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INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA
São Paulo
Junho de 2020
INTRODUÇÃO
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Ainda sobre Capella (2018), temos o esclarecimento dos níveis de agenda a
partir da organização e definição de Birkland (2005), este por sua vez separou os níveis
através de suas extensões, criando o universo da agenda e reduzindo de acordo com as
restrições. Dentro do universo da agenda, temos a definição de agenda sistêmica que
são as questões de mais relevância e demanda no ponto de vista da sociedade. Partindo
da agenda sistêmica, chegamos na agenda governamental, esta, por sua vez, trata de
questões que obtém a atenção do governo e dos tomadores de decisões até seguir para a
agenda decisória, onde temos questões mais bem definidas e encaminhadas para a
elaboração de políticas públicas.
Contudo, a agenda midiática, apesar de estar localizada no universo da agenda,
não segue esse padrão de linearidade, pois, esta, atua principalmente no processo de
agenda setting, ou seja, a fase de decisão sobre a inserção de determinado tema na
agenda política, portanto, o tema pode ser excluído ou adiado para um período futuro
(Tude et al. 2010).
Dessa forma, a agenda midiática estabelece ligações e influências na construção
de agendas como as sistêmicas e governamentais, uma vez que uma questão ao ganhar
atenção da mídia influencia o processo de competição pela atenção do Estado, não
somente isso, como também atua na persuasão de pensamentos pois influi na percepção
e discussões das questões na sociedade.
Portanto, a agenda midiática pode articular a potência de um problema já que
consegue, através dos meios de comunicação, impor a gravidade e a intensidade da
questão, gerando questões de valência que impulsionam debates na sociedade e
provocam a atenção do governo, além de relacionar os impactos do problema com o
cotidiano social, aproximando dos espaços geográficos e temporais e favorecendo a
colocação de temas na agenda política de acordo com a hierarquia de importância
(Capella, 2018), fomentando o policy cycle ou ciclo de políticas públicas.
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população civil, relacionando com os princípios de poder e legitimidade segundo Max
Weber.
Contudo, é necessário entender o que é democracia e como se dá a noção de
democracia nos dias de hoje. A primeira ideia de democracia a que temos acesso é
referente à democracia grega ateniense, a qual é baseada em noções de igualdade e
governo para a maioria. No entanto, estes significados sempre dependem de quais
sentidos são atribuídos ao governo e ao povo (Schramm, 2008).
O sentido de democracia foi redefinido em meados do final do século XIX para
o início do século XX com a chegada da democracia liberal e o modelo representativo
que atraiu diversas correntes e partidos políticos, repercutindo e dominando a ideia de
democracia nos dias de hoje (Schramm, 2008). Entretanto, esse processo representativo
é elaborado por meio de eleições, estas, por sua vez, usufruem deste sistema para
legitimar os representantes, considerando o modo de escolha mais importante do que a
participação efetiva do povo no governo.
Luanda Schramm (2008) no artigo Dilemas Democráticos e Midiáticos
Contemporâneos, publicado pela Revista de Ciências Sociais, explora e aborda as ideias
de Williams (2007) sobre o significado de democracia atual, o mesmo estabelece duras
críticas quanto à participação do povo neste modelo, uma vez que a ideia de governo
popular torna-se irônica, já que quem governa não é o povo mas, sim, uma parcela
seleta de representantes que supostamente abrangem todo esse contingente.
Partindo desta reflexão, temos uma relação de impotência e massificação das
camadas populares, não somente isso, como também o favorecimento dos
representantes, sejam eles profissionais ou amadores, pela agenda midiática. Sendo
assim, a interferência quase que indireta na agenda governamental também repercute
nas visões e interpretações sobre a realidade pela sociedade, que, por conseguinte, atua
na formação da agenda sistêmica.
Para entender a capacidade de influência da agenda midiática na sociedade,
precisamos estabelecer relações entre poder e legitimidade. De acordo com Max Weber,
em seu texto Os três tipos puros de dominação legítima, que aborda noções de poder a
partir do conceito de dominação, sendo esta a probabilidade de encontrar obediência
partindo do poder de influência, a relação de dominação dá-se por meio da legitimidade,
ou seja,
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[...]Pode depender diretamente de uma constelação de interesses, ou seja, de
considerações utilitárias de vantagens e inconvenientes por parte daquele que
obedece. Pode também depender de mero "costume”, do hábito cego de um
comportamento inveterado. Ou pode fundar-se, finalmente, no puro afeto, na
mera inclinação pessoal do súdito. [...]Nas relações entre dominantes e
dominados, por outro lado, a dominação costuma apoiar-se internamente em
bases jurídicas, nas quais se funda a sua "legitimidade”, e o abalo dessa crença
na legitimidade costuma acarretar consequências de grande alcance[...] (Weber,
1956).
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pelo grupo dominante visava tornar o debate e a participação política desinteressante e
conduzir a defesa de interesses particulares.
Assim, a ideia por trás da massificação é a articulação de interesses privados de
forma que não haja ameaça aos interesses burgueses, reduzindo a participação popular a
movimentos massivos, irracionais e manipuláveis por parte dos meios de comunicação
(Barbero, 1997 como citado em Schramm, 2008, p. 14).
Em paralelo com a noção de massificação, temos Mills e seu livro A imaginação
sociológica, no qual trata sobre a limitação da consciência do homem comum para
perceber o cenário que o ronda, de forma que as suas principais preocupações se
referem à sua vida cotidiana e banalizam os fenômenos sociais.
Hoje em dia, os homens sentem, frequentemente, suas vidas privadas como uma
série de armadilhas. Percebem que dentro dos mundos cotidianos, não podem
superar suas preocupações, e quase sempre têm razão nesse sentimento; tudo
aquilo de que os homens comuns têm consciência direta e tudo o que tentam
fazer está limitado pelas órbitas privadas em que vivem. Sua visão, sua
capacidade, estão limitadas pelo cenário próximo: o emprego, a família, os
vizinhos; em outros ambientes, movimentam-se como estranhos, e permanecem
espectadores. E quanto mais consciência têm, mesmo vagamente, das ambições
e ameaças, que transcendem seus cenários imediatos, mais encurralados para
recém sentir-se (Mills, 1969).
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próximas. Mais importante, os órgãos da mídia fariam a fiscalização do Estado,
exercendo assim a forma mais bem acabada de “controle social”: em relação ao
dinheiro público, às ações públicas, numa palavra, aos negócios públicos
(Fonseca, 2011).
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Portanto, a interpretação das informações midiáticas acaba sendo diversa e
distinta, uma vez que no sentido de percepção não existe uma leitura certa ou errada
(Schramm, 2008). Por isso, apesar das eleições periódicas e competições partidárias,
temos uma pluralidade de opiniões que provém não somente da influência das
mensagens dos meios de comunicação, como também da interação e convivência
cotidiana, gerando novas expressões e conflitos políticos.
[...] Retomando o trabalho de autores como Schattschneider (1960) e Bachrach e
Baratz (1962), os autores mostram que a essência do conflito político reside no
escopo da participação: para qualquer questão, sempre haverá mais pessoas
desinteressadas do que dispostas a se envolver diretamente. Sendo assim,
apoiados no conceito de mobilização do conflito de Schattschneider, os autores
entendem que os grupos em disputa numa política procurarão ampliar o escopo
do conflito, atraindo os previamente desinteressados [...] (Capella, 2018).
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Não é apenas de informação que precisam nesta - Idade do Fato - a informação
lhes domina com freqüência a atenção e esmaga a capacidade de assimilá-la.
Não é apenas da habilidade da razão que precisam - embora sua luta para
conquistá-la com freqüência lhes esgote a limitada energia moral.
O que precisam, e o que sentem precisar, é uma qualidade de espírito que lhes
ajude a usar a informação e a desenvolver a razão, a fim de perceber, com
lucidez, o que está ocorrendo no mundo e o que pode estar acontecendo dentro
deles mesmos. E essa qualidade, afirmo, que jornalistas e professores, artistas e
públicos, cientistas e editores estão começando a esperar daquilo que poderemos
chamar de imaginação sociológica (Mills, 1969).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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vez que um pequeno grupo seleto de representantes não abrange todo contingente
popular.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Souza, J. (2001) . Democracia hoje: novos desafios para uma teoria democrática
contemporânea . Brasília : UnB.
Tude, J.M, Ferro, D.S & Santana, F.B. (2010). Políticas Públicas. : IESDE.
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