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PENAL III

DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE


Os crimes de perigo
Não existe crime, sem que haja, além de uma ação ou omissão, um resultado, isto é,
uma alteração do mundo externo afetando as condições de existência ou segurança de
um bem ou interesse penalmente tutelado. A toda ação penalmente relevante
corresponde um efeito objetivo, seja ou não perceptível pelos sentidos, todo crime
produz uma situação de fato, seja de dano (real, concreto, efetivo), seja de perigo
(possibilidade de dano, dano potencial).
Conceito de Perigo:
Rocco: “Perigo é a modificação do mundo exterior voluntariamente causada ou não
impedida (ação ou omissão), contendo a potencialidade (idoneidade, capacidade) de
produzir a perda ou diminuição de um bem, ou sacrifício ou a restrição de um interesse
dano)”.
Protege-se, como bem jurídico, a possibilidade do dano.
Classificação:
O perigo no campo jurídico-penal pode ser:
1.
Abstrato: a lei presume que o ato é perigoso em virtude de experiências anteriores. Ex.:
portar munição para arma, dirigir embriagado.
Concreto: há demonstração, comprovação, não há presunção, é necessário que o perigo
seja efetivamente comprovado e demonstrado em cada caso se houve ou não perigo ao
bem jurídico. Ex.: dirigir sem habilitação (Art. 309 CTB Dirigir veículo automotor, em
via pública, sem a devida Permissão para Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se cassado o
direito de dirigir, gerando perigo de dano)
A lei não deixa a apreciação do perigo ao juízo do agente: no caso de perigo abstrato
funda-se na experiência geral, no caso de perigo concreto depende de um juízo a
posteriori, não é a opinião que se deve levar em conta, mas o juízo comum.
2.
Coletivo é aquele que afeta um indeterminado número de pessoas. Exemplo: crimes
contra a incolumidade pública. Ex.: incêndio, descarrilamento, inundação.
Individual é o que afeta o interesse de uma só pessoa ou de um exíguo e determinado
grupo de pessoas, estão estes em sua maioria, definidos no capítulo em estudo, são os
chamados crimes contra a incolumidade individual. Ex.: omissão de socorro
3.
Atual ou eminente significa a possibilidade presente ou efetiva do dano.
Futuro ou remota é aquela que embora não existindo na atualidade pode advir em tempo
sucessivo. É a probabilidade de perigo. É o evento genérico da tentativa dos crimes de
perigo.
Elemento Subjetivo:
Diferente dos crimes que possuem resultado material (aborto, homicídio, lesão corporal)
onde o dolo é a vontade de causar dano/prejuízo efetivo ao bem jurídico (animus
necandi, animus laedendi), nos crimes de perigo a vontade é simplesmente de expor a
risco o bem jurídico.
Quando alguém pratica o crime de omissão de socorro, não se exige a vontade de matar,
simplesmente considera-se a intenção de expor a risco.

O resultado dos crimes de perigo é o próprio perigo.


Não exige resultado material!

Dolo de dano
É quando o agente tem consciência e vontade de lesionar um bem jurídico, quer a
produção do efetivo dano.
Dolo de perigo
O agente tem a vontade exclusiva de expor interesse jurídico ao perigo, o agente visa
colocar o bem jurídico em risco.

OMISSÃO DE SOCORRO – ART. 135


Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco
pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida,
ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o
socorro da autoridade pública:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

O sujeito ativo neste crime pratica o crime quando omite conduta (não a pratica),
expondo a vítima ao risco de perigo, de potencialidade de dano.
A escolha sore qual assistência prestar à vítima – assistência direta ou solicitação de
socorro junto à autoridade pública – não é do omitente, mas da situação concreta.
Considera-se omitente quando a pessoa não fez o que deveria.
Conceito
Se cria no artigo 135 um dever moral de solidariedade humana, o dever de amparar
aqueles que necessitam de socorro é convertido em dever legal geral, transformando a
falta de ética em crime.
Tipifica-se o crime omissivo quando o agente não faz o que pode e deve fazer, que lhe é
juridicamente ordenado.
É um crime omissivo puro, tipifica uma inércia.
Crimes omissivos próprios/puros são os obrigatoriamente previstos em tipos penais
específicos. Em obediência ao princípio da reserva legal. Só ocorre quando alguém
deixa de realizar uma conduta devida, art. 244 (abandono material) e 269 (omissão de
notificação de doença).
Verbo do tipo é negativo. Ex.: “deixar de fazer”, “não fazer” etc.
Crimes omissivos impróprios são os crimes de resultado, não têm tipologia própria,
inserindo-se na tipificação dos crimes de resultado, como homicídio, lesão. Na verdade,
nesses crimes não há uma causalidade fática, mas jurídica, em que o omitente tem o
dever jurídico de evitar o resultado.
Objetividade Jurídica
Protege-se com o dispositivo a vida e a saúde da pessoa através da segurança individual.
Pune-se o desrespeito ao dever de solidariedade humana.
Sujeitos do Delito
Sujeito Ativo:
Pode ser qualquer pessoa, exceto aquela que ocasionou o perigo. Explica-se:
Pode ser qualquer pessoa, não requerendo nenhuma condição especial, pois o dever
genérico é não se omitir. Existindo vinculação anterior entre os sujeitos poderá existir
um crime mais grave. Deve o agente estar no lugar e no momento em que o periclitante
precisa de socorro.
O autor do delito não pode ter causado a situação de perigo. Se causou dolosamente não
pode se pretender que preste socorro, ele responder pelo crime (mais grave) que causou.
Responde por homicídio ou lesões. Nos crimes culposos a omissão de socorro é
circunstância majorante art.121, §4º (homicídio com omissão de socorro), artigo 129,
§7º (lesão corporal majorada pela omissão de socorro). Nos crimes de trânsito também
majora a pena a falta de socorro artigo 302, §1º, inciso III e art. 303, §1º.
Possibilidade de concurso de pessoas:
O crime é mais comum na modalidade individual.
Para que exista concurso de pessoas em coautoria é imprescindível que haja vínculo,
combinação, interação entre as pessoas, ou então estamos tratando de crimes
individuais. A coautoria precisa da divisão de tarefas.
Já o crime em participação ocorre através da instigação, auxílio e induzimento. Pode
ocorrer quando uma pessoa, que não pode prestar o socorro pessoalmente, instiga
alguém a não o prestar. Ex.: O marido vem dirigindo na estrada e falando pelo viva-voz
com a esposa, ao passar por um acidente, a mulher desestimula que ele preste socorro ao
acidentado.
Dois amigos em um clube, sendo um deles cadeirante, veem uma criança se afogar, ao
referir que irá ajudar a criança, o amigo é desestimulado pelo outro amigo cadeirante.
Se a pessoa que instiga possuir condições de prestar socorro não se configurará a
participação, posto que ela será autora ou coautora.

Sujeito Passivo:
Criança abandonada: é aquela que foi exposta ou deixada em algum lugar por seus
responsáveis, entregue à própria sorte, sem condições de prover a sua própria
subsistência, a que foi deixada ao desamparo
Criança extraviada: é aquela que perdeu o rumo de sua casa, está perdida, não sabe onde
mora, nem como chegar lá. Para efeitos penais deverá se considerar criança a pessoa
que não tem condições de auto- defesa por imaturidade. Mesmo que o ECA tenha
definido criança o menor de 12 anos, não é solução para o caso.
Pessoa inválida: é aquela que por si mesma não pode prover a própria segurança e
subsistência; é aquela que é indefesa. A invalidez pode advir das próprias condições
pessoas, congênitas ou adquiridas, ou decorrer de acidentes (velhice, enfermidade,
cegueira, paralisia, etc.)
Pessoa ferida: é aquela que sofreu um dano ou lesão em sua integridade corporal, de
forma acidental ou provocada. É fundamental que tanto na invalidez como no ferimento
causem incapacidade de autodefender-se.
Finalmente qualquer pessoa em grave e iminente perigo. É necessário que exista real
probabilidade do perigo, bem como sua gravidade, além de ser iminente. Pessoa se
afogando, prestes a cair em uma ribanceira, prestes a ser soterrada.

A oposição da vítima não afasta o dever geral de prestar socorro.

Elementos Objetivos do Tipo


Omissão do dever de prestar socorro direto: A primeira conduta presente no tipo é
Deixar de prestar assistência, portanto dever pessoal e direto. Assistência é toda forma
de auxílio ou socorro adequado. Neste caso o socorro depende da possibilidade e
capacidade individual, sempre que não ocorrer risco pessoal. Praticam aqueles que
recusam transportar pessoa ferida.
Se o socorro pode ser pessoal, não pode buscar na autoridade.
Omissão do dever de prestar socorro indireto: Não pedir a autoridade competente, o
pedido deve ser imediato e necessário, não se trata de alternativa da primeira figura
típica, o comportamento do agente é ditado pelas circunstâncias. A assistência indireta é
subsidiária e somente pode ser utilizada quando a direta não puder ser prestada sem
risco pessoal, ou quando o socorro da autoridade puder ser prestado com maior eficácia;
Autoridade pública é aquela que tem atribuição para intervir no caso. Bombeiro,
policial, SAMU etc.
Nos casos em que há risco pessoal na prestação de socorro, não se exige o socorro
direto, mas o sujeito deve buscar socorro de autoridade pública, salvo se para isto
também esteja exposto a risco pessoal (ex.: para chamar a autoridade deve enfrentar um
vendaval).
Não é qualquer risco que teria o condão de afastar a responsabilidade penal, somente
aquele sério, efetivo, real, concreto e principalmente que produza risco a integridade
física ou saúde do omitente.
Se o risco for patrimonial ou moral não exclui o delito!

Havendo risco pessoal será atípica a conduta.


Se houver risco para terceiro poderá configurar estado de necessidade (Art. 24)

Elementos Subjetivos:
Dolo de perigo: O elemento subjetivo deste crime é o dolo de perigo, representado pela
vontade de omitir com a consciência do perigo, isto é o dolo deve abranger a
consciência da concreta situação de perigo em que a vítima se encontra.
É obrigatório que o sujeito, ao omitir o socorro esteja consciente da situação de risco
iminente.
Pode o dolo ser direto ou eventual, com o agente assumindo o risco de manter o estado
de perigo preexistente.

Consumação e Tentativa
Consuma-se a omissão de socorro no lugar e no momento em que a atividade devida
tinha de ser realizada.
Tentativa: Tendo em vista ser um crime omissivo puro ou próprio não admite a forma
tentada, ou o agente age e presta socorro não havendo nenhum ilícito a ser punido, ou
deixa passar o momento em que deveria prestar socorro e o crime está consumado. É
um crime unissubsistente que não admite fracionamento.

Formas Majoradas
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão
corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.

Não há crime de omissão de socorro qualificado, na realidade, eventual resultado


decorrente da omissão como lesão ou morte, constitui circunstância de aumento de
pena, isto é, majorante, é necessário existir uma precisão terminológica.
As lesões leves são absorvidas pelo crime do caput.
Deve-se ficar atento para relação causal entre a inatividade e o resultado lesão ou
morte, pois deverá existir um vínculo para a majoração da pena.
Qualificação Doutrinária
Crime Omissivo próprio
Crime Instantâneo
Crime de Perigo
Crime Comum
Crime Simples
Crime Unissubsistente
Se configura por um único ato, não há possibilidade de tentativa.
Crime Unisubjetivo

Pena e Ação Penal


Alternativamente detenção de um a seis meses ou multa, podendo ser majorada de
metade de ocorrer lesão grave e triplicada se sobrevier a morte.
Competência do Juizado Especial Criminal.
Ação Penal Pública e incondicionada

MAUS-TRATOS - ART. 136


Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade,
guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia,
quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-
a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção
ou disciplina:

Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.

A ideia dos maus tratos é expor a perigo em razão de castigo alguém sob sua autoridade.
Ainda, na redação do artigo, percebe-se que o agente maltrata alguém que tem vínculo
com a vítima (crime próprio).

Objetividade Jurídica
A incolumidade da pessoa humana, são a vida e sua saúde que são protegidas pelo
legislador.
O poder familiar deixou de ser um direito pleno em favor dos genitores e no interesse de
quem o exerce, transformando-se em simples dever de proteção e direção, não mais do
que meio para satisfazer seus deveres, na medida em que o poder familiar é instituto em
benefício da família, assim deve ser exercido.
Tutela e Curatela seguem as mesmas orientações, evolutiva e humanitária do poder
familiar.
Reprime-se, pois, os meios de correção e disciplina que expõe a perigo.

Sujeitos do Delito:
Sujeito Ativo
Crime próprio, não é qualquer pessoa que pode cometer o crime de maus-tratos,
somente quem se encontre na condição especial de exercer autoridade, guarda ou
vigilância, portanto é um delito próprio exigindo do Agente uma legitimação especial,
seja de ordem pública ou particular.
Autoridade: é a inerente ao vínculo de poder de uma pessoa sobre a outra
Guarda: Assistência a pessoas que não prescindem dela
Vigilância: importa em zelo pela segurança pessoal, mas sem o rigor da guarda
Essa dependência deve relacionar-se com EDUCAÇÃO atividade destinada a
aperfeiçoar, ampliar e acabar a formação individual, sob o aspecto intelectual, moral e
técnico. ENSINO consiste em ministrar conhecimentos visando à formação básica,
fundo comum de cultura, ensino primário, fundamental ou superior TRATAMENTO
meios e cuidados na cura das moléstias ou prover a subsistência de uma pessoa ou
CUSTÓDIA detenção de uma pessoa para fim autorizado em lei (presos em relação ao
cárcere em que se encontram).

Não havendo esta relação entre o agente e a vítima pode configurar outra infração como
por Ex.: Art. 132 (crime de perigo genérico – perigo para a vida ou a saúde de outrem).

Normalmente figuram como sujeitos ativos deste crime pais, tutores, curadores,
professores, diretores de instituições de ensino, enfermeiros, carcereiros, entre outros.
Sujeito Passivo:
Somente aquelas pessoas que se encontrem subordinadas para fins de educação, ensino,
tratamento ou custódia.
A mulher, não pode ser vítima de maus tratos em relação ao marido, pois não há
qualquer vínculo de subordinação entre ambos, assim como não há entre pais e filhos
maiores de idade. Pode, portanto, ocorrer outro crime.
Acaso a esposa esteja enferma pode ser vítima de maus-tratos, mas, neste caso, a
configuração do crime não decorre da relação marido-mulher, mas da vulnerabilidade
em razão da enfermidade e impossibilidade de defesa.
Especial relação de subordinação!
As principais vítimas de maus-tratos são as crianças e os idosos.
Elementos Objetivos do Tipo
Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa
Várias são as condutas tipificadas no Art. 136, caput:
a) Privar de Alimentação
Para caracterizar os maus tratos é suficiente que esta privação seja relativa, pois se
ela for total pode caracterizar meio de execução de um crime de homicídio,
consumado ou tentado. Logicamente que pode ser perpetrado para iniciar de forma
absoluta, por um período razoável e depois volte a ser ministrada.
Não configura a supressão de sobremesa ou imposição de alguma dieta.

b) Privar de Cuidados Indispensáveis

Privar dos cuidados mínimos necessários a preservação da vida ou saúde da pessoa


que se trata. Higiene, agasalhos no inverno, atendimento médico. Esses cuidados
podem ser materiais, afetivos, morais, dependendo da idade, estado de saúde,
condições de tempo e local etc.

Ex.: privar os filhos da vacina (veja, não é crime de maus-tratos porque a criança
contraiu a doença, mas porque ficou exposta ao risco).

c) Sujeitar a Trabalho Excessivo ou Inadequado

Será excessivo o trabalho que ultrapassar o limite das forças ou das capacidades da
vítima ou que lhe causar cansaço além do suportável.

Inadequado é aquele trabalho incompatível com as condições físico-orgânicas da


vítima ou com suas aptidões pessoais e profissionais, de acordo com a idade, sexo,
compleição física etc. O referencial para tal avaliação é a própria vítima levando-se
em conta seu condicionamento físico, mental, força muscular, idade e sexo.
Trabalho de menores em prostíbulos.

Obs.: O patrão ordenar que um empregado de uma empresa carregue carga


excessiva não configura crime de maus-tratos, pois a relação de autoridade chefe-
empregado não se destina a educação, ensino, tratamento ou custódia.

Obs. 2: Acaso o filho menor de idade trabalhe na empresa do pai e esteja sujeito ao
trabalho excessivo ou inadequado, configurará maus-tratos, posto que há neste
cenário uma relação de guarda e autoridade do pai com relação ao filho.

d) Abusar de Meios Corretivos ou Disciplinares

Aplicar castigos excessivos que coloquem em risco a vida e a saúde da vítima, nas
hipóteses anteriores o agente poderia proceder por grosseria, irritabilidade, espirito
de malvadez, prepotência, ódio, intolerância, mas nesta última hipótese tem ele um
fim em si mesmo justo, porém o meio não justifica sua conduta e é isto que a lei
penal incrimina.
Obs.: O ato de corrigir o filho através de castigos corporais (bater com cinta para
educar) configura um crime de maus-tratos, não de lesão corporal, porque a
intenção do agente aqui não é o animus laedendi, mas aplicar castigo com intenção
educacional, mesmo que disto resultem lesões corporais.

O Crime de Tortura e o Abuso dos Meios de Correção e Disciplina


Art. 1º Constitui crime de tortura:
I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça,
causando-lhe sofrimento físico ou mental:
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de
terceira pessoa;
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com
emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou
mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter
preventivo.
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

A Lei de tortura prevê a prática como castigos corporais decorrentes de relação de


autoridade.

Dificuldade em separar quando estamos tratando de maus-tratos, simplesmente, e


quando estamos tratando de tortura:

Veja, o crime de maus-tratos é um crime de perigo e tortura é um crime de dano.


Nesta senda, quando o sujeito ativo pratica o crime de tortura ele possui a intenção
de causar dano e sofrimento físico ou mental à vítima através do castigo.

Nos maus-tratos predominará um aspecto de objetivo educacional, para o ensino. O


dolo não é o de dano!

A dificuldade é doutrinária e jurisprudencial, pois há necessidade de se aferir a


vontade do sujeito ativo.

Ex.: Pai usuário de drogas, irritado com a filha de um ano e seis meses que chorava
muito, praticava sessões de espancamento. Aqui, não se enxerga um objetivo
educacional, aplica-se, preferencialmente a tortura.

Diferenças:

I- No crime de tortura o agente age com dolo de dano, com a finalidade de causar
intenso sofrimento físico ou mental à vítima.

II- No crime de maus tratos o agente age com dolo de perigo, com a intenção de
expor a perigo a vida ou a saúde da vítima.

III- A motivação do crime de tortura é aplicar castigo pessoal, no crime de maus


tratos para fins de educação, ensino, tratamento ou custódia.

O Estatuto do Idoso
O Lei 10.741/03 prevê um crime de maus-tratos específico para o idoso:

Art. 99. Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do idoso,


submetendo-o a condições desumanas ou degradantes ou privando-o de
alimentos e cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou
sujeitando-o a trabalho excessivo ou inadequado:

Pena – detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e multa.

Prevalece O Princípio Da Especialidade

Todavia, quando a finalidade do agente é para educação, ensino ou tratamento,


pode-se aplicar o Art. 136 (maus-tratos). Quando o caso concreto foge desta
hipótese aplicar-se-á o crime do Art. 99 do Estatuto do Idoso.

Elementos Subjetivos

Dolo De Perigo

Vontade livre e consciente de maltratar, é indispensável a consciência do abuso


cometido senão estamos diante do erro de tipo.

Para alguns autores é necessário que exista sempre o animus corrigendi ou


disciplinandi. Para outros basta ter consciência de estar abusando e querendo expor
ao perigo ou assumindo o risco de expor ao perigo.

Se houver animus necandi ou laedendi será outro delito.

Consumação e Tentativa

Este delito consuma-se com a efetiva exposição ao perigo, sendo desnecessário


qualquer resultado material.

Sendo um delito de ação múltipla, algumas ações se concretizam em um único ato


e sua repetição dão lugar ao crime continuado (espancar com o objetivo de corrigir
comportamento, expor a trabalho excessivo), outras exigem habitualidade e,
portanto, sua consumação depende de práticas reiteradas, como no caso de privação
de alimentos e cuidados indispensáveis.

Nas ações que são plurissubsistentes é possível se falar na tentativa (conatus). Ex.:
pai prestes a amarrar o filho e amordaçá-lo e é surpreendido.

Quando depende de condutas reiteradas é difícil se falar em tentativa com somente


uma conduta. Ex.: não alimento em uma noite.
Formas Qualificadas
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

O evento mais grave precisa ser previsível, pois senão estaríamos tratando de
responsabilidade objetiva.

Os resultados de que se tratam as formas qualificadas são preterdolosos. O sujeito


quis expor a vítima a risco de vida ou saúde, todavia, não queria o resultado
gravoso, que é punido a título de culpa.

Forma Majorada
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa
menor de 14 (catorze) anos.

É preciso que se conheça essa circunstância. Será também preciso anexar ao processo
cópia do documento de identidade da vítima, de acordo com o Art. 155, §ú do CPP.

Essa majorante foi acrescentada pelo ECA.

Qualificação Doutrinária

Crime Próprio

Crime Formal

Crime de Perigo Concreto


Necessidade de se provar o risco

Crime de Ação múltipla ou conteúdo variado

Crime Permanente x Crime Instantâneo


Quando se tratar de privação de alimentos ou cuidados indispensáveis e sujeição ao
trabalho excessivo, estamos diante de crime permanente. Quando se tratar de abuso de
correção ou trabalho excessivo será crime instantâneo, mas a prática também pode se
dar de forma permanente.

Crime Simples
Atinge uma objetividade jurídica, sendo esta a exposição da vida e da saúde a risco.

Pena e Ação Penal

Detenção de dois meses a um ano ou multa;

Caso resulte lesão grave: pena de reclusão de 1 a 4;

Caso resulte morte: reclusão de 4 a 12;


Majorante 1/3 se a vítima for menor de 14 anos.

Ação Penal Pública Incondicionada.

ART. 137 – RIXA

Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores:


Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.

É um crime plurissubjetivo, onde se exige o concurso, é necessária a participação de


mais de duas pessoas. O legislador considerou como crime a simples participação no
evento, por isto é um crime de perigo abstrato – não exige a comprovação do perigo
efetivo.

Conceito
Rixa é a briga ou uma contenda entre três ou mais pessoas, acompanhadas de vias de
fato ou violências físicas recíprocas. Exige, no mínimo a participação de três pessoas
lutando entre si.
Caracteriza-se pelo tumulto, de modo que cada sujeito age por si, mesmo contra
qualquer um dos contendores - Briga desordenada. Assim, os agentes são ao mesmo
tempo ativos e passivos, executam o crime e sofrem as agressões.
Nesse contexto, é difícil identificar quem começou a agressão.
É um crime autônomo que só absorve as vias de fato e a ameaça, entendidos como
subsidiários à rixa. Se houver outros delitos (lesão, morte etc.) o agente responde por
eles em concurso material com a rixa.

Objetividade Jurídica
Protege a saúde ou a vida da pessoa humana.
Embora seja um crime de perigo ele também protege essas objetividades jurídicas.

Sujeitos do Delito
A rixa é um crime de perigo abstrato (não necessita da comprovação do perigo efetivo),
plurissubjetivo – de concurso necessário

Só há delito quando três ou mais pessoas se agridem reciprocamente, portanto, os


rixosos são ao mesmo tempo sujeitos ativos e sujeitos passivos.

No número mínimo exigido para a existência da rixa não importa que algum dos
sujeitos seja inimputável.

Também se configura rixa se um dos participantes não for identificado.

Para completar o número necessário não se leva em conta os que vão separar os
contendores (Art. 137, parte final).

Elementos objetivos do Tipo


O núcleo do tipo é o verbo participar = tomar parte, contribuir de alguma forma.
Portanto, para ser responsabilizado por rixa, basta que o agente participe dos fatos a
qualquer momento pouco importando que chegue depois de iniciada a contenda ou saia
antes de terminada.
A participação pode ser:
Material: ocorre por meio de vias de fato ou lesão corporal (empurrar, socos, pontapés,
puxar cabelo);
Moral: Induzimento ou instigação (permanece fora da luta, mas instiga os rixosos a
participar das agressões.

O sujeito pode agir:


1º - participando materialmente do fato, por intermédio de violência física;
2º - por meio de participação moral, nas modalidades de induzimento e instigação. Ex.:
Sujeito permanece fora da luta, instigando, induzindo ou auxiliando.

Não é imprescindível o corpo a corpo, pode participar atirando objetos, por exemplo, ou
apagando a luz.

A rixa pode surgir de duas formas:


I- Improviso
A rixa surge subitamente, sem qualquer combinação, em face de uma discussão violenta
ou outro gatilho gerador.
II- Ex Proposito
Nesta hipótese, a rixa é combinada por três ou mais pessoas, é proposital, ou seja, os
sujeitos se organizam para brigarem desordenadamente. A maioria dos autores não
exige o requisito da subtaneidade (súbito e repentino), para a jurisprudência, porém,
esta característica é indispensável, o que culmina, na prática, na exclusão da rixa ex
proposito pela jurisprudência.

Apesar de ser proposital, não pode haver um grupo contra outro (grupos antagônicos)
para estar caracterizada a rixa, sua característica essencial é as agressões sem alvo
específico. Acaso dois grupos antagônicos se combatam estaremos tratando de lesões
corporais ou homicídio ou tentativa, em concurso de pessoas - coautoria.

Se houver uma lesão corporal ou morte no crime de rixa?


Apenas a pessoa que a causou responderá, porque o crime é apenas participar, não
abrange possíveis resultados. Não há que se falar aqui em concurso de pessoas, pois não
há divisão de tarefas.

Para Damásio, é irrelevante a circunstância da imprevisão do fato ou a rixa preordenada.


Se no entrevero, as condutas são desordenadas, de modo que uns venham lutar contra
todos, não há como deixar de reconhecer o delito.

O resultado do crime de risco é o perigo de dano, que neste caso é presumido, pois se
trata de perigo abstrato. Independente de qualquer resultado da rixa já estará
configurado o delito com a simples participação.

Elementos Subjetivos do Tipo


É o dolo de perigo -animus rixandi.
Não há rixa culposa, o dolo pode ser direto ou eventual. Se o animus for outro,
responderá por outro delito.
Consumação e Tentativa
Consuma-se a rixa com a prática das vias de fato ou violências recíprocas, instante em
que há a produção do resultado, que é o perigo abstrato de dano.

Com relação à tentativa existe divergência:


Damásio, Noronha e Fragoso admitem a tentativa, tendo em vista que aceitam as duas
modalidades de rixa ex proposito e ex improviso. Podendo ser a rixa preordenada
poderá existir tentativa se ela não ocorrer por intervenção de terceiros.

Mirabete não admite a tentativa porque ele argumenta que a conduta e o evento se
exaurem simultaneamente, no exemplo da preparação indica atos preparatórios ou
tentativa de lesões corporais.

Como a maioria da jurisprudência acha indispensável a subtaneidade para


configurar o delito entendemos inadmissível a tentativa.

Rixa e Legítima Defesa


Controvertida é a possibilidade da existência da legítima defesa do rixento, posto que
todos os participantes são agentes passivos e agentes ativos.

Aquele que participa de rixa não pode alegar legítima defesa por ela ser uma
atividade criminosa.

Manzini e Weltzel a reconhecem no seguinte exemplo: “durante uma rixa, um dos


contendores pega um revólver e tenta matar ou provocar uma lesão em outro, poderá
haver reação deste e este pode alegar legítima defesa”.
Nesse caso, o delito de rixa já havia se consumado, e o que ocorrerá é a legítima defesa
em relação ao homicídio, pois o agressor responderá por rixa qualificada se sobrevier a
lesão ou morte.
Caberá a legítima defesa na rixa, alegada por aqueles que estão de fora e entram apenas
para defender direito seu ou de outrem, inexiste a legítima defesa dos co-rixantes. Este é
o entendimento da jurisprudência “reconhecer o direito de legítima defesa em favor de
uns, para absolve-los, condenando apenas alguns dos participantes, é desfigurar a
feição jurídica do delito de rixa.”

Formas Qualificadas
Veja, estamos tratando aqui do Art. 137, §ú:
Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave,
aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses
a dois anos.

Se ocorre lesão grave ou morte, qualifica-se o delito para todos os participantes,


inclusive para o que sofreu a lesão.
As qualificadoras são crimes preterdolosos em que o 1º delito é punido a título de dolo
enquanto resultado qualificador é punido a título de culpa.

Com relação aos que forem identificados por terem praticado a lesão grave ou morte?
Entendem a maioria dos doutrinadores que responde ele por rixa qualificada e lesão
grave/homicídio em concurso material e os outros respondem por rixa qualificada.
Segundo Damásio, o agente vai responder por rixa simples em concurso com a lesão
grave/homicídio pois, ao contrário haveria um bis in idem na medida em que o crime de
lesão grave absorve o da qualificadora.
Todavia, ressalta-se que a qualificadora não foi construída para punir o resultado da
lesão grave ou morte, mas para punir um crime de perigo mais grave!

- No caso de haver lesões leves não qualificam o crime, somente haverá concurso de
lesão leve com a rixa se descobrir-se a autoria das mesmas.

- Não sendo possível identificar o autor da lesão ou da morte, todos responderão pela
forma qualificada.

- É pacífico o entendimento de que também responde pela qualificadora aquele que


sofreu a lesão grave.

- A qualificadora é atribuída àquele que já deixou o local da rixa quando da ocorrência


da lesão grave ou morte. Alguns entendem que responde somente pelo caput.

- Já o mesmo não ocorre com aquele que intervém posteriormente aos resultados morte
ou lesão grave, pois não há nexo causal entre a sua atuação e tais eventos.

- A rixa é qualificada se um estranho a ela mata um dos rixosos quando de sua


intervenção para separá-los, pois a morte tem nexo causal com o fato.

- Ocorrerá a qualificadora tano se a morte for dolosa ou culposa.

- Existe apenas um crime mesmo ocorrendo várias mortes ou lesões graves, o que
ocorrerá é uma análise do julgador no momento de fixar a pena (Art. 59).

Qualificação Doutrinária
Crime de Perigo Abstrato

Crime comissivo
Todavia, pode ser praticado na modalidade comissivo por omissão (Ex.: carcerário
presencia uma rixa dentro do presídio e não faz nada para impedir – participação por
omissão)

Crime Plurrisubjetivo
Concurso de pessoas necessário

Crime Simples

Crime Instantâneo

Crime Comum

Pena e Ação Penal


Caput – de 15 dias a dois meses, ou multa
§ú – 6 meses a dois anos
Competem ambos os crimes ao Juizado Especial Criminal
Além do crime de dano, se identificado o autor

Ação penal pública incondicionada.

PENAL III
CRIMES CONTRA A HONRA
Crimes Formais

Os crimes contra a honra estão previstos nos artigos 138, 139 e 140 do Código Penal e
consistem nas práticas de injúria, calúnia e difamação.

A honra é um bem jurídico protegido pela Constituição Federal, quando protege a


privacidade e intimidade. É o conjunto de atributos morais e intelectuais referentes a
uma pessoa que o fazem merecedor de apreço no convívio social. Também é o conjunto
de predicados ou condições da pessoa que lhe conferem consideração social e estima
própria.

Divide-se em honra objetiva e subjetiva:


Honra Subjetiva é o sentimento de cada um a respeito de seus atributos psíquicos,
intelectuais e morais. É aquilo que cada um pensa a respeito de si mesmo em relação a
tais atributos.
Honra Objetiva é a reputação, aquilo que os outros pensam a respeito do cidadão no
tocante a seus atributos físicos, intelectuais e morais. É o sentimento alheio sobre nossos
tributos.

A doutrina ainda distingue honra-dignidade e honra-decoro:


Honra-dignidade: é o conjunto de atributos morais do cidadão, de honestidade, de
bons costumes. Ex.: cafajeste
Honra-decoro: é o conjunto de atributos físicos e intelectuais da pessoa. Ex.:
analfabeto, sovina, burro, ignorante.

ART. 138 – CALÚNIA

Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como


crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

Conceito
Imputa-se a alguém um fato definido como crime, sendo esse fato falso ou não
comprovado. (Ex.: o prefeito daquela cidade é ladrão, praticou crime de peculato). É um
crime de dano a honra objetiva.

Objetividade Jurídica
É a incolumidade moral, a integridade do ser humano, no caso a honra objetiva do
sujeito passivo (reputação).

Sujeitos do Delito
Sujeito Ativo: a calúnia é crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa.
Sujeito Passivo: trata-se de crime cuja vítima precisa ser imputada de fato criminoso.
Neste sentido, surgem algumas dúvidas com relação ao sujeito passivo.

A pessoa jurídica pode ser sujeito passivo do crime de calúnia?


A Constituição Federal, no Art. 173, §5º e Art. 225, §3º, estabelecem a responsabilidade
civil e penal da pessoa jurídica em relação a crimes contra a ordem econômica e
financeira, a economia popular e o meio ambiente. Em face disso, torna-se possível a
pessoa jurídica ser sujeito passivo do crime de calúnia, pelo menos em relação a esses
crimes.

Os doentes mentais e os menores podem ser sujeitos passivos do crime de calúnia?


A doutrina tem discutido se os doentes mentais e os menores podem ser caluniados. Isto
porque a calúnia é falsa imputação de prática de crime. Se o crime é um fato típico,
antijurídico e culpável, e sendo os doentes mentais e menores inimputáveis, fica
excluída a possibilidade de haver crime.
Se a calúnia é falsa imputação de crime e tais pessoas não podem praticar crime, não
podem ser sujeitos passivo de calúnia.

Damásio entende que a culpabilidade não é requisito do crime, mas pressuposto de


pena. Para ele, o crime é típico e antijurídico. Diante disso, o doente mental e o menor
praticam crime, embora não sejam culpáveis, tanto que o Art. 26 diz “isento de pena”,
por isso, para ele, os doentes mentais e os menores podem ser caluniados.

Mirabete: tendo em vista que a lei menciona “fato definido como crime” não a “prática
de crime” é possível o cometimento de calúnia contra menor ou alienado mental que
possuem algum entendimento.

Noronha: entende que o menor e o alienado mental não podem ser sujeitos passivos do
delito pois não podem praticar crimes, neste caso o sujeito responderia por difamação e
não por calúnia.

Em resumo, têm-se entendido que os menores e os doentes mentais podem, sim,


serem vítimas de calúnia. Primeiro porque, efetivamente, entendemos que o crime é
um fato típico e antijurídico e a culpabilidade realmente é um pressuposto da pena, não
um elemento do crime. Segundo que o Código Penal nos diz que a calúnia é imputar a
alguém fato definido como crime, assim, basta que esteja previsto na Lei.

Elementos Objetivos do Crime


A conduta típica é imputar, ou seja, atribuir a alguém a prática do ilícito, é afirmar
falsamente que o sujeito praticou determinado delito. Há a necessidade de uma
imputação de um fato determinado, ou seja, exige a narrativa de um fato, não basta de
que seja um xingamento, pouco importando que este xingamento consista em um crime
ou apenas uma depreciação.
Ex.: se eu chamo alguém de ladrão, traficante ou de estuprador, não estarei cometendo
difamação, posto que não se trata de um fato determinado, logo, estará caracterizada a
injúria. Todavia, se eu digo que João estuprou Maria, que José vende droga na casa dele
ou que Antônia pegou dinheiro escondido da bolsa de sua amiga, aí sim, configura
difamação, (desde que o fato não seja comprovado!!).
A imputação falsa de contravenção não constitui calúnia (ex.: fulano possui caça-níquel,
ciclano pratica jogo do bicho), já que o tipo se refere exclusivamente a crime, mas pode
constituir o delito de difamação quando ofende a dignidade e o decoro da vítima.

Portanto, o tipo é composto por três elementos:


a) A imputação da prática de determinado fato;
b) A característica de ser esse fato um crime (típico);
c) A falsidade da imputação.

Não se exige que o agente utilize vocábulos técnicos e jurídicos ao descrever a conduta
(ex.: se disser que fulano roubou, querendo dizer que furtou ou cometeu peculato, da
mesma forma estará configurada a calúnia).

A acusação caluniosa pode ser feita na ausência do ofendido e admite vários meios de
execução: palavra, escrita, desenhos, gestos (mímica), memes etc.

Se o agente imputa à vítima fato criminoso sobre o qual a vítima responde ação penal, o
processo de calúnia será suspenso até o julgamento do fato criminoso.

Elementos Subjetivos
Indispensável para a ocorrência do delito é o dolo – vontade livre e consciente de atacar
a honra da vítima pelos atributos físicos, morais e intelectuais (a reputação) que a vítima
tem.

Pode responder por dolo direto ou eventual: ter certeza da falsidade do fato criminoso
ou ter dúvidas do fato criminoso

Para alguns autores basta o dolo de dano (vontade livre e consciente de atribuir a outrem
fato definido como crime); mas para outros autores é necessário que os crimes contra a
honra possuam dois elementos subjetivos:

1º - o dolo próprio do crime: dolo de dano à honra objetiva;


2º - o elemento subjetivo do injusto: intuito de ofender a honra alheia (animus
injuriandi vel diffamandi)
Vontade de atribuir o fato criminoso a alguém + vontade de que isso seja um ataque à
honra da pessoa.

Esse segundo dolo tem lugar pois pode ocorrer que a vontade do sujeito ao imputar o
fato criminoso seja outra que não atingir a honra da vítima, veja:
Animus narrandi: descrição sem vontade tendenciosa do que viu e ouviu. Ex.:
testemunha.
Animus criticandi: quando a vontade do autor se dirige à crítica justa e sincera, com o
propósito de apenas ajudar o criticado, como ocorre nos assuntos literários, artísticos,
científicos etc.;
Animus defendendi: a conduta defensiva não constitui crime. Se, para defender um
direito se necessitar cometer um fato que configura, em tese, delito contra a honra, nessa
hipótese não há crime por ausência de ilicitude (defender-se em processo);
Animus jocandi: a intenção de gracejar desacompanhada da vontade de ofender, exclui
os elementos subjetivos próprios dos crimes contra a honra;
Animus corrigendi: a vontade de corrigir, presente na admoestação dos pais ou
responsáveis a seus filhos e protegidos constitui exercício regular de direito.

Consumação e Tentativa
Consuma-se o crime quando qualquer pessoa, um terceiro, toma conhecimento da
imputação, ou seja, quando ela é ouvida, lida ou percebida por pessoa diversa do sujeito
passivo. Portanto, é um crime formal, se consuma no momento em que foi praticado,
não importando seus resultados materiais.

Como é um crime que tem por objetivo proteger a reputação (honra objetiva), não se
configura quando apenas a própria vítima toma conhecimento da imputação do fato,
mas basta que apenas um terceiro tome ciência para a configuração da calúnia.

É um crime formal e, portanto, não se exige que a vítima se sinta ofendida.


O ingresso de ação penal é um indicativo do sentimento de ofensa da vítima, posto que
a ação é penal privada, todavia, isto não importa para a caracterização do crime.

A calúnia verbal não admite a tentativa, mas na calúnia escrita poderá ocorrer se for
extraviada. Quando o crime se perfaz por um único ato (crime unissubsistente) não há
tentativa. Nesta perspectiva, a calúnia por escrito seria um delito plurissubsistente que
admite a tentativa.
Ex.: o agente envia bilhete a terceiro contendo a calúnia, todavia, este bilhete se extravia
e chega diretamente a vítima caluniada, assim, estamos diante de tentativa de calúnia.

Propalação e Divulgação de Calúnia


Art. 138, §1º
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala
ou divulga.

São comportamentos daquele sujeito que não propriamente elaborou a calúnia, mas
acabou divulgando-a. Pune-se, portanto, não só o autor original da falsa imputação, mas
também aquele que repete o que ouviu.

Apenas é punível em dolo direto: Não responde pelo Art. 138, §1º quem atua com dolo
eventual, posto que é necessário saber que o fato é inverídico, não basta que a pessoa
tenha dúvidas acerca da veracidade dos fatos. Já para o crime do caput o sujeito
responderá tanto por dolo direto, como por dolo eventual.

Em qualquer caso, basta que terceiro tome conhecimento do fato e estará consumado o
delito nestas modalidades.

Calúnia contra os mortos


Art. 138, §2º
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.

A calúnia é o único dos crimes contra a honra que apresenta a possibilidade de se punir
a calúnia contra os mortos.

Evidentemente, o morto não é o sujeito passivo do crime. São, portanto, os familiares da


pessoa aqueles titulares da objetividade, posto que a calúnia ao morto reflete na honra
dos parentes sobrevivos.
Segundo o Art. 100, §4º do Código penal diz que são o cônjuge, o ascendente, o
descendente ou o irmão que possuem direito de promover a queixa.

Não se aplica este dispositivo extensivamente, desta forma, inexiste difamação ou


injúria contra a memória dos mortos.

Prova da verdade
Art. 138, §3º

§ 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo:


I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi
condenado por sentença irrecorrível;

A calúnia é a imputação de um fato criminoso, portanto, há todo um interesse do Estado


de que se consiga provar que a prática criminosa efetivamente aconteceu. Assim, é
interessante que se for possível a prova a “vítima” da suposta calúnia seja
responsabilizada. Neste ínterim, a regra geral é a possibilidade da prova da verdade, o
que descaracteriza o crime de calúnia, todavia, há três exceções em que não se admite a
prova da verdade.

Art. 138, §3º, I – Se constituindo o fato imputado crime de ação privada, o


ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível

Nesse caso, a objetividade jurídica do crime corresponde ao interesse vinculado


exclusivamente ao particular, pelo que o Estado lhe outorga a titularidade da ação penal.
Significa que o titular da ação penal não é o Estado, como ocorre na ação penal pública,
mas o sujeito passivo ou seu representante legal, cabendo a ele movimentá-la. Ex.:
fraude à execução – Art. 179.

Portanto, não cabe ao agente da calúnia provar o fato criminoso para que o autor do
crime seja condenado, posto que não é interessado legítimo e estaria violando o
princípio da disponibilidade da ação privada. Assim, terceira pessoa não pode, de forma
alguma, pretender a prova do crime.

Ex.: Suponha que Pedro caluniou Antônio, imputando-lhe falsamente crime de fraude à
execução cometido contra Maria. Processado Pedro na ação penal por crime de calúnia,
não pode arguir a exceção da verdade, pretendendo provar que realmente Pedro praticou
fraude à execução prejudicando Maria. Se a vítima preferiu silenciar a respeito da
fraude, Pedro não poderá provar a prática do crime, sob pena de anular o princípio da
disponibilidade da ação penal privada. Todavia, se Antônio já tivesse sofrido sentença
condenatória irrecorrível pela prática de fraude à execução, admitir-se-ia a exceção da
verdade.

Obs.: Bitencourt defende que não se pode impedir em nenhum caso que o agente
busque, na instrução, com a oitiva de testemunhas, provar que o que ele dizia era
verdade. O não se admite, aqui, segundo ele, é apenas a exceção da verdade (Art. 515,
CPC) – que é, na verdade, uma peça em apartado, como a exceção de pré-executividade.

Art. 138, §3º, II – Se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do


Art. 141
O segundo caso em que não se admite a prova da verdade é o das indicadas no nº I do
Art. 141 – Presidente da República e chefe de governo estrangeiro. Assim, estando o
sujeito sendo processado por calúnia contra essas pessoas não pode provar a verdade.

O fundamento do CP é impedir que terceiros interfiram no exercício do cargo, já com


relação a chefe de governo estrangeiro constitui um respeito a autoridade estrangeira e
até mesmo à soberania de outra nação.

Todavia, ainda se refere um impedimento de ordem processual, tendo em vista que a


exceção da verdade é um processo autônomo e, portanto, caso dirigida contra o
presidente, violaria sua prerrogativa de foro, vez que ele não pode ser réu na justiça
comum.

Se a calúnia contra o Presidente da República tem motivação política, o sujeito


responderá por crime contra a segurança nacional (Art. 26 da Lei 7.170/83). Se, por
motivo particular, responde por crime comum, embora incabível a prova da verdade.

Art. 138, §3º, III – Se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi
absolvido por sentença irrecorrível

Bastante óbvia a justificativa deste inciso III, posto que se estaria ferindo o princípio da
coisa julgada. Não se pode reverter a sentença absolutória.

Independentemente se o crime foi de ação pública ou de ação privada, acaso tenha


havido sentença absolutória irrecorrível, aplica-se o Art. 138, §3º, III!

Qualificação Doutrinária

Crime formal
Se consuma no momento em que o agente pratica a conduta

Crime Instantâneo

Crime Unissubjetivo

Crime Simples
A honra é o único bem tutelado

Crime comissivo
Não existe calúnia na forma omissiva

Crime Unissubsistente ou Plurissubsistente


Quando unissubsistente não permite a tentativa. A necessidade de mais atos executórios
(plurissubsistência) permite a forma tentada.

Pena e Ação Penal


Detenção de 6 meses a 2 anos e multa
Ação Penal Privada
ART. 139 – DIFAMAÇÃO

Art. 139 – Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação


Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa

Conceito
Difamação é o fato de atribuir a outrem a prática de conduta ofensiva a sua reputação.
Mácula à honra objetiva, ao que os outros pensam dos atributos físicos, morais e
intelectuais do sujeito.

Objetividade jurídica
O legislador protege a honra objetiva (reputação – conceito social).

Diferença Calúnia, Difamação e Injúria


Enquanto na calúnia existe imputação falsa de fato definido como crime, na difamação
o fato é meramente objetivo, não importando se verdadeiro ou falso.

Na injúria o fato versa sobre a qualidade negativa da vítima, ofendendo-lhe a honra


subjetiva. Na difamação há ofensa à reputação do ofendido.

Sujeitos do Delito
Sujeito Ativo
Qualquer pessoa, pois trata-se de crime comum.

Sujeito Passivo
Pode ser qualquer pessoa.
Com relação aos doentes mentais e aos menores é tranquila a posição de que podem ser
sujeitos passivos do crime de difamação, posto que possuem reputação social.
Ex.: dizer que um doente mental praticou atos indecorosos.

Também a pessoa jurídica pode ser vítima de difamação.

Elementos Objetivos do Tipo


O núcleo do tipo é o verbo imputar, atribuir. Imputação de fato desonroso, deve também
ser fato concreto, específico, embora não se exija que o agente descreva com minúcias o
fato, basta que viole a vida, intimidade e privacidade do sujeito.
Ex.: mulher solteira ter relações com homem casado, certa pessoa pratica incesto com a
irmã

Inclui-se no âmbito da difamação a imputação da prática de contravenção.

Não é necessário que a imputação seja falsa. Poderá mesmo ser verdadeira desde
que desabone o sujeito passivo

Não se admite a prova da verdade, ela é uma exceção no crime de difamação.

Com relação à propalação e divulgação a lei silenciou a respeito.

Elementos Subjetivos do Tipo


Da mesma maneira que no crime de calúnia, exige-se aqui o dolo de dano e o elemento
subjetivo do injusto animus diffamandi, que “se expressa no cunho de seriedade que o
sujeito imprime à sua conduta”.
Inexiste o delito quando o sujeito atua com animus jocandi, narrandi, defendendi, etc.

Não se exige neste caso que o sujeito tenha consciência da falsidade da imputação,
assim, o erro a respeito do fato relatado não elide a responsabilidade do agente.

Consumação e Tentativa
Consuma-se o crime com o conhecimento por qualquer terceiro da imputação, não se
exige que o destinatário seja o pretendido.
Admissível a tentativa quando não praticado oralmente.

Art. 139, §ú – A Exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário


público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções

Para o crime de difamação se consumar não se exige a falsidade ou não da informação,


excepcionalmente o legislador permite a prova da verdade quando se tratar de
imputação de fato ofensivo a funcionário público, desde que haja relação causal entre a
ofensa e o exercício de suas funções.

O fundamento reside no fato de resguardar a honorabilidade do exercício da função


pública. Se o sujeito atribui a funcionário público a prática de atos indecorosos durante
as funções é admissível a prova da verdade.
Ex.: Professor que leciona embriagado.

Se essa prática é na vida particular, não se admite a prova da verdade. O CP exige a


contemporaneidade entre a prova da verdade e o exercício da função.

Qualificação Doutrinária

Crime formal
Não se exige qualquer alteração no mundo dos fenômenos, o resultado é simplesmente a
mácula da honra.

Crime instantâneo

Crime Simples
Atinge um bem jurídico: a honra, nesse caso, objetiva.

Crime comum

Crime comissivo

Crime plurissubsistente ou unissubsistente


Quando plurissubsistente admite a tentativa. Caso contrário, não existe a forma tentada.

Pena e Ação Penal


Detenção de 03 meses a 1 ano, e multa
Ação Penal Privada e Juizado Especial Criminal
ART. 140 – INJÚRIA
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa

Conceito
Injúria é a atribuição depreciativa de qualidade negativa a pessoa e, portanto, atinge a
honra subjetiva. Na sua essência é a injúria uma manifestação de desrespeito e
desprezo, tem a característica de um xingamento.

Pode atingir a honra-dignidade ou a honra-decoro:


Ofende a honra-dignidade: atributos morais.
Ex.: estelionatário, vigarista, desonesto.

Ofende a honra-decoro: atributos físicos e intelectuais.


Ex.: analfabeto, burro, aleijado.

Objetividade Jurídica
Proteger a integridade moral do ofendido, mas ao contrário da calúnia e da difamação,
na injúria se está protegendo a honra subjetiva (a estima própria – aquilo que eu penso
dos meus atributos físicos, morais e intelectuais).

Por isso se consuma quando a vítima toma conhecimento do crime.

Sujeitos do Delito
É um crime comum.

Sujeito Ativo:
Qualquer pessoa pode cometer o crime de injúria.

Sujeito Passivo:
Qualquer pessoa
A doutrina, no entanto, faz uma ressalva acerca daqueles que não possuem consciência
de dignidade e de decoro, como os menores de tenra idade e os doentes mentais, no
modelo dos totalmente inimputáveis. Neste caso não há que se falar em injúria, posto
que não há honra subjetiva a ser maculada.

A não ser que a ofensa seja reflexa, a exemplo chamar um recém-nascido de filho da
puta, consequentemente ofendendo a mãe da criança.

Afigura-se impossível a ocorrência de injúria contra pessoa jurídica, tendo em


vista não possuir honra subjetiva, nada impedindo que se atinja os responsáveis.

Elementos objetivos do Tipo:


Injuriar ofende a honra subjetiva, atingindo a dignidade (ex.: ladrão, estelionatário) ou o
decoro (estúpido, ignorante, grosseiro). Não há na injúria a imputação de fatos precisos
e determinados, refere-se à manifestação de menosprezo mencionando-se vícios e
defeitos da vítima.
Pode ser praticado por vários meios: por escrito, desenhos, gestos, comportamentos,
oralmente, etc.
Ex.: entregar uma banana a alguém, fazer gestos indecorosos, etc.

Não protege a lei o amor próprio em demasia, a autoestima exacerbada.

A injúria não admite a exceção da verdade, não sendo possível provar que o que disse
corresponde à verdade. Não se pode provar que a vítima é ignorante, grosseira, etc pois
não se autoriza que a pessoa seja depreciada.

Elementos Subjetivos do Tipo


O dolo da injúria, como nos demais crimes deve ser o dolo de dano, mais o elemento
subjetivo do injusto (animus injuriandi).

Consumação e Tentativa
Consuma-se o crime quando o sujeito passivo, ou seja, a vítima, toma conhecimento do
insulto, não sendo necessário que o mesmo se sinta ofendido nem que seja na sua
presença.
A justificativa para não haver a aferição do sentimento de ofensa pela vítima é a
característica de o crime violar a honra – difícil aferição – mas, também, por ser de
Ação Penal Privada.

Como nos demais crimes contra a honra, a forma tentada é admitida na forma escrita,
apenas. Todavia, na injúria em específico é especialmente improvável que a forma
tentada ocorra, posto que a vítima precisa tomar conhecimento da ofensa.

A doutrina identifica apenas um caso de tentativa de injúria, que é aquele em que uma
pessoa envia bilhete contendo injúria contra menor de idade, com capacidade de
compreensão, e seu representante toma conhecimento, ingressando com a ação penal
privada. Neste caso, se configuraria a tentativa de injúria, vez que a ação procedeu
mesmo que o menor não tenha tomado ciência da ofensa, posto que o bilhete com
conteúdo da ofensa foi extraviado e chegou primeiro ao representante legal.

Art. 140, §1º - Perdão Judicial

§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:


I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;
II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.

Inciso I – Quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a


injúria:
Neste caso, a vítima, de maneira reprovável, provocou diretamente a injúria, sendo que
esta provocação deve ser feita diretamente, face a face, ou seja, deve haver
contemporaneidade.
Simplesmente, o magistrado deve entender de a injúria decorreu de uma provocação
reprovável que justificou a injúria.
Ex.: assobio para a mulher do outro

Não se trata de uma revidação ou compensação, sendo que a provocação não pode
ultrapassar os seus limites, pois se se tratasse de uma agressão, se poderia aplicar a
legítima defesa e, não mais o Art. 140, §1º, I.
Inciso II – No caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria:
O fundamento está em que, havendo ofensas recíprocas, já houve punição.
Deve haver uma sucessão instantânea das injúrias (imediata), sendo possível a retorsão
de injúrias escritas. Ex.: mensagens de whatsapp.

Uma vez reconhecidas a provocação ou retorsão o juiz não pode deixar de aplicar o
perdão, assim, é obrigado a deixar de aplicar a pena, o que consiste na posição da
maioria da jurisprudência.

A retorsão não pode consistir em uma calúnia ou difamação, pois se tratam de


outros crimes e, portanto, não seriam aproveitadas pelo perdão judicial.

Art. 140, §2º - Injúria Real

§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza


ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena
correspondente à violência.

Injúria real é a que consiste em violência ou vias de fato, que pela sua natureza se
consideram aviltantes, isto é, humilhante.

Pode ser cometido por violência que se entende a lesão corporal (todas as formas) ou
por vias de fato (comportamento agressivo com a vítima, desde que não resulte lesão. O
objetivo é punir não as agressões, mas as humilhações dela advindas.

Quando o sujeito comete injúria real empregando vias de fato estas são absorvidas pelo
delito de maior gravidade.
Ex.: atirar ovos, gelo, dar palmadas, cortar o cabelo, cavalgar o ofendido, amarrar
alguém por uma coleira (trotes).

Quando existe a violência (lesão – ex.: chicotadas, marcação) o sujeito responde por
dois crimes em concurso material: injúria e lesão corporal. Trata-se da hipótese de
concurso formal em que se considera na fixação da pena, a regra do concurso material
(CP, art. 70, 2ª parte). Hipótese em que há uma ação, mas dois crimes, pois o legislador
optou por punir os resultados da agressão, mais a intenção de humilhar.

Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois


ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas
cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso,
de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente,
se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios
autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.

A injúria real absorve as vias de fato, mas quando há lesão corporal, existirá
concurso de crimes formais.

Para existir a injúria real é necessário que a violência e as vias de fato sejam aviltantes,
tem de haver a intenção de humilhar.
Art. 140, §3º - Injúria Preconceituosa

§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor,


etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de
deficiência.
Pena - reclusão de um a três anos e multa.

Foge ao Juizado Especial Federal, pois não é considerado crime de menor potencial
ofensivo – pena de reclusão e pena máxima de três anos.

Não se deve confundir essa injúria com os crimes resultantes de preconceito de raça ou
cor, tipificados na Lei 7.716/89. Na injúria racial insulta-se alguém em razão se sua
etnia (ex.: chamar alguém de macaco, jogar banana, etc.), já o crime de racismo prevê
atitudes discriminatórias.

O crime de injúria preconceituosa pune o agente que, na prática do delito usa elementos
ligados à raça, cor, etnia... Sua finalidade com a utilização desses meios é atingir a
honra subjetiva da vítima.

Ao contrário, por intermédio da Lei 7.716/89, são proibidos comportamentos


discriminatórios, em regra, mais graves do que a simples agressão à honra subjetiva da
vítima. Um exemplo dos crimes da Lei 7.716/89 seria quando alguém se recusa, nega ou
impede inscrição ou ingresso de aluno em estabelecimento de ensino público ou privado
(Art. 6º da Lei).

Esses comportamentos tipificados na lei 7.716/89 são considerados inafiançáveis e


imprescritíveis no texto constitucional, diferentemente da injúria racial.

Caso Carrefour
Pode ser uma manifestação racista, todavia, o comportamento não se enquadra nem nos
crimes de racismo, nem na injúria racial.
O que ocorreu foi um homicídio, qualificado por motivo torpe.
Não se caracteriza como lesão corporal seguida de morte, pois no momento em que a
vítima estava imobilizada os agentes poderiam prever a morte – dolo eventual.

Qualificação Doutrinária

Crime formal

Crime instantâneo

Crime Simples

Crime Comum

Crime Comissivo

Crime plurissubsistente ou unissubsistente

Pena e Ação penal


Pena de um a seis meses, no caso de injúria simples
De seis meses a um ano – injúria real
Reclusão de um a três anos, no caso da injúria preconceituosa – não é de competência
do juizado especial criminal

DISPOSIÇÕES COMUNS DOS CRIMES CONTRA A HONRA

Art. 141 As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se


qualquer dos crimes é cometido:
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro;
II - contra funcionário público, em razão de suas funções;
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da
calúnia, da difamação ou da injúria.
IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência,
exceto no caso de injúria.

Inciso I
Contra calúnia e difamação existe a Lei de Segurança Nacional (Lei nº 7.170, Art. 26),
que se aplica quando a motivação é política.

Todavia, contra injúria não existe crime definido na Lei de Segurança Nacional, por
isto, se aplica a previsão do Código Penal, Art. 140, com a devida majorante do Art.
141.

Inciso II
Desde que a injúria, calúnia ou difamação tenha relação com o cargo e funções públicas
desempenhadas pelo funcionário.

Inciso III
O termo “Várias pessoas” quer dizer o mínimo de três. Duas pessoas não são suficientes
para configuração da majorante.
Ademais, para fins de enquadramento neste art., não se contabilizam o ofendido e nem o
coautor do crime, posto que ele pratica. Necessária a capacidade dos ouvintes de
compreender a ofensa, pois não há como se ofender a honra subjetiva de outrem se o
ouvinte não compreende a ofensa. Aqui, não importa que o ouvinte não tenha entendido
pois não conhece os termos (caso de ofensa erudita), mas que não tenha capacidade no
sentido estrito.
Necessário, também, que o sujeito ofensor tenha conhecimento de que várias pessoas
estão ouvindo.
O termo “por meio que facilite” se refere à meios de comunicação ou similares, como
perfis influentes em redes sociais.

Inciso IV
Acrescentado pelo estatuto do idoso para dar maior proteção aos idosos e as pessoas
portadoras de deficiências.
Não se aplicará no caso da injúria. Isto porque o Art. 140, §3º refere que “Se a injúria
consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião,
origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência” a pena é maior
(injúria preconceituosa)
Parágrafo 1º
Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se
a pena em dobro
Ex.: em época de disputa eleitoral, eu contrato uma pessoa para falar mal ou difamar
meu oponente.
Por fim a pena deve ser aplicada em dobro se o crime for cometido mediante paga ou
promessa de recompensa. Trata-se de motivo torpe que, no caso, constitui uma
qualificadora e não mera circunstância agravante genérica.
Paga é o recebimento efetivo de dinheiro ou qualquer bem econômico; promessa é a
oferta, o compromisso de pagar pelo crime.

Atenção!!!
Quem é punido é a pessoa que recebe a quantia para fazer o crime e, não quem paga

EXCLUSÃO DO CRIME
Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível:
I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu
procurador;
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo
quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar;
III- o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação
ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício.
Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela
difamação quem lhe dá publicidade.

A natureza jurídica da exclusão da injúria e difamação é diversa, ora fala-se em


exclusão da punibilidade, ora da ilicitude, ora da tipicidade.
Percebe-se que não há exclusão do crime quanto à calúnia.

Inciso I
Imunidade judiciária
Ofensa rogada em juízo quando os profissionais estão discutindo o processo. A ideia é
dar mais liberdade ao procurador no exercício de sua função.
Existe na forma escrita ou formal e se aplica a todas as partes do processo!
Excludente da ilicitude.

Inciso II
Excludente da tipicidade, posto que se deve provar que inexistiu o dolo de difamar ou
injuriar, exclusão do dolo.
Protege-se a liberdade crítica e cultural – animus criticandi

Inciso III
Funcionário público que necessita fazer análise que seja entendida como uma ofensa ao
exercer as funções de seu cargo. Na verdade, esse parecer seria amparado pelo Código
Penal dizendo que se trata de uma conduta não punível, posto que o funcionário estaria
dentro de sua legitimidade exercendo seu dever legal.
Por este motivo, trata-se de exclusão de punibilidade.

Conceito de funcionário público (Código Penal):


Jurado, mesário e estagiário se enquadram no conceito
Art. 327 Considera-se funcionário público, para os efeitos
penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração,
exerce cargo, emprego ou função pública.
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo,
emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha
para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada
para a execução de atividade típica da Administração Pública.

Parágrafo Único
Levar ao público o que se passou dentro de uma audiência ou entidade Pública.

RETRATAÇÃO
Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da
calúnia ou da difamação, fica isento de pena.
A retratação é uma possibilidade criada pelo Código Penal para extinguir a punibilidade
dos crimes contra a honra. (Art. 107, VI).
Retratar-se é desdizer-se, reiterar o que foi dito, declarar que errou. A retratação
funciona apenas como circunstância judicial na aplicação da pena (Art. 59, caput).

Para o sujeito que pratica calúnia e difamação, apenas!


Isto ocorre porque a calúnia e difamação são crimes sobre um fato atribuído ao
indivíduo, na injúria, por outro lado, imputa-se uma qualidade negativa e, mesmo
havendo a retratação não se repara o dano.
A retratação só é possível quando se trata de ação penal privada, uma vez que o Art. 143
fala em “querelado” (réu na ação privada do ofendido), assim, não há retratação na ação
penal pública.

A retratação é unilateral, sendo indiferente que a pessoa a quem se dirige a aceite


ou não.

Ela tem que ser completa irrestrita e incondicional, só produz efeitos se feita antes da
sentença, mas não depende de formalidade oficial (pode ser feita pela mesma forma que
fez a calúnia ou difamação original ou pode exigir o juiz alguma formalidade especial).
Além disso, é incomunicável em concurso de pessoas.
Havendo concurso de rimes contra a honra, a retratação em um dos crimes não
aproveita os demais.

EXPLICAÇÕES PERANTE ÓRGÃO JUDICIAL


Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação
ou injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele
que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde
pela ofensa.
Pode ocorrer que o agente manifeste frase em que não fique clara a intenção de caluniar,
difamar ou injuriar, causando dúvida ao intérprete quanto à sua significação. Neste caso,
aquele que se sente ofendido pode ao invés de pedir a abertura de inquérito policial,
o intérprete solicita as explicações em juízo.
O pedido de explicações é uma medida preparatória e facultativa. Somente cabe nos
casos de “ofensas equívocas”, quando não tiver certeza sobre aquilo que foi dito e as
intenções por trás do que se disse.
A redação do dispositivo é imperfeita, pois dá a entender que o juiz que processa as
explicações irá julgar o crime de honra, caso exista e que, se o agente se recusar a dar as
informações ou as der de modo insatisfatório, responderá pela ofensa. Todavia, neste
processo não existe condenação; é mera medida cautelar e preparatória.

A expressão “a critério do juiz” se refere ao juiz que julgará a ação principal. O pedido
de explicações segue o rito processual das notificações avulsas. Requerido, o juiz
determina a notificação do autor da frase para vir explicá-la em juízo. Fornecida a
explicação ou no caso de recusa, certificada esta, nos autos, o juiz faz com que os autos
sejam entregues ao requerente. Com eles, aquele que se sentiu ofendido pode ingressar
em juízo com a ação penal. O juiz, portanto, não julga a recusa ou a natureza das
explicações. Na ação penal é que o juiz apreciará o teor das explicações.

Ação Penal
Art. 145
Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa,
salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.

Os crimes contra a honra se processam somente mediante queixa, salvo casos em que o
crime seja praticado por meio de violência física ou vias de fato (injúria real). Nestes
casos, será Publica e Incondicionada, não se sujeitando o MP a nenhuma condição de
procedibilidade para instaurar o processo. É assim porque a ação penal no caso da lesão
corporal também é pública e incondicionada.

Todavia, fique atento/a:


No caso da lesão corporal leve a ação penal é pública e processada mediante
representação, logo, se tem entendido que nos casos em que a injúria se cometa
mediante lesão corporal leve, a ação penal será pública e condicionada à representação.

Isso é importante pois na Ação Penal Privada vigora o princípio da disponibilidade do


conteúdo material posto em juízo, ou seja, cabe à pessoa do ofendido escolher se irá ou
não iniciar a ação. Já na Ação Penal Pública vigora o princípio da indisponibilidade do
conteúdo material posto em juízo, logo, o MP é obrigado a promover a peça inicial sem
se sujeitar a critérios de conveniência.

Parágrafo único.  Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no


caso do inciso I (injúria contra o presidente da república) do caput do art. 141
deste Código, e mediante representação do ofendido, no caso do inciso II
(funcionário público) do mesmo artigo, bem como no caso do § 3 o do art. 140
(injúria preconceituosa) deste Código.

O parágrafo único do Art. 145 traz mais duas situações onde a ação é pública.
O primeiro caso se refere aos crimes praticados contra o presidente da república ou
chefe de nação estrangeira em que se exige a requisição do Ministério da Justiça
(pública condicionada a representação).
O segundo caso é quando a ação penal depende de representação do ofendido
(condicionada a representação). Este tem de se referir ao desemprenho de suas funções;
do contrário, se se referir a sua vida privada será de ação penal privada.
Injúria preconceituosa (pública condicionada a representação).

No restante dos casos a Ação Penal dos Crimes contra a Honra é Privada.
ART. 146 – CONSTRANGIMENTO ILEGAL
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou
depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de
resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

Conceito
O delinquente, empregando determinados meios, impõe à vítima sua vontade,
obrigando-a a aceitá-la, levando a ação ou inação por ela não querida.
É um crime subsidiário, sempre que a liberdade pessoal for atingida, mas como
meio para a realização de outro crime, este absorve o constrangimento ilegal. Ex.
Roubo, extorsão, extorsão mediante sequestro.

Objetividade Jurídica
O Estatuto Penal protege a liberdade de autodeterminação, ou seja, a liberdade do
indivíduo de fazer ou não fazer o que lhe aprouver, dentro dos limites da ordem jurídica.
A liberdade que se protege é a psíquica (livre formação da vontade, sem coação) e a
física (de movimento).
A liberdade pessoal ganhou assento constitucional, nos seguintes termos “ninguém será
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei”.

Sujeitos do delito

Sujeito Ativo
Qualquer pessoa
Se for funcionário público no exercício da função não responderá por constrangimento
ilegal, mas pelo Art. 350, 322 ou Lei 13.896 (abuso de autoridade).

Sujeito Passivo
Qualquer pessoa que tenha capacidade de querer e de autodeterminar-se. Portanto,
ficam excluídos os doentes mentais, ébrios totais e as crianças de tenra idade e pessoas
inconscientes.
Podem ser, no entanto, objeto do crime, isto é, usados para que seus responsáveis legais
e comportem da forma que o agente quer. Todavia, não podem eles ser vítimas de
constrangimento ilegal. Ex.: autoridade apontar uma arma para uma criança para que os
pais se comportem como ela quer.

A incapacidade física não afasta a possibilidade de ser vítima do crime, podendo


configurar, inclusive, uma agravante (Art. 61, III, h e j).

O ECA prevê o crime de constrangimento contra crianças e adolescentes, mas não se


trata de um constrangimento para obrigar a vítima a fazer o que se quer, mas um
constrangimento por si mesmo. Assim, quando praticado contra a criança, pode-se
configurar o crime no Art. 232 do Estatuto.

Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou


vigilância a vexame ou a constrangimento:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Autoridade Constranger Vítima a Cometer um Crime
Quando a ameaça for irresistível e a conduta do ameaçado for tipificada penalmente,
haverá autoria mediata (ex.: colocar a arma carregada na cabeça do executor e obrigá-lo
a cometer um furto) e o constrangido será mero executor, isto é, instrumento das mãos
daquele. Não há dolo, nem voluntariedade e, por consequência não haverá tipicidade. O
autor mediato responde por dois crimes em concurso material, pelo constrangimento
ilegal e pelo crime que obrigou o executor a praticar.

A ameaça ou a violência pode ser exercida contra pessoa diversa daquela que se procura
constranger.

Elementos Objetivos do Tipo


O núcleo do verbo significa coagir, compelir, forçar, obrigar, a determinada ação, seja
ela positiva ou negativa – fazer o que a lei não manda ou não fazer o que ela manda.

A conduta do agente pode visar a um fim especial desta forma configurar outro tipo
penal. Ex.: roubo, estupro.

O constrangimento pode ser obtido mediante violência, grave ameaça ou outro meio que
reduza a capacidade de resistir do ofendido.

Violência
O termo violência empregado no texto legal significa força física, material, vis
corporalis, com a finalidade de vencer a resistência da vítima. Essa violência pode ser
produzida pela própria energia corporal ou outros meios (fogo ou água, choque, gases),
ou ainda, por omissão, como a privação de recursos essenciais (comida ou água).

Pode de também ser imediata, praticada contra o próprio constrangido (amarrar o


ofendido, amordaça-lo) ou pode ser mediata, contra terceira pessoa vinculada à vítima,
ou contra alguma coisa (retirar muleta de deficiente, danos causados a um automóvel).

Grave Ameaça
Constitui forma típica de violência moral, é a vis compulsiva, serve para atacar o
psicológico do ofendido e amedrontá-lo ou intimidá-lo, anulando ou minando a vontade
e o querer do ofendido para inviabilizar eventual resistência da vítima.
Ex.: mandar coroa de flores à vítima

A violência moral pode materializar-se em gestos, palavras, atos, escritos ou qualquer


outro meio simbólico. Mas somente se considera a grave ameaça, isto é, aquela que
efetivamente imponha medo de capital importância, para fins de configuração do crime
de constrangimento ilegal.

Requisitos da Grave Ameaça:


Mal determinado e verossímil, que possa ser realizado e não fruto de fanfarronice;
Mal iminente, isto é, suspenso sobre o indivíduo;
Mal inevitável, pois se o ofendido puder evitar não se intimidará;
Mal dependente da vontade do sujeito ativo, pois se depender de outro perderá sua
inevitabilidade.
Estes requisitos não são nem absolutos, nem numerus clausus. O que importa é que a
ameaça tenha capacidade intimidativa. Ex.: Ameaça de morte, de agressão física, de
grave prejuízo financeiro etc.

Emprego de Quaisquer outros meios


(Violência Imprópria)
Devem ser empregados sub reptíciamente, fraudulentamente. Estão abrangidos por este
meio o uso de inebriantes, entorpecentes, pílulas de confissão, uso de álcool, de hipnose,
isto é, meios que embora atuem no meio físico, produzem anormalidade psíquica.

Ex.: o emprego de Boa Noite cinderela não se enquadraria neste sentido, posto que a
vítima vai dormir e, portanto, não tem capacidade de se comportar da maneira como o
agente quer.

Constrangimento Ilegal vs. Exercício Arbitrário das Próprias Razões


A pretensão deverá ser ilegítima, podendo constituir o crime do Art. 345, se a coação
for ilegítima.

Assim, quando há legitimidade não configura crime de constrangimento ilegal.


Ex.: Encomendo um móvel ao marceneiro, depois de 3 meses ele não me entrega, assim,
vou ao estabelecimento dele, aponto uma arma para sua cabeça do marceneiro e obrigo-
o a fazer o que ele se obrigou. Não é constrangimento ilegal, mas Exercício arbitrário
das próprias razões (Art. 345)

Ilegitimidade – Requisito do Crime de Constrangimento Ilegal


No entanto, a ilegitimidade pode ser absoluta: quando o agente não tem qualquer
direito a ação ou omissão constrangida.
Ex.: obrigar a tirar o chapéu, ingerir uma bebida, restituir o que não é devido.

Pode ser relativa quando há direito, mas a vítima não pode ser forçada, o sujeito tem a
faculdade de exigir a ação (ainda que sem a tutela jurídica)
Ex.: cobrar dívida de jogo, o pagamento de uma meretriz.

Constrangimento Ilegal contra Ato Imoral


Questão controvertida é a de que se existe o crime quando o agente tem o fim de evitar
que o constrangido pratique ato imoral, impedir o incesto, o exercício da prostituição.
ora, não sendo proibido, não pode ser imposto ou impedido, se enquadra no conceito de
constrangimento ilegal.

Elementos Subjetivos
Só é punido a título de dolo, que consiste na vontade livre e consciente de constranger a
vítima mediante violência (física, moral ou imprópria).
Não existe a forma culposa.
Se existe algum elemento subjetivo específico, poderá se tratar de delito diverso.

Consumação e Tentativa
Consuma-se no momento em que a vítima faz ou deixa de fazer alguma coisa em razão
da violência, ameaça ou violência imprópria.
Não se trata de crime de mera atividade, que se consuma com a simples ação, é um
crime de lesão, que tem uma execução complexa, exigindo uma duplicidade
comportamental: a ação coativa do agente e a atividade coagida do sujeito passivo.

Assim, é um crime material naturalístico (exige resultado).

Enquanto a vítima não realizar a conduta (ação ou inação), estaremos no mundo da


tentativa.

Formas Majoradas

Art. 146, §1º

  § 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a


execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas.

Aplicar as penas cumulativamente significa aplicar a pena de multa e a pena de


detenção previstas no caput do Art. 146. O §1º ainda prevê que seja aplicada em dobro.

O dispositivo prevê duas situações de aumento de pena:


I – Concurso de pessoas: São necessárias no mínimo 4 pessoas para configurar a
majorante, e que todos participem da execução.

II – Emprego de Armas: Refere-se ao emprego de armas, que não significa número,


mas sim gênero.
Ainda, as armas podem ser próprias – que têm a finalidade específica de ataque ou
defesa (arma de fogo, bombas, granadas) ou armas brancas – (punhal, facão) ou
impróprias – aquelas cuja a finalidade natural não se destina ao ataque ou à defesa,
embora apresentem potencialidade lesiva (machado, taco de baseball, faca de serrinha,
foice, garrafa quebrada). O que interessa ao dispositivo legal é a potencialidade lesiva
do instrumento na execução do constrangimento ilegal.

E a arma de brinquedo? (simulacro):

O que interessa, para a jurisprudência atual (2021) é o critério objetivo, ou seja, o


potencial lesivo do objeto. Assim, a majorante não pode ser aplicada no
constrangimento ilegal praticado com o emprego de arma de brinquedo.

Deverá haver efetivo emprego da arma. Portar uma arma não enseja a majorante,
desde que não seja de forma ostensiva e intimidatória.

Art. 146, §2º


§ 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência.

Concurso de Crimes:
Prevê a hipótese de haver concurso entre o crime de constrangimento ilegal e demais
penas referentes à violência – e seu resultado. Assim mesmo tendo agido com uma
única conduta e um único desígnio (de praticar o constrangimento ilegal), considerar-se-
á que o sujeito praticou dois crimes em concurso formal impróprio (uma conduta/ dois
desígnios).
Em outras palavras: quando houver a prática de violência física e esta, resultar outro
crime, a regra deste parágrafo manda aplicar a regra do concurso material, qual seja, as
duas penas, mesmo que o agente tenha agido com uma única conduta e praticado dois
resultados não existindo desígnios autônomos.

Necessidade de somar as penas, mesmo não havendo desígnios autônomos. O legislador


escolheu a aplicação da cumulação.

Ex.: o sujeito usou de violência física para o constrangimento ilegal e esta violência
causou lesão grave, teremos um concurso entre o crime de constrangimento ilegal e o
crime correspondente à violência (no caso, a lesão grave) – Art. 146 c/c Art. 129, §1º.

Art. 146, §3º


§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:
I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de
seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida;
II - a coação exercida para impedir suicídio.
Exclusão do crime:
Estabelece uma regra de exclusão de tipicidade, dizendo que não se compreendem como
constrangimento ilegal, isto é que sujeito pode praticar a conduta sem incidir em prática
criminosa quando realiza:

I – Intervenções médicas sem consentimento do paciente ou de seu representante, desde


que para salvar sua vida:

As intervenções médicas constituem, em regra, um exercício regular de direito, ou, em


outras circunstâncias, pode caracterizar Estado de Necessidade.
Mas com relação a este inciso, o que existe é a exclusão da tipicidade. O que justifica é
o Estado de necessidade de terceiro, mas a existência da previsão legal, que exclui a
tipicidade da conduta.
Ex.: quando o sujeito busca algum atendimento médico e recusa prescrição do
profissional, se o médico viesse a praticar a conduta para salvar a vida do paciente,
poderia estar cometendo crime de constrangimento ilegal, posto que praticaria a conduta
sem o consentimento do paciente. Todavia, o dispositivo Art. 146, §3º, I, exclui a
tipicidade desta prática.

II – A coação exercida para impedir suicídio:

Este inciso também configura uma exclusão da tipicidade. Embora o suicídio não seja
um delito, configura uma conduta antijurídica e impedir sua prática, mesmo com
violência ou grave ameaça não constitui um constrangimento ilegal.
O objetivo deste dispositivo é proteger a vida, mesmo que para isto a objetividade
jurídica da autodeterminação fique em segundo plano.

Qualificação Doutrinária

Crime Material: exige resultado, qual seja, o comportamento da vítima


Crime Instantâneo
Crime Subsidiário: só vai existir constrangimento ilegal quando não existir um crime
mais grave, que pode ser extorsão mediante sequestro, sequestro e cárcere privado,
estupro, roubo.
Crime Simples
Crime Comum
Crime Comissivo: embora se possa querer um comportamento de não ação da vítima, a
conduta do agente é, em regra, comissiva.
Crime Plurissubsistente: possibilidade de tentativa

Pena e Ação Penal


Detenção de 3 meses a um ano ou multa
Majorantes: cumulativamente e em dobro

Ação penal pública incondicionada

ART. 147 – AMEAÇA

Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro
meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Conceito
A ameaça é meio de execução de muitos delitos non Código Penal, assim, é crime
eminentemente subsidiário, pois pode estar presente no crime de roubo, estupro, dentre
outros. Logo, a ação de ameaçar só vai ser tipificada no Art. 147 se a intenção do sujeito
for somente ameaçar/tirar a paz de espírito da vítima.

Exige apenas que a ameaça seja um mal injusto e grave que pretenda intimidar, não
requer que o sujeito ameace cometer um crime contra a vítima, por exemplo.

Pretende proteger a liberdade psíquica, a tranquilidade dos indivíduos.

Constrangimento ilegal vs. Ameaça


A diferença da Ameaça para o Constrangimento é que neste, a ameaça e a consequente
submissão da vontade do ofendido são meios para atingir outro fim, representado pelo
fazer ou não fazer a que é constrangido. No crime de ameaça o agente tem como
objetivo amedrontar, lesar a liberdade psíquica da vítima, perturbar sua tranquilidade e
paz de espírito sem a pretensão de exigir dele alguma atitude, pois a o ato de ameaçar é
um fim em si mesmo.

Como afirmava Aníbal Bruno “é um constrangimento que se contenta só com o


constranger. O seu fim é realmente perturbar a paz do sujeito passivo e com este
sentimento pessoal de insegurança restringe-se e muitas vezes se anula a liberdade de
querer”.

Objetividade Jurídica
Tutela a liberdade pessoal e individual de autodeterminação, a liberdade psíquica do
indivíduo que será abalada pelo temor infundido pela ameaça. Tutela, pois, a
tranquilidade de espírito, o sossego individual.
Outrossim, o indivíduo ameaçado não se comporta da maneira usual, pois não sai, não
realiza as mesmas atividades em razão da insegurança. Sendo assim, em última
instância, o dispositivo protege a liberdade física do sujeito.

Sujeitos do Delito

Sujeito Ativo
Qualquer pessoa – crime comum.
Acaso o agente seja funcionário público, poderá ser enquadrado nos crimes de abuso de
autoridade da Lei 13.869.

Sujeito Passivo
Qualquer pessoa física, desde que seja capaz de sentir a idoneidade da ameaça, e
motivar-se com ela, atemorizando-se.
Deve a pessoa ter capacidade de compreender o mal prenunciado, o que nada tem a ver
com capacidade jurídica. Portanto, não podem ser ameaçados o bebê, o insano, o
deficiente mental grave etc. Nestes casos, haverá crime impossível por absoluta
impropriedade do objeto. Se, no entanto, a incapacidade dor relativa haverá crime.
Nada impede que os responsáveis legais sejam ameaçados. Ex.: Vou matar teu filho.

A pessoa jurídica não tem capacidade de entender e não tem liberdade psíquica, nada
impede que seus representantes legais sejam sujeitos passivos do crime. Assim, quando
a ameaçada for uma pessoa jurídica, recairá sobre as pessoas que a compõe, e estas,
poderão ser sujeitos passivos do crime. Neste caso, haverá somente um crime, contra os
representantes do ente jurídico, se forem mais de um, haverá concurso formal em razão
da pluralidade de crimes.

Somente pessoas determinadas podem ser vítimas de ameaça, é necessário se poder


individualizar a vítima, pois o dispositivo se refere a alguém.

Elementos Objetivos do Tipo

Ameaçar significa intimidar, meter medo em alguém, tirar a tranquilidade.

O crime consiste em cometer mal injusto e grave, consiste em um dano físico,


econômico ou moral.
Ex.: Vou divulgar as suas fotos íntimas, vou te lesionar, vou te matar, vou te dar um
tiro.

Requisitos da Ameaça:
A ameaça para constituir o crime tem que ser idônea, séria, concreta. O mal
prenunciado tem que ser grave, determinado, verossímil, dependente, injusto e,
segundo a jurisprudência mais recente, iminente.

O crime de ameaça só se caracteriza se o mal prenunciado for injusto. Assim, acionar


judicialmente um devedor, penhorar bens do inadimplente, carcereiro que recolhe o
preso para a prisão, policial que prende um condenado ou o funcionário que vai
executar a pena de morte não configuram crime de ameaça, porque são exemplos de
exercício regular de direito ou cumprimento de dever legal.
Iminência da Ameaça
Só a ameaça de realização próxima caracterizará o crime, aquelas que se fundam em
mal futuro, remoto no tempo, não entra na tipificação, sendo este o entendimento da
jurisprudência atual.

Damásio de Jesus, por sua vez, entende que se a ameaça futura causa intranquilidade
para a vítima, estará configurado o crime de ameaça, posto que futuro é aquilo que
ainda não ocorreu, mas ocorrerá.

Subsidiariedade da Ameaça
Ainda, importante destacar que a ameaça proferida no curso de uma contenda pode: a)
se for realizada, ficar absorvida por outro crime; b) se não se realizar, configurar um
indiferente penal.
Ex.: caso dois sujeitos estiverem em uma discussão e um deles falar “vou te matar” e
realmente matar, não há que se falar em crime de ameaça e homicídio, pois a ameaça,
como crime subsidiário, é absorvida pelo homicídio. Haverá somente crime de
homicídio.

Meios
A ameaça pode ser praticada por diversos meios: palavra, telefone, áudio, escritos,
bilhetes, cartas, gestos, apontar arma, mímica, meios simbólicos, enviar coroa de flores,
uma caveira, um vodu, despachos.

Ainda, pode ser formulada:


Diretamente, isto é, quando se promete mal à vítima ou a seu patrimônio, ou
indiretamente, quando se promete mal à pessoa ligada à vítima.

Pode, ainda, ser explícita, como por exemplo; vou te dar um soco, vou te chutar, vou te
matar, vou acabar com a tua vida, ou implícita, quando o sentido fica subentendido,
deixado claro nas entrelinhas, por exemplo: costumo liquidar minhas questões com
sangue, não tenho medo de ir para a cadeia, o último está a sete palmos.

Elementos Subjetivos do Crime


A ameaça só é punida a título de dolo, seja ele direto ou eventual.
A consciência da injustiça do mal prenunciado e da sua gravidade é fundamental, desta
feita, o agente deve saber que o que ele faz/fala vai causar uma perda de tranquilidade
para a pessoa. Se o indivíduo erra quanto à injustiça da ameaça, é afastada a
responsabilidade penal. É essencial que o sujeito tenha a intenção de amedrontar.
Ex.: Sujeito fala “vou te processar para que tu me pagues a dívida” com relação à uma
dívida que já foi paga, todavia, o credor não tem conhecimento disto. Não configura
ameaça, porque o sujeito não tinha conhecimento de que a dívida não mais existia e,
sendo assim, no âmbito subjetivo o credor estava exercendo seu direito. (não existe
dolo)

Outrossim, se o sujeito ameaça e cumpre o que pretendia, o crime de ameaça restará


absorvido.
Ex.: se o sujeito ameaça: “vou te dar um soco” e realmente o dá, não existe ameaça, mas
sim lesão corporal
É necessário um elemento subjetivo específico, que é o de amedrontar a vítima. Se a
intenção é mesmo a de matar, o crime será outro.

Estado de Ira e Embriaguez


O estado de ira, de raiva, de cólera suscita em algumas decisões jurisprudenciais, a
possibilidade de exclusão do dolo. Pois acreditam que o homem irado não tem poder
intimidatório. A emoção e a paixão não excluem a responsabilidade penal. Todavia, é
exatamente o estado de ira que mais atemoriza a vítima e não o contrário. Assim, a
necessidade de ânimo calmo e refletido para configurar crime não procede.

Também não procede o entendimento dos tribunais que a ameaça proferida em estado
de embriaguez não configura delito. Afirmando que não há seriedade no comportamento
do agente, isto porque não podemos esquecer que existem vários estágios de
embriaguez e poderá existir seriedade no comportamento do agente ou realmente algo
que não possa ser levado em conta, o caso concreto deve ser analisado, portanto, caso a
caso.

Consumação e Tentativa
Consuma-se o crime no momento em que a vítima toma conhecimento do mal
prenunciado, independentemente de se sentir ameaçada. Ainda, é suficiente que o mal
prenunciado tenha potencial intimidatório, assim não importa se a vítima se sinta ou não
ameaçada, o que importa é o animus do ofensor e a capacidade de causar temor.
Ex.: vou te machucar, vou colocar uma bomba no seu carro, vou fazer com que você
seja demitido.

É um crime formal, de consumação antecipada.

A tentativa é possível, pesar de ser de difícil configuração. A possibilidade para a


tentativa é a forma escrita.
Ex.: menor capaz de compreensão recebe ameaça em bilhete, todavia, o bilhete não
chega ao conhecimento do menor, mas de seu representante, que representa o crime.

Como se trata de crime de ação penal pública condicionada, é necessário a


representação da vítima que, neste caso, terá que tomar conhecimento. A menos no
exemplo do menor, em que o seu representante deve oferecer a representação.

Qualificação Doutrinária
Crime Formal

Crime Instantâneo

Crime Subsidiário

Crime Simples

Crime Comum

Crime Comissivo

Crime Unissubjetivo
Pena e Ação Penal
A detenção é de 1 a 3 meses ou multa

Parágrafo único: ação penal dependente de representação


Ação penal pública condicionada à representação mesmo sendo a vítima mulher e o
crime praticado em violência doméstica e familiar, posto que, diferentemente do crime
de lesão corporal, não há decisão do STF no sentido de mudar a forma de ação penal.

ART. 148 – SEQUESTRO OU CÁRCERE PRIVADO

Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado:


Pena - reclusão, de um a três anos.

Conceito
O sequestro ou cárcere privado é uma espécie de constrangimento ilegal, em que se
impede que a pessoa tenha seu direito de locomoção, logo, os verbos penais constituem
formas de privação total ou parcial da liberdade de deambulação (liberdade física do
sujeito).
Ensina Fragoso que se trata de uma espécie de constrangimento ilegal em que se impede
que o sujeito passivo tenha liberdade de locomoção.

Objetividade Jurídica
Tutela a liberdade física. O bem jurídico protegido é o direito de ir e vir, a liberdade de
movimento no espaço.

Só o Estado, por forma competente, pode restringir o indivíduo do gozo desse bem.
Ex.: decisão judicial, internação manicomial.

Sujeitos do Delito

Sujeito Ativo
Não se trata de crime próprio, assim, pode ser praticado por qualquer pessoa.
Sendo funcionário público, no exercício de suas funções poderá ser aplicado outro
crime – abuso de autoridade (Lei 13.869)

Sujeito Passivo
É, nos termos da lei, “alguém”, ou seja, o ser humano que é titular de liberdade de
locomoção.

Alguns autores excluem as pessoas que não podem se movimentar (deficientes físicos,
tetraplégicos, doentes graves). Outros, excluem também as pessoas que não possuem
capacidade de entender ou conhecer a privação desta liberdade (crianças, doentes
mentais, etc.).

Mas a maioria entende que qualquer um pode ser sujeito passivo do crime. A liberdade
de movimento não deixa de existir quando se exerce à custa de aparelhos ou auxílio de
alguém, mesmo porque, a pessoa com limitações físicas ainda possui capacidade de se
autodeterminar e de decidir onde quer estar.
Da mesma maneira, não é menos certo que o incapaz goza de liberdade corpórea,
portanto, estas pessoas merecem, em verdade, maior proteção legal. A capacidade de
entendimento, portanto, só tem relevo quando se trata do consentimento do ofendido.
Consentindo na privação da liberdade não se configura o delito, desde que a vítima
tenha capacidade de consentir.

Deve-se, entretanto, analisar que, mesmo com o consentimento, em algumas situações


este perde o valor, aparecendo o delito quando, pelo tempo de privação (perpétua ou por
muito tempo) ou pelo modo de sua supressão (preso a correntes, encarcerado numa cela
ou obrigado ao trabalho escravo) fere os princípios de direito público ou de moral
social, ferindo, portanto, a liberdade individual.

Elementos Objetivos do Tipo


O crime pode ser cometido mediante sequestro ou cárcere privado. São, portanto,
modos pelos quais se efetiva a restrição ou supressão da liberdade do ofendido.

Alguns autores os consideram sinônimos, mas a maioria distingue um comportamento


do outro:

Sequestro: forma mais “leve”. Existe privação da liberdade de ir e vir, tendo em vista
que a retenção ou detenção impossibilite a vítima de se afastar do local em que o agente
a colocou ou deixou, todavia, existe alguma liberdade de ir e vir.
Ex.: reter a vítima em um sítio, em uma ilha, do qual não se pode afastar-se.

Cárcere Privado: existe a privação de liberdade por confinamento, isto é, vítima presa a
um recinto fechado.
Ex.: num quarto, porta-malas.

A conduta típica é privar alguém da liberdade, pouco importando o meio para obter este
resultado. Pode ser cometido mediante violência física e moral (ameaça) ou fraude
(mentira, induzir a erro). O agente pode atuar detendo a vítima, levando a lugar e a
prendendo ou retendo-a no lugar em que está – que pode, inclusive, ser em sua própria
casa – não é necessário que se tire a vítima do local onde se encontra.
Até por omissão o crime pode ser cometido.
Ex.: deixar de pôr em liberdade um doente mental que está curado.

Mesmo que o sujeito já tenha sua liberdade cerceada legalmente, pode-se falar em
sequestro ou cárcere privado nos casos em que ele poderia estar mais livre e tem sua
liberdade reduzida a níveis gravosos, ou seja, o sujeito já estava com a liberdade restrita
e a vê ainda mais reduzida desnecessariamente.
Ex.: em ambiente manicomial, acorrentar um doente mental à cama desnecessariamente.

É incito no conceito de sequestro ou cárcere privado que esta privação deve ter certa
duração, certa relevância.
Uma privação rápida ou momentânea configuraria apenas a tentativa ou
constrangimento ilegal, entretanto, não se exige para consumação que se prolongue
durante horas ou dias.
Ex.: segurar no braço de alguém, retendo a pessoa momentaneamente, e dizer “precisas
me ouvir” não se enquadra em crime de sequestro ou cárcere privado, pode, no entanto,
ser um constrangimento ilegal´.

Como o sequestro é crime permanente, é coautor ou partícipe aquele que possa


colaborar na privação, mesmo após seu encarceramento.

Elementos Subjetivos do Tipo


É o dolo – vontade dirigida à ilegítima privação da liberdade alheia, desnecessária
qualquer finalidade (não há dolo específico).

Se o sujeito agir com outro intento – específico – será constrangimento ilegal ou


extorsão mediante sequestro ou roubo com privação da liberdade. É um crime
subsidiário, assim, só vai existir quando a única intenção do sujeito for privar a
liberdade de outrem.

Dolo posterior à posse


No sequestro ou cárcere privado existe uma peculiaridade semelhante ao crime de
apropriação indébita, que é o dolo posterior à posse, isto é, o crime surge após uma
privação legítima de liberdade e, portanto, o dolo surge de forma subsequente à situação
do sujeito passivo, como no caso do médico que não põe em liberdade um insano
curado.

Consumação e Tentativa
O crime se consuma com a restrição da liberdade da pessoa, iniciada que seja. Existem
alguns autores que a mesma perdure por tempo mais ou menos longo.

Não desfigura o crime o fato de o agente restituir a vítima voluntariamente, mesmo


sendo curta a retenção.

É um crime permanente e sua consumação se protrai no tempo, permitindo a autuação


em flagrante enquanto durar a privação.

Sendo um crime material por excelência, permite a tentativa sempre que o agente tenha
praticado atos de execução, sem chegar à restrição de sua liberdade.
Ex.: Se o agente está prestes a introduzir a vítima no carro, mas é surpreendido.
Todavia, sempre imprescindível se compreender que existem outros crimes, como a
extorsão mediante sequestro, que absorvem o sequestro e cárcere privado e, assim, a
depender do dolo do sujeito, a forma tentada será de outro crime, há que se analisar se
houve objetivo patrimonial ou diverso.

Quando o comportamento hábil para a execução é a omissão, não existe a forma


tentada.
Ex.: Retenção da vítima no hospital. A retenção já consuma o crime.

Formas Qualificadas

Parágrafo 1º
§ 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:
I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente
ou maior de 60 (sessenta) anos;
II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou
hospital;
III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias.
IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos;
V – se o crime é praticado com fins libidinosos.

Este parágrafo do Art. 148 aumenta a pena em função da qualificação da vítima (inciso
I), do risco à saúde física e mental (incisos II, III, IV), violação à dignidade sexual
(inciso V).

II
Tanto o sujeito pode escolher praticar o crime internando a vítima em uma casa de
saúde ou hospital ou mantendo ela lá desnecessariamente, supondo que a internação em
um primeiro momento fosse legítima

III
Isto porque quanto maior for o tempo de sequestro ou cárcere privado, maior será o
dano à integridade psíquica da vítima.

IV
Sabe-se que nos dois extremos da vida – no início e no fim – os riscos são sempre
maiores, isto porque ou estamos diante da formação do indivíduo, ou de pessoas mais
frágeis.

V
Neste inciso, não está se punindo nenhum comportamento sexual com a vítima, mesmo
porque pode haver concurso entre o sequestro com fins libidinosos e o crime sexual em
si (estupro, por exemplo).
Pune simplesmente a prática de submeter a vítima a sequestro ou cárcere privado com a
finalidade de cometer atos libidinosos contra ela.

Parágrafo 2º

§ 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da


detenção, grave sofrimento físico ou moral:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

Qualificadora que pune o maior sofrimento físico e moral da vítima.

Maus-tratos
Entende-se por maus-tratos a supressão de cobertas, alimentos e alimentação adequada,
roupas, e quaisquer outras condições mínimas para o sujeito confinado e que gere
sofrimento físico ou moral maior.

Ainda, não há que se falar em resultados!


A simples privação de condições materiais já configura a qualificadora.
Ex.: Se o sujeito, em razão dos maus-tratos (privação de condições materiais), restar
com lesões corporais, haverá concurso de crimes entre o cárcere privado e as lesões
corporais.

Natureza da Detenção
Com relação à menção que o dispositivo faz à natureza da detenção, entende-se que a
qualificadora é aplicada quando a detenção ocorre em local insalubre, por exemplo. Diz
respeito ao aspecto material da privação.
Ex.: amarrar a vítima em uma árvore, local úmido, em um cemitério, armazém com
ratos etc.

Também neste caso, a utilização da qualificadora independe de resultados.

Qualificação Doutrinária

Crime Material
Crime Permanente
Consumação que se prolonga no tempo, assim, a qualquer tempo permite a prisão em
flagrante.

Crime Subsidiário
Só existe se o sequestro ou cárcere privado não for meio de execução de outro crime
mais grave como a extorsão mediante sequestro, sequestro relâmpago, roubo com
privação da liberdade (crimes patrimoniais).

Crime Simples
Atinge só o bem jurídico da liberdade de locomoção.

Crime Comum
Qualquer pessoa pode praticá-lo.

Crime Comissivo ou Omissivo

Crime Unissubjetivo
Pode ser praticado por um único sujeito.

Pena e Ação Penal


Caput: 1 a 3 anos de reclusão
§1º: 2 a 5 anos de reclusão
§2º: 2 a 8 anos de reclusão

Ação penal pública incondicionada


Titular exclusivo para oferecer a denúncia é o Ministério Público.

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