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11· Prefácio
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Felizmente todos nós somos um pouco neuróticos, do contrário viver no


mundo das pessoas poderia ser considerado insípido ou até mesmo de uma
x' insuportável mesmice.
Antes de tudo é bom admitir que o protótipo do nonnal não existe. Ele
. j:· representa nada mais do que um tipo de abstração criada por aqueles que se
dedicam ao estudo dos desajustamentos humanos. Foi a partir do estudo
dos desvios de conduta que se tomou possível inferir a respeito daquilo que
deveria ser considerado como normal. Ninguém conseguiu descreve-lo em
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"---- si mesmo, pelo menos até hoje. A prova mais significativa e insofismável
[:,, disso t que em toda a]vasta literatura que trata do comportamento humano
i ,·1· ');e. nã°: '~t~ nenhuma 41na que tenha sido dedicada unicamente ao estudo e

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'?!-'· - descrição do compo~ento normal. Caso jã se tenha escrito sobre o normal,
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o n~~ero de piiblicàç~ ª. respeito é insi~ificante_ e não mei~ceu pratica-
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mente nenhuma atenção, Não se tem noncía desse npo de publicação. ·
· , ;<:$?1~~?º à sua +lta, cada um poderá observar componamentos que
-· châthã:M'àtenção por sua imprevisibilidade. Quem não possui suas manias,
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r- X &l PSICOPATOLOG IA DO COMPO RTAMENTO ORGANIZA CIONAL


"~(e' PREF AC1ô lil • XI

.~ .,t;· suas distorções perceptivas da realidade, suas crendices, seus rituais bizarros cias ~ pessoa que não está bem psicologicamente sentir-se-á infeliz e infe li-
e suas superstições! Mais ainda, quem tem certeza de que está enxergando o citará àqueles que com ela convivem.
mundo das coisas e das pessoas como realmente ele o é! Cada um de nós olha O caminho a ser seguido para recuperaro bem-estar e equilíbrio inte-
1 .

1
para o mundo por uma janela que é só hossa e busca ver aquilo que interessa rior f\àO é dos mais fáceis. Para resolver qualquer dificuldade é indispensável
pautado pela forma como cada bm acrediia que se eleva conceber esse mundo. muito empenho e certo grau de maturidade emocional para enfrentar e re-
Aquilo que muitos chamam dejmormalídade provavelmente nada mais é do solver aqueles conflitos que nasceram de circunstancias comuns vividas no
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;I que!- forma particular pela q~al uma deteiminada pessoa percebe e inter- di~~;~dia pelo simples fato de se estar vivo. Esses estados de desconforto
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preta o
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seu mundo a panjr dos m:9prios parâmetros perceptivos.
Assim como os indivtduoi tem sua síngularídade que é denominada de
interior acabam: por minar a vida de cada um, assim como sua vida no tra-
balho:-que 'cumpre na organização em que está. Essa foi a principal meta
personalidade, as empresas também são únicas e possuem uma personalidade perseguida por este trabalho que neste momento se torna público. Aquilo

ímpar. A personalidade de cadal um pode ser considerada como pertencente que se pretendeu com ele foi divulgar informações que possuam como base

ao âmbito da normalidade, isttj é, pode estar mais ou menos saudável. Da o caráter de ciência que é oferecido pelos estudos e pesquisas levadas a efeito
no campo da psicologia do comportamento social humano.
mesma forma isso ocorre com as organizações dos mais diferentes tipos, que
Muitos são os executivos que se queixam por terem dificuldade em
podem ser igualmente consideradas como normais enquanto são produtivas
resolver os problemas humanos que se passam no seu ambiente de trabalho.
ou anormais porque já não apresentam mais a produtividade de antes.
Com grande propriedade acusam -que os problemas técnicos são de fácil
Jt Pensa-se que pessoas com distúrbios de comportamento estejam ne-
solução e que para tanto basta abrir um manual ou fazer algum tipo. de
il'{ cessariamente vivendo em instituições especializadas para tratá-las e não no
cálculo e tudo estará arranjado. No entanto, também afirmam com a mesma
l mundo do trabalho. Isso não é verdade, muitos daqueles com os quais se
propriedade que ao saírem de mais um dia de trabalho não têm certeza se
it convive no dia-a-día em qualquer circunstância são portadores de signifi-
conseguiram os mesmos resultados positivos com relação à resolução dos
cativas desorganizações comportamentais e isso não deve causar espanto a
3~ problemas humanos do grupo que lhes cabe dirigir. Para eles, as pessoas
ninguém. t indispensável encarar essa realidade e não pretender que ela não
~ são, por assim dizer, o maior desafio e a preocupação mais constante que
~ exista e, portanto, omiti-la.
não parece_ ter solução tão simples quanto a resolução de impasses técnicos.
Caso alguém exiba qualquer díficuldade de ordem flsica é imediata- Com toda razão, as pessoas são para eles o seu mais desafiante enigma. Esses

l mente alvo da atenção daqueles que o cc~rn que cobrirão essa pessoa de
respeito, cuidados e mimos. No entanto, do ponto de vista psicológico isso
executivos percebem que não existem manuais sobre comportamento hu-
mano, bem como não se pode conter nenhum recurso oferecido pelas cíén-
../

1l não ocorre e no geral as pessoas cedem à tentação de encobrir o seu mal-


estar interior por' receio de serem consideradas de maneira pejorativa ou
cias exatas que seja capaz de desvendá-lo para se chegar à soluçãodesse tipo
. . ,'. de enigma. Os autores acreditam que oferecer indícios mais seguros de como

ii! mesmo qualificadas como fracas ou até loucas. No entanto, esquecer ou en-
cobrir o mal-estar interior não ajuda a resolvê-lo. Pelo contrario, esse aco-
! agir na busca da reconstrução daqueles defeitos que podem estar aparecendo

'11 no dia a dia da convivência consigo mesmo e com os demais possa ser úti}. ~~ ~-•' 1
1 bertamento aumenta as tensões interiores acabando por gerar ansiedade e
até mesmo angústia, que necessariamente acompanham os transtornos de
e facilitar a eficácia ao se liderar pessoas no trabalho. · ~ ,.,,.,____ t,
Do ponto de vista comportamental, não existe nada errado em tema\-.___'·:
i personalidade e levam a dificuldades ainda mais graves. Nessas círcunstãn- compreender o comportamento humano, pelo contrário, deixar, neste caso
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;.·· XII il .PSICOPATOLOGIA DO COMPORTAMENTO ÜRGANIZACIONAL '\ PREFACIO l!l Xlll

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· esses problemas dormindo é que sinaliza imprudência que em muitos casos análise, elas são a sua própria existência viva. Quanto mais grave for a pro-
poderá culminar até com o desaparecimento de cenas instituições, como se blemática daqueles que trabalham e, principalmente, daqueles que dirigem
tem notícia. Embora não facilmente visíveis é tecaroeodáve) não deixar.paui essas organizações, mais séria será a dificuldade de enfrentar as disfunções,
1 mais tarde _aquilo. que se pode fazer ho~f.ióis gb.ándo se acordar 12,ara resol- do atn"l,íerM ntorganizar a organização.
:j j ver tais problemas ooderá ser tarde demais. Muito mais comum do que admitir a própria problemática é acusar o
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' ll É indispensável compreender que ne,rn ~09~s as pessoas que têm prõl outro d~ anormal sob o pomo de vista psiquice. Quando assim se faz acre-
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blemas de ajustamento pessoal admitem isso com facilidade. Muitas delas dit~~se' tão· somente estar a salvo de qualquer distúrbio psicológico. Cer-
fogem de profissionais ou instituições que poderiam ajudá-las a resolver a tamente, aquele que rotula o outro de anormal imagina estar a salvo de
11
!i situação de desconforto pelo qual passam. A atitude de admitir que cada qualquer tipo de desorganização psíquica. Assim sendo, o acusador se sente
·,
1·,t pessoa possui suas próprias idiossincrasias e que; por vezes, não é fácil nem livre e imaginariamente a salvo de ter que enfrentar numa temida psicotera-
,J conviver com elas nem procurar resolver suas dificuldades pessoais repre- pia o medo de relembrar os acontecimentos doloridos que compõem o
:1 senta um dado de realidade importante e deve ser respeitado. Nesse sentido passado da sua própria história de vida. Ao contrário daquilo que se ima-
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1 não existe nenhum fundamento válido em acreditar que o grupo de pessoas gina, essa predisposição de negar que se possa ter problemas enfraquece as
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:.1 que compõe uma organização esteja, por causa disso, a salvo de dificuldades possíveis forças ou defesas indispensáveis para lutar contra eles e sem defe-
'1 U!_e ordem psicológica. _J .sas poderosas as organizações acabem por adoecer.
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É tão freqüente que se pode até considerar como normal ter proble- - __ Muitas das característícas atuais das organizações, por força da globa-
mas no trabalho, está por existir aquele que não os tenha. É bem por isso lização e pelo exagerado ênfase no uso da tecnologia da informação, impri-
que se afirma ser impossível deixar os problemas pessoais porta da em- na míram nova fisíonomíaao mundo do trabalhó. Isso tem exigido urna postura
presa quando se começa um novo dia de trabalho. Os problemas entram diferente daquela qu~ vinha sendo priorizada até então com 8: ênfase dada
juntamente c~m seus portadores, que o digam Cohen e Cohen (1995) ao à produtívídade. j ·
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propor que "organizações de todos os tipos estão sujeitas a doenças psico- ,J! por isso tudo ~ue não pode existir o protõtípo da perfeita normali-
lógicas, independente do seu tamanho, tipo ou setor, nenhuma delas está d~d~ comportamental do ser humano. As empresas perfeitas descritas nos
imune". Não há razões para negar ou esconder esse fato, pelo contrário, mantiaís 4e adminístração representam, necessariamente, uma abstração,
ignorá-lo é que se. enquadra ~m um tipo de percepção considerada como . sem 1o~ndencia Jcom na realidade práti.~. Nesses manuais, o ser hu-
distorcida da realidade. mano é concebido como absolutamente previsível e neles não são valorizadas
Outros dois autores de grande ímportàncía n.q estudo do comporta- as 1i.re~~~ individ~ais de co~portamento. Os manuais de administração
mento ~rganizacional, Amabile e Kramer (2007:5:~o da mesma opinião e reç~wljffárti: erroneariente que todos devam ser tratados corpo se fossem
afirma~ textualme_;t~
que "a dinâmica d~· vida ~~~tj~r ~o trabalho é o efeito
,,: i~~is e, portanto, d~vam merecer b mesmo tipo de atenção; Isso agrava,
consíderãvel que~ pode ter, sobre C? ~~mpehl}i ,?". 'Iorna-seímpossível atn~J1?-~.-t~,gificul1ades hu~~ que exigem solução, pois não existem
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existe e
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:: fugir disso tudo. ~ realidade ;s"tüs·:e(~ítós atingem em cheio o duas pessoas que pos$lim ser consideradas como idênticas.
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conforto dá convi~e~cia interpessoal bem com;; °íf ~fu:ácia da produtividade , ,.-Só se está em condições de reiniciar o caminho para a recuperação da
diária. 1.uma·organ~ç~o
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sem aspessoas t~_• nsf~i:!na:-se
. .
em uma abstração.
'. saúde organizacional e pretender sua volta ao estágio de normalidade
São as ~as qu~ ~ão fisionomia às organizaç~ em que estão, em ültíma quando houver consciência de que é preciso mudar. Tal esforço logrará o
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Capítulo [
PS1COPATOLOG111 DO COMPORTAMENTO ÜRGANIZACIONAL

êxito almejado quando todos tenham consciência a respeito do tipo de ;. _:, -~: r:d·.: .,
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desorganização em que vivem. É necessário conhecer aqueles conflitos que ~ r·

não são tão evidentes em si mesmos. Cloke e Goldsmíth esclarecem o im-


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portante aspecto de que "quando se está em conflito, é comum dizer coisas
' que não se pretende e se pretende coisas que ~ão se diz" e isso mostra a
necessidade de não se navegar apenas sobre as aparências num momento
como este.
Aqui, principalmente a ação dos lideres é crítica e fundamental, pois Os Pilares do Ajustamento:
cabe a eles reconstruir uma arquitetura organizacíonal que incentive a cria-
tividade considerada índíspensàve] para se poder colocar ao alcance de todos
A Auto-Estima
estratégias inéditas para que se torne viável a recondução à antiga produti-
vidade e eficácia.
";4 diferença básica entre o homem comum
Não se pode deixar de lado ~ dependência de urna postura especial dos e o homem guerreiro é que este vê tudo
1 ••

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~~ especialistas e responsáveis peloslrecursos humanos que devem necessaria-
mente abandonar uma• postura meramente ·administrativa. É necessário, que
como um desafio, ao passo que o homem
comum considero tudo uma benção ou u111,1 maldição."
·, 1 •
\ Carlos Castancda
j., neste momento aqueles que respondem por tal tipo de atividade sejam ca-
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pazes de atuar com eficácia elabojando processos que cheguem a viabilizar
a mudança organizacional capaz :de reverter a dífícíl situação. Num mo- Conseguir viver no mundo atual significa sentir-se estimulado por \!lll
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;~ mento como este não se pode ficar\a reboque dos acontecimentos. O desafio
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número relatívamente grande de solicitações e desafios de toda ordem,
'~,. é ser capaz de estar à.1 frente; diagn~sticando aquilo_ que ocorre e apontando mesmo que não se esteja buscando isso. As pessoas, como resposta, procu-
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·~ o rumo a ser seguido. As pessoas responsavéts por ~sa área organizacional ram, principalmente dentro de si mesmas, .fgrcas_qyt; representem os re-
.,.$. precisam estar em condições de atuar diretamente ~ estratégia corporativa cursos dos quais dispõem e que lhes ~rmitem desem enhar-se da !_Ilelho~
'i·' e serem considerados 'como vercia~eiros pa'í-c:eiros ào negócio. Isso deve
,·:' forma possíve na luta continua e QUoda espécie que travam frente a tais
incluir a possibilidade de todos os li~eres executivos ~rceberem que podem circu~ncias. Esse empenho muitas vezes se mostra suficiente para salvar
:
.} assumir a postura de gestores das ~- 1: preciso cbhseguir que tais lfde- o valor que dão a si mesmas. A autovalorízação, nesse caso, transforma-se
(
r. ~ sintam-se seres humanos plenos.icem direito a desafiar o contexto admi- na pedra fundamental sobre a qual será construida a base da auto-estima.
-~ nistrado por eles. · '
~.. Tichy e Cardwell (2003, p. 25) acusam que no momento atual se vive
~.,.
.. "numa era revolucionária". Para eles "tempos de transformações são sempre
~ muito confusos". São momentos que envolvem "erros e excessos". Esse
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cenário traz, para quem vive nele, circunstâncias de grande- apreensão e
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desgaste pessoal.
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Entretanto, atribuir-se valor não é tão simples quanto se acredita. Esse
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processo de autoconhecimento e aferição pessoal implica possuir várias

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m PSICOPATOLOGIA DO (OMl'ORTAMENTO ORGANIZACIONAL OS PILARES DO AJL'STAMENTO: A AUTO-E$TIMA {!) 3
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habilidades desenvolvidas o suficiente para que se possa reconhecer pomos distorções perceptivas em face da realidade, isto é, carecerão da acuidade
Jortcs e limitações pessoais. A esse respeito, os resultados de muitas pesqui- necessária e distorcerão a realidade percebida de si mesmo.
sas confirmam que os que melhor e mais adequadamente se conhecem e se -Os sentimentos, de auto-estima considerados adequados não devem

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valorizam são indivíduos mais amadurecidos e estáveis no aspecto emo-
cional, bem como psicologicamente reconhecidos como equilibrados. São
pessoas que possuem predisposição para se aceitar, de forma confortável,
estai!-\i~irtk~íifi'a:auto-estima elev~da, nem abaixo, auto-estima rebaixada,
daquilo que cada um realmente v'a!e. Os sentimentos que cada individuo
tem a respeito de si mesmo devem estar bem próximos do seu real valor,
como realmente são, sem ter, por isso, sentimentos de vergonha ou de orgu- qb~t'~~ra··~queles qu~ o conhece~ mais de perto, quer para o próprio iudi-
lho inoportunos. vidu6 que se avalia. :No verdadeiro processo de auto-avaliação não existe
Reece e Brandt (2000, p. 59) consideram a existência de dois elementos autoglonficação em dhrimento dos demais nem autonegacão em detrimento
importantes que compõem a auto-estima, são eles: "Auto-estima = auto- de si mesmo. Sabe-se que atitudes positivas e realistas com relação a si
eficácia + auto-respeito [ ... )". Apontam que"[ ... ] auto-eficácia é a crença de . mesmo são os principais sintomas de uma conduta equilibrada.
que você Qode atingir aquilo que programou eara s_i". Os autores propõem_ Muchinsky (2006, p. 346) mostra a posição central do trabalho na vida
também que a maior fonte de auto-eficácia é experimentar que se domina de cada um; relata que "o trabalho e o valor ocupacional de uma pessoa
algo, predisposição essa que amplia a confiança de.sucesso futuro em outras desempenham um papel critico e um senso de identidade, auto-estima e
áreas e em outros defrontamenros. Para eles, o"[ ... ] auto-respeito é o senti- bem-estar psicológico". Para o autor, o trabalho tem para a pessoa valor in-
mento profundo com relação ao próprio valor". Assim "aquelas pessoas que trínseco que toma por base o valor que o individuo atrib~i a si mesmo ao
se respeitam conhecem a si mesmas, tendem a agir de forma a confirmar e desempenhá-lo. Além disso, o trabalho tem um valor instrumental, repre-
reforçar esse respeito". Tudo isso tem estreita ligação com a percepção que sentado pelo fato de prover as necessidades de cada um, serve de canalização
cada pessoa tem de si mesma. de talentos, habilidades e conhecimentos. Como afirma o autor (2006,
Cada um acaba, então, tendo de aggtar ~rões fidedignos de autova- p. 374), •o trabalho promove o sentido e o objetivo da própria vida", o que,
,\

:1 ~~~o. diferentemente daqueles que se avaliam segundo altos padrões de sem dúvida, repercute na melhor qualidade de vida.
-~ valorização não realistas, o que resulta em falsa auto-estima elevada. Reece Nesse sentido, Levy-Leboyer (1994, p. 19), examinando a crise atual
,::.,
:: e Brandt (2000, p. 60) propõem, no mesmo texto, que o auto-respeito dis- da motivação daqueles que trabalham, acrescenta: "o trabalho está atual-
pensa a necessidade de solicitar a aprovação qe O\!tros e que cada um nesse mente sendo rediscutido enquanto valor fundamental, enquanto obrigação
estado sente orgulhó'(las realizações ....9~gi~ mas isso não parece regra e enquanto fonte de satisfação pessoal". Dessa forma, o trabalho é tido como

respeito em
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geral; pois: "uma das ·grªndés tragédias da-vida é que ~ pessoas
todas
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as direções, exceto dentro dda.s_:~mas", o


Erocuram
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que pode
parâmetro de referencia para cada um, quando se busca situar-se diante dele
e descobrir, na realidade, que o valor pode ser atribuído a ele.
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trazer dificuldades para o verdadeiro auto-reconhecimento. Em uma pesquisa recentemente publicada, Amabile e Kramer (2007,
' Com base nesses parâmetros, o principal padrão demedida da auto- p. 42-53) tanihtm apontam o papel do trabalho na construção do sentido.
estima tem de ser forçosamente o próprio i~cÍi~du~ com suas características Os acontecimentos do trabalho deflagram de maneira imediata "processos
pessoais. Caso esse in~ivfduo não seja integro do ponto de vista psicológico cognitivos, emocionais e motívacíonais". A mente "inicia a construção do
nem amadurecido em relação ao aspecto emocional, os padrões de auto- sentido" e procura entender aquilo que aconteceu e suas implicações. Passa,
avaliação dos quais se utiliza estarão comprometidos e contaminados por então, a estabelecer-se um continuo no qual as "percepções alimentam as

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.??f-:~,,: \ 8 PSICOPATOLOGIA DO COMPORTAMENTO ÜRGANIZACIONAL

emoções evocadas pelo evento", que por sua vez estimulam as motivações,
podendo mudá-las. Finalizando sua linha de racíoctnío. os autores con-
r Os PILARES DO AJUSTAMENTO: A AUTO-ESTIMA

Gondim e Siqueira (apud Zanelli, 2004, p. 229) apresentam o modelo


dos seis componentes de bem-esta.r de Ryff e Keyes (1995). São eles:
GJ ' s '

cluem que ·~ a percepção da pessoa é gue o trabalho e ela própria têm alto

- valor, a motivação será alta". Fica, portanto; claramente estabelecida a liga-


ção entre esses três elementos essenciais ao sentido que cada um dá a sua
oo Auto-ateitação: trata-se da aceitação pessoal, isto é, de atitudes po-
sitivas a respeito de si mesmo.
realidade de vida no trabalho, bem como a si próprio na vida pessoal. Não @ Relacionamento positivo com outras pessoas: é a empatia e a afeição
há dúvida, como complementam os autores, que se a pessoa perceber que pelos seres humanos, por meio da ídentíficação e da amizade.
"há um rumo claro à freme, com pouca arnbígüidade em relação àquilo que oo Autonomia: diz respeito à auto-avaliação e à independência de apro-
constitui progresso, o grau de motivação sobe". Assim posto, fica evidente o vações externas.
sentido intrínseco da motivação. @ Domínio do ambiente: refere-se a escolher e criar ambientes adequa-
Outro sintoma importante a considerar é que a auto-estima adequada dos às próprias características, bem corno dominar esse ambiente.
facilita o relacionamento produtivo com os demais.
- . e
Isso significa que a auto- lil Propósítos de vida: são intenções e senso de direção, bem como o
estima não deve levar ao egocentrismo, no que diz respeito a pensar no ,! significado da vida.
outro somente em função dos próprios interesses e objetivos, o que pode il Crescimento pessoal: é o crescimento e o aprimoramento pessoal pe-
envenenar um relacionamento interpessoal produtívo. Reece e Brandt (2000, rante desafios das diferentes fases da vida .. ·
p. 60) apontam que: "A auto-estima inclui traços de personalidade que se .
~:
~~ acredita ter, tais como honestidade, criatividade, assertividade, flexibilidade Essas caractertstícas descrevem o upíco bem-estar que representa vi-
e muitos outros [ ... ]·. Por outro lado, "arrogãncía, vaidade e superestima das ver uma vida razoavelmente normal e produtiva, não só no âmbito pessoal
habilidades refletem auto-estima inadequada. de preferência para ilustrar como também no âmbito do trabalho e suas demandas. Caracterizam seres
.
.,
excesso de auto-estírna". Dessa maneira, não é preciso grande esforço para que possuem domínio pessoal sobre si mesmos e sobre as circunstâncias
.
~
se concluir que a última compromete ou até mesm~ inviabiliza um relacio- que eis envolvem.
:,~ namento interpessoal confortável e produtivo. A auto-estima excessivamente 1: fácil perceber que a auto-estima de uma pessoa é considerada aquele
x tipo de influência que possui forte impacto sobre o componamento, tanto
·~ alta tende a considerar os. demais
. inferiores.
·'~ Valorizar a auto-estima não significa íncenttvar urnaespécie de autova- na vida pessoal como no trabalho. A auto-estima rebaixada, por exemplo,
,.~ lorízação acima do qu~ ~da um vale. Trata-se aqui 4,ç uma percepção mais poderá influenciar negativamente o sucesso da interação entre as pessoas no
:(
positiva. Aquele que se supervaloríza ao extre!Pºi ve_nqç,-se como o melhor que se refere a gerar sentimentos inoportunos de inferioridade. Sob um as-
~'i do grupo, inferioriza os demais; com~ conseqüência, pode ser rejeitado, pois pecto ·:especial, também compromete a produtívidade de cada um pelo fato
l conviver com ele é deixar-se inferiorizar e destruir, ¾, pessoas ajustadas não de gerar níveis baixos de sentimentos de autoconfiança e segurança pessoal
aceitam ser depr~c;l:ás ou consideradas aquém do.que realmente sentem diamedos desafios.
·; ' .,.

que valem. Qualquer .upo de egolsma turva as lentes através das quais a A auto-imagem tem uma grande influencia no desempenho de cada
pessoa percebe a si m~~ e aos outros. Esse embaçamento das lentes per- pessoa, especialmente em situação de trabalho, como propõe DuBrin (2003,
~ ceptivas freqüenterneme compromete o reconliecimeljt~ e o atendimento de p. 170): "quando a auto-imagem de alguém a respeito de si mesmo é favo-
1 expectativas mútuas bãsícas do processo de trocas na Jnteração social sadia. rável, leva ao bom desempenho no cumprimento das tarefas". Isso quer dizer
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6 l!l PSICOPATOLOGIA DO COMPORTAMENTO ÜRGANIZAC'.IONAL Pl\,A!(ES DO AJUSTAMENTO: A Auro-EsTIMA

1 1

! que cada um se esforça para atingir o próprio nlvel de produtividade que visualizàção da imagem mental do sucesso. Por outro lado, os objetivos ai~
fixou para si, pois trata-se de uma predisposição interna que comanda o mejados por uma pessoa não podem estar tão peno a ponto de serem alcan-
comportamento de cada um. ~o caso da auto-imagem rebaixada, os níveis çadõs sem nenhum [esforço. Nesse caso, não haveria necessidade de luta,
de desempenho previstos são sofr_yeis;,\,'•·\/. •
a~sfrii tôrht·fãútocqrtfiança não e~taria em jogo.
• •. 1

Reece e Brandt (2000, p. 65,~66) ;~Íadonam cinco características com- _.M erece destaque especial o grupo social como fator que influencia deci-
1. portamentaís do quadro tlp_ico de auto-estima rebaixada: sivamente o vaior que cada um atribui a si mesmo. Levy-Leboyer (1994,
- "Tendência a manter a fonte de controle'fora dé si mesmo. Acreditar que ~j6) dêlk claro que esse "autoconceito desenvolve-se a partir dos contatos
1
:, seu comportamento é controlado por alguém ou algo que está no ambiente. n cbm,~s outros que permeiam a vida social sob lodos os aspectos". Sua im-
·'
\ Nesse caso, a maiorparte de suas ações é desenvolvida diante do apoio as- . portãncia reside em guiar os atos e as escolhas que as pessoas fazem, che-
'~
~
~
segurado por referen;iais externos. gando mesm~' a determinar os esforços de alguém, durante toda a s~a
• "i~dtncta a demonstrar ações ou comportamentos autodestrutivos. o fato existência. Isso explica por que cada um procura não só confirmar como
•tj~ de nãogostar de si m 7smo leva a não cuidar de si próprio." Essas pessoas também desenvolver a "sua auto-imagem e auto-estima de si", uma vez que
~ podem exagerar no uso daquilo que causa sua própria destruição, como serão os pilares do ajustamento sobre os quais se apoiarão as "novas experí-
~
·' fumo, bebida, e assim por diante. éncías e novos contatos" durante toda a existência.
~
{l
·Mostrar habilidades insuficientes de relacionamento interpessoal. Os indi-
vtduos com baixa auto-estima estão mais inclinados a sentir hostilidade,
Pode-se, assim, aquilatar a importância da vida social no trabalho;
como propõe Levy-Leboyer (1994, p. 86) "a identidade profissional repre-
'' sen~ uma parte capital da imagem de si". A vida de trabalho, que consome
mostrar falta de respeito pelos outros." Ao tentar salvar a própria pele, agri-
l~
t dem, são arrogantes, antipáticos e não demonstram vontade de colaborar. o maior número de horas do dia de cada um, representa, portamo, uma
1 "Sdó fracos corrú; membros de grupos. Mostram pouca iniciativa, tem di- fonte "privilegiada de contatos sociais, bem como de informações sobre a
~
3 ficuldade em aceitar responsabilidades, não tomam decisões por conta pessoa". Não se pode dissociar a vida pessoal fora do trabalho e a própria
~
própria, da mesma forma que não pedem ajuda.~ Assim agindo, podem ser vida de trabalho.
~:~
1 rejeitados pelo grupo; ~ 2000, p. 20) fala que a "introjeção do trabalho bom e válido
i~ Vivenciam síndromes de fracasso. "Se você se vt como um fracasso, na-
.
::
turalmente você encontrará alguma maneira de falhar. A própria pessoa se q pessqas esperam do trabalho e sua maneira de con-
predíspõe ao fracasso:" · cebe-lo ,refleté
. a imponãncia ~ue a ele atribuem. O autor chega mesmo a
\·' Conhecidas essi; 'caractertsncas, o príncípal recurso para conseguir afirmar que as "únicas pessoas felizes que conheço são as que estão traba-
. \.. . '~ . ,. ,.

lidar produtivamente com a auto-estima é fucar objetivo$ reais e mais otimis- lhandc direito e em algo que consideram importante". Conseqüentemente a

, ou
tas a prgdyuvos, umà
... vez que forçosamente existi~.. um elo entre a pessoa pessoa expressa felicidade em ·s~ devoção e dedicação a uma tarefa impor-
e a realização de seus" objetivos, tanto pessoais como profissionais. Uma tantee sua ídentíficação com ela". Essa proposta se mostra indiscutível.
' . ..-,,-- .
esses objetivos não estejam longe do
\

importante condição, nesse caso, é que O ser normal empreende a busca constante da auto-realização, ser-
alcance, isto é, não d~vem estar a perder de vista ~e~ ser ínatingíveis. O vindo-se daquilo que desempenha como trabalho. O próprio Maslow afirma
individuo consegue ver â si mesmo usando estratégias comportamentais que o desempenho e o compromisso com um trabalho importante e que
próprias para atingir seus objetivos. Essa predisposíção é considerada uma valha a pena também pode ser chamado de "caminho para a felicidade
. ,, ·-

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8 il PSICOPATOLOGIA DO CoMPORTAMENTO OkGANIZACIONAL
Os P11.ARES oo AJU,TAMEKTO: A Au10-Esf1M.~ @, 9

1
humana". A pessoa identifica-se com o que faz e dispensa "devoção e dedi- oo "Orientam-se para o futuro sem se prt'ocupan:m muilo com os erros Já
·l
cação naquilo que executa". cometidos ou que possam vir a cometer." Conseguem fazer de cada ex-
Quando a predisposição de luta não entra em ação, a pessoa age de pertencia uma oportunidade de aprender mais.
maneira não inovadora, é repetitiva com relação à sua forma de agir em oo "Sào cá.pazes de lidar com problemas e desapontamentos da vida. Enfren-
todos os campos de atividade aos quais sé acha ligada. É também lenta tam os problemas de forma não depressiva e angustiante, tendo
intelectualmente e, como defesa, refugia-se no já aprendido para não ter energia para trabalhar em busca do sucesso". São pessoas criativas
de sofrer críticas. A impressão que causa àqueles com os quais convive é e não se subtraem para fugir da realidade.
que tem pouca confiança em si mesma. Percebe-se, em suas ações, um oo "Estão aptos a sentir todas as dimensôes emocionais sem que essa emoção
grande temor de desagradar e contradizer o grupo em que se encontra, afete seu comportamento negativamente. Viver plenamente as emoções
seja ele qual for. pressupõe autoconhecimento e segurança sem ter medo de não con-
Deci e Ryan (1990, p. 32), ao priorizarem a teoria que trata da motiva- seguir dominá-las." Por i55? são capazes de gozar de relacionamentos
ção intrínseca, consideram-na um recurso que leva à autovalorização: "A interpessoais mais confortáveis: vivem e aproveitam intensamente
.,,~, motivação intrínseca tem como base as necessidades orgânicas inatas de
-~ suas emoções.
·t~ competência e autodeterminação". Assim, as experiêncías de eficácia e au- @l "Pessoas que possuem padrões nomiais de a!fto-estima são eficazes como
.;.
tonomia são a energia da qual necessitam os rnaís variados tipos de compor- membros de grupo." Percebem que aju_dando o grupo a ser bem-
i
~ tamento. É assim que as rafzes da motivação estão presas à auto-estima e sucedido estão também beneficiando a si próprios.
., são, sobretudo, internas a cada um.
~· il -São cap~es de aceitar os outros como indivíduos únicos. Constroem a
~ Dessa forma, essas necessidades promovem a motivação para a busca confiança mútua." Não se pautam por preconceitos que chegam
:-
§·' habitual de conquistar e vencer desafios maiores, formando a base sobre a a excluir aqueles tidos como difcrentes ou estigmatizados.
,.
~
qual se encontram apoiadas a auto-estima e a autoconfiança. Nunca é de-
.
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as
mais reforçar diferentes perspectivas das quais são contemplados os ins-
il "Exibem maior variedade de comportamen~ de autoconfiança." Expres-
sam livremente suas opiniões, mesmo que não sejam as da maioria;
} tintos de motivação, como Michel (1994, p. 23) faz. Para ela, na motivação não tentam corrigir os outros por achá-los errados.
-,
;.' ínmnseca o objetivo perseguido é "obter satisfação ligada à execução do
trabalho em si". No caso da motivação extrínseca -o individuo trabalha Quando a pessoa aceita de maneira positiva suas características pes-
buscando as recompensas externas ao trabalho", como é o caso do salário. soais, a convívêncía é muito confortável, pois ela se permite ser autêntica.
A satisfação obtida pela motivacy.o intr1nseca é a fonte verdadeira de satisfa- Como 'afirma Bartolomé (2001, p. 96) "quando o comportamento é autén-
ção, autovaloriza~o e estima ~aL.Estar satisfeito com o próprio desem- o~
tíco, am~s parceiros podem aprender a respeito de quais são as necessi-
penho não só favorece e aumenta a auto-estima como também cria dentro dades daoutra pessoa". Sendo capazes de se perceberem claramente, têm
de cada um m.ais
segurança diante dos desafios maíores e futuros. Isso sig- .maior opo~~nidade de confiar uma na outra. É desse ponto áe vista que
nifica se sentir "confortável dentro do próprio plano de vida pessoal". Pes- ~~ pesso~ s~ mostram socialmente mais bem-vindas e acabam, com fací- .
soas satisfeitas consigo mesmas são exemplos de auto-estima elevada e lidade, sendo escolhidas como representantes do grupo ao qual'. pertencem.
podem ser reconhecidas pelas seguintes característiças, segundo Reece El~ :conseguem disseminar o seu bem-estar e confono como membros do
e Brandt (2000, p. 66-67): grupo, o que gera fácil aceitação por pane deis demais.

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10 la .t'SICOPATOLOG!A DO CmtPORTAMENTC ÜRGANIZACIONAL
ijJ~t; 0s PILARES DO AJUSlAMENTG: A AUTO-ESTIMA (!) 11

Michener et ai.' (2005, p. 123) estabelecem diferenças entre as pessoas,


·\ realização almejada. Esse tipo de pessoa está agindo para se tornar cada
11
1

comparando-as com base no nível de auto-estima que possuem. Para os


vez mais autentica.
11 autores, índependentemerue da fase de vida pela qual as pessoas estejam
:,: . Nào se pode descanar a importância do autoconhecimento na geração
I] passandõ, aqueles que têm auto-estima elevada são mais confiantes em re-
sadia ou patológica da auto-estima. Os reconhecidos vieses da autopercep-
lação ~ próprias opiniões e julgametit5§~ bem como mostram ser mais
ção em muito dificultam o verdadeiro conhecimento que cada um possa ter
firmes mi relação à percepção que têm de si próprios. Tais indivíduos mos-
de si, no ato de perceber-se e valorizar-se adequadamente. Assim, fica em
f tram-se mais assertivos, mais ambiciosos e mais bem-sucedidos na vida
relevo o fato de que a percepção representa a principal porta de entrada pela
acadêmica. Com freqüência são eleitos para assumir papéis de liderança. Já
qual passam os conteúdos que serão armazenados na vida psíquica. Dis-
os que possuem auto-estima rebaixada tendem a ser socialmente ansiosos e
torções perceptivas deformam a9ueles conteúdos que adentraram no psi-
ineficazes: sentem-se ameaçados nas relações interpessoais por falta de· con-
quismo, sendo aí _gravados como figuras deformadas. A qualquer momento
fia~ça em' seus julgamentos e opiniões. Rendem-se à oposição, para não
essas imagens distorcidas poderão voltar ao nivel da consciência e iníluen-
terem de lutar. São menos bem-sucedidos academicamente e menos popu-
ciar as ações da pessoa.

l. lares. (comum que mostrem depressão, deixando a descoberto sua infeli-


cidadee desânimo. Essas pessoas chegam a tirar partido dessa infelicidade.
Essas duastendências diferentes são observáveis na convivência diá-
ria com as pessoas. 1: como caracterizar os pessimistas e os otimistas; para Comportamento Normal
os primeiros só tem meia garrafa, para os segundos ainda tem meia gar-
rafa. Os primeiros centralizam sua atenção nos aspectos negativos, quer a Embora muito freqüentemente, na convivência diária, as pessoas sejam
respeito de si mesmos, quer a respeito do mundo no qual vivem. Já os classificadas como normais ou anormais, descrever com maior precisão o
otimistas se deixam atrair por aqueles aspectos mais positivos e constru- que seja norrnalídade comportamental não é tão fácil nem tão simples.
tivos, tamo a respeito de suas próprias vidas, como a respeito do mundo Como existem diferentes abordagens _para conceituar esses comportamen-
em que estio. i tos, as fonnas de delinear a normalidade também são diferentes entre si,
As pessoas intrinsecamente motivadas experimentam, na prática,
estados íraeríores de predisposição produtiva. Sentem-se felizes e mar-
!
1
· uma: ve: que varia a perspectiva de abordagem de autor para autor. Coon
(20Ó6, p. 486) afirma que: "definir o comportamento de uma pessoa como
cham para seus objetivos e metas de forma prazerosa. Deci e Ryan (1990, normal é mais diffcil do que parece".
p. 34) assim caracterizam esse estado de espínto típico das pessoas quando Existem certos sinais comportamentaís que ajudam a :diagnosticar
estão intrinsecamente motivadas: "experimentam interesse e satisfação, aquele _ q~~ pode ser considerado mentalmente sadio. Conforme salienta
1 .r,~ •. '-.:,,.· 1 • •
sentem-se competentes e autodetermínadas"; de f~~ inversa, "a antítese Muêfilnsky (2006, p. 849-50), as pessoas normais demonstram bem-estar
do interesse e da plenitude é a pressão e atensã o",-__.,N~o
' ,,, _.
há dúvida de que
_ r~(~~rtàm pr~t~ na convfvln~; são compettntts, bem-sucedidas em
aqueles que estão intrinsecamente mot~_4Ql? experimentam essa plení- · ,,, ,f~-~ ..... ~~""···,t.•,!" f:.,. , •.t-1 ··- . •.
niuiµis atividades, desfrutam de relacionamentos agradáveis, têm bons em-
rude. Assim como vários outros autores, eles p~põ~in que essa motivação . ·:,..,.· ,·,.,. \ . . '
pregos e adaptam-se com facilidade a eles; demonstram autonomia e são
intrínseca representa ~ verdadeiro destino de cada 1i~,-$er intrínsecamente
- ~ 1

motivado é como se o individuo estivesse trabalhando a favor da própria


• • li"!4 ... , · 1 -

pai:-,~olher se'F própri?~ caminhos, expressam enfaticamente seus


" ,

. .,, . . . valores e'preferências; possuem ~piraçôes próprias .


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12 l!l PSICOPATOLOGIA DO CoMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL


Os PIL.A.RES DO AJUSTAMENTO: A AUTO-ESTIMA l!J 13
(
-~ Essas pessoas esforçam-se continuamente pata atingir resultados cada
J:~ rado anormal. Adotando o enfoque estatístico, aceita-se que se 90% de uma
i~ vez melhores; poss1:e_m um modo de funcioricnn~ritó integrado, o que se refere determinada sociedade sofre de dor de estômago, essa síndrome poderia ser
.\
à pessoa na sua totalidade, isto é, klernonstram harmonia entre u que pensam
i c~n~idêrada normal naquele grupo de pessoas, Comer carne humana seria,
:l
_,\
-..~,,
1·,.
i
:1
e como agem. Essas caractensncàs

·
+ . levari~'·'#tónd~ià~
. '
de que são verdadei-
ramente felizes em quase todos aspectos que d~_pendem delas.
A primeira abordagem sobre normalidade segue o modelo estaustico.
portanto,tiro-· comportamento normal para uma tribo de antropófagos.
Cotrio diz Dóría (1974, p. 21): "consagrar o critério estattstico é correr o
i '1"l'i
' risco _ de igualar a normalidade com mediocridade, sacrificando os grandes
~
~
Esse seria, por assim dizer, um recurso qhe
parecê oferecer maior objetivi- .. valores que sempre se afastam da média".
-~-~ dade, como afirmam muitos pesquisadores. ·Pa~ tanto, essa caracterização
~·\ A abordagem estatística de normalidade é oportuna quando se está
-~ do normal é feita com base na ~urva de Gaiiss:·4, normalidade estatística avaliando ,é> nível de inteligência, mais freqüentemente denominado Q. 1.
~ .. {,.
\
-; aponta para aqu~les_ _comporta~entos mais frecf?entemente observados. (Quociente Intelectual). Assim, os níveis médios de inteligência (50%) do
·:
_, Portai:to, a anormalidade resultai de uma repetiçã6:,pouco freqüente de ou- grupo estudado devem estar contidos na faixa da normalidade, que repre-
_,_,
tros comportamentos. Coon (2Q06, p. 486) refere-se à "pontuação muito senta a maioria dos casos. As ocorrências menos freqüentes (20%) estão um
·.\l
,, elevada ou muito baixa em alguma dimensão". As~i~. esses dois extremos
.{
,_ pouco acima "da média (normal superior) olÍlÍÍnpÕuco abaixo dela (normal
~
\
são mais raros de ocorrer e podem ter baixa intensidade ou intensidade inferior). Por fim, os casos de menor freqüência do grupo (5%) estariam
\

'
\~
"i
exagerada. São extremos considerados áreas que cobrem os casos anormais, bem acima (superior ao normal) ou bem abaixo (inferior ao normal). No
~ tanto de forma positiva quanto de forma negativa. · primeiro segmento estão aqueles conhecidos como gênios; do lado oposto
] Note-se que há razoável coíncídéncía da caracterização de estados de
~ estão aqueles profundamente desguarnecidos de recursos intelectuais, os
~
-·_, normalidade e anormalidade· entre os diferentes autores. Kets de Vries (1997, retardados. Nessa abordagem fica claro que a caracterização da normalidade
.,·'
.\ p. 207), por exemplo, propõe que "a diferença entre eles depende da posição de um comportamento depende exclusivamente da freqüência com a qual
·t
de cada um nõ espectro que vai da sanidade à patologia". Afirma, a seguir, se repete.
que são apenas os "extremos desses espectros que causam preocupação, Um segundo parâmetro que tem servido ~orno referencial para a arbi-
podendo resultar em uma série de disfunções comportamentais". Isso, por- tragem da existência ou não de normalidade comportamental são os referen-
tamo, confirma que a "passagem de um para outro é uma questão de nuance" cíaís sociais. À medida que se verifica o ajustamento às normas do grupo ao
que pode, muitas vezes, ser díãcíl de perceber com clareza. qual pertence o individuo, avalia-se a sua normalídade. Isso não
quer dizer
A abordagem estatística ocasiona algumas dificuldades de ordem prá- que as pessoas simplesmente devam tomar a fo~a do grupo social em que
tica. A primeira é estabelecer o ponto exato da linl}~ divisória entre os dois se encontram - isso seria apenas uma adaptação. O que se propõe aqui é
tipos de comportamento. Por exemplo, o hábito d~ l~var as mãos: quantas algo ·mais 'conhecido como ajustamento, no qual cada um se integra ao
i vezes ao dia lavar as mãos pode ser considerado um hábito normal de lim-
peza, e quantas vezes acima disso seria un: indíçativo de comportamento
grupo, más, além disso, exerce sua ínfluencía modificando também a fisio-
~' nomia grupal. Não é, portanto, um mero produto do meio.
~' anormal fóbico, ou seja, medo intenso de sujeira ou mania de limpeza. Coon (2006, p. 487) examina o parâmetro social de normalidade evo-
-~ A segunda dificuldade reside no que se pod~ chamar de relativismo
~ .
~ cando comportamentos atípicos também chamados de inadequados. Para
·\
~ cultural. Dentro dasculturas nômades é normal mudar de casa em espaços tanto, a expressão não-conformidade social refere-se à típica deso~ediência
s:i de tempo relativamente curtos. Para uma cultura sedentária, isso é conside- a padrões publicamente aceitáveis de conduta. Todavia, o afastamento
~
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Os PILARES DO AJUSTAMENTO: A AUTO-ESTIMA (!) 15


14 B PSICOPATOLOGIA DO COMPORTAMENTO ÔRGA1'IZACIONAL

acentuzio desses padrões pode levar a um comportamento destrutivo para Assim como é um erro equiparar a pessoa normal com o ideal, não se possui

o propío individuo e para o grupo em que ele está inserido. Cor.10 diz o nenhum conceito de normalidade aplicável a todos em qualquer momento
~.
autort 'Muítas 'personalidades' excêntricas são encantadoras e emocional- Cll situação. "As pessoas saudáveis são também imperfeitas, cometem erros,
.:.,: menteestãveis". É necessário ponderâi tàinbém que a "obediência estrita às têfu pensamentos loucos às vezes, tem conflitos interiores e. não são total-
· .; mente conscientes, honestas, confiáveis ou responsáveis o tempo todo" e,
•!., norma sociais não garante saúde mental. Em alguns casos a psicopatologia
envobe conformidade rígida". Por exemplo, a conformidade absoluta a um como se pode ver, também escondem imperfeições. As imperfeições, por

grupoaltamente agressivo não pode ser considerada normal. incrível que pareça, fazem parte do normal.

Pnrnm (1978, p. 41), quando propõe que "o objetivo da vida humana É voz corrente e faz parte da sabedoria popular que uma pessoa seja
.,\'
é o crecímento e o desenvolvimento do homem", sugere que, quanto mais tanto mais normal quanto mais esteja presente e seja atuante na realidade
~
~\
cada ua estiver perto desse objetivo próprio à sua natureza, mais se aproxi- em que vive. Ela tem, por conseguinte, capacidade de ajustar-se a várias si-
.;
mará ~uilo que se pode entender como normal. Para o autor, "crescimento tuações, integrando-se e reagindo com maior eficácia, transformando aconte-
~,;
$ normal.contudo, produzirá o caráter amadurecido, independente e produ- cimentos estressantes em eventos produtiyos. No entanto, é básico, segundo
!~
:j tivo". li:at.a-se, assim, de um enfoque de caráter filosófico sobre a normali- Dória (1974, p. 21) considerar que: "a adaptação à maioria resistiria ao de-
-~
1 dade do comportamento humano. safio. de mudanças, definindo-se como um comportamento instalado em
1
DD ponto de vista psicológico, a normalidade reside no cumprimento resignada .alienação". Não se pode ser apenas uma espécie de produto do
da mísão humana, ·a de ser ele próprio, por si próprio". Nesse sentido, está meio em que se está. 1: bem por isso que tudo aquilo que foi conseguido

implm a noção de "conseguir a felicidade por meio da concretização total pelas cíêncías comportamentais foi apenas chegar peno da diferença entre o
das fa:uldades que lhes são peculiares". Essas faculdades dizem respeito à normal e o anormal, e isso significa que só se sabe quem pode ser classifi-
"razão.ao amor e ao trabalho produtivo". Essa é mais urna das razões que cado como mais ou menos distante do normal. Não há exatidão que consiga
jusúfiam a ligação entre autoconceíto e normalidade. ter índiscutível precisão. Do ponto de vista da experiência pratica, é sabido
Sã bastante sutis e até difíceis de perceber os limites sociais quando se que a pessoa caracterizada como normal promove um ambiente de bem-
fala a mpeito de normalidade, principalmente considerando que a relativi- estar à sua volta, no qual as pessoas podem desenvolver suas habilidades
dade desses limites é muito elástica. lssó é levado em conta principalmente méntaís, cognitivas, ~~ti~às e d~ relacionamento. O próprio bem-estar de
no maacnto do díagnóstíco dos dístürbíospsicolõgícos, Como afirma Coon ufu pcssoá.:e daqueles çom q~~~ ela convive e sua criatividade e produti-
(2006,.p. i87): "l·:·I as culturas classíficam as pessoas como anormais caso .vi_~~~--viri~~ desse ~~-estai'são indicio claro dessa norm~lidade.
elas nla se comuniquem com outras pessoas,
~
ouséuverem atitudes insís-
-. -·· -
". ,,
. Bunker, Kram eTíngs (2002, p. 64-71) examinam aspectos críticos
tentemmte imprevislveis". Essa forma de ver a.normalídade, por sua vez, d~. i~(~i;idadt> de jo~t.~ executivos e de como essa imaturidade se reflete
leva à mesma Iímitação do conceito estatístíco, isto ~. o pouco freqüente em nçscontatos que eles ~t!m com sua equipe. O fato, dizem os autores,
determsada cultu@ pode ser considerado ano~?. . . ~ -~1,1~ ~..~~i9ria dos execut,ivos procura pessoas inteligentes e àgressivas e
Sfrin e Cutler (2002, p. 8), citando Berger (1997), acusam a relatívi- d~· mais atenção a reaÜza'ções profissionais do que à maturidade· emocio~
dad; altural; tanj~m ponderam que todas. aspessoas reconhecidamente n~r. Côm isso, o rdaéionamento imaturo e, ponanto, inadequado, pode
normas em uma ~iterminada sociedade ou emum grupo social .~orrem o fi~~r ~ais evidente, uma vez que, quanto mais se sobe na hierarquia, mais
risco dt serem .consíderadas anormais e não sadias em outra sociedade. se ~ornam necessários os aspectos humanos de liderança. Outro·tado dessa

fijf.::,.:,.· -· ·.·,, _, , -- --·-······


~t/t<:1•

16 @ Ps1.::0PATOLOGIA DO COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Os PILARES DO AJUSTAMENTO: A AUTO-ESTIMA l!l 17

mesma imaturidade é que ela dificulta a aceitação de críticas negativas que Os indivíduos situados fora dos parâmetros de normalidade mostram
podem contribuir para melhorar esse estilo de liderança. Corno denun- visível dificuldade em se ajustar; isto é, a maneira como abordam as situa-
ciam os autores, esse tipo de personalidade não conseguiu atingir a matu- ções em vez de ajudá-los os atrapalha, Sofrem com a falta de eficácia quando
ridade normal. Esses lideres "continuarão à malograr" pela falta de uma se.trata de resoÍ~er ou lidar com as solicitações comuns do cotidiano, mesmo
emocionalidade madura, o que, no geral, se reverte "em altos custos para as mais simples. Parece que há problema em tudo ou que não há problema
a empresa". n~nhum: Eles navegam entre esses dois extremos de forma'. inesperada e
Problemas de saúde mental levam a um rompimento do relaciona- ilógica. Esse comportamento oscilante e desorganizado faz com que percam
mento, assim como determinam comprometimento nas trocas entre o pró- a possibilidade de se autocontrolar. .J.ensamentos, comportamentos, senti-
.
prio individuo, o grupo e o meio em que. ele está. ;Aquele que não domina
sua normalidade não consegue ser produtivo e enriquecer posítívarnente o
mentos e demais conteúdos psfqlticos se desorganizam e são regidos pelo
acaso. Conseqüentemente, a? medidas que tomam não encontram respaldo
processo de interação social. A improdutividade dessa interação surge quando na realidade ~bjetiva, não guardam uma linha lógica de ligação entre si.
ele atribui ao ambiente e às pessoas com quem desenvolve contato caracte- Essas pessoas se caracterizam pela natureza incoerente da sua personalidade.
rísticas que na realidade não acalentam - são apenas fantasias projetadas É díficíl saber qual a maneira correta de interagir com elas e obter resultados
pelo percebedor imaturo sobre aqueles que o cercam.
produtivos desse relacionamento.
Pessoas normais não atribuem aos demais características que não lhes
Como o anormal não se aceita, pelo fato de não se sentir confortável
pertencem, Elas não temem colocar em dúvida- opiniões que possuem,
consigo mesmo, sua maneira de agir é, no geral, rígida. A inflexibilidade não
;~ sendo. portanto, flexíveis em seus julgamentos a respeito do mundo e dos
•} o deixa abrir mão das próprias obsessões, mesmo que sejam as mais inade-
.; indivíduos. Nesse sentido, não possuem idéias fixas ou obsessõesque são
quadas possíveis. É praticamente irredutível quanto às crenças que mobili-
1.,~ próprias dos neuróticos, tão-pouco mostram comportamentos coml)ulsivos,
como no caso dos psícõticos que não conseguem coibir seus rituais. Essa
zam seu comportamento. De forma extremada acredita-se certo e considera
.,
.\ que o resto do mundo está errado.
;~ atitude de abertura e flexibilidade é que promove o tipo de relacionamento
~i Um dos aspectos negativos mais evidentes daqueles que não se sentem
~t agradável do qual desfrutam aqueles que convivem com a pessoa normal.
,1 bem consigo mesmos é o distanciamento da realidade objetiva que, em casos
Embora não se consiga esgotar em utrui única definição o que possa ser
mais graves, chega a ser negada. Esse estado configura quadros típícos da-
~~'\ considerado normal ou anormal, a cuidadosa observação do comportamento
;1.•. humano em _muito ajuda a distinguir aqueles que tt~vários e freqüentes
quilo q~e a psicopatología qualifica como alucinações e deltrios freqüentes
e persistentes, por exemplo, .ouvír vozes, ver coisas que não existem, cons-
~;, problemas comportamentais daqueles que rarament~ os têm. Estes últimos,
truir realidades absurdas.
~ ao se aceitarem corno são, e pelo fato de conhecerem-seus pontos fones e
:: A intensidade e· a freqüência da repetição desses afastamentos da reali-
. ;~
:, suas fraquezas, estão aptos a gerenciar seu potencial pessoal, tirando partido
::~·( das suas características individuais. Isso significa que, na prática do dia-a- dade vão determinar a gravidade do comportamento anormal. Costuma-se .
·-: dizer que a diferença entre o normal e o anormal não é uma questão de
·-..~ dia, se posicionam estrategicamente de forma a não serem cobrados pelo
'
potencial menos desenvolvido que demonstram, ou por habilidades que natureza ou tipo de comportamento, mas diz respeito, sobretudo, à sua in-
não tem. Desenvolver a maturidade emocional requer treino e atenção espe- tensidade e freqüência. Por exemplo, limpar fogão é algo considerado nor-
cial quanto ao tipo· de interação pessoal. mal, mas utilizar cotonetes para garantir que nenhum sinal de gordura ou

a x %}%.H.·-, . ==
,1·.-

·::-:?·.

1 0s PILARES DO AJUSTAM E'- TO: A AUTO-ESTIMA


18 El PSICOPATOLOGIA DO COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL [!l 19

sujara de qualquer espécie permaneça e gastar horas nessa. tiirefa pode ser · físjco. Nada é necessariamente permanente nesses dois casos, confonnc o
codigurado como um componamento fóbico anormal. p/óprio Bergeret (1985, p. 24) conclui: ~a noção de 'normalidade' seria as-
..~ !
Há mais um aspecto que complica o entendimento da linha que separa
o oormal do anormal. O anormal ~?strã! -no geral, ceras atítudes do seu
·r sim res~r,yada a um estado de adéquação funcional produtiva".Já a patologia
·: c~;es;6~d~hà' ~a u~a rupttir~ .db equillbrio no seio dessa lin_ha est ru lura! ...
rqrnório componamental consideradas normais. O notinal pode, uma vez ... '*· -. 1 ,\

., seja
.
de natµreza neurótica,
1 . .
seja de natureza psicótica.
oaoutra, ter atitudes isoladas passiveis de serem classificadas como um tipo
~i
~!
; ' .
~liesvio anormal de conduta. Isso equívale a dizer que ninguém é normal
.. ;.,. -~~ conceito *ermite assumir como ponto pacifico que a verdadeira
~uto-estim~ faz part~ da normàlidade. Ser honnal implica ter auto-estima
ou anormal o tempo ·todo e em todas as círçunstãncias. No que se refere ao ri6rma1: ~to é, priJar-se de ._autovalorização e auto-aceitação adequadas
', '=~! . . ,,
primeiro caso, é posslvel encontrar pessoas internadas em hospitais psi- 1 . • . .•

frehtt; ao que verd~deiramenté répresenta a· própria pessoa. Aquele que


quiflricos ~ que trabalham em oficinas piÕpt.Í~indo peças que tem notável
~okgui :c~usar befíl~star no ambiente que freqüenta conhece suas forças
equilbrio harmonico de beleza. No que se·:r~fere ao segundo, pode-se elen-
e Htnitaçõ~·.e pn;,cui:á tirar panido de seus pontos fones, evitando, de fonna
car muitos dos grandes artistas, como Van Gogh e Salvador Dalí, que parti- .. '
siste~tica: perder tempo ten~ndo corrigir ou remediar suas fraquezas.
cipmm da sociedade, mas tinham sígníficatíva dificuldade de se adaptar
Essa estratégia é apontada por-vários autores como um meio de viver de
aospadrões cornportameruaís propostos. A esse
respeito, consta que Dai! foi
'inaneira inté}igente e, sobretudo, confortavelmente. No caso de pessoas
u_m.los notáveis pacientes· de Freud. ' ,
;I normais, à auto-estima faz com que elas aceitem ser o que verdadeiramente
'i Da mesma forma não se pode garantir que o normal permaneça inva-
1
riaYdmente dentro das díretrízes de ajustamento. Por outro lado, os trata-
são e não se lastimem pelo que não são. Isso equivale a saber desfrutar dos
próprios recursos pessoais e evitar que eles se percam no vazio, ou se trans-
mear.ospsicofarmacológicos que alíarn drogas e psicoterapías conseguem
formem e_m_1efeitos devido ao seu uso inadequado ou excessivo. Erro fre-
reimrer casos'telativamênté graves de desvios de conduta para a diretriz de
qü~te é equiparar o normal_ com um ser racional. Isso seria des,·inuar a
COJDfOnamentos normais. A configuracàô:d~s dois recursos terapêuticos,
uso de medicamentos e terapia, tem <>pe~do verdadeiros milagres na cura, càt;àcteristica ma.is marcante do ser humano que é sua emoção.
p~ entéde quadros depressivos gravis .... ·· . Principalmente no meio organizacional, a emoção não é bem-vinda,
lcrgeret (1985, p. 16) aborda o~ llinités:da·normalidade ao aceitar que, confonne ressalta Robbins (2003, p. 163) ao apontar que Mno campo da
com liasc na condure do· día-a-día, ~ni,a ~il "reputada como 'normal' gestão" não se aceita com bons olhos o componamento tipicamente emocio-
1

podeentrar a qualquer momento dá ~ existtnci~ na patologia mental, até nal, como se as pessoas pudessem se despir de suas emoções. MTodo com-
a Jãcótiéa". Aó'. ni~mô tempo admit~>tam~m.que: "um doente mental, portamento no trabalho é presumido como se fosse totalmente racional".
a~ mrsmo umpsícõuco, tratado precocemente cónserva todas as chances Embórà olhar o ser humano de!:SC ângulo tome mais simples compreender
• •·-'\ 1

dê dar à sit~ção da normalídade" e pode:'fu~~o conseguir.que alguns o comportamento no trabalho, •é possível que ele gere avaliações altamente
dos sais atos seJàrt1 aparentemente considerados normaís. . : impre~ e .~ão realistas". Ao ignorar as emoções, provavelmente aquele
') • ~ . ;:. ' ~ '~ '

Por cenas earacterístícas, a normalidade o~ a anormalidade psicológica que. lida çom.as pessoas nào irá muito longe, em especial se•a missão for
em IDlilo se assemelham ao seu correspondente de ordem física. Nenhum resolver conflitos. É sobretudo nos conflitos que se tem a dimensão do
dessesdoís estád~~ é permanente. A evolução ou a involução dos estaêÍos quanto as ·emoções dificultam ou facilitam os desentendimentos interpes-
a
psicol6gi cos segue mesma dínãrnica dos estados de bem-estar õ"u mal-estar soàis. Não há conflito sem que as emoções aflorem.

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20 El PSlíOPATOLOGIA DO COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL
Os Í'ILARES DO AJUSTAMENTO: A AUTO-ESTIMA (!) 21
~
~
~
., O ser humano é mais bem caracterizado como um ser emocional do
morte, usando o potencial da primeira e procurando retardar as restrições
1', que como um ser racional. Concebe-lo como um ser desprovido de emoções
da segunda". Para o autor, a noção de "normalidade" reclama por um estado
·~~r é negar-lhe sua principal característica, como explica Murray (1971, p. 80)
de adequação pessoal e funcionamento produtivo.
,, ao conceituar as emoções como "poderosas reações que exercem efeitos
Já a patologia se caracterizacomo a ruptura do equilíbrio entre o indi-
'! motivadores sobre o cornportarnenro" Para o aut~r, essas reações vão in-
viduo e o seu meio. Essa colocação permite afirmar que será considerado
'1 fluenciar "percepção, aprendizagem e desempenho", Dessa forma, a pre-
normal aquele que conseguir se sair vencedor perante si mesmo com base
disposição emocional parece dominar quase por inteiro qualquer tipo de
nas respostas que é capaz de dar às solicitações inerentes ao seu próprio
:: atividade humana. Amabile e Kramer (2007, p. 42-53) enriquecem esse
processo de vida. A impossibilidade de assim reagir permite levantar dúvi-
"~ jl' quadro ao descrever que quando alguém, em sua conduta cotidiana, tem de
~:- das a respeito do ajustamento e da integridade psíquica. É normal procurar
'·· enfrentar situações de trabalho que não lhe são confortáveis nem construti-
:! novas saldas para velhos problemas, como também é sintoma de normali-
' vas, passa a ter impressões negativas sobre a organização, os colegas, os

i
dade não se servir de velhas é antigas maneiras de agir para resolver proble-
chefes, o trabalho e até sobre si mesmo. Fica frustrado, infeliz e desmotivado
mas novos.
para trabalhar. O desempenho vai, nesse caso, sofrer tanto no curto prazo
i como no longo prazo. O rompimento da linha de identidade é um indício de desorganização
.
~"
.,
}
:i Perceber e aceitar pontos fracos, defeitos ou queixas que cada pessoa
comportamental. Normalmente as pessoas lutam pela preservação de sua
linha de identidade. Por exemplo,· a esquizofrenia, uma das mais severas
'li tem a respeito de si mesma, da mesma forma que descobrir as queixas dos
-~ patologias psicológicas, é compos~. pelos t~I1110S "esquizo", que significa
~ demais em relação a ela, nada mais representa do que o equilíbrío da auto-
~- desíntegração, e "frenes", que significa espíríto. O esquízofréníco não so-
~ estima. Essa sensibilidade significa o começo e· talvez o passo-~is impor-
'!:
j tante e sadio rumo à verdadeira aceitação e exploração produtiva próprio 4~ mente perde a sua verdadeira identidade como também pode assumir um
ouc_~o tipo de personalidade completamente diferente. O individuo acome-
~
~·'
potencial , l:_ bem por isso que pontos fortes e pontos fracos ~nem por se tido P?r essa patologia acumula dentro de si, de forma ilógica e atemporal,
''i força de ~ escala de intensidade. Como exemplo, pode-se consiaei:ar que
porta11to, de maneira indiferenciada e caótica, o acontecido. O mundo para
a meticulosidade ~m excesso leva a uma conduta típica do e~p~cidôr de
serviço. Ser desfrutável e indiscreto no convívío social pr~põe grande
nesse
ele é, ' .. caso, o que imagina ser.

sociabilidade. Invadir as~~ e o ambiente é;àção caracteristio(das pes-


~' soas que são gera4o~ de energia por onde .p~tjl. A depressão !pede um
~
'
tipo de personalidade que asstt~
os próp~os Pf~~lernas e os dos::oútros, e
A Importância do Estilo de Vida
~'
,,·-·. 't . ~i.
assim por diante. tomo afirma I<ets d~-Vri~ (1~97,. p. 206) ."a ~pacidade
'!.. É o e~tilo~~ ~d:! que permite qualificar alguém como um personagem
de observar e anall~r a própria mente t _de ítnp!)ftância prímordíal". Co-
' 1,:,. · ·. ·. 1 • ,. . ,.· ·'· • ·"' .
nhecendo, assim; as príncípais caractet15tipis dç.C§tilo de comportamento
.,~_nico, sem réplica no universo. Diz Shapiro (1986, p. 7) "entendo por
~ . ' '.. . .. fórma
·' 1 ).. •· .{·.·~-·-_• .;-,:· . -:: ·~tilo;uma
normal, fica fácil prever qual f tipo de compo~rttento improd~tivo que . .. . .,. ou modo de funcionamento, isto é, o modo ou a maneira .
de St; comportar - que perm~te identificar o individuo através de toda uma
cada um poderá e,qbfr: . L:_ . , :.
séri~ de atos específicos". O estilo de vida é, assim, inerente à própria
Mais uma v~..
Bergeret 0985, p.' 15) propçe; "a noção de 'normalí-
1 .... ' •· • personalidade .e representa uma continuidade dela, que aparece sob a
dade' esta ínteirarnente ligada I à própria vida, desde o nascimento até a
•• • • • ~ ~·' ? forma de comportamento.

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if 22 l!l PSICOPATOLOGIA DO COMPORTAMENTO ÜkGANIZ.ACIONAL l!l 23
Os PILo\RES DO AJUSTAMt:NTO: A AUTO-ESTIMA

• -! . ' . . 1
A maneira de lutar pela manutenção de urna linha de ideritidade ao observação cuidadosa e sistemática dos sinais que emitem quando se depa-
• .. ,1
longo dos anos é, portanto, o estilo comportamental de cada ~in. _No en- rarri com determinadas situações concretas. Frente a uma mesma situação,
1 .
tanto, embora as pessoas não sejam idênticasurnas às outras, alguns aspec- · cada pessoa reage de acordo com suá maneira própria de comportar-se. Esse
·~ •• :i:':-, :,__ ... ,•_:: .C-,;• _., 1- .
tos desses estilos são comuns a-algum~~ êle!as, (í'.qiJt permite agrupá-ias com comportamento peculiar' está atrelado a aspectos mais estáveis da persona-
base n~ semelhanças que caracterizam·~ estilo de vida de cada lima. lida1~- Entende-se por estilo de vida essa maneira individual por meio da
Katcher (19~5,
.
p. 43) explica de maneira
.
bastante objetiva aquilo que, qual_ cada u~
utiliza seus recursos e suas características pessoais, o que re-
segundo seu enfoque sobre o assunto, pode ser conhecido como· o estilo de sulia em uma espécie de retrato próprio, que é apenas seu. Para Kaicher
vida pessoal de cad·a um. Para ele, trata-s~ da "m~:neira segundo a qual as (1985; p. 44): "Repetidos padrões de comportamento, ligados por um tema
pessoas preferem lidar com as diferentes situações; sem planejamento, sem comum e difundidos em muitas áreas da vida, são chamados de estilo". Para
esforço, para manter o controle sobre o que ê~tiver ocorrendo". De certa fazer um diagnóstico razoavelmente fiel do estilo de vida de alguém, é ne-
fonria, repetir o mesmo comportamento na ~-aioria das situações vividas cessário observar a pessoa durante um certo tempo, para que se obtenha b
poderia ilustrar o que é estilo - "um padrão de comportamento que se apre- registro daquilo que se repete com maior freqüência, o que irá compor seu
senta habitualmente relacionado a um tema central": o estilo de vida, por- estilo de. vida.
tanto, faz coefi que cada um opte por certos tipo~:áe preferência e vença os . Os testes psicológicos surgiram tendo em vista a melhor caracterização
desafios à sua própria maneira. Note-se que certoselementos comuns pare- das diferenças individuais de personalidade. Esses testes nada mais são do
cemser repetidamente enfatizados por escolha do próprio sujeito. Essa es- que estimules padronizados apresentados às pessoas para que elas reajam à
colha pessoal estará presente na maioria das situações vividas, como forma sua própria maneira, seja interpretando borrões de tinta, seja construindo
de garantir o que é denominado linha de identidade própria. pirâmides coloridas, ou desenhando uma árvore, e assim por diante. Os
Um dos aspectos mais fascinantes do ser humano é o fato de ser ele testes representam o recurso que permite estudar as características da res-
único. Conseqüentemente
.
existem tantas diferenças
.
individuais de compor- posta comportamental que cada um oferece. As. respostas que variam de
tamente quantassãoas pessoas do mundo. Os indivíduos não são ídéntícos, individuo para individuo facilitam confirmar hipóteses a respeito dos dife-
embora possam, sob certos aspectos, guardar semelhanças. Com base na rentes 'estilos de vida de cada um. Há, no entanto, certos traços comuns
constatação _dessa, díversídade, a lógica do estudo do comportamento hu- entre as pessoas_ e os padrões preferenciais de comportamento. Esses são
mano guarda no ~~ íntimo inúmeras diferenças e não permite que esse aspectos mais constantes do comportamento e que permitirão agrupar os
estudo adquira conotações de exatidão, có'roo é o caso da pesquisa aplicada indivíduos em determinadas categorias ou classes especiais. Reunindo as
às ciências exatas. Ê preciso ter em mente que o estudo do comportamento semelhanças entre eles será possível descrever algumas características co-
humano científicamente conduzido determina rua
forma precisa, mas não muns. que os une no que se refere aos seus estilos de vida. Os testes psico-
exata. A psicologia ~o _é uma ciência exata, embora seja precisa quanto ao lógicos são como balões-sonda que se lançam no interior de cada um e assim
estudo e à caracterização que faz do ~r humano. Como as diferenças indi- permitem conhecer aspectos intelectuais, emocionais, bem como interesses
viduais variam ao ínfinno, não é fácil antever, de forma rigorosa, como al- vocacíonaís, que não estejam evidentes.
guém se comportará amanhã, só é possível estimar essa probabilidade, As reaç~ das pessoas tem origem no âmago da personalidade e repre-
Mesmo que as pessoas sejam significativamente diferentes ymas das sentam uma espécie de fio condutor; como tal, levam marcas desse mundo
outras, é possível reuni-las considerando cenas características, usando a interior que se faz representar no meio exterior. A observação cuidadosa e

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' ... PSICOPATOLOGIA DO CmtPORTAMENTO ÜRGANIZACIO:SAL
0; Pll.ARF.S 00 AJUSTAMl:NTO: A At/Tú·!:STIMA ' E! 2,

l' persistente do comportamento aparente de cada uma delas permite inferir


confundi-los, mas isso não quer dizer que sejam uma só pessoa, nem física,
quais são as reais características inte~ores próprias que dão origem às dife-
nem psíquicamente.
renças individuais de personalidade. Esses comportamentos são sintomas
Katcher e Pasternak (2005, p. 33-34), psicologos americanos especia-
observáveis daquilo que está oculto ao olho dó observador superficial. Den-
listas em desenvólvímeruo de executivos, exploram o terna da semelhança e
tro das diferentes caiegorias de classificação encontra-se, por exemplo, o
diversidade desses estilos apontando que "existe algo especial em você - seu
grupo de pessoas apressadas, meticulosas, sentimentais, sociáveis, e assim
jeito diferente de sentir e de pensar, seu modo de falar, seus hábitos, suas
por diante. Tais conjuntos reúnem pessoas que são semelhantes em alguns
experiências singulares - algo que marca sua identidade". Isso libera cada
aspectos, isto é, que têm traços de personalidade parecidos.
um quando se depara com uma nova oportunidade, para "lidar com ela de
Essas semelhanças, no entanto, não são ~uficientes para ocasionar con-
maneira diferente". Quando se observa o comportamento aparente, desco-
fusão de identidade entre as pessoas. Isso quer_dizer que elas podem ser pare-
bre-se diferentes padrões de decisão; sendo assim, na maioria das vezes e à
cidas em certos aspectos e, mesmo assim, conservar sua individualidade. Esse
"medida em que a vida evolui, a marca dos acontecimentos e a influência
é o resultado do desencadeamento lógico das vivências de diferentes pessoas
dos indivíduos molda e formata a pessoa que você é". Considere o caso dos
ao longo de etapas sucessivas da vida. Muito desse material coletado já não faz
egressos das grandes guerras. É assim que sob aspectos mais amplos "as
mais parte dos registros conscientes aos quais se pode ter acesso pela simples
maiores dimensões da vida parecem· refletir preferências padronizadas de
introspecção. Essas vivências são também registradas no nível do inconsciente,
comportamento". Dessas marcas ninguém escapa. Personalidade e estilo
isto é, parece que foram esquecidas; no entanto, estão embutidas na vida
pessoal são praticamente sinônimos e podem ser considerados padrões pre-
ps!quica de cada um. Como cada pessoa tem uma história de vida diferente
ferenciais de comportamento que permitem o reconhecimento das ,seme-
das demais, é possível reconhecer nessa história a sua individualidade.
.·,.. lhanças e das diferenças individuais na maneira de ser de cada un;,,Á~rigem
-~ Não é pelo fato de terem sido esquecidas parcial ou totalmente que as
da palavra estilo remonta a Antigüidade, quando as pessoas usavam um pon-
marcas esculpidas pelas vivências anteriores deixam de direcionar o com-
,;~ teiro com o qual escreviam sobre tabuinhas enceradas. Como esse ponteiro
;! 1 portament~ individual do ser humano. Isso representa o que é concebido
' ' tinha um formato especial para cada pessoa ele individualizava a escrita.
·' como determinismo pstquico, Esse determinismo implica uma espécie de res-
.•
Existem tantas definições de personalidade quanto as teorias a respeito
.' trição da liberdade do comportamento, como aponta Gabbard (1994, p. 26)
dela, no entanto, de maneira bem ampla, o conceito apresentado por Vecchio
depois de admitir que cada um conduz sua própria vida de forma a não
(1987, p. 85) ~ uma conotação que abrange a maior pane do que real-
-~:
·•,
possuir liberdade de escolha: MSomos realmente muito mais limitados do
mente impona quando se fala ao mesmo tempo de personalídades e de estilo
que imaginamos. Na verdade, somos apenas ptrspn,agtns de um texto escrito
de vída: "personalidade, nesse caso, é definida como o conjunto de traços
pelo inconscitntt" (grifo do autor). Qualqu~r tip~ de escolha, seja familiar, '.,f.. .--, '-. ,· ',,~.. .

relativamente duradouros e predisposições que compõem um padrão de


:~ seja profissional ou· até mesmo no que diz respeito ao lazer, não foram feitas ' ' '

i· pessoa díferénte das demais". Ser extrovertido ou introvertido são dois estilos
por acaso, "são delineadas por forças ~cc:mscj~~t~ em uma relação dinâ-
mica entre si", dif~~~mes. D~ ~esma forma, ser rapido no agir ou meticuloso ao enfrentar
~~ problemas, ser egoísta ou pródigo, como os demais, são estilos comporta-
:~
-.~ Como a semelhança de estilo de vida não implica perda de individua-
mentais que i~lmente retratam tipos diferentes de personalidade.
:S lidade, ser parecido não quer dizer ser idêntico. I~ó não ocorre nem no caso
-~ .,, Segundo Katcher e Pastemak (2005; p. 40) "o termo 'estilo' é empre-
.., de gêmeos idênticos ou univitelinos. Quem não .Ç>s conhece bem pode até
·, ' . . . ,.;.; .,. . gado para nos referirmos a um padrão de __ comportamento usado pelas

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11t-fF':
•' ! 26 l!l PSICOPATOLOGIA DO (OMPORTAME,NTO ÜRGANl,µ\CIONAL Os Pll.ARES DO AJUSTAMENTO: A AUTO-ESTIMA l!l 27

pessoas para satisfazer as suas necessidades". Com base nisso] "esses estilos principalmente porque esses comportamentos são bastante funcionais, de
influenciam a maneira como você lida com as situações· quando as coisas eficácia já provada e satisfizeram a quem os experimentou. Durante o curso
estão indo bem". Ao mesmo tempo_, esse estilo entra em ação quando se da vida, as pessoas têm necessidade natural de preservar seu sentido de
experimenta "frustrações, conflito e éstresse". Assim, o estilo de vida confi- idehtidadê: Cada um considera esse seu aspecto como sua própria fonte
gurs-se como o conjunto das representações comportamentais que. são de potencialidades e de forças pessoais.
condutas objetivas e que deixam escaparaspectos interiores dê cada pessoa. Drucker (2006, p. 87-94), ao falar sobre o gerenciamento de si mesmo,
Todo o trabalho psícanalttíco de Freud parece confirmar a suposição inicial, propõe que "assim como os pontos fortes, o modo de uma pessoa desem-
que norteou muito da sua obra, de que para aquele que tem olhos para ver penhar é único. É mais uma questão de personalidade". Para o autor, cada
e oúrídos pa'.a ouvir a alma humana não t~m segredos. Analisando bem os um chega a sua respectiva vida de trabalho com a personalidade que foi
papéis desempenhados no mundo objetivo, é possível inferir as principais formada "muito tempo antes de começar a trabalhar". Drucker não acredita
característícas intrínsecas da personalidade da qual partem esses papéis. em mudanças profundas dessa maneira de ser, como diz ele, que pode ser
As pessoas que _formam as organizações lhes emprestam seus estilos, "ligeiramente modificada, mas dificilmente será totalmente transformada".
dando-lhes uma personalidade ou estilo próprio de vida, como aponta Embora muitos especialistas em comportamento concordem com a impro-
Macooby (1977, p. 29), "os gerentes de corporações que entrevistamos ti- babilidade da mudança comportamental. homens de empresa não parecem
nham em comum muitas atitudes, valores e padrões de comportamento ( ... t. 'aceitar esse aspecto com tanta facilidade. Pode-se interpretar até que essa
Issosugere que habitualmente as pessoas se sentem melhor quando traba- não-aceitação compromete, para eles, a força que acreditam ter sua ação
lham com aquelas que lhes são muito semelhantes- é isso que o autor chama junto às pessoas.
de "'psicoesu:utura organizacional". Maccoby aponta também que podem · Meigniez (1965, p. 11) parece ser um dos\,rimeiros autores a chamar a
. \ .
existir estilos diferentes na composição do quadro e na formatação da psíco- atenção dos especialistas em comportamento organízacional sobre a impor-
estrutura organizacional. Assim como as pessoas, as organizações possuem tância do estilo para a melhor compreensão da dinâmica organizacional. Para
um estilo próprio, o qual foi se formando ao longo dos anos e que esculpe ele, "um estilo de comportamento social, uma política, uma opinião corrente
uma fisionomia diferente de todas as o_utras. Esse estilo tanto pode ter carac- encontram-se, dentro de certa medida, sob ª· dependência das personali-
teristicas normais e produtivas como pode se desviar da normalidade, pro- dades, não somente das circunstâncias". Esses aspectos não aparecem por
duzindo caractertsticas improdutivas, ísto é, que adoecem como as pessoas. · ác:iso. Esião sempre presentes em uma determinada cultura organizacional.
~~suficientemente confirmado pelaspesquísas em psicologia social , . .• .Assím corno no caso ~ pessoas em particular, as empresas são resis-
que o estilo de cada um é amplamente determinado por tudo _que foi vivido tentes imudança. Atitbos, pessoas e organizações, devem fazer um esforço
até cttão, por todas as experiências pessoa#,. M,im, conclui-se que não
~ . .. . .

... ,,....,.,,. .
1

' l
• ~

.,. .
' •

'
!

· disçjplinádó •para controlar excessos comportamentais, a fim: de lograrem


existe um estilo ideal. Não existe nenhuma p~µisá que derno_~tre e com- unfreditccionamentq produtivo, o que poderá dar início a novas respostas
prove que um estilo em particular

seja maís

sa#94vel,
.,. < ..... /':' -.~.
mais bem-sucedido
.,
~;· ~r <?º~~Inte, 4ite~ novas percepções dos acontect~entos - me-
ou mais produtivo do que o outro.
·,
,·-:.. ~ -{ . nos-'.,~eaça°dor do qtle
ser visto diante dà contmgência de mudar e então
O fato de que cada um já usou o própri9, ~Jilo com sucesso não toma m~ifi~r algo para evitar problemas maiores. Cloke e Gol~mith (2000,
. .
p'. ·~2) p1~opõem que: j"ás pessoas não podem mudar o que são, mas quase
·~

simples a tarefa de mudá-lo. As ~as p~ç, . ~o apenas :r:,~istentes à :,..·


mudança porque diz respeito a modificar co1*ponamentos·h~l>ituais,
. · ... .. . ,
mas to4jts elas podem modificar a· forma como agem" .

. ~··
<} '(.. . ~.-, ,.·.r • ~'"" ........
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li EP.-·tc:~-· -,.'.~ ~ -t•f ~-.... ~ .,1-.. ·.;,·, ' •• !'·~J'·


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Os PlLARf.S DO AJUSTAMENTO: A AUTO-ESrnM' l!l • 29 ·
:l 28 lil PSICOPATO LOG IA DO COMPO RTAMENTO ORGA NIZA CIONAL
~
·1
·~ Isso corresponde à posição que Katcher e Pasternak (2005, p. 34) as-
,•~ Katcher (1985, p. 37), ao apontar a importância do próprio conheci-
~.• sumem quando ressaltam que: "Na medida em que a vida evolui, a marca
~e•,\ mento, confirma que nenhuma característica.deve ser considerada boa ou
·, ruim: "traços pessoais que em si mesmos não devém ser considerados pro- dos âcontecímemos e a influência dos indivíduos moldam e formatam a
' pessoã 'qfre vótê é". Basta pensar no passado vivido com a família, com os
·:'·'
dutivos ou improdutivos, rifas repr~~hiliih ti~'reduto básico de forças que
--~ amigos, com os professores, e nos sucessos e fracassos que surgiram dessas
.;; podem trabalhar a seu favor". Isso tem signi~cado principalmente para ca-
J;,; diferentes vivências.
racterizar que não existe estilo ideal, Nas ciências comportamentais, não ' ·· ..
,, O comportamento de cada um não é casual. Ele foi sendo entalhado
~ existem padrões ideais deconduta.
~~
,,' com o passar dos anos pelas mais variadas situações experimentadas. Essa é
-=~
.~. a lógica da ciência comportamental, isto é, a lógica da história de vida de cada

ou Simplesmente :Mod~car
•\o!
~,,:i Mudar
um que justifica os comportamentos atuais. Prever comportamentos é muito
.,:~ mais difícil do que entender o presente analisando o que passou e justifi-
-~
cando o momento atual. A seqüência e a ligação das vivências e dos aconte-
- ~~ Da mesma forma que cada um imprime sua marca pessoal no inundo em cimentos que cada um já experimentou mantém uma ligação entre todos eles
~
•l que está, o ambiente exterior também pode influenciar o estilo de vida das e vão sempre se fazer refletir no modo pelo qual cada um se comporta.
-~:
=! pessoas, alterando, no geral, algo na sua fisionomta básica. Trata:se de uma O ser humano, ao influenciar o ambiente em que está, pode fazê-lo
;J..
única via que possui duas mãos de direção. Kets de Vries (19?7, p. 19) basicamente de duas maneiras. No primeiro caso, essa influência pode
~~- acredita que "colocar os lideres no divã" não seria adequado para melhorar ocorrer por meio de ações produtivas - por exemplo, o trabalho de consa-
i
.•:
a disfunção organizacional, uma vez que eles não funcionam de forma iso- grados artistas. No entanto, pode deixar marcas desastrosas, como as que
lada, e sim cm um ambiente "que deve ser levado em consideração", pois da são resultado de grandes guerras. O meio tafbérn pode influenciar produ-
"
'.::
mesma forma que os lideres podem criar organizações doentias, Mas forças tivamente as pessoas, como acontece diantf do cenário tranqüilo de uma
.::."
-~ ambientais-também podem afetar negativamente as pessoas na organízação". praia deserta .. Contudo, é possível imprimir no homem marcas de tragé-
~
Trata-se de um processo cujo funcionamento não é simples devido a um dias que nunca se apagarão, como o 11 de setembro de 2001, que jamais
~ "complexo mutuamente interativo". será esquecido, uma cena do mais cruel horror relatado pelos que a pre-
1!· Assim como o ser humano deixa, no mei~ em que vive, vestígios pes- senciaram. A propósito, Nash e Stevenson (2004, p. 86-93), ao se referirem
!'l
:- soais. recebe desse mundo impactos bons e ruins que podem marca-lo e que a esses atentados, revelam que "levaram muita gente bem-sucedida a rea-
.,.."'
~·\ estarão presentes durante toda a vida. Esses i~pa,ctos constituem as expe- valiar sua noção de sucesso", portanto, de alguma forma, influenciaram
ríêncías vívidas ao longo dos anos e têm a propriedade de modificar, aos aqueles ºqu~ o·vivenciatc1m.
1:(
poucos, alguns aspectos inatos da personalidade básica. Faz pane do projeto Dos seres vivos, o ser humano é o único que não permanece impassí-
~
..,
de uma personalidade normal modífiçar ~ coisas por onde passa e, por sua vel diante do .oçorrido. Isso quer dizer que ele possui, att certo ponto, re-
vez, sofrer numerosos impactos que a marcam também, conforme a vida cursos pessoais para interferir e marcar o curso dos acontecimentos. Apenas
-~ ;;j
avança. Aquele que apenas se deixa vencer pelo.meio não pode ser conside- o ser humano, dentre os seres vivos, tem recursos para gerenciar o seu
rado ser humano caracteristicamente normal, pois apenas se deixou marcar meio ambiente, isto é, nele pode interferir de forma consciente e, até certo
por esse meio, nada mais, por não ter como agir sobre ele. ponto, planejada.
t.• ,•,' ' 1 • ·,·

-~
' ~

1. 30 l!l PSICOPATO LOG IA DO COMPO RfAMENTO ÔRGANIZA CIONAI.
./tt ÜS PILARES DO AJUSTAMI.NTO: A AUTO-ESTIMA I!) 31

A influencia do meio ambiente sobre as pessoas pode se dai- de forma o lado positivo da auto-estima é prejudicado. Considerada um tipo de f ra-
produtiva, desde que sejam observadas determinadas condições, como casso, essa influência resultará cm uma situação de desgaste, em sensação
aponta Muchinsky (2006, p. 348-9). Neste caso, é necessário haver: de perigo iminente. Nesse caso, em que os estados interiores negativos são
intensos e de lohga duração, o desgaste pessoal pode representar um campo
@ Oportunidade de Cúntrole - faz com que as pessoas possam controlar fértil de frustração que, por sua vez, pode vir a culminar com algum tipo de
acontecimentos e atividades que ocorrem cm suas vidas, estresse e esgotamento psiquice.
l!l Oportunidade de utilização das próprias habilidades - quer daquelas
que as possuem em potencial, quer das demais que já tiveram opor-
tunidades de desenvolve-las. O Estresse: Natureza e Conseqüências
l!l Objetivos claramente produtivos - em um ambiente que ofereça estí-
mulos desafiantes. Desde: a década de 1980, o estresse vem, cada vez mais, preocupando os
;
l!l Va1iedade ambiental - benefícios ambientais associados que oferecem profissíonaís que se' dedicam à saúde mental a ponto de ser considerado
! opções e escolhas.
i epidemia. Segundo Cryer, McCany e Childr~ (2003, p. 85-90), ~o estresse
. • 1
' ~ li! Disponibilidade de recursos financeiros -;- embora o dinheiro não as-
.... .. envói~f dois eventos simultâneos: um estimulo externo, chamado estressor,
i
.;

segure saúde mental, sua falta pode aumentar a probabilidade de bem como â'í·eação em4ciorutl e física a esse estímulo". Essas reações podem
~
debilidade mental, física e emocional. se~ med~. ansíedade, diferenças de ritmo da respiração e do batimento car-
• '. . ,,, f . •
!! Seguran{ajfsica- envolve um ambiente que ofereça continuamente díaco, tensão muscular e muitas outras. Para os autores, quando "acumulado
~~
~ a seguridade das necessidades básicas d.~ vida, como sono, alímen- ao longo d~ tempo, o dtresse negatívo pode ~~ depressão, deixar a pes-
1 • ·:-. ·r.•.' ·-~ '

·~ tação, temperatura, e assim ~r. diante.. à


soÚsgotada óú até mdmo levar morte". Todavia, não se dá a ele a devida
{'
~ 11 Oportunidade
.... de relacionamento . :
'
ter
.
experíêncías
.
posítí- ~~cd - -· ,- iml',°~~; ~ÓiisideJd~ os{resulta~os maléfico; que pode ~ionar.
{
.,' vas de interação com outras pessoas e de trocar experíêncías com ~o caso da frustra-bão, a J?CSSOª se vê obrigada a fazer uma opção pes-
,,.
~ elas. ·
~
soal qú~ não ihe é
~ • •
cW
mais fáceis: ou continua lutando por aquilo que
1 •
il Pos~ social
.. valorizada- posição~que
~ ocupa
.
na sociedade, bem co- . •' . prete~~ia_ desde o irud9, ou escolhe outro objetivo a ser perseguido. Ao se
mo a coniríbuíção
.
que pode oferecer, · ' \ ver ôbiÍigada a abando~r a luta, sucumbe aos desígnios que a S\lll realidade
lhe illlpôs. Esse desafio! embora 'desgastante, à prímeíra vista não pode ser
Logicamente, 'situações sociais que.'~!' pemtji~m 'garantir esses aspec- considerado bom ou ~- Tudo depende da qualidade de reação estresse ao
tos poderão, co~ó· ~~nseqüencia, co~p~~~~f ~úde mental, ocasio- f que a-~ ter.r: As reações de cada: um podem levar a soluções produtivas,
nando, em algu~as situações, séria debílídadé ~ recursos pessoaís,
' ' -· ·-;·, . _·.:!,
' '
Na .• ·,,. ' ··_,i\ ( .,..; ' consid,;;a~ positivas, /ou a rea~ impr~utivas, consideradas negativas
busca da normalidade, todos
' . ,_. •
aspectos preçísamser minuciosamente
• •l 1•
esses
.' • • • ' .. ~. ~· ,-: • ·- i, \- .
do ponto de ~ da aµto-estima, do ajustamento e da valorização pessoal.
·;v,,,.. • --~ -.. ·. . . !
levados em conta. · · "
",• .. . . ' ·., . ·~ .. . · . ' ·.ijockenburye Hockenbury(2001, p. 447) também apontam a dificul-
Quando a ínfhiêncía do ser humano no m~i9 ambienteé eficaz e pro-
~r e. .• • • •• dade ~essê'tipo de escolha e sua ligação com o estado de estresse: "outra
dutiva,
,1 .
gerando
'
os resultados esperados:
·f ,..; '
isso sereverte em reforç<:I:da auto-
;'•'1: _.." -~ • "Y. ,,-.. fonte de estresse é o conflito, sentir-se apenado entre dois desejos., motivos
estima. Essa ação positiva, no entanto, pode de~qle ocorrer e, nesse caso,
: . " ': - ·: ' ·,.~ .. '' ·'·
ou objetiv~~ opostos". Essa não é, ponanto, uma posição confortável. Coon

1 '.WiiJii&ú,.\h.- ç, . --·
'.·)ft
n .,
32 l!l PSICOPATOLOGIA 00 COMl'ORTAMENTO ÔRGANIZACIONAl Os PILARES DO AJUSTA~!ENTO: A AUTO-ESTIMA • Gl 3J
1

(2006, p. 44 7), ao citar Hans Selye (l 976), assim se expressa sobre o tema Vieira (2002., p. 17) é clara ao retratar esse tipo de desorganização compor-
-~ do desgaste pessoal, do qual não se pode fugir, pois faz pane do cotidiano tamental: "A própria expressão deriva de um conceito da metalurgia, que
da vida de cada um, aceitando que o estresse pode ser prolongado ou pro- significa uma deformação produzida por uma força, uma pressão". Assim,
fundo: "No entanto, ele nem sempre é ruim. Como observa o pesquisador passõui:i:ârtfõ'liso, a nomear qualquer manifestação de desgaste, tanto so-
do estresse, Hans Selye (1976): 'levar uma vida totalmente sem estresse é matice quanto ~ental. O termo usado com a concepção flsica foi adaptado
estar morto". Não se consegue viver sem passar p0r estímulos estressantes e adotado segundo as perspectivas médica e psicológica. Ficou, assim,
-~~'.o..'": ..~.•--~- .:.:•• , .• . ;
que inevitavelmente suscitam uma resposta, P~ssar por um estresse e ultra- aberto õ "campo para a ausculta e escuta dos sofrimentos tanto somáticos
passá-lo é sinal de que se está vivo. quanto psíquicos, decorrentes também do trabalho". Essa passagem parece
Habitualmente é dada menor importância_~º estresse psíquico do que ter sido signifi~ativament~ oportuna.tendo em vista aquilo que já se conhece
a um problema flsico; todavia, muitos especialistas em comportamento sobre o assunto na atualidade. O número de estudos sérios sobre o estresse
humano apontam para a gravidade dessa negligência, que pode levar a pro- fo(~uficiente para demonstrar que o custo que acarreta para as organizações,
blemas perturbadores de saúde\flsica e psícologíca. O desequilíbrio orgânico pelos problemas que gera, é muito mais alto que a prevenção.
gerado pelo estresse pode redupdar em alterações cardiovasculares, hormo- e
Arantes Vieira (2002, p. 80-5) descrevem algumas fontes de estresse
nais, pulmonares, cutâneas, niusculares, entreoutras: "Todos os órgãos e organizacional, que são: responsabilidade por vidas humanas; arnbígüidade
sistemas· encontram-se envolvidos para que o_co;rpo possa superar o desafio na dístríbuíçâo de papéis; desenvolvimento na carreira e a expectativa de
a
a que foi submetido com a finhlidade de manter vida" (Arantes e Vieira,
I •
promoção; relações entre colegas, superiores e subordinados; estrutura e
I
2002, p. 127). Algumas das doenças mais temidas da atualidade, como o clíma organizacional. Esses etutros aspectos também podem ser uma pode-
câncer, têm ~ etiologia explicada também pelo crescimento· de células rosa fonte de desgaste. Outro aspecto importante que merece atenção especial
anormais, que se desenvolveratn sem controle. Isso
.- pode ocorrer devido à
;
diz respeito ao clima organizacional criado com a globalização e com o avanço
uma falha 40 sístema imunológico, ocasionada, por vezes, pelo estresse ao
' 1
dos processos de terceírízação. Como se todas as fontes de desgaste pessoal
qual o organismo foi subme~df · .· · . ,. não fossem suficientes, resta ainda o conflito para o ajustamento da interface
. A vida do ~·a-dia propôf situações das ~is diferentes. ~guns tipos família e trabalho. Pode-se entender que essas sejam as principais fontes de
de acontecimento podem ~r bastante d~gra~v~is, como no ~ de difi- estresse, todavia, existem mais do que as que foram mencionadas, e isso de-
., .. 1 ... •. ·.". ,. .,
culdades com o gn.ipo de trabalho, desentendímentcs na vi~ conjugal, pendlinuito do tipo de organização, seja ela multinacional, nacional, pública,
··:· ·, ' ...,,. . .
crise financeira ~! ~f~ de ~ queridas. ~.,,S!t~ções desgastantes que familiar, industrial, comercial, e assim por diante. Concluindo o pensamento,
resultam em díficúldades mais graves, que q~n~~ mais duradouras chegam os autores (p. 84) não deixam de apontar que •a grande novidade desse tra-
a desestabilizar seriamente o equtlíbrío ps(qÜiêol fisico. Nesse estado precá- bathi iJtde'°em "relacionar o estresse organizacional como uma forma de
rio de equilíbrio, a· pessoa passa a ter um tipo di,~~ que não lhe é confor-. adoecimento empresarial intimamente ligado ao adoecimento individual".
tavelmente estável. O desconforto pe~~i~ ~ionará o enfraquecimento 1: imposstvel separar o trabalhador da organização na qual trabalha.
das suas defesas, cria-se, então, um círculo vicioso 'de difícil interrupção. Não se deve considerar que todas as organizações sejam necessária- ·
O termo estresse é utilizado com tal freqüência e em tantas circunstân- mente problemáticas em relação à própria saúde e à de seus funcionários.
cias diferentes que surgem algumas dúvidas qua!'}tO ao seu real significado, Há muitas organizações que nunca deixaram de se preocupar com o bem-
especialmente no que se refere ao uso cíenufico, A definição de Arantes e estar de seu pessoal. Isso, no geral, é ponto pacifico para elas; desde o inicio

---------'--'
· ·o· .. -, ,, ., ' •. - ... _ ----- ··:~
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.1

.. , 34 El PSICOPATOL0GIA D0 COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Os PILARF5 DO AJUSTAMENTO: A AUTO-EsTIMA l!l 35

e durante todos os anos de existência nunca negligenciaram esse cuidado. veis faz aumentar a vulnerabilidade a um provável estresse. Trata-se do cfcuo
Essas organizações conseguiram caracterizar-se como um grupo privilegiado, cumulativo: "as pessoas sentem-se esgotadas, irritadas e estressadas", corno
por serem aquelas nas quais muitos gostariam de trabalhar. Infelizmente rlizem Hockenbury e Hockenbury (2001, p. 447). Além disso, existem de-
essas empresas não representam a grande maioria. tenriinád"à;· condições sociais que favorecem a vivencia dos acontecimentos
Coon (2006, p. 448) especifica, com propriedade, o que pode ser diários irritantes e o aparecimento do estresse. por exemplo, superpopula-
considerado situações danosas ao ser humano e, portante, estressantes; con- ' ção, criminalidade, desemprego, pobreza, racismo, cuidados inadequados
siderando que 'fica muito claro que alguns acontecimentos tendem a provo- cÔm a saúde, moradia de padrão inferior. Nessas circunstâncias já se pode
car mais estresse 'do que outros. Estressor é o problema ou acontecimento falar em estresse crônico.
que desafia ou ameaça uma pessoa". O autor comenta também que muitos O termo bum out começou a ser utilizado na década de 1940 para
estudos experimentais mostram que a imprevisibilidade de um provável descrever o colapso dos motores de foguetes ou jatos. Esse termo foi impor-
a_contecimento desagradável em muito contribuí para agravar o estresse. tado pela psiquiatria "para designar a manifestação do estresse em sua fase
Além dessa imprevisibilidade, a pressão típica do momento no qual uma mais aguda e de esgotamento" (Arantes e Vieira, 2002, p. 87). Essas autoras
. '
pessoa é obrigada a cumprir exigências externas de grande urgência, como (~: 89) ilustram em que circunstâncias foram detectados episódios impor-
acúmulo de trabalho, também pode influen~iar na gravidade do estresse. É tântes de bum out. Relatam que o corte de benefícios pela empresa, a mu-
sabido que o estresse é maior nas situações em que se tem pouco ou nenhum dança de direção e a exigência de horas extras !:~rir o grande número
controle sobre o que está ocorrendo, isto é, rios momentos em que se torna de demissõe s compõem o terreno fértil para a crise de bum ·out. É interes-
imposstvel · gerenciar os acontecimentos de forma racional, consciente e sante notar que no cenário de novas fusões e incorporações de empresas isso
equilibrada: Como conclui Coon (2096, p. 448), "quando os 'choques' emo- se agrava ainda mais e "como decorrência à substituição de empregados fi-
ou
cionais são inttnsos rq,ctitivos, imprevisíveis, incontroldveis e ligados à pres- xos ou de carreira por empregados terceirizados ou temporários, sem bene-
sM, o estresse será agravado e poderá provocar danos· (grifos do autor). fícios". l: bastante certo considerar que um mau desempenho empresarial
Espedalmeríte no que se refere às' circunstâncias de trabalho, as pessoas pode culminar com a falência. Parece que o agravamento do estresse inicial
enfrentam muitas dessas fontes de desgaste todos os dias. "Quando o estresse é conseqüência natural de um ambiente de insegurança generalizada.
profissional é crônico, algumas vezes provoca um outro desajustamento As organizações parecem encantadas pela baixa dos custos fixos obtida
'' .
mais grave, que é o. tsgotam,nto, ou ' seja;
: .•
umtipo de exaustão emocional". por meio da terceírízação. Se financeiramente essa forma de contrato de
Essa exaustão, conhecida como bum out, caracteriza um quadro mais sério mão-de-obra tem se mostrado altamente vantajosa, o mesmo não acontece
que surge na busca do ajustamento pessoal. O ~urri out pode levar o empre- se for considerado o aspecto humano. Ao contrário, tanto para contratantes
gado a uma incapacidade definitiva. Sabe-se qu(; !l5 queixas mais freqüentes C0mG para contratados, esse procedimento tem efeitos comprovadamente
dessaspesso as ~o exaustão, raiva, dores musculares, dores de cabeça, insônia, graves. Trata-se de uma situação de despersonalização para ambos. O fato
doenças respiratórias, distúrbios gastrintestinais, depressão e hipertensão. de cada dia trabalhar em uma empresa diferente, de cada dia ver trabalhando
· · 1: senso coniúm entre especialistas do comportamento considerar que ao seu lado pessoas que não conhece, cujos nomes nem sequer sabe, de-'
problemas, contratempos e irritaçõesdo dia-a-dia podem aumentar apre- termina um ambiente anônimo e impessoal altamente desfavorável. Essas
i disposição ao estresse. Esses acontecimentos isoladamente não parecem ter circunstâncias são propícias à formação do estresse. Do ponto de vista psi-
muita importância, 1!1as o acúmulo de pequenos acontecimentos desagradá- cológico, a terceírização deveria ser utilizada somente em último caso e de

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PSICOPAT('ILOGIA DO COMPORTAMENTO ÜRGANIZACIONAL Os PILARES oo AJUSTAMENTO: A AUTo-Esmv. . l!l 37
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forma passageira. Aqueles que já conviveram em ambientes terceirizados cabeceira de um leito ou sobre a capa de um dossíé, parece muito difícil
dificilmente esquecem de seus efeitos maléficos. retirá-la depois". A equipe médica, por sua vez, não aceita de bom grado a
:.
~: Muchinsky (2006, p. 535) aponta fontes fisicas e psicossociais de es- troca do diagnóstico, uma vez que sua reformulação pode ocasionar contra-
tresse. Quanto à~ fontes de ordem físitâ'f-·Sãô rtlêtiêionados estímulos, como ten4~Sflrlês~grados. O autor argumenta que se o próprio paciente protesta
barulho, luz e vibração. Quanto às fontes psicossociais, o autor propõe a a respeito do diagnóstico, embora esse protesto seja legitimo, tal reação logo
ambiguidade, o conflito e a sobrecarga ,i:!.,e_Jra.J;,~lho. A terceírização cobre será interpretada pelas demais pessoas. que [ormam a equipe dos observa-
. 1
com facilidade todas as fontes psicossocíaís. ·Nada mais ambíguo do que do~~s, J;mo uma espécie de desrespeito e agressão, muito mal suportada
~
! fazer parte de um quadro de funcionários com existência efêmera, ou ter pelo grupo.
0~ pessoas desconhecidas trabalhando ao seu lado. O conflito nasce natural- Como em qualquer síndrome de desorganização ou desajustamento
~ psicológico, a aceitação do diagnóstico pelo paciente é condição indispen-
~~ mente do desconhecimento daqueles com os qúais se convive. A sobrecarga

J causa o sacrifício da qualidade ou da quantidade de trabalho que, em prin-


cipio, cada um deveria desenvolver.
sável, uma vez que ele terá também um papel ativo ao longo do processo de
tratamento e cura. Antes de tudo, mesmo utilizando psicofánnacos, ele
~
.t
., precisa querer se restabelecer. Portanto, todo cuidado é pouco ao exarar
As pessoas que não aceitam ou não percebem a tempo que estão a ca-
1~ "
um diagnóstico de qualquer tipo de desorganização psíquica. Uma vez que
~ minho do esgotamento podem chegar a um quadro patológico de remissão
4
~ muito problemático. Muitas dessas pessoas acham, erroneamente, que al- esse diagnóstico de desorganização psíquica tenha sido ~'õrretamente con-
~.. guns dias de férias resolverão o mal-estar. O indivíduo não acredita que em cluído e corresponda, de fato, àquilo que a pessoa diagnosticada tem como
.! pouco tempo estará pronto a trilhar o caminho que o levará à exaustão. Isso queixa, é possível, então, planejar sua recuperação. Esse planejamento da
.,'
~ agrava ainda mais o quadro. Postergar o diagnóstico e a tentativa de um estratégia de cura requer, igualmente, amplos conhecimentos em psicopa-
~~ tologia e psicoterapia. Paciente e terapeuta devem estar do mesmo lado,
-~~ conjunto de medidas que podem levar à remissão de um quadro de exaustão
\: pois vão trabalhar juntos durante todo o processo de terapia.
com certeza dificultara ou poderá até inviabilizar qualquer estratégia de cura
daquilo que comumente se considera esgotamento nervoso ou mental. Um diagnóstico bem-feito envolve entrevista cuidadosa com psicólogo
., É sabido que as células nervosas comprometidas pela exaustão levarão muito clinico ou. psiquiatra. Nessa ocasião é levantada a história de vida do prova-
-~ ·•Í vele futuro paciente. Muitas vezes é oportuno solicitar o concurso dos testes
mais tempo para se recuperar do que levaram para se depauperar. Há casos
:i psicológicos, que vão avaliar aspectos profundos da personalidade, na qual
-~: mais graves nos quais a recuperação do sistema afetado não se regenera.
Outro perigo é precipitar-se em um diagnóstico de esgotamento que re- se passam os conflitos mais sérios. O diagnóstico final só é definido depois
presenta um quadro mais sério sem se ter informações suficientes, obtidas de as
que todas fontes de informação sobre o paciente em questão forem esgo-
'\íj tad~ tà..'pós confirmados os dados obtidos pelas demais fontes, desde a
··: uma pesquisa mais aprofundada da história de vida da pessoa. Conhecer a
./! fundo o histórico do indivíduo, nesse caso, é condição indispensável para se hipótese inicial até o quadro final. Quando surgem dúvidas· que possam
chegar a tempo a um diagnóstico mais confiável. Aceitar palpites de quem não c?mpron:i.~ter o resultado final, ocorre urna discussão sobre o caso, com
possui formação médica ou psiquiátrica mais sólida também representa um todo o grupo de profissionais envolvidos no levantamento de dados do pa-
;i: ciente e no planejamento do tratamento. Esse grupo poderá ser formado por
erro que pode comprometer o estado delicado que a pessoa está vivenciando.
Bergeret (1985, p. 46- 7) alerta para o perigo de um diagnóstico incor- psicólogos, psiquiatras, neurologistas, endocrinologistas, clínícos gerais, e
reto quando afirma que "assim que se coloca uma etiqueta de psicose na assim por diante. Tudo precisa ser rigorosamente verificado para se chegar

•N .
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p~ '\., ', ."(~:::·~:
,·,.
·-,;i
') , ~ f; 38 l!l Ps1cor.HOLCX,l,I [)( \ C1 \)lf\)RT,IMENT,) ORGANIZACIONAL
..1.
Os PILARES DO AJllSTAMENTO: A AUTO·ESTI\IA til • , 39

r· 1 1

à conclusão. Esse cuidado evitará um planejamento terapêutico incompleto de erro. Para reduzir essa probabilidade, não só é necessário um vasto
ou inadequado, que pode levar aquele que já não está bem a um maior de- número de informações sobre a pessoa como também deve-se mobilizar
sajustamento. Não há duvida de que, como no caso das doenças físicas, um urna aguda intuição na análise e compreensão dessas informações. Um
diagnóstico incorreto a rcspeuo de problemas psicológicos trará conseqüên- diagnóstico fiel demanda conhecimento ?rofundo em psicopatologia e ex-
cias indesejáveis. periência clínica. Diagnosticar e prever um comportamento futuro só é
O estilo de vida de cada indivíduo, seu comportamento diário mais considerado tarefa fácil para aqueles que não conhecem nada a respeito das
persistente, fala, muito claramente, a respeito daquilo que se passa no seu ciências do comportamento e da patologia psicológica. Eles arriscam pai: ..
interior. Mediante observação profissional criteriosa e de posse das infor- pires para ver se vão dar certo. Nesse caso são apenas palpites nocivos e não
mações relevantes sobre o estilo de \'id/que cada um leva, a ciência do merecem crédito. .,
comportamento na atualidade oferece recursos que permitem ter razoável Quanto mais estudo e conhecimentc sobre o comportamento humano,
segurança. O objetivo é oferecer orientação para,.a pessoa com problema, a mais numerosas são as facetas pelas quais se pode conhecê-lo. Não é tarefa
fim de que possa resolvê-lo da melhor forma e, assim, promover um estilo simples em que seja viável almejar absoluta· exatidão. É um desafio com-
de vida mais confortável e produtivo, isto é, uma vida mais próxima do plexo por meio do qual se pretende atingir ao menos uma certa coerência.
ponto de equilíbrío ou da norowidaâe produtiva. As queixas huminas;' tanto flsicas quanto psicológicas, precisam' antes de
Em que pese todo o acervo oferecido pela psícología, o comportamento tudo, ser estudadas e compreendidas dentro do seu campo cientifico. Não
humano guarda sempre a conotação & ímprevístbllídade das futuras diretri- se trata de palpite; deve-se perseguir a melhorsegurança que se possa ter
zes que cada um possa vir a assumir. Sobretudo no ambiente organizacional quando verdadeiramente a tarefa é resolver es~"q~. O ser humano é
há a necessidade de aceita: que os desajustamentos psicológicos não sejam bastante complexo para que uma única teoria consiga explicá-lo por inteiro.
administráveis; eles precisam ser considerados e tratados adequadamente, É importante também cuidar para não considerar a pessoa um ser abstrato,

mas nunca administrados. Isso contradiz as idéias centrais da administração genericamente despregado de sua realidade de vida cotidiana, isto é, da sua
cientifica preconízada por Taylor e seus seguidores, e como propõe Kets de existência concreta.
Vries (1997, p. 10-11) ao estabelecer estruturas rígidas e sistemas planejados
para fazer as pessoas se comportarem de forma previsível. Para o autor, esses
administradores estão "ligados a números ;~ gráficos e por isso tratam as
pessoas como entidades anônimas. O rnàis preocupante é que para eles a
maior ameaça parece ser a criatividade, com o risco de trazer o caos e a de-
sordem à sua organização sistematizada" (p. 11). De acordo com esse aspecto,
a administração cientifica parece ter tirado os seres humanos da equação.
Assinala que o comportamento humano não se submete a controles, o que
deve ser "realmente ameaçador" para esses cientistas.
portanto, mais fácil compreender e explicar reações atuais quando
É,
se busca suas justificativas na história de vida de cada individuo. Prever
reações futuras, no entanto, é algo mais sutil e que comporta maior margem

\
Ili ~..-: ·~~

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