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LEVANTA E RESPLANDECE 1

Copyright  2013 UFMBB


Todos os direitos reservados a União Feminina Missionária Batista do Brasil. Proibi-
da a reprodução total ou parcial por quaisquer meios sem permissão por escrito da
editora.

Coordenação editorial, revisão literária e editoração eletrônica:


Celina Veronese

Capa: oliverartelucas

Ilustrações: Hudson Silva

Fotografia: Mirtes Santos de Macedo


Mensageiras do Rei da Primeira Igreja Batista de Curitiba, PR.

Q3l Queiroz, Dinalva de Salles


Levanta e resplandece: biografia de Minnie Lou
Lanier / Dinalva de Salles Queiroz; il. de Hudson Silva.
– 6. ed. – Rio de Janeiro: UFMBB, 2005.
48p. – 21,5 cm (Série Missionária Heróis Cristãos).
ISBN 978-85-98663-08-1
1. Lanier, Minnie Lou, 1915-1983 – Biografia missio-
nária. I. União Feminina Missionária Batista do Brasil.
II. Título.

CDD - 266.0092
Índice para catálogo sistemático:
UFMBB – Batistas – Biografias missionárias: 266.0092

Publicação da União Feminina Missionária Batista do Brasil


Rua Uruguai, 514 – Tijuca – Rio de Janeiro – RJ – 20510-060
Tel.: (21) 2570-2848 Fax: (21) 2278-0561
E-mail: ufmbb@ufmbb.org.br
Homepage: www.ufmbb.org.br
6a edição: 2005 Tiragem: 2.000
Reimpressões anteriores: 2008 (3.000) e 2010 (3.000)
Reimpressão: 2013 Tiragem: 3.000

Impresso na Industria Gráfica LTDA


Para você,
oferecemos a biografia de Minnie Lou Lanier,
missionária norte-americana em nossa terra.
Em 1949, em obediência a uma chamada
divina, ela aceitou o desafio de viajar pelo
Brasil para ensinar as meninas das igrejas
batistas a amarem missões.
Com talento e simpatia, Minnie Lou
conquistou o coração das meninas e líderes do
seu tempo e, graças ao seu trabalho dedicado,
deixou-nos um grande legado:
a organização Mensageiras do Rei.

Celina Veronese
Divisão Nacional de Mensageiras do Rei
Recordações 7
A pequena Minnie Lou 9
Tempos difíceis 13
Da fazenda para a cidade 17
Chamada e preparo para a
obra missionária 20
Primeiras aventuras missionárias 25
Líder Nacional das
Mensageiras do Rei 29
Experiências marcantes 36
Um pouco de humor 38
Colaboradora fiel 40
A amiga 42
Missão cumprida 44
Recordações

A esbelta moça atravessou a passos largos a alameda de ja-


queiras do Colégio Batista Brasileiro, passou pelo grupo de
estudantes do internato que conversava à sombra do pé de
cajá-manga e, com um sorriso, perguntou pela presidente
da União de Estudantes Batistas. Não sei bem se foi aquele
o nosso primeiro encontro. Lembro-me de tê-la visto ou
antes ou depois, nos meus primeiros dias de Rio de Janeiro,
no santuário da Igreja Batista de Itacuruçá, que ainda se reu-
nia no Colégio Batista, à Rua José Higino, mas foi naquele
momento que prestei atenção para os traços daquele rosto
sardento, de pequeninos olhos muito azuis e vivos, para o
sotaque carregado e o contraste entre o vestido marrom que
usava e o ruivo daqueles cabelos crespos e curtos. Olhou-me
surpresa, sem dúvida, admirando-se de ver entre o grupo de
alunas, quase todas sulistas, os traços nordestinos do meu
ossudo e largo rosto, sem perceber que a sua imagem me
fazia recordar da boneca loura, muito branca, que fez os
encantos dos folguedos de uma criança sertaneja.
– Quem é? – perguntei à colega a que se dirigia a ame-
ricana.
Fiquei sabendo que se chamava “Miss” Minnie Lou
Lanier, que era missionária, que trabalhava na União Geral de
Senhoras, hoje, União Feminina Missionária Batista do Brasil,
e que dava aulas de Bíblia no Curso de Obreiras do nosso Co-
légio Batista, no qual era conselheira da União de Estudantes
Batistas. Soube, também, que estava organizando grupos que
davam atenção especial às adolescentes e pré-adolescentes de
nossas igrejas.
Daí por diante, acostumei-me a vê-la passar pelo pátio
do Colégio, tentando encurtar caminho para pegar a con-

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dução na Rua Conde de Bonfim, ou voltando para o seu apartamen-
to no lindo recanto situado à Rua Uruguai, 514, ou ainda entrando
e saindo da sala em que lecionava às alunas mais adiantadas.
Até concluir meu curso no Instituto de Treinamento Cristão,
hoje CIEM, eu já me havia tornado uma espécie de sua auxiliar
permanente durante as minhas férias. Como tal, colaborava nas
várias promoções do Departamento Nacional de Mensageiras do
Rei. Foram oportunidades inesquecíveis, de valor inestimável para
a minha vida de estudante, quando, em contato com a dedicada
pioneira das Mensageiras do Rei no Brasil, aprendia a amar missões.
Durante os anos em que servi como missionária da Junta de Missões
Nacionais no interior da Pátria, foi sempre motivo de inspiração
para a minha vida poder acompanhar de longe, e algumas vezes de
perto, a vida dedicada daquela que trouxe às nossas igrejas batistas
o símbolo da estrela, vivenciando ela própria os ideais da organi-
zação e obedecendo tão intensamente à ordem divina: “Levanta-te,
resplandece!”

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A pequena
Minnie Lou

N o dia 17 de junho de 1915, no lar de Patrick Henry Lanier


e Martha Elizabeth Lanier, conhecida na intimidade por Li-
zzie, nasceu mais um bebê, o sexto da família, que recebeu
o carinhoso nome de Minnie Lou. Era mais um presente
divino para o lar dos Lanier. De fato, Deus os abençoara
no decorrer dos anos. Eram proprietários de uma grande
fazenda no Estado de Georgia, nas proximidades da grande
cidade de Savannah, que fora adquirida pelo avô de Patrick
no tempo colonial dos Estados Unidos e que passara a
pertencer-lhe totalmente, em parte por herança, em parte
por compra aos demais herdeiros na época da partilha.
Não fora fácil o início, pois a casa em que o Sr. Lanier
crescera, construída ainda pelos que traziam no sangue
o ardor do pioneirismo, o fogo destruíra. Naquela sólida
habitação, deveria ser estabelecido o lar de Patrick Henry
e Elizabeth, um sonho, em parte, transformado em cinzas.
Mesmo assim, o casamento foi realizado na data prevista.
Nos primeiros anos, o jovem casal morou numa pequena
casa feita de troncos. Não foi à toa que aquele que veio
a ser o pai de Minnie Lou recebeu um dos mais famosos
nomes da história dos Estados Unidos. Chamava-se Patri-
ck Henry o patriota pioneiro e destemido que deu o grito
de “independência ou morte” para os americanos daquela
parte do Novo Mundo, em 1776. Patrick Henry Lanier
também encarnava ardor e bravura suficientes para honrar
o nome que recebera. Acima de tudo, possuía a mesma fé
e a lealdade daqueles que, um dia, movidos pelo desejo de
liberdade religiosa e pelo sentimento de fidelidade a Deus,
deixaram a velha e querida Inglaterra.

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Dois anos apenas se passaram, e os Lanier mudaram-se para a
nova e confortável residência: uma casa de madeira tirada, como
a primeira, da própria floresta da fazenda e construída no mesmo
local da que se queimara. Era bem ampla, com uma grande varanda
na frente e nos fundos, três quartos, sala de visitas, sala de jantar
e uma grande cozinha. Ligando a varanda da frente à dos fundos,
havia um extenso corredor. Deus recompensava o trabalho dos
seus servos, concedendo-lhes habitação adequada, onde nasceriam
os filhos daquela feliz união: Martha Alma, a mais velha; Oscar, o
segundo; Montague, o terceiro; Leona Elizabeth, a quarta; Ouida,
a quinta; Minnie Lou, a sexta; Ana, a sétima; Sidney, o caçula.
Todos, exceto Ana, herdaram olhos azuis do pai. Ana tinha lindos
olhos castanhos, iguais aos da mãe.
Tendo vivido os seus primeiros doze anos na fazenda, Minnie
Lou teve uma infância feliz e despreocupada, gozando as bele-
zas naturais que a cercavam e participando das tarefas normais
da vida no campo. As terras da fazenda eram excelentes para a
agricultura. No tempo do plantio, o pai e os irmãos mais velhos
trabalhavam zelosamente para que, na época certa, a colheita fosse
boa. Legumes, frutas, batatas, verduras, enfim, todos os produtos
da terra eram colhidos e, para garantir a alimentação durante o
longo inverno, tudo o que poderia se estragar era colocado em
conserva por processos caseiros especiais. No período da ceifa, a
família inteira trabalhava, até mesmo os filhos menores. A partici-
pação de todos, sempre com muita alegria e animação, unia cada
vez mais os Lanier, que possuíam bens materiais em abundância
e bem poderiam dispensar o trabalho das crianças menores, mas
que não o faziam por sentirem necessidade de desenvolver em
seus dependentes, desde muito cedo, o espírito de trabalho e de
união, para que se tornassem pessoas úteis.
A vida corria às mil maravilhas para a pequena Minnie Lou, pois,
além do carinho familiar, na fazenda, gozava dos encantos da pródiga
natureza. Havia um lindo jardim ao redor da casa, que produzia flores
em abundância. Também havia árvores de todas as espécies, for-
mando alamedas que embelezavam o ambiente, produziam gostosos
frutos e forneciam sombra à vontade. O Sr. Patrick Henry construiu
um caramanchão, onde cresceu uma enorme parreira. No verão, era

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aquele o lugar predileto de Minnie Lou e suas irmãs mais novas
nas horas de lazer. Outras atrações eram a pesca e o banho no rio e
no córrego que passavam pela fazenda. Quase que diariamente, nos
dias de verão, as crianças passavam horas inesquecíveis no límpido
córrego. O rio era mais perigoso, porque nele havia um desagradável
habitante: um jacaré enorme. Quando as crianças tinham permissão
para tomar banho no rio, o que raramente acontecia, o Sr. Patrick
sempre ficava vigiando com uma espingarda nas mãos, pronto para
atirar. Assim, as crianças sentiam-se seguras sob a proteção zelosa
do bondoso pai.
A fazenda, embora bem localizada, ficava fora da rota do correio,
de modo que a caixa postal dos Lanier distava quase dois quilômetros
da casa em que moravam. Diariamente, o carteiro passava de auto-
móvel e ali depositava a correspondência, bem como o jornal do dia,
que chegava à cidade mais próxima pelo trem da manhã. Ainda bem
pequena, Minnie Lou recebeu a incumbência de ir sozinha buscar
a correspondência e o jornal todos os dias. A estrada era pública e
segura, de modo que, enquanto as meninas maiores realizavam tarefas
mais difíceis, a pequena Minnie Lou trabalhava também, contribuindo
para manter a família bem informada. O telefone, por algum tempo,
e o carro, especialmente, ajudaram bastante. As compras podiam ser
feitas na pequena cidade vizinha, Pembroke, e, quando necessário,
em Savannah, que ficava a 50 quilômetros.
Com apenas seis anos de idade, Minnie Lou já frequentava a escola
pública que servia àquela região rural. No verão, especialmente nos
dias quentes, as crianças podiam ir à escola descalças e com roupas
bem leves. Dessa maneira, era muito agradável o percurso, ao con-
trário do que acontecia na estação fria, quando tinham que ir muito
bem agasalhadas. Algumas vezes, quando o Sr. Lanier ia fazer com-
pras na cidade, tendo que interromper os trabalhos na fazenda, as
crianças podiam se dar ao luxo de ir à escola de carroça puxada por
cavalos. Como era divertido! Sempre que isso acontecia, passavam
pela casa de uma tia que morava a meio caminho da escola e davam
carona aos primos.
A escola funcionava numa única sala, com uma só professora
para vários alunos de diferentes graus de adiantamento, que fi-
cavam separados por grupos. A professora distribuía as tarefas e

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Algumas vezes, quando o Sr. Lanier ia fazer compras na cidade, tendo que interromper
os trabalhos na fazenda, as crianças podiam se dar ao luxo de ir à escola de carroça puxada
por cavalos.

supervisionava os estudos, orientando ora os mais adiantados, ora os


mais atrasados. Apesar disso, havia muita ordem e respeito, e ninguém
tinha o direito de conversar com o colega ou de fazer uma pergunta
sem a permissão da professora. Para solicitar tal permissão, o aluno
levantava o braço direito e, respeitosamente, aguardava a ordem para
se levantar ou para se dirigir a alguém na sala.

12 LEVANTA E RESPLANDECE
Tempos difíceis

E ra novembro, véspera do Dia de Ação de Graças, data muito


esperada, pois a família de Minnie Lou deveria participar
das celebrações no templo, para agradecer, de maneira toda
especial, as grandes bênçãos recebidas de Deus.
Os efeitos do outono, que chegava ao fim, deixavam suas
marcas nas árvores nuas, e as crianças aproveitavam os dias
de calor indiano (dias de calor no inverno ou no outono,
nos Estados Unidos) para vestir as agradáveis roupas leves
do verão.
Muito cedo, o Sr. Lanier saíra para fazer compras na cida-
de. Desse modo, os cavalos e a carroça ficaram disponíveis.
Que bom! Era mais uma oportunidade de não irem à escola a
pé. Partiram mais cedo, a fim de dar uma passadinha na casa
da tia em tempo de proporcionar aos primos a costumeira
carona e, especialmente, de saborear a deliciosa garapa, co-
mer melado e pegar cana para a hora do recreio na escola,
pois era época de moagem.
Enquanto lotavam a carroça, o tio de Minnie Lou, olhando
para o horizonte na direção da casa do cunhado, viu espessa
fumaça, que subia como se algo estivesse queimando. Por
haver uma considerável distância entre as duas propriedades,
era difícil saber o que realmente estava acontecendo. Mas
os irmãos de Minnie Lou, advertidos pelo tio, decidiram
voltar para casa, já que o pai estava ausente. As meninas,
acompanhadas dos primos, prosseguiram a pé até a escola.
Oscar e Montague encontraram a casa totalmente des-
truída. D. Lizzie conseguiu salvar uma cadeira, que havia
trazido da casa dos pais, e um colchão de penas de ganso,
feito pela mãe dela para o enxoval de casamento. Por fe-

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licidade, também o carro, que o Sr. Lanier não havia usado para ir à
cidade, escapou do incêndio, pois a garagem havia sido construída
longe da casa.
O quadro era desolador. Mas, naquela véspera do Dia de Ação de
Graças, muitos louvores subiram aos céus antecipadamente porque
ninguém da família perdera a vida. Os caçulas escaparam pela pro-
vidência divina.
O incêndio aconteceu quando D. Lizzie foi cedo ordenhar as vacas
e deixou Ana, de quatro anos, e Sidney, de dois, dentro do quarto.
Em meio ao trabalho, o cachorro, que a acompanhou ao curral, de
repente, começou a latir. Pensando que fosse por causa de algum
estranho que passava na estrada, D. Lizzie não se preocupou logo.
Mas, sendo que o cachorro insistia em latir, largou o serviço e foi
dar uma espiada. Horrorizada, viu a casa em chamas. Já pensando
no pior, correu para retirar os filhos do quarto trancado. As crianças,
ao perceberem o perigo e não conseguindo abrir a porta, haviam
se escondido atrás de um grande baú, cobrindo-se com cobertores.
D. Lizzie conseguiu tirá-las de lá sem qualquer queimadura poucos
instantes antes do teto ruir.
Logo que perceberam a fumaça, os vizinhos acudiram. A distância,
no entanto, não permitiu que chegassem a tempo de evitar a destruição.
Mesmo assim, prestaram sua solidariedade à corajosa mãe, que exigia a
presença das filhas. Um vizinho, então, dirigiu-se de carro à escola, e um
rapazinho, também aluno, entrou para dar a notícia. E o interessante é
que, mesmo naquelas circunstâncias, o respeito à ordem estabelecida foi
mantido. O mensageiro sentou-se em seu próprio lugar na grande sala,
levantou a mão em sinal de que precisava falar e, ao receber a necessária
permissão, foi até a carteira da pequena Minnie Lou e deu a terrível notícia.
Sem saber como agir e muito tímida para aproximar-se da professora,
Minnie Lou começou a chorar alto, sendo logo percebida pelas irmãs
mais velhas, que também começaram a chorar, antes mesmo de serem
informadas do que realmente havia acontecido, pois logo se lembraram
da fumaça que haviam visto quando estavam na casa da tia.
Dispensadas das aulas, as meninas correram para casa e encon-
traram D. Lizzie inconsolável, junto aos escombros da querida casa.
Por algum tempo, todos choraram alto. Minnie Lou, com apenas

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Por algum tempo, todos choraram alto. Minnie Lou, com apenas seis anos de idade,
embora quisesse fazer a sua parte, não conseguiu ser solidária nas lágrimas por muito tempo
naquela hora de dor.

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seis anos de idade, embora quisesse fazer a sua parte, não con-
seguiu ser solidária nas lágrimas por muito tempo naquela hora
de dor. Ficou imensamente aliviada quando viu que uma das
irmãs estava olhando tranquilamente para o fundo de um poço.
Aproximou-se dela muito desconfiada e, suspirando de alívio,
ingenuamente indagou:
– Mana, você também já parou de chorar?
Agora, a família Lanier estava sem casa, sem outras roupas além
das que tinham no corpo, sem móveis e sem utensílios domésticos.
Os bondosos vizinhos, no entanto, já estavam providenciando o mais
necessário para aquela situação de emergência.
Por algum tempo, até ser construída a nova residência, Minnie
Lou, Elizabeth e Ouida ficaram na casa da tia, próxima à fazenda.
Os pais e os irmãos mais velhos acomodaram-se numa das granjas.
A irmã mais velha e os dois irmãos menores foram para a casa de
uma tia que morava a quinze quilômetros da fazenda. Foi durante
essa visita forçada que Martha Alma conheceu o rapaz com quem
se casou um ano depois. Assim, Minnie Lou ganhou o seu primeiro
cunhado.

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Da fazenda
para a cidade

R esidindo na fazenda, a pequena Minnie Lou não podia,


como as crianças das famílias cristãs da cidade, frequentar
a Escola Bíblica Dominical, mas sempre lia a grande e
ilustrada Bíblia da família. Gostava de fazê-lo a sós, em
seu quarto, e também com todos os membros da família,
reunidos na ampla e confortável sala de jantar, na hora do
café da manhã, bem cedinho. A porta, no inverno sempre
fechada por causa do frio, tinha a parte superior de vidro
fosco. O sol avermelhado da aurora, através daquele vidro,
dava um efeito muito bonito, que contribuía para tornar
o ambiente muito agradável naqueles momentos de culto
em família.
Do lado materno, os parentes de Minnie Lou eram cren-
tes fiéis, membros da Igreja Batista Primitiva, e os pais dela
também se consideravam batistas. Assim, duas ou três vezes
por ano, tinha o privilégio de ir à igreja. Eram ocasiões muito
especiais, que ela aguardava com ansiedade.
Aos 12 anos, finalmente, Minnie Lou mudou-se com sua
família para a cidade. A nova residência ficava bem perto
de um grande templo batista, onde se reunia uma grande
igreja de cerca de cinco mil membros. Estava ali a oportu-
nidade de participar regularmente dos cultos. Nesse tempo,
a União Feminina Missionária não tinha uma organização
missionária específica para as pré-adolescentes e as ado-
lescentes, pois ainda não havia sido criada a organização
Mensageiras do Rei.
Certo dia, Minnie Lou estava numa classe da Escola Bí-
blica Dominical, quando a professora pediu-lhe que orasse
em voz alta. Nova no ambiente e muito tímida em seus

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primeiros contatos com a igreja, levou um choque tão grande, que
mal conseguiu, com a voz trêmula e o coração aos saltos, balbuciar
algumas palavras. Depois disso, resolveu não voltar mais à igreja,
pois temia que se repetisse a desagradável e assustadora experiência
que a deixara profundamente envergonhada. É que naquele tem-
po, além de inexperiente e sem o traquejo social das meninas da
cidade, Minnie Lou ainda não havia tido um encontro real com
Cristo. Foi só mais tarde, no silêncio do seu quarto, lendo a velha
e querida Bíblia ilustrada, que ela sentiu o peso dos seus pecados,
confessou-os e sentiu a graça do perdão. Aos 17 anos de idade, ela

No silêncio do seu quarto, lendo a velha e querida Bíblia ilustrada, Minnie Lou sentiu o
peso dos seus pecados, confessou-os e sentiu a graça do perdão.

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voltou à igreja para dar a sua pública profissão de fé. Dessa vez foi
bem diferente, porque paz e alegria extravasavam do seu íntimo, e a
experiência da conversão lhe dava a segurança que antes não possuía.
A mudança dos Lanier para a cidade ocorreu durante o tempo em
que o seu país enfrentava uma crise econômica muito grande. Numa
época tão difícil e com os filhos estudando, os recursos da fazenda e
o dinheiro economizado para suprir as necessidades da família não
eram suficientes para pagar as despesas pessoais de todos na cidade
grande. Os filhos precisavam ajudar. Minnie Lou, então, logo pensou:
“Estou ficando mocinha e também preciso fazer a minha parte. O
que poderei fazer para ganhar algum dinheiro e não depender em
tudo do papai?” Próximo à sua casa, havia uma senhora que tinha
um salão de beleza. Minnie Lou via como as freguesas recebiam cui-
dados especiais para melhorar sua aparência e concluiu que gostaria
de aprender a arte de embelezar cabelos. Foi com esse interesse que
passou a ajudar a vizinha. Aprendeu a cortar, enrolar e frisar cabelos.
A vizinha gostava imensamente do auxílio que recebia. Desse modo,
Minnie Lou continuou a ajudá-la durante algum tempo. Trabalhava
com tanta habilidade, que algumas freguesas passaram a preferir os
seus serviços, indo procurá-la em sua própria casa. Então, de repente,
Minnie Lou teve que improvisar um salão de beleza. Desse modo,
durante os anos do ensino fundamental, essa atividade paralela aos
estudos tomava-lhe grande parte do tempo e garantia-lhe o suficiente
para suas despesas pessoais e contribuições para a igreja.
Tendo concluído o ensino fundamental, Minnie Lou conseguiu
trabalho numa loja, no setor de contabilidade. Agora tinha um
emprego de verdade e, após ter adquirido experiência, passou a
receber um salário bem compensador. Era muito bom trabalhar,
ser útil, mas era ainda bem melhor sentir-se filha de Deus e parti-
cipante em sua obra.

LEVANTA E RESPLANDECE 19
Chamada e preparo
para a obra missionária

I ntegrada nos trabalhos de sua igreja desde o memorável


dia da sua pública profissão de fé, Minnie Lou tornou-se
logo sócia assídua e operante da Sociedade de Moças.
Muito contribuiu para isso a simpatia da líder, pessoa
espiritual e jeitosa, que soube levar as suas lideradas a
uma vida cristã mais dinâmica. Certa vez, ela escreveu
uma carta a cada moça, o que resultou em consagração
de vidas, fortalecendo muito aquela Sociedade de Mo-
ças. Nesse tempo, Minnie Lou ainda não pensava em
ser missionária. Como é normal acontecer, ela sonhava
encontrar um companheiro, formar o seu próprio lar,
ter filhos, enfim, constituir uma família feliz. Mas Deus
tinha outro propósito para a sua vida.
Com a idade de 19 anos, Minnie Lou participou de um
congresso nacional de Sociedades de Moças do seu país.
Foi uma experiência muito marcante, pois teve o seu pri-
meiro contato com missionários e com pessoas cristãs de
outras terras. Sua chamada para o trabalho missionário,
entretanto, só aconteceu cinco anos mais tarde, em 1939.
Era um dia chuvoso. Mesmo assim, visitava a sua igreja
uma missionária independente, que trabalhava no Brasil.
Chamava-se Pearl Bigle. Ela realizava, no Estado do Rio
Grande do Sul, um trabalho parecido com o das Casas da
Amizade, prestando serviços nas favelas. Pearl Bigle preci-
sava muito de uma auxiliar, que seria sustentada por uma
das igrejas do seu estado natal. Falou bastante sobre o nosso
país e, especialmente, sobre as necessidades espirituais do
nosso povo e a grande oportunidade que seu campo de
trabalho, o Rio Grande do Sul, oferecia a quem se dispu-

20 LEVANTA E RESPLANDECE
sesse a testemunhar de Cristo, em obediência à grande comissão.
Não fez apelo. Mesmo assim, o Espírito Santo tocou no íntimo de
Minnie Lou de tal maneira, que, naquele dia, ela ficou sabendo qual
era a vontade de Deus para a sua vida.
Antes de voltar ao Brasil, Pearl Bigle procurou Minnie Lou e
convidou-a para ser sua ajudante no campo missionário. Entretanto,
ouvindo os conselhos do seu pastor, Minnie Lou decidiu preparar-se
melhor antes de deixar o seu país. Foi, portanto, com a firme convicção
de que Deus a queria como missionária no Brasil, que ela voltou aos
estudos. Não foi fácil, pois, além de ter que deixar o emprego, que lhe
dava boa renda, aparentemente, não havia os recursos necessários para
o seu sustento. Os Estados Unidos viviam os últimos anos da grande
depressão econômica, que atingira em cheio a sua população, inclusive
a família de Minnie Lou, que estava sem condições de assumir as des-
pesas com seus estudos. Só mesmo a convicção da chamada divina e a
certeza de que Deus não apenas convoca, mas também abre as portas
e supre as necessidades, deram-lhe forças suficientes para enfrentar
essa nova situação.
Tendo tomado conhecimento da decisão de Minnie Lou, sua igreja
decidiu responsabilizar-se por parte de suas despesas durante os
quatro anos na universidade. A outra parte foi conseguida através de
uma pequena mensalidade paga pelo Governo, em troca de serviços
prestados na própria escola. Nos primeiros meses, o serviço foi duro.
Minnie Lou precisava acordar às cinco horas da manhã para varrer
as salas de aula e os compridos corredores da escola. Mas logo a
situação melhorou, pois tendo sido informada de sua experiência
em contabilidade e observando sua viva inteligência, seu senso de
responsabilidade e seu comportamento exemplar, a administração
logo a convidou para trabalhar na tesouraria da universidade. Com
isso, estava garantido o dinheiro suficiente para o pagamento das
mensalidades. Uma pequena ajuda vinda de membros da família e o
auxílio da igreja pagavam as compras de livros e as despesas pessoais.
Com muita gratidão, Minnie Lou contava com o dólar quinzenal
que seu irmão e esposa lhe enviavam fielmente. A venda dos livros
usados no ano anterior ajudava muito na compra de material para
o ano seguinte.

LEVANTA E RESPLANDECE 21
Vencida a primeira
etapa de complemen-
tação dos estudos, ao
concluir o curso na Uni-
versidade Tift-College,
na Georgia, Minnie Lou
ingressou no Seminário
Teológico Batista do
Sul, em Louisville,
Kentucky. A União
Feminina Missionária
Batista do seu estado
pagou seus estudos e,
para as despesas pes-
soais, nas horas vagas,
trabalhava na secretaria
de uma igreja. Foi mais
uma oportunidade de
treinamento para os
cargos que exerceria futuramente no campo missionário. Nessa
época, também lhe valeu muito a sua habilidade de cabeleireira.
Cuidando dos cabelos de outras alunas, fez crescer o seu círculo de
amizades, além de receber, vez por outra, recompensa em dinheiro
pelos favores prestados.
Apesar de trabalhar para prover o seu próprio sustento, Minnie
Lou nunca se descuidou de intensificar a sua comunhão com Deus
e de se dedicar aos livros. Os estudos sobre a história da Igreja e
as necessidades espirituais dos povos estrangeiros despertavam-lhe
cada vez mais o ardor pela obra missionária. Durante os anos de
preparo, diziam-lhe que seria quase impossível ser enviada ao Brasil.
A Junta de Richmond estava cada vez mais interessada nos países
orientais, especialmente na China, que por tanto tempo estivera
com suas portas fechadas aos estrangeiros. Apesar dessas infor-
mações, em seu íntimo, a jovem Minnie Lou sentia que as portas
se abririam para o seu ministério no Brasil, país que não lhe saía
da mente e do coração desde que se sentira chamada para a obra
missionária.

22 LEVANTA E RESPLANDECE
Minnie Lou nunca se descuidou de intensificar a sua comunhão com Deus e de se dedicar
aos livros. Sentia que as portas se abririam para o seu ministério no Brasil, país que não lhe
saía da mente e do coração desde que se sentira chamada para a obra missionária.

LEVANTA E RESPLANDECE 23
Devidamente preparada e disposta a fazer a vontade de Deus onde
quer que fosse, Minnie Lou ficou aguardando a decisão da Junta de
Richmond. Finalmente, todo o processo de nomeação chegou ao
fim. Que alegria! Seu campo missionário seria mesmo o Brasil. Isso
lhe causou profunda emoção.
Corria o ano de 1945 e com ele voltava a paz, interrompida durante
a Segunda Guerra Mundial. A família de Minnie Lou aguardava a
chegada de Sidney, o caçula, que estivera servindo no Pacífico du-
rante três anos. Ele se encontrava nas Filipinas e não podia voltar
para casa imediatamente, pois fora designado para integrar as tropas
do exército de ocupação no Japão. D. Lizzie não podia admitir que a
filha partisse para tão longe antes da chegada do irmão. Portanto, a
viagem, que fora marcada para outubro, com a permissão da Junta,
foi adiada para novembro.
Naquela época, era difícil receber notícias de parentes distantes.
Mas, tendo sido informada de que parte das tropas de ocupação
estava chegando, a família Lanier juntou-se à grande multidão que,
ansiosa, aguardava no cais do porto. Mas, para surpresa de todos,
Sidney não estava entre os que regressavam. E agora? Minnie Lou
sentiu que não poderia mais esperar. Deveria viajar na data pror-
rogada, mas faria isso com imenso pesar. No entanto, para alegria
de toda a família, Sidney chegou de surpresa trinta e seis horas
antes do embarque de Minnie Lou. Desse modo, mais uma vez,
Deus abençoava aquela nobre família, que agora entregava uma de
suas filhas para outro tipo de guerra: a guerra contra o mal, com
as armas do evangelho. Uma guerra cuja finalidade era a de dar
vida, ao invés de ceifá-la, levando a esperança do evangelho da paz
e fazendo brilhar, com o poder de Deus, a luz das boas novas de
salvação na terra do Cruzeiro do Sul.

24 LEVANTA E RESPLANDECE
Primeiras aventuras
missionárias

P ara tomar o avião que a traria ao Brasil, acompanhada dos


pais e de mais três membros da família, Minnie Lou viajou
de carro para Miami, no Estado da Flórida. Foi uma via-
gem muito divertida e, tanto no percurso, quanto nos dias
passados ali, ela pôde sentir o quanto era amada pelos fa-
miliares e pôde observar como se esforçavam para alegrá-la
e tranquilizá-la, a fim de tornar menos penosa a separação.
O avião que traria Minnie Lou ao Brasil saiu de Miami no
dia 7 de novembro de 1945, com 21 passageiros a bordo. Sua
primeira escala em solo brasileiro se deu na cidade de Belém
do Pará, no dia 9, às 16 horas, depois de ter feito escalas
em Havana (Cuba), Porto Príncipe (Haiti), Cidade Trujilla
(República Dominicana), São Tomás e São João (duas ilhas),
Trinidad e nas capitais das Guianas: Georgetown, Suriname
e Caiena. Agora, na era do jato, o mesmo trajeto é feito em
poucas horas. Na década de 40, no entanto, antes de chegar
à maravilhosa cidade do Rio de Janeiro, onde deveria per-
manecer, Minnie Lou teve que passar por essas inúmeras
escalas, além de pernoites em três diferentes cidades, duas
delas aqui mesmo no Brasil.
Durante a viagem, cercada de pessoas que falavam in-
glês, Minnie Lou sentiu-se muito à vontade. Em Belém,
experimentou pela primeira vez o nosso guaraná, que
passou a ser o refrigerante brasileiro de sua predileção.
Em Fortaleza, depois de uma escala em São Luís, com
certa relutância, jantou sopa de feijão preto. Foi também em
Fortaleza que se separou da última companheira de viagem
com quem podia conversar. Então, começou a sentir-se
muito só.

LEVANTA E RESPLANDECE 25
De Fortaleza até chegar ao seu destino, o avião ainda fez escalas
em Natal, Recife, Manaus, Canavieiras e Vitória. No final do dia,
no entanto, ao desembarcar do avião no Rio de Janeiro, teve uma
surpresa: Mãos abanando e rostos sorridentes a aguardavam no aero-
porto. Lá estavam os missionários conterrâneos: Minnie Landrum (já
falecida), então Secretária-Executiva da União Geral de Senhoras do
Brasil (hoje UFMBB); o Dr. J. J. Cowsert e sua esposa (já falecidos),
que se tornaram seus vizinhos por mais de uma década; o Pr. Edgar
Hallock (já falecido); Dorine Hawkins, hoje Dorine Hawkins Stewart
(aposentada); Albertina Meador, que ficou pouco tempo no Brasil,
pois veio a falecer muito jovem ainda, vítima de febre tifoide, depois
de dois anos em Vitória, Espírito Santo.
Apesar da saudade de sua família e de sua pátria, bem como das
diferenças culturais, não foi difícil para Minnie Lou gostar do Brasil.
Passadas em companhia de D. Minnie Landrum, as primeiras três
semanas foram muito agradáveis. Os encantos da cidade do Rio de
Janeiro, particularmente do bairro da Tijuca, onde ficou hospedada,
causaram-lhe a melhor das impressões. Embora não pudesse entender
o linguajar do povo, através do calor dos cumprimentos e da expressão
amiga dos rostos sorridentes dos novos irmãos e das demais pessoas
com quem ia tendo contato, ela podia sentir que estava entre gente
muito amiga e comunicativa.
Chegou a época do Natal, o primeiro Natal que Minnie Lou iria
passar longe dos seus familiares. Era tudo tão diferente! Em vez de
neve, sol brilhante e muito calor. No lugar de casacos pesados, roupas
leves e claras. Quantas árvores floridas na Avenida Maracanã! Minnie
Lou não pôde conter-se e, na véspera do grande dia, colheu algumas
flores para enfeitar a mesa que fora encarregada de preparar. À noite,
participando do culto especial na Igreja Batista de Itacuruçá, expe-
rimentou momentos de grande alegria ao identificar a música dos
vibrantes cânticos natalinos. Embora não pudesse entender a letra
dos hinos ou qualquer palavra do sermão, estava feliz, pois havia sido
por amor e em obediência ao seu Mestre e Senhor, cujo aniversário
estava sendo comemorado, que deixara tudo o que lhe era mais caro
para vir ao Brasil. Foi membro daquela igreja por 12 anos, durante os
quais sempre se sentiu entre irmãos amorosos e amigos verdadeiros.

26 LEVANTA E RESPLANDECE
Minnie Lou não pôde conter-se e, na véspera do grande dia, colheu algumas flores para
enfeitar a mesa que fora encarregada de preparar.

LEVANTA E RESPLANDECE 27
Até aprender a nova língua, Minnie Lou teve que se dedicar quase
que exclusivamente aos estudos. Naquela época, a Junta de Richmond
enviava ao novo missionário dez dólares mensais, além do salário,
para pagar um professor particular. Esse valor dava para pagar apenas
três aulas por semana. Minnie Lou, então, passou a lecionar inglês
em troca de aulas de português. Assim, em pouco tempo, já podia se
comunicar, embora com sotaque bem carregado e dicção imperfeita.
Mesmo depois da vasta experiência que o seu trabalho lhe havia pro-
porcionado, quando comentava sobre o seu progresso no domínio
da nossa língua, ela costumava dizer: “Os resultados demonstram
que não aprendi o suficiente.” É que, apesar de ter aprendido a lidar
muito bem com as dificuldades da língua portuguesa, a ponto de
falar fluentemente e de escrever muito, nunca chegou a pronunciar
corretamente determinadas palavras do nosso vocabulário, o que é
muito natural acontecer com estrangeiros que aprendem uma nova
língua na idade adulta.
Minnie Lou estava ansiosa para trabalhar e ficou muito feliz quando
recebeu um convite para ajudar no escritório da Missão Batista do
Sul, tarefa para a qual estava preparada, graças à prática que adquirira
anteriormente. Logo depois, o Secretário da Junta de Richmond para
a América Latina veio passar um ano no Rio de Janeiro, e Minnie Lou
foi designada para ser a sua secretária durante aquele ano. Depois da
saída do Dr. Gill, ela continuou a ajudar no escritório da Missão, no
setor de tesouraria. Fez isso até 1948.

28 LEVANTA E RESPLANDECE
Líder Nacional das
Mensageiras do Rei

E m 1949, Minnie Lou começou a trabalhar com a União


Feminina Missionária Batista do Brasil, que naquela época
se chamava União Geral de Senhoras. Até então, as meni-
nas de nove a quinze anos eram encaminhadas à Sociedade
de Crianças (hoje, Amigos de Missões) ou à Sociedade de
Moças (hoje, Jovens Cristãs em Ação), quando não ficavam
sem participar de qualquer organização missionária. Nesse
ano, porém, foi criada para elas a organização Mensageiras
do Rei, a mais nova das organizações da União Feminina
Missionária Batista do Brasil. Minnie Lou, tendo sido eleita
a primeira Líder Nacional das Mensageiras do Rei, foi quem
iniciou esse admirável trabalho no Brasil.
Nos dois primeiros anos, o desenvolvimento da orga-
nização não foi grande. Eram apenas três as primeiras
organizações: uma na Igreja Batista de Itacuruçá, outra na
Igreja Batista da Tijuca e outra no Colégio Batista, as três
na cidade do Rio de Janeiro.
Devido à falta de literatura apropriada para a nova or-
ganização, foi necessário preparar todo o material, traduzir
artigos e escrever programas. O primeiro manual também
teve que ser traduzido, o que foi feito com o auxílio de uma
comissão.
Em 1950, foi realizado o primeiro acampamento de
Mensageiras do Rei. Foi nas dependências do Instituto de
Treinamento Cristão, hoje, Centro Integrado de Educação
e Missões (CIEM), no Rio de Janeiro. Participaram desse
acampamento, levando inspiração às mensageiras, o Pr.
David Gomes, então pastor da Igreja Batista da Tijuca, e
o jovem casal Pr. Tiago e Creusa Lima, recém-nomeados

LEVANTA E RESPLANDECE 29
missionários da Junta de Missões Estrangeiras, atual Junta de Missões
Mundiais. Esse casal serviu durante alguns anos na Bolívia.
No início do trabalho, Minnie Lou teve que viajar muito para
divulgar a nova organização. Falava às igrejas, incentivando-as a or-
ganizarem Mensageiras do Rei. Além disso, orientava e preparava a
liderança. Graças ao seu esforço, em 1951, por ocasião da Assembleia
Anual da União Geral de Senhoras, ao apresentar o seu relatório, com
muita alegria, ela pôde anunciar a existência de 35 organizações. Era
realmente um começo muito animador.
No início, o trabalho das Mensageiras do Rei nem sempre era bem
recebido, pois havia muitos crentes que se preocupavam com o fato
de haver, no antigo sistema de graduação, o passo de rainha. Achavam
que a União Geral de Senhoras, indiretamente, estaria incentivando a
vaidade e o mundanismo entre as adolescentes. Outros eram contra
o uso de vestidos longos, que eram usados durante os programas de
reconhecimento. Havia também aqueles que se opunham ao uso da
coroa, símbolo do passo de rainha, mesmo que fosse por um instante
apenas, pois tão logo eram coroadas, instruídas pela zelosa líder, ao
som do cântico do hino “Coroai”, do Cantor Cristão, todas as rainhas
depunham suas coroas sobre uma Bíblia aberta, enquanto diziam:
“Coroai o Rei dos reis”. Com esse gesto simbólico, depositavam
suas coroas aos pés de seu Mestre e Senhor, aquele a quem elas tanto
estavam aprendendo a amar e glorificar.
Sempre pronta a fazer adaptações de acordo com o local, conforme
ensina a Palavra de Deus em Romanos 14.19, revestida da sabedoria
do alto, Minnie Lou ouvia e respeitava a opinião da liderança das igre-
jas que visitava. Com isso, foi ganhando a simpatia e a confiança de
todos, até mesmo daquelas pessoas que se haviam colocado frontal-
mente contra a organização por motivos como os que foram mencio-
nados. E assim, novas organizações foram surgindo em todo o Brasil.
Entre as adolescentes e as pré-adolescentes que participavam das or-
ganizações recém-criadas, percebia-se entusiasmo, maior conhecimento
bíblico e consagração de vidas. Quando voltavam dos acampamentos,
quantas experiências novas tinham para contar aos pais e à igreja!
As atividades da igreja e o estudo da Bíblia passavam a ter um novo
sentido, pois desejavam alcançar os passos superiores do sistema

30 LEVANTA E RESPLANDECE
No início, Minnie Lou teve que viajar muito para divulgar a nova organização.

de graduação. E os programas realizados na organização, quando os


cinco ideais das Mensageiras do Rei eram ressaltados e vivenciados,
também lhes proporcionavam inspiração. E mais: O contato com
missionários, que narravam suas experiências nos campos do sertão
do Brasil, na Bolívia ou em Portugal (únicos países estrangeiros
onde os batistas brasileiros mantinham missionários naquele tempo),
despertava nas meninas um grande amor por missões. Todos esses
foram fatores que contribuíram grandemente para a aceitação do
trabalho das Mensageiras do Rei nas igrejas. Uma organização que
trazia resultados como esses não poderia ser combatida. Pelo contrá-
rio, merecia ser aceita e divulgada, o que foi acontecendo de maneira
maravilhosa em todas as igrejas onde havia uma Sociedade Feminina
Missionária (hoje, Mulher Cristã em Ação) atuante.

LEVANTA E RESPLANDECE 31
Consciente de sua responsabilidade em ajudar as adolescentes e
as pré-adolescentes ao alcance das igrejas batistas do Brasil, Min-
nie Lou viajava constantemente, ora para atender a solicitações de
auxílio que recebia de igrejas locais, ora para fazer promoção do
trabalho nos diversos estados do Brasil. Para tanto, teve que viajar
em transporte de todo o tipo: charrete, jipe, trem, avião comercial,
avião missionário, barco, ônibus... Para ir às igrejas mais próximas,
dentro do então Distrito Federal, que depois passou a ser o Estado da
Guanabara e atualmente é a cidade do Rio de Janeiro, ela dirigia sua
utilíssima Kombi azul-claro, que recebera da Missão para facilitar--lhe
o trabalho. E como ajudava! Com cartazes, coroas, cetros, octógonos,
papéis coloridos, fitas, bonecas caracterizadas, projetor de slides, tela
de projeção, máquinas fotográficas, enfim, com tanto material, só
mesmo uma Kombi para transportar tudo.
Os acampamentos, sempre aguardados com muito entusiasmo, ti-
nham que ser planejados com muita antecedência. Nos primeiros anos,
não havia lugares apropriados para a sua realização. Felizmente, os
colégios batistas, o IBER (hoje, CIEM), o SEC e outras instituições de
nossa denominação cediam suas instalações na época das férias. E assim,
com muita improvisação, poucos recursos, o apoio fiel da União Geral
de Senhoras e o exaustivo, embora altamente recompensador, trabalho
da esforçada Líder Nacional das Mensageiras do Rei, o trabalho ia sendo
realizado e os resultados eram animadores. Em cada acampamento, re-
gistravam-se inúmeras decisões ao lado de Cristo, e muitas mensageiras
atendiam ao apelo para a obra missionária ou para serem mais fiéis no
cumprimento da vontade de Deus. Geralmente, esses momentos de alta
significação, quando eram ouvidos testemunhos e ocorriam decisões,
aconteciam em cultos especiais ao redor da fogueira.
O primeiro acampamento realizado no Sítio do Sossego foi real-
mente um marco na história da organização. O local não apresentava
ainda as instalações necessárias e praticamente nenhum conforto. Os
sanitários eram bem primitivos, como aqueles da roça, e não havia
equipamento suficiente para o refeitório e a cozinha. A viagem de
Niterói até o sítio era feita em carroceria de caminhão, mas as meni-
nas gostavam tanto da experiência, que, nos anos seguintes, quando
passaram a viajar de trem, diziam que preferiam ir de caminhão, pois
era muito mais divertido.

32 LEVANTA E RESPLANDECE
Para ir às igrejas mais próximas, dentro do então Distrito Federal, Minnie Lou dirigia sua
utilíssima Kombi azul-claro, que recebera da Missão para facilitar-lhe o trabalho.

LEVANTA E RESPLANDECE 33
Pouco a pouco, o Sítio do Sossego foi passando por consideráveis
melhorias. Com uma oferta vinda dos Estados Unidos, Minnie Lou
pagou a construção de banheiros no centro da propriedade. E a
União Geral de Senhoras comprou muitas panelas, travessas, tigelas,
colheres e outros utensílios para a cozinha e o refeitório.
Na revista Mensageira do Rei (hoje, Aventura Missionária), no
primeiro trimestre de 1969, ano em que se comemorou o vigésimo
aniversário da organização, Edna Pinto de Moraes, a líder que subs-
tituiu Minnie Lou, assim descreveu o Sítio do Sossego: “É um dos
recantos mais apreciados, por causa da exuberante beleza natural.
Possui cabines com nomes de animais e camas do tipo beliche com
três andares cada uma. Atualmente, dispõe de duas piscinas, sendo
uma pequena, para crianças. Ao lado do salão de cultos, ouve-se o
murmúrio de uma cascata, que jorra sua água cristalina incessante-
mente. Todo o encanto daquele local de acampamentos nacionais
convida cada pessoa a pensar na grandeza de Deus.”
Para comemorar os 15 anos de existência da organização, o De-
partamento Nacional de Mensageiras do Rei realizou o primeiro
acampamento nacional só para rainhas, intitulado Corte Real. Onze
estados brasileiros se fizeram representar com várias mensageiras:
Amazonas, Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte,
Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e o
antigo Estado da Guanabara. Mensageiras de outros estados não
puderam participar, mas o número de rainhas presentes dava uma
ideia do progresso da organização. Através do trabalho e do teste-
munho pessoal de tantas adolescentes, Minnie Lou podia perceber
que aquelas mensageiras eram, de fato, vidas resplandecentes, que
se levantavam para glorificar a Deus. Com isso, ficava imensamente
feliz, pois sentia que estava empregando seus talentos e o vigor dos
seus anos no preparo das futuras líderes das organizações de nossas
igrejas, das missionárias, daquelas que substituiriam a sua geração na
propagação do reino de Deus.
Lucia Margarida Pereira de Brito, atual Diretora Executiva da
União Feminina Missionária Batista do Brasil, foi mensageira do
Rei. É dela a seguinte declaração: “Conheci Minnie Lou quando
era mensageira do Rei, durante o acampamento que se realizou em
1955, no Instituto de Treinamento Cristão, hoje, Centro Integrado

34 LEVANTA E RESPLANDECE
de Educação e Missões. Guardo em meu coração gratas recordações
daquele acampamento. Lá tive o prazer de conhecer uma equipe ma-
ravilhosa, que trabalhou para que Deus falasse aos nossos corações.
Lá estavam Mery Ruth Carney e Valdice de Queiroz, representando
a Junta de Missões Nacionais. Lá também estavam Eunice de Sou-
za, Elza Sousa Marques e o Pr. Anthídio da Silva, todos liderados
por Minnie Lou. Muito esbelta, com seus cabelos ruivos e sempre
sorridente, ela estava à frente de cada atividade. Foi naquela ocasião
que a chama de missões acendeu-se em meu coração, e, anos mais
tarde, senti a chamada missionária. Minnie Lou estava presente a
cada atividade das Mensageiras do Rei de que eu tomava parte. As-
sim, fui me desenvolvendo no conhecimento bíblico e missionário,
tendo sempre a figura dela a me lembrar missões, amor e alegria no
serviço do Rei. Quando ingressei no IBER (hoje, CIEM), lá encontrei
Minnie Lou como professora, servindo com alegria no preparo de
jovens para a obra do Senhor. Além de sua alegria em servir a Deus,
notava-se em sua personalidade outras duas grandes características:
a humildade com que servia e sua capacidade de valorizar as pessoas,
estimulando-as a também servirem com alegria. Em 1985, após vinte
anos de trabalho em campos da Junta de Missões Nacionais, Deus
me confiou um ministério na União Feminina Missionária Batista
do Brasil. Hoje, feliz no meu campo de atuação, olho para trás e dou
graças a Deus pela vida da pioneira de Mensageiras do Rei no Brasil.
Foi nessa organização que abri os meus olhos e vi, através das “Janelas
Abertas”, tema do acampamento do qual participei, os horizontes
que me fizeram descobrir a vontade de Deus.”
Poderíamos registrar muitos outros depoimentos de ex-mensa-
geiras que tiveram o privilégio de conhecer Minnie Lou e que, hoje,
estão atuando nos campos missionários ou em suas próprias igrejas.
São verdadeiros instrumentos refletores da luz do evangelho, que
dão continuidade ao abençoado trabalho que ela iniciou e que tão
fielmente realizou.

LEVANTA E RESPLANDECE 35
Experiências
marcantes

C erta vez, ao ser entrevistada, com os olhos brilhando de


emoção devido às lembranças, Minnie Lou relatou algumas
de suas experiências, muitas delas vividas em contato direto
com mensageiras do Rei em vários estados do Brasil. Dentre
as experiências que lhe trouxeram muita alegria, ela destacou
duas. É dela o texto que segue:
“D. Fany Luper, em 1953, convidou-me para uma semana
de estudos com as Mensageiras do Rei da Primeira Igreja
Batista de Curitiba, PR. No final da semana, no sábado, eu
deveria dirigir o programa de promoção. Tudo correu bem,
inclusive as provas e os ensaios. Contudo, meia hora antes
de iniciarmos o programa, quando o templo ainda estava
praticamente vazio, desabou um enorme temporal. As men-
sageiras, o pastor e a conselheira estavam presentes, mas não
havia assistentes. O pastor sugeriu que adiássemos o programa
para domingo à noite. Quando já estávamos convencidos de
que o jeito seria mesmo adiar, vimos todas as mensageiras
ajoelhadas, com seus vestidos longos. Estavam todas orando.
Elas pediam a Deus que se manifestasse, fazendo com que
a chuva parasse, a fim de que o programa pudesse ser reali-
zado naquela noite mesmo. Parece incrível, mas, em poucos
minutos, o temporal passou completamente, os convidados
foram chegando e o templo ficou repleto. Com um atraso
de apenas trinta minutos, tive o privilégio de coroar várias
rainhas, entre elas, uma adolescente muito viva, chamada
Marlene Serrão, que, mais tarde, ao lado do seu esposo,
serviu como missionária no sertão do Brasil. Depois, como
líder autêntica, trabalhou na cidade do Rio de Janeiro du-
rante o tempo em que seu esposo, o Pr. Samuel Mitt, serviu
como Secretário-Executivo da Junta de Missões Nacionais.
Posteriormente, o casal Mitt atuou em campos da Junta de

36 LEVANTA E RESPLANDECE
Missões Mundiais. Interessante é que, em 1973, vinte anos depois,
tive o privilégio de coroar também a filha daquela mensageira que,
ajoelhada, demonstrara ter aprendido a viver em Cristo pela oração.
Senti-me profundamente recompensada.”
Ao lado do seu esposo, D. Marlene Mitt viveu seus últimos anos
em sua cidade natal, onde continuou se destacando como líder con-
sagrada ao Senhor.
Segue outro depoimento de Minnie Lou:
“Em julho de 1966, sob a liderança de D. Loecy Cordeiro de Souza,
mais de cem mensageiras, todas elas da Igreja Batista de Acari, Rio de
Janeiro, aguardavam o seu programa de promoção. Do grande grupo,
vinte e nove estavam alcançando os passos superiores. Deslumbrantes,
aguardavam a hora do início do programa, quando um temporal fez
cair um fio da rede elétrica na rua onde fica o templo. Chegou, então,
a triste notícia de que o conserto só poderia ser feito no dia seguinte.
O pastor, diante daquela situação, considerando o grande grupo e a
importância do trabalho, sugeriu que o programa fosse adiado. A rea-
ção imediata das mensageiras
foi contrária. Pediram que
o programa fosse realizado
mesmo no escuro, porque
não estavam interessadas em
serem vistas, mas sim em glo-
rificar a Deus. O programa foi
realizado à luz de querosene e,
na minha opinião, foi um dos
mais lindos a que já assisti du-
rante a minha vida, talvez por
sentir que as mensageiras não
estavam apenas cumprindo
as exigências dos passos ao
pé da letra, pois acabavam de
dar uma bela demonstração de
que os ideais da organização
“O programa foi realizado
estavam sendo alcançados em
à luz de querosene...” suas vidas.”

LEVANTA E RESPLANDECE 37
Um pouco
de humor

S empre disposta a atender a convites para realizar estudos mis-


sionários, programas de reconhecimento ou acampamentos
nos vários campos estaduais, Minnie Lou teve as mais variadas
experiências, algumas delas até muito engraçadas, que lhe
causaram muito embaraço, mas que, ao som de risos, eram
por ela relembradas com seu natural bom humor.
Certa vez, ao começar a trocar de roupa para ir à Igreja
Batista de Itacuruçá, a fim de realizar um programa especial
de reconhecimento, Minnie Lou lembrou-se de que precisa-
va colocar um novo filme na máquina fotográfica. (Naquele
tempo, não havia máquinas digitais.) Resolveu, então, usar
o armário embutido do quarto como câmara escura. O
Dr. Allen, missionário vizinho e pastor da referida igreja
na época, havia lhe prometido uma carona, para ajudar no
transporte do material que seria usado no programa. Ao
entrar no armário, Minnie Lou não se lembrou de que o
mesmo era desprovido de maçaneta por dentro e bateu a
porta. Após ter colocado o filme na máquina, percebeu que
estava irremediavelmente trancada e sozinha. Na tentativa
de se fazer ouvir pelos vizinhos, começou a bater com
os saltos dos sapatos na porta do armário. Os vizinhos
escutavam as pancadas, mas não podiam perceber o que
estava acontecendo. O Dr. Allen, já impaciente com a
demora, resolveu subir ao terceiro andar, a fim de ver o
que estava acontecendo. Abriu a porta do apartamento,
que, felizmente, estava fechada só com o trinco. Ouviu,
então, o barulho das pancadas. Sem entender o que esta-
va acontecendo, caminhou em direção de onde vinha o
estranho barulho, perguntando:
– Minnie Lou, onde você está?

38 LEVANTA E RESPLANDECE
Ao entrar no quarto, pôde ouvir sua
voz suplicante:
– Dr. Allen, estou presa no armário.
Por favor, entre e abra a porta para que
eu possa sair. Mas, cuidado! Não olhe
para dentro.
Naquela ocasião, por pouco, teria
faltado a um compromisso.
Outras ocasiões em que ficava muito
perturbada era quando tinha que ouvir,
e com razão, “sermões” de advertência
do colega mais velho, o Dr. J. J. Cow-
sert, que, com D. Graça, a tratava como verdadeira filha. Geralmente,
isso acontecia quando, por força das circunstâncias, no cumprimento
de seus deveres em igrejas do subúrbio, dirigindo a sua Kombi, re-
tornava a casa a altas horas da noite, às vezes, acompanhada de uma
auxiliar. O Dr. Cowsert, vizinho da missionária por mais de dez anos,
com seu zelo intransigente, tal como um pai que não dorme antes de
ter sob seu teto os filhos menores, não lhe perdoava tais “imprudên-
cias” e sempre estava de pé para passar-lhe um sermão.
Certa vez, ao voltar tarde de um de seus compromissos, Minnie
Lou teve que pular o portão, pois havia se esquecido de levar a cha-
ve, e o porteiro já estava dormindo. Ao chegar ao seu apartamento,
recebeu a infalível repreensão do Dr. Cowsert pelo atraso apenas,
pois ele não sabia que ela havia pulado o portão. Posteriormente,
referindo-se a esse incidente, ela desabafou aliviada: “Já pensou
se ele soubesse que não estava com a chave?” Em seguida, sorriu
encabulada, pois reconhecia que o veterano obreiro tinha razão em
se preocupar com ela, pois os jornais sempre traziam notícias de
assaltos e de outros crimes bárbaros, de preferência, praticados em
locais e horas de pouco movimento. Felizmente, Minnie Lou sempre
pôde voltar para casa louvando a Deus por sua proteção, embora,
vez por outra, se visse obrigada a cometer algumas “imprudências”,
uma vez que, durante 15 anos, foi a líder das Mensageiras do Rei
do então Distrito Federal. Nessa função, ela sempre assumia vários
compromissos.

LEVANTA E RESPLANDECE 39
Colaboradora fiel

N
o dia 17 de junho de 1967, Minnie Lou deixou a liderança
da organização Mensageiras do Rei para assumir a direção
nacional das Sociedades Femininas Missionárias, hoje, or-
ganização Mulher Cristã em Ação. Durante os 18 anos em
que liderou as Mensageiras do Rei, altruisticamente, treinou
pessoas que pudessem substituí-la. Pôde, então, deixar nas
hábeis mãos de Edna Pinto de Moraes (hoje, Edna Moraes
dos Santos) o trabalho que, com tanta dedicação e eficiên-
cia, implantou em nossa Pátria. Na ocasião, as estatísticas
registravam a existência de 538 organizações Mensageiras
do Rei espalhadas por todos os estados do Brasil.
Até então, a União Feminina Missionária Batista do Brasil
não havia nomeado uma líder para dedicar-se especifica-
mente ao setor de Sociedades Femininas Missionárias. A
própria Secretária-Executiva encarregava-se do trabalho,
que, há muito tempo, já vinha exigindo que alguém o as-
sumisse. Minnie Lou, com sua vasta experiência, inclusive
à frente da própria UFMBB durante os períodos de férias
de D. Sophia Nichols, a então Secretária-Executiva, era a
pessoa certa para o cargo.
Foi, portanto, possuída daquele desejo de servir onde
a querida União Feminina mais precisasse, visando à obra
de expansão missionária, que Minnie Lou mudou de setor.
Em sua igreja, no entanto, onde ocupou diversos cargos
(de tesoureira por 12 anos, de diretora da antiga Escola de
Treinamento, de professora da Escola Bíblica Dominical,
passando por quase todos os departamentos, e de diretora
da antiga Escola de Missões), a organização Mensageiras
do Rei esteve, com raras interrupções, sob sua liderança até
perto de se aposentar.

40 LEVANTA E RESPLANDECE
Minnie Lou, com sua vasta experiência, inclusive à frente da própria UFMBB durante os
períodos de férias de D. Sophia Nichols, era a pessoa certa para assumir a direção nacional
das Sociedades Femininas Missionárias.

Na liderança das Sociedades Femininas Missionárias, Minnie Lou


assumiu a redação da revista Visão Missionária. Aliás, já vinha acu-
mulando o cargo de redatora interina das publicações da UFMBB,
trabalho que executava com esmero e criatividade, desde janeiro de
1966. Com seus programas especiais, artigos e traduções, contribuiu
para inspirar, despertar e incentivar o elemento feminino de nossas
igrejas. Em seus escritos, focalizou muitas vidas preciosas, enquanto
que, humildemente, deixou que o brilho magnífico de sua própria vida
fosse visto apenas por aqueles que com ela mais de perto conviveram.
Minnie Lou também colaborou de forma toda especial com a
obra educacional da União Feminina Missionária Batista do Brasil,
visto que foi professora no Instituto Batista de Educação Religiosa,
atual CIEM, no Rio de Janeiro, onde lecionou Novo Testamento,
Educação Missionária e, por mais tempo, História Eclesiástica. No
IBER, ela teve a alegria de encontrar muitos frutos do seu trabalho
com Mensageiras do Rei, vidas que buscavam um melhor preparo
para um trabalho mais eficiente no reino de Deus.

LEVANTA E RESPLANDECE 41
A amiga

Q uem teve o privilégio de conviver com Minnie Lou reconhe-


ce que, um dos grandes segredos do sucesso de seu ministé-
rio foi a sua prontidão em identificar-se e harmoniosamente
relacionar-se com todos. Seu círculo de amizades era inter-
nacional. De vez em quando, recebia em sua casa pessoas de
outras terras, que dela recebiam atenção e companheirismo.
O acúmulo de trabalho na sede da UFMBB e o corre-corre
para atender às inúmeras solicitações dos cargos que exercia
jamais contribuíram para alterar seus bons modos e fino
trato com funcionários, colegas e serviçais. Extremamente
humana e possuidora de um caráter cristão inabalável, sem-
pre estava distribuindo simpatia e dando conforto espiritual
e material aos necessitados ao seu redor. Quantas vezes
sacrificou o seu bem-estar pessoal e sua privacidade, bem
como de suas companheiras de apartamento, que com ela
conviviam como irmãs, para hospedar ou ajudar a hospedar
alunas que não podiam visitar seus próprios lares em perí-
odos de férias, bem como missionárias da Junta de Missões
Nacionais e da Junta de Missões Mundiais, ex-alunas suas
ou simplesmente conhecidas ou até mesmo desconhecidas,
que nela encontravam apoio e amizade.
Minnie Lou experimentou em sua própria vida de mis-
-sionária que, conforme declaração bíblica, “mais bem-
-aventurada coisa é dar do que receber”. Quando fosse
necessário, era capaz de sacrificar suas últimas economias
para levar auxílio ou proporcionar alegria a alguém. Tanto
na ida quanto na volta das atividades dominicais de sua
querida igreja, a Igreja Batista do Bom Retiro, seu carro
estava sempre lotado. Com prazer, ela passava pelos pontos
onde podia apanhar irmãs humildes, que, com suas crianças,
tinham dificuldade de chegar ao templo de outra maneira.

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Muitas vezes sacrificou seu bem-estar pessoal e sua privacidade para hospedar pessoas.

Alvo do respeito e da admiração de todos que com ela se relaciona-


ram, Minnie Lou deixou profunda saudade no coração de seus amigos
quando partiu para sua terra natal.

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Missão cumprida

N o dia 31 de janeiro de 1981, Minnie Lou passou às mãos de


Elza Sant’Anna do Valle Andrade, sua auxiliar por 11 anos,
o cargo de Líder Nacional das Sociedades Femininas Mis-
sionárias. Seu tempo no Brasil estava na reta final. Desse
modo, como aconteceu em Campos, RJ, em 1967, quando
passou o cargo de Líder Nacional das Mensageiras do Rei,
em Belém do Pará, na Assembleia Anual da UFMBB, em
janeiro de 1981, ela foi homenageada e recebeu publica-
mente, no suntuoso Teatro da Paz, o reconhecimento e a
gratidão do elemento feminino dos batistas brasileiros. Seu
último ano no Brasil ainda foi dedicado à União Feminina
Missionária Batista do Brasil, pois assumiu a tesouraria do
IBER, trabalho que também realizou com carinho e eficiência.
No dia 27 de janeiro de 1982, cercada de colegas e amigos,
Minnie Lou despediu-se do solo brasileiro, embarcando no
avião que a levaria de volta à terra natal. Se pudesse escolher,
sem dúvida, teria ficado aqui, pois sempre dizia que o mais
difícil para ela, ao considerar o assunto aposentadoria, era o
fato de não poder ficar no Brasil, sua segunda pátria. Viveu
aqui seis anos a mais dos que vivera até então em seu próprio
país, o que muito contribuiu para lhe dar uma perspectiva
muito diferente de patriotismo, a ponto de declarar: “Amo
o meu país, mas não posso voltar a ser a americana provin-
ciana, que vê o seu torrão natal como o centro do Universo.
Também amo o Brasil muitíssimo e confesso que o entusias-
mo e o amor que sinto ao cantar o hino nacional americano
é igual ao que sinto ao cantar o hino nacional brasileiro.”
No dia 15 de julho de 1983, Deus levou Minnie Lou ao
encontro do Rei Jesus, aquele de quem ela mais falou às
meninas de nossas igrejas.

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Hoje, se ainda estivesse entre nós e fosse chamada a transmitir
às nossas mensageiras do Rei uma palavra de conselho, Minnie Lou
teria muito a lhes dizer, mas, com certeza, deixaria a todas elas, como
sempre o fez, o desafio expresso na divisa da organização, que foi
também um lema para a sua própria vida:
“Levanta-te, resplandece, porque já vem a tua luz!”

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Avaliação
Assinale com X a resposta certa:

1. Por que Minnie Lou e seus irmãos trabalhavam no tempo da ceifa?


( ) Porque a família não tinha recursos para pagar mais empregados.
( ) Porque seus pais queriam desenvolver neles o espírito de trabalho e união.
( ) Porque seus pais precisavam descansar.
( ) Porque não gostavam de ficar em casa sozinhos.
2. Por que Minnie Lou e seus irmãos raramente brincavam no rio da fazenda?
( ) Porque nele havia um enorme jacaré.
( ) Porque era um rio muito fundo.
( ) Porque a água era muito suja.
( ) Porque em seu leito havia pedras pontiagudas.
3. Por que a família Lanier viveu tempos difíceis quando morava na fazenda?
( ) Porque a neve destruiu toda a plantação.
( ) Porque um temporal derrubou a casa em que moravam.
( ) Porque o fogo destruiu a casa em que moravam.
( ) Porque a seca destruiu a plantação.
4. Com que frequência Minnie Lou podia ir à igreja quando morava na fazenda?
( ) Uma vez por mês.
( ) Duas ou três vezes por ano.
( ) Uma vez por trimestre.
( ) De quinze em quinze dias.
5. Quando Minnie Lou teve sua experiência de conversão?
( ) Durante a leitura da Bíblia, no silêncio do seu quarto.
( ) Durante um acampamento de Mensageiras do Rei.
( ) Durante um culto evangelístico em sua igreja.
( ) Durante uma conversa com seu pastor.
6. O que se tornou Minnie Lou para ajudar a sua família financeiramente?
( ) Enfermeira.
( ) Cabeleireira.
( ) Professora.
( ) Costureira.

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7. Quando foi que Minnie Lou sentiu-se chamada para a obra missionária?
( ) Quando visitou um campo missionário.
( ) Quando ouviu o testemunho de uma missionária que servia no Brasil.
( ) Quando participou de um acampamento estadual de jovens.
( ) Quando ouviu o testemunho de um missionário que servia na África.
8. O que fez Minnie Lou ao concluir o seu curso universitário?
( ) Ingressou no Seminário Teológico Batista do Sul, em Louisville-Kentucky.
( ) Passou a trabalhar com a UFMB do seu Estado.
( ) Apresentou-se à Junta de Richmond.
( ) Passou a trabalhar em sua própria igreja.
9. Por que Minnie Lou teve que adiar sua viagem para o Brasil?
( ) Porque Sidney, seu irmão caçula, ainda não havia retornado da guerra.
( ) Porque uma de suas irmãs se encontrava doente.
( ) Porque a estrada até o aeroporto estava fechada por causa da neve.
( ) Porque havia muito trabalho em sua igreja.
10. Que produto natural do Brasil passou a ser um dos prediletos de Minnie Lou?
( ) O cacau.
( ) O maracujá.
( ) O guaraná.
( ) O coco.
11. No aeroporto do Rio de Janeiro, que surpresa teve Minnie Lou?
( ) Mãos abanando e rostos sorridentes a aguardavam.
( ) O sol estava se pondo, formando uma cena de rara beleza.
( ) Não havia ninguém para recebê-la.
( ) Soube que sua bagagem havia sido extraviada.
12. Em que ano Minnie Lou foi eleita para o cargo de Líder Nacional das
Mensageiras do Rei?
( ) 1947.
( ) 1948.
( ) 1949.
( ) 1950.
13. Onde foi realizado o primeiro acampamento de MR no Brasil?
( ) No Instituto de Treinamento Cristão, atual CIEM.
( ) No Sítio do Sossego.
( ) Na Quinta da Boa Vista, na cidade do Rio de Janeiro.
( ) Na Ilha de Paquetá, Rio de Janeiro.

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14. Que meio de transporte Minnie Lou dirigia para ir às igrejas mais próximas?
( ) Um jipe verde.
( ) Um fusca branco.
( ) Uma Kombi azul-claro.
( ) Uma caminhonete cinza.
15. Para comemorar os 15 anos de MR no Brasil, o que Minnie Lou liderou?
( ) O primeiro acampamento só para rainhas, intitulado Corte Real.
( ) Um acampamento nacional para as MR de todo o Brasil.
( ) Um congresso nacional só para rainhas.
( ) Acampamentos regionais para mensageiras adolescentes.
16. Certa vez, ao se preparar para ir à sua igreja, o que aconteceu a Minnie Lou?
( ) Recebeu a visita de uma amiga dos Estados Unidos da América.
( ) Ficou presa no armário.
( ) Recebeu um telefonema de sua família.
( ) Recebeu a visita de um grupo de mensageiras do Rei.
17. No dia 17 de junho de 1967, Minnie Lou deixou a liderança das MR para
assumir a direção nacional de que organização?
( ) Sociedades de Crianças, hoje, Amigos de Missões.
( ) Sociedades de Moças, hoje, Jovens Cristãs em Ação.
( ) Sociedades Femininas Missionárias, hoje, Organização Mulher Cristã
em Ação.
( ) Uniões de Adolescentes do Brasil.
18. Ainda colaborando com a UFMBB, o que Minnie Lou também foi?
( ) Professora no SEC.
( ) Professora no IBER.
( ) Secretária de Promoção.
( ) Representante Regional da UFMBB.
19. Aos domingos, o que fazia Minnie Lou?
( ) Lotava seu carro de senhoras humildes.
( ) Pagava a passagem do bonde para uma família pobre.
( ) Distribuía folhetos evangelísticos.
( ) Convidava pessoas para os cultos.
20. Em janeiro de 1981, de quem Minnie Lou recebeu homenagem?
( ) Da Convenção Batista Brasileira.
( ) Da União Feminina Missionária Batista do Brasil.
( ) Da Direção do IBER.
( ) Da Direção do SEC.

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