boas aproximações quando u << c, úteis em muitos cálculos e que o leitor pode
demonstrar facilmente, são:
γ=1−β2 ≅1−12
( )−
Δt−Δ′tΔ′t = 0,01≅
12 ≅1+12β2,
12β2, γβ2,
β=
1 0,02 e γ−1≅12β2
u=0,14 c.
onde b = u/c.
Então,
Exemplo 2.4
Analise a experiência discutida no Exemplo 2.1 do ponto de vista de um obser
vador situado no referencial do múon e mostre que os múons poderão chegar
ao detetor colocado na superfície da Terra.
Solução
O observador no referencial R do múon vê o referencial R! da Terra aproximar
se. A distância da superfície da Terra ao ponto da atmosfera onde são formados
os múons é L0 < 10 km. No referencial R, essa distância é contraída de acordo
com a Equação 2.2:
L=L0γ
= L01−
v2c2 (
=104 1−0,9982
)1/2 ≅ 630 m.
Durante sua vida média, os múons percorrem uma distância:
L = 0,998 c· 2· 10– 6s < 600 m
comparável com a distância contraída. Portanto, eles podem chegar até ao de
tetor na superfície da Terra.
Exemplo 2.5
Uma astronave cujo comprimento próprio é 100 m passa por uma plataforma
espacial com velocidade u = 0,6c. O piloto pode acender duas lâmpadas, co
locadas nas extremidades A! e B! da nave, por meio de sinais luminosos man
dados do ponto C!, situado no meio da distância A!B!. O piloto, situado em C!,
ao passar pelo observador C, situado na plataforma, dispara um flash. Piloto e
observador disparam seus relógios nesse momento. Ache: (a) a distância entre
as lâmpadas para o observador na plataforma; (b) a separação entre os clarões
em A! e B! no relógio do piloto em C!; (c) a separação entre esses clarões no
relógio do observador em C.
2.5 — Contração do comprimento 35
Solução
a) Sejam R e R! os referenciais do observador e da
nave,m;
dade u
respectivamente.
rencial
100 em
ela relação
R: a R.R!
Supõe-se
será observada move-seque
comno
contraída o veloci-
obser
refe- R
R!
u
vador
de A! em
e B!.
R mede
O comprimento
simultaneamente
próprioasdaposições
nave é
100 m
A! C! B!
L = ′L/γ, C
Os relógios de C e C!
1 são sincronizados
β = 0,6, γ = 1− =1,25,
β2
Figura 2.9
L = ′L/γ =100 m/1,25 = 80 m. O piloto de uma
astronave acende
b) Os clarões em A! e B! serão simultâneos no referencial R! da nave porque as lâmpadas A’ e
a velocidade da luz é a mesma nos dois sentidos e, portanto, a separação B’, colocadas nas
extremidades de sua
entre eles, no relógio do piloto, é nula. nave, por meio de
um flash disparado
c) Para calcular a separação temporal entre os clarões no relógio do obser- do ponto médio
vador, analisaremos o problema no referencial da plataforma e suporemos C’. Um observador
que todos os relógios da plataforma estão sincronizados. Calcularemos, está situado
então, separadamente, as leituras desses relógios quando os pulsos de luz numa plataforma
provenientes de C! atingem A! e B! respectivamente. espacial no ponto C,
emparelhado com C’
no momento em que
o flash é disparado.
Enquanto o pulso de luz se desloca para a esquerda com velocidade c,o clarão Piloto e observador
de
entre
A! aviaja do pulso
saídapara de C!
a direita com
e sua
velocidade a A!, no
chegada 0,6c. Seja
relógio do observador.
Δt o intervalo de tempo
En- dispõem de
relógios que serão
comparados.
tão:
Notas
As notas deste capítulo baseiam-se em parte nos seguintes livros, onde o leitor pode
rá encontrar referências mais completas:
Pais, Abraham, Sutil é o Senhor – a ciência e a vida de Albert Einstein, Caps. 6,
7, 8, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
Holton, Gerald, Thematic origins of scientific thought, Cap. 6, Cambridge, Mass.:
Harvard University Press, 1988.
(1) Annalen der Physik, 17 (1905), 891-921. Há uma tradução brasileira desse artigo em
Stachel, John, O ano miraculoso de Einstein, Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2001. Esse
livro contém a tese de doutoramento de Einstein, submetida em 1905 e os quatro notá
veis artigos publicados por ele nesse mesmo ano.
(2) Henri Poincaré (1854-1912) foi um dos mais notáveis matemáticos de sua época, quali
ficado por E. T. Bell* como o último dos universalistas, pela amplitude de sua área de
pesquisas: foi um dos criadores da topologia e precursor da teoria de sistemas dinâmicos;
como físico-matemático, ao mesmo tempo que trabalhou num dos problemas mais difí
ceis da mecânica clássica – a análise do problema de três corpos –, foi um de seus demo
lidores, com crítica arguta de seus fundamentos e a proposta de uma nova mecânica.
Nos anos iniciais do século XX, Poincaré e Lorentz estavam no ápice de suas carreiras
científicas enquanto Einstein iniciava a sua. Na época em que trabalhava no escritório de
patentes, em Berna (1902-1909), juntamente com dois amigos, Conrad Habicht e Mau
rice Solovine, formou um grupo de estudos de tópicos de filosofia e física, chamado por
eles Academia Olímpia, por divertimento. Um dos livros estudado pelo grupo foi a cole
ção de ensaios de Poincaré, Ciência e hipótese**, que contém uma crítica aos conceitos
de tempo absoluto e de simultaneidade de eventos que ocorrem em lugares diferentes.
Esse livro causou imenso impacto sobre eles e certamente influenciou as reflexões de
Einstein que o levaram à TRE.
Pode-se dizer que a teoria da relatividade “estava no ar”. Poincaré, assim como Lorentz,
estava à procura dela, mas nenhum deles foi capaz de dar o passo para fechar uma teoria
coerente. Um ano antes da publicação do artigo de Einstein sobre a TRE, Poincaré profe
riu uma conferência sobre “O estado atual e o futuro da física matemática”, no Congresso
Internacional de Artes e Ciências de St. Louis, EUA, onde afirmava: “Talvez devêssemos
*Bell, E.T., Men
of mathematics, construir uma mecânica inteiramente nova, da qual podemos ter apenas um vislumbre,
the lives and onde a inércia, crescendo com a velocidade, faria da velocidade da luz um limite insu
achievements perável”. Temos aí, de fato, uma notável intuição, mas apenas um programa para o que
of the great deveria ser a teoria da relatividade.
mathematicians
from Zeno to
Poincaré, New York, (3) Max Planck (1858-1947), criador do conceito de quantum, no início do século XX, era
Simon and Schuster, professor da Universidade de Berlim e tinha grande renome nos meios científicos. Eins
1986. tein, ao publicar seu artigo na principal revista de física alemã, esperava que tivesse
** Poincaré, Henri, A repercussão pelas novas ideias que expunha. Porém, para sua decepção, os números
ciência e a hipótese. seguintes do periódico não continham nenhuma menção ao artigo. Só algumas semanas
Brasília, Editora depois recebeu uma carta de Planck, pedindo esclarecimentos. O interesse de Planck era
Universidade de motivado por sua busca de grandezas absolutas na física: assim como a constante h da
Brasília, 1985. teoria quântica, a velocidade da luz c era a constante fundamental da nova teoria.
Problemas 37
Essa carta marcou o início do reconhecimento do trabalho de Einstein no meio cientí
fico. Em poucos meses, Planck apresentou a TRE num seminário em Berlim, publicou
o primeiro trabalho sobre a teoria, feito por outra pessoa que não Einstein, e orientou
a primeira tese de doutorado sobre a relatividade. Paul Ehrenfest, sucessor de Lorentz
em Leyden e fundador de uma grande escola, também escreveu um artigo sobre a rela
tividade, em 1907. A teoria estava assim adquirindo rapidamente adeptos importantes
no meio científico. No entanto, houve muitos opositores por longo tempo; ao ponto de
a teoria não ter sido citada pelo comitê do Prêmio Nobel, quando Einstein foi agracia
do, em 1921 (o prêmio foi concedido pela explicação do efeito fotoelétrico com o quan
tum, mas Einstein proferiu na cerimônia de aceitação uma conferência sobre a teoria
da relatividade).
(4) Em 1909, quatro anos depois da publicação do artigo de Einstein, Poincaré proferiu uma
conferência em Goettingen – a última de uma série de seis – sobre “A nova mecânica”.
Nessa conferência, ele afirmava que a nova mecânica deveria se basear em três hipóte
ses. A primeira, que a velocidade da luz era uma velocidade-limite; a segunda, a da inva
riância das leis da física nas transformações entre referenciais inerciais (na linguagem
científica de hoje); e a terceira, a de que os corpos em movimento de translação sofre
riam uma contração na direção do movimento (contração de FitzGerald-Lorentz). Como
vimos, a contração na direção do movimento é uma consequência dos dois postulados da
TRE e, portanto, dispensável como postulado. Como não podemos duvidar de que Poin
caré conhecesse a teoria de Einstein – que já era discutida por físicos eminentes com os
quais mantinha contato –, isso indica que ele não aceitara a teoria e possivelmente não
a compreendera totalmente. Além disso, ele se agarrava ainda à hipótese do éter eletro
magnético. Nenhuma menção foi feita à teoria de Einstein na conferência, o que indica que
Poincaré apresentava um programa para, possivelmente, outra teoria da relatividade.
Apesar de sua notável intuição do princípio da relatividade – devemos a ele o nome – e de
que o aumento da inércia com a velocidade faria da velocidade da luz um limite insuperá
vel, a conferência mostra que Poincaré não tem prioridade sobre Einstein na criação da
teoria. Esse episódio ilustra a dificuldade que os historiadores da ciência enfrentam ao
tentar desvendar a origem das teorias científicas. A excelente história do eletromagne
tismo de Whittaker*, físico matemático inglês, trata a teoria da relatividade num capítulo * Whittaker, Edmund,
History of the
intitulado “A teoria da relatividade de Poincaré e Lorentz”. Esse é um exemplo de como
theories of aether
os preconceitos do historiador podem conduzir a distorções. No caso de Whittaker, pa and electricity, Vol.
rece que os preconceitos foram maiores ainda do que a dificuldade em deslindar o ema 2. New York, Nelson
ranhado das ideias nas origens da teoria. and Sons, 1953.
Whittaker é autor
de um tratado de
dinâmica analítica
Problemas que ajudou a formar
Os problemas deste capítulo têm como objetivo verificar a compreensão dos postula duas ou três gerações
de físicos; nesse livro,
dos da TRE; o estudante deve tentar resolvê-los sem apelar para a transformação de seguindo a tradição
Lorentz, a ser estudada no Capítulo 3. de Lagrange, só
aparecem figuras
2.1 Um cubo de aresta L está no referencial R e tem as arestas paralelas aos eixos – apenas quatro
coordenados. Qual é o volume do cubo para um observador que se move com desenhos de órbitas
velocidade u paralelamente ao eixo Ox? – no penúltimo
capítulo, dedicado
2.2 Uma fonte de raios Xhomogênea está em repouso no referencial R!, que se move à teoria geral das
com velocidade u relativamente ao referencial R, na direção Ox. Os comprimen órbitas.
38 Capítulo 2 — Postulados da teoria da relatividade especial
tos de onda dos raios X, medidos por observadores nos referenciais R e R9, são l
e l9 respectivamente. Ache a relação entre l e l9.
2.3 Faça um gráfico de g em função de b para variações de 0,1 em b, de 0 a 1. Obser
ve o gráfico e reflita sobre a contração do comprimento e a dilatação do tempo.
2.4 As réguas A e B medem 1 m em seus referenciais de repouso. A régua A se des
loca com velocidade v = 0,5 c paralelamente à régua B. Para um observador no
referencial da régua B, qual é a posição relativa das extremidades de trás das ré
guas quando as extremidades da frente coincidem? Para ele, quanto tempo leva
a régua A para passar pela extremidade de trás da régua B?
Resposta: DL = 0,14 m, Dt = 5,77 ns.
2.5 A vida média do méson p+ em repouso é de 25 ns. a) Qual será a vida média
desses mésons quando se movem com velocidade b = 0,75 e qual é a distância
percorrida por eles durante sua vida média? b) Qual seria a distância percorri
da se efeitos relativísticos fossem ignorados? c) Responda a questão (a) para
b = 0,99.
Resposta: c) 52,6 m.
2.6 Foguetes interplanetários atingem a velocidade máxima de aproximadamente
240 mil km/h. Imagine que um astronauta está numa estação espacial quando um
foguete passa a essa velocidade. a) Qual é a contração percentual do foguete por
ele observada? b) Quanto tempo atrasará o relógio do foguete, em relação ao da
estação, num ano terrestre?
Resposta: b) 0,76 s.
2.7 Suponha que o relógio da Figura 2.4 está colocado no referencial R9 ao longo
da velocidade u. Mostre que a mesma dilatação do tempo, como a dada pela
Equação 2.1, é obtida.
2.8 A vida média de repouso do méson p+ é t = 25ns. Um pulso de 106 mésons segue
uma trajetória circular de 30 m de raio com velocidade b = 0,995. a) Quantas
partículas sobrevivem após uma volta? b) Quantas sobreviveriam se as partículas
estivessem em repouso durante o mesmo tempo?
Sugestão: A lei de decaimento no referencial da partícula é N(t) = N(0)e–t/t.
39
A transformação
de Lorentz
l — — OC
/ 30 — lll / / / C
00 = 1 = /(a — ut), Q/ = /, 2 = 2, t" = T = y t—=x )
- - C
nº )2 nuº )2
1—=
C
—=
C
Onde:
1
%= 1. "
nuº )2
1—=
C
Obtemos então:
aº + yº + eº = cºtº,
que é formalmente idêntica à Equação 3.1, de onde partimos.
42 Capítulo 3 — A transformação de Lorentz
Portanto a transformação
′x = γ(x – ut) ′y = y, ′z = z, ′t = γ ⎛ t−cu ⎞
2x ⎟ , (3.4)
⎝⎜ ⎠
tabela 3.1
física clássica tre
Velocidade da luz A
no
movimento
velocidade
referencial
dada
do
fonte.
luz
éter
deve
e independe
ser medida
do A velocidade da luz é absoluta e
independe do movimento da fonte.
referenciais
transformaçãoinerciais
entre É feita pela TG. É feita pela TL.
′t1 = γ⎛⎜⎝ t1 − c2
u ⎞⎟⎠ O x0 O9 xx9
x0 ,
O x1 x2 L0 = g L9. (3.7)
Como g > 1, concluímos que o comprimento da ré
figura 3.3
Uma régua de gua, medido em qualquer referencial que não seja o de repouso dela, será menor do
comprimento que o comprimento próprio. Esse é o resultado já obtido na Seção 2.6 pelo uso direto
L0, em repouso dos postulados de Einstein.
no referencial
R, é medida no
referencial R9.
O observador
em R9 mede as
extremidades Exemplo 3.1
da régua
simultaneamente. Mostraremos aqui como o Exemplo 2.5 pode ser resolvido de maneira mais
simples, utilizando as equações da TL.
Solução
a) O comprimento próprio da nave é L0 = x9B – x9A. Seu comprimento medido
na plataforma, Dx = xB – xA, será menor devido à contração de Lorentz
(Equação 3.7).
=L
Δx 100 m = 80 m.
γ 0 = 1,25
onde L0 é a distância própria entre os relógios. Vamos supor agora que os eventos
sejam simultâneos em R. Então, Dt = 0 e
u
Δ′t = −γ L0.
c2
Vemos que os eventos só seriam simultâneos para o observador em R9 se u/c 0,
isto é, para baixas velocidades do observador.
Para determinar a diferença de sincronia dos relógios situados em x1 e x2 para
o observador em R´, há um ponto delicado que precisamos analisar com cuidado.
Observe que Dt9, dado pela equação anterior, é o intervalo de tempo entre os dois
eventos medido no relógio de R9 – e isso não é o que procuramos. Do ponto de vista
do observador em R9, o intervalo de tempo medido por ele é dilatado por um fator g
em relação ao intervalo de tempo medido no referencial R, que se move em relação
a ele (Equação 3.5). Então, de acordo com esse observador
Dt9 = g Dt.
O intervalo de tempo entre os eventos medido nos relógios do referencial R é,
portanto,
Δ′t u
Δt = = − 2 L0. (3.8)
γ c
46 Capítulo 3 — A transformação de Lorentz
Exemplo 3.2
Na Figura 3.5, um observador C no referencial R
R R! coloca relógios nos pontos A e B, distantes um do
outro 10 minutos-luz e uma lâmpada no ponto in
termediário de A e B, onde permanece. O obser
u vador C’ está no referencial R!, que se move com
velocidade u = 0,6 c relativa a R, paralelamente ao
eixo x. Quando C! passa por Cambos acionam seus
relógios e, nesse momento, C dispara um pulso de
C! luz para sincronizar os relógios A e B.
O!
a) Qual é a distância medida por C! entre os reló
O gios A e B?
A C B
b) Quais são as indicações do relógio de C! quando o
figura 3.5 pulso de luz chega a A e B?
O observador C é
equidistante dos c) Qual é o intervalo de tempo entre a recepção do pulso de luz em A e B, de
relógios A e B no acordo com C?
referencial R. O
observador C!, no d) Quanto tempo o relógio A está adiantado ou atrasado em relação ao relógio
referencial R!, que B, de acordo com C!?
tem velocidade u em
relação a R, passa
por C no momento
em que este dispara Solução
um pulso de luz
para sincronizar os a) A distância de 10 minutos-luz pode ser expressa por 10 c min (observe que
relógios A e B. essa grandeza tem a dimensão de comprimento). A e B estão em repouso
no referencial R, então o comprimento AB em R é um comprimento pró
prio. C! mede um comprimento menor
Lo
L= ;
γ
1 =0,81=1,25;
γ =
L = 1− u2
c2
At" = (*-*) cº
= 1,25 { …-**): cº
10 min.
*)->{º- 1
0,6 C. 10 cmin
•
}
|
At' = y At — —
cº cº
= —7,5 min.
VELOCIDADES
Conhecemos a Velocidade V de uma partícula P nO re
ferencial inercial R e queremos achar sua velocidade
no referencial R", que se desloca com velocidade uni
forme u em relação a R. Como já vimos, é sempre pos- U1 }
Aº_
, — Arº_ Y(Ar-uA) — A " ", -u
30 At / "(…) 1_ " Aº
Ax 1-", o ?
C cº. At c2 *
/ AU
v=*= AU = At = 0, (3.9)
º At" ?/ (u Aa: ?/ ? •
A At — — Aa:
cº } A 1— ——
cº } A 1—=U
cº }
U"2 = -
Os •
7/,
"(…)
A transformação da componente ve pode ser deduzida pelo leitor facilmente.
Se conhecermos a velocidade da partícula no referencial R" e quisermos determi
ná-la no referencial R, isto é, obter a transformação inversa, bastará trocar u por —u
nas Equações 3.8:
_ v% + u v% v.
U, = 11 " … U, =
-
TV U =
-
Y-7_Y (3.10)
gº. } 1…" y 1…"
_
Exemplo 3.3
A luz tem VeloCidade C nO referencial R. Qual é Sua VeloCidade no referencial
R", que se desloca com velocidade u em relação a R, na mesma direção e sen
tido da luz?
Solução
Utilizamos a TL para calcular a velocidade da luz no referencial R':
- / C — ?/,
U. = C, então U" = = C
1– "
cº
COmO deveríamos esperar.
Exemplo 3.4
Um problema interessante é a determinação da velocidade da luz em um líqui
do que flui (Veja a experiência de Fresnel-Fizeau na Seção 1.6). A luz se des
loca com velocidade C/m num meio de índice de refração n que, por sua vez, se
desloca com velocidade u em relação ao observador. Fresnel deduziu, utilizan
do argumentos clássicos, a seguinte fórmula (Equação 1.8) para a velocidade
3.6 — Efeito Doppler 49
Solução
Podemos usar a fórmula relativística de adição de velocidades (tomamos as ve
locidades da luz e do meio em sentidos opostos e chamamos de v! a velocidade
da luz em relação ao meio):
v= 1+ c
n +uu
′v+′vuu= 1+ ≅⎛⎜⎝nc+u⎞⎟⎠⎛⎜⎝1−cnu⎞⎟⎠≅nc+⎛⎜⎝1−n1⎞⎟⎠u,
2
c2 cn
3.7).
atmosfera
Observe
– está
queem
o meio
repouso
em que
emse
R.propaga
O emissor
o som
emite,
–a figura 3.7
O receptor está em repouso no meio, e o emissor
no intervalo de tempo Δt, uma onda com N cristas, move-se com velocidade u relativa ao meio, afastando
cuja frequência é ν! = N/Δt. Repare que não há nada a se do receptor.
50 Capítulo 3 — A transformação de Lorentz
(vs +Nu)Δt
λ= .
ν ≅ ′ν⎛ u⎞
⎜ 1− v ⎟ .
⎝ s⎠
ν=′ν⎛⎝ u⎞
⎜ 1− v ⎟ . (3.12)
s⎠
t+ Δt = γ′t+γuc′t=γ′t⎛⎝1+uc⎞⎠=′t1+1−ββ
⎜⎟ .
1 1−1=′ν1+ββ
ν = t+ . (3.13)
Δt = ′t 1−β
1+ β
O resultado obtido mostra que o fator que corrige a frequência no efeito Doppler
relativístico só depende de ß, ou seja, de u, que é a velocidade relativa de emissor e
detetor, como seria esperado na TRE.
52 Capítulo 3 — A transformação de Lorentz
Problema 2 Faça o cálculo do efeito Doppler para o caso em que a fonte de luz
está em repouso e o receptor se aproxima dela com velocidade u. Mostre que o
resultado é igual ao obtido na Equação 3.13. Só poderia ser assim, porque na teo
ria da relatividade importa apenas a velocidade relativa (não há referencial abso
luto).
λmédio=12(λfrente+λatrás)=12λ0 ⎛⎝1+1−ββ+1−1+ββ⎞⎟⎠= 1−
λ0β2
⎜ .
′ν= 1′t=γ1t=(1−β2)12ν.
(3.15)
Vemos que o efeito transversal é de segunda ordem em u/c.
cH
1 ≈1026 m,
Exemplo 3.5
Um par de linhas característico do espectro de potássio é observado no labora
tório em 395 nm. Quando o espectro da luz proveniente de uma certa galáxia
é observado, o mesmo par é identificado em 447 nm. Qual é a velocidade de
recessão da galáxia?
Solução
Observamos um desvio do espectro da galáxia para comprimentos de onda
maiores, ou seja, um desvio para o vermelho, que indica afastamento da galá
xia. O desvio percentual é:
Δλ 52
=13%.
λ = 395
Vamos supor que a velocidade de afastamento da galáxia seja pequeno em re- * Discussões detalha
lação à velocidade da luz, ß << 1. Podemos usar então a aproximação para o das e bem documen
efeito Doppler (Equação 3.13) tadas do papel da
experiência de MM
ν ≅ ′ν(1− β), na gênese da TRE
λ =νc ′ν(1− c β) ≅ ′λ(1+ β), podem ser encon
Δλ
λ =≅ tradas no excelente
ensaio “Einstein,
′λλ− λ ≅ β. Michelson, and the
‘crucial’ experiment”,
capítulo 8, do livro
de Holton, Gerald,
Portanto, ß > 0,13. A galáxia observada se afasta com velocidade u > 0,13 c. Thematic origins of
scientific thought,
Harvard University
Press, Cambridge,
Notas Mass: EUA ,1988 e
nos capítulos 6, 7 e
(1) O papel desempenhado pela experiência de Michelson-Morley (MM) na gênese da TRE
8 de Pais, Abraham,
é difícil de deslindar*. Nas palavras do próprio Einstein, “Não há, de fato, um caminho Sutil é o Senhor,
lógico que leva ao estabelecimento de uma teoria científica mas apenas tentativas cons a ciência e a vida
trutivas controladas pela cuidadosa consideração de conhecimento factual”. A expe de Albert Einstein,
riência de MM não é citada no artigo fundamental de 1905, a não ser de passagem e indi Nova Fronteira: Rio
retamente, quando se faz referência ao “insucesso das experiências feitas para detectar de Janeiro, 1997.
56 Capítulo 3 — A transformação de Lorentz
(3) Woldemar Voigt (1850-1919) foi quem primeiro publicou, em 1887, a descoberta, exceto
por um fator de escala, do sistema de equações que seria depois denominado transfor
mação de Lorentz por Poincaré. Em 1900, Joseph Larmor (1857-1942) descobriu inde
pendentemente a transformação exata (Equações 3.4) e, além disso, demonstrou que a
contração de FitzGerald-Lorentz era uma consequência dela. Em 1899, Lorentz desco
briu independentemente a transformação exceto por um fator de escala e, em 1904, na
forma exata.
A TL, descoberta pelos antecessores de Einstein, era uma ferramenta matemática útil
para certos objetivos, porém, sua interpretação não era óbvia para o físico do século XIX
– por exemplo, como interpretar os tempos t e t´? Lorentz propôs chamar o tempo t tem
po geral e o tempo t´ tempo local, mas é claro que, para ele, o tempo verdadeiro era t,
o tempo do referencial do éter. Não foi, portanto, capaz de dar a interpretação correta
aos tempos t e t´ como tempos verdadeiros em referenciais inerciais diferentes e dessa
forma abolir o tempo absoluto.
Poincaré, deu um passo adiante e tratou t! como um conceito físico. Para ele, se dois
observadores em movimento relativo sincronizam seus relógios por meio de sinais lu
minosos, ambos marcam tempos locais – nenhum deles marca o tempo verdadeiro.
Como requerido pelo princípio da relatividade, argumentava ele, o observador não
sabe se está em repouso ou em movimento absoluto. Vemos quão próximo Poincaré es
tava da teoria da relatividade: ele usava o princípio da relatividade, criticava a intuição
de simultaneidade, negava o tempo absoluto e previa que uma nova mecânica deveria
ser construída. No entanto, sua crítica ao conceito de simultaneidade se referia a locais
diferentes de um mesmo referencial e não a diferentes referenciais em movimento rela
tivo e sempre acreditou que era necessário tomar como hipótese adicional para construir
a nova mecânica a contração de FitzGerald-Lorentz. Nunca chegou, de fato, a criar uma
teoria completa e coerente, mas, sim, o programa para uma possível teoria.
A descoberta da TL por Einstein foi feita a partir dos postulados de sua teoria e, por
tanto, independente das anteriores. Em seu trabalho no escritório de patentes de Berna
tinha pouco acesso à literatura científica; mesmo de Lorentz, a quem admirava imensa
mente, só conhecia em 1905 os trabalhos publicados até 1895, como afirmou repetidas
vezes. Na verdade, seus notáveis artigos de 1905 foram feitos em completo isolamento
da comunidade científica. Era próprio de sua natureza a reflexão independente; desde os
tempos de estudante mostrara gosto pela solidão.
*Dukas, Helen e
Hendrik A. Lorentz (1853-1928) merece um comentário à parte pelo papel que desem
Hoffmann, B. (org.)
penhou nas transformações por que passou a física no final do século XIX e por sua Albert Einstein
influência na criação da teoria da relatividade. A grande importância do trabalho de Lo o lado humano.
rentz está na ligação dos novos conceitos da física atômica (átomos, elétrons e radiação) Brasília, Editora
com as teorias de Fresnel e Maxwell de maneira coerente. Já em 1895, ele interpretava Universidade de
as equações de Maxwell em termos de cargas e correntes de partículas fundamentais – Brasília, 1985, p.15.
58 Capítulo 3 — A transformação de Lorentz
que chamava íons – e introduzia a força que atua sobre um “íon” de carga e que se move
num campo eletromagnético (E, B): a força que hoje chamamos força de Lorentz (em
1899, ele denominava íons os portadores de carga elétrica). Lorentz era admiravelmen
te criativo e explorava todos os caminhos que a física clássica oferecia para atingir seus
propósitos. Poincaré, que era seu amigo e admirador, criticou-o sutilmente pelo excesso
de hipóteses que formulava, mudando-as constantemente, quando percebia caminhos
melhores.
Seu conhecimento amplo, profundo e coerente, associado a um caráter modesto, pacien
te e justo (veja seu relacionamento com FitzGerald na nota 6 do Capítulo 1) faziam de
Lorentz uma pessoa muito admirada e estimada no meio científico (Einstein tinha par
ticular estima e respeito por ele). Em 1902, junto com P. Zeeman, ele foi agraciado com
o Prêmio Nobel, por seus trabalhos em espectroscopia, que se tornariam fundamentais
para o desenvolvimento da velha e da nova física quântica. Lorentz passou toda sua vida
na Holanda, tendo saído de seu país pela primeira vez aos 45 anos para participar num
congresso científico do outro lado da fronteira. Quando faleceu, tinha se transformado
em pessoa admirada e respeitada por seus concidadãos; durante a cerimônia de seu
enterro, os sistemas de correios e telefones da Holanda suspenderam suas atividades
durante três minutos, em sinal desse respeito e admiração.
(4) Max von Laue (1879-1960) foi um dos primeiros físicos a aceitar a TRE. Tomou conheci
mento dela por meio de Planck, de quem era assistente, e marcou uma visita a Einstein
em Berna para discutir alguns aspectos da teoria. Relata que ficou muito impressionado
ao encontrar um jovem físico, de sua idade, como autor da teoria. Em 1907, von Laue
publicou a nota sobre o tratamento relativístico da experiência de Fizeau (veja o Exem
plo 3.3) e foi autor da primeira monografia sobre a teoria. Foi agraciado com o prêmio
Nobel em 1914, alguns anos antes de Einstein, pela descoberta da difração de raios X em
cristais.
(6) Ives H. E., Stilwell G. R., J. Opt. Soc. Am. 28, 215 (1938); 31, 349 (1941).
(7) As estrelas variáveis Cefeidas são astros gigantes, que têm três ou mais vezes a massa do
Sol. Elas pulsam, variando em brilho ao mesmo tempo que variam em tamanho. A pulsa
ção da estrela está ligada ao ciclo de processos termonucleares envolvendo núcleos de
hidrogênio e hélio. O período é diretamente relacionado ao brilho intrínseco da estrela,
isto é, em termos astronômicos, a sua grandeza absoluta. Conhecida a grandeza de uma
Cefeida e sabendo que o brilho cai com o quadrado da distância, o astrônomo pode cal
cular sua distância.
Problemas
Resolva os problemas 2.4, 2.5 e 2.6 do Capítulo 2 utilizando a TL.
3.1 Dois homens, situados nas extremidades A e B de uma nave espacial, cujo com
primento próprio é 60 m, atiram um contra o outro. Ela tem velocidade c/5 em
relação a uma plataforma espacial. Uma testemunha na nave diz que eles atira
ram simultaneamente. O que diz uma testemunha situada na plataforma, quan
Problemas 59
to à ordem dos tiros e ao intervalo entre eles (refira-se ao homem da frente e ao
da traseira da nave em sua resposta)?
Resposta: O da frente atirou 40,8 ns antes.
3.2 Um observador numa plataforma espacial, cujo comprimento próprio é 100 m,
mede a velocidade de uma nave que passa por ele e acha 0,5 c. Por meio de
um arranjo experimental que permite medir as posições das extremidades da
nave simultaneamente, determina 60 m de comprimento dela. a) Qual é o com
primento da nave em repouso? b) Qual é o comprimento da plataforma para o
piloto da nave? c) Qual é o intervalo de tempo no relógio da nave entre as duas
medidas realizadas pelo observador da estação? d) Para o observador na pla
taforma, quanto tempo leva a nave a passar por ele? e) Para o piloto, quanto
tempo leva a plataforma a passar por ele?
Respostas: b) D = 86,6 m; c) Δt = 0,115 μs; e) Δt = 0,46 μs.
3.3 Uma nave espacial se move com velocidade 0,9 c em relação a uma plataforma
cujo comprimento próprio é 100 m. O controlador da plataforma, situado no
meio dela, aciona simultaneamente (em seu relógio) sinalizadores luminosos
existentes nas extremidades da plataforma. Ache a separação espacial e tem
poral dos clarões dos sinalizadores no referencial da nave.
Resposta: Δt = 0,687 μs (indique a ordem temporal dos clarões vistos na
nave).
3.4 Um observador vê duas partículas se moverem em sentidos opostos, ambas
com velocidade 0,99 c em relação a ele. Qual é a velocidade de uma partícula
em relação à outra? Comente esse resultado.
3.5 Uma partícula que se move com velocidade c/2 no referencial R do laboratório
emite um fóton na direção e sentido de sua trajetória. a) Calcule a velocidade
do fóton, em módulo e direção, no referencial R! da partícula. b) Repita o cálcu
lo para o caso em que o fóton é emitido numa direção perpendicular à trajetória
da partícula.
Resposta: b) v = c, θ = 60o.
3.9 No referencial R são observados dois eventos A (x1 = 1, y1 = y0, z1 = z0, ct1 = 2)
e B (x2 = 5, y2 = y0, z2 = z0, ct2 = 1). Ache a velocidade do referencial R9, que se
move ao longo do eixo x, no qual os eventos são simultâneos.
Resposta: u = – c/4.
3.10 Um pulso de laser é enviado da Terra para a Lua. Qual deveria ser a velocidade
de uma nave espacial que vai da Terra para a Lua para que o astronauta ob
servasse a saída do pulso da Terra e sua chegada à Lua como acontecimentos
simultâneos?
3.11 Uma nave espacial tem uma antena de comprimento l, que forma um ângulo u
com a direção de seu movimento. Qual é o comprimento e a direção da antena,
medidos por um observador de outra nave que passa por ela, movendo-se na
mesma direção e sentido com velocidade relativa u? Faça uma aplicação para
u = 135° e l = 1,0 m.
Resposta: l9 = 0,866 m, u9 = – 54,7o.
mecânica
relativística
vy v
Depois Antes
1
–vx 1
1 v
–vx –vy –mvy(1)mvy(1)1
′vx(1)= 1+
−2uu2
c2 ′vy(1)=−vy(1)
γ ⎛1+ u2
c ⎞⎟ −2u vy(1)
′vx(1)= 1+ u2
c2 ′vy(1) =
γ ⎛1+ u2 ⎞
⎜ ⎜ ⎟
⎝ ⎠ ⎝ c2 ⎠
R9
v9x (2) = 0 ′vy(2) = γ ⎛v1−
y (2)
u2
c2
2⎞
(2) = 0 ′vy(2)= −vy(2)
v9x γ ⎛1− u2 ⎞
⎜ ⎟ ⎜ ⎟
⎝ ⎠ ⎝ c2 ⎠
A Equação 4.1 mostra que nenhuma partícula massiva pode atingir a velocidade
da luz, porque, nesse caso, seu momento seria infinito, o que exigiria uma energia
infinita. Um número imenso de experiências com aceleradores de partículas compro
vam isso. Portanto, c é a velocidade máxima com que é possível transmitir um sinal,
seja por ondas eletromagnéticas ou por meio de partículas materiais. É preciso notar,
no entanto, que c é a velocidade da luz no vácuo. Num meio transparente, a velocida
de da luz é c/n , sendo n o índice de refração do meio e, nesse caso, a velocidade de
uma partícula poderá ser maior do que a velocidade da luz. Um fenômeno interessan
te que resulta desse fato é o efeito Cherenkov, tratado no final deste capítulo.
4.2 EnERgiA
A lei de Newton na forma F = ma não pode ser correta na teoria da relatividade,
porque conduziria à conservação do momento clássico p = mv, o que, como vimos
na seção anterior, não acontece de fato. Como já temos uma expressão relativística
para o momento, é razoável usar como definição de força a mesma expressão usada
por Newton em sua formulação da mecânica,
F= dpdt,
⎡ v2 1 ⎤ v2 3
mv =md ⎢ ⎛ ⎞ − ⎥ ⎛ ⎞ −2
d(γmv)=d ⎣⎢ v⎜ 1− c2 ⎟ ⎥ = m ⎜ ⎟ dv,
v2 ⎢ ⎝ ⎠ ⎥ ⎝ 1− c2 ⎠
1− 2 2⎦
c (4.2)
v ⎛ ⎞
3 1
− dv = mc2 ⎡ − ⎤ ⎜ ⎟
v mv⎛ v2 ⎞ 2 ⎢⎛ v2 ⎞ 2 ⎥ 1
Ec = ∫0 ⎜ 1− ⎟ ⎢⎜ 1− ⎟ ⎥ = mc2 ⎜
⎜ −1⎟ .
⎝ c2 ⎠ ⎝ c2 ⎠ ⎟
⎢ ⎥ ⎜ v2 ⎟
⎣ ⎦0 ⎜⎝ 1− ⎟⎠
c2
que é o valor clássico da energia cinética. Repare que na teoria da relatividade espe
cial (TRE), a energia cinética pode ser escrita como 1–2 mv2 somente se v/c <<1.
da mola distendida.
Imagine a formação de uma molécula por dois íons ligados por força atrativa. A Figura 4.4
Energia potencial de
energia potencial U do sistema na situação de equilíbrio (r = r0), em relação à ener um sistema formado
gia potencial dos íons separados por uma distância infinita, é negativa (veja a Figura por dois íons que se
4.4) e a massa de repouso do sistema, formado pelos dois íons ligados, será inferior atraem, em função
de sua separação
por uma quantidade Dm = – U(r0)/c2 à soma das massas dos íons separados. De for e formam uma
ma análoga, se os íons se repelissem, de modo que a energia potencial fosse positiva, molécula estável
a massa do sistema aumentaria Dm = U/c2. quando estão à
distância r0; U(r0) é
Na Equação 4.4, a energia de repouso da partícula, negativa em relação
a U(`) = 0.
E0 = mc2 (4.5)
mostra que a massa inercial de um corpo é uma medida de seu conteúdo de
energia. Essa equação – a famosa equação de Einstein – exprime o princípio de
equivalência de massa e energia. Ela foi deduzida por Einstein num segundo ar
tigo sobre a TRE, publicado também em 1905(1), onde ele sugeriu que a equação
poderia ser comprovada utilizando-se sais de rádio, que, por serem radioativos, têm
66 Capítulo 4 — Mecânica relativística
conteúdo de energia bastante variável. Essa proposta de teste mostra, além de uma
percepção profunda dos fenômenos físicos, seu conhecimento das descobertas con
temporâneas da física experimental. Dessa equação deduz-se imediatamente que se
um corpo emite a energia u sob a forma de radiação, sua massa decresce de u/c2 e
a radiação transporta a inércia para outros corpos. A acumulação de energia num
ponto do espaço, em virtude, por exemplo, de um campo, é sempre acompanhada da
criação de inércia naquele ponto.
De acordo com a mecânica quântica, mesmo na situação de maior quietude pos
sível, como existe numa região vazia do espaço, há uma imensa quantidade de ativi
dade, uma troca contínua de energia por momento e viceversa. As flutuações dessas
duas entidades são cada vez maiores, à medida que o tamanho da região e a escala
de tempo examinadas diminuem.
A conservação da energia em processos tratados relativisticamente é verificada
em inúmeras experiências de colisões de partículas ou desintegração nuclear. En
tretanto, na TRE, a conservação da massa não pode ser tratada isoladamente da
conservação da energia, como se faz na mecânica clássica. A equivalência de massa
e energia implica substituição das duas leis de conservação por apenas uma: a lei de
conservação de massa-energia, que exprime a conservação de mc2 + Ec. Num pro
cesso físico qualquer, por exemplo, uma colisão de partículas, parte da energia ciné
tica pode ser transformada em massa de repouso ou o contrário. Podemos, também,
referir-nos à conservação da massa relativística M(v), porque a energia total é pro
porcional à massa relativística, E = M(v)c2. A lei de conservação de massa-energia é
confirmada experimentalmente num número imenso de processos de desintegração
nuclear e tornou-se uma das leis básicas da física nuclear, como veremos em vários
exemplos neste capítulo.
Muitas vezes é conveniente expressar a energia total, E = gmc2, em termos do
momentop da partícula. Temos então:
E = γmc2 = mc2
e p = γvm. (4.6)
E v2
1−
c2
2 ( )2
= 1−
mcv22
c2 e p2 = m2v2
.
2
1− v
c2
Exemplo 4.1
Usualmente é mais fácil trabalhar com expressões da mecânica clássica do que
com as correspondentes relativísticas. Quando é permitido usar a aproximação
clássica na solução de problemas de mecânica?
Solução
Da equação 4.6 obtemos
E Ec + mc2 Ec
γ= = =1+ .
mc2 mc2 mc2
68 Capítulo 4 — Mecânica relativística
Vemos que, se a energia cinética relativística for muito menor do que a ener
gia de repouso, g > 1, então, as expressões clássicas poderão ser utilizadas
com erro pequeno. Vejamos, por exemplo, qual é o erro cometido quando
substituímos
expressão clássica
a expressão daOenergia
1/2mu2. erro nacinética
aproximação
relativística
será: Ec = gmc2 – mc2 pela
1
δE = Ec cmu2
c . (a)
−E2
Mas
−
⎛ u
c 2 ⎞⎠ 1
2u 3 u4
c2 + 8
γ = ⎜ 1− 2 ⎟ 12 ≅1+ 2
+…
⎝ c4
Então,
2
δEc ⎛ ⎞
⎜⎝ 12mu2 ⎟⎠
Ec =(γ−1)mc2 ≅ 12 mu2 +32
mc2
e
E
2 mcc2.
≅3
Para obter a última relação, utilizamos a Equação (a) e fizemos Ec > 1/2mu2.
O erro na aproximação é, portanto, 1,5 vez a relação da energia cinética para
a energia de repouso.
Exemplo 4.2
Uma partícula de massa de repouso m e velocidade v colide com uma partícula
de massa m0, em repouso, e se integram. Determine a massa e a velocidade da
partícula composta.
Solução
Como a partícula de massa m0 está em repouso, o movimento da partícula com
posta será na mesma direção do movimento da partícula incidente e podemos
levar em conta apenas valores escalares. Sejam M, V e p a massa de repouso,
4.2 — Energia 69
• Conservação do momento:
p = 1−
mv = MV . (b)
v2 1− V2
c2 c2
Da Equação (b) obtemos:
V 2= p2c2
p2 + M2c2
Exemplo 4.3
Mostre que, pelas regras de conservação de momento e energia, um elétron
livre que se move com velocidade v, no vácuo, não pode emitir um único fóton
num processo qualquer. Por que um elétron de um átomo de hidrogênio num
estado excitado pode emitir um fóton sem violar as regras de conservação?
Solução
Vamos admitir que o processo se realize e que as equações de conservação de
momento e conservação de energia nos levam a uma condição absurda. Seja m
e p0 a energia e o momento antes do processo, E1 e p1, a
energia e momento depois do processo e hν a energia do fóton. Supomos que
o elétron é emitido na direção e sentido do movimento do elétron.
70 Capítulo 4 — Mecânica relativística
• Conservação do momento:
p1 = p2 + hν
c . (a)
• Conservação da energia:
Substituindo E1 e E2
E1pelas
= E2 expressões
+ hn E12 =dadas
E22 + pela
h2n2 Equação
+ 2E2hn.4.6, obtemos:
hν
c hc′ν cosϕ + Pe cosθ, (b)
Isolando nas Equações (b) e (c) os termos que contêm u, elevando ao quadrado e
somando membro a membro, eliminamos u e obtemos:
hc2
2ν2 − 2hc2
2ν′ν cosϕ + hc2
2′ν
= Pe2
ou
h2(n– n9)2 + 2h2nn92(1 – cosw) = Pe2c2.
Substituindo a expressão de Pec2, dessa equação e a de Ee, da Equação (a), na
Equação 4.7,
E2e = P2c2e + (m c2)2,
obtemos
2h(n – n9)mc2 = 2h2nn9(1 –cos w)
e, finalmente,
− ′ν c=′λ−λ=mch(1−cosϕ).
νν′ν (4.9)
γm
dpdt = dt
d(γ mv)= dv (4.10)
dt.
Observe que F é perpendicular a v, por isso não realiza trabalho e a energia total da
partícula deve permanecer constante:
Et = gmc2 = constante g = constante.
74 Capítulo 4 — Mecânica relativística
Exemplo 4.4
Qual é a energia liberada na reação em que um próton reage com um núcleo de
73Li para formar duas partículas a?
Solução
Como vimos antes, para utilizar as tabelas de massas atômicas, substituímos os
núcleos por átomos:
73Li + 11H 242He + Q,
Q = M(73Li) + M(11H) – 2M(42He) = (7,0160 + 1,0078 – 2 3 4,0026) u,
Q > 17,3 MeV.
Vemos que a massa de repouso não é conservada – o que se conserva é a soma
das massas e energia.
76 Capítulo 4 — Mecânica relativística
Problema 7 Uma reação típica de fissão nuclear que ocorre nos reatores nuclea
res é:
n + 235U 236U 141Ba + 92Kr + 3n + Q (calor desprendido).
Os nêutrons que produzem essa reação são térmicos e sua energia cinética ( 0,025
eV) pode ser ignorada na reação. Calcule Q (em MeV) e a massa transformada em
energia (em u). As massas atômicas dos elementos estão tabeladas em diversos
manuais e podem ser encontradas também na internet.
Resposta: Q > 173,3 MeV.
Am = E2i. (4.12)
c
Exemplo 4.5
Examine a estabilidade dos núcleos 84Be e 94Be.
Solução
O defeito de massa de 84Be é
Dm =Smi – M = 4mp + 4mn – M(84Be) = (4 3 1,007286 + 4 3 1,00866 –
8,00531)u = 0,05847 u > 0.
Sendo M < Smi, o núcleo é estável em relação à desintegração nas partículas
constituintes.
Consideremos, no entanto, o decaimento de 8Be em dois núcleos de 42He (par
tículas a):
Dm = 2 M(42He) – M(84Be) = (2 3 4,00 260–8,00531)u = – 0,000 11u < 0.
tículas
Neste caso,
a, o que
M > Smi e o núcleo é instável em relação à desintegração em par
de fato se observa experimentalmente.
(o
O leitor
defeito
poderá
de massa
agoradomostrar
núcleo de
que9Be
o núcleo
é positivo
de 94eBe
m relação
é absolutamente
a suas partículas
estável
4
constituintes e também em relação a todos os núcleos possíveis em sua desin
tegração).
Notas
(1) Esse artigo, que vale a pena ser lido, tem por título A inércia de um corpo depende de
seu conteúdo de energia? e foi publicado em: Einstein, Albert, Annalen der Physik,
18 (1905) p. 639-641. Existe tradução em português em: Stachel, John, O ano miracu
loso de Einstein, Rio de Janeiro: UFRJ (2001).
V ∗ = Pxc2.
E
Essa expressão, generalizada para o caso em que a velocidade do centro de massa tem
uma orientação geral, é:
N
V* 2
= Pc
E ou
∑N.
β∗ =i=1
p ic
(4.15)
∑ Ei
i=1
Problemas
4.1 Com que rapidez uma partícula deve se mover para que sua energia cinética
iguale sua energia de repouso?
4.2 Qual é o momento de uma partícula cuja massa relativística é quatro vezes a
massa de repouso?
Resposta: 3,87 mc.
4.3 Um múon (vida média τ = 2,2 μs e massa de repouso m = 105,7 MeV/c2) tem
energia cinética de 50 MeV no referencial do laboratório. Calcule a energia to
tal, o momento do múon e a distância percorrida no laboratório durante a vida
média.
Resposta: p = 114,3 MeV/c, l = 713 m.
4.4 a) Calcule a razão da massa relativística de um elétron para sua massa de re
pouso para as seguintes velocidades da partícula: ß = 0,1; 0,5; 0,9; 0,99; 0,999.
b) Calcule as energias cinéticas do elétron nas velocidades do item (a) em J e
em MeV. c) Resolva o item anterior para um próton e faça uma comparação com
as energias cinéticas do elétron.
4.5 Um acelerador fornece prótons com a energia cinética de 2,5 BeV. Ache a ve
MeV/c2). (ß), a massa relativística e a energia total desses prótons (mp = 938,2
locidade
Resposta: ß = 0,962.
4.6 Partículas de raios cósmicos podem atingir extraordinárias energias da ordem
de 1013MeV (calcule essa energia em joules). Qual é o tempo próprio que uma
partícula estável, com essa energia, leva para atravessar nossa galáxia, cujo
diâmetro mede cerca de 105 anos-luz?
4.7 Um próton cujo momento é 800 MeV/c colide com um próton em repouso. Qual
é a velocidade do CM do sistema?
Resposta: ß* = 0,368.
80 Capítulo 4 — Mecânica relativística
4.8 Mostre que a energia cinética de uma partícula pode ser escrita na forma
de
Ec = 12mvc22 + 83mvc24 +… Ache a que valores v/c a energia cinética relativísti
Formalismo no
espaço-tempo
5.1 vEtorEs
É bem conhecida a simplificação que se obtém no tratamento matemático das leis
da física com a introdução da representação vetorial. Essa simplificação resulta em
parte da concisão: três equações, correspondentes às projeções nos três eixos de
coordenadas, são substituídas por apenas uma equação vetorial. A principal vanta
gem, no entanto, é que a formulação de uma lei física em termos de vetores é inde
pendente da escolha do sistema de coordenadas. A homogeneidade e a isotropia do
espaço, que, como vimos no Capítulo 1, constituem fundamentos da física clássica,
são, dessa forma, incorporadas pelo formalismo vetorial.
Vamos tomar o deslocamento Dr = (Dx, Dy, Dz) que liga dois pontos no espaço
euclidiano como protótipo. Sob uma operação de translação do sistema de eixos de
coordenadas, as componentes de Dr permanecem as mesmas e, sob uma operação
de rotação, elas se transformam como as próprias coordenadas:
Dx9 = a11Dx + a12Dy + a13Dz,
Dy9 = a21Dx + a22Dy + a23Dz, (5.1)
Dz9 = a31Dx + a32Dy + a33Dz,
sendo os a funções dos ângulos que especificam a rotação. Por exemplo, para uma
rotação de um ângulo w em torno do eixo Oz a transformação é dada por:
Dx9 = Dxcos w + Dysen w,
Dy9 = Dy cos w – Dxsen w, (5.2)
Dz9 = Dz.
82 Capítulo 5 — Formalismo no espaço-tempo
x = – ct x = ct
ct1 α M
futuro em relação a O. ct2
dado
O por
módulo
(Δs)2do= intervalo
(cΔt)2–(Δx)2
entre>os
0. eventos
Como o intervalo
MeOé x
O xM
ct2α
ct1 N
cidade-limite para todos os sinais na natureza. Sendo x
a relação (Δs)2 < 0 válida em todos referenciais iner- O xN
N
ciais,
é válida
essa para um observador
impossibilidade de relação
que esteja
causal
ementre
qualquer
Oe Aqui-agora
Problema 3 Mostre que, se um evento (N, por exemplo) ocorre na parte externa
do cone de luz do evento O, é impossível achar um referencial inercial no qual ele
ocorra no mesmo local em que ocorre o evento O.
Figura 5.8
Em cada ponto
(evento) da história
5.4 o modElo do big bang E o ConE dE
do observador, luz
pode-se desenhar
o cone de luz Nossa galáxia, a Via Láctea, contém cerca de 1011 estrelas, que são a quase totali
daquele evento,
determinando assim
dade dos objetos vistos no céu à noite. Existem fora da Via Láctea, na região atingi
o que é futuro e da por nossos instrumentos que tem um raio aproximado de 109 anos luz, cerca de
o que é passado 1011 galáxias, que se afastam mutuamente umas das outras. Quando um astrônomo
daquele evento. observa galáxias distantes, ele está, na verdade, observando-as como eram no pas
sado, porque a luz proveniente delas levou um certo tempo para chegar até ele. No
cone de luz, ele estará observando uma seção reta na folha inferior do cone (Figura
5.9). Uma seção reta mais distante do vértice representará o universo na época da
formação das galáxias e, à medida que o astrônomo observar regiões mais remotas,
estará observando de fato seções do cone que correspondem ao universo em tempos
anteriores à formação das galáxias.
De acordo com o modelo padrão do big bang(3), o universo originou-se, há cerca
de 12 a 15 bilhões de anos, de um estado extraordinariamente denso e quente e, des
de então, de acordo com a teoria da relatividade geral (TRG), expande-se e resfria.
Existem evidências fortes a favor desse modelo: a recessão das galáxias e a radiação
de fundo, remanescente do estado inicial (veja a Seção 3.6). A conjetura de uma ex
plosão inicial – para a qual não há evidências firmes – não é necessária ao modelo do
big bang, que procura descrever apenas como o universo evolui e não sua origem.
5.5 — Quadrivetores 87
Se, de nossa posição atual, construímos o cone de
Observador olhando o passado
luz, uma determinada seção dele, no passado, mostra
rá a radiação de fundo remanescente do estado inicial.
Quando observamos regiões cada vez mais remotas do
universo, a seção reta observada do cone, que repre
senta o universo num certo instante de tempo, deverá Galáxias em passado recente
diminuir e tender para zero – tender para uma singu
laridade. O que faz que isso ocorra é a alta densidade
de matéria e radiação, que encurva os raios de luz que Galáxias há 5 bilhões de anos
formam a superfície do cone (veja o Capítulo 7) e os
faz convergir na singularidade, como mostra a Figura
Radiação de fundo
5.9. O estado inicial marca o início do espaço e do tem
po e não há sentido em falar em espaço e tempo antes encurva
Alta os raiosde
densidade dematéria
luz
dele. Nessa singularidade, que seria o protouniverso, a
TRG não tem validade. Há, porém, esperança de que
seja criada uma teoria quântica da gravitação, que
unificará a mecânica quântica e a TRG e evitará as sin Singularidade do big bang
gularidades previstas por esta última.
Figura 5.9
Quando observamos
5.5 QuadrivEtorEs o passado do
universo, a folha
Vamos introduzir agora o conceito de quadrivetor, que permitirá criar o formalismo do passado do
para o espaço-tempo. Inicialmente faremos a substituição da variável ct pela variável cone de luz deve se
encurvar no passado
imaginária t = ict, onde i = !–1. Não procure dar um significado físico ao fato de ser remoto, por causa
a variável correspondente ao tempo um número imaginário – trata-se apenas de for da alta densidade
malismo matemático. O vetor posição, que liga o evento (0,0,0,0) ao evento (x, y, de matéria e de
radiação, para fechar
z, t), será representado por suas quatro componentes em um ponto que é
ra (a = 1, 2, 3, 4). a singularidade que
gerou o universo.
Utilizaremos uma letra grega como subíndice para indicar uma variação de 1 a 4 e
evitar confusão com os vetores que terão subíndice latino, com variação de 1 a 3.
O quadrado do módulo do quadrivetor é:
S41ra2 = x2 + y2 + z2 + t2. (5.5)
Para evitar o uso frequente do símbolo de somatório no formalismo, introduzi
remos a convenção de que um subíndice repetido indica um somatório sobre ele (o
subíndice, nesse caso, é denominado índice mudo):
S41ra2 = rara. (5.6)
Se o leitor tiver dificuldade em entender as fórmulas escritas com esse formalismo
mais compacto, basta, toda vez que houver subíndice repetido, introduzir o símbolo
somatório que soma sobre esse subíndice. Uma expressão com subíndice elevada ao
quadrado deve ser interpretada como contendo um subíndice repetido e subenten
de, portanto, o símbolo somatório:
xa2 = xaxa =Saxa2.
88 Capítulo 5 — Formalismo no espaço-tempo
ri y 0 0 if y ) | 'i
74 0 1 0 0 || rº
n{ =
0 0 1 0 || ra Ou (r.)= A(r,
(r)= A(r, )), 5.8
(5.8)
r{ —iBy 0 0 Y JUr,
Onde B = u/c, A é uma matriz 4 X 4 e (rº) e (ro) são matrizes coluna.
A matriz de transformação A é particularmente simples nesse caso, porque a TL
relaciona dois referenciais que estão em movimentO relativo uniforme ao longo dO
eixo x; as direções y e e permanecem, então, inalteradas. No caso de movimento
relativo numa direção geral, a matriz será mais complicada. Pelas regras de multipli
cação matricial, Vemos que
• • • — ?ll
r = yr + iByr, ou "="… py(c)==="…
1-", C
Para obter a TL inversa, isto é, a transformação que nos leva do referencial R"
para o referencial R, basta substituir u por —u na matriz A da Equação 5.8 e obtere
mos a matriz transposta A. A transformação inversa é, então,
Yi y 0 0 —iBy)["{
72 0 1 0 0 rá OUl
/**
r )= A(r"). 5.9
73 =
0 0 1 () n{ (",) (r.) (5.9)
71 *Éy 0 0 Y r{
(uα) = dr
dtα0 = drα
dt dt0
dt =γ dr
dtα γ ⎛ dx
= ⎜
⎝
dt, dy
dt, dz
dt, dτ
dt ⎞
⎟⎠=γ(v,ic), (5.12)
⎜⎟ 2
c ⎛⎝dt0⎞dt⎠
dor – dada por (dt0 2 +v2 = c2.
(5.14)
Essa equação mostra que, se a rapidez v de um objeto no espaço (x, y, z) aumen
ta, a rapidez da passagem do tempo em seu relógio, em relação ao relógio do observa
/dt) – deve diminuir; à medida que a rapidez v do objeto se apro
xima da rapidez da luz, seu relógio torna-se cada vez mais lento, até parar. Em outras
palavras, o tempo não passa para um objeto que se desloca no espaço ordinário com
a rapidez da luz. Um fóton que tenha surgido nos instantes iniciais da expansão do
universo, há cerca de doze bilhões de anos, não envelheceu nem um segundo.
Então,
(pα)=
⎛ p1,p2,p3,iEc ⎞ = ⎛ p,iEc ⎞
. (5.17)
Portanto, o quadrivetor (pa ⎝⎜ ⎠⎟ ⎝⎜ ⎠⎟
temporal é a energia total, exceto pelo fator i/c. Essa definição, além de mais simples,
porque envolve a massa de repouso, que é uma característica inerente da partícula,
está mais de acordo com a filosofia da TRE, por implicar grandezas invariantes sob
a TL. Repare que a energia total E não é uma grandeza escalar, mas, sim, a quarta
componente de um quadrivetor, e não é, portanto, um invariante de Lorentz. O mes
mo podemos afirmar a respeito da massa relativística M(v), que lhe é proporcional
pela relação de Einstein E = M(v)c2. Por isso, parece-nos mais conveniente guardar
o nome massa para o conceito de massa de repouso, que é uma propriedade ine
rente e invariante da partícula e referir-nos explicitamente à massa relativística
quando quisermos utilizar o conceito M(v) = gm, quarta componente do quadrivetor
momento (exceto pelo fator invariante c2), que não é invariante de Lorentz.
Exemplo 5.1
Vamos estudar um outro exemplo de aplicação do invariante momento-ener
gia no fenômeno de produção de par elétron-pósitron (veja a Seção 4. 3). Um
g produz um par elétron-pósitron na vizinhança de um núcleo de massa M.
Calcule o limiar de energia (energia mínima) do g para que o processo possa
ocorrer.
Solução
Como o núcleo tomará uma parte da energia do g, o limiar de energia deste
deverá ser maior do que 2mc2, que é a energia utilizada na formação do par
elétron-pósitron.
Invariante momento-energia, antes da reação, no referencial do núcleo (labo
ratório):
94 Capítulo 5 — Formalismo no espaço-tempo
Fα = dp
dt0α = d(m0 dx
dt0αdt0)
. (5.21)
Essas equações são invariantes em relação à TL, porque os dois membros envol
vem quadrivetores e o escalar massa de repouso, que são invariantes sob a TL.
Vamos mostrar que as componentes espaciais desse quadrivetor, a baixas veloci
dades, reduzem-se às componentes da força da mecânica clássica e que as Equações
5.21 podem ser consideradas como a forma relativística da segunda lei de Newton.
Consideremos a componente x, lembrando que dt0 = dt!1–v2/c2:
=dp
dt0x = d
mvx
Fx v2 v2 ,
1 dt
1− 1−
c2 c2
ou
dt
d mvx v2
v2 =Fx1−c2. (5.22)
1−
c2
Relações análogas podem ser escritas para as outras duas componentes. É preciso
cuidado ao utilizar esse conceito, porque a força comum, de componentes fi (i = x,
y, z), não é um invariante de Lorentz e as equações escritas com ela não satisfazem,
portanto, formalmente, os postulados da TRE.
tgϕ + tgϕ2
t
tg ϕ=tg (ϕ1 +ϕ2 )= 1− tgϕ
1 1tgϕ2
. (5.26)
Notas
(1) Hermann Minkowski (1864-1909) foi professor de Einstein em Zurique, na Suiça. Mate
mático brilhante e excelente professor, infelizmente morreu precocemente, aos 45 anos,
apenas um ano depois da notável conferência citada no texto. Ele já era professor em
Göttingen, na Alemanha, quando estudou o artigo de seu ex-aluno e passou a desenvol
ver um novo formalismo para a teoria. Os resultados de seu trabalho foram apresenta
dos na Conferência de Colônia de 1908 (semitécnica) e num artigo publicado na mesma
época. Nessa conferência, Minkowski anunciou a invenção do espaço-tempo, de quatro
dimensões, que é absoluto, para substituir o espaço e o tempo da mecânica de Einstein,
que são relativos. No artigo, foram introduzidos os conceitos de cone de luz, intervalo
tipo-tempo, intervalo tipo-espaço e linha do universo, que utilizamos neste capítulo.
Einstein, de início, julgou que o tratamento matemático de Minkowski obscurecia as
ideias físicas da TRE e, só mais tarde, em 1912, quando começou a trabalhar na teoria ge
ral, percebendo a enorme simplificação obtida com esse formalismo, passou a utilizá-lo.
Na TRG, a gravidade é produzida pela curvatura da textura do espaço-tempo absoluto
de quatro dimensões e singularidades, ondas gravitacionais, buracos negros são dobras
diferentes dessa textura (Capítulo 7). Infelizmente, a morte prematura de Minkowski
não permitiu que visse nenhum desses desdobramentos de seu belo formalismo.
(2) Lorentz, H. A., Einstein A., Minkowski H., O princípio da relatividade. Lisboa, Funda
ção Calouste Gulbenkian, 4.a edição (s. data).
(3) Foi o padre e astrofísico belga Georges Lemaître (1894-1966) quem formulou, em 1927,
a conjetura de um universo em permanente expansão, surgido da explosão gigantesca de
um átomo primordial. Lemaître sabia que apresentava uma hipótese e não uma teoria,
mas essa conjetura adquiriria, nos anos seguintes, muitas comprovações, que a transfor
maram em teoria – ou em muitas teorias, para sermos mais exatos. O matemático russo
Aleksandr Friedmann (1888-1925) já havia demonstrado anteriormente que uma solução
possível das equações da TRG de Einstein correspondia a um universo em expansão. Do
ponto de vista observacional, Hubble mostrou, nos anos seguintes ao da conjetura de Le
maître, que o universo estava em expansão (veja Seção 3.6) – uniam-se assim astrônomos
e cosmologistas em torno do mesmo modelo do universo. A conjetura de um universo em
expansão, gerado pela explosão de um caroço, constituiu uma revolução na cosmologia –
até então presa à ideia de um cosmo estacionário – e não foi bem recebida.
98 Capítulo 5 — Formalismo no espaço-tempo
Problemas
Resolva os problemas 3.9 e 3.10 empregando o conceito de intervalo no espaço qua
dridimensional.
5.1 Considere dois eventos que ocorrem no mesmo instante t0 nos pontos (x1, y1,
z1) e (x2, y2, z2) do referencial R. Mostre, usando o conceito de intervalo no
espaço quadridimensional, que esses eventos não são simultâneos no referen
cial R9 e calcule a separação temporal entre eles.
Resposta: Dt9 = – u Dx/c2(1 – b2)1/2.
Notas 99
5.2 Considere dois eventos que ocorrem no referencial R em (x1, 0, 0, t1) e (x2, 0,
0, t2). O intervalo espacial entre eles é Dx = x2 – x1 e o temporal, Dt = t2 – t1.
Um observador está no referencial R9 que se move em relação ao referencial R
com velocidade u ao longo do eixo x. Mostre que: a) para esse observador, a
separação temporal entre os eventos é Dt9 = g(Dt – uDx/c2); b) ele só poderá
observar os eventos como simultâneos se Dx > ct; c) para que um dos eventos
seja causa do outro, é necessário que Dx < ct. Relacione as respostas dos itens
(b) e (c) com o cone de luz.
5.3 Demonstre que se eventoA é causa do evento B num referencial inercial e por
tanto o precede, essa relação de precedência será observada em qualquer outro
referencial inercial.
5.4 Imagine que seja possível enviar sinais com velocidade c9 > c. Demonstre que
é, então, possível achar um referencial R9 (que tem velocidade u < c) no qual o
efeito precede a causa.
5.5 Escreva as equações de transformação entre as componentes do quadrivetor
força entre dois referenciais inerciais.
5.6 Demonstre que o produto Faua da quadriforça com a quadrivelocidade é um es
calar igual a zero e que, como consequência, o produto escalar da força comum
pela velocidade comum é igual à taxa de aumento da energia total relativísti
ca.
Empregue o princípio de invariância do quadrivetor momento-energia para re
solver os exemplos 4.2, 4.3, os problemas 4.10 e 4.11 e também os problemas
3 e 4 do Capítulo 4.
5.7 Uma partícula de massa de repouso M, em repouso, decai para uma partícula
de massa de repouso m, emitindo um raio g. Ache as energias das partículas
resultantes do processo.
Resposta: (M2± m2)c2/2M.
100 Capítulo 5 — Formalismo no espaço-tempo
101
relatividade
e eletrodinâmica
∇×B=µ0J+µ0ε0 ∂E ,
∂t
onde 0–1 = 4p · 109 e m0 = 4p · 10–7, em unidades do SI.
A ação dos campos sobre uma partícula carregada é dada pela força de Lorentz:
F = q(E + v 3 B). (6.2)
Essa equação pode ser considerada aqui como empírica, mas é possível deduzi-la
matematicamente na formulação covariante das equações de Maxwell que apresen
taremos a seguir.
As Equações 6.1 e 6.2 constituem, com a mecânica clássica, a eletrodinâmica de
Maxwell-Lorentz. Se o estado de um sistema no instante inicial e a lei de mudança
do estado são dados, pode-se determinar univocamente, com as Equações 6.1 e 6.2,
o estado do sistema em qualquer instante futuro.
a Equação 6.3 permite uma leitura mais fácil: a variação da carga no volume en
volvido pela superfície, dada pelo segundo membro da equação, é igual ao fluxo da
corrente através da superfície, dado pelo primeiro membro. A Equação 6.3 é uma
equação de conservação.
A invariância, no entanto, refere-se à observação de que a carga total de um
sistema não muda devido ao movimento do observador. Um exemplo experimental
interessante é a comparação da molécula de hidrogênio H2, formada por dois prótons
e dois elétrons, com o átomo de hélio, com os mesmos constituintes eletrizados. O
movimento dos constituintes é muito diferente nos dois casos, mas a carga total é ri
gorosamente nula em ambos (numa precisão melhor do que uma parte em 1020). No
contexto da TRE, podemos estender essa observação ao movimento dos observado
res e dizer que a carga elétrica dentro de uma superfície fechada num referencial R
tem o mesmo valor para observadores situados em outros referenciais inerciais R9.
Mostraremos isso logo adiante com um argumento matemático, mas já podíamos
prever esse fato pela razão de ser a carga elétrica uma grandeza escalar e serem
as grandezas escalares independentes do referencial. Portanto, a invariância da
carga significa exatamente isto: que a carga observada independe do movimento do
observador.
A carga elétrica, portanto, tem duas propriedades importantes: ela se conserva
(mantém-se constante num processo físico) e é invariante (numa mudança de re
ferencial). Diferentemente, como vimos no Capítulo 5, energia (energia-massa) se
conserva, mas não é invariante, porque energia é a quarta componente de um qua
drivetor e não uma grandeza escalar.
Vamos construir agora a forma covariante da equação da continuidade. Substi
tuímos, como fizemos na Seção 5.4, a variável t por t = ict; a Equação 6.3 pode ser
escrita na forma
ic∂ρ =
∇⋅J + 0,
ic∂t
104 Capítulo 6 — Relatividade e eletrodinâmica
ou
∂Jx ∂yy + ∂J
∂x + ∂J ∂zz + ∂(icρ)
= 0.
∂τ
(Aα)=⎛⎝A1,A2,A3,ciϕ⎞⎠=⎛⎝A,ciϕ⎞⎠,
⎜⎟⎜⎟ (6.8)
∂xαα = 0, ou □ · (Aα) = 0,
∂A
(6.9)
∂2Aν
=−µ0Jν (6.10)
∂xα2
onde,
⎛ c1 ∂t
∂2 ⎞
□2≡ ∇2 − ⎜ 2 2 ⎟ .
⎝ ⎠
Agora estamos preparados para examinar os campos E e B e procurar descobrir
como devem aparecer numa formulação covariante, mas antes vamos rever o concei
to de tensor, que será necessário nesse estudo.
6.5 tensores
Sabemos que algumas grandezas físicas podem ser
x3 representadas como escalares ou como vetores, mas
há outras que exigem uma representação matemática
mais complexa. Por exemplo, a tensão em um corpo
deformável não é dada apenas pela força F que age
num ponto do corpo. É necessário conhecer também o
dSF elemento de superfície dS sobre o qual ela age. Como
esse elemento pode ser caracterizado pelo vetor de
módulo dS, normal a ele, vemos que é necessário um
x1
novo ente matemático formado por dois vetores: a for
ça aplicada F e o elemento de superfície dS (Figura
6.1). O nome tensor tem origem nesse tipo de proble
ma. Observe que nem o produto escalar nem o produ
to vetorial dos dois vetores carregarão sozinhos toda a
x2
informação necessária sobre a tensão que está sendo
examinada.
Figura 6.1 Tomemos dois vetores a e b dados por suas componentes num sistema de coorde
Para conhecer nadas: a = (ax, ay, az) e b = (bx,by,bz). Podemos formar as nove combinações:
a tensão num
corpo é necessário ax bx, ax by ax bz
ay (na superfície normal a Oy),
Ox),
conhecer a força F
az bx, ay by, az
ay bz (na superfície normal a Oz),
que atua sobre ele
e o elemento de bx, az by ,
superfície ds sobre
o qual a força é que chamaremos Tik, (i,k = x, y, z), representados na Figura 6.2.
exercida. Vimos na Seção 5.1 que as componentes ai e bi dos vetores se transformam numa
rotação do sistema de eixos coordenadas como as próprias coordenadas, portanto,
com regras bem definidas. Então, as combinações Tik também se transformarão se
gundo regras definidas, isto é, como produtos das coordenadas. Podemos agora defi
nir um tensor da seguinte maneira:
que,
Umsobre
tensor
umade
rotação
segunda
do sistema
ordem éde
umcoordenadas
agregado de
dada
nove
por
grandezas
xi = αik Tik(i, k = 1,2,3),
xk! (Equações 5.1),
transformam-se como um produto de coordenadas, isto é, de acordo com a regra
Tik = αim αkl T!ml. (6.12)
O tensor é chamado de segunda ordem, porque, nesse caso, envolve dois veto
res. Podemos de forma análoga, construir tensores de terceira ou quarta ordem com
6.5 — Tensores 107
três ou quatro vetores. No texto que segue, trataremos
apenas de tensores de segunda ordem e omitiremos, x3
por isso, a ordem.
Num referencial particular, um tensor t (em ma
T33
nuscrito represente o tensor como T) é representado
univocamente por um conjunto de nove funções que T31
são suas componentes, porém, para que um conjun T32 T13
to qualquer de nove funções represente um tensor,
é necessário que elas se transformem, numa rotação T23 T11
do sistema de coordenadas, de acordo com a regra
T21 T12 x1
dada acima (Equação 6.1). É a lei de transformação T22
das componentes que contém a essência da ideia de
tensor – a situação é idêntica à que encontramos na
definição de vetores. Em um sistema de coordenadas
particular, um vetor A é determinado univocamente
por suas três componentes ax, ay, az. Se um novo sis x2
tema de coordenadas é introduzido por uma rotação, o
mesmo vetor A é determinado por um novo conjunto
de componentes e essas novas componentes são relacionadas com as velhas por uma Figura 6.2
As nove
regra bem definida, que é a forma de transformação das próprias coordenadas. Na componentes Tik da
regra de transformação das componentes, está a essência da ideia de vetor. tensão num cubo
elementar do corpo
A independência de vetores e tensores em relação à escolha do referencial é o que são representadas
faz deles ferramentas matemáticas importantes para o estudo das leis da natureza, na figura. Na face
normal ao eixo x1:
porque esperamos que estas sejam independentes dos sistemas de coordenadas. T11, T12, T13; na face
Um tensorasé componentes
tissimétrico, simétrico se Tik
diagonais
= Tki e antissimétrico
T11 se Tik = –Tki. Num tensor an T23
normal a x2: T21, T22,
e na face normal
por exemplo, T11 , T22 e T33 são nulas, porque devemos ter, a x3: T31, T32, T33.
= –T11; existirão, portanto, apenas seis componentes independen
tes. Qualquer tensor pode ser decomposto na soma de um tensor simétrico e um
antissimétrico na seguinte forma:
Tik = 1
2(Tik +Tki)+ 1
2(Tik –Tki).
Problema 2 Mostre que (Tik +Tki) e (Tik – Tki) são tensores simétrico e antissi
métrico, respectivamente.
Para que uma equação seja um invariante de Lorentz ela deve ter uma das formas:
a = b, onde a e b são escalares; (aα)=(bα), onde (aα) e (bα) são quadrivetores; (Tμν)
= (Qμν), onde (Tμν) e (Qμν) são quadritensores de segunda ordem (na verdade, essa
equação pode ser generalizada para quadritensores de qualquer ordem). Sob rota
ções do sistema de eixos coordenados (x, y, z, τ) que, como vimos na Seção 5.6,
equivalem a transformações de Lorentz, os dois membros dessas equações se trans
formam segundo a mesma lei, portanto, as equações não são violadas.
Uma relação linear entre duas grandezas vetoriais pode ser representada por um
tensor de segunda ordem. Um exemplo bem conhecido é a relação entre a velocida
de angular de um corpo rígido e seu momento angular, L = Iv, onde L é o momento
angular, I o tensor momento de inércia e v a rotação. Essa mesma relação pode ser
representada em termos das componentes: Li = I ij ωj.
Suponhamos que dois vetores Y e X sejam relacionados linearmente pelo ten
sor T:
Y = T X. (6.13)
Vamos realizar uma transformação ortogonal a nessa relação. Uma transformação
será ortogonal se for real e deixar o módulo do vetor invariável. Uma rotação do sis
tema de eixos coordenados, por exemplo, é uma transformação ortogonal.
Problema 3 Mostre que numa transformação ortogonalx!i = aijxj, devemos ter aij
aik = δjk, onde δjk é o δ de Kronecker (δjk = 0 se j k e δjk = 1 se j = k).
Sugestão: Considere a transformação x´i aijxj e faça (x!i)2 = (xj)2 (lembre-se de
que (xj)2 = xjxj). =
#E=-V4p- A
C C OT
OA, dA,
piv T # ox, (6.20)
Por exemplo:
OA, OA OA, OA {
F. = −4 ——=———–4 = —– E.
14 de 0x1 (* *) c“l
Fu = Fiz = Fia = Fu = 0,
{
F1= —Fu ===C E.
— ?
FM = -Fie ===E.
?
F;a==Fia ===E,
I IO Capítulo 6 — Relatividade e eletrodinâmica
O B -B ==E
?
—B, 0 B, —=E.
F= º "l (6.21)
B, —B, 0 -4E,
C
{ {
— E, — E, —E ()
C 1 C 2 C 3
Observe que
OA
> = D_] . (A)= 0 (Equação 6.9) e
V V
0"A
X
V
# = uo (J) (Equação 6.10).
V
POrtantO
D - F = uo (Ju). (6.22)
lhidos
Sugestão:
entre
Utilize
1, 2, 3
aedefinição
4. de Fmn (Equação 6.20); l, m e n são três índices esco
delas,
Substituindo
em funçãona
das
identidade
variáveis 6.23
x1, x2osevalores
x3, é a equação
Fmn, obteremos
= quatro equações; uma
· B = 0 e as outras três são
as componentes da equação vetorial = 3 B = – B/t. Completamos assim o sistema
de equações de Maxwell na forma procurada: as Equações 6.22 e 6.23 representam
as equações de Maxwell em forma covariante. As associações de J e r, A e w como
componentes de quadrivetores e de E e B como componentes de um tensor de se
gunda ordem, mostram a inseparabilidade dos fenômenos elétricos e magnéticos; e,
mais ainda, que essa inseparabilidade tem raízes profundas em nossas concepções
de espaço e tempo. Mostraremos, na próxima seção, como se transforma o tensor de
campo sobre a TL.
B = F% = Fia = B, ,
B) = F = yFu Hi5YEu = (º …)
B = F% = y Fe + iByFA - (n. -**)
• o2 (6.24)
/ * __ TY/ • • • • Q, Q,
E = r(E, —BoB)
E = /(E + BCB)
Vemos que as componentes E, e B, na direção do movimento do referencial R"
não se alteram e que as componentes perpendiculares à direção do movimento são
alteradas, OCOrrendo um emaranhamentO de COmponentes de E COm COmponentes
de B. Fica Claro que OS COnceitOS de CampO elétricO e CampO magnéticO SãO COncei
tOS relativOS, isto é, dependem do movimentO dO Observador. Um Campo elétricO E
“puro” Ou um campo magnético B “puro” em um referencial têm componentes E e B
em OutrO referencial. ISSO não é nOVO para O leitor, bastando lembrar que uma carga
elétrica em movimentO Cria um Campo magnéticO Observável nO laboratório, mas que
é inexistente para um Observador em movimentO COm a carga. Vimos nO Capítulo 1
que foram considerações dessa natureza que motivaram as investigações de Einstein
que o levaram à criação da TRE.
As Equações 6.24 podem ser escritas de forma compacta como equações
VetOriais:
E = E, E = /[E] + uxB].
(6.25)
/
B = B, B =
/
"º.- "…]
1
Problemade
invariante Demonstre que, se (Tmn) é um tensor antissimétrico, TmnTmn é um
7 Lorentz.
/
E" 1 Qr 3º
Az" =
B" = 0 (º = aº + yº …")
4Teo (r')
(6.26)
Os eixOs dos referenciais são respectivamente pa
ralelos e o referencial R" move-se ao longo do eixo aº
do referencial R com velocidade u (Figura 6.3). No
instante t = 0, as Origens dos referenciais coincidem.
AS COOrdenadas da carga em R, no instante t, são aº =
ut, y = e = 0. Agora transformamos para o referencial
R do laboratóriO. Os CampOS no referencial dO labora
tóriO podem ser obtidos usando as inversas das Equa
l/ l/
ções 6.25, deduzidas simplesmente pela substituição
Figura 6.3 de u por —u (R tem velocidade —u em relação a Rº).
R" é o referencial
da partícula de
carga elétrica q As equações de transformação de R" para R são então:
que se move ao
longo do eixo Ox E = E, E = y[E. —uxB].
do referencial R
1 (6.27)
Com Velocidade
u. NO instante t
= 0, a partícula
B = B, Bl -",…e C
está na origem
do referencial Aplicando essas transformações às Equações 6.23 obtemos os campos no la
R. O campo E é bOratório:
observado no ponto
P cujo vetor posição 1 / 1 / 1 /
é r (x —ut, y, z) em R
e r" (x, y, z) em R".
E = E === *#
4Teo (r')
E, = yE === **,
4Teo (r')
E =YE === ** (628)
4Teo (r')
De acordo com a TL,
ac" = 'y (x — ut), y' = y, z" = e.
Portanto,
p/2 … +4
2 .
#
y
-2
|- yºrº,
rº =(x-ut)" + ?/ #
Y
Portanto, o campo elétrico criado por uma carga em movimento não tem simetria
esférica como o de uma carga em repouso – ele é, de fato, contraído na direção do
movimento. Na direção Ox, o campo é menor do que
perpendicular
o campo eletrostático
a Ox é por
maior
umpelo
fatorfator
(1 – (1 no plano
b2)–eb2)–1/2. A (a) (b)
Bx = B|| = 0.
Para calcular a componente perpendicular à direção do movimento, utilizaremos
as relações 6.25 para B e para E:
Então,
B = c12 u ×E.
(6.32)
As linhas do campo magnético são, portanto, círculos centrados na trajetória da
carga.
Para velocidades u << c, obtemos da Equação 6.26 E < (1/4p0) qr/r3 e,
portanto,
B≈ 1 q u ×r
4πε0 c r 3 . (6.33)
Problemas
6.1 As grandezas dij (i, j = 1, 2, 3) são assim definidas no referencial R: dij = 1, se
i = j e dij = 0, se i j. No referencial R9, dkl são definidas da mesma forma. a)
Mostre que grandezas definidas dessa forma são componentes de um tensor de
segunda ordem. b) Por que as nove grandezas aij, em que os índices são livres,
não são componentes de um tensor de segunda ordem?
6.2 Mostre que o caráter de simetria (simétrico ou antissimétrico) de um tensor
independe do sistema de coordenadas.
6.3 Seja (Tij) um tensor antissimétrico de segunda ordem em três dimensões.
a) Escreva a lei de transformação de suas componentes entre dois sistemas de
coordenadas. b) Mostre que as três componentes independentes se transfor
mam como componentes de um tensor de primeira ordem. c) Uma das diferen
ças entre um pseudovetor e um vetor é que as componentes do primeiro mu
dam de sinal se o sistema de coordenadas é mudado de direito para esquerdo.
Mostre que o tensor considerado é um pseudovetor.
6.4 Uma certa TL é representada geometricamente (Seção 5.7) pela matriz
rotação:
A=⎛ 1 1 0 i ⎞
⎜ ⎟
⎜ −1/2
0 −1/2
1/2
0 1
0 0⎟
.
⎜ 0⎟
⎜ ⎟
⎜⎝ 2 ⎟⎠
teoria da relatividade
geral
Não é proposta deste texto tratar a teoria da relatividade geral (TRG). Ao con
trário da teoria da relatividade especial (TRE), que, como vimos, pode ser estudada
com conhecimento matemático relativamente simples, essa teoria requer um bom
domínio da geometria diferencial. Quem estudou a TRE, terá, no entanto, uma natu
ral curiosidade a respeito da teoria geral, que pretendemos satisfazer parcialmente.
É nossa intenção expor brevemente neste capítulo os fundamentos físicos da teoria
e discutir alguns testes experimentais (que não são muitos!) que auxiliam a com
preensão dos fundamentos. Como o principal campo de aplicação da teoria geral é
a cosmologia, faremos também uma apresentação rápida de um objeto cosmológico
que, por suas propriedades estranhas, tem despertado em anos recentes grande in
teresse entre físicos e astrofísicos: os buracos negros.
Quando publicou sua TRE, em julho de 1905, Einstein era analista do Escritório
de Patentes da Suíça, em Berna, e completamente desconhecido no meio científi
co. Ele esperava que seu artigo, por suas características revolucionárias, provocasse
uma enxurrada de comentários dos físicos. Tal, porém, não aconteceu. Alguns meses
passados, ele recebeu, no entanto, uma carta de Planck, o mais respeitado físico na
época, que pedia alguns esclarecimentos. A partir daí, a reputação de Einstein come
çou a crescer no meio científico europeu. Dois anos depois já era convidado a escre
ver um artigo de resenha (“artigo de revisão”, no jargão dos cientistas) sobre a TRE
para o Jahrbuch der Radioaktivität und Elektronik, publicação anual dedicada a
desenvolvimentos recentes da física. Em um relato escrito em 1920, ele explica como
a preparação desse artigo levou-o a uma das ideias básicas que permitiria a incorpo
ração da gravitação à TRE:
Foi a partir da ideia de que uma pessoa em queda livre não sente o próprio
peso que Einstein formulou o princípio de equivalência (PE), que seria um dos pila
res conceituais da TRG. Vamos nos preparar para a discussão desse princípio exami
nando sua formulação na mecânica clássica.
F=G mrg′m
2gˆr.
A experiência de Galileu sobre a queda livre dos corpos mostra que a(1) = a(2);
portanto, a razão das massas inerciais é igual à razão das massas gravitacionais dos
dois corpos. Por uma escolha adequada das unidades, podemos fazer essa razão igual
a 1, o que leva à igualdade das massas inercial e gravitacional. Esse princípio
é chamado princípio de equivalência (PE). Como mostraremos depois, Einstein
estendeu esse princípio a toda a física, numa forma que é, às vezes, qualificada como
forte, em comparação com o PE fraco de Galileu, restrito à mecânica.
Depois da experiência quase qualitativa de Galileu, a igualdade das massas iner
cial e gravitacional foi verificada várias vezes, com precisão cada vez maior, sendo
hoje uma das leis mais bem comprovadas da física. Eötvös realizou, em 1889, uma
engenhosa experiência (Figura 7.1) com um pêndulo de torção. Nessa experiência,
feita a 45° de latitude da Terra, duas esferas de materiais diferentes e mesmo peso
(mesma massa gravitacional) são suspensas em uma balança de torção cujo braço
é orientado na direção leste oeste. Devido ao movimento de rotação da Terra, for
ças centrífugas atuarão sobre as massas inerciais das esferas. Essas forças seriam
diferentes se as massas inerciais fossem diferentes (observe que as massas inerciais
poderiam ser diferentes já que os materiais das esferas são diferentes) e o torque re
sultante provocaria uma torção no fio de suspensão. A leitura da torção foi feita por
um sistema óptico muito sensível, representado na Figura 7.1, e nenhuma torção foi
122 Capítulo 7 — Teoria da relatividade geral
Figura 7.1
Vistas lateral (a) (a) (b) Norte
e de topo (b) de
um esquema do Fonte
aparelho de Eötvös. de luz
torção
Fio de
Oeste Leste
Espelho
Espelho
Sul
mg mg graduada
Régua Vista de topo
as leis da física válidas num laboratório local em queda livre são as leis da re
latividade especial, válidas num referencial inercial.
t=0
t=1
g g x
t=2
t=3
rioO
então
centro
supor
de massa
que o do
raiosistema
g tenhapermanecerá
massa inercial
emm,
repouso
para que
(vCM = 0) e será necessá Figura 7.9
Um núcleo de
massa M, num
vCM = Mv n + mcˆx estado excitado,
= 0. em repouso, decai
M+m para o estado
fundamental pela
Então Mvn + mcxˆ = 0. Substituindo o valor de Mvn dado pela Equação 7.2,
obtemos emissão de um raio
g; ao emitir o g, o
núcleo recua com
m = cE hν
c velocidade vn.
2 = 2
. (7.3)
colocada a uma
altura L acima do que nos dá a variação relativa de frequência em função da variação Dw do potencial
observador, num
laboratório onde gravitacional entre emissor e observador. Escrevendo a equação anterior na forma
a aceleração da
gravidade é g. ν = ′ν + ′ν gL
,
c2
fazer
ideia básica
a transição de um
do efeito Mössbauer
nível excitado
é que um
paranúcleo,
o funda
ao g
Ef Ef
mente, um núcleo idêntico pode absorver o mesmo g
sem se mover. Nesse caso, a energia do g corresponde
exatamente à diferença entre os níveis de cada um dos
núcleos e ele pode ser capturado de maneira resso Detetor
nante(6).
g
O arranjo clássico de um espectrômetro Möss
Emissor Absorvedor
bauer é mostrado na Figura 7.11: uma fonte de raios
g, um absorvedor, um detector de raios g e um siste
ma de movimento da fonte para produzir um deslocamento Doppler na radiação Figura 7.11
emitida pela fonte. Na figura, a fonte e o absorvedor são representados pelos es Arranjo clássico de
um espectrômetro
tados nucleares fundamental e excitado. Movimentando-se a fonte, pode-se com Mössbauer:
pensar pelo efeito Doppler qualquer pequena diferença que possa existir entre a uma fonte, um
energia do raio g emitido e a diferença entre os níveis excitado e fundamental do absorvedor e um
detector de raios
núcleo-alvo. g; um sistema de
Na experiência de Pound e Rebka, realizada na Universidade de Harvard, uma movimento da fonte
permite produzir
fonte radioativa de raios g de 57Fe foi colocada no topo de uma torre de 22,5 m e o um deslocamento
absorvedor e detector em sua base (Figura 7.10). Qualquer desvio Dn, resultante de Doppler na
efeito gravitacional, na frequência do g emitido no topo da torre destroi a absorção frequência da
radiação emitida
ressonante pelo absorvedor na base. O desvio Dn pode, no entanto, ser compensado pela fonte.
pelo efeito Doppler obtido movimentando-se a fonte com velocidade controlada. No
arranjo da experiência de Pound, era possível trocar as posições de fonte e absor
vedor, permitindo medir o desvio gravitacional a favor da gravidade e contra ela. O
excelente resultado dessa experiência foi Dn/n = (2,195 ± 0,040) 3 10–15, que, quan
do comparado ao valor predito pelo PE de Dn/n = 2,226 3 10–15, corresponde a uma
precisão melhor do que 1s em 15 milhões de anos.
Figura 7.12
Um raio de luz é Espaço bidimensional
encurvado pela
curvatura do
Trajetória de
espaço-tempo. um raio de luz
superfície) a
(acompanha
Estrela
7.5 — Curvatura do espaço-tempo 131
rica, que também é um espaço bidimensional, imersa
em nosso espaço ordinário de três dimensões. A linha Polo
sobre a qual se mede a distância mais curta entre dois Norte
pontos numa superfície é denominada geodésica; por
exemplo, no plano, as geodésicas são retas e, na su
perfície esférica, são os círculos máximos. Tome um
círculo máximo (geodésica) arbitrário como equador
da superfície esférica. Dois meridianos (que também b
são geodésicas, porque são círculos máximos) próxi g
Equador
mos podem ser considerados localmente como parale
los – a situação é semelhante à de duas retas perpendi
culares a outra reta no plano. Porém, globalmente, os
meridianos se encurvam para se encontrar nos polos
(Figura 7.13) e não podemos dizer que são paralelos.
O quinto postulado de Euclides é, então, violado na
superfície esférica e a geometria nessa superfície não
poderá ser euclidiana.
Gauss descobriu isso de uma maneira concreta, ao fazer um levantamento topo Figura 7.13
gráfico numa região próxima de Göttingen, na Alemanha, por encomenda do princi Tomamos como
equador da
pado local. Ele verificou que, no maior triângulo de seu levantamento, a soma dos ân esfera um círculo
gulos internos era ligeiramente diferente de 180°, o que mostrava que, na superfície máximo arbitrário;
esférica da Terra, não era possível aplicar uma geometria euclidiana. Seres bidimen dois meridianos
próximos que
sionais limitados a viver numa superfície esférica poderiam comprovar a curvatura podem ser
de seu espaço, ao verificar que a soma dos ângulos de um triângulo é sempre superior considerados
a 180°, ou que a razão da circunferência de um círculo para o raio é menor do que localmente
2p. Esses seres seriam compelidos a construir uma geometria, válida em seu espaço paralelos,
globalmente se
curvo bidimensional, que seria obrigatoriamente não-euclidiana. encurvam para se
encontrar nos polos
Gauss chegou a especular se nosso espaço tridimensional não seria curvo – se a
e o quinto postulado
geometria euclidiana não seria incorreta nesse espaço –, mas foi seu discípulo Ber de Euclides é
nhard Riemann quem deu um corajoso passo à frente. Riemann foi um matemático violado.
com extraordinário senso físico. Numa notável conferência que proferiu sobre os
fundamentos da geometria, em 1854, quando era ainda um jovem matemático, co
mentou que a verdade sobre o espaço deveria ser procurada na experiência e não
no estudo dos tratados de Euclides. Afirmou ainda que o espaço, apesar de parecer
regular (liso) nas dimensões ordinárias do ser humano, talvez fosse irregular em
distâncias muito pequenas e que em grandes distâncias, poderia apresentar uma
curvatura que, se fosse positiva, mesmo que muito pequena, curvaria o universo e o
fecharia numa estrutura finita(7).
Mas a mais notável previsão de Riemann foi a de que o espaço não devia ser ape
nas uma espécie de suporte para os fenômenos físicos, parado, rígido, homogêneo,
independente da matéria e da energia, como se pensava então, mas, ao contrário,
que a geometria do espaço devia de alguma forma participar dos fenômenos físicos
e que a curvatura do espaço devia ser determinada por forças externas. Para ele, as
propriedades do espaço não poderiam ser deduzidas de considerações matemáticas,
mas da experiência física.
132 Capítulo 7 — Teoria da relatividade geral
Poderia Riemann ter ido adiante e relacionado a geometria do espaço com a gra
vitação? Com certeza não, porque ele trabalhava com a ideia de espaço tridimensio
nal. Na mecânica clássica, uma partícula confinada a uma superfície, livre de forças
externas e atrito, percorre uma geodésica. Não é possível supor que, ao incluirmos
um campo gravitacional no espaço curvo de três dimensões, a partícula seguirá tam
bém uma geodésica, porque uma órbita gravitacional depende da posição inicial e da
velocidade inicial. Mas, no espaço-tempo – que contém um eixo temporal – a posição
inicial inclui a velocidade inicial e é assim satisfeita a condição para determinação
unívoca da órbita. O espaço-tempo de Minkowski foi, por isso, essencial para o novo
avanço. É interessante notar que Einstein, de início, rejeitou a ideia de espaço-tempo
de Minkowski como um floreio matemático que complicava sem necessidade sua
TRE; no entanto, como ele reconheceu depois, a concepção de Minkowski foi essen
cial para a formulação da TRG.
Einstein desenvolveu a teoria geral à medida que progredia na carreira universi
tária. Fez a primeira tentativa para incorporar a gravitação à TRE no artigo já men
cionado, escrito para o Jahrbuch, ainda como técnico do escritório de patentes de
Berna. Diante das dificuldades para formalizar a teoria, deixou de lado o problema
e dedicou alguns anos a questões relacionadas com física atômica, só voltando ao
problema da gravitação em 1911, quando já era professor em Praga. Foi então que
descobriu que a gravidade é uma manifestação da curvatura do espaço-tempo –
essa é a essência da TRG. O objetivo de Einstein durante os anos seguintes passou a
ser encontrar as equações que relacionariam quantitativamente a matéria com a mé
trica do espaço-tempo, ou seja, determinar como a matéria encurva o espaço-tempo.
Retornando a Zurique, naquele mesmo ano, como professor do Instituto Politécnico
(ETH), teve a colaboração de seu antigo colega de universidade Marcel Grossmann,
então professor de matemática; e foi este quem sugeriu como ferramenta adequada
para tratar o problema o cálculo diferencial absoluto (chamado hoje análise tensorial
ou geometria diferencial), inventado e desenvolvido na segunda metade do século
XIX sucessivamente por Riemann, Gregorio Ricci e seu discípulo Tulio Levi-Civita.
Era uma matemática muito complicada, levando Einstein a comentar, numa carta ao
físico teórico A. Sommerfeld, que o problema com o qual lidava, então, fazia a TRE
parecer brinquedo de criança.
Einstein e Grossmann chegaram a uma primeira forma da lei de curvatura em
1914. Ela era restrita a alguns referenciais – não obedecia, portanto, ao princípio da
relatividade (PR) – e não satisfazia, por isso, à expectativa de Einstein, mas foi publi
cada assim mesmo. A forma final da TRG seria desenvolvida no ano seguinte, quan
do Einstein já era professor em Berlim. Nessa teoria, a força de gravitação (como
a de Newton) não existe, sendo substituída pela geometria – na ausência de forças
externas, as trajetórias de partículas são geodésicas do espaço-tempo. As equações
de campo de Einstein, como são chamadas as equações básicas da teoria, são in
variantes sob transformações entre quaisquer referenciais. Elas permitem calcular
quantitativamente como o espaço-tempo é encurvado na vizinhança da matéria pela
densidade de massa (expressa como densidade de energia) e pela pressão de ma
téria. Exceto em alguns casos (por exemplo, no interior de estrelas de nêutrons) a
pressão de matéria é desprezível em comparação com a densidade de massa e é essa
que determina a curvatura do espaço.
7.6 — Avanço do periélio de Mercúrio 133
Imediatamente, a partir de suas equações de campo, Einstein calculou o desloca
mento do periélio de Mercúrio – que vinha utilizando desde 1907 como contraprova
de suas ideias – obtendo ótima concordância com a observação astronômica. A teo
ria permitiu ainda calcular a deflexão da luz de estrelas pelo campo gravitacional do
Sol com alta precisão e prever a existência de singularidades no espaço-tempo, que
foram relacionadas, um quarto de século depois, aos buracos negros. A detecção de
ondas gravitacionais, previstas pela teoria, tem sido tentada exaustivamente por mé
todos terrestres sem sucesso ainda. Porém, Joseph Taylor e Russell Hulse descobri
ram em, 1974, a primeira pulsar binária. Por métodos extraordinariamente precisos
de medição do tempo, verificaram uma pequena, mas constante diminuição de sua
velocidade orbital, cuja única explicação até agora é que seja causada pela emissão
de ondas gravitacionais, em completo acordo com a previsão da TRG.
Em 1917, Einstein escreveu seu primeiro artigo sobre cosmologia – marcando o
início da moderna cosmologia –, em que foi introduzido, um pouco à força, o termo
cosmológico, com o objetivo de se obter um universo estacionário, pois no meio
científico acreditava-se que assim deveria ser o universo. O termo cosmológico teve
uma vida aventurosa: inicialmente bem-sucedido, chegou depois a ser considerado
pelo próprio Einstein “a maior tolice de sua vida”, desapareceu das teorias cosmoló
gicas e reapareceu recentemente para explicar a aceleração na expansão que, segun
do as observações mais recentes, o universo parece estar sofrendo.
2GM
RS = (7.10)
c2.
O leitor deve observar que o que fizemos antes não é uma dedução válida do raio
crítico RS, mas apenas um artifício que gera a solução correta. A explicação correta
deve levar em conta a dilatação gravitacional do tempo.
Numa estrela com circunferência muito maior
do que a crítica – por exemplo, o Sol –, o espaço
-tempo é pouco encurvado; à medida que a circun
Espaço plano
ferência da estrela diminui, a curvatura do espaço
tempo aumenta, até que, ao atingir a circunferência
crítica, a curvatura aumenta indefinidamente – a
circunferência crítica envolve uma singularidade. A
Figura 7.15 apresenta uma analogia no espaço bi
que
dimensional,
foi descrito
imerso no espaço tridimensional, do
acima.
Horizonte
Notas
(1) Manuscrito não-publicado, existente na Biblioteca Pierpont Morgan de Nova York, con
forme citação de A. Pais*.
Enquanto escrevia o artigo de resenha para o Jahrbuch, Einstein percebeu que os fenô
* Pais, Abraham, Sutil é menos da natureza, exceto a gravitação, podiam ser tratados no contexto da TRE. Estava
o Senhor – a ciência e procurando meios de incorporar a gravitação à teoria, quando, sentado à escrivaninha no
a vida de Albert Eins escritório de patentes de Berna, – talvez, examinando um pedido de patente –, ocorreu
tein. Rio de Janeiro, lhe a ideia de que “se uma pessoa cai livremente ela não sente o próprio peso”. Abria-se
Editora Nova Fronteira,
1997. assim o caminho para uma teoria da gravitação. J. Hadamard, um eminente matemático,
discute o processo de criação matemática num livro muito interessante**; para ele, mui
** Hadamard, Jac
tas invenções e descobertas científicas são feitas quando a mente, depois de um esforço
ques, An essay on the
psychology of inven inicial sem resultado, afasta-se do problema e se distrai com outros pensamentos.
tion in the mathema
tical field. New York,
Einstein manifestou, em diferentes ocasiões da vida, suas ideias a respeito do processo
Dover Publications, de criação científica. Para ele, não há um caminho lógico que leva à criação de uma teoria
1954. a partir de resultados empíricos. A mente, controlada pelo exame cuidadoso dos fatos,
Notas 137
tateia entre diferentes caminhos construtivos e só depois de muitas tentativas começa
a aparecer alguma ordem que indica ser possível uma solução. Muitas vezes a solução
correta surge por meios indiretos; às vezes inesperadamente, como se o subconsciente
continuasse a trabalhar, enquanto o consciente desempenhasse outras tarefas, como no
caso que acabamos de narrar. Para ele, a teoria não é criada indutivamente a partir da
experiência por uma sequência de argumentos impostos por fatos empíricos, mas é, an
tes, uma livre criação do espírito humano.
Einstein acreditava que uma teoria não pode ser construída a partir da experiência, no
entanto, exige ser comprovada pela experiência. Na verdade, para ele, não podemos
comprovar uma teoria, mas apenas verificar sua falsidade (posição semelhante à do cri
tério de falseabilidade do filósofo Karl Popper): “O cientista teórico não deve ser inve
jado. Porque a natureza, ou mais precisamente o experimento, é um juiz inexorável. Ele
nunca diz ‘Sim’ a uma teoria. Nos casos mais favoráveis, diz ‘Talvez’ e, na maioria dos
casos, simplesmente ‘Não’. Se um experimento concorda com uma teoria, isso significa,
para esta, ‘Talvez’, e se não concorda, ‘Não’. Provavelmente, toda teoria sofrerá algum dia
o seu ‘Não’ – a maioria das teorias, logo após sua concepção.”* (Os itálicos são nossos).
(2) Depois de publicados os resultados das experiências de Roland von Eötvös (1848-1919),
a Real Sociedade Científica de Göttingen instituiu um prêmio com a seguinte justifica
tiva: “Um modo muito sensível para fazer uma comparação entre a inércia e a gravida
de da matéria foi criado por Eötvös. Considerando isso e o novo desenvolvimento da
eletrodinâmica, assim como a descoberta das substâncias radioativas, a lei de Newton
referente à proporcionalidade da inércia e a gravitação deve ser provada tão extensiva
mente quanto possível.” Foi isso que levou Eötvös a repetir a experiência, com maiores
precauções experimentais ainda; os novos resultados só foram publicados, no entanto,
postumamente**.
(3) Robert H. Dicke (1916-1997), um dos grandes experimentalistas do século XX, acredita
va, a respeito do trabalho do físico experimental, “que um experimentalista não deveria
ser indevidamente inibido por pesquisa teórica descuidada... e, quanto mais significativa
e fundamental for a pesquisa experimental, maior é a incerteza teórica permitida”. Esse
lema encorajou-o a aventurar-se em campos fundamentais da física, onde deixou sua
marca. Seu interesse em gravitação levou-o a analisar cuidadosamente a experiência de
Eötvös e a repetir a experiência com modificações que deram um ganho de precisão de * Dukas, Helen e Hoff
três ordens de grandeza***. E, dessas pesquisas, partiu para propor uma teoria de gravi mann, B., Albert Eins
tein o lado humano.
tação – que não superou os testes experimentais – para substituir a TRG de Einstein. Brasília, Editora Univer
Dicke ajudou a dar à cosmologia uma face experimental. No início da década de 1960, sidade de Brasília,1984.
estava trabalhando sobre a conjetura do big bang e, desconhecendo o artigo mais im ** Eötvös, R. v., Pekár,
portante de Gamow sobre o assunto, recalculara com seu estudante de doutorado J. D., Fekete, E., Annalen
der Physik, 68, 11,
P. Peebles a temperatura da radiação cósmica de fundo remanescente. Tinham chega 1922 (Existe tradu
do a uma temperatura da radiação com um limite inferior de aproximadamente 10 K, ção em inglês do USA
que corresponde a um comprimento de onda na faixa de microondas. Para detectar Department of Energy,
essa radiação, trabalhava com estudantes de doutorado no aperfeiçoamento do radiô separata 40048-13-N6
da University of Wa
metro, inventado por ele quando esteve envolvido em pesquisa sobre o radar durante shington).
a Segunda Guerra Mundial. Foi então que recebeu um telefonema de Penzias e Wilson,
radioastrônomos dos Laboratórios Bell, a respeito de um ruído isotrópico na antena de *** Roll, P. G., Krotkov,
R e Dicke, R. H., Annals
comunicações com que trabalhavam, para o qual não conseguiam explicação. Percebeu of Physics., 26, 442,
imediatamente que a origem do ruído era a radiação cósmica de fundo, que procurava, e 1964.
138 Capítulo 7 — Teoria da relatividade geral
(5) Essa observação foi feita em 1995 por meio de interferometria de base muito longa
(VLBI), com um interferômetro formado por uma rede de radiotelescópios situados nos
extremos leste e oeste dos EUA*. Em 2003, foi feita outra medida pela mesma técnica,
observando-se a deflexão da luz causada por Júpiter**.
(6) Imagine que desejamos levar um núcleo A de massa M, em repouso, a um estado excita
do, utilizando um raio g emitido no processo de desexcitação de outro núcleo B da mes
ma espécie, também em repouso (Figura 7.11). Encontramos a seguinte dificuldade. O
fóton de energia hn = Ee – Ef = E0, emitido pelo núcleo B, transporta um momento
= E0=hν
p
c c
e, para que haja conservação de momento, o núcleo B recuará com um momento igual.
Como a massa M do núcleo é grande, ele se moverá com velocidade pequena, e podemos
utilizar a expressão clássica para sua energia cinética de recuo:
p2 E02
R= .
2M = 2Mc2
A energia de recuo R do núcleo virá da diferença de energia dos dois níveis e, por isso, o
g será emitido não com a energia E0, mas com uma energia menor E = E0 – R.
Ao atingir o núcleo alvo A, pela lei de conservação de momento, o fóton comunicará a
ele o momento p e ele se moverá no mesmo sentido do movimento do fóton com energia
cinética R. Essa energia é cedida pelo fóton, que terá, portanto, a energia E = E0 – 2 R.
Vemos, assim, que a energia do raio g não é suficiente para excitar o núcleo A do estado
fundamental para o estado excitado e não observaremos a absorção ressonante do g.
Rudolf Mössbauer descobriu, no entanto, que é possível obter a absorção ressonante se
os núcleos emissor e alvo estão aprisionados em redes cristalinas a temperaturas sufi
cientemente baixas. Nesse caso, para a conservação de momento, a rede cristalina intei
ra deveria se mover; podemos considerar M como sendo a massa do cristal todo – infinita
para nossos cálculos – e a energia cinética R dos dois núcleos será nula. A energia do
fóton será, portanto, E = E0 e haverá captura ressonante.
* Lebach, D. E., et
al., Physical Re O efeito Mössbauer pode ser utilizado em espectrometria de energia, porque mudanças
view Letters, 236,75
extremamente pequenas da energia do fóton em vôo ou das energias dos níveis nucleares
(1995)1439.
da fonte ou do alvo (uma parte em 1013) podem destruir a ressonância. A recuperação da
** Fomalont, E. B.,
ressonância se faz produzindo-se o efeito Doppler na frequência do g, pelo movimento
e Kopeikin, S. M.,
arXiv:astro-ph/0302294 muito fino e bem controlado da fonte ou do alvo (representado esquematicamente na
v2, 11.07.2003. Figura 7.11).
Problemas 139
(7) Em 1870, William Clifford fez uma comunicação à Cambridge Philosophycal Society
(publicada nos Proceedings da entidade, 2, p.157) que continha a seguinte afirmação
(citada no excelente livro de Kenneth W. Ford, Classical and modern physics, vol. 3,
p. 1108, New York, John Wiley and Sons, 1974):
“Eu sustento: (1) Que pequenas porções do espaço são, de fato, de natureza semelhante
a pequenas protuberâncias (hills) numa superfície que é na média plana, isto é, que as
leis ordinárias da geometria não são válidas nelas. (2) Que essa propriedade do espaço
de ser curva ou distorcida passa continuamente de uma posição para outra, como uma
onda. (3) Que essa variação da curvatura do espaço é o que realmente acontece no fe
nômeno que chamamos movimento da matéria, seja ponderável ou etéreo. (4) Que no
mundo físico nada mais acontece senão essa variação, sujeita (possivelmente) à lei de
continuidade.”
(8) Os buracos negros são tratados em artigos e livros especializados que requerem bom co
nhecimento da TRG. O leitor poderá obter informações no mesmo nível deste texto nos
livros de divulgação científica referidos a seguir, de astrofísicos que têm tido extraordi
nária participação em pesquisas sobre o tema:
Hawking, Stephen W., A brief history of time from the big bang to black holes. New
York, Bantam Books, 1988.
Hawking, Stephen W., O universo numa casca de noz. São Paulo, Editora Mandarim,
2001.
Penrose, Roger, A mente nova do rei. Rio de Janeiro, Editora Campus (1991)
Thorne, Kip, Black holes and time warps: Einstein’s outrageous legacy. New York, W.
W. Norton and Company, 1994.
Problemas
7.1 Mostre que a frequência de um pêndulo de comprimento L, numa região onde
a aceleração da gravidade é g, é dada por n = 1/2p (mg/mi · g/L)1/2, onde mg e
mi são as massas gravitacional e inercial da esfera na extremidade do pêndulo.
(Newton fez experiências com o pêndulo para investigar uma possível diferen
ça
precisão
entre m
deg uma
e mi parte
e Bessel
emdemonstrou
6·104.) a igualdade delas, por esse método, com
7.2 A Terra está na periferia da Via Láctea. Faça uma estimativa do desvio gravita
cional para o vermelho, observado na Terra, da luz emitida no centro da galáxia.
O diâmetro da Via Láctea é 105 anosluz e sua massa é 1042 kg. Trate a dis
tribuição de massa dentro da galáxia como aproximadamente uniforme.
7.3 Astrônomos observaram um objeto cósmico que irradiava intensamente na
faixa de radiofrequências. Conseguiram identificar no espectro óptico uma
linha característica do espectro atômico do oxigênio, que, em condições nor
mais no laboratório, tem comprimento de onda l = 372,7 nm, com uma linha
em l = 509,7 nm; havia, portanto, um imenso desvio do espectro para o ver
melho. Faça as duas hipóteses seguintes: a) O objeto está em nossa galáxia e o
desvio é gravitacional; b) o objeto está fora de nossa galáxia e se afasta dela,
140 Capítulo 7 — Teoria da relatividade geral
constantes úteis
Dados astronômicos
Massa da Terra......................................................... 5,98· 1024 kg
Raio da Terra........................................................... 6,37 · 106 m
Raio médio da órbita terrestre............................... 150 · 109m
Velocidade orbital média da Terra.......................... 29,8 · 103m s–1
Gravidade média na superfície da Terra................ 9,81 m·s–2
Massa do Sol............................................................ 1,99· 1030 kg
Gravidade média na superfície do Sol.................... 274 m s–2
Diâmetro da Via Láctea........................................... 70· 103 < D < 100·103 anos-luz
142 Teoria da relatividade especial
143
BIBLIOGRAFIA
Esta bibliografia não é extensa – pretende apenas indicar leituras que possam
complementar o tratamento dado no texto. Além dos livros citados nas notas dos
capítulos, são indicados alguns outros. Os livros marcados com asterisco contêm
problemas no mesmo nível deste texto, exceto o livro de Rindler, cujos problemas
são um pouco mais difíceis.
BELL, ERiC T. Men of mathematics, the lives and achievements of the great mathema
ticians from Zeno to Poincaré. New York: Simon and Schuster, 1986.
BEN-DOV, YOAV. Convite à física. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996.
BORN, MAx. Einstein’s theory of relativity. New York: Dover Publications, 1965.
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*LEiGhTON, ROBERT B. Principles of modern physics. New York: Mc Graw-hill Book
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144 Bibliografia
Índice remissivo
Aberração da luz das estrelas, 16, 17, 23 Curvatura da luz num campo Eletrodinâmica de Maxwell-Lorentz,
Absoluta, gravitacional, 124 102
grandeza, 83 Curvatura do espaço-tempo, 130 Energia, cinética, 64
lei física, 27 de ligação, 75
Absorção ressonante de radiação gama, Decaimento nuclear, 92 de repouso, 79
129, 138 Defeito de massa, 76 potencial, 65
Academia Olímpia, 37 Deflexão magnética, 74 total, 66
Aceleração absoluta, 7, 8 Desvio, Eötvös, R. v., 137
Ampère-Maxwell, lei de, 9 Doppler para o vermelho, 53 experiência de 121, 122, 137
Anderson, C.D., 73 gravitacional da frequência, 129, 138 Equação da continuidade, 9, 102
Aproximação clássica, 60 Determinismo de Laplace, 2, 19 de onda, 11
Aqui-agora, 86 Dicke, R.h., 122 Equações de Maxwell no vácuo,
Dilatação do tempo, 28, 38 forma covariante, 110,111
Berkeley, G., 7 Dilatação gravitacional do tempo, 126 forma diferencial, 102
Big bang, modelo padrão do, 53, 54, 86 forma integral, 103
Bolyai, J., 131 Efeito, no sistema gaussiano de unidades,
Bradley, J., 16 Cherenkov, 77 21
Bridgman, P. W., 3 Compton, 70 Equivalência, de massa e energia, 65-66
Buracos negros, 97, 134 Doppler Clássico (do som), 49-50 princípio de -- de Einstein, 120
e o tempo, 135-136 Doppler relativístico, 51-52 princípio de -- de Galileu, 123
Doppler transversal, 53 Espaço, absoluto, 7
Campo eletromagnético, potenciais do, Mössbauer, 53, 129, 138 curvatura do, 130
105 Ehrenfest, P., 37 homogêneo, 2, 27
de carga em movimento, 115 Einstein, A., isotrópico, 2
Campo magnético, movimento de avanço do periélio de Mercúrio, 133 Espaço-tempo, 42, 81,83
partícula em, 73-74 constante cosmológica de, 53 Espectrometria de energia, 138
Causativo, 85 curvatura do espaço-tempo, 130-132 Estabilidade nuclear, 76-77
Cefeidas, 53, 58 dilatação gravitacional do tempo, 135 Estrelas,
Centro de massa, referencial do, 8, 9 deflexão da luz no campo Cefeidas, 53, 58
Cherenkov, P. A., 77 gravitacional do Sol, 133 colapso das, 135
efeito, 77 e a cosmologia moderna, 53, 133 Éter, 11, 12
Clifford, W., 139 e a experiência de fizeau, 16 arrastamento do, 15, 16
Colisão de duas esferas, 61 e a experiência de Michelson localmente estacionário, 16, 17, 21
Comprimento, Morley, 17, 23, 55, 56 vento do, 12
contração do, 33,44 e a transformação de Lorentz, 37 Evento, 4,83
próprio, 33, 44 e a unidade da física, 56-67 Experiência
Compton, efeito, 71 e experiências imaginárias, 19 de aberração da luz das estrelas, 16,
Cone de luz, 78 e formalismo de Minkowski, 82,94, 23
Conservação 95,97 do balde, de Newton, 8
de carga elétrica, 102-103 e Grossmann, 132 de Dicke e col.
de energia, 66, 69, 72 e Laue, 58 de Eötvös, 121-122, 137
de massa-energia, 66 e Mach, 7, 8, 20, 21 de fizeau-fresnel, 16, 49
de momento, 61, 69, 72,89 e Planck, 20, 27, 30, 37, 58 de ives e Stilwell, 52
de momento-energia, 65, 72 motivação para criar a TRE, 25 de Michelson e Morley, 12-15, 17,
e invariância, 102, 103 o princípio da equivalência de, 120 21-22, 34
Constante cosmológica, 53 postulados de, 25-27 de Pound e Rebka, 129
Corrente de deslocamento, 9 Eletrodinâmica de Maxwell, 17 imaginária, 19-20
Covariante, formulação, 101, 103, 105 assimetrias na, 25 faraday, lei de, 9
146 Índice remissivo