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SUMÁRIO

1. Organização morfofuncional.................................. 3
2. Mecânica respiratória................................................ 6
3. Ventilação e perfusão pulmonar.........................15
4. Transporte do oxigênio e do dióxido de carbono.....18
5. Controle da respiração............................................20
Referências bibliográficas..........................................24
FISIOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO 3

O metabolismo aeróbio das células,


chamado de respiração celular, de-
pende do suprimento de O2 e da re-
moção do CO2 produzido. Para tanto,
é necessário que ocorra troca desses
gases entre o sangue e a atmosfera,
no sentido de capturar O2 e liberar o
CO2, função essa que é a principal
do sistema respiratório. Além disso,
o sistema respiratório atua também
na regulação do pH dos líquidos cor-
porais, na vocalização e na defesa
imunológica contra agentes agresso-
res, como os outros epitélios que têm
contato com o meio externo.

1. ORGANIZAÇÃO
MORFOFUNCIONAL
Os órgãos e componentes do sistema
respiratório podem ser classificados Figura 1. Componentes do sistema respiratório. Fonte:
retirado de www.edisciplinas.usp.br
em 2 grupos: uma zona de trans-
porte ou condução e uma zona
respiratória. A zona de transporte inclui: vias aé-
reas superiores (cavidade nasal, fa-
ringe e laringe), traqueia, brônquios,
bronquíolos e bronquíolos terminais.
Trata-se de áreas que não realizam
trocas gasosas, sendo responsáveis
pela condução do ar, além de filtrá-lo,
umedecê-lo e aquecê-lo.
Já a zona respiratória abrange os
bronquíolos respiratórios, os ductos
alveolares e os sacos alveolares. São
os locais onde ocorrem as trocas entre
o ar atmosférico e o sangue que pas-
sa nos capilares alveolares. Vale lem-
brar que os bronquíolos respiratórios
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caracterizam-se como uma zona de das alterações de volume da cavida-


transição, na qual ocorre condução de de torácica que culminam na inspi-
ar e trocas gasosas em baixos níveis. ração ou expiração. Podemos desta-
car alguns deles, tais como a coluna
vertebral, as costelas e o esterno,
os músculos intercostais internos e
externos, os músculos escalenos, o
músculo esternocleidomastoideo e o
diafragma.
O volume da caixa torácica influencia
diretamente o volume pulmonar. Isso
se deve principalmente à existência
das pleuras visceral e parietal e ao
líquido pleural entre elas. A pleura é
uma membrana serosa que envolve o
pulmão, no caso da visceral, e a face
interna da cavidade torácica, incluin-
do diafragma e mediastino, no caso
da pleura parietal. Ambas as mem-
branas são contínuas, refletidas no
Figura 2. Anatomia do sistema respiratório. Fonte:
retirado de brasilescola.uol.com.br/biologia/sistema- hilo pulmonar, e entre as camadas há
-respiratorio.htm o líquido pleural.
O líquido pleural cria uma superfície
O pulmão, principal órgão respirató- úmida e escorregadia para que as
rio, é formado por milhões de alvéolos membranas possam deslizar uma so-
envolvidos por interstício pulmonar. bre a outra, além de manter os pul-
No pequeno espaço intersticial são mões aderidos à parede do tórax,
encontrados fibroblastos responsá- devido a propriedade da coesão da
veis pela produção de colágeno e de água. Em adição a isso, vale lembrar
elastina, moléculas importantes para que, devido à elastina do interstício, o
a existência de propriedades pulmo- pulmão possui tendência à retração
nares essenciais à ventilação, como elástica, enquanto a caixa torácica
será estudado mais à frente. tende à expansão. Isso leva a uma re-
dução na pressão da cavidade pleu-
Além das estruturas já citadas, os os-
ral, que assume valores negativos.
sos e músculos que formam o tórax
É essa pressão intrapleural negativa
são importantes para a dinâmica res-
que permite que os pulmões perma-
piratória. São eles os protagonistas
neçam abertos.
FISIOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO 5

Figura 3. Fisiologia respiratória: pressão intrapleural. Fonte: Fisiologia humana, uma abordagem integrada – Sylver-
thon, 2010.

Músculos auxiliares da respiração intercostais externos. Agindo em con-


junto, eles proporcionam o efeito “alça
Diafragma: é um músculo estriado es-
de balde” e “movimento de alavanca”
quelético com alterações adaptativas,
das estruturas ósseas e musculares que
com alta capacidade oxidativa e alto
compõem a caixa torácica, aumentando
fluxo sanguíneo, por estar em trabalho
os diâmetros látero-lateral e ântero-pos-
o tempo todo. Ele é inervado pelo nervo
terior respectivamente.
frênico, tendo ação voluntária limitada,
uma vez que o bulbo assume o coman-
do involuntário da respiração. Quando
se contrai, a cúpula diafragmática em-
purra a cavidade abdominal para baixo
em até 10 centímetros, aumentando
assim o volume da cavidade torácica. A
contração do diafragma então aumenta
o comprimento longitudinal e também
látero-lateral da cavidade torácica, por
também movimentar as costelas para
cima e para fora na inspiração.
Figura 4. “Um movimento de alavanca” aumenta a
Músculos acessórios da inspiração: são os dimensão anteroposterior da caixa torácica.

músculos esternocleidomastoideo, esca-


lenos, paraesternais intercartilaginosos e
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da relação entre pressão e volume,


que vai depender das característi-
cas do parênquima pulmonar e dos
músculos esqueléticos que auxiliam a
respiração.
Para o estudo da mecânica respira-
tória, precisamos, primeiramente, de-
Figura 5. “Um movimento de alça de balde” aumenta a
dimensão lateral da caixa torácica durante a inspiraçao.
finir alguns conceitos de pressão e
Fonte: Fisiologia humana, uma abordagem integrada – volume:
Sylverthon, 2017.

Algumas definições sobre as pressões


Músculos acessórios da expiração:
em situações basais, a expiração é As pressões são expressas em
um processo passivo, portanto não cmH2O ou mmHg. Não são expres-
depende da contração da musculatu- sas em valores absolutos, mas em
ra. Contudo, em momentos de expi- valores relativos considerando a pres-
ração forçada são utilizados os mús- são atmosférica igual a 0.
culos intercostais internos e músculos • Pressão atmosférica ou barométri-
abdominais. ca: PB
• Pressão alveolar: PA
2. MECÂNICA
◊ A PA varia entre -1, 0 e +1 ao
RESPIRATÓRIA
longo do ciclo, assumindo va-
Refere-se ao conjunto de proprieda- lores positivos na inspiração.
des mecânicas do pulmão e da caixa
• Pressão intrapleural (na cavidade
torácica que permitem a movimenta-
pleural): PIP
ção de ar para dentro e para fora dos
pulmões, necessária para que as tro- • Pressão transpulmonar: PP (PP =
cas gasosas aconteçam. Há a mecâ- PA – PIP)
nica respiratória estática e a dinâmica. ◊ A pressão transpulmonar é a
que mantém os alvéolos aber-
Mecânica respiratória estática tos, e portanto deve ser posi-
tiva. Quanto maior a PP, mais
A mecânica pulmonar estática estuda aberto está o alvéolo.
o pulmão cujo volume não varia com
o tempo, isto é, não avalia o fluxo de
ar, mas sim os volumes pulmonares
máximos alcançados. É uma análise
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necessário para manter os alvéolos


um pouco expandidos e assim di-
minuir a tensão superficial entre as
moléculas de água, diminuindo a ten-
dência ao colabamento alveolar.
Capacidade residual funcional
(CRF): é a quantidade de ar que per-
manece nos pulmões após a expira-
ção espontânea, sendo assim a soma
do VRE e do VR. Ela marca o equilí-
brio entre a força de expansão da cai-
Figura 6. Volumes e capacidades pulmonares. Fonte:
Guyton & Hall tratado de fisiologia médica, 2017.
xa torácica e a força de retração elás-
tica dos pulmões, fazendo com que a
pressão alveolar seja igual a 0. É de
Volume corrente (VC): é a quantida- aproximadamente 2400mL.
de de ar mobilizada espontaneamen- Capacidade vital (CV): é a quantidade
te a cada ciclo. É de aproximadamen- de ar mobilizado entre uma inspira-
te 500mL. ção e uma expiração máximas. Tem
Volume de reserva inspiratório aproximadamente 4700mL.
(VRI): é o volume máximo inspirado CV=VRI+VC+VRE
após inspiração espontânea. É usa-
do nas situações de maior demanda
energética e tem aproximadamente Capacidade pulmonar total (CPT): é
3000mL. o volume de ar nos pulmões após a
Volume de reserva expiratório inspiração máxima. Tem aproximada-
(VRE): é o volume máximo expira- mente 5900mL.
do após expiração espontânea. Para CPT=CV+VR
mobilizá-lo, é necessário o uso dos
músculos acessórios da expiração, o
OBS.: Em situações não patológicas,
que ocorre durante o exercício inten-
a capacidade vital representa 80% da
so ou quando há resistência à saída
capacidade total.
de ar nas vias aéreas. É de aproxima-
damente 1200mL. Depois de definidos, é preciso enten-
der como são determinados os volu-
Volume residual (VR): é o volume
mes e as capacidades pulmonares.
que permanece nos pulmões após a
Eles dependerão de alguns fatores,
expiração máxima, ou seja, é o vo-
descritos a seguir:
lume que nunca é mobilizado. Ele é
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Propriedades dos pulmões Tensão superficial


Interstício pulmonar com colágeno O ar inspirado é umedecido ao longo
e elastina de seu trajeto pelas vias respiratórias
até chegar ao alvéolo, fazendo com
A presença do colágeno e da elastina
que exista uma camada de líquido
dá aos pulmões as propriedades de
envolvendo a parede alveolar. Entre
complacência e elastância. Complacên-
as moléculas de água, existe uma for-
cia é a variação de volume decorrente
ça de coesão devido às pontes de hi-
da aplicação de pressão de distensão
drogênio e essa tensão tende a fazer
(C=∆V/∆P). Elastância é o inverso da
com que os alvéolos colabem. Dessa
complacência, sendo uma medida da
forma, a tensão superficial gera uma
retração elástica dos pulmões.
diferença de complacência na inspi-
ração e na expiração, chamada histe-
SE LIGA!: Na fibrose pulmonar, há de-
rese, uma vez que a força de disten-
posição de tecido fibroso (colágeno),
o que reduz a complacência pulmonar, são (pressão transpulmonar) precisa
fazendo com que haja diminuição da ca- superar essa força de coesão para
pacidade pulmonar total (CPT). Trata-se que os alvéolos se encham. Quando
de uma doença pulmonar restritiva.
os alvéolos estão mais cheios de ar,
No enfisema, há destruição da elastina
menor é a força de coesão e, portan-
devido ao processo inflamatório crônico.
Isso aumenta a complacência pulmonar, to, menor a força necessária para o
consequentemente diminuindo a elas- fim da expansão.
tância. Com a capacidade de retração
elástica diminuída, há dificuldade na ex- Existem, portanto, estratégias para
piração. Trata-se de uma doença pulmo- vencer a tendência ao colabamento
nar obstrutiva. gerada pela tensão superficial. Uma
delas é a existência do volume resi-
dual, que não é mobilizado e faz com
que os alvéolos não fiquem vazios em
nenhum momento do ciclo, a fim de
diminuir a pressão transpulmonar ne-
cessária ao enchimento alveolar. Além
disso, há a produção de surfactante
(substância de base predominante-
mente lipídica) pelos pneumócitos
tipo II, que age como um detergente
diminuindo o contato entre as molé-
Figura 7. Curva pressão-volume da fibrose/enfisema.
FONTE: BERNE, Robert M; LEVY, Matthew N. Fisiolo- culas de água e, portanto, a tensão
gia. 6 ed. Rio de Janeiro, RJ: Editora Guanabara Koogan superficial.
S.A., 2009.
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Atenção: Pela Lei de Laplace, a pres- surfactante (camada sombreada) re-


são gerada é inversamente propor- duz a tensão superficial, e o faz mais
cional ao raio da esfera. Forças de acentuadamente nas esferas me-
superfície na esfera menor geram nores do que nas maiores. A Lei de
maior pressão do que as da esfera Laplace demonstra o papel do sur-
maior. Com o resultado, o ar se move factante, que se faz importante por
da menor esfera (maior pressão) para deixar alvéolos de diferentes tama-
a maior esfera (menor pressão). Isso nhos com a mesma pressão, impe-
faz com que a esfera menor se colap- dindo situações de colabamentos e
se e que a maior fique distendida. O hiperinsuflações.

Figura 8. Lei de Laplace e ação do surfactante

Propriedades da caixa torácica: Interação pulmão-caixa torácica:


músculos inspiratórios e espaço intrapleural.
expiratórios.
O espaço intrapleural apresenta nor-
A caixa torácica quase sempre ten- malmente pressão negativa, uma vez
de à expansão, porém atinge um li- que a caixa torácica tende à expan-
mite. Nesse momento, com o volume são, enquanto os pulmões tendem à
pulmonar aumentado, a caixa tende retração. Essa pressão é responsável
a retrair-se, com o aumento das for- por manter a conexão das pleuras pa-
ças colapsantes, impedindo assim a rietal e visceral e, consequentemente,
hiperinsuflação. entre a caixa torácica e o pulmão.
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SE LIGA! Há situações em que a pres- de vias aéreas devido à grande queda


são intrapleural pode ser positiva. Isso
ocorre, por exemplo, na expiração vigo-
que ocorre nas vias obstruídas.
rosa, que utiliza a musculatura acessória A pressão no espaço pleural (pressão
da expiração. A musculatura da caixa
pleural) também diminui durante a ins-
torácica, nesse cenário, fará com que a
pleura parietal exerça pressão sobre a piração. Essa redução equivale à retra-
visceral. Nesses momentos de hiper- ção elástica pulmonar, que aumenta
ventilação durante o exercício físico ou quando o pulmão se insufla. A pressão
em situações expulsivas como defeca-
ção, tosse e espirro não há colapso dos
cai ao longo das vias aéreas, enquanto
alvéolos uma vez que a pressão alveolar o gás flui da pressão atmosférica (zero)
também sofre aumento, de modo que para a pressão no alvéolo (negativa em
a pressão transpulmonar permanece relação à pressão atmosférica). O fluxo
positiva.
de ar cessa quando a pressão alveolar e
O contrário também pode ocorrer, com
pressão da pleura visceral contra a pa-
a pressão atmosférica ficam iguais. Du-
rietal em situações de ventilação mecâ- rante a expiração o diafragma se move
nica com pressão aumentada. mais alto no tórax, a pressão pleural au-
menta, a pressão alveolar fica positiva,
a glote se abre e o gás novamente flui
Relações Pressão-Volume
da pressão maior (alvéolo) para a menor
O ar flui para o interior e para o ex- (atmosférica). No alvéolo a força motriz
terior das vias aéreas, das áreas de para a expiração é a soma da retração
maior pressão para as áreas de me- elástica e da pressão pleural.
nor pressão. Na ausência de gradien-
te de pressão não ocorre fluxo de ar.
A ventilação-minuto é o volume de
gás que é movido por unidade de
tempo. É igual ao volume de gás mo-
vido em cada respiração vezes o nú-
mero de respirações por minuto.
Para compreender a relação entre as
variações da pressão e as variações
do volume é útil examinar as varia-
ções da pressão durante a inspiração
e a expiração. Em indivíduos normais,
durante a respiração com o volume
corrente a pressão alveolar diminui
com o início da inspiração. Essa redu-
ção da pressão alveolar é geralmente
pequena (1 a 3 cm H,0). Ela é muito Figura 9. Relação pressão-volume durante a respira-
ção normal. Fonte: Guyton & Hall tratado de fisiologia
maior em indivíduos com obstrução médica, 2017.
FISIOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO 11

FLUXOGRAMA – MECÂNICA DA INSPIRAÇÃO

Contração do diafragma e dos


músculos intercostais externos

Aumento do volume torácico

Pressão intrapleural mais negativa


FLUXOGRAMA – MECÂNICA DA EXPIRAÇÃO

Relaxamento do diafragma e dos músculos


Maior pressão transpulmonar intercostais externos + ação da retração elástica

Expansão dos alvéolos Diminuição do volume torácico

Pressão alveolar negativa Pressão intrapleural menos negativa

Gradiente de pressão: atmosfera → alvéolo Menor pressão transpulmonar

Inspiração Diminuição do diâmetro alveolar

Pressão alveolar positiva

Gradiente de pressão: alvéolo → atmosfera

Expiração (até pressão alveolar = 0)


FISIOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO 12

Mecânica respiratória dinâmica CONCEITO! O fluxo de um fluido por um


tubo é laminar quando as partículas
Fluxo aéreo passando por qualquer ponto determi-
nado têm sempre a mesma velocidade e
Quando há fluxo de ar, além das for- direção. Se a velocidade média do fluido
ças para manutenção dos volumes ultrapassa um valor crítico, o fluxo se
torna turbulento, isto é, há a formação
do pulmão e da caixa torácica, há a aleatória de correntes irregulares locais,
necessidade de uma força adicional o que aumenta a resistência ao fluxo.
para superar a inércia e a resistência
dos tecidos e das moléculas de ar.
O fluxo de ar através dos tubos é pro-
porcional à diferença entre as pres-
sões barométrica e alveolar (∆P) e
inversamente proporcional à resis-
tência total das vias aéreas. Quando
o fluxo de ar é laminar, podemos cal-
cular essa resistência usando a lei de
Poiseuille, que afirma que a resistên-
cia de um tubo é proporcional à vis-
cosidade do gás que por ele flui e ao
comprimento do tubo, mas inversa-
mente proporcional à quarta potência
Figura 10. Padrões de fluxo gasoso. Adaptado de
do raio do tubo. Quando o fluxo não http://www.concursoefisioterapia.com/2011/05/
é laminar, essa resistência fica ainda ventilacao-pulmonar.html

maior.
O aspecto mais importante da lei de O fluxo laminar é observado nas vias
Poiseuille é notar que o fluxo de ar, aéreas terminais. O fluxo turbulento
que é inverso à resistência, é particu- é encontrado somente na traqueia.
larmente sensível a alterações no raio Já a maior parte da árvore brônquica
das vias aéreas, dado que esse é ele- apresenta um fluxo chamado de tran-
vado à quarta potência. Isto significa sicional. Isso ocorre devido ao fato de
dizer, por exemplo, que uma redução as vias aéreas serem curtas, curva-
de 10% no raio causa um aumento das, irregulares e bifurcadas, o que
de 52% na resistência, o que diminui faz com que se formem pequenos re-
em 34% o fluxo de ar. demoinhos, que se desfazem e logo
encontram novas bifurcações que
formam novos redemoinhos. Essa
constante produção de turbulências
faz com que seja necessária maior
FISIOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO 13

∆P para que seja gerado o mesmo broncodilatador mais potente será


fluxo de ar. então a epinefrina liberada pela me-
dula adrenal.
Resistência Outro fator humoral importante na
modulação da resistência das vias
A resistência é modulada por diversos aéreas é a histamina. Ela causa cons-
fatores, como pelo sistema nervoso trição dos bronquíolos e dos dutos al-
autônomo (SNA), fatores humorais veolares, aumentando assim a resis-
e por mudanças no próprio volume tência. Também são importantes os
pulmonar. leucotrienos, que apresentam ação
O SNA parassimpático age pela libe- broncoconstritora ainda mais potente.
ração de acetilcolina, através do ner- Por fim, um outro fator determinante
vo vago, que age em receptor mus- da resistência é o volume pulmonar.
carínico no músculo liso brônquico A resistência é extremamente alta
provocando broncoconstrição. Já a no volume residual e cai acentuada-
divisão simpática do SNA age pela mente conforme o volume pulmonar
liberação de norepinefrina, que dilata aumenta, isso porque as vias se ex-
os brônquios e bronquíolos, mas ca- pandem com o aumento do volume,
racteriza-se como um agonista fraco fazendo que a resistência diminua
dos receptores β adrenérgicos. Um com o aumento do tamanho do raio.
FISIOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO 14

REGULAÇÃO DA RESISTÊNCIA DAS VIAS AÉREAS.

Broncodilatação Broncoconstrição

Ação nos receptores β Ação nos


adrenérgicos receptores M3

Epinefrina liberada Liberação de Liberação de acetilcolina


pela medula adrenal norepinefrina pelo nervo vago

Simpático Parassimpático

SNA

Regulação
da resistência
das vias
aéreas

Fatores humorais Volume pulmonar

Histamina O aumento do
volume das vias aéreas
diminui a resistência.
Tromboxano

Leucotrienos
LTC4 e LTD4

Broncoconstrição
FISIOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO 15

SE LIGA! Os testes de função pulmo- mínimas de CO2, argônio e gases


nar (espirometria, curva fluxo-volume,
pletismografia corporal) podem detec-
inertes. O ar atmosférico é composto
tar anormalidades na função pulmonar de aproximadamente 21 % de O2 e
antes que os indivíduos passem a ser 79% de N2. As vias condutoras de ar
sintomáticos. A DPOC é caracterizada não participam da troca gasosa. As-
por aumentos dos volumes pulmona-
res e da resistência das vias aéreas e sim, as pressões parciais de O2, N2,
por reduções nas velocidades do fluxo e vapor de água permanecem inalte-
expiratório. O enfisema, tipo específico radas, nas vias aéreas, até que o gás
de DPOC, é ainda caracterizado pelo
atinja o alvéolo.
aumento da complacência pulmonar.
Doenças pulmonares restritivas são ca- A ventilação por unidade alveolar não
racterizadas por redução do volume pul- é uniforme por todo o pulmão. O peso
monar, velocidade e resistência normais
do fluxo expiratório e redução acentua- do pulmão sobre si mesmo, aliado a
da da complacência pulmonar. diferenças de pressão pleural (menor
no ápice do que na base), faz os alvéo-
los do ápice ficarem mais distendidos
3. VENTILAÇÃO E que os da base, antes do início da ins-
PERFUSÃO PULMONAR piração. Assim, os alvéolos do ápice
A ventilação e a perfusão são deter- não têm capacidade para se distender
minantes dos gradientes de pressão tanto quanto os da base, reduzindo a
parcial ao longo dos quais o O2 e o quantidade de ar que podem acomo-
CO2 se difundem. Ambas apresen- dar. A ventilação do ápice é, portanto,
tam variações entre os grupos de menor do que na base. Dessa forma,
alvéolos. a base do pulmão se encontra menos
cheia de ar e por isso apresenta uma
maior alteração de volume ao longo
Ventilação do ciclo, o que caracteriza uma maior
A ventilação diz respeito ao volume de ar ventilação.
que se move para fora dos pulmões por O volume de ar respirado por minu-
unidade de tempo. Pode ser considera- to é o volume minuto e se divide em
da como sendo o produto entre o volu- ar do espaço morto, ou seja, das vias
me corrente e a frequência respiratória. aéreas de condução (que não partici-
A inspiração traz o ar atmosférico para pam de trocas gasosas) e o volume
os alvéolos, onde o O2, é captado e o alveolar. O volume de ar dentro da via
CO2, excretado. Assim, a ventilação aérea de condução é chamado de vo-
alveolar se inicia com o ar ambiente. lume de espaço morto (VD). A ven-
Este é uma mistura de gases com- tilação alveolar é o volume de ar que
posta de N2 e O2, com quantidades participa das trocas gasosas.
FISIOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO 16

Perfusão a circulação pulmonar trabalha em


baixas pressões, e por isso, apre-
senta baixa resistência. Além disso,
algumas características dos vasos
conferem à essa circulação uma alta
complacência.
A circulação pulmonar não precisa tra-
balhar a altas pressões, visto que ne-
cessita bombear sangue apenas até o
topo do pulmão, e não ao corpo todo,
até o ápice da cabeça, como a circula-
ção sistêmica. Além disso, é necessário
Figura 11. Circulação pulmonar. Fonte: retirado de que se constitua como um sistema de
www.smart.servier.com baixa pressão para evitar que fluidos
de edema inundem o pulmão, como
O pulmão possui dupla circulação. A cir- consequência das forças de Starling.
culação brônquica tem origem na aorta As paredes dos vasos pulmonares
e nas artérias intercostais. Sua função também são de pequena espessura.
é nutrir os brônquios e bronquíolos. As As paredes finas somadas à baixa
artérias pulmonares acompanham os quantidade de músculo liso propor-
brônquios se dividindo em paralelo às cionam aos vasos uma alta compla-
vias aéreas. Na periferia do parênqui- cência. Dessa forma, os vasos pul-
ma pulmonar, os componentes arteriais monares podem aceitar quantidades
formam uma rede capilar que percorre relativamente grandes de sangue, di-
o interstício e envolve os alvéolos. latando-se em resposta a aumentos
O pulmão recebe todo o débito cardía- da pressão arterial pulmonar.
co do coração direito. Esse volume de Assim como a ventilação, a perfusão
sangue não oxigenado se distribui nos também sofre modificações locais
capilares pulmonares, onde entra em em decorrência da força de gravida-
contato com a barreira alvéolo-capilar. de, além das diferenças locais na re-
Durante a passagem do sangue no ca- sistência vascular pulmonar. Quando
pilar pulmonar, ocorre a difusão e a sa- um indivíduo está em pé, a perfusão é
turação da hemoglobina com oxigênio. maior próxima à base dos pulmões do
A circulação pulmonar possui algu- que no ápice. Contudo, com o exercí-
mas características que a distingue cio, a perfusão aumenta em todas as
da circulação sistêmica. A principal regiões, e com mais intensidade, no
dela aparece ao observarmos que ápice.
FISIOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO 17

FLUXOGRAMA – CARACTERÍSTICAS DOS VASOS SANGUÍNEOS DA CIRCULAÇÃO PULMONAR

Paredes finas com quantidade


↑ Complacência
mínima de músculo liso
Fluxo do
sangue
Vasos com diâmetros maiores ↓ Resistência

Grande quantidade de
↓ Pressão
anastomoses e ramificações

CONCEITO! O fluxo sanguíneo, nas consequente nível de PO2 e PCO2 no


circulações pulmonares, é pulsátil e in-
fluenciado pela resistência vascular pul-
sangue, é a relação entre a ventilação
monar (RVP), pela gravidade, pela pres- e a perfusão. Essa relação é chamada
são alveolar e pelo gradiente de pressão de proporção V/Q.
artério-venoso. A RVP é a variação da
pressão desde a artéria pulmonar até o A relação ventilação/perfusão (V/Q) do
átrio esquerdo, dividida pelo fluxo, que pulmão como um todo é em torno de
é o débito cardíaco. Essa resistência é 0,8 e não é distribuída de forma ho-
aproximadamente 10 vezes menor do
que a da circulação sistêmica. Assim,
mogênea pelo pulmão. A relação V/Q
a RVP é inversamente proporcional ao pode variar de zero (quando não exis-
fluxo. Uma vasoconstrição dos vasos irá te ventilação para uma área perfundi-
provocar um aumento da resistência e da) até o infinito (quando a perfusão
consequentemente diminuição do flu-
xo pulmonar. A vasoconstrição hipóxica é inexistente). Uma relação V/Q entre
ocorre nos pequenos vasos arteriais, em 0,8 e 1 numa unidade alveolar garante
resposta à diminuição da PO2, alveolar. que a troca gasosa é eficiente.
Essa resposta é local e pode ser prote-
tora, por desviar o fluxo sanguíneo de Relações mais baixas indicam pou-
áreas hipóxicas para áreas bem perfun- ca ventilação para muito sangue, e
didas, no esforço para aumentar a troca ocorre fisiologicamente na base ou
gasosa.
em atelectasias e edemas; são áre-
as denominadas de shunt. Relações
mais altas indicam pouca perfusão
Relação ventilação-perfusão para áreas muito ventiladas; essas
áreas se comportam como espaço
A ventilação e o fluxo sanguíneo pul- morto (ápice pulmonar), não partici-
monar (perfusão) são componentes pando adequadamente da troca ga-
importantes da troca gasosa no pul- sosa. Tanto o shunt quanto o espaço
mão. No entanto, o principal deter- morto diminuem a eficiência da troca
minante da troca gasosa normal e do gasosa.
FISIOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO 18

Figura 12. Distribuição da ventilação e perfusão nas zonas pulmonares.

4. TRANSPORTE DO A capacidade de difusão do pulmão


OXIGÊNIO E DO DIÓXIDO utilizando o monóxido de carbono
DE CARBONO (CO) é a medida clássica das capa-
cidades de difusão da membrana al-
O movimento dos gases, pelo siste-
véolo-capilar. Utiliza-se esse gás por
ma respiratório, ocorre, predominan-
conta das suas características que
temente, por difusão. Os sistemas
tornam a membrana alvéolo-capilar a
respiratório e circulatório apresentam
única limitação para a difusão do CO.
várias características anatômicas e fi-
Essa medida é útil no diagnóstico das
siológicas singulares que facilitam a
doenças pulmonares restritivas, com
difusão dos gases:
o a fibrose pulmonar intersticial, e na
(1) grandes superfícies para as trocas distinção entre a bronquite crônica e
gasosas (a barreira alvéolo-capilar e a o enfisema.
barreira entre o capilar e as membra-
O principal mecanismo de transporte
nas dos tecidos) e curtas distâncias a
do O2 no sangue consiste na ligação
serem percorridas;
desse gás à hemoglobina (Hb) nos
(2) diferenças substanciais dos gra- glóbulos vermelhos. Já o CO2 é trans-
dientes da pressão parcial; e portado pelos glóbulos vermelhos na
(3) gases com propriedades de difu- forma de HCO3-.
são favoráveis.
FISIOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO 19

Diminuição da P50
(aumento da afinidade)
SE LIGA! A molécula da Hb é uma pro-
teína com dois componentes principais:
quatro grupos heme não-proteicos,
cada grupo contendo ferro na forma
reduzida (ferro ferroso ou Fe2+), que é
o sítio de ligação do O2 e a parte glo-
bínica, que consiste em quatro cadeias
polipeptídicas

A curva de dissociação da oxi-hemo-


globina ilustra a relação entre a PO2, Figura 13. Fatores que deslocam a curva de disso-
ciação da oxi-hemoglobina. Fonte: retirado de https://
no sangue, e o número de molécu- www.msdmanuals.com/
las de O2 ligadas à Hb. A forma em
S da curva demonstra a dependên-
cia da saturação da Hb e m relação à SE LIGA! O deslocamento para a direita
resulta de diminuição do pH e de efeito
PO2, sobretudo quando as pressões direto do CO2 sobre a Hb. Esse efeito do
são inferiores a 60 mmHg. A impor- CO2 sobre a afinidade da Hb pelo O2 é
tância clínica da parte plana da curva conhecido como efeito Bohr e aumenta
a captação do O2 nos pulmões e a libe-
de dissociação da oxi-hemoglobina ração desse gás para os tecidos.
(> 60 mmHg) está no fato de que a
queda da PO2, dentro de ampla faixa
de variação da pressão parcial, tem Já a curva de dissociação do CO2 do
apenas efeito mínimo sobre a satu- sangue é linear e está diretamen-
ração da Hb, que permanece entre te relacionada à PCO2. A PCO2, só
90% e 100% nível suficiente para depende da ventilação alveolar e da
que o transporte e a liberação do O2 produção de CO2.
sejam normais . A importância clíni-
ca da parte inclinada da curva (< 60 SE LIGA! O efeito das variações do nível
mmHg) está no fato de que grande de saturação da oxi-hemoglobina sobre
quantidade de O2 é liberada da Hb a relação entre o teor de CO2 e a PCO2,
com apenas pequena alteração da é conhecido como efeito Haldane, e é
revertido nos pulmões quando o O2 é
PO2, o que facilita a liberação do O2 transportado dos alvéolos para os gló-
e sua difusão para o tecido. O ponto bulos vermelhos. Esse efeito é ilustrado
da curva no qual 50% da Hb está sa- pelo deslocamento para a esquerda da
curva de dissociação do CO, no sangue
turada com O2 é denominado P50 e
venoso, quando comparado com o san-
corresponde a 27 mmHg, e m adultos gue arterial.
normais.
FISIOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO 20

A oxigenação dos tecidos depen- 5. CONTROLE DA


de da concentração da Hb e, conse- RESPIRAÇÃO
quentemente, do número de glóbulos
O controle da ventilação é uma das
vermelhos disponíveis na circulação.
funções cerebrais mais importantes.
A produção de glóbulos vermelhos
O mecanismo de controle precisa es-
(eritropoiese) na medula óssea é con-
tabelecer um ritmo automático para a
trolada pelo hormônio eritropoietina,
contração dos músculos respiratórios,
que é sintetizado pelas células in-
mas que deve se ajustar para acomo-
tersticiais do córtex renal. Embora os
dar mudanças por demandas meta-
níveis de Hb sejam normalmente es-
bólicas ou variações de condições
táveis, a redução da liberação de O2,
mecânicas.
da concentração de Hb e da PaO2,
estimula a secreção de eritropoietina, O ritmo é produzido a partir do siste-
o que aumenta a produção de glóbu- ma nervoso central (SNC), a partir de
los vermelhos. A doença renal crônica neurônios do bulbo, que geram sinais
danifica as células intersticiais do cór- de modo automático para os múscu-
tex renal e, consequentemente, su- los da ventilação, sem qualquer esfor-
prime a capacidade dessas células de ço consciente. Os neurônios motores
sintetizar eritropoietina. A falta de eri- respiratórios mais importantes são
tropoietina leva à anemia e à diminui- aqueles que inervam o diafragma,
ção da Hb. A terapia de reposição de através do nervo frênico. Quando o
eritropoietina aumenta, efetivamente, trabalho respiratório aumenta, há ati-
a produção de glóbulos vermelhos. vidade também nos neurônios moto-
res que inervam os músculos acessó-
A hipóxia tecidual ocorre quando o
rios da respiração.
tecido recebe quantidade insuficien-
te de O2 para manter o metabolismo Durante a eupneia, a atividade ner-
aeróbico em níveis normais. vosa para os músculos respiratórios é
altamente regular. A expiração ocor-
A reação reversível do CO2 com a
re como resultado da interrupção da
H2O produzindo H2C03 que em se-
inspiração, somado à retração elás-
guida se dissocia formando HCO3- e
tica passiva. Em situações de esfor-
H+, é catalisada pela enzima anidra-
ço, há a ativação dos músculos aces-
se carbônica nos glóbulos vermelhos
sórios da expiração, para que ocorra
e é a principal via para a produção de
de maneira mais rápida, permitindo o
HCO3. Essa reação desempenha pa-
começo de uma nova inspiração mais
pel decisivo na regulação dos íons H+
cedo, gerando aumento da frequên-
e na manutenção do balanço ácido-
cia respiratória.
-básico do organismo.
FISIOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO 21

A apneia, ausência momentânea de do pescoço e nos corpos aórticos e


ventilação, ocorre quando o gerador são primariamente sensíveis a dimi-
de padrão central (GPC) cessa na fal- nuições na PO2 arterial. Os quimior-
ta de impulsos tônicos. Esses podem receptores centrais se localizam jun-
vir de muitas fontes, mas as mais im- to à barreira hematoencefálica e são
portantes são os quimiorreceptores sensíveis a aumentos na PCO2 arte-
centrais e periféricos, que monitoram rial e a diminuições no pH arterial. Es-
a concentração de O2, de CO2 e o pH ses três sinais disparam um aumento
do sangue arterial. A frequência do na ventilação alveolar até que os valo-
GPC muda a partir dos sinais advin- res sejam normalizados, constituindo
dos desses quimiorreceptores, poden- assim um sistema de feedback nega-
do resultar em mudanças na frequên- tivo. É o núcleo respiratório dorsal que
cia e na profundidade da respiração. prioritariamente recebe as aferências
Os quimiorreceptores periféricos es- sensoriais dos quimiorreceptores e
tão localizados nos corpos carotídeos realiza a integração dessas informa-
ções do sistema respiratório.
SAIBA MAIS!
O ritmo respiratório pode mudar por uma série de razões. Muitos padrões, normais ou anor-
mais, possuem características reconhecíveis, sendo possível desenhar gráficos da ventilação
pelo tempo, como mostra a imagem a seguir:

O ritmo de Cheyne- Stokes, por exemplo, ocorre mais comumente em pacientes portadores
de insuficiência cardíaca congestiva grave, mas pode também estar presente em vigência
de lesões do sistema nervoso central e de hipertensão intracraniana. Especificamente nos
casos de insuficiência cardíaca, sua gênese é explicada pelo aumento do retardo circulatório
dos pulmões para o cérebro. Nessa situação, ocorre uma dissociação entre os valores de pH
e PaCO2 no nível pulmonar e no nível dos quimiorreceptores centrais, levando ao surgimento
do ritmo de Cheynes- Stockes.
Fonte: Fisiologia médica - Walter F. Boron, Emile L. Boulpaep, 2015.
FISIOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO 22

Além dos quimiorreceptores, o siste- Dentre os receptores de estiramen-


ma respiratório também é controla- to, estão aqueles de ação lenta, ou
do a partir de outras duas fontes de seja, respondem ao estiramento com
informação importantes: receptores um aumento nos disparos que decai
para estiramento e para compostos muito lentamente. Um reflexo que os
químicos/irritantes e centros superio- envolve é o reflexo de Hering-Breuer,
res do SNC, que agem em benefício através do qual as eferências dos
de atividades não respiratórias, como neurônios motores do nervo frênico
falar, cheirar e regular a temperatura. são inibidas, protegendo os pulmões
Os receptores para estiramento e do superenchimento.
para compostos químicos/irritantes se Os receptores de estiramento de
localizam nas vias aéreas e no parên- adaptação rápida respondem à ex-
quima pulmonar. Eles detectam cor- pansão repentina e persistente nas
pos estranhos, substâncias irritantes vias aéreas e são muito sensíveis a
e desafios imunológicos, ajudando na uma variedade de estímulos quími-
proteção dos pulmões. Além disso, cos, sendo chamados de receptores
detectam mudanças no volume pul- para compostos irritantes. Possuem
monar e ajudam a controlar as eferên- a importante função de detectar pro-
cias para os músculos respiratórios. cessos fisiopatológicos nas vias aére-
as, como congestão e inflamação.
FISIOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO 23

PARTICIPAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL NO CONTROLE DA RESPIRAÇÃO

Diminuição do Aumento da
pH arterial. PCO2 arterial.

Quimiorreceptores Músculos da ventilação.


centrais.
sinais
automáticos
Diminuição da
PO2 arterial.
Sistema Neurônios do bulbo.
nervoso
central (SNC)
Quimiorreceptores Produção do ritmo
periféricos. respiratório.

Receptores para
Centros superiores estiramento e para
do SNC. compostos químicos/
irritantes.
FISIOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO 24

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Boron, Walter F., Boulpaep, Emile L. Fisiologia médica. 2 ed. – Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
Silverthorn, Dee U. Fisiologia humana – Uma abordagem integrada. 7 ed. – Porto Alegre:
Artmed, 2017.
HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton & Hall tratado de fisiologia médica. 13.
ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.
BERNE, Robert M; LEVY, Matthew N. Fisiologia. 6 ed. Rio de Janeiro, RJ: Editora Guanabara
Koogan S.A., 2009.
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