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Filme Coringa e a Filosofia

Recentemente vem dando o que falar o filme do Coringa, aquele que era para ser um dos vilões de
Batman, ao lado de Charada, Pinguim, Mulher-Gato, Duas Caras, Espantalho e outros, mas o filme teve
um foco mais existencial e anárquico, talvez não tão focado em quadrinhos, mas mais numa história
independente. O filme vem batendo recordes esse ano, tendo excelente avaliação do público, apesar dos
fãs dos quadrinhos nem sempre concordarem com a qualidade da produção. No filme se começa com uma
grande melancolia do personagem, mostrando o fracasso de um palhaço talentoso, mas pela pobreza e
sociedade falida, desesperado ao cuidar de mãe, que sofre com doença mental. Coringa também toma sete
remédios diários e depende de programas de assistência social, estes cortados pelo governo. Muita
filosofia desperta no tema do filme, em crítica a governos para ricos ou fortes em mídia, como de Trump
ou outros. Anarquia, marxismo, existencialismo, iluminismo, psicanálise e muita coisa transparece no
filme.

No filme, Coringa é retratado como um bom moço, que cuida da mãe pobre e doente mental, que
leva seu personagem de palhaço para um hospital de câncer de crianças, que sonha amor pela vizinha de
apartamento da periferia. Coringa é espancado, mal tratado, perde emprego, excluído de todas as formas
na sociedade, e como ensinava Rousseau, ele era bom, mas a sociedade o corrompeu. Leva uma vida
desgraçada, numa luta de classes, onde os ricos o humilham em metrô, despertando sua ira e reação,
apesar de criminosa. O marxismo aparece sutilmente. A população faz do palhaço pobre que luta com os
ricos, um herói. A anarquia começa a se revelar, numa denúncia da propriedade, ao tom de Proudhon, ou
de uma atitude mais extrema, ao tom de Bakunin. Também um existencialismo ao perfil de Nietzsche
parece aparecer, quando na reação o personagem dança e mostra vontade de poder, ao eliminar o herói do
rebanho, presente na mídia de televisão. No mais o filme mostra sintomas do adoecimento mental, como
as fantasias do protagonista, alucinações, paranoias, complexo de inferioridade, depressão, etc. Também
de revela uma perfectiva freudiana, ao mesmo ter conflitos com seu pai e amor pela mãe, em claro
complexo de Édipo. A figura do bobo da corte é muito poderosa, uma vez que é único que podia criticar o
rei sem perder sua cabeça ou ir ao calabouço. Atualmente também se oprime a cultura, porque esta não é
enganada por falácias de políticos, ainda mais de provenientes de certo totalitarismo. Também o Batman
sendo um herói um tanto sombrio, bem como Coringa despertando a pena, revelam uma sociedade onde
as máscaras são usadas tanto por heróis, quanto por vilões. A igualdade de certo modo se mantém, uma
vez ambos humanos e sujeitos a sociedade, com detalhe de Batman ser rico. As personas estão na
sociedade, com suas máscaras, e o atual cenário político de extrema direita revela isso. Sem as máscaras
as pessoas são muito parecidas. Coringa nem sempre foi um criminoso, revelando numa criminologia
crítica um fenômeno social. A sociedade tem grande influência na formação das pessoas, em aspecto
behaviorista. O filme mostrou um pouco disso tudo, para quem se dedica um minuto a ver.

O cavaleiro das trevas será a solução para Coringa. Antes disso a polícia ou o hospital psiquiátrico
controla sua anarquia. No filme se vê Batman ainda menino, perde os pais assassinados, sem muito
intender de toda a situação criminal de seu entorno. Já Coringa sofre todas as humilhações e desgraças
que a sociedade o reserva. Seria Bruce Waine (Batman) uma vez não rico, o herói? Por isso talvez que ele
não mate o Coringa, pela possibilidade dele voltar a sua antiga origem, aquele bom palhaço que cuidava
da mãe doente e sonhava com o amor do apartamento ao lado. Fato é que o filme rende alguma reflexão,
tanto social, quanto filosófica. A razão dá lugar ao irracional, e o sofrimento do mundo, ao tom de
Shopenhauer toma conta de Coringa, que é o retrato do pessimismo. Não teve um dia feliz em sua vida,
como este declara. Por fim, o filme mostra o povo mais identificado com o vilão, haja vista a grande
injustiça e pobreza que é tomada a cidade de Gothan. Fato é que nos quadrinhos os vilões sempre fogem
da prisão em Batman. É ver para crer, e uma ideia de continuação do filme poderá existir.

Mariano Soltys, advogado e filósofo

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