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Basicamente, nesta aula se estudará o artigo 37, § 6º, da Constituição Federal (CF),
que traz o fundamento da responsabilidade do Estado quando ele age e quando causa dano
aos particulares. É um tema que analisa apenas um parágrafo da CF. Há muita Jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o tema que as Bancas transformam em questões
de prova. Também chamada de responsabilidade extracontratual, a responsabilidade civil
contempla a indenização do Estado por danos materiais e morais.
Cabe ressalta quanto ao fato de o Estado não é um garantidor universal, ele não vai
resolver todas as situações em que estiver envolvido. Há situações em que poderá alegar a
sua excludente afastando, assim, a sua responsabilidade.
Não é porque o Estado estava na relação que sempre será obrigado a pagar a conta
– pode alegar fatores de exclusão da sua responsabilidade. Existe a responsabilidade pelo
risco integral e a responsabilidade pela teoria do risco administrativo, que é a regra geral da
CF.
d) Teorias do Risco:
Como regra geral, a teoria adotada pela Constituição Federal no art. 37, § 6º foi a teoria
do Risco Administrativo: ou seja, o Estado tem responsabilidade, mas poderá alegar fatores
de exclusão. Na teoria do Risco Integral basta demonstrar o resultado, o dano pelo qual o
Estado tem de responder, é um garantidor universal, é o responsável mesmo que não tenha
praticado com dolo ou culpa.
Danos nucleares (art. 21, inciso XXIII, d, da CF). Somente a União explora a atividade
nuclear e causando danos ao patrimônio particular responde objetivamente;
Atos terroristas (em decorrência do ataque as Torres Gêmeas nos EUA);
Atos de guerra contra aeronaves brasileiras.
Obs.: a CF de 1988 não consagrou a teoria do Risco Integral, e sim a teoria do Risco
Administrativo como regra geral.
Responsabilidade Subjetiva
o Conduta: necessária a presença de dolo e/ou culpa;
o Dano;
o Nexo causal.
Reponsabilidade Objetiva
o Conduta: poderá ser lícita ou ilícita;
o Dano: que poderá ser moral (o dano moral diz respeito à violação do direito de
personalidade, ou seja, refere-se à violação de honra, dignidade ou intimidade)
ou material: corresponde a um dano financeiro. Tanto o dano moral quanto o
dano material são passíveis de indenização.
o Nexo causal: necessária correspondência entre a conduta e o dano causado.
Obs.: a mera expectativa de um dano, sem que ele tenha de fato ocorrido, não gera
indenização. Exemplo do presídio que se instala em cidade pacata, não é válido o argumento
da insegurança de uma possível fuga.
Dano Moral in re ipsa – o dano moral in re ipsa trata-se de um dano moral presumido, que
dispensa comprovação do prejuízo extrapatrimonial, sendo suficiente a prova da ocorrência
de ato ilegal.
STF – Nexo causal e o preso foragido. Responsabilidade civil do Estado. Art. 37, §
6º, da Constituição do Brasil. Latrocínio cometido por foragido. Nexo de causalidade
configurado. Precedente. A negligência estatal na vigilância do criminoso, a inércia das
autoridades policiais diante da terceira fuga e o curto espaço de tempo que se seguiu
antes do crime são suficientes para caracterizar o nexo de causalidade. Ato omissivo
do Estado que enseja a responsabilidade objetiva, nos termos do disposto no art. 37,
§ 6º, da Constituição do Brasil. (RE 573.595-AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em
24.6.2008, Segunda Turma, DJE de 15.8.2008).
a) Culpa exclusiva da vítima – quando verificada a culpa exclusiva da vítima, será afastada
a responsabilidade do Estado, de maneira que não caberá a ele fazer nenhum tipo de
indenização. Ex.: suicídio de alguém em via pública. A culpa concorrente, configurada pelo
fato de tanto a vítima quanto o Estado serem culpados, não afasta a responsabilidade do
Estado, mas a atenua. Ex.: acidente decorrente de um semáforo desligado em cruzamento
perigoso.
b) Caso fortuito / Força maior – o caso fortuito e a força maior dizem respeito a situações
do campo da imprevisibilidade, fatos imprevistos ou inevitáveis, que decorrem da ação da
natureza ou da ação humana (ato de terceiro), afastando a responsabilidade do Estado.
Ex.: fato de ação humana: pode-se exemplificar o fato de ação humana com os
denominados atos de multidões, como ocorre, por exemplo, nos casos dos arrastões, em
que diversas pessoas saem cometendo delitos pela cidade. Fato de ação da natureza:
terremoto.
Obs.: é possível que, diante de atos de multidões, o Estado possa ter responsabilidade
subjetiva, desde que comprovada sua omissão. A mesma teoria será aplicada em relação ao
caso fortuito, de ação da natureza, quando comprovada a omissão do Estado como ocorrido,
por exemplo, em caso de enchentes decorrentes da falta de limpeza dos bueiros ou da não
realização de obras necessárias.
No que se refere à matéria em estudo, cabe analisar o que dispõe o artigo 37,
parágrafo 6º, da Constituição Federal de 1988:
Para o autor Sergio Cavalieri, havendo omissão genérica do Estado, que é aquela em
que o dano não decorre diretamente da omissão, aplica-se a tese da responsabilidade
subjetiva, devendo o particular provar a culpa (omissão) para ter direito à indenização. Trata-
se aqui da típica teoria da faute du service (culpa/“falta” do serviço).
Por outro lado, havendo omissão específica, em que o dano decorre diretamente da
omissão, haverá responsabilidade objetiva, dispensada a discussão acerca da omissão
(culpa). Nesse ponto é que reside a inovação do autor, por atribuir hipótese de
responsabilidade objetiva no caso de omissão.
Cabe destacar ainda que, conforme dispõe o parágrafo 6º do artigo 37, o Estado
responderá pelos danos que seus agentes, ou seja, qualquer pessoa que exerça função
pública, agindo nessa qualidade, causarem a terceiros.
Obs.: José dos Santos Carvalho Filho (2009, p. 529) compreende que os Serviços Sociais
Autônomos estão incluídos na regra da responsabilidade objetiva do Estado.
O STF entendeu que o Estado responde, objetivamente, pelos atos dos tabeliães e
registradores oficiais que, no exercício de suas funções, causem danos a terceiros, devendo
haver o dever de regresso contra o responsável (ação regressiva), nos casos de dolo ou
culpa, sob pena de improbidade administrativa.
Fixou também a corte que o Estado possui responsabilidade civil direta, primária e
objetiva pelos danos que notários e oficiais de registro, no exercício de serviço público por
delegação, causem a terceiros. Na ação regressiva, a responsabilidade civil dos notários e
registradores é subjetiva (nesse sentido, o art. 22 da Lei n. 8.935/1994, alterado pela Lei n.
13.286/2016. RE 842846/RJ, rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 27.2.2019. (RE-842846).
Casos especiais
a. Via de regra, a prisão preventiva não gera direito à indenização, mesmo que o
réu seja absolvido ao final do processo (RE 429518). O STJ já entendeu que a
prisão preventiva manifestadamente desproporcional acarretará tal direito.
d) Atos (típicos) do Poder Legislativo – o ato típico do Poder Legislativo diz respeito à
criação de leis. Desse modo, leis aplicadas à toda extensão da sociedade (leis de
efeitos gerais) e que causam prejuízo a determinadas pessoas não geram direito a
indenização, pois, assim como ocorre no campo do Poder Judiciário, em relação aos
atos típicos do Poder Legislativo também é aplicada a regra da irresponsabilidade do
Estado. Existem duas exceções no que concerne à aplicação da regra no cenário do
Poder Legislativo:
Obs.: diante de ato atípico do Poder Legislativo, ou seja, diante de ato administrativo, será
aplicada a responsabilidade civil objetiva.
Da ação regressiva
A ação regressiva consiste na ação de regresso contra o agente, de modo que a ação
se dará pela vítima contra o Estado, ou seja, contra a pessoa que tem responsabilidade
objetiva, que, mediante a condenação, postulará ação regressiva contra o agente. Cabe
destacar um importante julgado do Superior Tribunal Federal (STF) em relação a essa
temática:
Desse modo, pode-se verificar três relações (vítima > Estado > agente), em que vigora,
conforme o determinado pelo STF, a teoria da dupla garantia: a garantia para a vítima cobrar
do Estado, na responsabilidade objetiva, e a garantia para o agente de só ser demandado
pelo Estado. Assim, de acordo com a teoria da dupla garantia, a vítima não poderá ingressar
diretamente contra o agente e tampouco contra o Estado e contra o agente ao mesmo tempo
através do chamado litisconsórcio, situação configurada pela existência de mais de uma
pessoa no polo passivo da ação.
Cabe ressaltar que o Estado não poderá denunciar à lide para chamar o agente
ao processo para que seja efetuada a resolução das duas relações através de uma única
sentença “dividida” em dois capítulos no mesmo processo.
Obs.: na esfera da vigência do antigo Código de Processo Civil (CPC), o STJ possui julgados
que dispõem que a denunciação à lide não é obrigatória, visto que anteriormente todos que
pretendiam exercer o direito de regresso deveriam efetuar a denunciação à lide, de modo que
caso não o fizessem, seria perdido o direito de regresso. Nesse sentido, o STJ fundamentava
que, ao se tratar de ação de responsabilidade civil do Estado, a denunciação à lide não seria
obrigatória, de modo que não sendo efetuada a denunciação pelo Estado, este poderia
perfeitamente entrar com uma ação autônoma de regresso contra o agente posteriormente.
O novo CPC de 2015, no entanto, não traz nenhum caso de denunciação à lide obrigatória,
de maneira que essa jurisprudência do STJ perderá sua força. Entretanto, caso alguma banca
disponha em sua prova que para o STJ a denunciação à lide não é obrigatória, o candidato
deverá considerar a assertiva correta, pois o examinador estará referindo-se ao acórdão do
STJ que, apesar de não estar atualizado, ainda existe.
Perceba, ainda, que a ação da vítima contra o Estado, como regra, será objetiva; e a
ação do Estado contra o agente – a partir da condenação – será sempre subjetiva, de maneira
que o agente só responderá perante o Estado caso tenha agido com dolo ou culpa.
No que concerne à ação do Estado contra o agente, é importante destacar que até
2018 o STF entendia que as ações de regresso eram imprescritíveis, com base no parágrafo
5º, artigo 37 da Constituição Federal, mas o entendimento mudou e, atualmente, o STF
entende que a imprescritibilidade das ações de regresso somente diz respeito às ações
decorrentes de atos (dolosos) de improbidade dispostas no parágrafo 4º, artigo 37, da CF,
de modo que a Fazenda Pública está sujeita a prazo previsto em lei para a ação de regresso.
Desse modo, há a prescrição em razão de ilícito civil e de ilícito civil em razão de ato culposo
de improbidade, mas não há a prescrição em razão de ilícito civil em razão de ato doloso de
improbidade.