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Dolo de dano
É quando o agente tem consciência e vontade de lesionar um bem jurídico, quer a
produção do efetivo dano.
Dolo de perigo
O agente tem a vontade exclusiva de expor interesse jurídico ao perigo, o agente visa
colocar o bem jurídico em risco.
O sujeito ativo neste crime pratica o crime quando omite conduta (não a pratica),
expondo a vítima ao risco de perigo, de potencialidade de dano.
A escolha sore qual assistência prestar à vítima – assistência direta ou solicitação de
socorro junto à autoridade pública – não é do omitente, mas da situação concreta.
Considera-se omitente quando a pessoa não fez o que deveria.
Conceito
Se cria no artigo 135 um dever moral de solidariedade humana, o dever de amparar
aqueles que necessitam de socorro é convertido em dever legal geral, transformando a
falta de ética em crime.
Tipifica-se o crime omissivo quando o agente não faz o que pode e deve fazer, que lhe é
juridicamente ordenado.
É um crime omissivo puro, tipifica uma inércia.
Crimes omissivos próprios/puros são os obrigatoriamente previstos em tipos penais
específicos. Em obediência ao princípio da reserva legal. Só ocorre quando alguém
deixa de realizar uma conduta devida, art. 244 (abandono material) e 269 (omissão de
notificação de doença).
Verbo do tipo é negativo. Ex.: “deixar de fazer”, “não fazer” etc.
Crimes omissivos impróprios são os crimes de resultado, não têm tipologia própria,
inserindo-se na tipificação dos crimes de resultado, como homicídio, lesão. Na verdade,
nesses crimes não há uma causalidade fática, mas jurídica, em que o omitente tem o
dever jurídico de evitar o resultado.
Objetividade Jurídica
Protege-se com o dispositivo a vida e a saúde da pessoa através da segurança individual.
Pune-se o desrespeito ao dever de solidariedade humana.
Sujeitos do Delito
Sujeito Ativo:
Pode ser qualquer pessoa, exceto aquela que ocasionou o perigo. Explica-se:
Pode ser qualquer pessoa, não requerendo nenhuma condição especial, pois o dever
genérico é não se omitir. Existindo vinculação anterior entre os sujeitos poderá existir
um crime mais grave. Deve o agente estar no lugar e no momento em que o periclitante
precisa de socorro.
O autor do delito não pode ter causado a situação de perigo. Se causou dolosamente não
pode se pretender que preste socorro, ele responder pelo crime (mais grave) que causou.
Responde por homicídio ou lesões. Nos crimes culposos a omissão de socorro é
circunstância majorante art.121, §4º (homicídio com omissão de socorro), artigo 129,
§7º (lesão corporal majorada pela omissão de socorro). Nos crimes de trânsito também
majora a pena a falta de socorro artigo 302, §1º, inciso III e art. 303, §1º.
Possibilidade de concurso de pessoas:
O crime é mais comum na modalidade individual.
Para que exista concurso de pessoas em coautoria é imprescindível que haja vínculo,
combinação, interação entre as pessoas, ou então estamos tratando de crimes
individuais. A coautoria precisa da divisão de tarefas.
Já o crime em participação ocorre através da instigação, auxílio e induzimento. Pode
ocorrer quando uma pessoa, que não pode prestar o socorro pessoalmente, instiga
alguém a não o prestar. Ex.: O marido vem dirigindo na estrada e falando pelo viva-voz
com a esposa, ao passar por um acidente, a mulher desestimula que ele preste socorro ao
acidentado.
Dois amigos em um clube, sendo um deles cadeirante, veem uma criança se afogar, ao
referir que irá ajudar a criança, o amigo é desestimulado pelo outro amigo cadeirante.
Se a pessoa que instiga possuir condições de prestar socorro não se configurará a
participação, posto que ela será autora ou coautora.
Sujeito Passivo:
Criança abandonada: é aquela que foi exposta ou deixada em algum lugar por seus
responsáveis, entregue à própria sorte, sem condições de prover a sua própria
subsistência, a que foi deixada ao desamparo
Criança extraviada: é aquela que perdeu o rumo de sua casa, está perdida, não sabe onde
mora, nem como chegar lá. Para efeitos penais deverá se considerar criança a pessoa
que não tem condições de auto- defesa por imaturidade. Mesmo que o ECA tenha
definido criança o menor de 12 anos, não é solução para o caso.
Pessoa inválida: é aquela que por si mesma não pode prover a própria segurança e
subsistência; é aquela que é indefesa. A invalidez pode advir das próprias condições
pessoas, congênitas ou adquiridas, ou decorrer de acidentes (velhice, enfermidade,
cegueira, paralisia, etc.)
Pessoa ferida: é aquela que sofreu um dano ou lesão em sua integridade corporal, de
forma acidental ou provocada. É fundamental que tanto na invalidez como no ferimento
causem incapacidade de autodefender-se.
Finalmente qualquer pessoa em grave e iminente perigo. É necessário que exista real
probabilidade do perigo, bem como sua gravidade, além de ser iminente. Pessoa se
afogando, prestes a cair em uma ribanceira, prestes a ser soterrada.
Elementos Subjetivos:
Dolo de perigo: O elemento subjetivo deste crime é o dolo de perigo, representado pela
vontade de omitir com a consciência do perigo, isto é o dolo deve abranger a
consciência da concreta situação de perigo em que a vítima se encontra.
É obrigatório que o sujeito, ao omitir o socorro esteja consciente da situação de risco
iminente.
Pode o dolo ser direto ou eventual, com o agente assumindo o risco de manter o estado
de perigo preexistente.
Consumação e Tentativa
Consuma-se a omissão de socorro no lugar e no momento em que a atividade devida
tinha de ser realizada.
Tentativa: Tendo em vista ser um crime omissivo puro ou próprio não admite a forma
tentada, ou o agente age e presta socorro não havendo nenhum ilícito a ser punido, ou
deixa passar o momento em que deveria prestar socorro e o crime está consumado. É
um crime unissubsistente que não admite fracionamento.
Formas Majoradas
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão
corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
A ideia dos maus tratos é expor a perigo em razão de castigo alguém sob sua autoridade.
Ainda, na redação do artigo, percebe-se que o agente maltrata alguém que tem vínculo
com a vítima (crime próprio).
Objetividade Jurídica
A incolumidade da pessoa humana, são a vida e sua saúde que são protegidas pelo
legislador.
O poder familiar deixou de ser um direito pleno em favor dos genitores e no interesse de
quem o exerce, transformando-se em simples dever de proteção e direção, não mais do
que meio para satisfazer seus deveres, na medida em que o poder familiar é instituto em
benefício da família, assim deve ser exercido.
Tutela e Curatela seguem as mesmas orientações, evolutiva e humanitária do poder
familiar.
Reprime-se, pois, os meios de correção e disciplina que expõe a perigo.
Sujeitos do Delito:
Sujeito Ativo
Crime próprio, não é qualquer pessoa que pode cometer o crime de maus-tratos,
somente quem se encontre na condição especial de exercer autoridade, guarda ou
vigilância, portanto é um delito próprio exigindo do Agente uma legitimação especial,
seja de ordem pública ou particular.
Autoridade: é a inerente ao vínculo de poder de uma pessoa sobre a outra
Guarda: Assistência a pessoas que não prescindem dela
Vigilância: importa em zelo pela segurança pessoal, mas sem o rigor da guarda
Essa dependência deve relacionar-se com EDUCAÇÃO atividade destinada a
aperfeiçoar, ampliar e acabar a formação individual, sob o aspecto intelectual, moral e
técnico. ENSINO consiste em ministrar conhecimentos visando à formação básica,
fundo comum de cultura, ensino primário, fundamental ou superior TRATAMENTO
meios e cuidados na cura das moléstias ou prover a subsistência de uma pessoa ou
CUSTÓDIA detenção de uma pessoa para fim autorizado em lei (presos em relação ao
cárcere em que se encontram).
Não havendo esta relação entre o agente e a vítima pode configurar outra infração como
por Ex.: Art. 132 (crime de perigo genérico – perigo para a vida ou a saúde de outrem).
Normalmente figuram como sujeitos ativos deste crime pais, tutores, curadores,
professores, diretores de instituições de ensino, enfermeiros, carcereiros, entre outros.
Sujeito Passivo:
Somente aquelas pessoas que se encontrem subordinadas para fins de educação, ensino,
tratamento ou custódia.
A mulher, não pode ser vítima de maus tratos em relação ao marido, pois não há
qualquer vínculo de subordinação entre ambos, assim como não há entre pais e filhos
maiores de idade. Pode, portanto, ocorrer outro crime.
Acaso a esposa esteja enferma pode ser vítima de maus-tratos, mas, neste caso, a
configuração do crime não decorre da relação marido-mulher, mas da vulnerabilidade
em razão da enfermidade e impossibilidade de defesa.
Especial relação de subordinação!
As principais vítimas de maus-tratos são as crianças e os idosos.
Elementos Objetivos do Tipo
Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa
Várias são as condutas tipificadas no Art. 136, caput:
a) Privar de Alimentação
Para caracterizar os maus tratos é suficiente que esta privação seja relativa, pois se
ela for total pode caracterizar meio de execução de um crime de homicídio,
consumado ou tentado. Logicamente que pode ser perpetrado para iniciar de forma
absoluta, por um período razoável e depois volte a ser ministrada.
Não configura a supressão de sobremesa ou imposição de alguma dieta.
Ex.: privar os filhos da vacina (veja, não é crime de maus-tratos porque a criança
contraiu a doença, mas porque ficou exposta ao risco).
Será excessivo o trabalho que ultrapassar o limite das forças ou das capacidades da
vítima ou que lhe causar cansaço além do suportável.
Obs. 2: Acaso o filho menor de idade trabalhe na empresa do pai e esteja sujeito ao
trabalho excessivo ou inadequado, configurará maus-tratos, posto que há neste
cenário uma relação de guarda e autoridade do pai com relação ao filho.
Aplicar castigos excessivos que coloquem em risco a vida e a saúde da vítima, nas
hipóteses anteriores o agente poderia proceder por grosseria, irritabilidade, espirito
de malvadez, prepotência, ódio, intolerância, mas nesta última hipótese tem ele um
fim em si mesmo justo, porém o meio não justifica sua conduta e é isto que a lei
penal incrimina.
Obs.: O ato de corrigir o filho através de castigos corporais (bater com cinta para
educar) configura um crime de maus-tratos, não de lesão corporal, porque a
intenção do agente aqui não é o animus laedendi, mas aplicar castigo com intenção
educacional, mesmo que disto resultem lesões corporais.
Ex.: Pai usuário de drogas, irritado com a filha de um ano e seis meses que chorava
muito, praticava sessões de espancamento. Aqui, não se enxerga um objetivo
educacional, aplica-se, preferencialmente a tortura.
Diferenças:
I- No crime de tortura o agente age com dolo de dano, com a finalidade de causar
intenso sofrimento físico ou mental à vítima.
II- No crime de maus tratos o agente age com dolo de perigo, com a intenção de
expor a perigo a vida ou a saúde da vítima.
O Estatuto do Idoso
O Lei 10.741/03 prevê um crime de maus-tratos específico para o idoso:
Elementos Subjetivos
Dolo De Perigo
Consumação e Tentativa
Nas ações que são plurissubsistentes é possível se falar na tentativa (conatus). Ex.:
pai prestes a amarrar o filho e amordaçá-lo e é surpreendido.
O evento mais grave precisa ser previsível, pois senão estaríamos tratando de
responsabilidade objetiva.
Forma Majorada
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa
menor de 14 (catorze) anos.
É preciso que se conheça essa circunstância. Será também preciso anexar ao processo
cópia do documento de identidade da vítima, de acordo com o Art. 155, §ú do CPP.
Qualificação Doutrinária
Crime Próprio
Crime Formal
Crime Simples
Atinge uma objetividade jurídica, sendo esta a exposição da vida e da saúde a risco.
Conceito
Rixa é a briga ou uma contenda entre três ou mais pessoas, acompanhadas de vias de
fato ou violências físicas recíprocas. Exige, no mínimo a participação de três pessoas
lutando entre si.
Caracteriza-se pelo tumulto, de modo que cada sujeito age por si, mesmo contra
qualquer um dos contendores - Briga desordenada. Assim, os agentes são ao mesmo
tempo ativos e passivos, executam o crime e sofrem as agressões.
Nesse contexto, é difícil identificar quem começou a agressão.
É um crime autônomo que só absorve as vias de fato e a ameaça, entendidos como
subsidiários à rixa. Se houver outros delitos (lesão, morte etc.) o agente responde por
eles em concurso material com a rixa.
Objetividade Jurídica
Protege a saúde ou a vida da pessoa humana.
Embora seja um crime de perigo ele também protege essas objetividades jurídicas.
Sujeitos do Delito
A rixa é um crime de perigo abstrato (não necessita da comprovação do perigo efetivo),
plurissubjetivo – de concurso necessário
No número mínimo exigido para a existência da rixa não importa que algum dos
sujeitos seja inimputável.
Para completar o número necessário não se leva em conta os que vão separar os
contendores (Art. 137, parte final).
Não é imprescindível o corpo a corpo, pode participar atirando objetos, por exemplo, ou
apagando a luz.
Apesar de ser proposital, não pode haver um grupo contra outro (grupos antagônicos)
para estar caracterizada a rixa, sua característica essencial é as agressões sem alvo
específico. Acaso dois grupos antagônicos se combatam estaremos tratando de lesões
corporais ou homicídio ou tentativa, em concurso de pessoas - coautoria.
O resultado do crime de risco é o perigo de dano, que neste caso é presumido, pois se
trata de perigo abstrato. Independente de qualquer resultado da rixa já estará
configurado o delito com a simples participação.
Mirabete não admite a tentativa porque ele argumenta que a conduta e o evento se
exaurem simultaneamente, no exemplo da preparação indica atos preparatórios ou
tentativa de lesões corporais.
Aquele que participa de rixa não pode alegar legítima defesa por ela ser uma
atividade criminosa.
Formas Qualificadas
Veja, estamos tratando aqui do Art. 137, §ú:
Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave,
aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses
a dois anos.
Com relação aos que forem identificados por terem praticado a lesão grave ou morte?
Entendem a maioria dos doutrinadores que responde ele por rixa qualificada e lesão
grave/homicídio em concurso material e os outros respondem por rixa qualificada.
Segundo Damásio, o agente vai responder por rixa simples em concurso com a lesão
grave/homicídio pois, ao contrário haveria um bis in idem na medida em que o crime de
lesão grave absorve o da qualificadora.
Todavia, ressalta-se que a qualificadora não foi construída para punir o resultado da
lesão grave ou morte, mas para punir um crime de perigo mais grave!
- No caso de haver lesões leves não qualificam o crime, somente haverá concurso de
lesão leve com a rixa se descobrir-se a autoria das mesmas.
- Não sendo possível identificar o autor da lesão ou da morte, todos responderão pela
forma qualificada.
- Já o mesmo não ocorre com aquele que intervém posteriormente aos resultados morte
ou lesão grave, pois não há nexo causal entre a sua atuação e tais eventos.
- Existe apenas um crime mesmo ocorrendo várias mortes ou lesões graves, o que
ocorrerá é uma análise do julgador no momento de fixar a pena (Art. 59).
Qualificação Doutrinária
Crime de Perigo Abstrato
Crime comissivo
Todavia, pode ser praticado na modalidade comissivo por omissão (Ex.: carcerário
presencia uma rixa dentro do presídio e não faz nada para impedir – participação por
omissão)
Crime Plurrisubjetivo
Concurso de pessoas necessário
Crime Simples
Crime Instantâneo
Crime Comum
PENAL III
CRIMES CONTRA A HONRA
Crimes Formais
Os crimes contra a honra estão previstos nos artigos 138, 139 e 140 do Código Penal e
consistem nas práticas de injúria, calúnia e difamação.
Conceito
Imputa-se a alguém um fato definido como crime, sendo esse fato falso ou não
comprovado. (Ex.: o prefeito daquela cidade é ladrão, praticou crime de peculato). É um
crime de dano a honra objetiva.
Objetividade Jurídica
É a incolumidade moral, a integridade do ser humano, no caso a honra objetiva do
sujeito passivo (reputação).
Sujeitos do Delito
Sujeito Ativo: a calúnia é crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa.
Sujeito Passivo: trata-se de crime cuja vítima precisa ser imputada de fato criminoso.
Neste sentido, surgem algumas dúvidas com relação ao sujeito passivo.
Mirabete: tendo em vista que a lei menciona “fato definido como crime” não a “prática
de crime” é possível o cometimento de calúnia contra menor ou alienado mental que
possuem algum entendimento.
Noronha: entende que o menor e o alienado mental não podem ser sujeitos passivos do
delito pois não podem praticar crimes, neste caso o sujeito responderia por difamação e
não por calúnia.
Não se exige que o agente utilize vocábulos técnicos e jurídicos ao descrever a conduta
(ex.: se disser que fulano roubou, querendo dizer que furtou ou cometeu peculato, da
mesma forma estará configurada a calúnia).
A acusação caluniosa pode ser feita na ausência do ofendido e admite vários meios de
execução: palavra, escrita, desenhos, gestos (mímica), memes etc.
Se o agente imputa à vítima fato criminoso sobre o qual a vítima responde ação penal, o
processo de calúnia será suspenso até o julgamento do fato criminoso.
Elementos Subjetivos
Indispensável para a ocorrência do delito é o dolo – vontade livre e consciente de atacar
a honra da vítima pelos atributos físicos, morais e intelectuais (a reputação) que a vítima
tem.
Pode responder por dolo direto ou eventual: ter certeza da falsidade do fato criminoso
ou ter dúvidas do fato criminoso
Para alguns autores basta o dolo de dano (vontade livre e consciente de atribuir a outrem
fato definido como crime); mas para outros autores é necessário que os crimes contra a
honra possuam dois elementos subjetivos:
Esse segundo dolo tem lugar pois pode ocorrer que a vontade do sujeito ao imputar o
fato criminoso seja outra que não atingir a honra da vítima, veja:
Animus narrandi: descrição sem vontade tendenciosa do que viu e ouviu. Ex.:
testemunha.
Animus criticandi: quando a vontade do autor se dirige à crítica justa e sincera, com o
propósito de apenas ajudar o criticado, como ocorre nos assuntos literários, artísticos,
científicos etc.;
Animus defendendi: a conduta defensiva não constitui crime. Se, para defender um
direito se necessitar cometer um fato que configura, em tese, delito contra a honra, nessa
hipótese não há crime por ausência de ilicitude (defender-se em processo);
Animus jocandi: a intenção de gracejar desacompanhada da vontade de ofender, exclui
os elementos subjetivos próprios dos crimes contra a honra;
Animus corrigendi: a vontade de corrigir, presente na admoestação dos pais ou
responsáveis a seus filhos e protegidos constitui exercício regular de direito.
Consumação e Tentativa
Consuma-se o crime quando qualquer pessoa, um terceiro, toma conhecimento da
imputação, ou seja, quando ela é ouvida, lida ou percebida por pessoa diversa do sujeito
passivo. Portanto, é um crime formal, se consuma no momento em que foi praticado,
não importando seus resultados materiais.
Como é um crime que tem por objetivo proteger a reputação (honra objetiva), não se
configura quando apenas a própria vítima toma conhecimento da imputação do fato,
mas basta que apenas um terceiro tome ciência para a configuração da calúnia.
A calúnia verbal não admite a tentativa, mas na calúnia escrita poderá ocorrer se for
extraviada. Quando o crime se perfaz por um único ato (crime unissubsistente) não há
tentativa. Nesta perspectiva, a calúnia por escrito seria um delito plurissubsistente que
admite a tentativa.
Ex.: o agente envia bilhete a terceiro contendo a calúnia, todavia, este bilhete se extravia
e chega diretamente a vítima caluniada, assim, estamos diante de tentativa de calúnia.
São comportamentos daquele sujeito que não propriamente elaborou a calúnia, mas
acabou divulgando-a. Pune-se, portanto, não só o autor original da falsa imputação, mas
também aquele que repete o que ouviu.
Apenas é punível em dolo direto: Não responde pelo Art. 138, §1º quem atua com dolo
eventual, posto que é necessário saber que o fato é inverídico, não basta que a pessoa
tenha dúvidas acerca da veracidade dos fatos. Já para o crime do caput o sujeito
responderá tanto por dolo direto, como por dolo eventual.
Em qualquer caso, basta que terceiro tome conhecimento do fato e estará consumado o
delito nestas modalidades.
A calúnia é o único dos crimes contra a honra que apresenta a possibilidade de se punir
a calúnia contra os mortos.
Prova da verdade
Art. 138, §3º
Portanto, não cabe ao agente da calúnia provar o fato criminoso para que o autor do
crime seja condenado, posto que não é interessado legítimo e estaria violando o
princípio da disponibilidade da ação privada. Assim, terceira pessoa não pode, de forma
alguma, pretender a prova do crime.
Ex.: Suponha que Pedro caluniou Antônio, imputando-lhe falsamente crime de fraude à
execução cometido contra Maria. Processado Pedro na ação penal por crime de calúnia,
não pode arguir a exceção da verdade, pretendendo provar que realmente Pedro praticou
fraude à execução prejudicando Maria. Se a vítima preferiu silenciar a respeito da
fraude, Pedro não poderá provar a prática do crime, sob pena de anular o princípio da
disponibilidade da ação penal privada. Todavia, se Antônio já tivesse sofrido sentença
condenatória irrecorrível pela prática de fraude à execução, admitir-se-ia a exceção da
verdade.
Obs.: Bitencourt defende que não se pode impedir em nenhum caso que o agente
busque, na instrução, com a oitiva de testemunhas, provar que o que ele dizia era
verdade. O não se admite, aqui, segundo ele, é apenas a exceção da verdade (Art. 515,
CPC) – que é, na verdade, uma peça em apartado, como a exceção de pré-executividade.
Art. 138, §3º, III – Se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi
absolvido por sentença irrecorrível
Bastante óbvia a justificativa deste inciso III, posto que se estaria ferindo o princípio da
coisa julgada. Não se pode reverter a sentença absolutória.
Qualificação Doutrinária
Crime formal
Se consuma no momento em que o agente pratica a conduta
Crime Instantâneo
Crime Unissubjetivo
Crime Simples
A honra é o único bem tutelado
Crime comissivo
Não existe calúnia na forma omissiva
Conceito
Difamação é o fato de atribuir a outrem a prática de conduta ofensiva a sua reputação.
Mácula à honra objetiva, ao que os outros pensam dos atributos físicos, morais e
intelectuais do sujeito.
Objetividade jurídica
O legislador protege a honra objetiva (reputação – conceito social).
Sujeitos do Delito
Sujeito Ativo
Qualquer pessoa, pois trata-se de crime comum.
Sujeito Passivo
Pode ser qualquer pessoa.
Com relação aos doentes mentais e aos menores é tranquila a posição de que podem ser
sujeitos passivos do crime de difamação, posto que possuem reputação social.
Ex.: dizer que um doente mental praticou atos indecorosos.
Não é necessário que a imputação seja falsa. Poderá mesmo ser verdadeira desde
que desabone o sujeito passivo
Não se exige neste caso que o sujeito tenha consciência da falsidade da imputação,
assim, o erro a respeito do fato relatado não elide a responsabilidade do agente.
Consumação e Tentativa
Consuma-se o crime com o conhecimento por qualquer terceiro da imputação, não se
exige que o destinatário seja o pretendido.
Admissível a tentativa quando não praticado oralmente.
Qualificação Doutrinária
Crime formal
Não se exige qualquer alteração no mundo dos fenômenos, o resultado é simplesmente a
mácula da honra.
Crime instantâneo
Crime Simples
Atinge um bem jurídico: a honra, nesse caso, objetiva.
Crime comum
Crime comissivo
Conceito
Injúria é a atribuição depreciativa de qualidade negativa a pessoa e, portanto, atinge a
honra subjetiva. Na sua essência é a injúria uma manifestação de desrespeito e
desprezo, tem a característica de um xingamento.
Objetividade Jurídica
Proteger a integridade moral do ofendido, mas ao contrário da calúnia e da difamação,
na injúria se está protegendo a honra subjetiva (a estima própria – aquilo que eu penso
dos meus atributos físicos, morais e intelectuais).
Sujeitos do Delito
É um crime comum.
Sujeito Ativo:
Qualquer pessoa pode cometer o crime de injúria.
Sujeito Passivo:
Qualquer pessoa
A doutrina, no entanto, faz uma ressalva acerca daqueles que não possuem consciência
de dignidade e de decoro, como os menores de tenra idade e os doentes mentais, no
modelo dos totalmente inimputáveis. Neste caso não há que se falar em injúria, posto
que não há honra subjetiva a ser maculada.
A não ser que a ofensa seja reflexa, a exemplo chamar um recém-nascido de filho da
puta, consequentemente ofendendo a mãe da criança.
A injúria não admite a exceção da verdade, não sendo possível provar que o que disse
corresponde à verdade. Não se pode provar que a vítima é ignorante, grosseira, etc pois
não se autoriza que a pessoa seja depreciada.
Consumação e Tentativa
Consuma-se o crime quando o sujeito passivo, ou seja, a vítima, toma conhecimento do
insulto, não sendo necessário que o mesmo se sinta ofendido nem que seja na sua
presença.
A justificativa para não haver a aferição do sentimento de ofensa pela vítima é a
característica de o crime violar a honra – difícil aferição – mas, também, por ser de
Ação Penal Privada.
Como nos demais crimes contra a honra, a forma tentada é admitida na forma escrita,
apenas. Todavia, na injúria em específico é especialmente improvável que a forma
tentada ocorra, posto que a vítima precisa tomar conhecimento da ofensa.
A doutrina identifica apenas um caso de tentativa de injúria, que é aquele em que uma
pessoa envia bilhete contendo injúria contra menor de idade, com capacidade de
compreensão, e seu representante toma conhecimento, ingressando com a ação penal
privada. Neste caso, se configuraria a tentativa de injúria, vez que a ação procedeu
mesmo que o menor não tenha tomado ciência da ofensa, posto que o bilhete com
conteúdo da ofensa foi extraviado e chegou primeiro ao representante legal.
Não se trata de uma revidação ou compensação, sendo que a provocação não pode
ultrapassar os seus limites, pois se se tratasse de uma agressão, se poderia aplicar a
legítima defesa e, não mais o Art. 140, §1º, I.
Inciso II – No caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria:
O fundamento está em que, havendo ofensas recíprocas, já houve punição.
Deve haver uma sucessão instantânea das injúrias (imediata), sendo possível a retorsão
de injúrias escritas. Ex.: mensagens de whatsapp.
Uma vez reconhecidas a provocação ou retorsão o juiz não pode deixar de aplicar o
perdão, assim, é obrigado a deixar de aplicar a pena, o que consiste na posição da
maioria da jurisprudência.
Injúria real é a que consiste em violência ou vias de fato, que pela sua natureza se
consideram aviltantes, isto é, humilhante.
Pode ser cometido por violência que se entende a lesão corporal (todas as formas) ou
por vias de fato (comportamento agressivo com a vítima, desde que não resulte lesão. O
objetivo é punir não as agressões, mas as humilhações dela advindas.
Quando o sujeito comete injúria real empregando vias de fato estas são absorvidas pelo
delito de maior gravidade.
Ex.: atirar ovos, gelo, dar palmadas, cortar o cabelo, cavalgar o ofendido, amarrar
alguém por uma coleira (trotes).
Quando existe a violência (lesão – ex.: chicotadas, marcação) o sujeito responde por
dois crimes em concurso material: injúria e lesão corporal. Trata-se da hipótese de
concurso formal em que se considera na fixação da pena, a regra do concurso material
(CP, art. 70, 2ª parte). Hipótese em que há uma ação, mas dois crimes, pois o legislador
optou por punir os resultados da agressão, mais a intenção de humilhar.
A injúria real absorve as vias de fato, mas quando há lesão corporal, existirá
concurso de crimes formais.
Para existir a injúria real é necessário que a violência e as vias de fato sejam aviltantes,
tem de haver a intenção de humilhar.
Art. 140, §3º - Injúria Preconceituosa
Foge ao Juizado Especial Federal, pois não é considerado crime de menor potencial
ofensivo – pena de reclusão e pena máxima de três anos.
Não se deve confundir essa injúria com os crimes resultantes de preconceito de raça ou
cor, tipificados na Lei 7.716/89. Na injúria racial insulta-se alguém em razão se sua
etnia (ex.: chamar alguém de macaco, jogar banana, etc.), já o crime de racismo prevê
atitudes discriminatórias.
O crime de injúria preconceituosa pune o agente que, na prática do delito usa elementos
ligados à raça, cor, etnia... Sua finalidade com a utilização desses meios é atingir a
honra subjetiva da vítima.
Caso Carrefour
Pode ser uma manifestação racista, todavia, o comportamento não se enquadra nem nos
crimes de racismo, nem na injúria racial.
O que ocorreu foi um homicídio, qualificado por motivo torpe.
Não se caracteriza como lesão corporal seguida de morte, pois no momento em que a
vítima estava imobilizada os agentes poderiam prever a morte – dolo eventual.
Qualificação Doutrinária
Crime formal
Crime instantâneo
Crime Simples
Crime Comum
Crime Comissivo
Inciso I
Contra calúnia e difamação existe a Lei de Segurança Nacional (Lei nº 7.170, Art. 26),
que se aplica quando a motivação é política.
Todavia, contra injúria não existe crime definido na Lei de Segurança Nacional, por
isto, se aplica a previsão do Código Penal, Art. 140, com a devida majorante do Art.
141.
Inciso II
Desde que a injúria, calúnia ou difamação tenha relação com o cargo e funções públicas
desempenhadas pelo funcionário.
Inciso III
O termo “Várias pessoas” quer dizer o mínimo de três. Duas pessoas não são suficientes
para configuração da majorante.
Ademais, para fins de enquadramento neste art., não se contabilizam o ofendido e nem o
coautor do crime, posto que ele pratica. Necessária a capacidade dos ouvintes de
compreender a ofensa, pois não há como se ofender a honra subjetiva de outrem se o
ouvinte não compreende a ofensa. Aqui, não importa que o ouvinte não tenha entendido
pois não conhece os termos (caso de ofensa erudita), mas que não tenha capacidade no
sentido estrito.
Necessário, também, que o sujeito ofensor tenha conhecimento de que várias pessoas
estão ouvindo.
O termo “por meio que facilite” se refere à meios de comunicação ou similares, como
perfis influentes em redes sociais.
Inciso IV
Acrescentado pelo estatuto do idoso para dar maior proteção aos idosos e as pessoas
portadoras de deficiências.
Não se aplicará no caso da injúria. Isto porque o Art. 140, §3º refere que “Se a injúria
consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião,
origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência” a pena é maior
(injúria preconceituosa)
Parágrafo 1º
Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se
a pena em dobro
Ex.: em época de disputa eleitoral, eu contrato uma pessoa para falar mal ou difamar
meu oponente.
Por fim a pena deve ser aplicada em dobro se o crime for cometido mediante paga ou
promessa de recompensa. Trata-se de motivo torpe que, no caso, constitui uma
qualificadora e não mera circunstância agravante genérica.
Paga é o recebimento efetivo de dinheiro ou qualquer bem econômico; promessa é a
oferta, o compromisso de pagar pelo crime.
Atenção!!!
Quem é punido é a pessoa que recebe a quantia para fazer o crime e, não quem paga
EXCLUSÃO DO CRIME
Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível:
I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu
procurador;
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo
quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar;
III- o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação
ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício.
Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela
difamação quem lhe dá publicidade.
Inciso I
Imunidade judiciária
Ofensa rogada em juízo quando os profissionais estão discutindo o processo. A ideia é
dar mais liberdade ao procurador no exercício de sua função.
Existe na forma escrita ou formal e se aplica a todas as partes do processo!
Excludente da ilicitude.
Inciso II
Excludente da tipicidade, posto que se deve provar que inexistiu o dolo de difamar ou
injuriar, exclusão do dolo.
Protege-se a liberdade crítica e cultural – animus criticandi
Inciso III
Funcionário público que necessita fazer análise que seja entendida como uma ofensa ao
exercer as funções de seu cargo. Na verdade, esse parecer seria amparado pelo Código
Penal dizendo que se trata de uma conduta não punível, posto que o funcionário estaria
dentro de sua legitimidade exercendo seu dever legal.
Por este motivo, trata-se de exclusão de punibilidade.
Parágrafo Único
Levar ao público o que se passou dentro de uma audiência ou entidade Pública.
RETRATAÇÃO
Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da
calúnia ou da difamação, fica isento de pena.
A retratação é uma possibilidade criada pelo Código Penal para extinguir a punibilidade
dos crimes contra a honra. (Art. 107, VI).
Retratar-se é desdizer-se, reiterar o que foi dito, declarar que errou. A retratação
funciona apenas como circunstância judicial na aplicação da pena (Art. 59, caput).
Ela tem que ser completa irrestrita e incondicional, só produz efeitos se feita antes da
sentença, mas não depende de formalidade oficial (pode ser feita pela mesma forma que
fez a calúnia ou difamação original ou pode exigir o juiz alguma formalidade especial).
Além disso, é incomunicável em concurso de pessoas.
Havendo concurso de rimes contra a honra, a retratação em um dos crimes não
aproveita os demais.
A expressão “a critério do juiz” se refere ao juiz que julgará a ação principal. O pedido
de explicações segue o rito processual das notificações avulsas. Requerido, o juiz
determina a notificação do autor da frase para vir explicá-la em juízo. Fornecida a
explicação ou no caso de recusa, certificada esta, nos autos, o juiz faz com que os autos
sejam entregues ao requerente. Com eles, aquele que se sentiu ofendido pode ingressar
em juízo com a ação penal. O juiz, portanto, não julga a recusa ou a natureza das
explicações. Na ação penal é que o juiz apreciará o teor das explicações.
Ação Penal
Art. 145
Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa,
salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.
Os crimes contra a honra se processam somente mediante queixa, salvo casos em que o
crime seja praticado por meio de violência física ou vias de fato (injúria real). Nestes
casos, será Publica e Incondicionada, não se sujeitando o MP a nenhuma condição de
procedibilidade para instaurar o processo. É assim porque a ação penal no caso da lesão
corporal também é pública e incondicionada.
O parágrafo único do Art. 145 traz mais duas situações onde a ação é pública.
O primeiro caso se refere aos crimes praticados contra o presidente da república ou
chefe de nação estrangeira em que se exige a requisição do Ministério da Justiça
(pública condicionada a representação).
O segundo caso é quando a ação penal depende de representação do ofendido
(condicionada a representação). Este tem de se referir ao desemprenho de suas funções;
do contrário, se se referir a sua vida privada será de ação penal privada.
Injúria preconceituosa (pública condicionada a representação).
No restante dos casos a Ação Penal dos Crimes contra a Honra é Privada.
ART. 146 – CONSTRANGIMENTO ILEGAL
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou
depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de
resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Conceito
O delinquente, empregando determinados meios, impõe à vítima sua vontade,
obrigando-a a aceitá-la, levando a ação ou inação por ela não querida.
É um crime subsidiário, sempre que a liberdade pessoal for atingida, mas como
meio para a realização de outro crime, este absorve o constrangimento ilegal. Ex.
Roubo, extorsão, extorsão mediante sequestro.
Objetividade Jurídica
O Estatuto Penal protege a liberdade de autodeterminação, ou seja, a liberdade do
indivíduo de fazer ou não fazer o que lhe aprouver, dentro dos limites da ordem jurídica.
A liberdade que se protege é a psíquica (livre formação da vontade, sem coação) e a
física (de movimento).
A liberdade pessoal ganhou assento constitucional, nos seguintes termos “ninguém será
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei”.
Sujeitos do delito
Sujeito Ativo
Qualquer pessoa
Se for funcionário público no exercício da função não responderá por constrangimento
ilegal, mas pelo Art. 350, 322 ou Lei 13.896 (abuso de autoridade).
Sujeito Passivo
Qualquer pessoa que tenha capacidade de querer e de autodeterminar-se. Portanto,
ficam excluídos os doentes mentais, ébrios totais e as crianças de tenra idade e pessoas
inconscientes.
Podem ser, no entanto, objeto do crime, isto é, usados para que seus responsáveis legais
e comportem da forma que o agente quer. Todavia, não podem eles ser vítimas de
constrangimento ilegal. Ex.: autoridade apontar uma arma para uma criança para que os
pais se comportem como ela quer.
A ameaça ou a violência pode ser exercida contra pessoa diversa daquela que se procura
constranger.
A conduta do agente pode visar a um fim especial desta forma configurar outro tipo
penal. Ex.: roubo, estupro.
O constrangimento pode ser obtido mediante violência, grave ameaça ou outro meio que
reduza a capacidade de resistir do ofendido.
Violência
O termo violência empregado no texto legal significa força física, material, vis
corporalis, com a finalidade de vencer a resistência da vítima. Essa violência pode ser
produzida pela própria energia corporal ou outros meios (fogo ou água, choque, gases),
ou ainda, por omissão, como a privação de recursos essenciais (comida ou água).
Grave Ameaça
Constitui forma típica de violência moral, é a vis compulsiva, serve para atacar o
psicológico do ofendido e amedrontá-lo ou intimidá-lo, anulando ou minando a vontade
e o querer do ofendido para inviabilizar eventual resistência da vítima.
Ex.: mandar coroa de flores à vítima
Ex.: o emprego de Boa Noite cinderela não se enquadraria neste sentido, posto que a
vítima vai dormir e, portanto, não tem capacidade de se comportar da maneira como o
agente quer.
Pode ser relativa quando há direito, mas a vítima não pode ser forçada, o sujeito tem a
faculdade de exigir a ação (ainda que sem a tutela jurídica)
Ex.: cobrar dívida de jogo, o pagamento de uma meretriz.
Elementos Subjetivos
Só é punido a título de dolo, que consiste na vontade livre e consciente de constranger a
vítima mediante violência (física, moral ou imprópria).
Não existe a forma culposa.
Se existe algum elemento subjetivo específico, poderá se tratar de delito diverso.
Consumação e Tentativa
Consuma-se no momento em que a vítima faz ou deixa de fazer alguma coisa em razão
da violência, ameaça ou violência imprópria.
Não se trata de crime de mera atividade, que se consuma com a simples ação, é um
crime de lesão, que tem uma execução complexa, exigindo uma duplicidade
comportamental: a ação coativa do agente e a atividade coagida do sujeito passivo.
Formas Majoradas
Deverá haver efetivo emprego da arma. Portar uma arma não enseja a majorante,
desde que não seja de forma ostensiva e intimidatória.
Concurso de Crimes:
Prevê a hipótese de haver concurso entre o crime de constrangimento ilegal e demais
penas referentes à violência – e seu resultado. Assim mesmo tendo agido com uma
única conduta e um único desígnio (de praticar o constrangimento ilegal), considerar-se-
á que o sujeito praticou dois crimes em concurso formal impróprio (uma conduta/ dois
desígnios).
Em outras palavras: quando houver a prática de violência física e esta, resultar outro
crime, a regra deste parágrafo manda aplicar a regra do concurso material, qual seja, as
duas penas, mesmo que o agente tenha agido com uma única conduta e praticado dois
resultados não existindo desígnios autônomos.
Ex.: o sujeito usou de violência física para o constrangimento ilegal e esta violência
causou lesão grave, teremos um concurso entre o crime de constrangimento ilegal e o
crime correspondente à violência (no caso, a lesão grave) – Art. 146 c/c Art. 129, §1º.
Este inciso também configura uma exclusão da tipicidade. Embora o suicídio não seja
um delito, configura uma conduta antijurídica e impedir sua prática, mesmo com
violência ou grave ameaça não constitui um constrangimento ilegal.
O objetivo deste dispositivo é proteger a vida, mesmo que para isto a objetividade
jurídica da autodeterminação fique em segundo plano.
Qualificação Doutrinária
Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro
meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Conceito
A ameaça é meio de execução de muitos delitos non Código Penal, assim, é crime
eminentemente subsidiário, pois pode estar presente no crime de roubo, estupro, dentre
outros. Logo, a ação de ameaçar só vai ser tipificada no Art. 147 se a intenção do sujeito
for somente ameaçar/tirar a paz de espírito da vítima.
Exige apenas que a ameaça seja um mal injusto e grave que pretenda intimidar, não
requer que o sujeito ameace cometer um crime contra a vítima, por exemplo.
Objetividade Jurídica
Tutela a liberdade pessoal e individual de autodeterminação, a liberdade psíquica do
indivíduo que será abalada pelo temor infundido pela ameaça. Tutela, pois, a
tranquilidade de espírito, o sossego individual.
Outrossim, o indivíduo ameaçado não se comporta da maneira usual, pois não sai, não
realiza as mesmas atividades em razão da insegurança. Sendo assim, em última
instância, o dispositivo protege a liberdade física do sujeito.
Sujeitos do Delito
Sujeito Ativo
Qualquer pessoa – crime comum.
Acaso o agente seja funcionário público, poderá ser enquadrado nos crimes de abuso de
autoridade da Lei 13.869.
Sujeito Passivo
Qualquer pessoa física, desde que seja capaz de sentir a idoneidade da ameaça, e
motivar-se com ela, atemorizando-se.
Deve a pessoa ter capacidade de compreender o mal prenunciado, o que nada tem a ver
com capacidade jurídica. Portanto, não podem ser ameaçados o bebê, o insano, o
deficiente mental grave etc. Nestes casos, haverá crime impossível por absoluta
impropriedade do objeto. Se, no entanto, a incapacidade dor relativa haverá crime.
Nada impede que os responsáveis legais sejam ameaçados. Ex.: Vou matar teu filho.
A pessoa jurídica não tem capacidade de entender e não tem liberdade psíquica, nada
impede que seus representantes legais sejam sujeitos passivos do crime. Assim, quando
a ameaçada for uma pessoa jurídica, recairá sobre as pessoas que a compõe, e estas,
poderão ser sujeitos passivos do crime. Neste caso, haverá somente um crime, contra os
representantes do ente jurídico, se forem mais de um, haverá concurso formal em razão
da pluralidade de crimes.
Requisitos da Ameaça:
A ameaça para constituir o crime tem que ser idônea, séria, concreta. O mal
prenunciado tem que ser grave, determinado, verossímil, dependente, injusto e,
segundo a jurisprudência mais recente, iminente.
Damásio de Jesus, por sua vez, entende que se a ameaça futura causa intranquilidade
para a vítima, estará configurado o crime de ameaça, posto que futuro é aquilo que
ainda não ocorreu, mas ocorrerá.
Subsidiariedade da Ameaça
Ainda, importante destacar que a ameaça proferida no curso de uma contenda pode: a)
se for realizada, ficar absorvida por outro crime; b) se não se realizar, configurar um
indiferente penal.
Ex.: caso dois sujeitos estiverem em uma discussão e um deles falar “vou te matar” e
realmente matar, não há que se falar em crime de ameaça e homicídio, pois a ameaça,
como crime subsidiário, é absorvida pelo homicídio. Haverá somente crime de
homicídio.
Meios
A ameaça pode ser praticada por diversos meios: palavra, telefone, áudio, escritos,
bilhetes, cartas, gestos, apontar arma, mímica, meios simbólicos, enviar coroa de flores,
uma caveira, um vodu, despachos.
Pode, ainda, ser explícita, como por exemplo; vou te dar um soco, vou te chutar, vou te
matar, vou acabar com a tua vida, ou implícita, quando o sentido fica subentendido,
deixado claro nas entrelinhas, por exemplo: costumo liquidar minhas questões com
sangue, não tenho medo de ir para a cadeia, o último está a sete palmos.
Também não procede o entendimento dos tribunais que a ameaça proferida em estado
de embriaguez não configura delito. Afirmando que não há seriedade no comportamento
do agente, isto porque não podemos esquecer que existem vários estágios de
embriaguez e poderá existir seriedade no comportamento do agente ou realmente algo
que não possa ser levado em conta, o caso concreto deve ser analisado, portanto, caso a
caso.
Consumação e Tentativa
Consuma-se o crime no momento em que a vítima toma conhecimento do mal
prenunciado, independentemente de se sentir ameaçada. Ainda, é suficiente que o mal
prenunciado tenha potencial intimidatório, assim não importa se a vítima se sinta ou não
ameaçada, o que importa é o animus do ofensor e a capacidade de causar temor.
Ex.: vou te machucar, vou colocar uma bomba no seu carro, vou fazer com que você
seja demitido.
Qualificação Doutrinária
Crime Formal
Crime Instantâneo
Crime Subsidiário
Crime Simples
Crime Comum
Crime Comissivo
Crime Unissubjetivo
Pena e Ação Penal
A detenção é de 1 a 3 meses ou multa
Conceito
O sequestro ou cárcere privado é uma espécie de constrangimento ilegal, em que se
impede que a pessoa tenha seu direito de locomoção, logo, os verbos penais constituem
formas de privação total ou parcial da liberdade de deambulação (liberdade física do
sujeito).
Ensina Fragoso que se trata de uma espécie de constrangimento ilegal em que se impede
que o sujeito passivo tenha liberdade de locomoção.
Objetividade Jurídica
Tutela a liberdade física. O bem jurídico protegido é o direito de ir e vir, a liberdade de
movimento no espaço.
Só o Estado, por forma competente, pode restringir o indivíduo do gozo desse bem.
Ex.: decisão judicial, internação manicomial.
Sujeitos do Delito
Sujeito Ativo
Não se trata de crime próprio, assim, pode ser praticado por qualquer pessoa.
Sendo funcionário público, no exercício de suas funções poderá ser aplicado outro
crime – abuso de autoridade (Lei 13.869)
Sujeito Passivo
É, nos termos da lei, “alguém”, ou seja, o ser humano que é titular de liberdade de
locomoção.
Alguns autores excluem as pessoas que não podem se movimentar (deficientes físicos,
tetraplégicos, doentes graves). Outros, excluem também as pessoas que não possuem
capacidade de entender ou conhecer a privação desta liberdade (crianças, doentes
mentais, etc.).
Mas a maioria entende que qualquer um pode ser sujeito passivo do crime. A liberdade
de movimento não deixa de existir quando se exerce à custa de aparelhos ou auxílio de
alguém, mesmo porque, a pessoa com limitações físicas ainda possui capacidade de se
autodeterminar e de decidir onde quer estar.
Da mesma maneira, não é menos certo que o incapaz goza de liberdade corpórea,
portanto, estas pessoas merecem, em verdade, maior proteção legal. A capacidade de
entendimento, portanto, só tem relevo quando se trata do consentimento do ofendido.
Consentindo na privação da liberdade não se configura o delito, desde que a vítima
tenha capacidade de consentir.
Sequestro: forma mais “leve”. Existe privação da liberdade de ir e vir, tendo em vista
que a retenção ou detenção impossibilite a vítima de se afastar do local em que o agente
a colocou ou deixou, todavia, existe alguma liberdade de ir e vir.
Ex.: reter a vítima em um sítio, em uma ilha, do qual não se pode afastar-se.
Cárcere Privado: existe a privação de liberdade por confinamento, isto é, vítima presa a
um recinto fechado.
Ex.: num quarto, porta-malas.
A conduta típica é privar alguém da liberdade, pouco importando o meio para obter este
resultado. Pode ser cometido mediante violência física e moral (ameaça) ou fraude
(mentira, induzir a erro). O agente pode atuar detendo a vítima, levando a lugar e a
prendendo ou retendo-a no lugar em que está – que pode, inclusive, ser em sua própria
casa – não é necessário que se tire a vítima do local onde se encontra.
Até por omissão o crime pode ser cometido.
Ex.: deixar de pôr em liberdade um doente mental que está curado.
Mesmo que o sujeito já tenha sua liberdade cerceada legalmente, pode-se falar em
sequestro ou cárcere privado nos casos em que ele poderia estar mais livre e tem sua
liberdade reduzida a níveis gravosos, ou seja, o sujeito já estava com a liberdade restrita
e a vê ainda mais reduzida desnecessariamente.
Ex.: em ambiente manicomial, acorrentar um doente mental à cama desnecessariamente.
É incito no conceito de sequestro ou cárcere privado que esta privação deve ter certa
duração, certa relevância.
Uma privação rápida ou momentânea configuraria apenas a tentativa ou
constrangimento ilegal, entretanto, não se exige para consumação que se prolongue
durante horas ou dias.
Ex.: segurar no braço de alguém, retendo a pessoa momentaneamente, e dizer “precisas
me ouvir” não se enquadra em crime de sequestro ou cárcere privado, pode, no entanto,
ser um constrangimento ilegal´.
Consumação e Tentativa
O crime se consuma com a restrição da liberdade da pessoa, iniciada que seja. Existem
alguns autores que a mesma perdure por tempo mais ou menos longo.
Sendo um crime material por excelência, permite a tentativa sempre que o agente tenha
praticado atos de execução, sem chegar à restrição de sua liberdade.
Ex.: Se o agente está prestes a introduzir a vítima no carro, mas é surpreendido.
Todavia, sempre imprescindível se compreender que existem outros crimes, como a
extorsão mediante sequestro, que absorvem o sequestro e cárcere privado e, assim, a
depender do dolo do sujeito, a forma tentada será de outro crime, há que se analisar se
houve objetivo patrimonial ou diverso.
Formas Qualificadas
Parágrafo 1º
§ 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:
I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente
ou maior de 60 (sessenta) anos;
II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou
hospital;
III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias.
IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos;
V – se o crime é praticado com fins libidinosos.
Este parágrafo do Art. 148 aumenta a pena em função da qualificação da vítima (inciso
I), do risco à saúde física e mental (incisos II, III, IV), violação à dignidade sexual
(inciso V).
II
Tanto o sujeito pode escolher praticar o crime internando a vítima em uma casa de
saúde ou hospital ou mantendo ela lá desnecessariamente, supondo que a internação em
um primeiro momento fosse legítima
III
Isto porque quanto maior for o tempo de sequestro ou cárcere privado, maior será o
dano à integridade psíquica da vítima.
IV
Sabe-se que nos dois extremos da vida – no início e no fim – os riscos são sempre
maiores, isto porque ou estamos diante da formação do indivíduo, ou de pessoas mais
frágeis.
V
Neste inciso, não está se punindo nenhum comportamento sexual com a vítima, mesmo
porque pode haver concurso entre o sequestro com fins libidinosos e o crime sexual em
si (estupro, por exemplo).
Pune simplesmente a prática de submeter a vítima a sequestro ou cárcere privado com a
finalidade de cometer atos libidinosos contra ela.
Parágrafo 2º
Maus-tratos
Entende-se por maus-tratos a supressão de cobertas, alimentos e alimentação adequada,
roupas, e quaisquer outras condições mínimas para o sujeito confinado e que gere
sofrimento físico ou moral maior.
Natureza da Detenção
Com relação à menção que o dispositivo faz à natureza da detenção, entende-se que a
qualificadora é aplicada quando a detenção ocorre em local insalubre, por exemplo. Diz
respeito ao aspecto material da privação.
Ex.: amarrar a vítima em uma árvore, local úmido, em um cemitério, armazém com
ratos etc.
Qualificação Doutrinária
Crime Material
Crime Permanente
Consumação que se prolonga no tempo, assim, a qualquer tempo permite a prisão em
flagrante.
Crime Subsidiário
Só existe se o sequestro ou cárcere privado não for meio de execução de outro crime
mais grave como a extorsão mediante sequestro, sequestro relâmpago, roubo com
privação da liberdade (crimes patrimoniais).
Crime Simples
Atinge só o bem jurídico da liberdade de locomoção.
Crime Comum
Qualquer pessoa pode praticá-lo.
Crime Unissubjetivo
Pode ser praticado por um único sujeito.