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Bíblia e Mitologia

“Dã será serpente junto ao caminho, uma víbora junto à vereda, que morde os calcanhares do cavalo, de modo que
caia o seu cavaleiro para trás. (Gên. 49:17)

“Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filha da alva! como foste lançado por terra tu que prostravas as nações!”
(Isa. 14:12)

“Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, o qual será chamado EMANUEL, que traduzido é: Deus
conosco” (Mat. 1:23)

Vemos quase sempre a referência a mitologias sob um enfoque frio e sem devida
valorização da simbologia. Por outro lado, vemos a utilidade da mesma pela psicanálise,
com explicação de comportamentos humanos. Também vemos que o conhecimento antigo
de astronomia estava também nessas mitologias antigas. Porém percebemos que também
na Bíblia há muito de herança dessas mitologias, e que um Heródoto, Ovídio e outros
também tiveram sua parcela de inspiração pelo Espírito Santo. Não é necessária muita
reflexão para se ver em vários personagens, como Prometeus, Démeter, Hércules e tantos
outros, como semelhantes a aqueles que presenciamos na Bíblia. Não é difícil ver a
semelhança entre Davi e Golias e Hércules, ou mesmo entre Lúcifer e o titã Prometeus.
Desde que vi uma passagem em Gênesis com Jacó e seus doze filhos, já pude notar
da alegoria astronômica e da sabedoria superior que isso revelava, muito além de mera
história de família. Claro que também podemos ver as 12 tribos de Israel, mas não é
forçoso pensar nas 12 constelações que eram conhecidas dos antigos. Corine Heline disse:
“Mitologicamente, Sagitário se vê na esquina da corrente de estrelas que aponta, através de
sua névoa de luz, a grande estrela vermelha Antares, que brilha no coração de Escorpião.
Ovídio disse: 'O arqueiro aponta escorpião com seu arco'. No Gênesis, 49:17, quando Jacó
está bendizendo a seus doze filhos, diz com relação a Escorpião: Dã será serpente junto ao
caminho, uma víbora junto à vereda, que morde os calcanhares do cavalo, de modo que
caia o seu cavaleiro para trás.” (Mitologia e Bíblia). O cavalo e o cavaleiro se refere a
sagitário, a essa constelação e a serpente se refere a escorpião. Assim a referência a
serpente é muito o lado do ego que se afasta da luz do Criador, de modo a ser mal vista
pelos hebreus. Porém também Cristo é prefigurado na serpente do posto, feita por Moisés
para salvar os homens do veneno das víboras. Mas a referência principal é uma alegoria
astronômica da Bíblia.
Já Lúcifer foi citado por Isaías, ou pelo menos uma referência a estrela Vênus ou
alguma assemelhada. Mas vemos nessa Lúcifer descrito pela tradição cristã como algo
muito parecido ao Prometeus, o titã que teria roubado o fogo dos céus e dado ao homem,
sendo mesmo o “criador” do homem. A bíblia ainda relaciona, ou alguns de seus
intérpretes, com a serpente, o que nos leva a ideia de escorpião (no oriente a astrologia
assim representa...), de modo que a analogia vai com o fruto proibido (fogo dos céus?) e
com a árvore (sagrada?), de cujo se retira o fruto. O pecado seria dar o conhecimento ou
distinção, de modo que o homem teria alguma parcela divina, o que não deveria ter, nesse
ponto de vista. Em Isaías muitos falam que o mesmo se referia ao rei Ciro, pesar de que
este tem papel positivo na libertação do povo hebreu, o que nos leva a certa reflexão. O
símbolo porém atravessa várias religiões e mitologias, estando presente também na Bíblia.
Lúcifer, o portador de luz, passou a ter assim significado negativo com a tradição, mas nem
sempre foi assim. Corine Heline disse: “Prometeus o titan, criador da Humanidade, de
acordo com o lado formal da natureza, é Lúcifer da lenda hebraica. Vulcano, como
Prometeus, um deus de fogo, é outro caído e essa queda representa outra faceta de Lúcifer,
brilhante como una gema. Vulcano era ferreiro, um trabalhador do metal, um construtor.
Foi sua mão que confeccionou o palácio de Apolo (...) a amável forma de Pandora sobre o
monte Olimpo, todas las belas e brilhantes moradas de deuses e deusas. Essas moradas
que, em sua totalidade, constituem o universo visível” (Mitologia e Bíblia). E “O caído
Vulcano é Hiram Abif da lenda maçônica, que construiu o templo de Salomão (o sistema
solar)” (idem). Assim observamos que o construtor e o fereiro ganham grande
importância, uma vez que as artes de ofícios teriam sido ensinadas pelos anjos, e assim
relata ainda o livro de Enoque. Ademais, as guerras dos céus e dos gigantes anuncia isso e
daí vemos o dilúvio, que envolveu mais que meramente o pecado humano, porém algo que
também se referia aos “gigantes” ou anjos. E Cristo é o construtor ou carpinteiro central
na obra do Universo.
Vemos que há muita semelhança entre essas que vieram da mitologia e Maria, e que
tudo sempre está anunciado a todas as nações. Não se deve por isso apenas julgar na
dicotomia ídolos/Deus verdadeiro, uma vez que Deus está acima dos ídolos e esses tiveram
ou têm utilidade. Contudo as grandes verdades estão presentes, e a mitologia não se afasta
na mensagem do Evangelho, partilhando ambos do mesmo mistério. Corine disse sobre
Maria: “Astrea é a Virgem Celestial. A Virgem Mãe Terrenal é Ceres ou Deméter, e Virgo se
identifica com ela e também com a egípcia Ísis. Os Sábios compreenderam que a suprema
mãe de cada religião, la Madona o Virgem Mãe do Salvador do Mundo - Isis, Istar, Ceres,
Mirra, Maria - foi instalada nos Mistérios da Virgem ou Ritos de Madona, na hierarquia de
Virgo. A ascensão de Maria demonstra esta consecução por ela”(idem). Para tanto,
sabemos que há uma verdade maior nisso tudo. Quando Annie Besant escreveu sua obra
“Cristianismo esotérico”, donde dedica capítulo ao Cristo mítico, claro fica que existem
várias dimensões além da histórica e moral nas escrituras, e que isso faz da Bíblia um livro
que atravessa os tempos e que é tolerada e aceita por diferentes nações. Muitos céticos e
mesmo ateus usam desse argumento para desvalorizar a Bíblia, mas se equivocam por não
perceber a dimensão mística, que é aquela que perdura e sustenta algo maior que a religião
social. A espiritualidade é muito maior do que entendem os cientistas ortodoxos, céticos e
ateus. E tanto nos antigos mistérios, quanto no atual de Cristo, vemos que a verdade maior
impera, e que isso não deve nunca ser visto apenas com racionalidade fria a calculista, mas
se deve ver com a intuição maior, que requer a humildade de “lavar os pés” dos outros,
antes de apenas julgar.

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