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El

Libro Negro de la Nueva Izquierda


© Nicolás Marquez, 2016
© Agustín Laje, 2016.
Tradução: Jefferson Bombachim
Ficha Catalográfica:
Laje, Agustín, 1989
Marquez, Nicolás, 1975
O livro negro da nova esquerda – Curitiba, PR: Danúbio, 2018.
ISBN: 978-85-67801-18-6
1.Ciência política. 2. História. 3. Ciências sociais. I.Título.
CDD: 320

Distribuição: CEDET - Centro de Desenvolvimento Profissional e


Tecnológico. Rua Ângelo Vicentim, 70, Campinas-SP
Os direitos desta edição pertencem à Editora Danúbio - CNPJ:
17.764.031/0001-11
Proibida toda e qualquer reprodução desta edição por qualquer meio ou
forma, seja ela eletrônica ou mecânica, fotocópia, gravação ou qualquer meio.
Os autores são responsáveis pela escolha e apresentação dos fatos contidos
neste livro, bem como pelas opiniões nele expressas, que não são
necessariamente as da editora, nem comprometem a organização.
Sumário
Agradecimentos
Introdução
PARTE I: Pós-marxismo e feminismo radical por Agustín Laje
Capítulo 1: Do Marxismo ao pós-marxismo
Marx e Engels
A exceção russa e a hegemonia
A revolução teórica de Antonio Gramsci
O pós-marxismo de Ernesto Lacleu e Chantal Mouffe
Os pensadores do “socialismo do século XXI”
Capítulo 2: Feminismo e ideologia de gênero
A primeira onda do feminismo
A segunda onda do feminismo
O feminismo do socialismo real
A terceira onda do feminismo
A ideologia queer
O Dr. Money, o meninos sem pênis e algumas considerações científicas
A mulher e o capitalismo
Da teoria à práxis
Breve comentário final da primeira parte
PARTE II
Homossexualismo Ideológico por Nicolás Márquez
Capítulo 1: Comunismo e sodomia
A “homofobia” marxista
Do extermínio à utilização proselitista
Aliança nova e eterna?
Capítulo 2: Os pensadores da perversão
A Primeira Geração
O patriarca dos progressistas
A herança envenenada
Capítulo 3
A batalha psico-política
O diálogo como armadilha de persuasão
Pela razão ou pela força
O “casamento” homossexual
A adoção homossexual
Capítulo 4
A confederação filicida
Advertência preliminar
A pergunta de cabeceira
A ciência por cima das patacoadas ideológicas
O almanaque progressista
Os métodos de “saúde reprodutiva” favoritos do direito-humanismo
O sentimentalismo abortista
Capítulo 5
E na Argentina, como estamos?
Um amor não correspondido
Democracia e Peste Rosa
O homosexualismo noventista
As causas do internismo
O kirchnerismo e a estatização da homossexualidade
Os sindicalistas mais apresentáveis
Capítulo 6
A autodestruição homossexual
Natureza e distorção da sexualidade
AIDS e autodestruição
A autodestruição para além da AIDS
A homossexualidade como bandeira comunizante
Capítulo 7: Comentário final
Bibliografia
Agradecimentos
Quando alguém escreve um livro, agradecer muitas vezes se torna um ato
de injustiça, porque é muito difícil abarcar todas as pessoas que, de uma forma
ou de outra, ajudaram em alguma das etapas do trabalho: pesquisa, redação e/ou
publicação.
No entanto, assumindo o risco de cair nessa injustiça, não queremos deixar
de utilizar este curto espaço para agradecer, especialmente a: Dr. Gerardo
Palacio Hardy, Dr. Bernardino Montejano, Dr. Roberto Castellano, Professor
Cristián Rodrigo Iturralde, Lic. em psicologia Andrés Irasuste, Lic. em economia
Iván Carrino, Professor Cristian Rodríguez Iglesias, Dr. Mario Caponnetto e a
Fernando Romero (Departamento de Filosofia do Centro de Estudos LIBRE).
Finalmente, agradecemos às contribuições na correção fornecida por María José
Montenegro na Parte II do livro.
Introdução
Terminavam os anos 80, o Império Soviético cambaleava e, preocupado, o
tirano e proprietário da Cuba comunista, Fidel Castro, antecipando-se à muito
provável implosão de seu patrocinador moscovita, em 26 de julho de 1989,
anunciou em discurso público o seguinte: “porque se amanhã ou qualquer dia
desses nós despertarmos com a notícia de que uma grande guerra civil se
desenrola no seio da URSS ou, inclusive, se nós despertarmos com a notícia de
que a URSS se desintegrou, coisa que esperamos não aconteça jamais, ainda
nessas circunstâncias Cuba e a revolução cubana seguiriam lutando e seguiriam
resistindo”.[1] Mau olfato não tinha o loquaz tirano, pois quatro meses depois
caía o muro de Berlim e essa sua histórica declaração foi uma espécie de
alocução pré-inaugural daquilo que no ano seguinte, ele mesmo (junto ao então
jovem Luiz Inácio Lula da Silva, líder do Partido dos Trabalhadores, que se
consagraria presidente do Brasil em 2002), fabricaria como uma estrutura
paralela ou suplementar diante da evidente agonia do imperialismo russo: nos
referimos ao conclave marxista conhecido como Foro de São Paulo, criado em
1990, justamente na cidade de São Paulo.
À convocatória do mencionado Foro compareceram 68 forças políticas
pertencentes a 22 países latino-americanos. Desde então a dita confraria se
reuniria regularmente e apenas 6 anos depois de sua fundação (em 1996 na
cidade de San Salvador), essa assembléia revolucionária já era integrada por 52
organizações-membro, entre as quais se encontravam grupos criminosos como o
Exército de Libertação Nacional (ELN) e as Forças Armadas Revolucionárias da
Colômbia (FARC),[2] sendo esse último grupo o principal produtor mundial de
cocaína, 600 toneladas anuais,[3] motivo pelo qual, com tão extraordinária
arrecadação, a supracitada organização, com vultuosas quantias, forneceu
suporte financeiro ao nascente conluio transnacional.
Desde então, o dito Foro e as organizações afins vêm recrutando,
atualizando e reciclando toda a esquerda regional por meio de calculadas sessões
políticas e ideológicas que buscaram e buscam intensamente dar novos impulsos
a velhas idéias. Com efeito, o começo dos anos 90 foi um momento chave para a
reconversão e reinvenção de uma ideologia que já não podia exibir a “Foice e o
Martelo”, nem oferecer expropriação de latifúndios, nem reformas agrárias, nem
divagar sobre a mais-valia, nem tampouco seduzir aos potenciais clientes com a
desgastada luta de classes. Já mais nada de todo esse discurso mostrava-se
atrativo à opinião pública ocidental e, ademais, cheirava à naftalina.
Porém, existe um ano, no começo dessa convulsionada década, que parecia
marcar um vertiginoso ponto de inflexão: 1992. Foi quando uma série de
movimentos estranhos, inovadores e aparentemente inconexos começaram a
brotar em distintos lugares do mundo em geral e da América Latina em
particular. Com o amparo de 458 ongs[4] criadas repentinamente para propagar
um relato pré-colombiano fictício, em 12 de outubro ocorreu na Bolívia a
primeira grande marcha “indigenista”,[5] aproveitando a data exata dos “500 anos
de submissão” (em referência à chegada de Cristóvão Colombo às Américas em
1492),[6] na qual já se destacava a liderança do jovem Evo Morales[7] (que se
consagraria presidente da Bolívia em 2005). Um pouco mais ao sul, na
Argentina democrática de 1992, apareceu em cena a primeira “Marcha do
Orgulho Gay”,[8] alimentada em parte pelo crescente feminismo radical de
inspiração lésbio-marxista, o qual, desde alguns meses, vinha influenciando
mundialmente através da publicação do livro Problemas de gênero: feminismo e
subversão da identidade[9] de Judith Butler, texto abraçado desde então como
“bíblia” por todos os movimentos promotores da “ideologia de gênero”.
Entrementes, também em 1992, porém na coloria cidade do Rio de Janeiro,
levaram-se adiante as sessões de “ecologismo popular”, que apareceu com 1.500
organizações de todo o mundo reunindo-se para debater e redefinir a estratégia,
incluindo a reivindicação da chamada “deusa ecológica”.[10] E foi nesse
mesmíssimo ano que, na Venezuela, um coronel tagarela de ideologia
desconhecida chamado Hugo Chávez Frías liderou duas tentativas de golpe de
Estado,[11] nas quais não só se pretendia matar o presidente Carlos Andrés Pérez,
como de fato mataram 20 compatriotas.[12] A intentona golpista não deu frutos;
Chávez acabou preso por dois anos, porém ganhou fama e celebridade: sete anos
depois assumiria como presidente/ditador em seu país, e o Foro obteria outra
conquista de grandes proporções.
O que ocorreu no mundo em 1992 que forjou tamanha promoção de
movimentos tão inovadores quanto heterogêneos? Por mais que popularmente se
reconheça a queda do Muro de Berlim (9 de novembro de 1989) como o marco
histórico da queda de um sistema e de uma ameaça (o socialismo), a realidade é
que aquele evento foi o prenúncio do que, política e formalmente, se
materializaria dois anos depois, ou seja, em 1992, quando a União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas, sob o comando de Boris Yeltsin, deixou de
existir oficialmente como tal.[13] Foi por ele que, após uma implosão geopolítica,
todo o império comunista no leste europeu foi desmembrado e dividido em
pequenos países ou territórios.
Logo, ante a ausência do suporte soviético, e com a conseqüente
necessidade de solucionar esse vazio, todas as estruturas de esquerda tiveram
que fabricar ongs e organizações de variadas índoles para acomodar não somente
a sua cartilha, mas também A sua militância, as suas bandeiras, os seus clientes e
as suas fontes de financiamento. Ao começar a última década do século XX, um
sem-número de dirigentes, escritores, delinqüentes juvenis e organizações
varidas encontraram-se desamparadas, sem suporte discursivo e sem revolução
que pudessem defender ou enaltecer, verificando, essas correntes, a necessidade
de maquiar-se e encastelar-se por detrás de novos argumentos e bandeiras, que
oxigenariam seus envelhecidos e desacreditados slogans. Silenciosamente, a
esquerda substituiu as balas das antigas guerrilhas por cédulas eleitorais; trocou
seu discurso classista por aforismos igualitários que ocuparam o extenso
território cultural; deixou de recrutar “trabalhadores explorados” e começou a
capturar almas atormentadas ou marginais, a fim de programá-las ou lançá-las
como provocadoras de conflitos, sob desculpas de aparência nobre, as quais
prima facie, pouco ou nada teriam que ver com o stalinismo, nem muito menos
com o terrorismo subversivo, mas, sim, com a “inclusão” e a “igualdade” entre
os homens: indigenismo, ambientalismo, direito-humanismo, garanto-
abolicionismo e ideologia de gênero (essa última, por sua vez, subdividida em
feminismo, abortismo e homossexualismo cultural) começaram a ser os seus
cartazes modernizados de protesto e de vanguarda.
Neste entretanto, o que faziam os setores do anticomunismo capitalista ante
a crescente fabricação e proliferação das renovadas confabulações que
pululavam? Longe de tomar nota dessas súbitas rebeliões, encontravam-se
despreocupados e festivos, não somente celebrando a queda “definitiva” do
comunismo, mas também lendo com dilatado triunfalismo o propagandístico
best-seller de notável fama mundial O fim da história e o último homem, de
Francis Fukuyama[14] (publicado no insistente ano de 1992), o qual sentenciava o
triunfo irreversível da democracia capitalista como fato linear e inalterável, algo
de agradável determinismo histórico, agora vaticinado pela direita liberal, e que
consistiu num gravíssimo erro de menosprezo do inimigo. O comunismo não
morreu com o desaparecimento formal de seus Estados pois o mais importante
eram as organizações auxiliares, que já existiam desde muito antes da criação da
URSS, e que seguiram existindo depois da sua extinção.
O certo é que foram poucos os que prestaram atenção nessa metamorfose e,
vinte e cinco anos depois, a esquerda não somente se apoderou politicamente de
grande parte da América Latina, como também, o que é muitíssimo mais grave,
conquistou a hegemonia nas salas de aula, nas cátedras, nas letras, nas artes, nos
meios de comunicação e no jornalismo, tendo, em suma, seqüestrado a cultura e
modificado em muito a mentalidade da opinião pública: a revolução deixou de
expropriar contas bancárias para expropriar mentes.
Após notar a inadvertência social que existe em torno desse perigo e, pior
ainda, a vergonhosa concessão que o acovardado centrismo ideológico e o
politicamente correto vêm fazendo a essa dissolvente investida do progressismo
cultural, decidimos desenvolver e publicar este livro. Num primeiro momento,
nossa ambição era elaborar um ensaio que desmascarasse todas e cada uma das
faces dessa esquerda enganosamente “amável e moderna”; contudo, percebemos
que pela complexidade do assunto seria impossível abordá-lo em um só volume.
Decidimos, portanto, primeiro abordar a máscara que influi na Argentina e na
Europa: nos referimos à ideologia de gênero, uma das principais bandeiras do
neo-marxismo hoje em voga. É nossa intensão, porém, abordar as demais
bandeiras da nova esquerda em publicações futuras.
O que é? Quando nasce? Em que consiste? Como nos afeta? Quem a
financia? Quais são suas vertentes e quem promove a ideologia de gênero? São
só algumas das inúmeras interrogações que tentamos responder ao largo desse
trabalho, que se divide em duas partes bem diferentes, ainda que estejam ligadas
entre si, e que trabalham como ramos do mesmo tronco da ideologia de gênero:
o feminismo radical e o homossexualismo ideológico.
A respeito do primeiro, isto é, do feminismo, está dedicada a primeira
metade do livro e decidimos que a pena de Agustín Laje, com seu tom pausado e
didático, explique e desarme de maneira exaustiva essa deletéria corrente
político-cultural. Já quanto à segunda metade do presente ensaio, referente ao
lobby homossexualista, é Nicolás Márquez o encarregado de traçar uma
provocativa radiografia de todo o movimento sodomítico com seu característico
modo polêmico, enérgico e muitas vezes sarcástico.
Essa distribuição de tarefas à hora de escrever o presente ensaio foi assim
planejada para que cada um dos autores exponha o seu trabalho com sua marca,
sua formação e sua narrativa pessoal da maneira mais autêntica possível, a fim
de dar ao leitor uma obra pioneira na Argentina. Ambos os escritores não
economizaram estudo e consultaram um volume assombroso de fontes
bibliográficas proporcionando o trabalho mais sério e intelectualmente honesto
que poderíamos trazer a lume. De fato, não é sem orgulho que constatamos que
talvez esse seja o primeiro livro publicado nestas plagas que ataca em cheio
essas correntes ideológicas.
Por acaso somos discriminadores? Machistas? Homofóbicos? Pró-
feminicidas? Macartistas? Pré-diluvianos? Provavelmente essa será a
preconceituosa e inexata caracterização que tanto socialistas, com deliberada
intenção, como bem-pensantes de centro, com analfabetismo funcional, fixarão
sobre nós, sem conhecer quase nada do que vamos expor ao longo deste trabalho
que, apesar de ser mediano em sua extensão, nos custou incontáveis horas de
estudo, investigação, leitura, consultas, debates, reflexões e análises.
Finalmente, folgamos em dizer que decidimos publicar conscientes da
quantidade de ataques que receberemos posto que, parafraseando José
Ingenieros, “nunca pretendemos apresentar-nos como imparciais ante leitores
que não o são” e, ademais, não empenhamos tamanha energia e esforço para
agradar aos monopolizadores da correção e da bondade, mas, precisamente para
questioná-los.
PARTE I: Pós-marxismo e feminismo radical por Agustín Laje
Capítulo 1: Do Marxismo ao pós-marxismo
As mudanças que a esquerda, nos termos de sua prática política, foi
registrando ao longo da história foram acompanhadas por transformações
produzidas nas teorias que ela própria modificava ao traçar suas estratégias
revolucionárias. É a eterna dialética entre teoria e práxis. De modo que perguntar
o que veio primeiro, a teoria ou a práxis, é uma forma incorreta ou, ao menos,
reducionista de se encarar a questão. O certo é que os fatos dão ao intelectual a
matéria-prima para que trace as suas teorias, do mesmo modo que o intelectual
freqüentemente – e com especial importância nos grupos marxistas – confere ao
homem de ação ou ao militante a base sobre a qual pode entender “melhor” o
ambiente que o rodeia e, por conseguinte, conduzir suas ações de modo a obter
melhores resultados.
Neste capítulo pretendemos fazer um breve percurso teórico que mostre o
caminho que tomou a teoria marxista até desembocar no que hoje se chama
“pós-marxismo”, e que é precisamente o marco teórico do qual se alimenta a
nova esquerda ou “neo-maxismo”. Daremos ênfase à questão da chamada
“hegemonia”, conceito que faz a ponte entre o marxismo e o pós-marxismo,
tendo permitido a passagem de uma “luta de classes” para uma “guerra cultural”.
Marx e Engels
Temos que começar pela origem da teoria marxista. Em Karl Marx e
Friedrich Engels encontramos a gênese. Homens alemães do século XIX, ambos
têm o mérito intelectual de terem assentado as bases de um pretenso “socialismo
científico”, diante dos diversos socialismo utópicos e anarquismos que naquele
tempo predominavam na esquerda.
Até Marx e Engels, tudo o que havia sido escrito para a causa socialista,
segundo a perspectiva deles mesmos, estava impregnado de uma estreiteza que
terminava sendo, involuntariamente, favorável aos setores que desejavam frear a
revolução do proletariado. Todo o terceiro capítulo de nada menos que O
manifesto comunista – obra chave na propaganda marxista – está dedicado a
refutar as teorias socialistas precedentes: Saint-Simon, Fourier, Owen e outros
socialistas anteriores, que não teriam conseguido dar ao socialismo um caminho
científico para realizar a revolução.
O projeto marxista era, ou pretendia ser, muito distinto daquele de seus
antecessores socialistas. Marx e Engels introduziriam as qualidades da ciência
no estudo das sociedades, fazendo frente às “fantasias” utópicas dos colegas que
queriam suplantar. Não seria preciso mencionar que os fatos, no entanto,
acabaram desmanchando tais pretensões: as leis marxistas da história, que se
diziam capazes predizer a evolução dos acontecimentos, jamais se
comprovaram, muito pelo contrário: a Revolução Russa, como veremos, foi a
grande e paradoxal exceção; e a visão de um mundo comunista, sem classes e
sem Estado, foi tão utópica quanto as mesmas utopias que Marx e Engels
renegavam. As disputas ideológicas entre os socialistas não deixavam de ser,
portanto, uma delirante briga entre utopistas.
A desmesurada pretensão “científica” do marxismo precisava de um
método não menos monumental para estudar o “curso da história” e tentar
predizer as transformações sociais e, mais importante ainda, as condições para as
mudanças revolucionárias. É nesse sentido que Marx e Engels são “hegelianos”,
isto é, que tomam do filósofo alemão Georg Hegel seu célebre método: a
dialética. O que é a dialética?[15] Nos termos mais simples possíveis, trata-se de
um método que supõe o surgimento na história de forças opostas que, em
contradição, geram uma nova etapa histórica na qual emerge uma terceira força,
gerada pelas forças antagônicas anteriores. Essa, por sua vez, entrará em choque
com uma nova força antagônica, e assim sucessivamente, dando continuidade ao
processo histórico. Em termos filosóficos diríamos que a toda tese corresponde
uma antítese, e ambas ficam, após o entrechoque, superadas numa síntese. A
história avançaria, portanto, por meio das contradições geradas em seu seio. O
método da dialética foi utilizado por Hegel para descobrir o movimento das
idéias no mundo; para ele as idéias humanas são centrais para explicarmos as
mudanças históricas. No marxismo acontece o oposto: a dialética é aplicada para
o desvendamento do mundo material; a isso o jargão marxista chama
materialismo dialético.
Passemos a limpo. O motor da história é encontrado pelo marxismo no
mundo material, mais concretamente, na dimensão das forças produtivas. E o
que são as forças produtivas? Para dizê-lo de forma sintética, são as distintas
tecnologias e modos de produção sobre as quais se apóia a produção
propriamente dita. Suas modificações perpassam e explicam as mudanças
profundas na história. Assim, o ateliê corporativo ficou superado pela
manufatura e sua divisão de trabalho; e esa, por sua vez, foi substituída em
pouco tempo pela indústria moderna de grandes proporções, filha da máquina a
vapor. Tal é o sentido material da revolução produtiva que sepulta a sociedade
feudal e abre caminho para a sociedade moderna e industrial; utilizando-nos da
terminologia marxista, a “sociedade burguesa”. A idéia central desse raciocínio é
que as forças produtivas se encontram em permanente avanço, e geram em si
“relações de produção”, tais como entre empregador e empregado, que se
traduzem juridicamente em relações de propriedade, geradoras de classes sociais
específicas, que por sua vez se definem por sua relação com os meios de
produção em disputa. O problema sobrevém quando a evolução das forças
produtivas – quer dizer, o desenvolvimento das novas tecnologias e maneiras de
se produzir – chega a um ponto no qual as formas de propriedade privada fream
a produtividade; nessa etapa as sociedades se convulsionam e surgem as
condições materiais para uma revolução. Foi daí que se pensou que o
capitalismo conduziria a si mesmo a uma crise, pois chegaria o dia em que a
propriedade privada seria um estorvo para o próprio sistema. A revolução
comunista, em virtude disso tudo, seria inexorável, supunham os seus
partidários.
Por outro lado, o que no jargão marxista se conhece como “materialismo
histórico” foi resumido por Engels no prefácio à edição alemã de 1883 do
Manifesto Comunista que ele redigiu após a morte do seu sócio e colega Karl
Marx: “toda a história [...] foi uma história da luta de classes, de luta entre
classes exploradoras e exploradas, dominantes e dominadas, nas diferentes fases
do desenvolvimento social; e agora essa luta chegou a uma fase que a classe
explorada e oprimida (o proletariado) não pode já emancipar-se da classe que a
explora e a oprime (a burguesia), sem emancipar, ao mesmo tempo e para
sempre, a sociedade inteira da exploração, da opressão e da luta de classes”.[16]
Temos que destacar que o dito materialismo histórico oferece uma sucessão
de etapas necessárias no desenvolvimento da história, que culminaria na
revolução do proletariado, mas que passa, antes de chegar ao cume, pelas
revoluções burguesas, como a que o mundo viu na França de 1789, apenas vinte
nove anos antes do nascimento do próprio Marx. O mesmíssimo Manifesto
Comunista afirma que “a burguesia desempenhou na história um papel altamente
revolucionário”.[17] A burguesia, com efeito, teria tido uma tarefa histórica
concreta: desmantelar as formas feudais de organização. O “capitalismo
burguês” seria necessário para a história, pois, ao mesmo tempo em que acelera
de maneira impressionante as forças produtivas,[18] simplifica as contradições
existentes na sociedade, reduzindo-as a apenas uma: a contradição entre dois
grupos antagônicos fáceis de identificar: a burguesia e o proletariado.[19]
A chamada “burguesia” foi, sem sombras de dúvidas, uma classe
revolucionária para Marx e Engels, ainda que hoje isso nos soe estranho. Em
qual sentido ela é revolucionária? No sentido em que é a classe que destruiu o
mundo feudal, rompendo assim com os estreitos limites nacionais da antiga
indústria, gerando um mercado mundial, revolucionando as comunicações e
introduzindo o cosmopolitismo. Em outras palavras, a burguesia seria funcional
durante uma etapa da história para trabalhar como ante-sala do que logo seria a
vaticinada revolução proletária.
Segundo fantasiavam os marxistas, a burguesia desenvolveria forças
produtivas impressionantes que terminariam por liquidar a própria “sociedade
burguesa”. Por qual razão? Porque supunham que o progresso dessas forças
produtivas seria freado pelo regime de propriedade privada, o que terminaria por
gerar as condições para o fim do capitalismo. A mesma rebelião que acabou com
a sociedade feudal deveria agora, em função da mesma “necessidade dialética”,
destruir a burguesia, em proveito do proletariado. É precisamente isso o que
Marx e Engels acreditavam estar vendo quando escreviam suas profecias com
pretensões científicas: “ante nossos olhos se está produzindo um movimento
análogo [ao da destruição do feudalismo]. As relações burguesas de produção e
de troca, as relações burguesas de propriedade, toda essa sociedade burguesa
moderna, que fez surgir, como que por encanto, tão potentes meios de produção
e troca, se assemelha ao mago que já não é capaz de dominar os poderes
infernais que desencadeou com os seus conjuros. Desde algumas décadas, a
história da indústria e do comércio não é mais que a história da rebelião das
forças produtivas modernas contra as atuais relações de produção, contra as
relações de propriedade que condicionaram a existência da burguesia e sua
dominação”.[20] Tudo estava dito para Marx e Engels; eles estavam seguros de ter
descoberto o movimento necessário da história; e, por conseguinte, achavam-se
capazes de predizer o futuro político e social: “As armas de que se serviu a
burguesia para derrubar o feudalismo se voltam agora contra a própria burguesia.
Porém a burguesia não forjou somente as armas que devem matá-la, mas
produziu também os homens que empunham essas armas: os trabalhadores
modernos, os proletários”.[21]
Os proletários são então a classe social que tem em suas mãos a mais
importante missão histórica: impulsionar uma revolução que, ao destruir a
propriedade privada que fundamenta a divisão de classes, destruirá também as
classes sociais como tais. Sua libertação será a libertação de toda a humanidade.
[22]
Se toda a história foi a história da luta de classes, o marxismo anuncia uma
última revolução na história: a revolução do proletariado, que abrirá as portas de
um paraíso chamado “comunismo”, que se realizará após um período
indeterminado de “ditadura do proletariado”. Após essa revolução, a classe
trabalhadora deverá dispor do poder político para acabar com as relações de
produção existentes, socializando os meios de produção (quer dizer, abolindo a
propriedade privada).[23]
É aqui que a dialética produziria o seu último movimento: assim como a
burguesia, no papel de “classe dominante”, teria concebido o proletariado como
“classe dominada”; quando este se transformar em classe dominante, dará luz à
síntese que coroará o movimento dialético, estabelecendo o fim da história, o
advento do paraíso comunista, a sociedade sem classes, sem política, sem Estado
e sem religião. Eis o que, em poucas palavras, Marx previa, de acordo com “leis
históricas” baseadas na “ciência”.
Para concluir, extraímos o seguinte: o marxismo analisa a sociedade de
maneira topográfica, metaforicamente falando, na forma de um “edifício”. Na
base ou “infraestrutura” da sociedade, dispõe as forças produtivas e suas relações
– quer dizer, as tecnologias e as relações de propriedade. Na “superestrutura”,
que se levanta a partir desta base de caráter econômico, os marxistas colocam o
Estado, a ideologia, a religião, a cultura, etc. Seguindo a metáfora, a maneira
mais fácil de demolir um edifício consiste em arrebentar os pilares sobre os
quais ele se apóia, e o marxismo tradicional se baseou precisamente nisso: as
verdadeiras revoluções se fazem ao nível das relações econômicas, pois tudo o
mais – ideologia, Estado, cultura, etc. – é apenas um reflexo daquelas. O que se
há de fazer é transformar o sistema econômico, e as demais transformações se
darão por acréscimo. O que isto quer dizer? Quer dizer que não existe revolução
propriamente dita se não se acabar com o existente regime de propriedade
privada de maneira categórica. O combate no nível da “superestrutura”, o nível
ideológico ou jurídico, seria, para o marxismo clássico, o equivalente a lutar
contra uma sombra.
No prefácio de sua obra Uma contribuição à crítica da economia política,
Marx assevera: “Sempre é necessário distinguir entre a revolução material nas
condições econômicas de produção, que caem dentro do raio da determinação
científica exata; e a jurídica, política, religiosa, estética ou filosófica, quer dizer,
em uma palavra, as formas ideológicas da aparência”. É interessante a análise
que Karl Popper, filósofo austríaco detrator do marxismo, faz desta passagem
para entendermos as modificações estratégicas e teóricas que sofreu o marxismo
clássico através do tempo: “Na opinião de Marx, é vã a esperança de conseguir
alguma mudança importante mediante tão-somente o uso de recursos jurídicos
ou políticos; uma revolução política só pode desembocar na transmissão do
comando de um grupo de governantes para outro grupo [...]. Somente a evolução
da essência subjacente, a realidade econômica, pode produzir transformações
essenciais ou reais, isto é, uma revolução social.[24]
Porém, o castelo de areia teórico do marxismo clássico começou a ruir mais
cedo do que se esperava, com a mesmíssima revolução marxista por excelência,
a Revolução Russa.

A exceção russa e a hegemonia


Uma revolução na Rússia nos primórdios do século XX introduzirá, por
paradoxal que pareça, um grave problema teórico para o marxismo tradicional e
sua filosofia da história. O problema pode resumir-se numa única pergunta:
como podia haver uma revolução proletária naquela Rússia que ainda não havia
passado por uma revolução democrático-burguesa? Vale dizer que a Rússia
czarista, apesar de ter experimentado lutas revolucionárias nos anos de 1905 e
1917, ao contrário da França de 1789, não contava com uma burguesia
significativa se esforçando para substituir o sistema monárquico-feudal vigente.
Haviam czares, porém não havia uma burguesia que pudesse afetá-los. Segundo
o raciocínio marxista seria preciso que a burguesia primeiro fizesse a sua
revolução, removendo o czar, antes de ser, ela própria, suplantada pelo
proletariado. Portanto, as previsões marxistas entraram em cheque quando a
revolução comunista ocorreu “saltando etapas”, pulando de uma situação feudal
diretamente para o socialismo, sem passar pela “revolução burguesa”. Um salto
do térreo ao segundo andar, antes da construção do primeiro, para seguirmos nas
metáforas de construção.
Marx e Engels tinham estabelecido uma ordem progressiva no processo
revolucionário; tinham, em uma palavra, uma concepção “etapista” da história
(um desenvolvimento por etapas), na qual as distintas classes sociais executavam
tarefas que lhes eram “conaturais”. Para eles, as primeiras revoluções do
proletariado deveriam acontecer nos países capitalistas mais avançados, em
virtude da própria dinâmica das forças materiais que já vimos. A revolução que
se deu na Rússia de 1905[25] representava para os espectadores, pois, um
desajuste portentoso: o desajuste das etapas da história já preditas por Marx, e o
desajuste das tarefas históricas que cada classe devia assumir conforme as leis
sociológicas inventadas pelo próprio marxismo. Diante desse problema, dentro
da social-democracia russa houve quem afirmasse que o proletariado não deveria
participar como força dirigente do processo revolucionário (os “mencheviques”);
[26]
porém, também sugiram vozes mais radicais que revindicaram a possibilidade
de constituir a classe trabalhadora russa como cabeça de uma revolução (os
“bolcheviques”).[27]
Anos depois, Antonio Gramsci, célebre filósofo italiano marxista da
primeira metade do século XX, fazendo cambalear a rigidez ideológica do
marxismo tradicional, escreverá um texto intitulado A revolução contra ‘O
Capital’, em que ironiza: “O Capital, de Marx, era na Rússia o livro dos
burgueses mais que dos proletários. Era a demonstração crítica da fatal
necessidade de que na Rússia se formará uma burguesia, começará uma era
capitalista, irá se instaurar uma civilização de tipo ocidental, antes de que o
proletariado sequer pudesse pensar em sua ofensiva, em suas reivindicações de
classe, em sua revolução. [...] Os fatos provocaram a explosão dos esquemas
críticos em cujo limite a história da Rússia teria que desenvolver-se, segundo os
cânones do materialismo histórico”.[28]
Como vemos, na opinião de Gramsci, nada menos que os fatos russos – eis
o paradoxo – fizeram voar em pedaços os esquemas “etapistas” do materialismo
histórico do marxismo puro. Porém não devemos adiantar-nos tanto; a teorização
de Gramsci é um tanto posterior à revolução – de modo que ele fazia análises
baseado em fatos já consumados –, e já chegaremos a ela. A pergunta que
devemos fazer-nos agora é: como fizeram então os teóricos que estavam
observando estes desajustes para explicar o salto de etapas que se deu na Rússia
e, mais ainda, justificar a práxis revolucionária da classe trabalhadora no
momento em que a revolução devia ser burguesa?
Do seio da Segunda Internacional Socialista[29] — a qual funcionou entre
1889 e 1923 – se recorrerá a um conceito que virá a suturar a teoria marxista:
esse conceito foi o de hegemonia.
A que se referia a hegemonia no início? Como já vimos, as classes sociais
têm “tarefas históricas” bem precisas: a burguesia deve acabar com a sociedade
feudal, e o proletariado deve acabar, por sua vez, com a sociedade burguesa
(capitalista). A hegemonia será o conceito utilizado pelo teórico Gueorgui
Plejanov – um dos fundadores da Segunda Internacional – para descrever e
justificar o fato de que na Rússia a classe proletária assumiu a tarefa burguesa de
sepultar a sociedade feudal. Com efeito, o estado de desenvolvimento econômico
russo estava tão pouco maduro que uma débil burguesia não podia cumprir com
suas obrigações históricas – fazer a revolução contra o feudalismo czarista – e,
por isso, a classe trabalhadora deveria hegemonizar, quer dizer, assumir tarefas
que não eram próprias de sua natureza de classe – que consiste em fazer a
revolução contra o capitalismo burguês.
Este é o marco do surgimento do conceito de hegemonia que, em sua
origem, não pôde despojar-se do determinismo econômico do marxismo
tradicional. Por quê? Porque continuava-se concebendo as classes sociais como
grupos com tarefas históricas bem definidas, “naturais”, e hegemonia é apenas o
nome dado ao fato excepcional da assunção por parte de uma classe social de
uma tarefa que em teoria não lhe seria própria. No caso russo, a tarefa de fazer
uma revolução proletária contra um regime feudal.
Algumas mudanças rápidas na idéia de “hegemonia” vieram com Vladimir
Ilich Lenin, o teórico bolchevique por antonomásia e fundador da Terceira
Internacional Socialista. Sua luta teórica se enquadra em sua controvérsia contra
a ala dos mencheviques, os quais, seguindo o esquema “etapista” argumentavam
que na Rússia, “por ser um país atrasado com regime feudal, a revolução seria
realizada em duas etapas. Uma primeira, na qual o proletariado, o campesinato e
a intelectualidade se uniriam com a burguesia liberal para derrotar a monarquia e
instaurar um regime democrático burguês, onde o proletariado ganharia espaço
para lutar pelo socialismo. [...] essa luta pelo socialismo abriria a segunda etapa
da revolução”.[30] Lenin, ao contrário, sublinhava desde o início o caráter
“reacionário” da burguesia russa e considerava que a revolução deveria desde
suas origens pôr-se em luta contra ela, numa aliança da classe trabalhadora com
o campesinato, sem esperar etapa prévia alguma.
Neste ponto surge, pois, o conceito de “hegemonia” leninista como
“liderança política dentro de uma aliança de classes”.[31] A classe proletária
russa, apesar de seu pequeno número em relação ao conjunto da população, se
erige em classe dirigente das demais classes subalternas – fundamentalmente o
campesinato – e estabelece com elas uma aliança política para fazer a revolução.
Esta aliança, contudo, não modifica a identidade das classes aliadas: “Atacar
juntos, marchar separados” é uma das máximas mais eloqüentes de Lenin, que
resume precisamente seu conceito de hegemonia.

A revolução teórica de Antonio Gramsci


O grande salto qualitativo no que se refere ao conceito de “hegemonia” será
dado não um russo, mas por um italiano: Antonio Gramsci (1891-1937), que já
citamos anteriormente e que seguiremos mencionando neste trabalho. A primeira
vez que ele falou em “hegemonia” foi no seu escrito Alguns temas da questão
meridional, e sua dívida teórica com Lenin é admitida em várias passagens de
seus Cadernos do cárcere, compilação de anotações que o italiano fez enquanto
se encontrava encarcerado pelo regime de Benito Mussolini. No texto
supracitado, Gramsci aborda o problema da divisão existente na Itália industrial
do Norte e a Itália agrária do Sul, e o papel hegemônico que deve assumir a
classe trabalhadora diante do campesinato que, em termos leninistas, significa o
problema de gerar uma aliança de classes entre os trabalhadores e o
campesinato, na qual os primeiros tenham a liderança. Gramsci descreve a
hegemonia nestes termos: “O proletariado pode converter-se em classe dirigente
e dominante na medida em que lhe permita mobilizar contra o capitalismo e o
Estado burguês a maior parte da população trabalhadora, [...] na medida em que
consiga obter o consenso da maior parte da massa campesina. [...] Conquistar a
maior parte da massa campesina significa [...] compreender as exigências da
classe que representam, incorporar essas exigências ao seu programa
revolucionário de transição, pôr essas exigências entre suas reivindicações de
luta”.[32]
Até aqui a hegemonia continua sendo uma “aliança de classes” como
apregoava Lenin, ainda que comece a pôr-se em relevo a necessidade de
“absorver” “incorporar” “abarcar” – estas são as palavras de Gramsci – as
exigências dos grupos campesinos, que parece ir mais além de uma simples
aliança passageira. As considerações do pensador italiano não se assemelham em
nenhum sentido ao “atacar juntos, marchar separados” de seu camarada Lenin. O
que Gramsci começa a enfocar é a necessidade de gerar um vínculo muito mais
forte com a classe campesina no quadro de uma luta comum contra o
capitalismo.
No mesmo texto, porém um pouco mais adiante, Gramsci dá um novo salto
quando adverte que a hegemonia sobre os campesinos do Sul sustenta a “classe
burguesa” graças a influência dos seus intelectuais sobre essa região. O
campesinato está fortemente dominado em termos culturais e em sua “visão de
mundo” pela burguesia, e é com isto que Gramsci quer acabar. Ele menciona, em
particular, o filósofo liberal-conservador Benedetto Croce como um dos
responsáveis por esta hegemonia burguesa sobre o campesinato, para
exemplificar de que forma a mobilização intelectual é vital: “Benedetto Croce
cumpriu uma altíssima função ‘nacional’: separou os intelectuais radicais do Sul
das massas campesinas, permitindo-lhes participar da cultura nacional e
européia, e através desta cultura permitiu que fossem absorvidos pela burguesia
nacional”.[33] Aqui se produz uma mudança de paradigmas: enquanto, para o
marxismo clássico, lutar no plano cultural, político ou jurídico era mais ou
menos como lutar “contra uma sombra”, para Gramsci, esta era a luta que
realmente importa.
Existe um vínculo muito claro entre hegemonia e cultura para o
pensamento gramsciano. A dominação cultural é o caminho através do qual a
burguesia italiana logra hegemonizar o campesinato do Sul. E é por isso que
Gramsci conclui que é vital que proliferem os intelectuais comunistas, afinal,
quem melhor do que intelectuais para conseguir mudanças culturais?: “Também
é importante que na massa dos intelectuais se produza [...] uma tendência de
esquerda no sentido moderno da palavra, ou seja, orientada para o proletariado
revolucionário. A aliança do proletariado com as massas campesinas exige esta
formação, ainda mais o exige a aliança do proletariado com as massas
campesinas do Sul”.[34]
A idéia de “hegemonia”, em Gramsci, superou a maior porção de
economicismo que continha até então. Por quê? Porque agora a hegemonia
passará a exigir um mobilização cultural que Gramsci chamará “intelectual-
moral”: a hegemonia se realiza gerando mudanças no nível cultural, e não é uma
simples aliança econômico-política como apregoava Lenin, nem é a assunção de
tarefas externas à própria classe como concebia Plejanov. A hegemonia em
Gramsci se dá em um terreno de grande transcendência: o dos valores, crenças,
identidades e, em definitivo, no terreno da cultura: “Toda revolução – anota
Gramsci – foi precedida por um intenso trabalho de crítica, de penetração
cultural, de permeação de idéias através de agremiações humanas no princípio
refratários e aplicados somente em resolver o dia-a-dia, um hora por vez, e para
eles mesmos, seu problema econômico e político, sem vínculos de solidariedade
com os demais que se encontravam nas mesmas condições”.[35]
Dito de outro modo: a hegemonia já não se dá na transação de interesses
materiais, mas por meio da injeção de uma “concepção de mundo” que aperte os
laços de solidariedade orgânicos (hegemônicos) entre os grupos que pertencem a
distintas classes sociais – trabalhadores por um lado, camponês por outro. É o
vínculo ideológico e não tanto o econômico o que dá sentido a formação política
hegemônica em Gramsci. O êxito do processo hegemônico (quer dizer, da fusão
da consciência revolucionária de grupos distintos), depende da confecção de
uma ideologia de sentido contrário ao dominante, que questione seu “senso
comum”, sua forma de ver o mundo, sua forma de organizar a sociedade, a
economia, a política, a cultura.
Porém, em Gramsci, a classe trabalhadora continua sendo uma classe
privilegiada em algum sentido. Com efeito, é a classe que tem a possibilidade de
levar adiante processos hegemônicos que estendam os limites de sua vontade a
outros grupos sociais também subalternos. A hegemonia parece ser uma
iniciativa exclusiva do proletariado em sua estratégia. Tanto é assim que, em
seus apontamentos obre O Príncipe de Maquiavel, Gramsci designa o partido da
classe trabalhadora como “Novo Príncipe”. E nestes termos estabelece sua
missão: “Uma parte importante do Príncipe moderno deverá estar dedicada à
questão de uma reforma intelectual e moral, quer dizer, à questão religiosa ou de
uma concepção de mundo. [...] O Príncipe moderno deve ser, e não pode deixar
de ser, o porta-estandarte e o organizador de uma reforma intelectual e moral, o
que significa criar o terreno para um desenvolvimento ulterior da vontade
coletiva nacional popular”.[36]
A importância da batalha cultural é a esta altura coisa evidente em Gramsci,
uma vez que a revolução pode e deve acontecer num nível cultural. Recordemos
que para Lenin a revolução devia ser violenta e nisto implicava tomar à força o
Estado, impor a “ditadura do proletariado”, abolir a propriedade privada, destruir
o Exército e a burocracia, fazendo desaparecer, posteriormente, o Estado mesmo.
[37]
E o que propõe Gramsci? Propõe que o Estado pode ser tomado desde a
sociedade civil, e sua destruição como “organismo a serviço da classe
dominante” não se esgota na destruição do Exército e da burocracia, como Lenin
propusera; mas, fundamentalmente, na destruição da “concepção de mundo” que
produz e reproduz o Estado. Gramsci está propondo, em uma palavra, fazer uma
luta cultural que corroa a hegemonia ideológica da “classe dominante” preparada
pelo Estado.[38] Essa luta deve ser encabeçada pela classe trabalhadora, que deve
antes hegemonizar os demais grupos subalternos, resultando daí uma “vontade
coletiva nacional-popular”. A questão da revolução violenta, tão distintiva do
pensamento marxista-leninista, fica relegada. Gramsci chega inclusive a falar em
“revolução passiva” na qual as “classes dominantes” se vêem obrigadas a
absorver os pontos de vista das vontades coletivas nacional-populares.[39]

O pós-marxismo de Ernesto Lacleu e Chantal Mouffe


Contemporâneos a nós, o argentino Ernesto Laclau e sua mulher Chantal
Mouffe geraram outro salto importantíssimo na teoria marxista. Este salto foi tão
importante que o mundo acadêmico lhes reputa um papel indiscutível como
referências do chamado “pós-marxismo”,[40] uma corrente teórica muito recente
cuja característica fundamental é a proposta de revisar o marxismo de modo a
adequá-lo, teórica e estrategicamente, ao novo mundo que nasceu do fracasso do
“socialismo real” da União Soviética.
No entanto, Ernesto Laclau não ascendeu somente no mundo acadêmico,
mas sua imagem também chegou ao mundo da política, que reconheceu nele um
papel filosófico importante no projeto do “socialismo do século XXI” em geral,
e no caso do regime kirchnerista em particular. Praticamente não existia meio de
comunicação nacional e internacional que, ao mencioná-lo, não tenha
mencionado o papel do “filósofo do kirchnerismo”.[41] Com sua morte em abril
de 2014, Cristina Kircher pronunciou um discurso no qual disse: “Laclau era um
filósofo muito controvertido, um pensador com três virtudes. A primeira, pensar,
algo não muito habitual nos tempos que correm. A segunda, fazê-lo com
inteligência; e a terceira, fazê-lo em aberta contradição com as usinas culturais
dos grandes centros de poder”. Como se a nova esquerda não fosse um deles...
Concentremo-nos, porém, em seu aporte teórico, que é o que pretendemos
destrinchar neste capítulo. E comecemos dizendo que o mundo no qual Laclau
vive é muito distinto do mundo de Marx e mesmo do mundo de Gramsci. O que
Laclau vê quando escreve com Chantal Mouffe sua obra Hegemonia e
Estratégia Socialista, publicada em 1985, é um mundo onde o capitalismo
expandiu-se formidavelmente e, longe de agravar os seus conflitos de classe,
obteve cada vez melhores condições de existência para o proletariado,[42] em
contraste com a uma iminente queda do bloco comunista; um mundo onde a
democracia pluralista também expandiu-se desmesuradamente e fez aflorar
novos pontos de conflito político que não têm sua raiz em fundamentos
econômicos; e onde o Estado de bem-estar se encontra em uma brutal crise e, em
seu lugar, vêem surgir com todas as suas forças o projeto do “liberalismo neo-
conservador”.
O trabalho de Laclau e Mouffe revisa e “descontrói” (desmantela e
substitui) as teorias do marxismo tradicional, buscando desmontar o
economicismo[43] para propor uma nova teoria e uma nova estratégia para a
esquerda, baseadas na idéia de hegemonia. Nisto se resume, precisamente, os
esforços de Hegemonia e estratégia socialista, um das obras mais importantes de
nossa esquerda renascida.
O pós-marxismo de Laclau e Mouffe tem como centro a supressão do
conceito de “classe social” como elemento teórico relevante para a esquerda.
Este é o passo crucial que ambos os pensadores dão em comparação a Gramsci,
em quem, ademais, baseiam a maior parte de sua teoria. O proletariado já não é o
sujeito revolucionário privilegiado em nenhum sentido possível; a classe
trabalhadora em Laclau não tem sequer privilégios em uma estratégia
hegemônica como na teoria gramsciana. Porém, para além disso, tampouco há
sentido procurar outro sujeito privilegiado, como aconteceu na década de 60 na
qual se discutiu, a partir especialmente dos teóricos da Escola de Frankfurt, se o
privilégio da história passava pelos jovens, pelas mulheres, etc.[44] Contra a
intenção desesperada de descobrir novos sujeitos para a revolução
anticapitalista, Laclau e Mouffe acentuam a construção discursiva dos sujeitos.
O que significa isso? Significa, pois, que os discursos ideológicos podem dar
origem a novos agentes da revolução (o discurso tem caráter performativo, dirá o
filósofo da linguagem John Austin). Simplificando um pouco: é preciso fabricar
e difundir relatos que gerem conflitos úteis para a causa da esquerda.
O problema neste ponto passa a ser de como explicar a construção destas
novas identidades. E a resposta será dada, uma vez mais, pelo conceito de
“hegemonia”. Porém, o que Laclau e Mouffe chamam de “hegemonia”? Para pôr
nos termos mais claros possíveis — algo nem sempre fácil pelo obscurantismo
desses autores —, “hegemonia” é o nome de um processo sob o qual forças
sociais diferentes entre si começam a se articular e, posteriormente, acabam
modificando cada uma a sua identidade particular. Dá-se entre elas um
intercâmbio recíproco que as transforma. O conceito de “articulação” é chave
aqui, pois fica definido pelos autores como “toda prática que estabelece uma
relação tal entre os elementos que as suas identidades ficam modificadas como
resultado dessa prática”.[45] Em termos mais fáceis: existe articulação política
quando duas frentes políticas firmam uma aliança que termina por modificar a
identidade de cada uma.
No entanto, uma articulação, para ser hegemônica, deve surgir no quadro
de um antagonismo social, isto é, num espaço dividido pelo conflito. A
hegemonia é um processo através do qual distintas forças sociais começam a se
unir para se potencializarem no contexto dos conflitos.
Ponhamos um exemplo para aclarar a idéia: um grupo de trabalhadores tem
demandas particulares como, por exemplo, a necessidade de um aumento
salarial; grupos de mulheres, por outro lado, pedem proteção para o sexo
feminino diante dos casos de violência contra a mulher; grupos de indígenas, por
sua vez, reclamam proporções de terras baseando-se em supostas possessões de
seus antepassados remotos. Estas demandas, separadamente, carecem de força
hegemônica. A esquerda, contudo, tem a missão de instituir um discurso que,
sobre um terreno de conflito maior, articule estas forças em um processo
hegemônico que as faça equivalentes diante de um inimigo comum: o
capitalismo liberal. Quer dizer, a esquerda deve criar uma ideologia na qual estas
forças possam identificar-se e unir-se em uma causa comum; a nova esquerda
deve ser a cola que unifique, invente e potencialize todos os pequenos conflitos
sociais, ainda que estes não tenham natureza econômica. A hegemonia se
conquista quando uma força política determina a rede de significados e palavras
– e por acréscimo molda a forma de pensar – pelos quais conduzir-se-ão todos os
que se encontram sob seu controle. Como Humpty Dumpty assevera em seu
diálogo com Alice na célebre história de Alice no País das Maravilhas, de Lewis
Carroll:
— Quando eu uso uma palavra – insistiu Humpty Dumpty com um tom de
voz mais desdenhoso – ela quer dizer o que eu quero que diga... nem mais e nem
menos.
— A questão – insistiu Alice – é saber se é possível fazer com que as
palavras signifiquem tantas coisas diferentes.
—A questão – encerrou Humpty Dumpty – é saber quem manda... Isso é
tudo.
A hegemonia, segundo a teoria de Laclau e Mouffe, tem sentido a partir de
um momento histórico bem concreto: a revolução democrática. Com efeito, a
dita revolução – concretamente a francesa[46] — teria instaurado um discurso
igualitário que substituiu a doutrina teológico-política pela declaração de que o
poder emana do povo, deslegitimando uma série de subordinações,
transformando-as em opressões, ampliando em seu constante desenvolvimento o
espaço dos antagonismos sociais. A revolução democrática seria o terreno de
uma constante e ininterrupta emergência de antagonismos que em tempos
recentes estavam contidos por outro tipo de discurso social.
Naturalmente, a estratégia que esses autores propõem ao socialismo, longe
de ter por objetivo imediato a destruição da “democracia burguesa” – ao modo
do marxismo clássico —, tem seu eixo no fato de entender a democracia como o
terreno sobre o qual o projeto socialista pode e deve se desenvolver,
aproveitando e estimulando a multiplicidade de pontos de antagonismos
possíveis de se fazer emergir. Trata-se de tomar a democracia liberal e fomentar
o seu componente igualitário a tal ponto que ela termine dizimada desde seu
próprio seio; varrida por sua própria lógica; trata-se de destruir a democracia por
dentro, e não por fora. Esse objetivo termina por ficar evidente no livro
subseqüente de Laclau: A Razão Populista.[47]
Sigamos, porém, com Hegemonia e Estratégia Socialista. Seus autores não
somente deixam explícitas as intenções já ditas, mas inclusive as destacam com
recursos tipográficos (os itálicos pertencem aos próprios autores): “...é evidente
que não se trata de romper com a ideologia liberal democrática, mas sim o
contrário, de aprofundar o momento democrático ao ponto de fazer estourar no
liberalismo sua articulação com o individualismo possessivo. A tarefa da
esquerda não pode portanto consistir em renegar a ideologia liberal
democrática, mas, pelo contrário, consiste em aprofundá-la e expandi-la na
direção de uma democracia radicalizada e plural. [...] Não é no abandono do
terreno democrático mas, pelo contrário, ao longo do campo das lutas
democráticas no conjunto da sociedade civil e do Estado onde reside a
possibilidade de uma estratégia hegemônica de esquerda”.[48]
Digamos duas coisas a respeito. Em primeiro lugar, surge da própria pena
de Laclau e Mouffe que a radicalização da democracia não é um fim em si
mesmo, mas um meio para alcançar outro fim: a destruição do “individualismo
possessivo” tipicamente liberal, quer dizer, a destruição da noção dos direitos
individuais e da propriedade privada. Em segundo lugar, assim como as
ditaduras socialistas do século passado alegavam estar levando adiante uma
“democracia substancial” diante da “democracia burguesa” do mundo
capitalista, em Laclau e Mouffe esta distinção se mantém vigente ainda que com
um novo nome: democracia radical vs. democracia liberal. Porém, a suposta
“democracia radical” não é muito mais que o nome dado a um socialismo que
incluiu em seu discurso uma série de demandas que excedem o tradicional
terreno das classes. E tanto é assim que os próprios autores concluem seu livro
desta forma: “Todo projeto de democracia radicalizada inclui necessariamente,
segundo dizemos, a dimensão socialista – quer dizer, a abolição das relações
capitalistas de produção – [...]. Por conseguinte, o descentramento dos
antagonismos e a construção de uma pluralidade de espaços dentro dos quais
podem afirmar-se e desenvolver-se são as condições sine qua non de
possibilidade de que os distintos componentes do ideal clássico do socialismo
[...] possam ser alcançados”.[49]
Não é exagerado dizer que o objetivo de toda a teoria de Laclau e Mouffe é
a construção de um socialismo[50] adaptado às condições do novo milênio que se
inicia, ao qual puseram o apelido simpático de “democracia radical” para incluir
demandas que anteriormente não tinham lugar nas teorias socialistas. “A
denominação pouco satisfatória de ‘novos movimentos sociais’ – escrevem os
autores – amalgama uma série de lutas muito diversa: urbanas, ecológicas,
antiautoritárias, anti-institucionais, feministas, anti-racistas, de minorias étnicas,
regionais ou sexuais. [...] O que nos interessa destes novos movimentos sociais
não é [...] seu agrupamento arbitrário numa categoria que os oporia aos
movimentos de classe, mas a sua própria novidade, na medida em que através
deles se articula essa rápida difusão da confrontação social a relações mais e
mais numerosas, o que é, hoje em dia, uma característica das sociedades
industriais avançadas”.[51] É aqui onde vamos nos concentrar neste livro: em
desmantelar os discursos destas novas máscaras da esquerda que seus teóricos
hegemonizaram.
A relevância e a autonomia da política e da ideologia aparecem com toda
sua força no traçar a estratégia hegemônica que estamos descrevendo.[52] E sob
esse guarda-chuvas teórico a esquerda acabou por trazer, enfim, ao primeiro
plano a relevância de um luta ideológica que determinou a morte da luta de
classes e o conseguinte nascimento da batalha cultural.

Os pensadores do “socialismo do século XXI”


O “socialismo do século XXI” é a expressão latino-americana da esquerda
renascida. Como projeto, com nome e sobrenome, tal socialismo nasceu
formalmente em 27 de fevereiro de 2005, na Venezuela, oportunidade na qual
Hugo Chávez convocou os intelectuais orgânicos ao seu sofrível programa
televisivo “Alô, Presidente” para “inventar o socialismo do século XXI”. O
socialismo não estava morto com a implosão soviética; devia “reinventar-se”
com os ajustes necessários de acordo com as condições do novo século e dos
novos postulados teóricos que os revisionistas do marxismo tinham apresentado.
De tudo isto se falou com especial ênfase nos Foros Internacionais de Filosofia
da Venezuela, que começaram precisamente naquele ano, e que começaram a
tirar o pó de idéias que se acreditavam condenadas ao museu de antigüidades de
uma vez por todas.
O projeto do socialismo do Século XXI, neste mesmo momento em que
estas linhas são escritas, está sendo pensado e repensado por intelectuais
orgânicos dedicados a cumprir as ordens do falecido ditador venezuelano e
expandi-las para toda a região. Aqui daremos uma passada de vistas nas idéias
de alguns deles que, se bem que em muitas coisas apresentem um pensamento
mais ou menos heterogêneo, estão todos de pés juntos em algo que não é
nenhum pormenor para a tese de nosso trabalho: o caráter cultural da revolução
esquerdista do nosso século. Eles são devedores, sem sombras de dúvidas, do
pensamento pós-marxista que passou seu olhar da agitação da classe
trabalhadora para a construção de novos antagonismos sociais, culturais, étnicos,
etários, sexuais, etc.
O uruguaio Sirio López Velasco é um caso interessante. Ele baseou sua
proposta intelectual de socialismo do século XXI em discussões éticas que têm
seu fundamento no famoso postulado de Marx que diz: “De cada qual, segundo
sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades”. Porém admite, logo
em seguida, que a classe trabalhadora que Marx supôs ver não é a de hoje e isto
o obriga a contemplar mudanças importantes: “Em momentos em que a classe
trabalhadora diminuiu quantitativamente e modificou-se qualitativamente, com
centrais sindicais que de fato aceitam os limites do capitalismo , já soa a museu a
invocação de qualquer ‘partido trabalhador de vanguarda’; a tarefa crítico-
utópica e comunitarista hoje é colocada nas mãos de um bloco social
heterogêneo, com forma de movimento que agrupa os assalariados, os excluídos
da economia capitalista formal, as chamadas ‘minorias’ ( que às vezes são
maiorias, como as mulheres, e algumas comunidades étnicas em alguns países),
as minorias ativas (sobretudo os movimentos, partidos, sindicatos e organizações
não governamentais, e em especial muitas de caráter ambientalista), os povos
indígenas que, sem assumir uma postura identitária a-histórica essencialista,
querem permanecer e transformar-se sem aceitar o dogma dos ‘valores’
capitalistas da ganância do individualismo, e os movimentos de libertação
nacional que combatem o recrudescido imperialismo ianque-europeu”.[53]
O argentino Atilio Borón segue a mesma linha, ainda que dê ênfase na
necessidade de “construir” – quer dizer, estimular o conflito – no lugar de
“encontrar” o sujeito da nova revolução socialista, com claras reminiscências de
Laclau: “Não existe um único sujeito socialista. Se no capitalismo do século
XIX e começo do XX podia postular-se a centralidade exclusiva do proletariado
industrial, os dados do capitalismo contemporâneo [...] demonstram o crescente
protagonismo adquirido por massas populares que no passado eram tidas como
incapazes de colaborar – quando não tidas como claramente opostas – na
instauração de um projeto socialista. Camponeses, indígenas, setores urbanos
marginais eram, no melhor dos casos, acompanhantes de um discreto segundo
plano da presença estrelar da classe trabalhadora”.[54] Assim, pois, o que o novo
socialismo deve fazer é recorrer, impulsionar e agitar “as reivindicações das
periferias, das mulheres, dos jovens, dos ecologistas, dos pacifistas e dos
defensores dos direitos humanos”,[55] através da estratégia hegemônica, quer
dizer, mediante a união de todos estes micro conflitos que analisamos
anteriormente. “Em conclusão – anota Borón —, a construção do ‘sujeito’ do
socialismo do século XXI requer reconhecer, antes de tudo, que não existe
somente um, mas inúmeros sujeitos. Que se trata de uma construção social e
política que deve criar uma unidade onde existe uma ampla diversidade e
heterogeneidade”.[56] Posto nos termos da teoria pós-marxista que já vimos: trata-
se de conquistar uma hegemonia socialista que aglutine todos os elementos de
conflito social possíveis.
Dissemos antes que a hegemonia só tinha sentido em um quadro social
onde o conflito entre os distintos grupos fosse a regra. O marxismo tradicional
encontrou um único conflito fundamental que abarca todos: o conflito entre as
classes sociais – isto é, o conflito econômico. Porém, como o novo socialismo
teve que minimizar – e praticamente abandonar – a visão estritamente classista,
foi preciso fazer irromper novos conflitos, de distintos tipos, que podem
encontrar seu fio condutor na oposição à ordem capitalista e aos valores
ocidentais sobre os quais ele se sustenta. Esta geração permanente do conflito é
recomendada pelo sociólogo venezuelano Rigoberto Lanz quando anota que o
socialismo do século XXI só pode ter êxito “apostando seriamente na impulsão
de práticas subversivas que propaguem o efeito das rupturas, dos conflitos, das
contradições”.[57]
As coincidências entre os autores chamam a atenção e devem ser evitadas
sob risco de cairmos na redundância, pois neste padrão repetitivo já não há uma
“proposta”, mas uma clara estratégia em marcha. Com efeito, o teórico alemão
Heinz Dieterich, ex-assessor de
Chávez e célebre acadêmico do “socialismo do século XXI”, argumenta algo
muito parecido com o que argumenta seus colegas quando escreve que não se
trata da busca de um mítico “sujeito da libertação pré-determinado, mas sim do
reconhecimento de que os sujeitos de libertação serão multiclassistas,
pluriétnicos e de todos os gêneros”[58] e que “a classe trabalhadora continuará
tendo um destaque fundamental [...] porém provavelmente não constituirá sua
força hegemônica”.[59] Por outro lado, o pensador neomarxista russo Alexander
Buzgalin[60] também declarou que uma premissa objetiva “do socialismo do
século XXI é a associação dos trabalhadores e cidadãos em geral [...] que se
somam aos sindicatos e aos diversos movimentos sociais (mulheres, etnias
discriminadas pelo racismo, camponeses, ecologistas, etc.), às organizaçõeos
não-governamentais e às associações informais não permanentes e flexíveis que
agrupam as pessoas movidas pontualmente por causas comuns”.[61] Porém,
López Velasco se queixa de uma importante omissão que o escritor russo faz em
seu trabalho: “nos chama a atenção que Buzgalin omita (a não ser que o
tenhamos lido mal) os movimentos homossexuais (gays e lésbicas) no rico arco-
íris dos movimentos associativos que germinam como sementes do
associativismo participativo-decisório requerido por/no socialismo do século
XXI”.[62]
O filósofo e ex-guerrilheiro[63] boliviano Álvaro García Linera, vice-
presidente de Evo Morales, dá especial ênfase na questão indigenista concreta e
explica esta translação de sujeito revolucionário dada entre o histórico
“trabalhador explorado” para o atual “indígena colonizado” através do fio
condutor do marxismo: “Iniciamos assim uma releitura, ou melhor, uma
ampliação de nosso olhar desde o trabalhador muito central em Marx, ao menos
nas obras clássicas de Marx e Lenin, passando pela temática nacional, do
campesino, até a temática do que se chamam as identidades difusas. Aí nasce
uma etapa – a partir do ano de 1986 – que se mantém até hoje, de preocupação
em torno da temática indígena... consegui incorporar a temática indígena num
esforço por torná-la compreensível a partir das categorias que eu detinha; minha
autoformação era basicamente marxista. [...] começa uma obsessão, com
distintas variações, com o intuito de encontrar o fio condutor dessa temática
indígena a partir do marxismo”.[64] E a seguir realça o projeto hegemônico do
novo socialismo com base nesses novos sujeitos: “Toda revolução implica um
tipo de alianças, será mais exitosa a guerra de classes se ela consegue isolar,
desmoralizar e debilitar o adversário, ou transformá-los em potenciais aliados;
essa é a idéia de uma hegemonia”.[65]
Extraímos como conclusão algo que a esta altura já é evidente: se existe
algum acordo estratégico no campo da reconstrução de uma nova esquerda para
o século XXI, ele precisa apoiar-se firmemente em novos movimentos que são
mencionados e repetidos até a náusea por todos os teóricos que listamos aqui,
incluídos Ernesto Laclau e Chantal Mouffe, os quais, como vimos no
subcapítulo anterior, puseram as bases teóricas para o pós-marxismo superar de
vez o economicismo que via a luta socialista somente como um confronto de
classes sociais. Esses novos movimentos que o socialismo do século XXI deve
hegemonizar são fundamentalmente os indigenistas, ecologistas, direito-
humanistas, e os que no primeiro tomo dessa obra dedicaremos especial atenção:
as feministas e os homossexualistas (destes últimos se encarregará Nicolás
Márquez na segunda parte da presente obra), representados pelo que ficou
conhecido como a “ideologia de gênero”.
Capítulo 2: Feminismo e ideologia de gênero
A primeira onda do feminismo
Dado que o feminismo não pode ser abordado como uma ideologia
unívoca, suas diversas expressões devem ser diferenciadas através de “ondas”
que se vão sucedendo uma atrás da outra através da história, e que levam
consigo importantes mudanças político-teóricas em relação a suas predecessoras.
De tal sorte que, para fugir dos discursos reducionistas que nos levariam a
generalizações perigosas, torna-se necessário repassar rapidamente as principais
características destas distintas manifestações do feminismo. Com efeito, o
feminismo radical, sobre o qual nós concentraremos nossas críticas aqui, nada
tem a ver com outros feminismos que a história registrou e que nós, longe de
criticá-los, cremos que representaram progressos sociais necessários.
As origens do que podemos chamar a “primeira onda” feminista
encontram-se no Renascimento (séculos XV e XVI), o período de transição entre
a Idade Média e a Idade Moderna. Mulheres de grande inteligência começam a
reclamar o direito de receber educação de maneira equitativa a recebida pelos
homens, começam a perceber e a fazer percebido o papel socialmente relegado
que a mulher de então possuía. Novos ares intelectuais fazem-se sentir,
especialmente na Europa; os clássicos são relidos sem as lentes arquetípicas do
mundo medieval. E aí, neste momento da história, são produzidas obras como A
cidade das damas de Christine de Pizan, escrita em 1405, e A igualdade dos
sexos do sacerdote Poulain de la Barre, publicada em 1671. Entre essas duas
obras, Cornelius Agrippa publica a célebre obra Da nobreza e excelência do
sexo feminino em 1529. O padre Du Boscq escreve a favor da educação aberta
ao público feminino em A mulher honesta. Ao término do século XVII, o
filósofo Fontenelle publica suas Conversações sobre a pluralidade dos mundos.
À lista se pode acrescentar A noiva perfeita de Antoine Héroët, O discurso douto
e sutil de Margarita de Valois, entre outros exemplos destes novos ares
intelectuais concentrados no flamejante brado da mulher e pela mulher.
Porém, a primeira onda feminista só se expressará com pleno vigor com as
novas condições sociais, políticas e econômicas advindas das revoluções de
inspiração liberal do século XVIII. Não é de se estranhar que tenha sido assim,
considerando o quadro ideológico no qual as revoluções originaram-se e
desenvolveram-se, fundado na igualdade natural entre os homens e na liberdade
individual. E isto sem deixar de considerar, é claro, a importância do fator
econômico: estas revoluções que consigo trouxeram ao mundo o capitalismo
liberal criaram novas condições de vida para as mulheres, que passaram a ver
diante de si todo um novo universo cheio de possibilidades na vida fora de lar.
Este primeiro feminismo surgido das entranhas das revoluções liberais
lutara, em termos gerais, pelo acesso à cidadania por parte da mulher: o direito à
participação política e o direito de acesso à educação que, até então, estivera
reservado aos homens; estas são as demandas que estruturam o discurso do
nascente feminismo de caráter liberal. As idéias filosóficas difundidas então são
essenciais para este discurso. Voltaire postula a igualdade de mulheres e
homens, e chama às primeiras de “o belo sexo”. Diderot disse às mulheres
“compadeço-me de vós” e denuncia que ao largo da história “foram tratadas
como imbecis”. Montesquieu determina que a mulher tem tudo o que é
necessário para poder tomar parte na vida política. Condorcet publica em 1790 o
texto Sobre a admissão das mulheres ao direito de cidadania, no qual conclui
que os princípios democráticos que foram inaugurados cabem a todos por igual
independentemente do sexo. “Por que alguns seres expostos a gravidez e a
indisposições passageiras não poderiam exercer direitos que nunca se pensou
privar àqueles que têm gota todos os invernos ou que se resfriam facilmente?”,
ironiza.
É neste contexto que nasceram estas novas demandas, ao compasso das
novas idéias, em especial no epicentro das revoluções de inspiração liberal:
Inglaterra, França e EUA.
Costuma-se tomar como obra fundamental da primeira onda feminista o
livro Reivindicação dos direitos da mulher, da inglesa Mary Wollstonecraft,
centrado na igualdade de inteligência entre homens e mulheres e em uma
reivindicação da educação feminina. Nascida em 1759 e falecida em 1797,
Wollstonecraft se destaca como uma das importantes escritoras de seu tempo,
apesar de não ter recebido uma educação maior do que a de qualquer criado. Sua
carreira como escritora nasce quando é encarregada de escrever Pensamentos
acerca da educação das meninas, onde já começa a formar suas idéias em defesa
de uma educação que incluísse o sexo feminino, e chega ao auge com o citado
Reivindicação dos direitos da mulher, redigido em apenas seis semanas de 1792,
no qual advoga pela participação política da mulher, o acesso a cidadania, a
independência econômica e a inclusão no sistema educativo.
Quem reconhecerá o legado de Wollstonecraft durante boa parte do século
XIX na Inglaterra não será, no entanto, uma mulher, mas um homem: John
Stuart Mill. Seu livro A sujeição das mulheres, publicado em 1869, é sua obra
mais importante nesta matéria, editada não somente em seu país de origem, mas
também nos EUA, Austrália, Nova Zelândia, Alemanha, Áustria, Suécia, Itália,
Polônia, Rússia, Dinamarca, entre outros países.
Neste livro, Mill dá uma forte ênfase na desigualdade perante a lei entre
homens e mulheres, criticando especialmente o regime marital de sua época, o
qual concedia direitos legais sobre os filhos somente ao pai (nem com a morte do
marido a mãe gozava de custódia legal dos filhos), alienava qualquer
propriedade que por acaso a esposa tivesse em favor de seu marido, e fazia dela
praticamente uma propriedade dele: “A mulher não pode adquirir bens senão
para ele; desde o instante em que obtém alguma propriedade, ainda que seja por
herança, é para ele ipso facto”[66] escreve John Stuart Mill. Não obstante – é justo
sublinhá-lo – o seu trabalho não foi meramente intelectual. Também levou,
como deputado da Câmara dos Comuns, estas demandas ao debate político.
Assim, propôs (sem êxito) que, no quadro de uma reforma eleitoral que se
trabalhava naqueles dias, trocassem a a palavra “homem” por “pessoa”, de modo
que pudesse habilitar o voto feminino.
Neste cenário, em 1869, a Inglaterra vê nascer a Sociedade Nacional do
Sufrágio Feminino, e, em 1903, a União Social e Política Feminina,[67] cujo lema
“Voto para as mulheres” – nome também de seu jornal semanal – pressiona o
Parlamento para que inclua politicamente as mulheres. O objetivo seria
alcançado em 1918, depois de vários anos de muita tensão política e social.
Por sua vez, em França, a primeira onda feminista tem sua origem na
polêmica revolução de 1789, época em que surge uma manifestação do
feminismo da qual pouco se conhece, quando um grupo de mulheres entende que
ficaram excluídas da Assembléia Geral criada após a Revolução, e então fazem
ouvir suas vozes no chamado “Caderno de Queixas”.
Com o avançar da Revolução, a exclusão das mulheres se acentua: em 1793
os revolucionários dissolvem os clubes femininos e estabelecem um norma
segundo a qual, por exemplo, não podem reunir-se na rua mais do que cinco
mulheres. Em 1795 se proíbe expressamente às mulheres assistirem assembléias
políticas. Nas chamadas “codificações napoleônicas” se consagra, entre outras
coisas, a perpétua menoridade das mulheres. O sistema educacional estatal
nascente exclui a mulher do nível médio e superior, mesmo que sua educação
primária se declare desejável. Um dado dá cor a toda a época: um dos grupos
mais radicais da Revolução Francesa, “Os Iguais”, traz a lume um panfleto
intitulado Projeto de lei que proíba às mulheres de aprenderem a ler. O
mesmíssimo Jean-Jacques Rousseau, cujo pensamento influenciou de maneira
determinante a Revolução Francesa, escreve contra a inclusão educacional e
política da mulher no Emílio (é precisamente a este livro que Wollstonecraft
responde em seu Reivindicação...).
Muitas mulheres acabam sendo guilhotinadas pelos revolucionários, como
Olympe de Gouges, autora da Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã,
texto publicado em 1791, que buscava equiparar mulheres e homens
juridicamente. Como um corolário da sua obra, de Gouges escreveu: “A mulher
nasce livre e permanece igual ao homem em direitos. As distinções sociais
somente podem estar fundadas na utilidade comum”; e segue: “As leis devem ser
a expressão da vontade geral; todas as cidadãs e cidadãos devem participar da
sua elaboração pessoalmente ou por meio de seus representantes”. É toda uma
reivindicação de direitos civis e políticos para seu sexo. Anos mais tarde quem
tomará a bandeira da mulher, como na Inglaterra fizera Mill, será um homem:
León Richier, fundador do jornal Os direitos da mulher, em 1869, e organizador
do Congresso Internacional dos Diretos da Mulher, em 1878. Em 1909 se
fundará a União Francesa para o Sufrágio Feminista, porém o direito de votar
será conquistado somente em 1945.
Nos EUA, o ano que se costuma tomar como referência do surgimento da
primeira onda de feminismo é 1848, ano em que se redige a Declaração de
Seneca Falls, o texto fundacional do sufrágio americano. Este é o resultado de
uma reunião que Elizabeth Cady Stanton, uma ativista do abolicionismo da
escravidão, convoca em uma capela metodista de Nova York, com a finalidade
de “estudar as condições e direitos sociais, civis e religiosos da mulher”, tal
como pregavam os anúncios que foram distribuídos.
Assim como Olympe de Gouges baseou sua Declaração dos Direitos da
Mulher na Declaração dos Direitos dos Homens, a Declaração de Seneca Falls
se baseia na Declaração de Independência dos EUA. A filósofa Amelia
Valcarcel explica que o documento surgiu sob “postulados jusnaturalistas e
lockeanos, acompanhados da idéia de que os seres humanos nascem livres e
iguais”.[68] Entre outras coisas, nota-se ali que “todos os homens e mulheres são
criados iguais; que estão dotados pelo criador de certos direitos inalienáveis,
entre os quais figura a vida, a liberdade e a busca da felicidade”. Há especial
ênfase na reivindicação dos direitos de participação política para a mulher e
contra as restrições de caráter econômico imperantes na época, tais como a
proibição de possuir propriedades e dedicar-se a uma atividade comercial.
Importantes políticos e pensadores americanos como Abraham Lincoln e
Ralph Emerson apóiam a causa das mulheres. Em 1866, o Partido Republicano
apresenta a décima-quarta Emenda à Constituição, na qual se concede o voto aos
escravos, porém a mulher continua excluída. Dois anos mais tarde, em 1868, os
EUA vêem nascer a Associação Nacional para o Sufrágio Feminino, e no ano
seguinte a Associação Americana para o Sufrágio Feminino. Nesse mesmo ano
de 1869 o primeiro estado americano concede o voto para as mulheres:
Wyoming. Porém, apenas em 1918, graças a um Congresso Republicano, seria
aprovada a décima-nona Emenda, que tornou possível voto feminino, setenta
anos depois da Declaração de Seneca Falls.
Vimos, da forma mais sintética que nos foi possível expor, que em seus
princípios as revoluções liberais trouxeram igualdade e liberdade; porém,
somente para os homens. A lei continuava sendo díspare, e as mulheres
permaneciam um conjunto humano pré-cívico, à margem do sistema educativo.
Contudo, o novo quadro filosófico e as novas realidades econômicas que as
revoluções liberais trouxeram a tona, começaram a transformar a moral da
época, fazendo com que a preocupação pela situação da mulher surgisse com
grande força. A primeira onda do feminismo, de caráter liberal, também
conhecida como “sufragismo”, caracterizou-se fundamentalmente pelo acento na
igualdade perante a lei, reivindicando direitos cívicos e políticos para o sexo
feminino, fato que, longe de representar um mal social, foi um grande feito em
favor da justiça.
O fim desta história é bem conhecido. Em muitos países industrializados as
mulheres conquistaram os direitos políticos antes do fim da Segunda Guerra
Mundial. No pós-Guerra, o voto feminino era universalmente reconhecido em
todos os países de regime democrático.
No entanto, o feminismo não tinha, de maneira alguma, esgotado a sua
razão de ser, mas, pelo contrário, estava chamado a reinventar-se. Não outro
senão Ludwig von Mises, um dos referenciais máximos da Escola Austríaca de
Economia, advertiu, em 1922, que o feminismo começava a se desviar, e
prenunciou por quais caminhos seguiria o seu desenvolvimento; deixou tal aviso
plasmado num parágrafo que vale a pena reproduzir, uma interessante leitura
para muitos libertários de hoje, os quais, culturalmente, mais parecem
funcionários do neo-marxismo e, por isso, deveriam ter em consideração essas
palavras: “Enquanto o movimento feminista se limite a buscar igualar os direitos
jurídicos de mulheres e homens, dar segurança quanto às possibilidades legais e
econômicas de desenvolver suas faculdades e de manifestá-las mediante atos que
correspondam a seus gostos, a seus desejos e a sua situação financeira, serão
somente um ramo do grande movimento liberal que encarna a idéia de uma
evolução livre e tranqüila. Se, ao ir além destas reivindicações, o movimento
feminista crê que deve combater instituições da vida social com a esperança de
remover, por este meio, certas limitações que a natureza impôs ao destino
humano, então já é um filho espiritual do socialismo. Porque é característica
própria do socialismo buscar nas instituições sociais as raízes das condições
dadas pela natureza, e, portanto, independentes da ação do homem, e pretender,
ao reformá-las, reformar a natureza humana mesma”.[69]
Não se equivocava Mises; e foi exatamente assim que as subseqüentes
ondas do feminismo não somente se despojaram do discurso liberal, mas,
sobretudo, postaram-se numa outra frente de batalha.
A segunda onda do feminismo
Se a primeira onda do feminismo pode ser entendida como a preocupação
pelo lugar que a mulher ocupa numa sociedade iluminada pelo quadro
conceptual do liberalismo, a segunda onda feminista manifesta a mesma
preocupação, porém, vista com as lentes da ideologia marxista e do socialismo.
Aqui devemos fazer um esclarecimento importante: muitos estudiosos do
feminismo costumam dar um salto da onda sufragista, que acabamos de ver,
diretamente para a “onda contemporânea” (chamadas por eles de “segunda
onda”) que tem seu ponto de partida em 1968, ano do “Maio Francês”.
Ignoramos a razão disto, pois, neste esquema, o feminismo de viés marxista
acaba marginalizado na história do feminismo. De tal modo que decidimos
recuperá-lo, pondo-o em lugar de destaque, e designando-o como a “segunda
onda” do feminismo, pela razão de que seu ataque à propriedade privada e ao
capitalismo são elementos que perpassarão as diversas ondas até chegar ao
feminismo de nossos tempos, constituindo a parte central do seu discurso.
As raízes mais profundas do feminismo marxista encontram-se nos
socialistas utópicos como Saint-Simon e Fournier. Com efeito, em seu projeto
utópico contrário ao capitalismo eles pensaram com afinco na emancipação da
mulher através da emancipação total da sociedade, através do “amor fraterno” e
da inclusão feminina na vida econômica-produtiva. As utopias socialistas, além
de se voltarem contra a propriedade privada, projetaram também o
desaparecimento do matrimônio como instituição social.
No entanto, o verdadeiro ponto de partida do feminismo marxista será
dado, descartando-se o método utópico, por Friedrich Engels. Depois que Karl
Marx, seu sócio intelectual, estava morto, ele aprofundou no materialismo
dialético a questão da mulher e da família, em sua obra A origem da família, a
propriedade privada e o Estado, publicada em 1884.
Ali, Engels apresenta um trabalho de base antropológica (fundamentado
principalmente nos estudos do célebre antropólogo Lewis Morgan) através do
qual vai seguindo um presumido esquema de evolução do homem e da
sociedade, desde o selvagem até a civilização, focando nas mudanças
acontecidas na instituição familiar. Seu interesse final é mostrar que a família
monogâmica é apenas um tipo de família, nascida como reflexo do advento e
desenvolvimento da propriedade privada. Anteriormente a ela, teriam existido
esquemas familiares muito diferentes dos de hoje: “o estudo da história primitiva
nos revela um estado de coisas em que os homens praticavam a poligamia e suas
mulheres a poliandria e em que, por conseguinte, os filhos de uns e outros se
consideravam comuns”.[70]
Engels, assumindo que essa afirmação era válida, para dar sentido a sua
teoria, recorre, como a forma mais antiga de ligação entre os sexos, ao chamado
“matrimônio por grupos”, no qual cada homem teria muitas mulheres e,
supostamente, cada mulher teria muitos homens. No estado selvagem, nem
mesmo o incesto encontra limites morais, e Engels cita notas de Marx a respeito:
“Nos tempos primitivos, a irmã era a esposa, e isto era moral”.[71] De tal sorte
que a primeira exclusão moral foi feita à relação sexual entre pais e filhos; a
segunda, entre irmãos. Como veremos mais tarde, o feminismo da terceira onda
e o feminismo queer outorgaram ao incesto e à pedofilia o lugar de uma das suas
reivindicações mais desprezíveis.
Porém, voltando ao texto que nos compete, subsiste um problema-chave no
sistema de parentesco sob esta estrutura familiar proposta por Engels em uma
suposta idade dourada: a descendência se estabelece exclusivamente por linha
materna, posto que nos “matrimônios por grupo” só se tem segurança do vínculo
materno. Desta forma Engels nos mostra uma comunidade primitiva e
virtualmente selvagem na qual prevalece a mulher: “a economia doméstica
comunista significa o predomínio da mulher na casa, que é o mesmo que o
reconhecimento exclusivo da própria mãe, na impossibilidade de conhecer com
certeza o verdadeiro pai; significa uma profunda estima pelas mulheres[...].
Habitualmente, as mulheres governavam a casa; os mantimentos eram comuns,
porém, desgraçado era o pobre do marido ou amante, preguiçoso demais ou
inábil em trazer seu quinhão para o fundo de mantimentos da comunidade!”.[72]
Neste aparente sistema de comunismo primitivo imperava, como vemos,
um regime matriarcal. A Engels não ocorre pensar em questões tão elementares
como a diferença física existente entre homens e mulheres, e o que isto
significou para a dominação dos primeiros sobre as segundas em épocas
passadas quando, como é conhecido, o poder estava intimamente ligado à força
física. Engels chega a defender o paraíso misândrico que descreve arguindo (e
fantasiando) que as mulheres de então estavam em melhor posição em relação às
mulheres das épocas modernas: “a senhora da civilização, rodeada de aparentes
homenagens, desconhece todo trabalho efetivo, tem uma posição social muito
inferior a da mulher bárbara, que trabalha firmemente, vê-se em seu povoado
reconhecida como uma verdadeira dama (lady, frowa, frau = senhora) e de fato o
é por sua própria posição.[73]
Como bom materialista dialético, Engels descobrirá que o desenvolvimento
das formas de instituição familiar constitui um reflexo do desenvolvimento das
condições econômicas. A acumulação de riquezas deu início, mais cedo ou mais
tarde, ao surgimento da propriedade privada. Com efeito, a divisão do trabalho
familiar colocou sobre o homem a função de procurar alimentos e ferramentas, e
assim ele foi aos poucos se apropriando destas coisas. O problema subsistente
era que, dado que a descendência se estabelecia por linha materna, os filhos
herdavam da mãe e não do pai. Assim, o homem tomava preeminência sobre a
mulher na medida em que aumentava a riqueza, e isso o permitirá começar a
modificar também a forma em que se estabelecia a linha de descendência e,
portanto, o direito de herança. Nasce aqui no discurso marxista um regime cujo
nome estrutura o discurso do feminismo contemporâneo: “Resultou daí uma
espantosa confusão, a qual somente se poderia remediar e foi em parte
remediada com a transição para o patriarcado[74]”, conclui o sócio de Marx.
O que nos diz Engels em resumo? Que é a aparição da propriedade privada
que destrói o “paraíso comunista matriarcal” e nos traz o regime de dominação
masculina. A propriedade privada, causa da exploração entre as classes, é causa
também da exploração entre os sexos. “A deposição do direito materno foi a
grande derrota histórica do sexo feminino em todo o mundo. O homem
empunhou também as rédeas na casa; a mulher se viu degradada, convertida em
servidora, em escrava da luxúria do homem, em um simples instrumento de
reprodução”[75], escrevia Engels.
Chama a atenção o paralelo linguístico que se faz com o conflito de classes.
[76]
Parece, com efeito, que se estava falando exatamente da mesma coisa, e de
fato teriam, segundo a teoria marxista, a mesma origem na existência da
propriedade privada. Mas se coincidem na origem não deveriam também
coincidir nas formas de se provocar o desfecho? Se algo faltava para determinar
um tal paralelo, Engels cunha uma frase determinante: “O homem é na família o
burguês; a mulher representa nela o proletariado”[77]. A operação hegemônica
não pode ser mais clara: luta de sexos e luta de classes têm a mesma origem e
por isso deve se unir para acabar com o sistema que reproduz a dominação das
partes subalternas claramente identificadas: trabalhadores e mulheres.
É importante ressaltar também o mito que se esconde por trás destas idéias,
que não é outro senão o do “bom selvagem”, mito banal que permitiu a Thomas
More compor a sua Utopia, a Montaigne idealizar o índio americano nos
Ensaios, a Rousseau fantasiar com seu “homem em estado de natureza”
(obviamente, cada um com suas grandes diferenças), e à esquerda de nossos
tempos delirar com seu culto ao indigenismo. O mito funciona da maneira mais
simples: constrói-se uma antropologia de ficção na qual as condições de
existência são um reflexo do nosso desejo de um mundo perfeito, em seguida
busca-se um bode expiatório que tenha provocado a “queda”, e se apresentam os
meios através dos quais é factível voltar atrás, embora seguindo-se supostamente
adiante (daí que, paradoxalmente, digam-se “progressistas”). Esses meios não
costumam ser outros senão as revoluções sangrentas – como se faz explícito na
proposta de Montaigne, ou do próprio Engels – cujos sofrimentos são curados
pela construção, ou melhor, a devolução do paraíso à Terra. De modo que nos
encontramos diante de um mito messiânico, diante de uma secularização do
movimento milenarista sob o qual estiveram alguns cristãos dos primeiros
tempos, cuja convicção indicava que Cristo traria o seu reino à Terra durante mil
anos. Assim, mediante uma transformação repentina, a Terra se faz Paraíso;
retorna-se ao estado anterior a queda, no caso dos milenaristas, por obra e graça
de Deus; no caso dos esquerdistas, por obra e graça da abolição da propriedade
privada. Vale notar, portanto, o caráter de religião política que encerra o
marxismo.
Quais são então as consequências estratégicas e práticas que derivam deste
feminismo marxista em comparação com o feminismo liberal explicado
anteriormente? O feminismo liberal entendia que era possível resolver os
problemas que ele mesmo apresentava introduzindo-se reformas eleitorais e
educativas[78] (foi de fato o que John Stuart Mill tentou fazer pessoalmente), mas
para o marxista a questão só pode ser solucionada por meio de uma revolução
violenta que acabe com a propriedade privada e com a família como instituição
social, pois é nestas coisas que se encontra o germe do mal: “A liberação da
mulher exige, como condição primeira, a reincorporação de todo o sexo
feminino à indústria social, o que por sua vez requer que se suprima a família
individual como unidade econômica da sociedade”[79], conclui Engels[80].
Isto é o que será tentado, precisamente, na União Soviética após o triunfo
revolucionário do bolchevismo, como logo veremos com mais profundidade.
Leon Trotsky, pai do Exército Vermelho[81], já declarava nos Escritos sobre a
questão feminina, em clara sintonia com Engels, que “mudar a fundo a situação
da mulher não será possível enquanto não forem mudadas todas as condições de
vida social e doméstica”. O que significa “mudar a fundo”? Trata-se de um
eufemismo para dizer de outra forma o que Marx apontou claramente em suas
Teses sobre Feuerbach (tese 4): “Se a origem da família celestial não é mais que
a pré-figuração da mesma família terrena humana, é esta que deve ser destruída”.
O certo é que a estratégia de hegemonizar as demandas femininas por parte
dos movimentos do proletariado, estabelecida pelo próprio Engels, foi posta em
prática antes mesmo da revolução. Em Minhas lembranças de Lênin, a marxista
alemã Clara Zetkin conta que “o camarada Lênin falou comigo repetidas vezes
sobre a questão feminina. Efetivamente, atribuía ao movimento feminino uma
grande importância, como parte essencial do movimento de massas, do qual, em
determinadas condições, pode ser uma parte decisiva”. O panfleto Às
trabalhadoras de Kiev, lançado dois anos antes da revolução de outubro pelos
bolcheviques, vincula o problema da mulher ao problema operário: “Na fábrica,
na oficina, ela trabalha para um empresário capitalista, em casa trabalha para a
família. Milhares de mulheres vendem sua força de trabalho ao capital; milhares
de escravos alugam seu trabalho; milhares e centenas de milhares sofrem o jugo
da família e a opressão social (...) Camaradas trabalhadoras! Os companheiros
trabalham duro junto a nós. Seu destino e o nosso destino é o mesmo”. Poderia
ser mais clara a estratégia hegemônica?
Aleksandra Mijaylovna Kollontay foi uma das feministas soviéticas mais
reconhecidas. Um de seus escritos mais famosos é O comunismo e a família,
publicado em 1921, no qual retoma o mito engelsiano do paraíso matriarcal
original que acaba dizimado pelo aparecimento da propriedade privada e que,
com o desenvolvimento do capitalismo, as mulheres passam a ser duplamente
oprimidas: como trabalhadoras fora do lar e como donas de casa dentro dele. “O
capitalismo impôs sobre os ombros da mulher trabalhadora um peso esmagador;
ela foi convertida em operária, sem aliviá-la dos seus cuidados de dona de casa e
mãe”.[82]
Kollontay entende que o dever do comunismo não consiste em devolver a
mulher ao seu lar, mas em despojá-las das obrigações domésticas. Neste sentido,
a feminista soviética prediz: “Na sociedade comunista de amanhã, estes
trabalhos [domésticos] serão realizados por uma categoria especial de mulher
trabalhadora dedicada unicamente a estas ocupações”[83]. Um sistema de
planejamento central é, obviamente, a forma para se implementar este esquema;
isto é, uma sociedade na qual não é a ordem espontânea gerada pelo mercado,
mas a ordem deliberada imposta por uma autoridade totalizadora que regerá a
vida das pessoas até nos minúsculos detalhes.
É interessante analisar as promessas que Kollontay faz em seu escrito a
respeito do que a sociedade comunista pode brindar às mulheres. Vejamos
algumas delas: “Em uma sociedade comunista a mulher não terá que passar suas
escassas horas de descanso na cozinha, porque na sociedade comunista existirão
restaurantes públicos”;[84] “A mulher trabalhadora não terá que se afogar em um
oceano de sujeira tampouco arrebentar a sua vista remendando e cosendo a roupa
durante as noites. Não precisará fazer mais nada além de levá-la todas as
semanas até a lavanderia central para buscá-la depois lavada e passada”[85]. “A
Pátria comunista alimentará, criará e educará a criança”;[86] etcetera.
O curioso do caso é que muitas das profecias de Kollontay se cumpriram,
não sob o comunismo mas sob o tão odiado capitalismo. Foi com o triunfo deste
sobre aquele, no final do século XX, com a revolução tecnológica que aconteceu
e o barateamento dos eletrodomésticos que a mulher se emancipou de um sem-
número de tarefas: hoje ela pode lavar e secar a sua roupa sem nem molhar as
mãos; pode cozinhar diversos pratos apenas adicionando água a alimentos
industrializados; e em seguida pode lavar a louça suja em uma máquina de lavar
automática somente apertando alguns botões; pode limpar o carpete da sua casa
com um aspirador elétrico e remover as manchas mais difíceis da superfície
simplesmente aplicando um pouco do produto adequado. E o melhor de tudo é
que todas essas tarefas deixaram, com o transcorrer do capitalismo, de ser
automaticamente atribuídas às mulheres, pois também os homens começaram a
se encarregar das tarefas domésticas. Com efeito, é cada vez menos estranho ver
um homem cozinhar para a sua família, ou limpar o banheiro do seu lar, o que é
por si um importante avanço moral que se pode obter, entre outras razões, graças
ao avanço tecnológico que afrouxou a rigidez da divisão do trabalho no interior
da família e que, ao mesmo tempo, permitiu à mulher aceder a vários postos de
trabalho que antes estavam reservados para o físico masculino. Do mesmo
modo, a competição do mercado fez os produtos domésticos baratearem
rapidamente e se massificarem, deixando de ser privilégio das classes mais
abastadas. Voltaremos a isto mais adiante.
Mas há algo sobre o qual eu gostaria agora de me deter para demonstrar
que o de Kollontay em particular, e o do comunismo em geral, não é um projeto
inocente que busque apenas aliviar o fardo que se impõe sobre as mulheres. O
que se busca é muito mais que isso: é a geração de uma ordem planejada
centralmente que, pondo o Estado no centro da vida social, totalize todas as
relações sociais absorvendo-as e controlando-as ao seu desejo. De modo que sob
o comunismo seja previsto de forma clara a destruição da instituição familiar,
que será fagocitada pela intervenção estatal. Kollontay o diz com total clareza:
“o Estado dos trabalhadores acudirá em auxílio a família, substituindo-a;
gradualmente, a sociedade irá se encarregar de todas as obrigações que antes
recaíam sobre os pais”[87]. Curiosa concepção de “auxílio”, que longe de garantir
a sobrevivência conduz a destruição daquilo que se pretende ajudar.
Em última instância, portanto, o que a sociedade comunista exige é a
coletivização de tudo o que o homem possa ter, inclusive seus próprios filhos.
Por isso o projeto totalizante não pode negligenciar aquilo que permite a
sobrevivência de qualquer tipo de totalitarismo: a doutrinação massiva,
especialmente das novas gerações. É assim que Kollontay determina: “O novo
homem, da nossa nova sociedade, será moldados pelas organizações socialistas,
jardins de infância, creches, etc., e muitas outras instituições deste tipo nas quais
a criança passará a maior parte do seu dia e nas quais as educadoras inteligentes
a converterão em um comunista consciente da magnitude deste inviolável lema:
solidariedade, camaradagem, ajuda mútua e devoção a vida coletiva”.[88]
Em resumo, a realização do feminismo marxista é a destruição da família e
a sua substituição pelo Estado totalitário e pelo partido.
O feminismo do socialismo real
Antes de abordar a terceira onda do feminismo, queremos dedicar uma
parte deste capítulo à implementação das idéias feministas engendradas pelo
marxismo, e postas em prática com a experiência da União Soviética a partir de
1917. Com efeito, se a propriedade privada foi a origem do patriarcado, a
progressiva abolição do regime econômico de propriedades deveria ter
produzido a tão anunciada “libertação da mulher”, como de fato a propaganda
soviética quis que o mundo livre acreditasse estar realmente acontecendo.
Com o tempo, viríamos a saber que tal libertação não foi senão mais uma
mentira entre tantas outras que o comunismo nos contara. E quem melhor expôs
essa mentira foram um pai e um filho soviéticos, médicos especializados em
sexologia, ex-membros do Partido Comunista, que levaram adiante um amplo
trabalho sociológico-sexológico que lhes valeu vários anos no campo de
concentração, trabalhos forçados e posterior exílio. Nos referimos aos doutores
Mikhail e August Stern.
O que ocorreu na URSS pode dividir-se em duas etapas: uma de abertura e
niilismo, que ganha força na década de 1920, pouco depois do triunfo da
Revolução; e uma outra etapa de puritanismo e reação, na qual, mediante todos
os meios existentes e por existir, tentou-se reverter os efeitos sociais nocivos
vistos após o período de relaxamento moral.
A etapa de abertura foi, entre outras coisas, o resultado de fazer do amor
algo puramente “fisiológico”. Em uma palavra, buscou-se tirar do amor qualquer
traço espiritual e moral. Kollontai, por exemplo, em um ensaio intitulado Um
lugar para o Eros alado instigava a realização dos atos sexuais “como um ato
similar a qualquer outro, a fim de satisfazer necessidades biológicas que só são
um estorvo, e que temos que suprimir tendo em vista o essencial: que tais atos
não interfiram na atividade revolucionária”.[89] A protagonista do romance O
amor de três gerações, de Kollontai, esboçava: “Ao meu juízo, a atividade
sexual é uma simples necessidade física. Mudo de amante conforme meu humor.
Neste momento, estou grávida, porém não sei quem é o pai de meu futuro filho,
mas isto dá na mesma”.
Existe um “decreto” da época, da cidade de Vladmir (houve outro similar
em Saratov), que propunha uma “socialização das mulheres”, e que ilustra bem o
tipo de mentalidade que o socialismo gerou: “A partir dos dezoito anos de idade,
fica declarado que toda mulher é propriedade estatal. Toda mulher que alcance a
idade de dezoito anos e que não seja casada está obrigada, sob pena de denúncias
e castigos severos, a inscrever-se em um centro de ‘amor livre’. Uma vez
inscrita, a mulher tem direito de escolher um marido entre dezenove e cinqüenta
anos. Os homens também têm direito de escolher uma mulher que tenha chegado
à idade de dezoito anos, supondo que tenham provas que confirmem sua
condição de proletário. Para aqueles que quiserem, a escolha do marido ou da
esposa pode dar-se uma vez ao mês. Por interesse do Estado, os homens entre
dezenove e cinqüenta anos têm direito a escolher mulheres inscritas no centro,
sem que precisem do assentimento destas. Os filhos que sejam fruto desse tipo
de convivência tornar-se-ão propriedade da república”.[90]
Estes delírios de “comunismo sexual” incluíam marchas de nudez, ligas de
amor livre, projetos de instalação de cabines públicas reservadas para o ato
sexual, entre outras idéias cujo pano de fundo era o mais sórdido materialismo,
que reduzia a experiência do amor a uma necessidade fisiológica e por isso,
como tal, o Estado deveria atender e planejar.
Tanto era assim que o célebre periódico soviético Pravda publicou em sua
edição de 7 de maio de 1925 um artigo que, entre outras coisas, dizia: “Os
estudantes desconfiam das jovens comunistas que se negam a ter relações
sexuais com eles. Consideram-nas pequeno-burguesas atrasadas que não
souberam libertar-se dos preconceitos da antiga sociedade. Existe uma opinião
segundo a qual não somente a abstinência, mas também a maternidade provêm
de uma mentalidade burguesa”. A “mulher livre” soviética não era, pois, outra
coisa que o canal através do qual o homem satisfazia suas necessidades
materiais. E quando a mulher não se prestava a tal degradação, sua rejeição era
vista, e não podia ser de outra maneira, em termos de “luta de classes”. Em uma
carta publicada na mesma edição do Pravda, uma mulher soviética escrevia:
“Outro comunista, marido de minha amiga, propôs que eu dormisse com ele uma
só noite, somente porque sua mulher estava indisposta, e por isso não podia
satisfazê-lo no momento. Quando me neguei, tratou-me como burguesa estúpida,
incapaz de elevar-me à altura da mentalidade comunista”.
Toda a vida sexual estava reduzida aos ditames do materialismo dialético e,
por outro lado, completamente ideologizada. O sexo, algo tão íntimo e pessoal,
se coletivizava e passava a depender das leituras classistas que se constituíram
como uma espécie de religião oficial. Um folheto da época, editado pelo
Instituto Comunista Yákov Svérdlov em 1924, intitulado A revolução e a
juventude, baseado no trabalho teórico dos pedagogos soviéticos Macárenco y
Zálkind, dizia coisas como as que seguem: “A única vida sexual tolerável é
aquela que leva a plenitude dos sentimentos coletivistas. [...] A escolha sexual
deve obedecer a critérios de classe, deve ajustar-se aos objetivos revolucionários
e proletários [...]. A classe tem direito de intervir na vida sexual de seus
membros. [...] Sentir atração sexual por um ser que pertença a uma classe
diferente, hostil e moralmente alheia, é uma perversão de índole similar à
atração sexual que se pode sentir por um crocodilo ou um orangotango”. Algo
similar pensava Lenin, que em uma carta a sua amiga platônica Inessa Armand
declarava: “No que tange ao amor, todo o problema reside na lógica objetiva das
relações de classe”.
O classismo e o racismo são primos-irmãos. Ambos guardam a mesma
lógica de criar, em um plano abstrato, coletivos de pessoas em função de
determinados caracteres; pretendem o confronto incondicional e, posteriormente,
um ódio visceral. O citado folheto dos pedagogos soviéticos dá conta disto
quando sentencia que o Partido tem “o direito total e incondicional [...] de
intervir na vida sexual da população com o objetivo de melhorar a raça
praticando uma seleção sexual artificial”. Preobrajenski, importante dirigente do
Partido, dizia algo similar quando afirmava que o sexo é um “problema social,
ainda que o tomemos meramente do ponto de vista da saúde física da raça [...].
[O sexo deve estar orientado a uma] melhor combinação das qualidades físicas
das pessoas que se relacionarão”.[91] Cabe recordar que o tirano Stalin acabou
proibindo o casamento de russos com estrangeiros.
Freqüentemente a esquerda, ainda nostálgica do genocídio do século
passado, por mais que lhe pese e trate de ocultá-lo, reivindica a experiência
soviética destacando os “grandes avanços” para a mulher que teria sido
incorporada ao mundo produtivo e social. Porém, estes admiradores disfarçados
do regime soviético não notam o fato de que seus primos-irmãos, os nacional-
socialistas, fizeram o mesmo; algo que se fosse usado como argumento para
reivindicar o nazismo geraria as mais ásperas críticas e indignações, o que
jamais vemos se produzir quando o mesmo argumento é usado para exaltação do
comunismo. Com efeito, é notório que as políticas centralizadas de obras
públicas e econômicas do nazismo, com Hjalmar Schacht como ministro da
economia e presidente do Reichsbank, deram à mulher um relevante papel
laboral no setor da indústria de serviços, em atividades de tipo agrícola e na
burocracia estatal: “até 1940, as mulheres eram mais de 3,5 milhões no setor
industrial e de serviços, e mais de 5,6 milhões na silvicultura e na produção
agrícola de alta qualidade (aquela que requer qualificação técnica avançada), e
tão somente 1,5 milhões no setor de baixa remuneração como o serviço
doméstico”.[92] Do mesmo modo, a alegada participação política das mulheres
soviéticas é muitas vezes exaltada (diremos mais sobre isso no final desta parte),
e com isto se poderia concluir que o comunismo é algo muito parecido com o
regime nacional-socialista, embora, novamente, isso seria motivo de escândalo:
“A NSF Nationalsozialistische Frauenschaft agrupava 800 mil mulheres no
começo, chagando a 3,5 milhões de mulheres em pouco tempo. Havia um grande
número de empregadas domésticas, assim como mulheres da alta sociedade, nas
filas da NS, e o objetivo era aproximar a mulher do Welfare State idealizado por
Hjalmar Schacht e sua equipe técnica”.[93] Por fim, podemos falar sobre a
atenção que muitas “políticas sociais” soviéticas tiveram com as mulheres, o
que, outra vez, poderia equiparar-se ao experimento nazista, responsável por
subsidiar a maternidade e o desemprego feminino, conceder empréstimos
especiais para as mulheres, além de haver fundado o Instituto Lebensborn, onde
se provia albergues para mulheres em situação de rua, etc. Não deveria ser
necessário esclarecer que estes exemplos não desculpam o genocídio nacional-
socialista, ainda que pareça cada vez mais necessário esclarecer o outro
exemplo: tais benefícios tampouco desculpam o genocídio comunista, causa de
homicídios em massa em quantidades muito maiores do que as do mesmíssimo
hitlerismo, ainda que seja pecado dizer isso.[94]
Bem, voltemos à URSS: a legislação e os esforços do Estado soviético em
matéria sexual durante o período leninista, especialmente durante a década de
20, resumem-se à destruição da família. Como vimos, estas intenções já estavam
impressas no primeiro mestre, Karl Marx, e em seu sócio Freidrich Engels. Mas
por que o comunismo empenha-se em conseguir tal coisa? Por uma razão: a
instituição familiar representa uma salvaguarda do indivíduo e de suas relações
mais próximas diante da intromissão do Estado. Trata-se, pois, de um espaço
com amplos graus de autonomia perante a esfera política. Vale recordar a esse
respeito que a dicotomia da esfera doméstica/esfera pública já estruturava o
pensamento social e político dos filósofos da Antigüidade (o pensamento
platônico e seu comunismo rudimentar explicitava a intenção de abolir a
instituição familiar em favor da organização totalitária da polis). Com efeito, a
família educa os filhos, reproduz tradições, mantém crenças e valores à margem
do dirigismo dos mandatários da vez. A família é, em uma palavra, o núcleo da
sociedade civil, e a sociedade civil constitui a dimensão que será absorvida pela
política nos regimes totalitários, que invadirão todos os aspectos da vida. De tal
modo que é natural ao Partido Comunista o interesse em anular estes espaços
onde sua intromissão não está assegurada e que, contrariamente, podem chegar
até a bloqueá-la. Já dizia Lunacharski, ministro da Educação e Cultura em 1918,
que “este pequeno centro educativo que é a família, esta pequena fábrica [...]
toda essa maldição [...] chegue a ser um passado caduco”.[95] A Internacional
Comunista reclamava o “reconhecimento da maternidade como função social.
Os cuidados e a educação das crianças e dos adolescentes serão por conta da
sociedade”,[96] o que equivale a dizer por conta do Partido.
Bem, no período stalinista foi preciso dar um giro de cento e oitenta graus
criando o conhecido mito da “família soviética” – quando propagou-se uma
imagem distorcida da realidade familiar do regime, apresentando-a imbuída de
valores morais superiores aos da família ocidental – por razões claras: a Rússia
perdera uma parcela considerável de sua população por conta da Primeira Guerra
Mundial, da guerra civil, da fome de 1921, da fome de 1928-1932, dos variados
expurgos, e das matanças em massa perpetradas pelo próprio Estado. A isto
devemos somar as perdas da Segunda Guerra Mundial e das fomes subseqüentes.
Para piorar, a política de “sexualidade livre”, que além de minar a instituição
familiar havia legalizado o aborto em 1920, produziu um impressionante
decréscimo na taxa de natalidade: em 1913 ela era de 45,5%, ao passo que em
1950 havia baixado para 26,7%.[97]
O caso das conseqüências sociais advindas da legalização do aborto na
URSS é digno de ser sublinhado. Com efeito, este converteu-se em “o primeiro
de todos os meios contraceptivos”,[98] segundo os dados recolhidos pelo doutor
Stern. Os números documentados são determinantes: de 1922 a 1926
quadruplicou-se o número de abortos na URSS, e em 1934 “registra-se em
Moscou um nascimento para cada três abortos; e na zona rural, no mesmo ano,
três abortos para cada dois nascimentos”.[99] Em 1963, em Moscou, Leningrado e
outras cidades centrais, 80% das mulheres grávidas submetiam-se a abortos, o
que demonstra que foi utilizado como método contraceptivo.[100] Os doutores
relataram que “ao cabo de um certo número de abortos, [às mulheres] bastam-
lhes beber um copo de vodca, tomar um banho muito quente e dar saltinhos até
expulsar o feto. Tive que cuidar de uma mulher que havia sofrido vinte e dois
abortos. Nestas mulheres, os reiterados abortos debilitam os músculos do útero
de tal forma que correm o risco de perder o feto somente com o caminhar”.[101]
A verdade é que a propaganda comunista sobre a virtude da família russa,
criada pelo stalinismo, nunca deixou de ser isso: pura propaganda. A instituição
da família foi destruída, o “chefe da família” nada mais era do que uma
caricatura do homem soviético, e a esposa, que se pretendia uma valente heroína
socialista na história do regime, não passava de uma mulher indefesa que tinha
de tolerar os agravos e espancamentos de seu marido. Uma edição da revista
soviética A revista literária, de 1977, reunia artigos de mulheres comentando sua
relação conjugal: “A própria idéia de ‘homem em casa’ perdeu seu significado
mais elevado. O homem em casa é uma criança caprichosa que nunca é feliz, ou
ele é um ‘leão que ruge’, que maltrata sua esposa por minúcias”.[102] Um
levantamento realizado em 1970 mostra que 74% das famílias estudadas haviam
se acostumado com as querelas e os conflitos sistemáticos.[103]
É possível lembrar que de acordo com os postulados teóricos do feminismo
baseado no marxismo todos os problemas das mulheres reduziam-se a uma
variável claramente identificada: a existência da propriedade privada. Uma vez
anulada, caberia esperar a “libertação da mulher”, promessa sistematicamente
alardeada pela União Soviética. Mas é difícil encontrar a dita libertação entre os
dados que mencionamos até agora. O mito do bom selvagem mostrou-se como
de fato é: uma falácia.
Enfim, para acrescentar algo, caso algo ainda falte, é necessário dizer que
os casos de estupro e violência contra as mulheres também foram constantes
durante o extenso período comunista. Os médicos de Stern documentaram
muitos deles, o que acabou lhes custando, como dissemos, vários anos de campo
de concentração. Um desses casos, que chama a atenção pela brutalidade, é o
seguinte: “A mãe do meu paciente era camponesa de Bachkiria. Durante os anos
de fome, chegaram à aldeia de Ufa para conseguir pão. Na plataforma da
estação, um guarda armado aproximou-se dela e levou-a consigo. Pouco
experiente no amor, a camponesa esperava receber um pedaço de pão em troca
de seu corpo. Mas quando chegaram à casa do guarda, ele ordenou que ela
tirasse suas roupas e entregou-a ao seu cão. Tanto foi a fome da camponesa que
ela não se opôs, assumindo que ela iria comer mais tarde. Quando o cachorro
soltou todo o espermatozóide, o guarda jogou-a na rua sem dinheiro e nem
comida.”[104]
Os médicos Stern contam que o estupro de mulheres também era uma
prática comum na própria família. É, segundo a leitura de seus dados, uma
conseqüência esperada do culto à força que o regime disseminou nas relações
sociais: “Conheci uma paciente que não queria se divorciar por causa dos filhos,
mas que tampouco queria continuar a manter relações sexuais com o marido. O
homem a estuprou regularmente, sem medo de conflitos legais, porque não havia
um tribunal que levasse o caso a sério.”[105]
Foi célebre o escândalo do famoso cineasta soviético Roman Karmen, que
foi condecorado como Artista do Povo da URSS (a mais alta distinção concedida
no mundo do entretenimento), acusado de entrar em seu carro com garotas de
treze e quatorze anos e depois estuprá-las. Mas, como ocorria com os donos do
poder e os seus amigos, o caso Karmen permaneceu em total impunidade: lá
estava o Estado para esconder a roupa suja.
Além das violações individuais, as violações coletivas também foram
frequentes, como pode ser visto nas crônicas da época. O Diário do Professor,
de 26 de junho de 1926, relatou, por exemplo, um estupro sofrido por uma
estudante nas mãos de um grupo de colegas de classe. Outro caso em que um
grupo de sete homens estuprou duas mulheres, conhecido como “hábito de
Chubarov” (nome de uma rua de Leningrado), foi coberto pelo Pravda em 17 de
dezembro de 1926. Os doutores Stern acrescentam vários outros casos em seu
livro, que assustam pelo nível de violência. Poderíamos continuar citando as
notícias da época, mas isso já é suficiente para determinar que a tal “libertação
das mulheres”, que supostamente se seguiu à implantação do socialismo, não
passava de uma mentira grosseira.
Além de tudo isso, as surras contra as mulheres também eram algo corrente
na Rússia comunista. A eliminação do capitalismo e as “condições materiais da
existência” não eliminaram a dominação violenta do homem sobre a mulher,
como os marxistas esperavam com suas teorias ilusórias de uma suposta idade de
ouro do matriarcado. De fato, os espancamentos na URSS estavam diretamente
ligados ao sexo entre marido e mulher, e daquela época vem o triste ditado russo
que diz: “o único que não espanca sua esposa é aquele que não a ama”. Inclusive
chegou-se a utilizar uma expressão para descrever a relação sexual que se
originava de uma surra: trajnut. Novamente, os doutores Stern nos permitem
ilustrar tudo isso com um fato concreto: “Em Moscou, um torneiro chamado
Merzliskov espancava regularmente sua esposa Nedejda. Espancar é pouco,
batia metodicamente primeiro com socos e chutes e depois usava uma chave de
fenda ou um martelo. Quando a mulher desmaiava, o marido a submergia num
banho de água fria e recomeçava. A mulher morreu durante uma dessas
sessões.”[106]
Nesta rápida revisão da vida das mulheres sob o socialismo real, não
podemos deixar de abordar o problema da prostituição. De fato, o feminismo
socialista sempre buscou fazer da “profissão mais antiga da história” uma
conseqüência do — qual a novidade — regime econômico baseado na
propriedade privada. Lembre-se de que Marx e Engels já disseram no Manifesto
Comunista que “com o desaparecimento do capital também a prostituição
desaparecerá”. Kollontay afirmou que “esta vergonha [a prostituição] é devida
ao sistema econômico ora em vigor, a existência de propriedade privada. Uma
vez que a propriedade privada tenha desaparecido, o comércio da mulher
desaparecerá automaticamente”.[107]
Foram as promessas comunistas cumpridas? Por si só, não. As prostitutas
soviéticas continuaram a existir, e seus serviços, como na atual Cuba, eram
especialmente orientados para a satisfação de estrangeiros. A repressão do
regime, que perseguiu as atividades meretrícias enviando as prostitutas para os
campos de concentração, não impediu a exploração do negócio sexual. As
prostitutas continuavam a se esconder: costumavam oferecer seus serviços a
bordo de táxis ou em ferrovias. Deste modo, as promessas marxistas foram
enterradas por uma ironia da história: as prostitutas de Moscou eram conhecidas
como “as marxistas”, não por recitarem de memória os postulados do
materialismo dialético, mas por esperar por seus clientes sexuais em frente ao
monumento a Karl Marx.[108]
A verdade é que os teóricos marxistas acreditavam que a derrubada do
“poder econômico” e a destruição do sistema de propriedade privada removeria
a razão para as mulheres se prostituírem. Mas o reducionismo econômico
marxista negligenciou, além da natureza complexa da ação humana, outra forma
de poder: o poder político. E assim, no socialismo real, a prostituição era um dos
muitos privilégios da classe política soviética. Na época, era sabido por muitas
mulheres que, se quisessem ter certos privilégios ou certas posições na
burocracia estatal, deveriam antes oferecer seus serviços sexuais àqueles que
manejavam os fios do poder.[109]
Os doutores Stern testemunharam sobre as formas de prostituição soviética:
“Às vezes, a fellatio alternava-se com jogos de cartas: há prostitutas de treze,
catorze anos, quase meninas, atuando sob a mesa, enquanto quatro homens
jogam os duraki; o perdedor paga por todos”.[110] E também contam que as
prostitutas nem sempre determinavam os seus pagamentos em dinheiro: “Há
mulheres que usam seu corpo como pagamento quando pegam um táxi ou
compram algo no açougue [...]. Há muitas alcoólatras que se prostituem
precisamente para obter mais vodca”.[111] Este, e nenhum outro, era o paraíso
feminino prometido pelo marxismo.
Finalmente, há ainda um mito a ser derrubado. É aquele que diz que sob o
comunismo as mulheres adquiriram o pleno gozo dos direitos políticos. A
primeira coisa a ser dita sobre isso é que naquele sistema de partido único os
direitos políticos eram, para todos, homens e mulheres comuns, uma fantasia
impossível de ser alcançada, devido à própria natureza do regime. Alegar a
existência de “liberdade política” sob as condições de uma ditadura totalitária é
uma contradição em seus termos. E se não é, caberia perguntar-se sobre o lugar
político de homens e mulheres não-comunistas: os campos de concentração.
Mas, por outro lado, e mesmo aceitando a suposta extensão dos direitos
políticos para as mulheres sob o comunismo soviético, seria interessante
perguntar, então, sobre o envolvimento efetivo delas no poder real, nas decisões
políticas e na estrutura hierárquica da URSS. É aqui que terminamos de verificar
que a participação política feminina no socialismo real foi completamente
virtual.
Façamos uma breve revisão da estrutura do poder soviético. O Soviete da
União ou o Soviete dos Deputados do Povo era uma das duas câmaras do
Soviete Supremo da União Soviética. Ao longo da história desse corpo
legislativo, uma mulher jamais pôde presidi-lo.[112] Tampouco se viu qualquer
mulher presidir uma outra câmara de representação territorial, chamada Soviete
das Nacionalidades.[113] E, é claro, nenhuma mulher jamais ocupou o cargo de
Chefe de Estado da URSS,[114] nem o de vice-chefe de Estado. Também não
havia nenhuma mulher presidindo o Conselho dos Comissários do Povo, a mais
alta autoridade governamental do Poder Executivo Soviético[115].
Diante desses dados, pode-se argumentar que, na época, embora os direitos
políticos das mulheres estivessem se tornando efetivos no mundo, as mulheres
ainda não ascendiam a espaços de poder. No entanto, tal argumento ignoraria o
fato de que enquanto na URSS a estrutura política era virtualmente inteiramente
dominada por homens, em 1979, na Inglaterra, Margaret Thatcher foi eleita
Primeira-Ministra, e ocuparia o cargo até 1990, enfrentando precisamente o
comunismo, e, de alguma maneira, derrotando-o.
Permita-nos fechar esta seção com uma última reflexão. Mencionamos que
a política sexual do comunismo soviético tinha dois estágios distintos: o leninista
e o stalinista. O movimento de recuo que Stalin teve de dar foi precisamente por
causa da desintegração social que o niilismo provocara e que oportunamente
descrevemos. Essa volta atrás foi, portanto, um redirecionamento pragmático.
Mas a experiência da “libertação sexual” e a desintegração dos laços familiares
que impulsionaram o leninismo deixou para o regime soviético algo de
fundamental importância: o conhecimento sobre as conseqüências e o modo de
implementação dessa “arma cultural” para ser usada contra os inimigos do
comunismo.
Na verdade, existem casos notáveis de ex-agentes da KGB que
confessaram ser uma parte fundamental da estratégia da URSS contra o Ocidente
a promoção da corrupção cultural. Caso notável é o de Yuri Bezmenov, aliás
Thomas Schuman, que em 1983 declarou publicamente: “Apenas 15% do
dinheiro, do tempo e da mão-de-obra [da KGB] é dedicado à espionagem como
tal. Os outros 85% servem a um processo lento que melhor chamamos
‘Subversão Ideológica’, ou ‘Medidas Ativas’, ou ‘Guerra Psicológica’, o que
basicamente significa: mudar a percepção da realidade de cada um dos
americanos. Basta um pouco desse esforço para que, apesar da abundância de
informações, ninguém seja capaz de chegar a conclusões sensatas, pensar no
interesse de defender a si mesmo, a sua família, a sua comunidade ou o seu
país”. Bezmenov acrescenta que é “um grande processo de lavagem cerebral”,
que consiste de uma série de etapas, iniciando com o que a KGB chamava de “A
desmoralização”, que leva de 15 a 20 anos, “porque este é o número mínimo de
anos necessários para educar uma geração de estudantes no país inimigo
expostos à ideologia subversiva [...] a ideologia marxista-leninista está sendo
bombardeada nas jovens mentes de pelo menos três gerações de estudantes
americanos [...] O resultado? O resultado que você pode ver. Muitos dos que se
formaram nos anos 60, estudantes fracassados ou sub-intelectuais, agora estão
ocupando posições de poder no governo, na administração pública, nos
negócios, na mídia, no sistema educacional [...] estão contaminados, eles são
programados para pensar e reagir a certos estímulos [...] não podem mudar suas
mentes, mesmo se você provar-lhes que o branco é branco e preto é preto. O
processo de desmoralização nos Estados Unidos já foi basicamente concluído
[...] a desmoralização atingiu áreas onde previamente nem mesmo o camarada
Andropov e todos os seus especialistas haviam sonhado, houve um sucesso tão
tremendo que a maior parte da desmoralização é feita por americanos mesmo, e
isso graças a falta de padrões morais”.[116] Após a desmoralização, abre-se o
caminho para a etapa da “desestabilização”, onde já começam as mudanças nas
instituições políticas e econômicas em favor da ideologia marxista-leninista, fim
primordial da etapa de desestabilização.
À luz de informações como essas, é interessante notar que depois da virada
copernicana feita pelo stalinismo, não vimos surgir nenhuma outra teoria
importante para o feminismo advinda dessas fontes. Pelo contrário, a terceira
onda, iniciada nos anos 60 — período coincidentemente destacado por
Bezmenov — será engendrada por teóricos ocidentais, residentes em países
capitalistas, principalmente nos Estados Unidos e na França, enquanto na URSS
as revistas feministas eram fechadas e os ativistas eram deportados.[117]
A terceira onda do feminismo
Como foi dito anteriormente, não há acordo unânime sobre o que deve ser
considerado pertencente à primeira, segunda ou terceira onda do feminismo.
Comecemos por destacar esta advertência: alguns autores consideram que o
feminismo surgido nos anos 60 do século XX é na verdade uma segunda onda de
feminismo, enquanto outros, como nós, consideram que é uma terceira onda
feminista, sendo o sufragismo a segunda onda. Seja como for, preferimos seguir
uma abordagem diferente e considerar o feminismo ilustrado, liberal e sufragista
como uma primeira onda; o feminismo marxista como a segunda onda; e o
“feminismo culturalista”, “radical” e/ou “neomarxista” como a terceira onda,
responsável pela germinação da chamada “ideologia de gênero”.
Esclarecido isso, o feminismo que passsamos a descrever sucintamente tem
a peculiaridade de não se mover no terreno de reformas políticas formais, como
as liberais, ou no campo quase exclusivo da economia como o marxista, mas em
um campo muito mais vasto e, portanto, mais complexo: o da cultura.
A filósofa espanhola Amelia Valcárcel entende que o surgimento da
terceira onda feminista foi precedido pelo que ela chama de “interregno”, que é
definido pelos escritos da americana Betty Friedan e seu livro A mística da
feminidade publicado em 1963, um trabalho chave para o feminismo dos anos
70. Nele, Friedan, em resumo, entende que as vitórias feministas no campo dos
direitos civis e políticos não alcaçaram a libertação feminina. O que seguiria
“oprimindo” as mulheres, então? Ela responde: os aspectos culturais do “papel
feminino”, isto é, as regras informais associadas às mulheres, entre elas, a de ser
esposa e mãe, por exemplo.
Friedan não considera que as netas das sufragistas feministas continuaram a
luta de suas avós em planos renovados da vida; ao contrário, aponta que elas
simplesmente se acomodaram ao papel de esposa e mães de filhos. Isso se
deveu, segundo Friedan, a uma superestrutura cultural que havia desenvolvido
uma “mística da feminilidade” opressora. Nas palavras da autora: “Segundo a
mística da feminilidade, as mulheres não têm outra maneira de criar e sonhar o
futuro. Elas não podem considerarem-se a si mesmas sob qualquer aspecto que
não seja o de mãe de seus filhos ou de esposa de seu marido”[118].
Com toda honestidade, não podemos dizer que o livro de Friedan é
profundamente comprometido com idéias esquerdistas. Daí que digamos,
seguindo Valcárcel, que é um “interregno”, um prólogo para o que será a terceira
onda feminista. De fato, o poderoso em Friedan é sua crítica culturalista, que
excede em muito o que é estritamente político, legal e econômico, e que vai para
as profundezas do lar, alcançando até mesmo dimensões estéticas que serão tão
típicas da terceira onda. Já a ativista e escritora americana Mary Inman, em seu
livro Em defesa da mulher (1940), um dos quais precisamente inspiram Friedan,
concluiu que “a feminilidade elaborada” e a “ênfase excessiva na beleza”
mantêm as mulheres como vassalas.[119] Essas são as sementes do culto da
fealdade e do mau-gosto que caracterizam nossas feministas radicais de hoje.
No entanto, os fatos que são geralmente identificados como originadores da
terceira onda feminista são, como não poderia ser de outra forma, aqueles do
maio de 1968 francês. E o livro que está localizado como o fundamento dessa
onda é O Segundo sexo, da escritora existencialista Simone de Beauvoir,
publicado em 1949, quatro anos após o voto feminino na França se tornar
realidade.
A ideologia de Beauvoir é bem conhecida: ela era uma marxista convicta.
Seu livro A Longa marcha, por exemplo, é uma defesa da Revolução Cultural
Chinesa, campanha liderada pelo genocida Mao Tse Tung com o objetivo de
impedir que a China abandonasse o comunismo ortodoxo e que consistiu em
assassinatos em massa, tortura de todos os tipos, campos de concentração,
destruição cultural, fome e perseguições. Na cidade de Shantou pode-se visitar
hoje um museu que lembra muito de todos esses horrores que Simone de
Beauvoir celebrou. Com efeito, a ideologia de gênero tem sua origem e
desenvolvimento dentro da ultra-esquerda, como veremos ao longo deste
subcapítulo; não se trata de um fenômeno ideológico separado de qualquer
corrente moderada ou centrista, apesar de a correção política de nossos tempos
ter adotado a maioria de seus postulados.
Ao escrever seu livro O Segundo sexo, Beauvoir está advertindo que as
concepções ortodoxas do marxismo, aquelas repassadas em seção anterior, não
têm sucesso em sua aplicação real encarnada na União Soviética com promessas
de libertação das mulheres. O ideal maternal do stalinismo não iria entregar as
idéias de uma detratora da maternidade como De Beauvoir.[120] O problema
econômico é certamente determinante ao ponto de ser condição necessária; mas
claramente não é suficiente aos olhos da nossa escritora. E é aí que ela dá um
grande passo, colocando a necessidade de uma profunda mudança cultural em
primeiro plano: nos costumes, nas crenças, na moral. Seus esforços para explicar
o conflito através de uma mistura entre marxismo e psicanálise encontra
antecedentes nada menos do que nas propostas teóricas da Escola de Frankfurt,
instituição intelectual tão importante e até decisiva na construção teórica do que
chamamos de “neomarxismo” ou “marxismo cultural”.
No entanto, é necessário não se enganar. De Beauvoir aparenta ter críticas
apenas contra a sociedade ocidental e capitalista. Ao longo das mil páginas de
seu trabalho, dificilmente se pode ler críticas à opressão das mulheres no bloco
comunista. Pelo contrário, lemos passagens apologéticas como a seguinte: “É na
URSS onde o movimento feminista adquire a máxima amplitude”.[121] E chega
até mesmo prever, sem sucesso, é claro, que sob o regime comunista a libertação
das mulheres estava assegurada: “O futuro não pode deixar de conduzir a uma
assimilação cada vez mais profunda das mulheres dentro de uma sociedade
outrora masculina”.[122] Até mente ou ignora flagrantemente quando anota que
“exceto na URSS, em todos as partes é permitido às mulheres modernas
considerarem o seu corpo como um capital para explorá-lo”.[123] De fato,
pretende fazer crer o leitor que o comunismo, condizente com a promessa de
Engels, terminou com a prostituição, quando, a rigor, isso nunca aconteceu,
como já vimos anteriormente. A pergunta que surge imediatamente é: De
Beauvoir foi maliciosa ou foi, simples e tristemente, o que Lênin chamou de
“idiota útil”?
Seja o que for, vamos direto ao conteúdo de O Segundo sexo, a obra mais
importante do feminismo do século XX. A tese central é que “mulher” é um
conceito socialmente construído, ou seja, carente de essência, artificial, sempre
definido pelo seu opressor: o homem. A famosa frase que resume a proposta
teórica de De Beauvoir é: “Ninguém nasce mulher: torna-se”. A tarefa das
mulheres como gênero que busca se libertar é, nesse sentido, romper com o
conceito cultural das mulheres e recuperar uma suposta “identidade perdida”.
O primeiro princípio do existencialismo, uma corrente filosófica a qual De
Beauvoir pertence e que possui como célebre referência o seu parceiro, Jean-
Paul Sartre, é a afirmação de que a existência precede a essência do ser-humano.
Isto significa, em poucas palavras, que o ser humano nada mais é do que o que
ele faz de si mesmo. Não existe nada como uma “natureza humana”; tudo o que
diz respeito ao ser humano é o resultado dos processos históricos que envolvem
a evolução das sociedades.
Este não é o momento para fazermos uma crítica extensiva desta visão
filosófica. Mas consideremos agora o perigo de abolir em nossa consciência
qualquer determinação natural no ser humano: teríamos como resultado a
imagem de uma pessoa humana suspensa no nada, alienada de toda realidade
externa, incapaz de orientar seus padrões culturais de acordo com o que, por
razões obviamente naturais, resulta auspicioso para sua manutenção e
crescimento. Uma sociedade poderia moralizar como guia cultural a ingestão de
gasolina, por exemplo, mas as pessoas que se conformam a esse comportamento
não poderiam evitar as conseqüências mortais de tal prática. Da mesma forma,
outra sociedade poderia legislar sobre a abolição da maternidade, como pareceria
agradável a mais de uma feminista, embora essa sociedade não pudesse escapar
do destino que, devido à natureza finita do ser humano, a aguarda: a extinção
total.
Escusado será dizer que isso não significa que a história e a cultura não
moldem um número incontável de caracteres do ser humano. De maneira alguma
pretenderíamos negar tamanha verdade. O homem é cultura, mas também é
natureza. Ou melhor dito, o homem é a natureza, mas também é cultura: nessa
ordem. Tão verdadeiro quanto isso é também o fato de que sua cultura triunfa
quando não vai contra sua natureza. Pode ser concebido o desenvolvimento de
uma sociedade humana, por exemplo, que estabeleça o ritual cultural de castrar
todos os varões recém-nascidos? E o que dizer de uma sociedade cujos membros
determinam, como no experimento social de Alan Sokal,[124] que a lei da
gravidade é também uma “construção discursiva” e, além disso, decidem que
podem se atirar do arranha-céu mais alto sem esperar conseqüências desastrosas?
Voltando ao cerne do nosso assunto, para explicar a gênese da opressão, De
Beauvoir vai oferecer uma explicação histórica e antropológica da mulher, que
retroage às primeiras e remotas formas de comunidade do seres humanos: os
grupos nômades que precederam a agricultura, possivelmente localizado
cronologicamente na Idade do Bronze. A raiz da opressão feminina, segundo sua
tese, seria encontrada no fato de as mulheres primitivas não poderem participar
de atividades presumivelmente valorizadas pelo grupo: fundamentalmente, a
caça e a guerra. É o perigo conatural dessas atividades que lhes dá toda a sua
importância social. Sob uma visão que anula os dados naturais, a exclusão
feminina deve ser procurada, através de um movimento circular, novamente na
cultura, e assim sucessivamente até o infinito. Mas a verdade é que a natureza
explica muito claramente o fato de as mulheres terem sido protegidas pelo grupo
dos perigos da guerra e da caça: as condições naturais de reprodução e
maternidade, por um lado, e as características físicas dos seus corpos por outro,
estruturaram a divisão elementar de tarefas de nossos ancestrais mais distantes. E
isso parece ter sido necessário para a conservação e reprodução da espécie.
Surpreendentemente, De Beauvoir reconhece esse fato, que, por si só, seria
suficiente para derrubar sua tese fundamental de que nas mulheres nada mais há
do que a cultura. “A gravidez, o parto e a menstruação diminuíram sua
capacidade de trabalho e as condenaram a longos períodos de impotência; para
defender-se contra os inimigos, assegurar seu sustento e o de sua prole,
precisavam da proteção dos guerreiros e dos produtos da caça e da pesca, aos
quais se dedicavam os homens”,[125] anota a escritora. Mas se ela aceita que a
força física e a reprodução explicam a exclusão primitiva das mulheres das
tarefas que seriam relevantes, a lógica mais elementar anuncia que a natureza
teve um papel na formação cultural e não pode ser, portanto, descuidada em uma
análise sobre a mulher e sua condição. Se foi o corpo feminino que, de acordo
com suas condições e funções biológicas, fez da mulher uma mulher, então não
parece assim tão convincente — e, inclusive, parece até contraditória — a
famosa frase “ninguém nasce mulher: torna-se”.
As contradições da esposa de Sartre em muitas passagens são
impressionantes. O prestígio do homem é derivado, nos diz ela, de que as
atividades que lhes são próprias encontraram sua transcendência no perigo: “para
aumentar o prestígio da horda, o clã a que pertence, o guerreiro põe em jogo sua
própria existência. [...] A pior maldição sobre as mulheres é encontrarem-se
excluídas destas expedições guerreiras: não dando a vida, mas arriscando-a, que
o homem se eleva acima do animal”.[126] Aqui a autora esquece os perigos
inerentes da maternidade, acentuada em tempos passados, em que o parto, com
elevadíssima freqüência, era a causa da morte. De fato, se o risco oferecido ao
grupo é o que dá sentido ao prestígio do homem, não há elevados riscos também
na atividade mais especificamente feminina de todas: o parto? O problema,
talvez, é que Simone de Beauvoir não considera que nada biologicamente
próprio da mulher possa ser considerado atividade de um projeto vital. Parece
haver misoginia por trás de seus argumentos quando decreta que “engendrar,
amamentar, não constituem atividades, são funções naturais; nenhum projeto os
afeta; por isso a mulher não encontra nessas atividades a razão de uma afirmação
altiva de sua existência; sofre passivamente seu destino biológico.”[127] É
impressionante que quem que nunca concebeu ou amamentou faça semelhante
afirmação. De onde é que a escritora francesa tira que o fato de trazer uma nova
vida ao mundo e se esforçar por sua proteção e desenvolvimento não afeta em
nada qualquer projeto? Nada fica claro. Parece que sua própria biografia
influencia seus argumentos: ela nunca quis ter filhos e, em vez disso, escolheu
matá-los em seu ventre.[128] É paradoxal que, para De Beauvoir, dar vida não seja
um “projeto”, enquanto matar o é. E ainda mais: o autoritarismo de Beauvoir
nesta matéria ficou claro em um diálogo de 1975, quando ela argumentou que
“não deve ser permitido a nenhuma mulher ficar em casa para criar seus filhos.
A sociedade teria que ser completamente diferente. As mulheres não devem ter
essa escolha, precisamente porque se existe tal escolha, muitas mulheres irão
toma-la”.[129] Deveriam, então, as mulheres fazer suas próprias escolhas, ou
seguir as ordens de De Beauvoir?
Seja como for, a parte mais importante do trabalho de Simone de Beauvoir
é ter pincelado os primeiros esboços significativos da ideologia de gênero. A
distinção entre sexo e gênero aparece, portanto, muito clara em seu trabalho: o
sexo, como fato natural, não tem nenhuma relevância; gênero é tudo. Homem e
mulher nos são apresentados como corpos cuja especificidade natural não guarda
a menor importância em relação ao que eles mesmos podem ser; eles são como
uma página em branco, uma tabula rasa, pronta para ser escrita pelo peso
supostamente autônomo da cultura. Com efeito: “Ninguém nasce mulher: torna-
se”. Em outras palavras, não importa o que o corpo naturalmente traz; importa
exclusivamente como o indivíduo é socializado. E, como é evidente, tudo isso
implica importantes mudanças estratégicas. A estratégia que o feminismo deve
elaborar agora tem um caráter cultural predominante: a liberação não só tem que
ser concretizada com a incorporação das mulheres no mundo econômico do
trabalho e da produtividade, como os marxistas ortodoxos pensavam seguindo
Engels, mas também, e tão importante quanto, com a destruição da
superestrutura — moral, religiosa, ideológica, legal, familiar — em vigor. A
conclusão que De Beauvoir oferece de toda a sua obra vai nessa direção: “Não
devemos acreditar que basta modificar sua situação econômica para que a
mulher se transforme; esse fator foi e continua a ser o principal fator em sua
evolução, mas desde que não tenha as conseqüências morais, sociais, culturais
etc. que anuncia e exige, a nova mulher não poderá aparecer”.[130] Quando o
feminismo assume uma estratégia cultural e se choca com o marxismo em sua
cruzada contra a sociedade capitalista, o resultado é uma das diversas mãos que
sustentam o que temos aqui chamado de “neomarxismo” ou “marxismo
cultural”.
Simone de Beauvoir será seguida na década de 70 por uma corrente de
feministas radicais que levará os argumentos e pretensões um passo adiante.
Uma delas será a americana Kate Millet, que vai enfatizar o conceito de
“gênero” para rejeitar os dados da biologia, e defenderá “o caráter cultural do
gênero, definido como a estrutura da personalidade de acordo com a categoria
sexual”.[131] Outra feminista especialmente controversa é a canadense Shulamith
Firestone, que declarará que “as feministas têm que questionar, não apenas toda
a cultura ocidental, mas também a organização da própria cultura, e até mesmo a
própria organização da natureza”.[132] (O leitor lembra o que Ludwig von Mises
havia avisado já na década de 1920?).
Para o feminismo radical que nasce nos anos 70, o problema da opressão
das mulheres está em toda parte; as esferas pública e privada são escrutinadas de
igual maneira, já que a cultura é o objetivo chave. Millet imortaliza em sua obra
Política Sexual (1969) uma frase que se encarnará como slogan de grupos
feministas de ontem e de hoje: “O pessoal é político”.[133] A noção de
“patriarcado” encontra significado especial neste contexto, como regime político
de sexo masculino que vai muito além das dimensões públicas. A família é então
considerada como a principal instituição social que reproduz a “estrutura
patriarcal”, e toda a munição feminista é usada principalmente contra ela e o
casamento: “A principal instituição do patriarcado é a família”,[134] observa
Millet. O objetivo marxista da abolição da família e da propriedade privada é
mantido; o que muda é o sujeito da revolução e a análise das contradições.
É interessante mencionar um pouco mais sobre as idéias da já citada
Firestone, porque elas ilustram muito bem o pensamento feminista radical-
socialista da terceira onda. Sua obra A Dialética do Sexo (1970) causou furor em
seu tempo. Misturando o marxismo e o freudismo, Firestone, desde o início,
supera o reducionismo economicista que impediu Engels de enxergar um pouco
mais longe: “Há um nível de realidade que não provém diretamente da
economia”,[135] sentencia ela. Esse nível vem da cultura, que é onde Firestone
tentará penetrar.
Firestone entende que a raiz do problema da mulher está em sua função
reprodutiva e traça um paralelo com os problemas produtivos do proletariado, a
ponto de nomear as mulheres como “classe sexual”. Assim como o proletário —
de acordo com as teorias marxistas — faz sua revolução expropriando os meios
privados de produção, as mulheres devem realizar sua própria revolução
colocando a reprodução sob seu controle. E assim como Engels entendeu que a
partir de uma revolução socialista se derivava a libertação das mulheres,
Firestone entende o oposto: a partir de uma revolução feminista, pode se esperar
a abolição das classes.[136]
Deste modo, Firestone proporá um tipo de programa mínimo para a
revolução feminista, composto por quatro pontos que, resumidamente, são os
seguintes: 1) Abolir a função reprodutiva das mulheres de acordo com as
tecnologias de reprodução artificial e a legalização do aborto; 2) Conseguir a
absoluta independência econômica de mulheres e crianças, o que significa
abandonar a economia capitalista e adotar um sistema socialista (“É por isso que
devemos falar sobre o feminismo socialista”,[137] afirma Firestone); 3) Incluir
mulheres e crianças em todos os aspectos da sociedade, destruindo tudo o que
protege a individualidade e destruindo as “distinções culturais entre
homens/mulheres e adultos/crianças”;[138] 4) Alcançar “a liberdade de todas as
mulheres e crianças para fazer o que quiserem sexualmente”.[139]
O propósito expresso de tudo isso é a destruição da família, já que isso seria
“a fonte da repressão psicológica, econômica e política”.[140] A terceira onda do
feminismo, como vemos, torna as relações entre os casais uma área de luta e
ódio permanentes. Se se pode considerar que a revolução da URSS foi uma
“revolução falida” foi precisamente por ter revolucionado apenas no que
concerne à esfera econômica e não ter implementado completamente e
sustentado esta revolução no campo das relações interpessoais e familiares.[141]
Firestone está preocupada primordialmente, além da questão feminina, com a
questão das crianças. E ela entende que o socialismo não pode ser construído se
não for possível cortar os laços de uma geração com a anterior, de modo que o
Estado possa formá-la até a raiz.[142] “Legalmente, as crianças permanecem sob a
jurisdição dos pais que podem fazer com eles o que eles quiserem”,[143] reclama
Firestone curiosamente. Sob qual jurisdição, então, eles deveriam estar? Bem, é
claro, sob o Estado socialista.
O processo de destruição da família não pode acontecer a qualquer
momento, mas envolve mudanças graduais, que incluem até pedofilia. Firestone
os descreve da seguinte maneira: “No início, no período de transição, as relações
sexuais provavelmente seriam monogâmicas, mesmo que o casal decidisse viver
com os outros. [...] No entanto, depois de muitas gerações de vida não-familiar,
nossas estruturas psicossexuais podem ser tão radicalmente alteradas que o casal
monogâmico se tornaria obsoleto. Podemos apenas imaginar o que poderia
substituí-lo: talvez casamentos por grupos, grupos conjugais transexuais que
também envolvam crianças mais velhas? Nós não sabemos”.[144]
O projeto de Firestone é alcançar uma sociedade socialista onde a família é
substituída pela household, uma espécie de casa composta de pessoas que não
têm uma ligação de sangue. Aqui, depois de “algumas gerações”, será possível
que “as relações entre pessoas de idades muito diferentes se tornem comuns”.[145]
Assim, “o conceito de infância foi abolido, as crianças têm plenos direitos legais,
sexual e econômico, suas atividades educacionais/laborais não diferem da dos
adultos. Durante os poucos anos da infância, substituiríamos a “paternidade”
psicologicamente destrutiva de um ou dois adultos arbitrários, distribuindo a
responsabilidade do cuidado físico por um grande número de pessoas. A criança
ainda pode formar relacionamentos amorosos íntimos, mas, em vez de
desenvolver um relacionamento próximo com uma ‘mãe’ e ‘pai’ decretados, a
criança pode agora formar laços com pessoas de sua própria escolha, de qualquer
idade ou sexo. Portanto, todas as relações entre adultos e crianças serão
escolhidas mutuamente”.[146] E logo depois sentencia: “Se a criança pode
escolher se relacionar sexualmente com adultos, inclusive se ela deve escolher a
sua própria mãe genética, não haveria nenhuma razão a priori para que ela
rejeitasse os avanços sexuais, porque o tabu do incesto teria perdido sua função.
[...] As relações com crianças incluem tanto sexo genital tal como a criança é
capaz de receber — e, provavelmente, é muito maior do que agora cremos —
porque o sexo genital já não seria o foco central da relação, porque a falta de
orgasmo não apresentaria um problema sério. O tabu das relações adulto/criança
e homossexual desapareceria”.[147] Mas as relações pedófilas tem dois limites,
diz-nos a boa Firestone, pretendendo moderar-se: o limite do consentimento da
criança por um lado e, por outro, o limite biológico. De modo que, se um homem
adulto quer ter relações sexuais com uma menina ou um menino de quatro anos,
por exemplo, deve somente assegurar-se que as dimensões de seu ânus ou vagina
são penetráveis. O truque que Firestone usa para legitimar a pedofilia é muito
claro: pôr par a par a capacidade de discernimento e de escolha de uma criança
com a de um adulto, como se ambos dispusessem de igual poder físico,
manipulação psicológica e maturidade emocional.
Como fica claro, Firestone atribui grande significado à legitimidade da
pedofilia como parte da revolução socialista. Mas a sua não é uma opinião
isolada dentro do feminismo dos anos 70: também a mencionada Millet escreveu
que as crianças devem “se expressar sexualmente, provavelmente de início
apenas entre elas, mas, posteriormente, também com os adultos”.[148] Além disso,
a própria de Beauvoir, quatro meses antes do surgimento da Frente de Libertação
dos Pedófilos, em França, assinava uma solicitação no jornal Le Monde (26 de
janeiro 1977) em favor da libertação de três pedófilos que estavam
comparecendo diante do tribunal por manter relações sexuais com crianças e
produzir pornografia infantil — “Três anos de prisão por algumas carícias e
beijos, é o suficiente!”, minimizava o assunto. E para a questão da pedofilia, as
teóricas feministas assomam também a reivindicação do incesto. Firestone, por
exemplo, recomenda que, para que as crianças não cresçam “sexualmente
reprimidas”, são os pais que devem inicia-las em sua vida sexual. De fato, ela
recomenda que a primeira felação da criança seja praticada por sua própria mãe.
Mas existe uma maneira mais determinante de romper todos os laços familiares
do que promover relações sexuais entre adultos e crianças, e entre pais e filhos?
Ela sabe, a partir de Freud, da importância que tem para a cultura a repressão do
erotismo que a criança presumivelmente sentiria por sua mãe; e provavelmente
também sabe, a partir de Claude Lévi-Strauss, do papel que a proibição do
incesto desempenha na cultura de toda sociedade humana. Com efeito, não há
maneira mais eficaz de destruir a cultura e a família do que tornar condutas
aceitáveis comportamentos como a pedofilia e o incesto; da década de 1970 em
diante, então, o feminismo radical trará, às vezes mais explicitamente, outras
vezes mais implicitamente, essas afirmações horripilantes dentro de seu
programa.
Já entrando na década de 1980, outra americana, Zillah Eisenstein,
desenvolverá com mais precisão essa síntese entre o feminismo radical e o
marxismo. O objetivo do feminismo seria, em uma palavra, estourar tanto o
“regime patriarcal” quanto o sistema capitalista, uma vez que haveria uma
relação de coexistência e dependência mútua entre eles. A destruição do
primeiro é assegurada pela destruição da família e do casamento; a destruição do
segundo vem por meio de uma gradual abolição da propriedade privada. Ambas
as coisas devem ocorrer em uníssono. O que Eisenstein oferece é principalmente
um refinamento da teoria de Firestone na tentativa de determinar, mais
especificamente, a relação entre o suposto “patriarcado” e o capitalismo, o que
lançaria luz sobre a necessidade de que o feminismo seja socialista, e o
socialismo seja feminista.[149] Igualmente, tenta superar as propostas teóricas de
Millet, em especial o argumento de que “devemos fazer perguntas feministas,
mas tentando chegar a respostas marxistas”; para Eisenstein, isso implicaria
numa dicotomia entre marxismo e feminismo que deve ser apagada em favor de
uma síntese harmoniosa entre as duas ideologias.
Assim, seu principal argumento é que a instituição familiar funciona para a
manutenção do capitalismo, e explica nos seguintes termos: “A família sob o
capitalismo reforça a opressão das mulheres. A família apóia o capitalismo,
proporcionando uma maneira de manter a calma, o que é uma parte muito
importante do capitalismo. A família apóia economicamente o capitalismo,
fornecendo uma força de trabalho produtiva e o suprimento de um mercado
consumidor de massa. A família também desempenha um papel ideológico ao
cultivar a crença na liberdade, no individualismo e na igualdade básica da
estrutura de crenças da sociedade.”[150] Por essas razões, os inimigos do
capitalismo e da sociedade aberta deveriam se concentrar em destruir a família:
destruir a ordem e a calma que ela proporciona; destruir a força de trabalho que
ela gera para o mercado; interromper a socialização que ela atinge em valores
como liberdade e respeito pelo valor dos indivíduos. Em uma sociedade
socialista, o que, na ordem capitalista, é gerado pela família e pelo mercado por
ordem espontânea, torna-se uma responsabilidade do Estado: socialização em
certos valores escolhidos pela direção política; a direção da atividade econômica
(consumo e produção) e a manutenção da ordem tornam-se funções do Estado e,
portanto, totalitárias. O resultado nunca pode ser libertação, mas, pelo contrário,
a opressão inescrutável e a exploração, de cuja realidade deram conta as
experiências comunistas do século XX, seus genocídios, fomes e campos de
concentração. Mais tarde veremos como o capitalismo, ao contrário do que
dizem estas teóricas que servem menos às mulheres do que ao socialismo,[151]
gerou as condições econômicas, tecnológicas e sociais profundamente
libertadoras (no sentido saudável do termo) para a mulher.
É importante enfatizar que, além de melhorar a conjunção de feminismo e
marxismo tentada por Firestone e Millet, não menos importante é o fato de que
Eisenstein vai mais além na relativização do dado natural em favor da teoria de
gênero.[152] Ao contrário de Firestone, que encontrava no dado biológico da
reprodução a raiz da opressão da mulher, Eisenstein concluirá, aproximando-se
um pouco mais de De Beauvoir, ainda que com um marxismo mais explícito,
que “a classe sexual não é oprimida biologicamente, mas é culturalmente
oprimida”.[153] E acrescentará como um alvo do feminismo o modo de relação
sexual que as feministas, desde então até hoje, mais desprezam e que com maior
afinco procuram destruir: a heterossexualidade. “O agente da opressão é a
definição cultural e política da sexualidade humana como ‘heterossexual’. A
instituição da família e do casamento e os sistemas de proteção legal e cultural
que reforçam a heterossexualidade são as bases da opressão política das
mulheres”,[154] sentencia Eisenstein. A verdade é que não fica claro o porquê a
heterossexualidade é opressiva para as mulheres; o que deve ser deduzido, em
todo caso, é que sendo a heterossexualidade a base e a gênese da unidade
familiar, ela deve ser destruída como forma indireta de destruir a esta última, e
como modo indireto, por sua vez, de derrubar um dos pilares da ordem
capitalista.
Essa é a razão pela qual tanto lesbianismo abunda nos movimentos
feministas, derivado em muitos casos de um forte componente ideológico. O
homem tornou-se alvo de desprezo absoluto, e o simples ato de conceber um
relacionamento amoroso com ele é equivalente a “dormir com o inimigo”.
Impossível, nesse sentido, não mencionar a teórica feminista Andrea Dworkin
(Universidade de Minnesota), também pertencente ao feminismo dos anos 70,
cujas teses mais eloqüentes afirmam que toda a relação heterossexual é um
estupro contra as mulheres e que o casamento é uma “licença legal para o
estupro”;[155] ou a feminista australiana Sheila Jeffreys (Universidade de
Melbourne), para quem a relação heterossexual é o fundamento que sustenta o
“sistema patriarcal”.[156] Ou como esquecer francesa Monique Wittig — que
aprofundaremos no próximo capítulo —, que entendia que ser lésbica “é a
rejeição do poder econômico, ideológico e político de um homem”[157] porque “o
lesbianismo oferece, no momento, a única forma social na qual podemos viver
livremente”![158]
Vimos até aqui como a terceira onda do feminismo mantém seus laços com
o socialismo, como ocorria já na segunda, embora favorecendo uma estratégia de
batalha cultural em vez do antigo economicismo que supunha que a modificação
das relações de produção traria conseqüências lineares na modificação das
formas de vida. Agora é a modificação das formas de vida que implica em
modificações estruturais dos sistemas políticos e econômicos (marxismo
cultural). E nós vimos também o modo o qual a idéia de gênero como algo
independente do dado natural é exacerbada como uma estratégia para destruir as
instituições sociais que seriam funcionais ao capitalismo: a família monogâmica,
a proibição do incesto e da pedofilia, a heterossexualidade, etc.
A partir daqui, surge a ponte entre essa terceira onda feminista,
desconstrutiva e culturalista, e que nos anos 90 passou a ser conhecida como
“teoria queer”, à qual dedicaremos a seção seguinte.
***
Antes de continuar com nossa análise da ideologia queer, permita-nos ter
um breve espaço para fazer essa digressão: o que a esquerda começa a fazer com
o feminismo a partir da segunda onda, e depois se reforça com a terceira onda, é
gerar uma ideologia segundo a qual homens e mulheres constituem sujeitos
irreconciliáveis, cujos interesses objetivos e subjetivos não podem ser
harmonizados senão através de uma luta política, muitas vezes até violenta. Não
há melhor maneira de demonstrar o caráter falacioso dessa ideologia do que
recorrendo ao seu oposto. De fato, pode-se demonstrar que é possível chegar às
mesmas conclusões pondo no lugar da opressão das mulheres uma suposta
opressão do homem. Poderíamos concluir que estamos diante de algo não muito
mais profundo do que um panfleto maniqueísta do bem contra o mal facilmente
invertível.
Para nossa surpresa, este trabalho foi realizado, não por um homem, mas
por uma mulher argentino-alemã, uma médica, psicóloga e socióloga de
formação, que em seu ódio contra as mulheres escreveu um livro em que queria
mostrar ao mundo que, na verdade, o homem foi “explorado”. A reminiscência
do pensamento marxista foi tão evidente em seu trabalho que o jornal alemão
Kölner Stadtanzeiger qualificou-a de “o Karl Marx dos homens”. Referimo-nos
a Esther Vilar e seu livro El Varón Domado, publicado em 1973.
Em uma palavra, Vilar nos diz que o mundo pertence às mulheres, uma vez
que elas exercem uma dominação sobre o homem cujo efeito mais importante é
o fato de ele ter trabalhado para ela ao longo de toda a história. Vilar acredita
que o homem é vítima das mulheres e não o contrário. E assim é que “as
mulheres são constantemente enriquecidas por um sistema primitivo mas eficaz
de exploração direta: casamento, divórcio, herança, pensão de viúva,
aposentadoria por velhice e seguro de vida”.[159] Sua teoria é tão maniqueísta
quanto a feminista quando nos diz que “a menina é educada para exploradora e o
menino para ser objeto de exploração”.[160] Parece incrivelmente similar a todas
as teorias que estamos revendo, embora invertendo a posição dos atores.
Mas a exploração do homem seria sustentada, por acaso, por uma
superestrutura cultural que, do berço, o programaria para sustentar a vida da
mulher que trabalhava para ela. (Essa história toda ainda é familiar?) Assim,
Vilar nos dá como exemplo até os jogos infantis: “O menino é aplaudido por
tudo que faz, a não ser que brinque com homens em miniatura. Constrói modelos
de escolas, de pontes, de canais, desmonta carros de brinquedo por curiosidade,
dispara armas de brinquedo e se exercita em tudo o que precisará mais tarde para
manter a mulher”.[161] Lamentamos insistir, mas o paralelismo com as feministas
que rangem os dentes contra as formas “sexistas” dos jogos infantis é óbvio
demais. “O pessoal é político”, para parafrasear Millet, também poderia ser o
slogan de uma cruzada misógina.
Também é interessante notar que esta socióloga usa as mesmas armas que
as feministas para mostrar o oposto, e usa um léxico que é muito similar. Em seu
trabalho pode-se ler frases como: “a mulher não atribui ao homem mais valor do
que sua função alimentícia”;[162] para a mulher “o homem é um tipo de máquina
que produz valores materiais”;[163] a propriedade privada é “útil apenas para
mulheres”,[164] entre outras de calibre semelhante. Como a história feminista, a
história misógina de Vilar visa “desconstruir” esquemas culturais e,
conseqüentemente, atribui grande importância à questão de conceitos e palavras,
como o caso da “honra viril”, do “sexo belo”. “Dar a vida pela mulher”, entre
outras, seriam criações femininas para subjugar o homem e mantê-lo sob seu
jugo.
O mais surpreendente é que, invertendo o lugar dos opressores e dos
oprimidos, Vilar acaba nos dando as mesmas conclusões que o feminismo
radical: que a instituição familiar é opressiva; que a propriedade privada é a base
da dominação de um dos sexos; que o casamento é um desvalor; que ter filhos é
supérfluo e só aumenta a opressão; que o homem é, em uma palavra,
irreconciliável e incompatível com as mulheres.
Chegar à mesma conclusão a partir de uma hipótese exatamente inversa nos
fala do caráter imaginativo de todos esses panfletos, feministas e misóginos,
igualmente.
A ideologia queer
Não poderíamos começar esta seção sem primeiro responder a uma
pergunta que surge da própria legenda: o que chamamos de queer? A palavra
queer é de origem inglesa; apareceu no século XVII, em seguida, emergiu como
um insulto para se referir àqueles que corrompiam a ordem social: o bêbado, o
mentiroso, o ladrão. Mas logo a palavra também começou a ser usada para se
referir àqueles que não se encaixavam bem na caracterização de mulheres ou
homens. Como a filósofa queer Beatriz Preciado diz, “eram queer os invertidos,
o bicha e a lésbica, o travesti, o fetichista, o sadomasoquista e os zoófilos”.[165]
Mas o que no início era um insulto, desde meados dos anos 80 do século
XX foi reapropriado politicamente pelos mesmos que se pretendia ofender.
Grupos homossexuais como Act Up, Radical Furies ou Lesbian Avangers,
começaram a usar a palavra queer como autodenominação, e logo o rótulo
causou furor dentro de tais grupos. O insulto tomava com "orgulho" o insulto e o
aplicava, desafiadoramente, a si mesmo, neutralizando e logo invertendo a sua
carga valorativa.
Diz-se que queer faz parte de um movimento "pós-identidade", isto é, de
um movimento que coloca em questão todos os tipos de identidade. Assim, o
queer seria inclassificável nas categorias de "homem", "mulher", "gay",
"lésbica". Pelo contrário: o queer rejeita abertamente a existência de algo como
um homem, uma mulher, um gay ou uma lésbica. Desse ponto, Preciado citou
afirmações de que "ser gay não é o suficiente para ser queer: é necessário
apresentar a sua própria revisão de identidade".[166]
No entanto, o queer não é apenas um movimento político; tornou-se
também uma corrente teórica que entrou com força total na vida acadêmica,
tomando universidades e centros de estudo ao redor do mundo. Nos Estados
Unidos, a primeira universidade que contribuiu para o desenvolvimento dessa
teoria foi a Universidade de Columbia, seguida pelo Centro de Estudos Lésbicos
e Gays da Universidade da Cidade de Nova York. Hoje esta instituição possui o
Centro de Estudantes Lésbicas, Gays, Transgêneros e Queer. Também
encontramos neste país revistas acadêmicas que promoveram o tema, como The
Journal of Sex Research, The Journal of Homosexuality, The Journal of the
History of Sexuality, A Journal of Lesbian and Gay Studies. (Lembra-se o leitor
das confissões do ex-agente da KGB, Yuri Bezmenov, sobre a importância de
invadir o mundo acadêmico do Ocidente como forma de desmoralizar e alienar
gerações inteiras?) No Canadá também é muito forte a presença do queer nas
universidades; a Universidade de Toronto, por exemplo, tem um programa
chamado “Orientação Queer”, dependente do “Escritório de Diversidade Sexual
e de Gênero”. Neste país, podemos encontrar revistas como o Journal of Queer
Studies in Education. Na Europa, entretanto, o pioneira nesses estudos foi a
Universidade de Utrecht, localizada na Holanda, com seu Departamento de
Estudos Interdisciplinar de Gays e Lésbicas, que também edita o Forum
Homosexualität und Literatur. Na América Latina, a Universidade Nacional
Autônoma do México tem o Programa Universitário de Estudos de Gênero, onde
a atenção foi dada ao assunto. E na Argentina, podemos encontrar outras
instituições da vida acadêmica, como o Grupo de Estudos de Sexualidade da
Universidade de Buenos Aires, ou o Centro de Estudos Queer da Universidade
Nacional de Río Cuarto (Córdoba). Há uma expressão em inglês que os
movimentos queer adotaram para se referir a tudo isso: queering the academy,
que seria algo como “desestabilizar” ou “subverter” a academia.
Se bem que normalmente assinale-se a filósofa lésbica Judith Butler como a
referência intelectual por excelência da ideologia queer, no pensamento da
filósofa feminista (também uma lésbica) Monique Wittig encontramos sólidos
antecedentes que nos obrigam a mencioná-la, mesmo que brevemente. De fato,
sua produção intelectual, temporalmente localizada nos anos 80, começa a
questionar a existência do sexo e gera uma ponte muito sólida entre feminismo e
movimentos que, sem incluir as mulheres, têm seu eixo na questão de gênero.
Uma de suas idéias fundamentais é que a “opressão das mulheres” e a “opressão
da homossexualidade” são efeitos da mesma causa: um regime político de
“heterossexualidade compulsória”. Assim, em seu ensaio A Categoria do Sexo
nos dirá que “a categoria sexo é o produto da sociedade heterossexual que impõe
às mulheres a obrigação absoluta de reproduzir ‘a espécie’, ou seja, reproduzir a
sociedade heterossexual.”[167] Falácia curiosa da escritora francesa: nenhuma
sociedade ocidental legislou qualquer obrigação reprodutiva ao sexo feminino e
não pode sequer afirmar seriamente que existe uma norma cultural “absoluta”
sobre ela; a própria Wittig, que nunca foi mãe pode dar conta com o seu próprio
exemplo de vida e suas decisões pessoais que nenhuma obrigação reprodutiva
existe em nossas sociedades, que não poderiam ser encontrados em sistemas
comunistas (afins à ideologia de Wittig)[168] como o maoísmo chinês, que
regulamentou questões relacionadas à reprodução sexual, mas não parece
perturbar a francesa em questão. Em todo caso, é a biologia que dita as
condições sob as quais a humanidade enquanto tal pode ser reproduzida, e daí
deriva a categoria de sexo que Wittig falsamente impõe à política.
Mas o que nos interessa sobre Wittig são, acima de tudo, suas idéias sobre
como subverter a ordem estabelecida; e aqui nós rastreamos o queer de seu
pensamento. Em resumo, sua proposta é destruir o homem e a mulher como tais.
Como? O lesbianismo terá aqui um papel central: “por sua própria existência,
uma sociedade lésbica destrói o fato artificial (social) constituindo as mulheres
como um ‘grupo natural’.”[169] Tal como Wittig nos diz, a lésbica não é uma
mulher, é uma subjetividade que quebra o binarismo, o que mostraria que não há
nem mesmo um sexo feminino. Com efeito, Wittig entende que “recusar-se a
tornar-se heterossexual (ou permanecer como tal) sempre significou,
conscientemente ou não, recusar-se a tornar-se mulher ou homem. Para uma
lésbica isso vai além da mera rejeição do papel da ‘mulher’. É a rejeição do
poder econômico, ideológico e político do homem”.[170] O giro de Wittig é
impressionante: representa um feminismo cujo objeto é, paradoxalmente,
destruir a mulher, como ela mesma reconhece explicitamente: “nossa
sobrevivência exige que nos dediquemos com todas as nossas forças para
destruir essa classe — as mulheres — com a qual os homens se apropriam das
mulheres. E isso só pode ser alcançado com a destruição da heterossexualidade
como um sistema social baseado na opressão das mulheres pelos homens”.[171]
Embora Wittig fale constantemente sobre a luta de classes entre homens e
mulheres, o que pode remeter para o economicismo do marxismo clássico, ela é
uma expoente fiel do marxismo cultural, uma vez que favorece a subversão da
linguagem e da moral. Em seu ensaio Pensamento heterossexual, ela nos diz que
“a transformação das relações econômicas não é suficiente. Devemos realizar
uma transformação política dos conceitos-chave, isto é, dos conceitos que são
estratégicos para nós. Porque existe uma outra ordem de materialidade que é a da
linguagem (...) essa ordem, por sua vez, está diretamente ligada ao campo
político”.[172] Seu romance O Corpo Lésbico[173] é um exemplo de subversão da
linguagem, e dessas propostas práticas como as que vemos atualmente, mesmo
em textos supostamente acadêmicos ensinados em universidades ao redor do
mundo, de escrever eliminando o gênero ao modificar as letras ‘a’, ‘e’ e ‘o’ pela
letra ‘x’. É que o maldito “patriarcado” estaria presente mesmo em ... nossa
maneira de escrever.
Deixando Wittig de lado, a teoria queer mais importante é a da já
mencionada Judith Butler, cujo trabalho O Gênero em Disputa (1990) é
considerado fundamental[174] desta nova tendência que visa “desconstruir” ainda
mais incisiva e absolutamente (se possível) a noção de gênero e sexualidade,
para torná-las peças de museu, categorias inutilizáveis, espaços politicamente
fechados pela ideologia de gênero.
Essa etapa, da terceira onda ao chamado queer, é de alguma forma
assumida por Butler quando, em seu prólogo à edição de 1999 do citado texto,
observa que “enquanto escrevia compreendi que eu mesma mantinha uma
relação de combate e antagonismo ante certas formas de feminismo, embora eu
também tenha entendido que o texto pertencia ao próprio feminismo”.[175] Ou
seja, Butler consegue gerar um novo ponto de inflexão no feminismo, mas não
deixa de estar dentro dele. Butler é uma feminista, mas de um novo tipo de
feminismo que trata de apontar os “limites” que a teoria feminista em geral
atribuiu ao gênero, descobrindo que eles sofrem de uma “pressuposto
heterossexual dominante” que estabeleceu um número limitado de gêneros a
definir. O que Butler procura, portanto, é “facilitar uma concordância política do
feminismo, das visões gays e lésbicas sobre o gênero”[176] e as outras
“modalidades” sexuais; em outras palavras, esticar tanto o conceito de gênero até
que nele caibam as mais estranhas formas e gostos sexuais. Hegemonia, em
outras palavras.
O livro de Butler, como uma boa pós-estruturalista, é extremamente
complicado de ler, e provavelmente mais complicado de explicar em alguns
parágrafos como propomos aqui.[177] Pode-se dizer que todos os seus esforços
visam modificar o “sujeito” político do feminismo, recriar uma área de
representação muito mais extensa, capaz de conter todos aqueles que, além de
serem potencialmente incorporados na luta contra o homem, podem somar-se à
luta contra a sociedade heterossexual e a instituição familiar. Mas, para isso, a
filósofa deve demonstrar, em conseqüência, que não há nada que possa ser
chamado de “mulher”. Assim, ela nos diz que as mulheres devem “entender que
as mesmas estruturas de poder através das quais se pretende a emancipação
criam e limitam a categoria de ‘as mulheres’, o sujeito do feminismo”.[178]
Conseqüentemente, ela acrescenta: “em vez de um significante estável que exige
a aprovação daqueles que pretende descrever e representar, as mulheres (mesmo
que plurais) se tornaram um termo problemático, um lugar de refutação, uma
fonte de angústia.”[179] Seria bom perguntar: de angústia e refutação para quem?
Talvez para essa minoria conflituosa que integra o movimento feminista e queer,
mas não muito mais.
Vimos que, para as feministas da terceira onda como De Beavouir, o
gênero constituía o lado cultural do dado natural que representava o sexo. Havia,
portanto, ainda que pequena, a aceitação das condições biológicas do corpo
humano (não havia sido a “origem” da opressão as condições de reprodução e a
fraqueza do corpo feminino? E o que dizer de Firestone, para quem a função
reprodutiva define a “classe social” das mulheres? Para Butler, o sexo “sempre
foi um gênero, com o resultado de que a distinção entre sexo e gênero não existe
como tal”.[180] Isto é, o sexo é verdadeiramente inexistente; essa também é uma
construção do discurso, e o fato de atribuirmos certo significado a certas
características biológicas é um fato arbitrário que, em todo caso, serve a
interesses políticos. Mas a distinção dos sexos parece realmente arbitrária à luz
das diferenças anatômicas, fisiológicas e funcionais-reprodutivas que ambos
apresentam? De nenhuma forma, como se verá com mais profundidade depois;
com efeito, a diferença dos corpos e suas funções constituem um conjunto de
dados primários para a categorização do binômio homem-mulher, que tem sido
utilizado em todas as sociedades humanas que este mundo tem visto, em
primeiro lugar, quando da divisão social do trabalho.[181] (Butler pretende rebater
essa realidade postulando o caso dos hermafroditas, mas eles são, gostem ou
não, um caso anômalo dentro da configuração prototípica humana).
O importante para Butler é quebrar o binarismo que, segundo ela, a
sociedade heterossexual gerou:[182] “a regulação binária da sexualidade elimina a
multiplicidade subversiva de uma sexualidade que perturba as hegemonias
heterossexuais, reprodutivas e médico-legais”[183] observa a filósofa seguindo seu
colega Michel Foucault — sobre quem Nicolás Márquez aprofundará mais tarde
—, introduzindo-nos ao cerne da questão: temos de conseguir uma
multiplicidade de gêneros que subverte o suposto “regime heterossexual”, para
desmantelar algumas instituições sociais que, como vimos, feministas anteriores
vincularam à sustentabilidade e reprodução do capitalismo. Então, Butler diz-nos
que: “se a sexualidade é culturalmente construída dentro de relações de poder
existentes, em seguida, a alegação de uma sexualidade normativa que esteja
‘antes’, ‘fora’ ou ‘além’ do poder é uma impossibilidade cultural e um desejo
politicamente impraticável, que adia a tarefa concreta e contemporânea de
propor alternativas subversivas de sexualidade e identidade dentro dos próprios
termos de poder”.[184] Tudo isso deriva, como é claro, da falácia de que nosso
sexo não é a natureza, senão também, tal qual o “gênero”, cultura.
Mas por que a filósofa queer levanta essa necessidade de “desconstruir”
(desarmar) até mesmo a categoria “mulher”, tão cara ao feminismo? Para as
próprias necessidades da batalha cultural que ela explicitamente reconhece: “Se
o que aparece como meta normativa da teoria feminista é a vida do corpo além
da lei ou a recuperação do corpo perante a lei [isto significa: mulher como
natureza], tal norma realmente distancia o foco da teoria feminista dos termos
específicos da batalha cultural contemporânea”.[185] Uma batalha cultural, para
Butler, é então aquela que procura aniquilar qualquer consideração de uma
natureza propriamente humana. (Mais uma vez: você se lembra do que Mises
alertou na década de 1920 sobre o socialismo e a desconstrução da natureza?)
Butler pretende, então, o surgimento de vários gêneros para quebrar a
coerência existente entre sexo, gênero e desejo. Eles seriam os sujeitos queer,
aqueles cujo corpo não tem a ver com ambos os sexos, nem com o seu desejo.
Poderíamos colocar como exemplo o caso de um homem que pensa ser mulher, e
que deseja ter relações sexuais com menores de idade. Sexo, gênero e desejo
correriam dessa maneira por faixas diferentes. E as “ficções reguladoras que
reforçam e naturalizam regimes de poder convergentes de opressão masculina e
heterossexista”.[186] Entre essa “multiplicidade” de desejos, o caso do incesto
também tem lugar. Na verdade, estas alegações também são evidentes no
trabalho de Butler: “Já descrevemos os tabus do incesto e o tabu anterior contra a
homossexualidade como os momentos generativos da identidade de gênero,
proibições gerando a identidade das grades culturalmente inteligível de uma
heterossexualidade idealizada e obrigatória”.[187] Então, voltamos aos mesmos
objetivos que a esquerda pretendeu para o feminismo nas duas ondas anteriores
— a destruição da família e do casamento como uma maneira de derrubar a
superestrutura que sustenta o capitalismo — mas agora, com outra reviravolta:
aniquilar a mesma concepção de “mulher”. Mas para aniquilar o sexo, é preciso
também aniquilar até mesmo a idéia de uma “identidade de gênero”, porque isso
proporcionaria ao sexo uma aura de naturalidade, precisamente como sua
contrapartida cultural.
De tal maneira que Butler colocará em primeiro plano a importância dos
travestis, dos transexuais, das diferentes modalidades de lesbianismo e de
homossexuais, entre outras companhias. Ela entende que, na “atuação” que esses
sujeitos fazem para se assemelhar a certos sexos ou gêneros, existem as pistas
que os levam a declarar que o gênero se reproduz sob uma estrutura “imitativa”.
De modo que na paródia que esses sujeitos provocam onde se há de encontrar a
tão aguardada “subversão” do sistema: “a multiplicação paródica impede a
cultura hegemônica e sua crítica confirma a existência de identidades de gênero
essencialista ou naturalizadas”[188] diz Butler, ao que caberia perguntar se não é
exatamente a paródia e a percepção de uma imitação o fato que corrobora que há
originais, e a diferença existente entre, por exemplo, uma mulher e um travesti
não corrobora precisamente a natureza de uma e a artificialidade de outro.
Mas Butler insiste em dizer-nos que o travesti “zomba do modelo que
expressa o gênero, bem como a idéia de uma verdadeira identidade de gênero”,
[189]
o qual poderia ser novamente lido em termos exatamente opostos: a natureza
é realmente a que zomba do travesti, que apesar de sua insistência em “ser” ou
pelo menos “parecer” como uma mulher, deve conduzir uma luta exaustiva e
interminável contra suas próprias condições biológicas, que ele jamais
conseguirá superar.
O fim ao qual a estratégia butleriana leva fica plasmado na conclusão do
livro: “A perda de regras de gênero multiplicaria várias configurações de gênero,
desestabilizaria a identidade substantiva e privaria as narrativas naturalizantes da
heterossexualidade compulsória de seus protagonistas essenciais: “homem” e
“mulher”.[190] Em outras palavras, o objetivo é a destruição sexual de homens e
mulheres como produtos da heterossexualidade, o que é, curiosamente, a forma
de vínculo sexual que permite a conservação de nossa espécie. Não é
verdadeiramente autodestrutiva do sujeito, mas da humanidade como tal, a
proposta teórica do feminismo queer?
Antes de continuar com a evolução deste pensamento por parte dos
ideólogos mais tardios e seu equivalente na prática, vamos parar um momento
para pensar sobre os fundamentos da proposta teórica de Butler, isto é, a idéia de
que o sexo “foi sempre gênero”. Nesse sentido, o pesquisador do Centro de
Estudos Livres, Fernando Romero, escreveu um brilhante ensaio em que
responde a esse argumento. Em Butler há uma evasão total, como já dissemos,
das condições biológicas da existência; somos apresentados ao sujeito suspenso
no nada, como um semideus que se faz a si mesmo, que é portador das condições
que nada têm a ver com um ambiente natural distinto do que a sua própria
cultura impõe. Romero acusou os argumentos butlerianos de “monistas”
precisamente por esse reducionismo manifesto e, assim, explica: “Sexo na
biologia corresponde à capacidade das entidades biológicas para gerar gametas
através dos quais são combinados caracteres genéticos mediante a reprodução
sexual. Essa forma de reprodução ocorre no reino animal, mas também nos
reinos plantae (vegetal), fungi (fungos) e inclusive em alguns protozoários
(bactérias). Em algumas espécies, a capacidade de produzir gametas é dada
dentro de um mesmo espécime que possui simultaneamente órgãos “femininos”
e “masculinos” ou um único gameta (meiose monogâmica). Essa condição se
aplica tanto ao hermafroditismo quanto à partenogênese. No entanto, na maioria
dos animais e na maioria das plantas, órgãos produtores de gametas são
distribuídos em espécimes separados, resultando numa alteração morfológica
distinta de corpos sexuados, chamado dimorfismo sexual.”[191]
Assim, as diferenças estruturais, anatômicas e fisiológicas das espécies que
são caracterizadas pelo dimorfismo sexual são sempre verificáveis e, em alguns
casos, realmente impressionantes. No reino animal, diferenças funcionais podem
ser observadas, como na produção de veneno, enzimas, hormônios, pigmentos e
sons diversos; e anatômicas, como as diferenças encontradas na constituição dos
próprios órgãos, incluindo órgãos não-sexuais. Nessas espécies, dentro das quais
podemos localizar o próprio homem, os dois sexos produzem diferentes
componentes químicos e têm órgãos sexuais anatomicamente e fisiologicamente
diferenciados, desenhados para que, quando se complementam, possam gerar
uma nova vida. Muitas espécies animais não-humanas desenvolveram diferenças
etológicas, isto é, formas diferenciadas de comportamento entre os sexos, que
conduzem e possibilitam o acasalamento: sons, modos de andar, danças,
performances, etc.[192] À luz dessa realidade, e considerando que para Butler o
sexo é outro produto do “discurso heteronormativo”, pergunta Romero: “como
se explicaria desde uma postura linguística as diferenças sexuais em organismos
carentes de linguagem?”.[193]
Pode-se responder que o problema é que a realidade biológica não pode ser
abordada senão discursivamente; que a ciência cria suas próprias categorias de
identificação de seus próprios objetos de estudo e, assim, os perverte. Em outras
palavras, a realidade biológica não seria a realidade, mas também uma
contaminação discursiva de nossa cultura. Mas tal argumento não levaria em
conta as lógicas das ciências naturais e, de fato, suporia a abolição de qualquer
possibilidade de conhecimento humano próximo da objetividade, que
curiosamente é o que as ciências naturais, dado seu objeto particular de estudo,
têm alcançado em muito maior medida do que as ciências sociais de onde este
tipo de crítica provem.[194]
Poderíamos fechar perguntando: se tão impossível, fictício e até absurdo é
o conhecimento para as ciências biológicas e médicas, a humanidade teria
perdido algo se o ser humano nunca tivesse tido uma ciência da natureza e do
corpo humano? A resposta que o leitor dá a essa pergunta deve ser contrastada
com a que é oferecida a essa outra pergunta: a humanidade teria perdido alguma
coisa se o ser humano nunca tivesse contado com as teorias de Judith Butler?
***
Quanto à ideologia queer, no caso argentino, destaca-se a filósofa Leonor
Silvestri, militante que, além de escrever livros e ensaios, tem presença
considerável no mundo acadêmico e oferece cursos queer desde sua casa, muitos
dos quais podem ser vistos no YouTube. Também integra “coletivos” chamados
“Ludditas Sexxxuales” e “Manada de Lobxs”, autores de um livro que não
podemos deixar de mencionar: Foucault para Encapuchadas (2014).
Este texto começa com uma pergunta-chave que, em sua própria
formulação, revela as intenções da ideologia que representam: “Agora que
entendemos que não há sujeitos da revolução, quem combate o
heterocapitalismo?”.[195] E a resposta está na própria declaração, porque o que
deve ser feito é destruir toda a identidade como tal, “apagar as categorias de
‘masculino’ e ‘feminino’ de acordo com as categorias de atribuição biopolítica
‘homem/mulher’. Os códigos de masculinidade são susceptíveis de abrir-se para
que operemos sobre eles uma espécie do gender hacking perfo-prostésico-lexical
usando jogos lingüísticos que escapem das marcas de gênero, ou pelo menos as
decomponham: proliferar até o absurdo anormalidades psicossexuais”.[196] O que
deve ser alcançado é “invalidar o sistema heteronormativo da produção humana
e as formas de parentesco — sempre a priori heteronormais — por meio de
desistir de práticas como o casamento e todos os seus substitutos”.[197]
A ideologia queer tenta subverter o que ela chama de “relações sexuais
heteronormativas”, o que inclui não só a relação heterossexual como tal, mas o
papel em si que têm órgãos sexuais biologicamente determinados em relações
sexuais (pênis e vagina). Assim, as teorias queer argentinas explicam que “a
renúncia de manter relações sexuais naturalizantes heteronormais permite a
ressignificação e desconstrução da centralidade do pênis e critica as categorias
‘órgãos sexuais’ (qualquer parte do corpo ou objeto pode se tornar brinquedo
sexual)”.[198] De fato: “A abolição da prática da sexualidade em casal, mediante a
prática de prazer em grupo com afinidades sexo-afetivas resignifica o corpo
como uma barricada de insubordinação política, de desobediência sexual, de
desterritorialização da sexualidade heteronormativa, seus regimes disciplinares
naturalizados e sua formas de subjetivação para a posterior criação de espaços de
afinidade anti-gênero e anti-humanos: destruir até as fundações a
heterossexualidade como regime político. Esse é o nosso destino.”[199] Tudo isso
merece uma tradução: o que se quer dizer entre tanto palavreado é que renunciar
às relações heterossexuais evitaria a “naturalização” desta relação, ou seja,
evitaria que, dada a sua reiteração, apareça algo próprio da ordem natural. Mas
não só a relação heterossexual deve ser submetido a essa “subversão”, também o
próprio uso dos órgãos sexuais no contexto do sexo, ao ponto de, também,
“desnaturaliza-los” como tais.
O ódio com o qual este texto é escrito é impressionante; não somente ódio
aos heterossexuais, mas ao homem e à humanidade em termos gerais. As doses
de violência que são incorporadas nas páginas são altíssimas. Aqui estão
algumas passagens que podem esclarecer o leitor: “Sem nome, sem prestígios,
sem passaportes, sem famílias, experimentamos o sabor do molotov, da nafta, a
fumaça da borracha queimada cortando a ponte e abrindo o caminho como quem
experimenta um maracujá, uma manga, ou o fisting [prática sexual de introduzir
o punho no ânus]”;[200] “O mundo pertence aos heteros que se gabam de suas
liberdades em nossos rostos. Por que eles têm que vir para nossos aniversários,
nossas festas, nossos rituais, nossas marchas, nossas cerimônias? Nós não
queremos tolerá-los, nem desejamos sua asquerosa dádiva gay-friendy chamada
‘apoio’, ‘integração’, ‘respeito’, ‘diversidade’ ... Não queremos suas leis anti-
discriminação. Nós não os queremos. O mundo pertence aos heteros e estamos
em guerra contra o seu regime. (...) Isto é apologia à violência, vamos lutar,
vamos lutar contra o inimigo com nossa violência (...) O mundo pertence aos
heteros e não o cederão voluntariamente. Teremos que tomá-lo à força.
Haveremos de forçar o cu para que o abram”;[201] “Um exército de punhos não
pode ser derrotado, meta no cu tudo o que couber. E mais, jogaremos em seus
rostos de heterossexuais consternados: merda e peidos, chuvas douradas de
squirt [urinação feminina]. Um riso negro que soa diabólico e alegre brota de
nossas entranhas promíscuas. (...) Não nos identificamos com vocês,
heterossexuais, não gostamos, desprezamos, vocês são o desprezível desperdício
do capitalismo que impulsionam”;[202] “Com grande alegria nós dizemos: não
vamos ter filhxs, adoramos a solidão, celebramos, apoiamos e insistimos na
destruição de toda relação, da monogamia, dos laços sentimentais, dos hetero-
compromissos, das paixões, do amor romântico ou dos relacionamentos
escondidas sob a merda do amor livre. Todos estabelecem territórios e
hierarquias de opressão”.[203]
Esse tipo de idéia sobre como desconstruir a sexualidade também pode ser
encontrada na referida filósofa queer espanhola Beatriz Preciado (Professora da
cátedra de História Política do Corpo e Teoria de Gênero na Universidade de
Paris VIII), que chama para a prática da “contra-sexualidade”, estratégia
inspirada por nada menos do que Foucault: “O nome de contra-sexualidade vem
indiretamente de Foucault, para quem a forma mais eficaz de resistência à
produção disciplinária da sexualidade em nossas sociedades liberais não é a luta
contra a proibição (como a proposta pelos movimentos de libertação sexual anti-
repressivos dos anos 70), mas a contra-produtividade, isto é, a produção de
formas de prazer-saber alternativas à sexualidade moderna.”[204] Então, o que se
busca, mais uma vez, é negar a realidade biológica do nosso corpo para inventar
excentricidades que “subvertam” as funções eróticas do pênis e da vagina: “A
contra-sexualidade afirma que o desejo, a excitação e o orgasmo não são mais
que os produtos retrospectivos de uma certa tecnologia sexual que identifica os
órgãos reprodutores como órgãos sexuais, em detrimento de uma sexualização
de todo o corpo. [...] O sexo é uma tecnologia de dominação heterosocial que
reduz o corpo as zonas erógenas de acordo com uma distribuição assimétrica de
poder entre os sexos (feminino/masculino), fazendo coincidir certos afetos com
determinados órgãos, certas sensações com certas reações anatômicas”[205] Então,
Preciado nos oferece um exemplo pitoresco de como resistir ao “sistema
heterocapitalista”: “a prática de fist-fucking (penetração do ânus com o punho),
que teve um desenvolvimento sistemático no seio da comunidade gay e lésbica
dos anos 70, deve ser considerada como um exemplo de alta tecnologia contra-
sexual. Os trabalhadores do ânus são os proletários de uma possível revolução
contra-sexual”,[206] diz a professora, deixando ver as raízes marxistas de seu
pensamento.
Tudo isso pode soar como uma piada, mas é uma realidade palpável com
correlatos concretos na prática. Preciado pretende inovar com respeito a “atos
contra-sexuais” e, em seguida, fornecer um manual de prática chamada
“dildotectônicas”, que seriam implementadas com a ajuda de um “dildo”
(vibrador) e contribuiriam para outras partes do corpo serem “sexualizadas” na
luta contra a “hegemonia do pênis e da vagina” estabelecida pelo
“heterocapitalismo”. Uma delas é amarrar um vibrador a um bloco de agulha e
colocá-lo no ânus. Mas a prática em si não é suficiente; há todo um ritual que
Preciado recomenda para que a prática seja verdadeiramente “contra-sexual”:
“Tire a roupa. Prepare um enema anal. Deite-se e fique nu por 2 minutos após o
enema. Levante-se e repita em voz alta: ‘dedico o prazer do meu ânus a todas as
pessoas com HIV’. Aqueles que já são portadores do vírus poderão dedicar o
prazer de seus ânus aos seus próprios ânus e à abertura dos ânus de seus entes
queridos. Coloque um par de sapatos com salto agulha e amarre dois dildos com
atadores nos tornozelos e sapatos. Prepare o seu ânus para penetração com um
lubrificante adequado. Deite-se em uma poltrona e tente levar para o cu cada um
dos dildos. Use a mão para o dildo penetrar seu ânus. Toda vez que o dildo sai
do seu ânus, grite seu contra-nome violentamente. Por exemplo: ‘Julia, Julia’.
Após sete minutos de auto-penetração, emita um grito estridente para simular um
orgasmo violento. (...) A simulação do orgasmo será mantida por 10 segundos.
Então, a respiração se tornará mais lenta e profunda, as pernas e o ânus estarão
totalmente relaxados.”[207]
Notemos o seguinte: a professora universitária deve recorrer à simulação do
orgasmo, porque em virtude da natureza biológica e seguindo este procedimento
absurdo, é difícil obtê-lo de uma maneira real. Exatamente o mesmo deve ser
prescrito quando é recomendado “empurrar seu braço com um consolo”: “A
duração total deve ser controlada com a ajuda de um cronômetro indicando o fim
do prazer e o pico do orgasmo. A simulação do orgasmo será mantida por 10
segundos. Depois disso, a respiração se tornará mais lenta e profunda, os braços
e o pescoço ficarão totalmente relaxados”.[208] E o mesmo recurso de simulação
deve repetir-se uma outra vez em cada uma das práticas propostas porque
nenhuma outra ação a não ser o fingimento pode surgir de um ato que não é
acompanhado pelas regras que nosso corpo natural estabelece. Note, finalmente,
o patético da proposta queer em questão. Esclarecemos que esses argumentos já
estavam presentes no pensamento de Butler mesma, quando argumentou que “o
fato de que o pênis, a vagina, os seios e outras partes do corpo são chamados
órgãos sexuais é tanto uma restrição do corpo erógeno àqueles partes como uma
divisão do corpo como um todo”.[209]
Embora pareça ridículo ter que parar e demonstrar que existe natureza na
nomeação do pênis e da vagina como órgãos sexuais e erógenos, vejamos
rapidamente os dados que nos fornecem a anatomia do corpo humano. No caso
da vagina, a sensibilidade nessa área é extrema: lá, o nervo pudendo, ramo do
plexo sacro, recolhe e conduz as impressões sensitivas através do nervo dorsal
do clitóris e dos lábios vaginais maiores. Da mesma forma, os nervos
vasomotores acompanham as artérias que, sob a excitação, irrigam as formações
eréteis. Sabe-se que a vagina contém mais de oito mil terminações nervosas.
Durante o orgasmo feminino, os músculos perineais contraem-se ritmicamente
devido a reflexos da medula espinhal, e as intensas sensações sexuais são
dirigidas para o cérebro, causando tensão muscular em todo o corpo. No pênis, a
mais alta sensibilidade é encontrada na glande, tornada possível e impulsionada
pelos nervos genitofemoral e ilioinguinal, ramos do plexo lombar. A ereção é
viável graças aos ramos que vêm do plexo hipogástrico inferior em que os
nervos esplâncnicos pélvicos participam. Outros importantes nervos que
permitem funções sexuais e de excitação são aqueles ramos que emergem da
folha neuro-vascular na altura da uretra membranosa. Sabe-se que o pênis tem
quatro mil terminações nervosas. Ereção é o resultado de um massivo aporte de
sangue para os tecidos eréteis que circundam a uretra bulbar e peniana, com a
ajuda de bulboesponjosos e músculos isquiocavernosos que comprimem os
plexos venosos, impedindo o retorno do sangue.[210] Podemos encontrar essas
mesmas condições anatômicas, por exemplo, para continuar com a proposta de
Preciado, em um braço humano? Se a resposta é obviamente negativa: não será
então que a designação dos órgãos sexuais e erógenos seja uma conseqüência
dos dados de nossa realidade anatômica e fisiológica desvendados pelas ciências
naturais, e não de uma “conspiração heterossexual” que o capitalismo montou
para nos oprimir, argüida por alguns vendedores da fumaça das ciências sociais?
O psicólogo Andrés Irasuste tem seguido de perto os principais estudos
sobre as perversões que realizaram psicanalistas e psiquiatras de renome como
Charles Socarides, Masud Khan, Joyce McDougall, Christopher Bollas, Albert
Ellis, entre outros. Irasuste entende que as práticas sexuais como as aqui
mencionadas são perversões, tanto é que aqueles que as praticam se relacionam
uns com os outros como objetos transicionais: “O outro não é alguém com quem
se faz amor por desejo, é um objeto ao qual se impõe uma vontade sadística, ou é
uma particularidade suscetível de preencher pulsões parciais: um ânus que anule
o dique da sexualidade limpa e decorosa, um corpo doador de excrementos (ou
comedor de excrementos), um recipiente de esperma, uma pele, superfície a qual
flagelam para fazer sangrar, para ser mordida (inclusive comida), um corpo com
o qual praticar masturbação letal ou o coito com enforcamento e sufocamento”.
[211]

Só no âmbito dos quadros ideológicos que estamos descrevendo pode ler-se


o fenômeno chamado “pós-pornô”, que desembarcou em muitos países latino-
americanos, cujas performances foram mesmo apresentadas em instituições
acadêmicas, como a Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Buenos
Aires, ante a cumplicidade ou consentimento das autoridades. As feministas
militantes praticaram nessa ocasião, em julho de 2015, rituais sadomasoquistas
nos pavilhões públicos da Faculdade e outras práticas que Preciado consideraria
“contra-sexuais”. Como uma nota colorida, a mais ortodoxa e “retrógrada”
esquerda desaprovou a suposta performance “artística”, porque eles deixaram
excrementos e urina humanos em espaços públicos, como coprofílicas práticas
incluídas no “show” acima referido. Os meios de comunicação analisaram e
discutiram o fato por dois dias inteiros, com pusilanimidade, expressão
arquetípica da ditadura de gênero e do politicamente correto, que caracterizou as
reflexões dos jornalistas “bem-pensantes”, com medo de serem “antiquados” em
suas considerações.
Mas em que consiste concretamente uma performance “pós-pornô”? Onde
elas apareceram? Qual é o seu objeto? Muitas vezes são oferecidos espetáculos
“pós-pornô” em lugares freqüentados por um punhado de pessoas, que raramente
excede o número de cinqüenta. Definir a performance é complicado, porque o
objetivo é precisamente a falta de definição. A prática anti-sexual é anti-
identidade e, portanto, difícil de caracterizar de forma determinante. Digamos,
em todo caso, que o “pós-pornô” oferece práticas sexuais ao vivo que procuram
envolver atos extremamente mórbidos — perversos nos termos psicanalíticos de
Irasuste — ultrapassando os limites da nossa imaginação, seguindo as teorias
estranhas que temos visto. O mencionado fist-fucking é a mais moderada que se
pode ver por ali. O que na maioria das vezes excita o público é o envolvimento
de excrementos e urina nas relações sexuais e, claro, o chamado squirting, a
“ejaculação feminina”, para a qual é dada igual importância política (não só o
homem ejacularia). Mas o público não é um agente passivo; normalmente recebe
em seus próprios corpos os fluidos citados e até o sangue daqueles que realizam
o espetáculo. Na verdade, a mutilação também desempenha um papel importante
na performance: há uma particularmente chamativa que foi preciso assistir para
fazer esta pesquisa, na qual a teórica queer Diana Torres (autora de
Pornoterrorismo[212]), transpassava seis agulhas no seu rosto enquanto praticava
atos de masturbação. Deve-se acrescentar, no entanto, que o espetáculo não se
reduz ao que se desenrola no palco: enquanto a performance acontece, todos os
sentidos são atacados ao mesmo tempo, por uma tela gigante que geralmente
reproduz vídeos de mutilação humana e abortos,[213] pela leitura de poesia pós-
moderna, e pela execução de música “atonal” (desprovida de ritmo, harmonia e
melodia), a qual, por coincidência, foi considerada pelos teóricos da Escola de
Frankfurt como portadora de efeitos revolucionários.[214]
O grupo o qual a argentina Leonor Silvestri intrega redefiniu o "pós-pornô”
como “pornoterrorismo”, seguindo Torres — pois o objetivo é aterrorizar as
pessoas através de sexo —, e entende que “como anti-arte, como arma de ação
direta, como ritual de mágico encantamento, como um exorcismo público, como
uma máquina de guerra contra o aparato de captura da norma social hétero,
como potência visual —- contra/semioses — o PornoTerrorismo é uma maneira
de construir um novo uso dos prazeres e reprogramar nossos desejos [...]. Como
também destruir a inveja e a propriedade privada. [...] o PornoTerrorismo é uma
forma de insurgência, divergência, contra-hegemonia, subversão, uma
insurreição sexual e uma objeção de gênero”.[215] E então reforça o que já
explicamos acima, apresentando ao leitor uma lista daquilo que compõe um
espetáculo deste tipo: “Elementos dos jogos extremos BDSM[216] como
flagelação, agulhas, ou sufocamento; a superfície da pele exposta, rosto
encoberto por balaclavas típicos de insurrectos [...] Fluidos e secreções de todos
os tipos: squirt, vômito, sêmen, sangue humano sobretudo o menstrual, merda;
próteses tais como espéculos e cadeiras ortopédicas, vibradores e arneses;
justaponha-os e brinque com eles da maneira que achar melhor”.[217]
Possivelmente o arquétipo humano mais fiel às praticas contra-sexuais, do
pós-pornô e do pornoterrorismo não é outro senão Armin Meiwes, mais
conhecido como o “canibal de Rotenburg”, que buscava através da internet
pessoas do mesmo sexo que estavam dispostos a darem suas genitálias como
comida. O final da história, que aconteceu na Alemanha, é bem conhecido:
Meiwes encontra alguém que concorda em poder remover seu pênis para ser
frito e depois devorado por ambos os participantes. Essa história do desejo
“contra-sexual” destaca os limites de nossas práticas culturais com relação às
nossas condições naturais: o sujeito mutilado morrerá em poucos minutos
sangrando em uma banheira. A realidade pode ser negada, mas os efeitos da
realidade não podem ser evitados.
O inevitável é a conclusão de que a ideologia queer gera um coquetel
explosivo de ódio, violência e frustração individual. A luta interminável contra a
natureza que os movimentos queer realizam está perdida antecipadamente; e as
frustrações dessa derrota inevitável são canalizadas para sentimentos de raiva
contra a sociedade em geral e o homem heterossexual em particular. Existem, na
verdade, muitos teóricos queer que clamaram à pratica de violência abertamente.
Mas há também teóricos afins ao movimento queer que fizeram eles mesmos a
violência, como é o caso do comunista americano Peter Gelderloose, preso pelas
forças de segurança de seu país por participar precisamente em atos de violência
política. Ele escreveu um livro intitulado Como a não-violência protege o
Estado (2007), onde propõe ao feminismo ações como a seguinte: “Matar um
policial [...] atear fogo ao escritório de uma revista que anuncia conscientemente
um padrão de beleza que leva à anorexia e à bulimia ou seqüestrar o presidente
de uma empresa que trafica mulheres. [...] Atacar os exemplos mais notáveis e
provavelmente incorrigíveis do patriarcado é uma maneira de educar as pessoas
sobre a necessidade de uma alternativa.”[218]
Há também livros e publicações queer onde experiências violentas reais são
relatadas como triunfos políticos contra a “heteronormatividade” e o capitalismo.
Um desses livros recentes foi intitulado Espaços Perigosos. Resistência
Violenta, Autodefesa e Luta Insurrecionista contra o Gênero (2013), de autoria
coletiva. A dívida da ideologia queer com a esquerda é explicitada aqui: “Os
movimentos da Nova Esquerda com suas declarações nos empurraram para o
fato de que a luta está em muitas frentes mais do que na simples luta de classes”.
[219]
Sua introdução começa assim: “Há uma violência que libera. É o assassinato
de um homofóbico. [...] É o incêndio e a libertação de visões. É quebrar janelas
para expropriar comida. É o madero [policial] queimado e motins atrás das
barricadas. É rejeitar o trabalho, ter amizades criminosas e a completa rejeição
de compromissos. É o caos que não pode ser parado”.[220] Os objetivos do texto,
por outro lado, são explicitados no final do mesmo prólogo: “Esperamos que
esta publicação possa contribuir de alguma maneira para a greve de gênero que
irá queimar totalmente este mundo”.[221]
A publicação em questão contém depoimentos de queers que valem a pena
citar, a fim de medir o lugar a que o feminismo e a ideologia de gênero nos
conduziram: “Nunca fui muito pacíficx. O mundo me viola e eu só quero
violência contra o mundo. Qualquer um que tente tirar minha paixão por sangue
e fogo, vai queimar junto com o mundo ao qual se apega desesperadamente”,[222]
nos adverte um queer de forma ameaçadora. Significativa da luta impossível que
esses sujeitos enfrentam contra a natureza, e as frustrações que dela derivam, é a
seguinte narração de outro travesti queer: “Com alguma tristeza, reconheço meu
pai em meu reflexo. Tanto o meu ‘spiro’ quanto as minhas pílulas de estrogênio
terminam hoje e eu estou ficando louco. Provavelmente eles iam chegar na
segunda-feira, mas talvez tenham se perdido nos correios [...]. Quero gritar.
Estou prestes a explodir. Eu estou controlando o desejo de me dar um tapa, então
eu começo sonhos de olhos abertos no meu cubículo cinza. Eu vejo um avião de
linha seqüestrado virar e apontar diretamente para minha mesa. [...] Há um
clarão ofuscante, eu desapareço e tudo arde”.[223] Outro queer, num sentido
semelhante, admite: “Há algo dentro de mim que às vezes quer se tornar surdo a
este ritmo, mas sei que não seria suficiente para acalmar os ecos de gênero em
meu corpo e em minha vida diária, que tentei silenciar incessantemente através
de hormônios, álcool, drogas e da escrita de ensaios estúpidos.”[224]
Outros queer usaram estas páginas para contar e celebrar atos de violência
perpetrados. Um deles relata que um vizinho que ousou manifestar-se
publicamente contra uma marcha queer foi atacado por membros desse
movimento: “Acabara de celebrar seu quadragésimo-primeiro aniversário em 9
de junho (2009), por isso pensamos em dar-lhe alguns presentes atrasados na
forma de fortes socos. O grupo o atingiu até que os maderos [policiais]
apareceram e fomos para a parte de trás do parque, sem nenhuma prisão.”[225]
Outro sujeito celebra o ataque preferido de todos, aquele que é perpetrado contra
a Igreja Católica: “Ontem à noite fiz uma visita à Igreja Católica. Eu fechei com
supercola várias de suas portas e estourei algumas janelas. Estou segurx de que
todas as pessoas que cometeram um ato de sabotagem sabem como é incrível. Se
você não fez isso, você realmente deveria experimentar por si mesmx.”[226] E
com o espírito tolerante e democrático que caracteriza essas pessoas, ele
acrescenta: “A Cristandade precisa ser presa, empalada em uma estaca”.[227]
A questão é: pode-se esperar algo mais daqueles que foram politicamente
formatados em ódio e ressentimento? Na verdade, temos visto como a ideologia
de gênero constrói discursivamente uma guerra entre homens e mulheres em
primeiro lugar, e uma guerra entre heterossexuais e homossexuais para no final
de tudo desembocar na idéia de que nem mesmo existe o sexo como tal, e ainda
mais, a identidade não existe como tal. Assim, aqueles que são colocados em um
lugar sexual ou de “gênero” pelo “discurso heteronormativo” seriam vítimas de
uma violência planejada para manter o capitalismo; e a violência deve ser
respondida com maior violência. A ideologia, portanto, os fecha perfeitamente;
oferece a essas pessoas conflitadas sexual e identitariamente uma explicação que
promete aliviar sua frustração, e que oferece uma saída para tantos males
internos. E essa saída não tem a ver com processos de auto-reflexão, de
superação, de inclusão; essa saída não é individual, mas é política e, mais ainda,
a saída é a violência política. Pois o queer é incapaz de problematizar sua
própria situação, sua responsabilidade; para o queer, a responsabilidade é sempre
do fantasmático sistema no qual os teóricos da ideologia de gênero o fizeram
acreditar e odiar, chamado “falocracia”, “heteronormatividade”,
“heterocapitalismo”, ou o que quer que inventem os imaginativos “acadêmicos”
dessas correntes.
O testemunho de uma outra queer revela até que ponto a prática é uma
conseqüência da ideologia que lhes injetam: “Na quinta-feira à noite, após uma
estranha palestra motivacional radical sobre como fazer motins, um bloco negro
apareceu como o quarto ataque de um dia de luta nas ruas. Este bloco
particularmente feroz [...] atravessou Pittsburgh destruindo inumeráveis janelas,
virando lixeiras e ateando fogo. Um colega fez uma observação: onde está o
queer em tudo isso? As pessoas só se vestiam de preto e queimavam as coisas na
rua. Nós respondemos: a prática de usar preto e destruir tudo é o melhor e mais
estranho gesto de todos. De fato, isso nos leva ao cerne da questão: queer é
negação. Ao encontrarmos nossos corpos desviados, nos tornamos uma turba,
transformando nossos limites corporais em um grande problema. [...] Nossos
limites desapareceram completamente ante um chão coberto de vidro e uma terra
repleta de lixeiras em chamas”.[228] E então recorre à teoria de Butler “gênero
performativo”, da qual já expusemos algo, para dar sentido ao ato criminoso: “Se
estiver correta, a idéia de que sexo é sempre performativo, então as
performances que realizamos ressoaram como o gênero mais queer de todos: o
da destruição total”.[229] Ante as destruições queer na cidade, um vizinho tentou
detê-las, mas “antes que ele pudesse perceber seu erro, recriamos uma cena
particularmente sádica e a sangue frio sobre o idiota. Ele percebeu seu erro sob
uma chuva de chutes, socos e uma grande quantidade de spray de pimenta.”[230]
Nosso “democrático” queer fecha sua narrativa com a seguinte conclusão:
“Oferecemos um modo de vida que pode ser entendido como a conjunção de
barricadas e pernas por depilar. Mas o que há de melhor do que a mistura de
arneses com vibradores, martelos, perucas extravagantes, tijolos, fogo,
espancamentos, fisting, e, claro, ultraviolência”.[231]
Há muitas evidências como as mencionadas aqui que foram selecionadas ao
acaso para esclarecer o leitor. Não pretendemos abundar nisso, porque
acreditamos que o objetivo foi cumprido. Agora, é possível terminar aqui com a
seguinte conclusão.
Há um fio condutor que corre a partir da segunda onda feminista, através da
terceira, com a ideologia queer. Esse fio é dado por um projeto comum, que tem
a ver com a destruição do casamento heterossexual e da superestrutura familiar
que teoricamente contribuem para a reprodução do sistema capitalista (estratégia
de batalha cultural). Esse fio, no entanto, percorreu um progressivo caminho
teórico que foi do materialismo dialético, passou pelo culturalismo de gênero e
terminou na destruição mesma do sexo. A questão decisiva aqui, portanto, não
tem nada a ver com as escolhas voluntárias individuais, mas sim com a intenção
expressa de transformar, até mesmo de forma violenta, o sistema econômico e
político que, paradoxalmente, permitiu que existam essas tribos (ou alguém pode
provar que eles existem ou existiram em um país comunista?). A questão não é
que uma mulher pense que seu corpo não tem existência natural; a questão não é
que um homem acredite ser uma mulher “trancada” em um corpo masculino. De
nada deveria importar-nos os delírios de cada pessoa, enquanto não afetem os
nossos direitos individuais. O problema é que afetar-nos é o objetivo destas
ideologias e sua conseqüente militância, como vimos amplamente. Nada deveria
importar, por exemplo, que determinado sujeito considere a si mesmo, inclusive,
um crocodilo ou uma macaca enclausurada em corpo humano, vítima da tirania
da “construção social do discurso”; o problema é que a pressão ideológica
exercida sobre o Estado leve-o a nos obrigar a compartilhar tal loucura e pagar
por ela, sob a ameaça de coerção. De fato, como reconhecido pelas próprias
teóricas feministas “desde o feminismo o que é exigido uma e outra vez é mais
intervenção do Estado”.[232] Nada deveria importar-nos, seguimos dizendo a fim
de dissipar as dúvidas, que em particular se pratique “pós-pornô” se aqueles que
o praticam e aqueles que voluntariamente o observam, gozam mutilando-se ou
assistindo pessoas mutilando-se; o que realmente importa é que estas práticas
são realizadas em espaços públicos, de maneira invasiva e até mesmo
coercivamente, e que o feminismo radical tenha chegado a promover incesto e
pedofilia, como parte de uma luta política e ideológica para impor formas de
sexualidade degradante.
Nada importa para nós, em uma palavra, o que a cada um tange à sua
personalidade e vida privada. O que é problemático em qualquer caso,
parafraseando um dos slogans mais arquetípicos do feminismo radical, quando
“o pessoal se faz político”.
O Dr. Money, o meninos sem pênis e algumas considerações científicas
Como temos insistido ao longo deste capítulo, as teorias têm conseqüências
práticas; a maneira como entendemos e interpretamos o mundo afeta o modo
como nossas ações se desdobram. Assim, há um caso que nos mostra
concretamente a aplicação da ideologia de gênero no campo da medicina e da
psiquiatria e suas conseqüências.
Em 1965 nasceram os gêmeos monozigóticos[233] Bruce e Brian Reimer. O
primeiro deles, com menos de um ano de idade, por causa de fimose, foi
submetido a uma circuncisão fracassada que mutilou seu pênis. Seus pais,
desesperados com o acidente que seu filho sofrera, logo contactaram um famoso
psicólogo chamado John Money, que ficara afamado no mundo acadêmico,
precisamente porque levou para o campo médico as teorias de gênero que
excluem da identidade sexual qualquer relação com uma determinação natural.
Como muitas feministas contemporâneas, Money estava envolvido na militância
pela despatologização de práticas de pedofilia e de práticas sexuais que Preciado
consideraria “contra-sexuais” como coprofilia (arremessos e ingestão de
excrementos para fins sexuais).[234] Além disso, Money era professor da
Universidade John Hopkins, foi fundador do Gender Identity Institute —
financiado por esta última — trabalhou no ramo de mudança de sexo, e o caso
em questão apareceu diante de seus olhos como uma possibilidade excepcional
de fazer um experimento social que comprovaria a teoria de que a sexualidade
não tem nada a ver com a natureza, mas com a criação, isto é: que um ser
humano pode ser educado como homem ou mulher, independentemente da
realidade cromossômica ou gonadal ou genital que possa ter. Na verdade, o Dr.
Money tinha um bebê de alguns meses que já não tinha pênis e com sua variável
de controle perfeita: Brian, o irmão gêmeo.
Foi assim que, aos dezessete meses de idade, Bruce se tornou “Brenda” e,
quatro meses depois, foi castrado. Os pais foram encarregados da tarefa mais
importante de todas: criar Bruce como “Brenda” e, sob nenhuma circunstância,
revelar a verdade dos fatos aos gêmeos. As instruções eram rígidas, porque o
sucesso do experimento social dependia delas. “Eu pensei que era simplesmente
uma questão de pais, que eu poderia criar meu filho como mulher”,[235] lamentou
posteriormente a mãe.
Mas logo o plano começou a se desviar dos resultados esperados por
Money. Apesar de todos os tratamentos hormonais e das características da
criação, “Brenda” não parecia se adaptar à identidade feminina. O pai disse a
posteriori que “era tão evidente para todos, não só para mim, que era do sexo
masculino”.[236] Em um dos fragmentos dos arquivos de Money, ele reclama: “A
garota tem muitas características de ‘machona”.[237] A questão estava deixando as
mãos do famoso professor, e ele decidiu que era hora de intervir na criação com
maior afinco a partir de seus conhecimentos psicológicos. Então começou
enfatizando que “Brenda” estabeleceria sua nova identidade feminina ao
entender a diferença entre os órgãos sexuais de homens e mulheres, recorrendo
assim às diferenças naturais para negar... o natural. Mas como a “menina” se
recusou a adotar seu novo gênero, o médico foi forçado a aplicar abordagens
cada vez mais extremas. Ele pediu para ter sessões conjuntas com os gêmeos, a
quem tirou as roupas, fez olharem um para o outro, ensaiar poses sexuais e
passar por sessões fotográficas. As duas crianças desempenharam um papel não
muito diferente do de dois ratos de laboratório. O já mencionado psicólogo
Andres Irasuste refletiu sobre isso: “Nós nos perguntamos quanta distância
realmente existe entre um John Money e um Josef Mengele”.[238]
A última tentativa de Money foi tentar convencer “Brenda” a se submeter a
uma cirurgia para aperfeiçoar sua vulva rudimentar e construir uma vagina
artificial. Aos treze anos de idade, ele veio entrevistá-la com um transexual para
convencê-la sobre os benefícios da cirurgia. Mas “Brenda” recusou, e pediu a
seus pais para nunca mais ver o Dr. Money novamente.
O experimento social não parou de ir ao contrário do que seu mentor havia
previsto. “Brenda” teve várias tentativas de suicídio, e seus pais, desesperados,
decidiram que era hora de voltar e contar a verdade sobre sua própria história. É
assim que esta “menina” de laboratório decidiu ser o que sempre foi: uma
criança. E ele se chamou “Davi”, em referência à luta de Davi contra Golias.
Imediatamente, David deixou os tratamentos hormonais e fez um implante
peniano, mas nunca conseguiu superar o dano psicológico criado pelo
experimento de gênero. Sua família também. Brian, o irmão gêmeo, nunca pôde
aceitar a verdade e acabou caindo na esquizofrenia, morrendo em 2002 duma
overdose.
A frustração de Davi aumentou quando ele descobriu que Money havia
apresentado seu experimento social ao mundo acadêmico como um sucesso
retumbante que provava a veracidade da ideologia de gênero. De fato, ele
publicara um livro de grande importância que se chamava Homem e Menino,
Mulher e Menina. “Seu comportamento é tão normal quanto o de qualquer
menina e claramente difere do modo masculino como seu irmão gêmeo se
comporta”, pode ser lido nas páginas sobre “Brenda”. Assim, o caso de Bruce,
ou Brenda, ou David, foi por sua vez apresentado como um sucesso nos textos
médicos e psicológicos sobre o tratamento dos hermafroditas. Prova clara de
como o campo científico funciona quando a ideologia o filtra, e são os fatos que
devem ser acomodados ao que é pensado, e não o que é pensado aos fatos.
Em 2004, vítima de uma depressão causada por seu trauma psicológico e
existencial, David Reimer tirou a própria vida com uma escopeta, tendo antes
deixado, no entanto, um testemunho premonitório em um documentário sobre
sua história: “Eu sou a prova viva [do fracasso da ideologia de gênero], e se você
não vai aceitar minha palavra como evangelho, porque eu vivi isso, quem mais
você ouvirá? Quem mais passou por isso? Eu vivi isso. Alguém tem que atirar
em si mesmo na cabeça e morrer para que as pessoas possam ouvi-lo?”[239]
Anos depois de que Money vendera o suposto sucesso da converção de
Bruce em Brenda, outro cientista, Milton Diamond, revelará a verdade sobre o
experimento de Money ao descobrir que a testosterona orienta cada ser humano
antes mesmo de seu nascimento. O sexo, então, não poderia ser reduzido à
variável “educação”. Felizmente, ainda existem homens e mulheres[240] de
ciências que se atrevem a mostrar e provar que a sexualidade não pode ser
explicada apenas recorrendo a factores culturais, mas há todo um fundo natural
que, em qualquer caso, cria espaço onde a cultura pode se inscrever.
O psicólogo de Harvard Steven Pinker, por exemplo, escreveu um livro
revelador intitulado The Blank Slate (2002), onde se dedicou a refutar os
negacionaistas da natureza humana sob as contribuições da psicobiologia e da
neurociência, e mostra como a ideologia de gênero do feminismo é um obstáculo
à ciência pois nega que o “gênero” possuia uma ontogênese, uma psicogênese e
uma base que não dependem exclusivamente do sociocultural. É como nos
explica o próprio Irasuste, “Hoje a neurociência já comprovou que o que
chamamos de ‘gênero’ tem um núcleo biológico muito duro e profundo que já
começa a tomar forma por várias influências hormonais intra-uterinas,
responsáveis pela sexuação cerebral.”[241] Sabe-se que tanto o androgênio quanto
o estrogênio, hormônios masculinos e femininos, respectivamente, têm
diferentes efeitos no cérebro durante o desenvolvimento fetal.[242] O biólogo
Edward Wilson disse isso muito claramente: “A neurobiologia não pode ser
aprendida aos pés de um guru. As conseqüências de nossa história genética não
podem ser escolhidas pelas legislaturas.”[243]
Há uma passagem muito interessante no trabalho de Pinker, que examina
um estudo que nos lembra o caso do Dr. Money e dos gêmeos Reimer. De fato,
em um caso de “vinte e cinco crianças que nasceram sem um pênis (um defeito
de nascença conhecido como extrofia de cloaca) e que são analisados depois de
castrados e criados como meninas, todos mostravam padrões masculinos, se
dedicavam a jogos bruscos e tinham atitudes e interesses tipicamente
masculinos. Mais da metade deles espontaneamente declarou que eram meninos,
um quando tinha apenas cinco anos.”[244] Isso jogaria fora a possibilidade de que
o caso de David Reimer seja uma simples exceção ou um acidente. E a isto
devemos acrescentar o fato de que a educação de meninos e meninas se difere
cada vez menos se analisarmos historicamente.
Há relativamente pouco tempo existe um ramo na neurociência chamado
“neurobiologia do sexo”, que se concentra em duas áreas fundamentais: a
estrutura do cérebro e a genética. Essa disciplina também contribuiu muito para
nos fazer ver que a sexualidade é muito mais que cultura: é também natureza.
Graças a cientistas como o embriologista Charles Phoenix e outros que têm
realizado pesquisas sobre o assunto, sabemos, por exemplo, que o hormônio
testosterona desempenha um papel inexorável na definição sexual muito antes de
o bebê deixar o corpo da mãe e, portanto, muito antes de seus primeiros contatos
culturais: “Se removermos os genitais de um embrião geneticamente masculino
durante um momento-chave do desenvolvimento embrionário, desenvolveremos
genitálias femininas. Ou seja, a testosterona atua como um diferenciador-chave
no processo de individuação biológica em uma base pré-natal, onde o feminino
— na ausência desse elemento — irá predominar”.[245] Algo semelhante foi
encontrado pelo neurologista Simón Le Vay quando concluiu que uma diferença
nos níveis hormonais androgênicos em períodos críticos de desenvolvimento —
como o estágio intra-uterino — tem efeitos substantivos sobre as características
sexuais.[246] Inclusive foram detectadas síndromes que afetam a sexualidade da
criança, como a chamada “síndrome por deficiência de 5-alfa reductasa”, sendo
esta última uma enzima que interage com a testosterona para o desenvolvimento
dos genitais. De modo que aqueles que sofrem desta síndrome, nascem com
genitais de aparência feminina, mas o sexo genético é masculino, se são criados
como mulheres durante a infância, quando atingem a adolescência os níveis de
testosterona aumentam drasticamente e essas alegadas meninas começam a ver
como seus corpos estão assumindo uma forma masculina: voz grossa, face
masculina, maior musculatura e seu “clitóris” aumenta de tamanho até
parecerem mais ou menos com um pênis. Pode-se dizer seriamente que foi a
“cultura” que causou tais modificações?
No entanto, a neurociência e a genética não são o assunto deste livro; só
pretendemos, nessas breves linhas, dar uma mostra ao leitor que, no que diz
respeito à sexualidade, a ciência deu passos enormes que estão longe do que as
ideólogas feministas reivindicam, isto é, reduzem tudo a uma explicação cultural
que permite, posteriormente, a chamada “desconstrução” (ou melhor, destruição)
de nossa cultura. Mas os neurocientistas, como vimos, são muito claros: o
cérebro, além de manter as condições pré-natais em termos de sexualidade,
realiza toda uma série de operações muito complexas cujos padrões não estão
localizados em contextos culturais; nem no monismo explicativo, reduzindo tudo
a questões biológicas: ao contrário, eles estão muito conscientes da relevância da
cultura para os seres humanos, mas sem torná-la o fator explicativo exclusivo. O
antropólogo e sociólogo Roger Bartra propôs, por exemplo, uma “antropologia
do cérebro” na qual o pensamento é uma ferramenta que nos serve para
reconectar com o objeto e, para isso, o cérebro deve naturalmente ter conexões
com o cultural: “O cérebro depende de usos de processos simbólicos, através dos
quais as redes neurais são imbuídas dos produtos da cultura: é que o cérebro, se
for considerado como um espaço topológico, é tanto um interior quanto um
exterior”.[247] Assim, a sexualidade no ser humano deve ser entendida como um
complexo entrelaçamento de natureza e cultura; nem natureza prescindindo da
cultura (porque a sexualidade seria puro instinto, desprovida de particularidade e
função social); nem cultura prescindindo de natureza (porque senão seria
inapreensível auniversalidade do sexo, suas regras e sua função natural) Mas, na
dialética cultura-natureza, as formas culturais que triunfam são aquelas que
andam de mãos dadas com as condições e limites que a natureza estabelece; caso
contrário, acabaremos fingindo orgasmos masturbando braços com consolos
coloridos e fingindo salvar o mundo com utopias lésbicas.
A mulher e o capitalismo
Se presumimos que a vasta maioria das feministas são “de esquerda”, isto
acontece porque sua pregação geralmente está ligada a lutas contra o
capitalismo, ao menos desde aquilo que definimos como a segunda onda até os
nossos dias, como já vimos. Isso se torna ainda mais visível se, procurando
definir o que é o capitalismo, nos voltamos para um de seus maiores intelectuais
e expoentes, ganhador do Prêmio Nobel de economia, Milton Friedman, que em
Capitalismo e Liberdade simplificou o assunto dizendo que devemos chamar
capitalismo o modo de organizar a maior parte da atividade econômica através
do setor privado operando em um mercado livre.[248] Com efeito: não havia sido
o nascimento da propriedade privada a origem do “patriarcado”? Se bem que
muitas feministas da terceira onda entenderam que havia um reducionismo em
Engels, a verdade é que não deixaram de ver no capitalismo o pilar que suporta o
“regime patriarcal” e, além disso, um dos alvos mais importantes de sua cruzada
política.
Não está entre os objetivos deste livro fornecer uma teoria completa sobre
as ligações das mulheres e do capitalismo, mas é nosso interesse ao menos
delinear uma hipótese neste curto subcapítulo, que no futuro pode (deve) ser
aprofundado.
Houve um tempo em que o poder derivou principalmente da força física. A
opressão da mulher, pelas condições naturais de seu corpo, não deveria estar
isenta de desconfortos naqueles momentos de nossa espécie. Tratada como
escrava e como objeto sexual, a autonomia foi completamente negada. Ela
poderia ser obtida pelo macho por concessão, rapto, compra ou troca, não
importava.[249] Seu status e o de uma coisa eram o mesmo. Em muitos dos
chamados “povos originais”, paradoxalmente idolatrados pela mesma esquerda
que se diz feminista, as mulheres eram o objeto preferido de sacrifício aos
deuses.[250] A diferença de corpos moldava os padrões e instituições culturais que
simplesmente consolidavam as relações de poder existentes, dadas pela
assimetria física, pela diferenciação inicial substantiva. Assim, é impossível
pensar em um fator de poder anterior à própria natureza física, porque qualquer
outro fator original que possamos pensar fora daquele, enquadra-se nos domínios
da cultura.
O problema que surge é, então, como a mulher poderia quebrar as correntes
que sua condição física lhe impôs no começo (e numa parte muito importante)
da história. E eu intuo que o capitalismo teve muito a contribuir para este
processo.
É possível, antes de tudo, e pode até se compatibilizar com as teorias de
Engels, que a propriedade privada tenha nos libertado da poligamia. Mas não
dessa poligamia utópica e quimérica (em termos corretos chamado de
“poliandria”), que teria ocorrido sob regimes matriarcais improváveis, negados a
esta altura por importantes feministas como a própria De Beauvoir e por recentes
estudos antropológicos.[251] É mais provável, por outro lado, que a poligamia
tenha sido não a cristalização do poder das mulheres, mas dos homens: tomar
quantas mulheres sua força fosse capaz de manter ante a concorrência de outros
homens foi a lógica imperante. O direito da primeira noite[252] europeu, cujos
beneficiários eram os senhores feudais, vem confirmar essa hipótese. Nas
cidades pré-colombianas, o pacto de los macehualtin tinha a mesma função.[253]
Muitos povos indígenas, como os mapuches ou diaguitas, onde o número de
esposas era limitado pela possibilidade mantê-las afastadas da ambição dos
demais, para citar apenas dois exemplos, podem dar conta disto. Também é
amplamente conhecido que a poligamia no povo asteca foi reservada
exclusivamente para alguns homens,[254] e a bem da vedade, os exemplos não são
poucos ainda que excedam o espaço naturalmente reduzido destas páginas.
Mas as demandas da propriedade privada e o acúmulo de capital têm sido
um fator fundamental no ser humano para atacar esse esquema relacional. As
mulheres e seus pais — especialmente de níveis materialmente elevados —,
zelosos de cuidar das propriedades da família nos sistemas conjugais — que
eram transferidas para o marido por regra geral —, começaram a pressionar no
sentido da monogamia, para assim evitar que acabassem distribuídas e
fragmentadas entre muitas outras possíveis mulheres que o homem poderia
tomar. E vale a pena enfatizar: tudo isso não ocorreu como resultado do valor do
amor — que será vinculado ao casamento muito mais tarde, como outro
resultado importante da instituição do contrato —, mas por um cálculo
capitalista primitivo. A essas forças materiais devem ser acrescentadas outras
espirituais, que vieram da mão do cristianismo: “não desejar a mulher do
próximo”, um importante mandamento cristão, fala claramente de uma nova
moralidade que sustenta a monogamia.
É interessante, e do mesmo modo afirmativo do que foi dito antes, o que
aconteceu com o mundo feudal. Com efeito, é o esquema da propriedade feudal
e do cálculo capitalista primitivo que deriva dela, que deu lugar a novos espaços
de poder e protagonismo para as mulheres (da nobreza, é claro). De fato, a lógica
da acumulação foi enfrentada em muitos casos, sob esquemas de herança
reservada aos filhos, e a possibilidade de perder tudo se uma família tivesse
gerado apenas mulheres. Assim, a herança, para as necessidades materiais dadas
pelo atual sistema de propriedade, foi estendida em alguns casos às herdeiras do
sexo feminino. O mesmo aconteceu com o poder político: na ausência de
crianças do sexo masculino, tornou-se necessário estender o que hoje
chamaríamos de “direitos políticos” às mulheres para manter certas famílias no
poder. A monarquia da casa de Trastámara de Castela é apenas um exemplo da
questão. Mas o importante papel que as mulheres começaram a desempenhar nos
tribunais é bem conhecido: Isabel, a católica, Elizabeth da Inglaterra, Catarina da
Rússia, Cristina da Suécia, este último exemplo claro de como o esquema de
sucessão masculina de poder foi transformado em um feminino a partir da
ausência do filho varão. É possível acrescentar que, ao contrário do que indica o
senso comum sobre a idade medieval, nesse processo se fez algum progresso se
o compararmos com o mundo antigo e os povos indígenas: na Inglaterra, no sul
da França e na região centro-européia, multas severas e punições (conhecidas
como legerwite) foram impostas ao abuso e à violência sexual contra mulheres,
por exemplo.[255]
Mas de volta à situação original das mulheres, Ludwig von Mises, um dos
pais da Escola Austríaca de Economia, chamaria o tipo de relações sociais
baseadas na força de “princípio despótico”,[256] o qual vai desaparecendo com a
introdução da mencionada instituição do contrato nas sociedades, instituição cuja
expansão vem efetivamente da mão da consolidação da propriedade privada.
Com efeito, o contrato deixa a lógica da força física; estabelece um intercâmbio
guiado por regras que devem ser cumpridas precisamente para evitar relacionar-
se através da força. O papel reservado para a coerção é depositado em um
terceiro, que monitora o cumprimento do contrato. O capitalismo, como um
sistema baseado no reconhecimento e proteção da propriedade privada mais do
que qualquer outro e parte da origem do nosso Estado moderno — como uma
organização que garante o cumprimento de nossos contratos — é, portanto, um
sistema onde o contrato se mostra como um elemento fundador das relações
sociais mais importantes.
Pondo de lado os relacionamentos baseados na força física, o capitalismo
introduz na sociedade o que poderíamos chamar de “lógica de mercado”,
baseada na possibilidade de beneficiar-se servindo aos outros.[257] Se a força
física tem que ser eliminada de minhas possibilidades, a maneira de conseguir
algo que eu quero não é batendo na cabeça da outra pessoa, mas oferecendo algo
em troca do qual a outra parte queira mais do que o que ela possui. O “maldito
mercado” que a esquerda tanto nos chama a temer, então, nada mais é do que
uma abstração de nós mesmos e de nossas valorações; o mercado é
simplesmente a maneira de nomear o tempo e o lugar onde nós, as pessoas de
carne e osso, podemos trocar livremente com os outros em benefício próprio,
ficando sujeito nosso exito na troca a nossa capacidade de beneficiar os outros. É
por isso que os grandes nomes da história, com o capitalismo, passaram de
guerreiros, caciques e tiranos a inventores, cientistas e empreendedores.
Com o estabelecimento progressivo dessa lógica que descrevemos, a
mulher estava encontrando espaços maiores na vida social. Com efeito, o
mercado é cego — deve ser cego para alcançar eficiência — a dados não
econômicos como raça, religião, etnia e, é claro, sexo. Não anda de mãos dadas
com a lógica do mercado pagar mais por um bem simplesmente porque quem o
oferece é um homem, em detrimento do mesmo bem oferecido mais barato por
uma mulher. No mercado, qualquer empresa que seja estúpida o suficiente para
dispensar mulheres qualificadas ou pagar a mais para homens não qualificados,
mais cedo ou mais tarde será ultrapassada por outra empresa que não discrimine
com base no sexo.
A lógica do mercado pode entender por que as sociedades tiveram um antes
e um depois, um verdadeiro ponto de viragem, com a introdução do capitalismo
em todos os aspectos materiais da vida que, vale a pena esclarecer, segue nos
transformando em ritmos cada vez mais acelerados. A Revolução Industrial foi
filha dessa nova maneira de organizar e pensar. Com efeito, foram criados
incentivos sem precedentes para que as pessoas pudessem se elevar econômica e
socialmente, não oprimindo os outros, mas servindo-lhes. E assim, os imensos
avanços tecnológicos que desde a consolidação do capitalismo até hoje a
humanidade viveu são fundamentalmente produtos dessa lógica. Embora pareça
politicamente incorreto, nosso bem-estar material parece depender
fundamentalmente do egoísmo dos outros, como foi dito no século XVIII por
ninguém menos que Adam Smith.
Seria absurdo ignorar o fato de que a tecnologia ajudou a liberar as
mulheres de várias maneiras. Em primeiro lugar, compensando sua fraqueza
física. O que anteriormente eram trabalhos reservados exclusivamente ao homem
por razões físicas, como a construção, graças à maquinaria cada vez mais
avançada, abriu-se e continua a abrir-se para o mundo feminino, pois a
tecnologia reduz as necessidades físicas no trabalho e, além disso, cria novos
tipos de trabalho o tempo todo e em toda escala.[258] Hoje praticamente não há
trabalho baseado exclusivamente em força física. Não mais o corpo, mas o
conhecimento, tornou-se o fator mais importante na produção. Por isso, diz-se
que vivemos em “sociedades do conhecimento”. A antropóloga Helen Fisher, em
seu livro O Primeiro Sexo (1999),[259] apresentou uma idéia interessante: a
cultura empresarial, em nossa economia globalizada capitalista e baseada no
conhecimento, logo favorecerá mais às mulheres do que aos homens (daí o título
da obra, que inverte o sentido de Simone de Beauvoir). Há dados fortes que
parecem validar a tese de Fisher: hoje as mulheres vivem em média dez anos a
mais que os homens, graduam-se em universidades 33% mais que os homens,
controlam 70% dos gastos de consumo em todo o mundo e — de acordo com a
revista Fortune — são proprietárias de 65% de todos os bens nada menos do que
nos Estados Unidos.[260]
Mas a tecnologia não só ajuda as mulheres em relação a sua relevância
social e profissional, mas todos os tipos de avanços, pequenos e grandes, que
desde o início do capitalismo até hoje têm sido experimentados, também têm
ajudado a fazer sua vida diária uma vida muito melhor. A água potável, a higiene
e a medicina moderna nos ajudaram a diminuir substancialmente a mortalidade
infantil e, assim, foi reduzido o trabalho empregado na saúde e na assistência
infantil. Os benefícios das máquinas também foram mudando o lugar da própria
prole: antes concebida como um factor fundamental de produção, agora as
mulheres podem trazer filhos ao mundo sob critérios muito diferentes. As
mamadeiras e o leite de vaca pasteurizado, primeiro, e logo depois o leite em pó,
os extratores de leite materno e o leite congelado, reduziram em muito a carga da
mãe quanto à alimentação de seu bebê. A produção industrial de alimentos,
roupas e utensílios domésticos tornou mais barato comprar do que produzir
artesanalmente, e assim reduziram-se incrivelmente as tarefas domésticas das
mulheres; os eletrodomésticos acabaram de libertar a mulher do que há pouco
tempo haviam sido grandes cargas de trabalho doméstico. Mas esta realidade —
talvez ainda mais importante que a anterior — também contribuiu para relaxar os
duros esquemas de divisão sexual do trabalho de outrora, em que ao homem, por
seu trabalho fora de casa, não competia fazer praticamente nada dentro do lar.
Hoje a cozinha, por exemplo, também é um espaço masculino — basta ver
programas e publicidades relacionadas à gastronomia —; e de modo algum o
homem está eximido da limpeza, do cuidado com as crianças e outras tarefas
tradicionalmente femininas. O crescimento econômico que veio das mãos do
capitalismo também criou as condições materiais para que as meninas, ao invés
de serem mantidas em casa com tarefas domésticas e trabalho não-qualificado,
como costumava acontecer, fossem também enviadas cada vez mais, em maior
número, para receber instrução nas instituições educacionais (não é por acaso
que os liberais do século XIX foram os que mais lutaram por esse direito).
Diferentes produtos no mercado foram criados para ajudar as mulheres durante
seus ciclos menstruais, eles conseguiram que esses dias, antes dias mortos
quando as mulheres tinham que se abrigar em casa, se tornassem cada vez mais
semelhantes a qualquer outro momento do mês. A impressionante extensão de
expectativa de vida de nossa espécie,[261] da mesma forma, assegura à mulher que
sua passagem por este mundo não será reduzida à maternidade como no passado.
Os exemplos nos dariam todo um outro livro. (Devemos acrescentar como uma
digressão: não são por acaso as mesmíssimas condições materiais e ideológicas
que trouxeram o capitalismo as que possibilitaram o nascimento nada menos que
do pensamento feminista que hoje o combate?).
Sabemos agora, graças a indicadores econômicos internacionais que os
países onde há maior liberdade e abertura econômica — quer dizer, com maiores
graus de capitalismo da maneira que definimos com Friedman — é onde as
mulheres podem desfrutar de uma mais ampla margem de liberdade e igualdade
com os homens. Um exemplo disso é o Índice de Liberdade Econômica no
Mundo (2011), realizado pelo Fraser Institute. O Cato Institute cruzou os dados
deste último com indicadores sociais relativo às mulheres, que se desprendem do
Índice de Desigualdade de Gênero (IDG), do Programa de Desenvolvimento das
Nações Unidas (2010), e descobriu coisas assombrosas.[262] Entre outros,
verificou-se que a desigualdade entre homens e mulheres é duas vezes menor em
países com uma economia capitalista (0,34) do que aqueles que mantêm uma
economia fechada e reprimida (0,67). Além disso, outros indicadores são
significativos: em países economicamente mais livres, 71,7% das mulheres
concluíram o ensino secundário, enquanto nos menos capitalistas, apenas 31,8%
puderam passar por ele e terminá-lo; os parlamentos dos países economicamente
mais livres têm uma média de 26,8% de representantes mulheres, enquanto nos
países menos capitalistas essa representação é de 14,9%; a mortalidade materna
em países economicamente mais livres é de 3,1 por 100.000 nascimentos,
enquanto em países menos capitalistas esse número é de 73,1 mortes; a taxa de
fertilidade de adolescentes em países economicamente mais livres é de 22,4 por
mil mulheres entre 15 e 19 anos, enquanto em países menos capitalistas
encontramos 87,7 casos.
Mas, apesar de todas as evidências expostas, não devemos nos surpreender
que nossas feministas radicais detestem o capitalismo; afinal, como vimos ao
longo deste livro, o feminismo parece servir cada vez menos às mulheres e, cada
vez mais, à revolução cultural esquerdista. Já o dizia Chantal Mouffe quando
observou que “a política feminista deve ser entendida não como uma forma de
política, destinada a perseguir os interesses das mulheres como mulheres, mas
sim como a busca de objetivos e aspirações feministas no contexto de uma
articulação mais ampla de demandas”.[263] Ou seja, o feminismo deve fazer parte
do projeto do socialismo do século XXI, e deve usar essas bandeiras como uma
tela para ocultar essa “articulação mais ampla” que não aparece diante dos olhos
das pessoas bem-intencionadas que apóiam suas causas.
Da teoria à práxis
Neste capítulo, nós nos concentramos fundamentalmente na teoria,
enfatizando, no entanto, que ela é essencial para a prática. O que queremos dizer
com isso? Dizemos que as construções ideológicas, além de suas distorções da
realidade, têm conseqüências muito reais em nossas sociedades; isto é, em
última análise, a batalha cultural: gerar mudanças reais baseadas na mudança
cultural.
Por isso, consideramos apropriado fechar este capítulo coletando alguns
exemplos do que a militância feminista de nossos tempos é e pode oferecer e
alcançar através de sua luta política. Vamos nos concentrar especialmente no
feminismo argentino, mas, uma vez que a origem do feminismo ideológico está
dada muito mais em outros lugares, não economizaremos referências à
organizações de outras partes do globo.
Os “coletivos feministas” na Argentina são bem variados em relação a
nomes e siglas, embora todos sejam adeptos, em última instância, da esquerda
ideológica e política, e as mais importantes demonstrações de força agem em
conjunto. Um dos mais relevantes é “Pan y Rosas”, apêndice feminista nada
menos que do ultra-esquerdista Partido Socialista dos Trabalhadores (PTS). Em
sua carta de apresentação esta organização define a essência ideológica que tanto
temos enfatizado aqui: “Pan y Rosas acredita que a luta contra a opressão das
mulheres é também uma luta anticapitalista e, portanto, somente a revolução
social, dirigida por milhões de trabalhadores em aliança com os pobres e todos
os setores oprimidos por este sistema, que acaba com as cadeias do capital, pode
lançar as bases para a emancipação das mulheres”.[264] Este grupo promove uma
série de cursos chamados de “oficinas de gênero e marxismo”, alguns de seus
módulos são intitulados “A intersecção entre gênero e classe”, no qual estudam
as referências do feminismo pedófilo de Kate Millet, e “O Marxismo e
Feminismo Pós-Marxista”, onde as teorias de Laclau, Mouffe e, é claro, a teoria
queer de Butler se destacam. Pan y Rosas dedica-se principalmente à militância
de rua e à formação de quadros feministas.
Outra organização argentina que se destaca é “La Revuelta”, em cujo
[265]
site pode-se ler slogans como “Abortamos irmanadas, abortados em manada”.
Dedicam-se principalmente à perturbação urbana, estragando espaços públicos e
privados com pichações.[266] “Insubmissas ao serviço familiar obrigatório”, “Não
quero tua cantada, quero que você morra”, “Eu abortei, tua mãe também”, “O
aborto não tira férias”, “Vamos atacar úteros contra o capital!” “Putas ou santas,
mulheres abortam até na Semana Santa”, são alguns exemplos dos grafites
preferidos. Uma das dirigentes explica por que o nome desta organização:
“Alvoroço, gritaria causada por uma ou mais pessoas, sobressalto, inquietude,
motim, sedição, rebelião contra a autoridade, revolta, revolução”. E, em seguida,
o mesmo palavreado neomarxista de sempre: “denunciamos esta construção
capitalista e patriarcal do sexo masculino hegemônico mundial, em que os
corpos das nossas mulheres têm sido e é o território no qual foi construído,
impondo-nos seu conhecimento androcêntrico”[267] Como não poderia ser de
outra forma, a organização promove o lesbianismo como uma forma de resistir
ao “heterocapitalismo” celebrando a 7 de março o dia da “visibilidade lésbica”
sob o lema “não somos irmãs, nós comemos a buceta.”[268]
“La Revuelta” é parte de uma rede feminista para a qual várias
organizações convergem, chamadas “Salva-Vidas na Rede”.[269] O principal
objetivo é promover abortos caseiros e, por isso, difundem, por exemplo,
manuais sobre como matar de formas artesanais o filho que a mulher carrega em
seu ventre, tal qual um deles, intitulado “Como Fazer um Aborto com
Comprimidos. Instrução passo-a-passo”.[270] Além disso, deixam em seu site
linhas de contato telefônico para informarem-se das modalidades existentes a
fim de realizar um aborto. Em 2014, eles ajudaram 1.650 mulheres a abortarem.
[271]
Eles também têm um programa de rádio virtual chamado “Experiências
Corpo-Aborteiras”,[272] cujo slogan é “tornar as práticas aborteiras visíveis como
um gesto político”; as histórias são irreproduzíveis, mas todas são estruturadas
por um discurso segundo o qual matar o feto seria uma situação de “enorme
alívio” e “felicidade feminina”.
Na Argentina também temos a presença da associação civil “Católicas pelo
Direito de Decidir”, cujo nome contém em si duas grandes falácias: a primeira é
que o chamado “direito de decidir” é incompleto sem explicitar o que decidir.
Decidir matar uma pessoa em gestação não é igual a “pelo direito de decidir
quem serão nossos representantes políticos” ou “decidir que tipo de educação
receber”. Os direitos de um acabam onde os do outro começam; ninguém pode
arrogar-se o direito de acabar com uma vida que não é sua, e o nascituro que a
mulher carrega em seu ventre, como explicado no próximo capítulo de Nicolás
Márquez, por razões científicas, é um ser diferente da mãe. Podemos imaginar
uma gangue de seqüestradores em série que constituem uma associação civil
“pelo direito de decidir... seqüestrar pessoas”, por exemplo? Algo assim parece
ser o grupo “Católicas pelo Direito de Decidir”, porque estão pedindo para
decidir sobre a integridade física do ser que a mulher carrega em seu ventre,
como fica claro apenas olhando para seu site:[273] “Como fazer um aborto no
hospital e não morrer na tentativa?”, “Direito ao aborto: Decálogo para a
cobertura jornalística”, “Aborto em debate”, são algumas das publicações e
livros produzidos por esse grupo que ali podem ser descarregados. A segunda
falácia contida no nome é a do “católicas”. De fato, essas mulheres não apenas
se opõem à doutrina católica mais elementar, mas até seus objetivos nucleares
apontam diretamente para a promoção da violação de um dos mais importantes
mandamentos do Deus cristão: “Não matarás”. Se precisarmos de mais razões, a
Bíblia ensina que o que está no seio de uma mãe grávida é um ser humano (cf.
Salmos 139: 13, 15; Jeremias 1: 5; Lucas 1:13; Mateus 1:21). Ademais, a Bíblia
condena o assassinato direto dos inocentes (ver Êxodo 23: 7; Deuteronômio
27:25; Mateus 18:10 e 14). O que é mais inocente do que um menino ou menina
que ainda está no útero? Mas podemos continuar a acrescentar razões: para os
católicos, um filho faz parte do plano de Deus, ele é enviado por Ele para a
Terra; portanto interromper a vida desse filho enviado por Deus é interromper os
planos do mesmo Deus. E é tão grave pecado o do aborto, que a encíclica
Evangelium Vitae do Papa João Paulo II estabeleceu a excomunhão como
punição: “A excomunhão atinge todos aqueles que cometem este crime com
conhecimento dele, e, portanto, inclui aqueles cúmplices sem cuja ajuda o crime
não teria ocorrido”. É curioso notar que este grupo, apesar de dizer-se “católico”,
não tem nenhum tipo de atividade paroquial que não seja a promoção do pecado
do aborto.[274] Mas, neste ponto deve ficar claro para nós que o nome da
associação “Católicas pelo Direito de Decidir” é contradição tão absurda como
chamá-lo de “Católicas pelo direito de não acreditarem em Deus e ainda se
dizerem católicas.” No entanto, o nome em questão não é de forma alguma
inocente: o que se pretende com ele é instalar na opinião pública a idéia de que
há pessoas que, pertencentes à mesma Igreja Católica que as feministas atacam,
acreditam e apóiam as demandas destas últimas. Da mesma forma, trata-se de
corroer a unidade discursiva da própria Igreja, dando a ilusão de que suas
posições mais fundamentais não são contempladas por todos os fiéis e que há
“outro caminho”, confundindo a comunidade católica. Em uma palavra, é a
velha tática do “entrismo”.
Voltando o nosso olhar para outro lado, um caso de organização feminista
exclusivamente lésbica na Argentina é “As Fulanas”, que na carta de
apresentação de seu site diz: “Ser feminista significa para nós reconhecer a
existência de um sistema patriarcal heteronormativo [...]. Nós acreditamos no
socialismo como um sistema de organização político-econômico, porque
consideramos justa a propriedade pública dos meios de produção e
administração em prol do interesse da sociedade em geral e não de determinadas
classes ou grupos”.[275] Note que o tema da luta anticapitalista é uma constante
que parece não ter exceção neste tipo de agrupamentos. “As Fulanas” também
gostam de grafites em espaços públicos: “Como é difícil ser uma borboleta em
um mundo de vermes capitalistas”[276] é uma de suas “reflexões” favoritas.
É curioso notar, entretanto, que muitas dessas organizações feministas e
think tanks que promovem a ideologia de gênero e o aborto são muito bem
financiadas por ninguém menos que a ala esquerda do poder financeiro mundial.
Por exemplo, descobrimos que muitas recebem regularmente grandes somas de
dinheiro não menos que da International Planned Parenthood Federation
(IPPL) uma organização que administra um orçamento anual de 125 milhões de
dólares, uma soma composta em grande parte de grandes doações da Ford
Foundation e da Bill & Melinda Gates Foundation. O dinheiro também vem do
magnata Warren Buffett, que já doou aqui mais de 289 milhões de dólares.[277]
Foi recentemente descoberto que a filial americana da IPPL, a Planned
Parenthood Federation of America, possui um negócio milionário com os fetos
abortados, vendendo esse “produto” para a indústria cosmética, especialmente o
colágeno, e traficando órgãos. A pesquisa foi conduzida pelo Center for Medical
Progress,[278] que também encontrou evidências de abortos realizados até o
último trimestre da gravidez, e o uso de ferramentas que permitem aumentar as
probabilidades de conseguir retirar o bebê inteiro e até mesmo vivo, com o
objetivo de coletar “melhor e maiores tecidos”, como admitiu um dos altos
diretores da Planned Parenthood. Em uma das câmeras escondidas, o
ginecologista Deborah Nucatola, diretor de serviços médicos da quadrilha
criminosa em questão reconhece o cuidado que deve ser tomado para não
danificar certos órgãos que têm alto valor de mercado e acrescenta: “Temos sido
muito bons em obter coração, pulmão e fígado, porque tomamos cuidado para
não esmagar essas partes [...]. Para a caixa craniana, o bebê é removido das
nádegas. Assim, se pode obter uma caixa craniana intacta”.[279] Bem, a IPPL tem
em seu site suas informações financeiras até 2014. Revisando essas planilhas
podemos encontrar que só neste ano, várias organizações argentinas receberam
grandes somas de dinheiro: FUSA para a Salud Integral con Perspectiva de
Género y Derechos recebeu 451.718 dólares; Católicas pelo Direito de Decidir
receberam 244.320 dólares; a Anistia Internacional recebeu 44.850 dólares; o
Centro de Estudos Legais e Sociais (chefiado pelo ex-montonero Horacio
Verbitsky) recebeu 32.500 dólares.[280]
***
As organizações feministas argentinas têm o seu grande evento anual,
chamado “Encontro Nacional de Mulheres” uma reunião de três dias (onde
oficinas tais como aquelas intituladas “Estratégias para o acesso legal, seguro e
livre ao aborto” ou “As mulheres e o ativismo lésbico”), que reúne as feministas
do país e é caracterizado por fortes perturbações e atos de violência por elas
protagonizados no final das atividades, quando participam em uma grande
marcha. No final de 2015, por exemplo, a cidade escolhida para o XXX
Encontro Nacional de Mulheres foi Mar del Plata, onde as feministas foram à
Catedral, escoltadas por homens e mulheres do Partido Revolucionário Marxista-
leninista e pelo grupo H.I.J.O.S. (que congrega filhos de guerrilheiros e
terroristas de esquerda dos anos 70), com o objetivo de atacá-la e aos católicos
que ali estavam, com paus, artefatos incendiários e garrafas de vidro. Aqueles
que tentaram impedir as feministas de continuar a destruir o templo, disseram à
imprensa que se tratou de uma “violência nunca vista. Eles quebraram as grades
da Catedral e nossas mulheres e crianças tiveram que correr para dentro para
orar por todos... Graças à Virgem que nos protegeu, pudemos resistir à tentativa
de incendiar a Catedral. Quando eram pelo menos uns 5.000 ou 6.000
manifestantes de partidos marxistas, trotskistas, leninistas, etc., aqueles que
estavam nos atacando, finalmente chegou a infantaria”.[281] Também se sabia que
uma célula feminista atacou um idoso que estava rezando dentro da Catedral,
atingindo-o na cabeça com um objeto pontudo.
Na verdade, os atos de violência nesses eventos feministas não são a
exceção, mas a regra. Em 2014, a cidade que viu passar por suas ruas essa
marcha foi Salta, onde foram incendiadas bandeiras papais, símbolos cristãos, e
foram pintados slogans em ruas e edifícios públicos, privados e religiosos.
“Maria queria abortar”, “Jesus não existiu, Maria abortou”, “O aborto é dar a
vida”, “Eu abortei e eu gostei”, “Aborte o macho”, “Somos más, podemos ser
piores”, “Morto o homem, acabou a raiva” “Nem Deus, nem amo, nem marido,
nem patrão”, “Machadada no machão”, são alguns exemplos de slogans com os
quais elas sujaram toda a cidade.[282] Um grupo de católicos ficou na frente de
uma igreja, de mãos dadas, rezando o terço, sendo atacados por ativistas
feministas que lhes atiravam coisas, pintavam seus corpos, cuspiam-lhes e lhes
insultavam, enquanto eles, sem responder aos ataques, continuavam rezando.[283]
Feministas acabaram queimando uma imagem da Virgem Maria enquanto
faziam sexo uma com a outra em frente ao templo.[284] Um ano atrás, esta mesma
reunião tinha sido em San Juan, e as feministas foram novamente à Catedral da
cidade onde encontraram os católicos a rezar o terço, e se dispuseram a pintar
com aerossol suásticas em seus corpos e bigodes em seus rostos, sem que eles se
perturbassem.[285] Em Córdoba, em 2007, exatamente o mesmo: pedras contra
pessoas que rezavam na Catedral, pintavam-lhes e até jogavam garrafas com
urina humana e outros detritos contra os católicos.[286] Em Tucumán, em 2009,
novamente: eles atacaram prédios públicos, privados e religiosos e, de acordo
com o que a Polícia de Tucumán disse depois à imprensa, “eles jogaram tinta;
depois houve alguns que fizeram suas necessidades onde estávamos e jogaram
matéria fecal no pessoal da polícia”.[287] (Como vemos, a brutalidade não seria
apenas uma fonte de prazer sexual para os ideólogos de gênero, mas também de
combate de rua). No encontro de 2010 no Paraná, as feministas agrediram verbal
e fisicamente outras mulheres pelo simples fato de serem católicas, causando em
muitas delas lesões consideráveis.[288] A mesma coisa já havia acontecido em
Salta, quando em uma oficina em favor do aborto, um grupo de participantes
ousou questionar essa prática e foi literalmente expulso da sala.
Nessas marchas, que o leitor pode ver em inúmeros vídeos que foram
carregados no YouTube, as bandeiras dos vários partidos esquerdistas e
comunistas estão sempre presentes e visíveis. É que o feminismo é apenas uma
nova máscara de algo muito antigo; muitas vezes são exatamente as mesmas
pessoas. É curioso notar também que existem universidades que financiam as
viagens de ônibus dos militantes que moram em outras partes do país para que
possam inchar o evento.[289] Praticamente todo o “encontro” é baseado em
reivindicar o direito de matar o nascituro e, acima de tudo, solicitar que o Estado
financie esse genocídio. O símbolo da foice e do martelo é um clássico dessas
manifestações. E outro clássico são as mulheres com os seios de fora, todas elas
na maioria dos casos cultivadoras da repugnância estética.
Aqui queremos fazer uma digressão: como em muitos casos o feminismo
leva a entender o lesbianismo como uma opção sexual conforme as demandas
ideológicas de suas próprias crenças políticas, o culto da fealdade é outro
fenômeno que aparece com surpreendente freqüência em feministas militantes.
Tanto assim é que existem muitas piadas que a sabedoria popular tem inventado
sobre isso, e muitas vezes se diz que não há nada menos feminino do que uma
feminista. Tudo isso, é claro, está enraizado na teoria, e não foi outra senão a
feminista radical Naomi Wolf que, na década de 1990, publicou O Mito da
Beleza, onde disse ao feminismo que a beleza feminina era outra das tantas
opressões que o “patriarcado” onipresente e amaldiçoado havia criado. Idéias
como essas ajudam a entender por que geralmente achamos que,
independentemente do que cada uma traz por natureza, há um esforço para
acentuar a fealdade[290] como uma maneira de construir uma identidade estética
pessoal em mulheres que militam e se comprometem com a causa do feminismo
radical de nossos tempos. Ocorre que o próprio feminismo acaba se
apresentando como uma ideologia extremamente totalitária, na medida em que
subordina as múltiplas dimensões da vida pessoal (incluindo a maneira pela qual
apresentam rostos e corpos à sociedade!) a um único critério político-ideológico
que ordena todo o resto.
Voltando ao nosso tema central, outra questão que serviu ao feminismo
argentino para se tornar visível e conseguir apelos realmente importantes é a
chamada “violência de gênero”, um problema que está na boca de todos e é a
causa de numerosas manifestações em todo o mundo. Foi assim que a marcha
#NiUnaMenos foi convocada em 2015, na qual milhares de pessoas
compareceram com a finalidade expressa e exclusiva de repudiar a violência de
determinados homens contra as mulheres e pedir por uma reação do Estado (que
consideramos muito louvável); mas isso, em grande medida, tornou-se a
desculpa de organizações feministas para promover sua luta pelo genocídio
contra o nascituro. Com efeito, a manifestação foi rapidamente invadida por
cartazes em favor do aborto que diziam “Para dizer nem uma a menos é preciso
legalizar o aborto”. Além disso, entre os pedidos mais destacados da
manifestação foi encontrada a “regulamentação da totalidade dos artigos da Lei
Nacional 26.845, de Proteção Integral da Mulher, com aprovação do orçamento
acordado”. Esta lei, desconhecida pela grande maioria dos que participaram da
manifestação, em seu artigo 3, parágrafo e), estabelece o direito das mulheres de
“decidir sobre a vida reprodutiva, o número de gestações e quando tê-las”. O que
obviamente inclui a decisão de matar ou não matar o ser que, carregando um
DNA diferente do seu, eventualmente se encontre em seu ventre. Milhares de
pessoas assinaram petições com esse título, sem conhecer detalhadamente o que
elas estavam endossando.
Mas, além dessa manifestação particular, vamos refletir brevemente sobre a
chamada “violência de gênero”. Seria interessante perguntar em primeiro lugar:
por que a violência deveria ter gênero? Levantar a questão sob nenhuma
circunstância implica em defender a violência contra as mulheres, exercida por
bestas que se chamam homens; antes do fanatismo dos slogans, é sempre bom
deixar algumas coisas claras. Levantar a questão não envolve a intenção de
relativizar o problema em questão; pelo contrário, o que a questão encerra é a
intenção de tornar o problema mais refinado. Pois somente admitindo que a
violência não tem gênero podemos começar a ver uma situação muito mais
completa que aquela que apresenta uma visão que corta a realidade social pelas
faixas de gênero: o problema é a violência como tal.
Para começar, na Argentina, 83,6% dos assassinos são homens e 16,4% são
mulheres.[291] Isso prova que temos que nos preocupar mais com o primeiro que
com o segundo? A questão é tão ridícula quanto o próprio fato de analisar o
problema da violência a partir de uma perspectiva de gênero. O problema é a
violência, independentemente do sexo. Caso contrário, o que se instala é uma
idéia tão falsa que foi de fato instalada em nossas sociedades: que a violência de
gênero é simplesmente a agressão do homem contra a mulher, e que essa
agressão é motivada em todos os casos por um ódio de gênero. De fato, desde a
própria Nações Unidas, a violência de gênero foi definida como “aquela que
atinge indivíduos ou grupos com base em seu gênero”,[292] embora a aplicação
diária que é dada seja simples e exclusivamente a violência do homem em
relação às mulheres que, independentemente dos motivos reais, aceitam o ódio
ao sexo feminino como tal. Um grupo feminista, por exemplo, define violência
de gênero como “violência endêmica em relações íntimas entre os dois sexos,
iniciada por homens contra mulheres com o objetivo de perpetuar uma série de
papéis e estereótipos criados para continuar com a situação de desigualdade
entre homens e mulheres”.[293] Isso é o que foi introjetado no senso comum de
nossas sociedades. Mas essa afirmação é completamente ideológica, porque não
só carece de apoio empírico, mas há vários estudos que provam que as mulheres
também podem iniciar a violência contra os homens e, de fato, isso acontece
com freqüência.
Aqui está um breve passeio por alguns deles: em um estudo longitudinal
realizado nos Estados Unidos por Murray Straus e Richard Gelles com mais de
430 mulheres vítimas de maus-tratos, verificou-se que o homem deu o primeiro
golpe em 42,6% dos casos, enquanto a mulher fez isso em 52,7%.[294] A Pesquisa
Nacional de Violência Familiar nos Estados Unidos (1990) descobriu que
homens e mulheres tinham a mesma probabilidade de atacar seu parceiro no
contexto de um conflito.[295] O Departamento de Justiça dos Estados Unidos
analisou os 75 maiores condados judiciais e descobriu que de 540 assassinatos
entre os cônjuges, em 318 (59%) casos a vítima foi do sexo feminino, e em 222
(41%) casos quem terminou morto foi o homem.[296] Martín Fiebert, da
Universidade da Califórnia Long Beach, com base em 117 estudos que reuniram
72.000 casos, concluiu que “a violência doméstica é mútua e, nos casos em que
há apenas um agressor, este é um homem ou uma mulher igualmente”.[297] Na
Universidade de Hampshire, estudos conduzidos pelo Laboratório de
Investigações Familiares em 1975, 1985 e 1992 descobriram que “as taxas de
abuso eram semelhantes entre maridos e esposas”.[298] No estudo clássico de
Alice Eagly e Valerie Steffen sobre a violência, descobriu-se que os homens são
pouco mais violentos do que as mulheres.[299] Em uma pesquisa realizada na
Universidade de Lima, verificou-se que as mulheres atacaram psicologicamente
em 93,2% dos casos, enquanto os homens em 88,3%, e fisicamente as primeiras
em 39,1% dos casos, contra 28% por parte dos homens. A Universidade
Nacional do México, com a ajuda de dados do Centro de Atenção à Violência
Doméstica no México, descobriu que 2 em cada 50 homens são vítimas de
violência física e psicológica por parte de sua parceira (algo semelhante foi
encontrado na Coréia, Japão, Índia e outros países da América Latina).[300] Na
Espanha, segundo dados do Ministério do Interior do ano 2000, o número de
vítimas entre os cônjuges naquele ano era de 64 mulheres (59,26%) e 44 homens
(40,74%),[301] embora os casos em que a pessoa acabou morrendo foi muito
maior entre as mulheres (44 contra 7), no entanto, se acrescentarmos nessa
análise os casais de fato e os amasiados, os números voltam a aproximarem-se
(67 mulheres assassinadas contra 44 homens assassinados).[302] A socióloga
Suzanne Steinmetz publicou um artigo no qual demonstrou que os homens
também poderiam ser vítimas de violência doméstica, o que lhe rendeu “ameaças
de morte contra ela e seus filhos”.[303] Daniel O'Leary et al. usaram uma amostra
nacional representativa de jovens adultos e descobriram que 37% dos homens e
43% das mulheres relataram terem sido violentos contra seu parceiro pelo menos
uma vez durante o ano anterior.[304] Em Kentucky (Estados Unidos), a Law
Enforcement Asistance Administration estudou casais com problemas violentos,
descobrindo que 38% dos ataques eram de mulheres contra homens. Na
Inglaterra e no País de Gales, a British Crime Survey revelou que 4,2% das
mulheres e 4,2% dos homens relataram ter sido agredidos fisicamente pelo
parceiro.[305] Outro estudo na Inglaterra, o de Michelle Carrado et al. examinaram
1.955 pessoas e descobriram que 18% dos homens e 13% das mulheres disseram
ter sido vítimas de violência física pelos seus parceiros em algum momento das
suas vidas.[306] No Canadá, Reena Sommer da Universidade de Manitoba
realizou uma investigação de vários anos e descobriu que 26,3% dos homens
admitiram ser fisicamente violentos contra a parceira em algum momento, em
comparação com 39,1% das mulheres que admitiram o mesmo com relação ao
homem.[307] Na Nova Zelândia está o “estudo de Dunedin”, no qual 1.020
pessoas foram examinadas por vinte e um anos, e onde foi descoberto que 37%
das mulheres relataram ter sido violentas com seus parceiros, enquanto 22% dos
homens admitiram o mesmo.[308]
É surpreendente que, à luz desses dados que provam que a violência não é
exclusiva de um sexo, exista, no entanto, tanto desequilíbrio entre o interesse
dado ao caso da violência do homem contra a mulher em comparação com a
importância que se dá a violência da mulher contra o homem (na verdade, esta
última é uma causa de humor em nossas sociedades). A academia não parece
muito interessada quando a vítima é do sexo masculino. Os pesquisadores Ann
Frodi, Jacqueline Macaulay e Pauline Thom revelaram, por exemplo, que dos
314 estudos sobre violência conduzidos ao longo de sete anos, apenas 8%
estavam preocupados com a violência feminina.[309] Em outros casos, quando os
números não fecham como o desejado, eles são diretamente suprimidos, como
foi o caso de um estudo conduzido por Leslie Kennedy e Donald Dutton no
Canadá para investigar a violência entre parceiros, que trabalhou com 707
homens e mulheres. Foram-lhes feitas perguntas para determinar quantas vezes
exerceram violência contra o parceiro. Curiosamente, os dados sobre as
respostas das mulheres foram omitidos do trabalho publicado no Canadian
Journal of Behavioral Science, e foi então amplamente citado em um relatório
da Câmara dos Comuns, chamado “A Guerra contra as Mulheres”, que foi usado
para justificar onerosos programas e políticas públicas de gênero. No entanto,
alguns anos depois foram obtidos os dados que deliberadamente não haviam sido
publicados, sendo possível verificar que as taxas de violência eram semelhantes:
12,8% dos homens admitiram ter praticado violência contra as mulheres,
enquanto 12,5% das mulheres admitiram o mesmo contra os homens.[310] Na
Argentina, é interessante dar uma olhada no Manual Masculinidades, um livro
produzido e distribuído pelo governo argentino no tempos de Cristina Kirchner,
em que explica: “Chamamos [a violência] ‘de gênero’ porque são atos de
violência perpetrados contra alguém em função de seu gênero, isto é, porque é
uma mulher, ou porque é um homem efeminado, ou porque é uma pessoa
transexual”.[311] Isto é, é exercido contra qualquer pessoa com exceção do
homem heterossexual. Há algo mais sexista do que pedir justiça apenas para um
sexo? Aquele que pede justiça para alguns e não para os outros, não está
reivindicando justiça de forma alguma.
Finalmente, explicamos que, enquanto a violência de gênero é definida
como aquela motivada pelo ódio em relação ao outro sexo, o uso dessa categoria
foi estendido a todos os casos em que uma mulher é atacada por um homem,
criando a falsa impressão de que a violência que vai nessa direção é sempre
determinada pelo ódio sexual e que estamos imersos em uma “guerra de homens
contra mulheres”. Mas esse reducionismo não poderia explicar, por exemplo, por
que nos Estados Unidos se descobriu que a violência em casais de lésbicas e
homossexuais é tão ou mais freqüente do que a que ocorre em casais
heterossexuais.[312] Será que aqueles que desencadeiam comportamentos
violentos são movidos por algo um pouco mais complexo e variante do que a
simples aversão pelo outro sexo? Assim, seria muito mais interessante mudar a
palavra “violência de gênero” para uma muito menos ideológica, que não
limitasse os motivos de violência somente a um, como a categoria “violência
familiar” ou “violência entre o casal”. Eis a compreensão da violência como um
todo, levando em conta que homens e mulheres podem ser violentos uns com os
outros e por causa das mais variadas causas, podemos avançar com muito mais
força na erradicação da violência como tal.
***
Vimos algo aqui sobre algumas organizações locais e suas principais
bandeiras e demandas políticas e ideológicas. Elas são uma constante na maioria
dos grupos feministas do mundo, embora, é claro, quando em determinado país
se consegue, por exemplo, a legalização do aborto, o feminismo, longe de
desaparecer com a realização do objetivo em questão, se move para uma nova
fase em que a aposta é dobrada. De fato, parece que o feminismo tem, em termos
gerais, uma agenda cuja realização está gradualmente ocorrendo, onde cada
passo alcançado leva a uma reivindicação mais radical. Portanto, o estágio da
radicalidade não é o mesmo em todos os países. Na Argentina, por exemplo, não
é freqüente encontrar, pelo menos não de maneira tão visível, a articulação que o
feminismo tem feito, a partir da teoria e muitas vezes desde a práxis, de práticas
como a pedofilia, que em outros países onde os objetivos tais como a legalização
do aborto (central para o feminismo latino-americano) já é coisa passada porque
já foi cumprida. Um caso proeminente a ser mencionado a esse respeito é o da
Associação Feminista Holandesa, que assinou petições públicas para obter a
legalização da pedofilia. Estritamente falando, não são poucas as organizações
feministas européias e americanas que têm laços estreitos com organizações
pedófilas como NAMBLA (North American Man/Boy Love Association) e o
IPCE (International Pedophile and Child Emancipation). Como referência do
ativismo feminista que começou a expressar suas demandas com a pedofilia
sobressaem os casos de Pat Califia,[313] Camille Paglia,[314] Katharina Rutschky e
Gisela Bleibtreu-Ehrenberg.
A questão não é menor em vista do impressionante lobby para normalizar a
pedofilia que está sendo levado adiante, usando as ferramentas conceituais da
ideologia de gênero que, como vimos, nos repete que tudo sobre a nossa
sexualidade é uma simples “construção social” que deve ser destruída. Por que
devemos nos abster de fazer sexo com crianças por causa de critérios tão
“arbitrários” e “culturais” quanto a idade? Isso já se perguntavam muitas
feministas radicais da terceira onda como vimos. Alguns fatos ilustram o atual
estado de coisas: as principais instituições acadêmicas como a Queen’s
University (Canadá) já tem “educadores” como o professor emérito de
psicologia Dr. Vernon Quinsey que argumentam que a pedofilia é apenas uma
“orientação sexual a mais”, comparável à heterossexualidade ou à
homossexualidade; sistemas judiciais começaram a estabelecer jurisprudência
em favor da pedofilia, como o caso da recente decisão do Supremo Tribunal de
Apelações da Itália, que beneficiou um homem de sessenta anos que manteve
numerosas relações sexuais com uma menina de onze, com base de que o ato
teria sido consentido por ela (faz-nos lembrar dos argumentos hilários de
Firestone); em outros países se está buscando legalmente reduzir a idade mínima
do consenso sexual, como no Reino Unido, onde está sendo debatida a proposta
de Barbara Hewson para abaixá-la para treze anos (idade legalizada no Irã); A
Associação Psiquiátrica Americana (APA) em uma das edições recentes do seu
popular “Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais” (2013),
desclassificou a pedofilia como um “transtorno” (note a estratégia: há dez anos
foi considerada “doença”) e a colocou na categoria de “orientação sexual”,
embora na edição posterior houvesse uma retificação (ainda não haviam
condições para dar este passo?); o prestigiado Psychological Bulletin, publicado
pela mesma APA, alguns anos antes já havia publicado o estudo intitulado A
Meta-Analytic Examination of Assumed Properties of Child Sexual Abuse Using
College Samples (1998), realizado por professores da Universidade de Michigan,
Universidade de Temple e da Universidade da Pensilvânia, onde se encontrava
que o abuso sexual de menores “não causa conseqüências negativas a longo
prazo” e, portanto, concluiu que “o sexo consensual entre crianças e adultos, e
entre crianças e adolescentes, deve ser descrito em termos mais positivos, como
‘sexo adulto–menor’”(observe o significado da batalha cultural no nível da
linguagem); na Holanda, inclusive, foi legalizado um partido político
declaradamente pedófilo (“Caridade, Liberdade e Diversidade”),[315] e há um
grupo de sexólogos que pede para legalizar a pornografia infantil, entre os quais
estão Erik Van Beek e Rik van Lunsen, que sugeriram que seja o Estado a
controlar, produzir e distribuir o conteúdo erótico a pedófilos, argumentando que
“se a pornografia infantil virtual é produzida sob estrito controle governamental,
com um selo que mostra claramente que nenhuma criança foi abusada, poderiam
oferecer aos pedófilos uma maneira de regular seus impulsos sexuais”;[316] o
esquerdista Partido Verde da Alemanha também apoiou por um longo tempo a
causa do movimento pedófilo, e descobriu que um atual euro-deputado desta
facção política confessou em um livro de sua autoria (publicado em 1975) ter
mantido relações sexuais com várias crianças enquanto trabalhava em uma
creche; nos Estados Unidos, um grupo de pedófilos declarou o dia 23 de junho
como o “Dia Internacional do Amor às Crianças”, que é todos os anos também
celebrado no resto do mundo. Tudo isso está sendo levado adiante, sublinhemos,
de acordo com as ferramentas da ideologia de gênero, que teve sua origem na
teoria feminista. Na verdade, existem reconhecidos ativistas e ideólogos de
gênero que estiveram envolvidos e até mesmo condenados por relações sexuais
com menores, como o psicólogo Jorge Corsi, um ex-professor da Universidade
de Palermo, que dava seminários, como o intitulado “A Construção do sexo
masculino e a violência” e, além disso, foi convocado por uma comissão para
elaborar um projeto de lei sobre “violência de gênero”. O fato era que Corsi
acabou preso por fazer parte de uma rede de pedófilos que faziam festas sexuais
com crianças; diante das acusações, defendeu-se argumentando: “muitas das
coisas que estão sendo julgadas têm a ver com visões discriminatórias”;
“pedofilia não é um crime”; “se estamos evoluindo para a despatologização de
coisas que antes considerávamos patológicas, pode ser que isso também
aconteça”.[317] Não é isto uma confissão de sua parte sobre a estratégia
progressista que já explicamos?
Outras excentricidades que afetam as liberdades individuais também foram
inseridas no plexo das demandas políticas do feminismo nos países
desenvolvidos. O Partido de Esquerda da Suécia,[318] por exemplo, apresentou
um projeto de lei que obriga os homens a urinar sentados, como as mulheres têm
que fazer.[319] O Partido Liberal deste mesmo país, por sua vez, propôs legalizar o
incesto e a necrofilia (fazer sexo com os mortos).[320] A pressão ideológica e
política sobre a empresa de brinquedos TOP-TOY tem sido tão forte que a
condenaram socialmente por apresentar em seus catálogos meninos vestidos
como super-heróis e meninas como princesas. No final, eles tiveram que se
reacomodar às demandas hegemônicas e agora ilustram suas propagandas com
meninos brincando com bonecas e garotas atirando com metralhadoras. Na
Suécia, também podemos encontrar uma forte pressão para mudar a própria
linguagem do Estado: recentemente, um novo artigo “neutro” foi incluído no
idioma sueco, hen, que não teria o fardo de gênero como han (ele) e hon (ela).
Na Alemanha, não só estão sendo feitos experimentos com a linguagem em
centros de educação pré-escolar, mas também com a maneira de se vestir e,
dessa forma, os meninos são encorajados a escolher roupas de meninas e as
meninas a escolher roupas de meninos; ambos também não podem ser tratado
como “ele” ou “ela”, para não “incutir estereótipos de gênero”.[321] No Canadá, o
primeiro-ministro Justin Trudeau diz que as famílias devem “criar filhos
feministas”[322] e um projeto está sendo considerado para mudar o próprio hino
nacional, a fim de remover elementos “patriarcais”. Além disso, é deste país a
famosa ativista feminista Anita Sarkeesian, que quer proibir os jogos de vídeo-
game da Nintendo argumentando que a companhia “usou as fantasias de poder
de adolescentes e homens heterossexuais para vender mais jogos de vídeo-
game”; o famoso “Mario Bros” seria um dos mais “patriarcais” porque “de todos
os jogos da saga Mario, a princesa aparece em 14 cenas e é seqüestrada em
13.”[323] Vale acrescentar que Sarkeesiano costuma andar pela ONU solicitando
que a Internet seja censurada para lutar contra aqueles que não aderem ao
feminismo.[324] Acusações similares as do patriarcal Mario Bros foram
endereçadas contra o cartunista dos quadrinhos Spider-Woman (“Mulher-
Aranha”) da Marvel, acusado de ser “sexista” na forma como ele retrata as
mulheres; por causa da controvérsia desencadeada pela revista em questão, o
artista acabou sendo substituído pela empresa.[325] Na Espanha, encontramos o
partido chavista “Podemos”, em que milita a líder feminista Beatriz Gimeno
(deputada autônoma), que disse que “a heterossexualidade não é a maneira
natural de viver a sexualidade, mas uma ferramenta política e social com uma
função muito concreta que as feministas denunciaram décadas atrás: subordinar
as mulheres aos homens”; no que a deputada chama a fomentar “a não-
heterossexualidade”, já que “a heterossexualidade causa danos às mulheres”.[326]
Faltará muito tempo para que os esquerdistas do Podemos proponham a
proibição da heterossexualidade? Não sabemos. O que se sabe é que neste país já
se apresentou um projeto de lei para proibir a “cantada”, estabelecendo uma
multa de prisão e até uma sanção financeira de 3.000 euros para quem se atreva a
cantar uma mulher[327] — na Bélgica já existe uma lei sobre o assunto que
condena as cantadas com uma multa entre 50 e 1.000 euros e penas de até um
ano de prisão; na Argentina já existem alguns projetos semelhantes a caminho. A
Andaluzia, por sua vez, já tem inspetores do Estado que vigiam zelosamente
professores, professoras e alunos para que não usem linguagem impregnada de
gênero: “alunado” deve ser usado em lugar de “alunos”; “professorado” em vez
de “professores”; “a adolescência” em vez de “adolescentes”; “pessoal de
investigação” em vez de “investigadores”, entre outras ocorrências desse estilo.
[328]
O governo autônomo do País Basco, por sua vez, quer proibir o futebol nas
escolas porque é um “jogo machista” e acabar com “a distribuição sexista das
áreas de recreação”.[329] Na França, grupos de feministas conseguiram que a
população da cidade de Cesson-Sévigné proibisse a palavra “mademoiselle”,
equivalente a “senhorita”, como “discriminatória” e “machista”, porque revela o
estado civil sem que exista um correspondente masculino.[330] Na Inglaterra
encontramos o movimento Justice for Women, cuja co-fundadora Julie Bindel
(colunista do The Guardian) pensa e propõe que os homens têm de ser
confinados em campos de concentração — “as mulheres que queriam ver seus
filhos ou entes queridos masculinos poderiam ir visitá-los, ou retirá-los, como
um livro da biblioteca, e depois trazê-los de volta” — e espera “que a
heterossexualidade não sobreviva”.[331] Na América Latina, particularmente na
Colômbia, as feministas estão coletando assinaturas para proibir os mariachis, já
que “as letras destas canções perpetuam, celebram e reforçam padrões patriarcais
de comportamento.”[332] A lista é, francamente, inesgotável. Mas esses casos
servem como uma amostra de onde vem o problema.
Além de tudo isso, vale a pena notar que alguns aparatos repressivos do
Estado já estão sendo gradualmente postos em ação contra aqueles que ousam
criticar o feminismo. Isto começa a tomar um alto grau de seriedade, porque o
perigo para aqueles que não subscrevem a ideologia de gênero não mais seria
dado apenas pela reação violenta de grupos e ativistas, mas pelo poder de polícia
do Estado. Há um caso que se tornou emblemático: em novembro de 2012, o
canadense Gregory Alan Elliott foi demitido de seu emprego e preso pela polícia
de Toronto por ter discutido acaloradamente pelo Twitter contra as feministas
Stephanie Guthrie e Heather Reilly.[333]
Se a militância feminista radical continuar a introduzir suas proibições e
perseguições, não seria exagero intuir que em breve estaremos na porta de uma
verdadeira “ditadura de gênero”.
Breve comentário final da primeira parte
Acreditamos que chegamos a este ponto tendo dado um vislumbre da
evolução do feminismo desde sua gênese até nossos dias, não apenas do que faz
a ideologia feminista como tal, mas também das suas práticas concretas. Bem,
neste caso, é necessário dar um breve comentário final.
O feminismo teve uma origem nobre. Homens e mulheres lutaram pelo
acesso feminino aos direitos de cidadania, e isso representou um avanço para
todas as sociedades que cumpriram com essas exigências. Mas quando o
marxismo tornou-se o chefe do feminismo, definiu e difundiu uma ideologia
nociva de que “o homem é o burguês e a mulher o proletariado” (Engels),
injetando a noção de um conflito insolúvel entre os sexos: “A guerra contra as
mulheres”, parafraseando um projeto contemporâneo do Parlamento canadense.
A velha esquerda havia há muito tempo encontrado na mulher um grupo
social muito importante para sua revolução, mas subordinou-a à luta dos
trabalhadores. Era a revolução de classe que libertava os sexos, e não a
revolução dos sexos que libertava as classes. Mas isto mudou com o início da
crise do quadro filosófico — produto por sua vez de crises políticas e
econômicas — que alimentou o comunismo ortodoxo: surgiu em seguida uma
“nova esquerda”, ansiosa por encontrar novos grupos sociais — diferentes do
“proletário aburguesado” — que pudessem ser guiados na luta anticapitalista
contra as superestruturas sociais e morais que supostamente sustentam o sistema.
E assim vieram as feministas do gênero, dispostas a “desconstruir” até mesmo a
nossa própria natureza humana no âmbito de uma batalha cultural declarada, a
tal ponto que eles acabaram afirmando um paradoxo, que a mulher não existe.
É impossível não se surpreender com a distância inelutável que separa os
primórdios do feminismo de sua atualidade radical. A continuidade parece ser
simplesmente de nome, obrigando-nos a parar e fazer a seguinte pergunta: não
seria conveniente, a fim de evitar generalizações equivocadas, chamar por outro
nome as mulheres que lutaram séculos atrás por causas nobres? Ou então,
chamar de outra maneira nossas feministas radicais de hoje? Alguns já
começaram a usar essa estratégia, tendo batizado o último grupo com o
engenhoso rótulo de “feminazis”, em referência ao seu ódio político declarado
baseado em critérios sexuais. Outros usam a palavra “misandria” para marcar
seu caráter inverso da ideologia “machista”. Dado que é a linguagem o terreno
principal de sua luta cultural, acho interessantes não só estes exemplos, mas
também o inovar com formas de nomear esses grupos, e evitar a confusão que
eles mesmos promovem para dar a sensação de aprovação geral para a sua causa.
De fato, o “feminismo” é um rótulo que normalmente desperta simpatias
quase automáticas, e nosso inconsciente coletivo automaticamente associa com
objetivos nobres, como a luta para o acesso aos direitos políticos ou o combate à
violência contra as mulheres. Mas temos certeza de que uma esmagadora
maioria das pessoas que podem ter lido este livro e que chegaram a esse ponto
em sua leitura, mesmo considerando-se “feministas”, não tinham conhecimento
prévio da maioria das informações fornecidas aqui. Os únicos que podem
aproveitar essa confusão gerada são as feministas radicais. Para muitos poderiam
argumentar: o que foi descrito aqui não é feminismo, é um radicalismo, é um
extremismo que nada tem a ver com o “feminismo real”. Mas a verdade é que
este radicalismo exposto aqui não só se autodenomina “feminismo”, como,
apesar daqueles que pensam que o feminismo é outra coisa, o é o feminismo
mainstream no mundo político e acadêmico; ademais, sua força como um
movimento ideológico nos aparece como uma curva que ascende
vertiginosamente e que já impõe suas demandas em muitos pontos do planeta,
sem praticamente ninguém se atrever a enfrentá-la.
PARTE II
Homossexualismo Ideológico por Nicolás Márquez
Capítulo 1: Comunismo e sodomia
A “homofobia” marxista
Dos grupos sociais que o neocomunismo cooptou como bandeira
revolucionária para sua renovada causa se encontra um que, paradoxalmente, a
esquerda mais ortodoxa tradicionalmente odiou, marginalizou, demonizou e
confinou em campos de concentração tanto quanto pôde: a comunidade
homossexual.
Para começar, foram os mesmíssimos ideólogos do comunismo os que
abominaram a sodomia e o próprio Friedrich Engels que, em carta dirigida em
1869 ao seu amigo e camarada Karl Marx, sobre o problema homossexual se
referiu nos seguintes termos: “Isto que me contas são revelações contra a
natureza. Os pederastas começam a se multiplicar e a dar-se conta de que eles
formam um poder dentro do Estado. Só lhes falta uma organização, porém
parece que isto já existe em segredo. E como estão infiltrando-se em todos os
velhos partidos e inclusive nos novos, desde Rösing a Schweitzer, sua vitória é
inevitável. Por sorte, nós somos muito velhos para ter medo de ver sua vitória, e
ter que dar com nossos corpos o tributo aos vitoriosos. Porém as novas
gerações... De qualquer maneira, somente na Alemanha é possível que um
homem como este apareça e converta o vício em teoria. Desafortunadamente,
[Karl Heinrich Ullrichs][334] não é suficientemente valente para confessar
publicamente ser ‘isso’ e todavia tem que agir às escondidas. Porém espera que o
novo código penal do Norte da Alemanha reconheça os ‘direitos do cu’, e isto
mudará bastante. Até para pobres homens como nós, com nossa infantil atração
pelas mulheres, as coisas estão indo mal. Se alguém pudesse entrar em contato
com o tal Schweitzer, provavelmente nos inteiraríamos de quem são as pessoas
das altas esferas que praticam a pederastia; não seria difícil para ele pois transita
por esses ambientes”.[335]
Não era a primeira vez que a emblemática dupla se referia com desdém ao
assunto. Engels condenou a homossexualidade em várias passagens de sua obra
A Origem da Família, a Propriedade Privada e o Estado (1884), descrevendo-a
como “moralmente deteriorada”, “abominável”, “desprezível” e “degradante”,
[336]
tanto é que Karl Marx respaldou a abordagem apoiando-se no senso comum:
“a relação de um homem com uma mulher é a relação mais natural de um ser
humano com um ser humano”.[337]
E, embora o homossexualismo fosse, com relutância, tolerado após a
Revolução Russa de 1917, o próprio Lenin desconfiava muito disso:
Parece-me que a superabundância de teorias sexuais [...] surge do desejo de justificar a
própria vida sexual anormal ou excessiva ante a moralidade burguesa e de suplicar por tolerância
ante a mesma. Este velado respeito pela moralidade burguesa é tão repugnante para mim quanto
é arraigado em tudo o que tem que ver com sexo. Não importa o rebelde e revolucionário que
possa parecer, ao fim da análise é completamente burguês. É, principalmente, um hobby dos
intelectuais e das parcelas sociais mais próximas a eles. Não há lugar para ele no partido, no
proletário consciente das classes e lutador.[338]
[Lenin, 1933]

Porém, à medida que Stalin eclipsava o poder de Lenin até apossar-se por
completo da revolução,[339] a sodomia passou a ser não só desprezada pela
doutrina senão combatida pela práxis: “Na sociedade soviética, com seus
costumes sãos, a homossexualidade é vista como uma perversão sexual
castigável, com exceção daqueles casos em que se manifesta uma profunda
desordem psíquica” sentenciava a Grande Enciclopédia Soviética,[340] em
consonância com o Código Penal Soviético, o qual penalizava a
homossexualidade em seu artigo 121 com ao menos cinco anos de confinamento
nos Gulags: entre 1934 e 1980 foram condenados cerca de cinqüenta mil
homossexuais.
Uma das biografias modernas mais completas publicadas sobre Stalin nos é
oferecida pelo historiador italiano Álvaro Lozano, em cuja obra Stalin, o Tirano
Vermelho dá muitos detalhes acerca do homem “virtuoso e viril” que o Estado
socialista se propunha construir à força: “Os camponeses, considerados
ignorantes e sujos, foram objeto de campanhas para convertê-los em ‘cultos’.
Eles foram ensinados a lavarem-se e a vestirem-se elegantemente à maneira
soviética, e inclusive se realizou uma campanha para que os homens fizessem a
barba. Uma instrução do Komsomol assinalava: ‘escovar os dentes é um ato
revolucionário’. Fumar era considerado prejudicial para o ‘corpo soviético’. Um
professor, Nikolai Gredeskul, anunciou criação de homens novos: seriam ‘o belo
homem do futuro’, parte trabalhador parte pensador [...]. A ordem de Stalin de
que vinte e oito milhões de homens bebessem uma garrafa de vodca por dia
durante quatro anos para elevar a moral garantiu que a seguinte geração de
russos tivesse uma clara tendência ao alcoolismo. [...] O regime impôs um novo
rigorismo moral como expressão da ética proletária do trabalho, e se proibiu a
homossexualidade”.[341] Dentro dessa última perseguição, houve um caso
particularmente divulgado – na medida em que esse sistema totalitário permitia
difundi-lo —, no qual se encarcerou o diretor de cinema Sergei Paradjanov –
condenado em 1974 e liberto após pagar vários anos de castigo nos campos de
concentração. Por conta de seu calvário, o deputado italiano Angel Pezzana
organizou em sua defesa uma conferência de imprensa no dia 29 de novembro
de 1977 em Moscou, a fim de protestar contra o impiedoso tratamento que o
totalitarismo soviético infligia aos homossexuais.[342] Finalmente, esta normativa
repressiva para com a sodomia se manteve vigente por décadas e só foi revogada
na Rússia em 1993, durante os abrandados tempos de Boris Yelstin, quando a
URSS, vítima de seu fracasso, já havia sido formalmente desarticulada, no ano
anterior.
Apesar de tudo isso, é notável como muitos homossexuais durante o Século
XX aderiram ou se filiaram ao Partido Comunista de seus respectivos países
(que como se sabe dependiam de Moscou), tal é o caso do argentino Héctor
Anabitarte, fundador de “Nuestro Mundo”, uma das primeiras ligas sodomitas
locais criada nos anos 60. Foi nessa contraditória militância que a Federação
Juvenil Comunista da Argentina enviou Héctor para a Rússia como
representação e participação dos festejos que ocorreriam por motivo do 50º
aniversário da revolução de outubro. Nesse contexto, o ansioso emissário entrou
em contato com Fedotov, sexólogo oficial da burocracia moscovita e, ao
perguntar-lhe sobre a homossexualidade, o burocrata russo respondeu
secamente: “Na URSS a homossexualidade não existe”.[343] Anabitarte voltou à
Argentina cabisbaixo e compungido. Pouco depois teve que abandonar sua
militância partidária ao advertir que suas preferências pessoais não teriam lugar
nela.
Quanto ao outro grande aparato de totalitarismo comunista, nascido em
1949 na autodenominada República Popular da China após a revolução de Mao
Tse Tung, a homossexualidade tampouco foi privada de perseguição e castigo:
os homossexuais eram condenados não somente a penas de prisão e castração,
mas também recebiam pena capital nos casos de reincidência. Em 1997 a
sodomia deixou de ser punida na China quando, ante a escassez e as fomes
ocasionadas pelo coletivismo, o país buscou “ocidentalizar-se” e assim abrir-se
para a economia de mercado.
Nas Américas, para não ser diferente, o comunismo cubano assinou
embaixo da máxima sentenciada pelo ditador Fidel Castro que rezava: “a
revolução não precisa de viado”.[344] Foi quando o eterno manda-chuva deu
vênia para seu subalterno e obediente fuzilador, o lendário Ernesto Che Guevara
– cujo rosto paradoxalmente costuma ser exibido e enaltecido nas manifestações
homossexuais contemporâneas – para que desenhasse a partir de 1959 aquilo que
foi o tristemente célebre campo de concentração para castigo de sodomitas
situado na península de Guanacahabibes, verdadeira ante-sala torturante do que
anos depois o próprio castrismo massificou na ilha mediante numerosos campos
de castigos sob o programa da UMAP,[345] aquela política de repressão estatal
que consistiu em seqüestrar homossexuais e submetê-los a todo tipo de vexames,
procurando com isso a sua reabilitação: “Nunca cremos que um homossexual
possa personificar as condições e requisitos de conduta que nos permitam
considerá-lo um verdadeiro revolucionário, um verdadeiro comunista. Um tal
desvio de natureza choca com o conceito que temos do que deve ser um
militante comunista [...] serei sincero e direi que os homossexuais não devem ser
permitidos em cargos onde possam influenciar os jovens”[346] declarou o próprio
Castro, que, coerentemente com as suas palavras, em 1968 ditou a seguinte
disposição no Primeiro Congresso Nacional de Educação e Cultura em Havana:
“Os meios cuturais não podem servir de base para a proliferação de falsos
intelectuais que pretendem converter o esnobismo, a extravagância, o
homossexualismo e outras aberrações em manifestações de arte revolucionária,
afastando-se das massas e do espírito de nossa revolução”.[347]
Algumas passagens meramente ilustrativas sobre o que durante décadas
ocorreu com a sodomia na Cuba castrista (o paraíso humanitário do bom
progressista ocidental) podem ser vistas no filme baseada em fatos reais “Antes
do anoitecer”,[348] que relata a vida do escritor homossexual Reinaldo Arenas,
brutalmente preso e torturado durante anos pelo castrismo. O próprio escritor
recordou que, pouco depois de Castro chegar ao poder, “começou a perseguição
e se abriram campos de concentração [...] o ato sexual se converteu em tabu,
enquanto que o ‘novo homem’ era proclamado e a masculinidade exaltada”[349].
Reinaldo Arenas padeceu prisão e tortura até 1980, ano em que pôde
recuperar sua liberdade ao ser autorizado a emigrar para os EUA, país onde,
finalmente, o sofrido escritor passou seus últimos dias. Padecendo de AIDS,
morreu em 1990.
Do extermínio à utilização proselitista
Paradoxalmente, sem maiores intervalos nem explicações claras, a esquerda
do século XXI agita bandeiras em favor da homossexualidade no afã de
promover e glorificar tudo quanto antes desprezou e destratou com inusual
crueldade.
Porém, antes de prosseguir com este tema e refletir acerca desta
assombrosa mutação, consideramos oportuno dar ao leitor o seguinte
esclarecimento: ao referir-nos à homossexualidade de agora em diante, o
faremos tanto aludindo à sua militância como à ideologia homossexualista que
existe nela, porém de modo algum ao indivíduo ou a indivíduos que, com
prudência e descrição, mantém em sua vida privada uma intimidade de caráter
homossexual. Dito de outro modo, os argumentos que exporemos ao longo de
nossas anotações terão como alvo não o indivíduo que padece a dita inclinação,
mas aqueles que a ideologizam fazendo dessa inclinação um panegírico, um
alarde e uma apologia militante ao serviço voluntário ou involuntário da
esquerda internacional. Vale dizer, desde estas linhas distinguiremos sempre
entre quem padece de uma tendência homossexual inculpável (que merece todo
o nosso respeito), de quem se dedica ao proselitismo militante ou ideológico ao
serviço da expansão e consolidação de uma agenda que hoje presta fiel
assistência à reciclada causa comunista: ainda que esta última se venda envolta
numa glamourosa embalagem que pretende apresentar-se em sociedade sob o
simpático disfarce da diversidade igualitária.
Aliança nova e eterna?
Se bem que a história da militância homossexual venha de longa data,
tomaremos como ponto referencial e inicial o ativista americano Harry Hay,[350]
personagem nascido em 1912 e filiado ao Partido Comunista desde 1934, que,
fundindo a dialética marxista à sua fixação libidinosa, difundiu a imaginosa
teoria de que os gays constituíam uma “minoria cultural” oprimida pela “maioria
heterossexual dominante”; com isto, Harry Hay e seus incipientes seguidores
não só estreitaram laços entre os ativistas de esquerda e o movimento
homossexual – apesar de que na União Soviética os homossexuais eram
destratados —, como, à guisa de propaganda complementária, procuraram atrair
a compaixão daquelas pessoas sentimentais que, ainda que não fossem
homossexuais, se “solidarizavam” com esta causa ante a presumida “opressão”
de que esta vitimizada “minoria cultural” seria objeto por parte da insensível
“heterossexualidade patriarcal”.
Com estas pretensões dialéticas, o infatigável Harry Hay criou um primeiro
grupo militante, conhecido como a Sociedade Mattachine, grupo que, segundo
ele mesmo confessou, “foi inquestionavelmente o começo do moderno
movimento homossexual”; seu objetivo era “unificar, educar e dirigir toda a
massa de desviados sociais”.[351] Meta que o próprio Hay promoveu com seu
triste exemplo pessoal, dado que, além de ser líder homossexual, foi um
incansável promotor da NAMBLA[352] (North American Man/Boy Love
Association, associação norte-americana para o amor entre homens e meninos),
aberrante corporação mundial de pedófilos na qual o próprio Hay palestrava
como convidado de honra de suas repugnantes tertúlias, onde declarava
autoreferencialmente que, quando ele tinha nove anos, vários foram os homens
que o procuraram “e lhe deram a oportunidade de conhecer o amor e a confiança
em idade tão precoce”.[353]
Foi durante essa militância que Hay também se aventurou na promoção da
androgenia, deliberadamente difundida no manifesto de sua Sociedade
Mattachine: “Nós, os andrógenos do mundo, formamos este coletivo responsável
por demonstrar por meio de nosso esforço que nossas limitações físicas e
psicológicas não são impedimento para que sejamos 10% da população mundial
a contribuir para o progresso social da humanidade”.[354]
Como vimos, nesta espécie de “declaração de princípios”, Hay faz menção
a um dos mitos mais exitosamente repetidos pela militância homossexual – que
perdura até os nossos dias —, o qual consiste em superestimar a parcela da
população que teria tal conduta sexual, com o objetivo de “normalizar” ou
“naturalizar” a conduta e assim exibi-la como uma prática massificada ou
corriqueira, ainda que na verdade o publicitário número de “10% de
homossexuais na população mundial” não tenha nenhuma correspondência com
a realidade. Vejamos as contas sobre este último ponto que não é um debate
menor.
A origem deste insistente truque matemático consiste em quantificar a
população homossexual em certos dados adulterados pelo conhecido zoólogo
Alfred Kinsey, um psicopata que, ademais de ser homossexual, era conhecido
por sua inclinação à pedofilia e à zoofilia;[355] ele, em um relatório publicitário
dos anos 50, sentenciava justamente que 10% da população era homossexual
habitual e que ao menos 20% da população mundial mantivera relações
homossexuais em alguma ocasião. Esta fraude pseudocientífica foi apresentada
por Kinsey após “estudar” 5.300 casos de supostos pacientes, sem esclarecer que
varias dezenas dos consultados eram prostitutos particularmente escolhidos,
outros tantos eram pedófilos especialmente selecionados; 1.500 dos
entrevistados eram presidiários e destes mais de 1.200 sequer foram condenados
por crimes alheios ao estudo, mas por crimes sexuais. Ou seja, de toda esta seleta
fauna se nutriu Kinsey para chegar ao seu número cabalístico e assim concluir
que 10% da população mundial era homossexual. Essa farsa contava com o
agravante nada lateral de que, como foi assinalado, a maior parte da população
estudada era parte da comunidade carcerária – e ainda por cima condenada por
delitos sexuais —, que tem maior propensão a manter circunstancialmente
alguma relação homossexual – muitas vezes forçada – ainda que condicionada
pela situação de cárcere: “A homossexualidade dos prisioneiros não é genuína,
mas só facultativa ou ocasional, posto que quando podem buscar uma mulher
deixam de apresentar os sintomas assinalados”[356] confirmou, após suas
investigações, o eminente neuro-psiquiatra chileno Armando Roa. Dito de outro
modo: o relatório Kinsey tem um rigor estatístico similar a tomar um avião até
Paris, pôr-se numa esquina de um bairro de classe média, entrevistar 5000
transeuntes e então chegar à conclusão de que “a maioria absoluta da população
mundial fala francês”.
Posteriormente, um sem-fim de estudos científicos elaborados por
eminências acadêmicas — e não por pervertidos como Kinsey que alterava
variáveis para auto-justificar suas misérias pessoais – confirmaram
categoricamente que a arbitrariedade numérica dos “10%” não tinha o menor
propósito e que o quantum da população homossexual oscilava na verdade entre
1% e 2,1% do total da população mundial,[357] sendo que, além disso, esses
números flutuantes coincidem com aqueles que resultam da média dos últimos
32 relatórios científicos internacionais mais reconhecidos e cujos dados
compilados de todos e de cada um deles não foram transcritos por razões de
economia, mas que o leitor pode consultar através do link da nota de rodapé.[358]
Uma vez que tenhamos chegado à confirmação científica de que a
população homossexual é quantitativamente inferior à que estes ativistas agitam
artificialmente no afã de “naturalizar” seus hábitos, fica mais que claro que esta
parcela é muito mais ruidosa que numerosa, e que seus protestos e
reinvindicações não formam parte de uma “necessidade da sociedade”, e não
passam de discutíveis pretensões de um setor marginal que se tornou poderoso
ao ser patrocinado por centros financeiros do progressismo internacional,[359] pela
intelectualidade de esquerda, pelo centrismo “bem-pensante” e por parte de uma
opinião pública desatenta ou desinformada.
No entanto, é certo que, ao se multiplicar ficcionalmente os números de
homossexuais (o artificioso “10%”), o então líder Harry Hay percebeu que se
apresentava um enorme mercado cativo para o seu ativismo político e assim o
analisou o jornalista espanhol especializado no assunto, Rafael Palacios, em A
Conspiração do Movimento Gay, seu documentado livro: “Quando leu que
Kinsey afirmava o mítico 10%, Harry Hay pensou que tinha diante de si o
começo de um movimento político que se definiria ‘não como pessoas que
praticam atos de sodomia’ (como naquela época lhes denominavam), uma
definição com base numa ação, mas como pessoas que “são determinada coisa”.
Em outras palavras: se gerava, da noite para o dia, uma nova identidade humana,
uma classe social discriminada”,[360] adicionando que então “Harry Hay se
apropriou desta estatística para mudar o conceito de “pessoa que pratica a
sodomia” para pessoa que “é homossexual”, tomando do comunismo (apesar de
que Marx e Engels se opuseram a ele) o conceito de “minoria oprimida” e
criando, literalmente, uma classe oprimida homossexual.[361]
Tempos depois, por invejas internas, Harry Hay se distanciou de sua
primeira criação (a Sociedade Mattachine) para em seguida fundar outra
camarilha homossexual chamada Radical Faeries (Fadas Radicais),[362] um
grupelho de travestis “neo-pagãos” que participavam de rituais exóticos
disfarçados de fadas. Este pitoresco clube soube ramificar-se em muitos países,
sempre procurando fundir essas dissipações eróticas com o marxismo,
procurando assim implantar uma visão revolucionária de sua causa ao forçar a
adaptação da “luta de classes” marxista à agenda homossexual. Conforme
escreveu o próprio Harry Hay em seu hilariante livro:
O mundo que herdamos, o mundo da Tradição, inteiramente orientado e dominado por
heteros-machos [...] nossa história, nossa filosofia, nossa psicologia, nossa cultura e as formas de
comunicação mesmas, tudo, está concebido desde uma perspectiva sujeito-OBJETO [...]. Os
homens e as mulheres são – sexual, emocional e espiritualmente – uns dos outros [...]. Nós
outros, fadas, devemos ser essencialmente alheios a tudo isso. Porque esses outros com quem
ansiamos ligar-nos, relacionar-nos, deslizar-nos dentro deles, fundir-nos, são outros como eu,
são SUJEITOS. [...] Como EU. As fadas devem começar a arrancar a asquerosa pele verde de
sapo, de heterodeterminação, e descobrir o encantador não-HOMEM, conscientemente
homossexual, que brilha debaixo daquela pele.[363]
(Hay, 1996)

Confissões dos integrantes das “Fadas Radicais” estabelecem que eles


assumiam em suas reuniões a personificação de uma fada como uma espécie de
“identidade auto-assumida”, idealizando assim a feminilidade em um homem
homossexual. Para muitos deles, o objetivo de personificar um ente etéreo que
expressa identidade de gênero, de feminino a masculino e todos os pontos
intermediários, é o caminho para “transcender os limites da condição humana”,
segundo as suas próprias afirmações: “O núcleo espiritual das ‘Fadas Radicais’
era o mesmo que seu fundador Harry Hay previa para a sua sociedade original, a
Mattachine: a convicção de que os homens homossexuais eram espiritualmente
diferentes das outras pessoas. Eles tinham um maior contato com a natureza, o
prazer corporal e a verdadeira essência da natureza humana, que abarca o
masculino e o feminino” assinala o escritor homossexual Michael Bronski em
sua apologia dedicada ao seu venerado líder, intitulada O Verdadeiro Harry
Hay.[364]
Poderíamos dizer, então, que estes foram os começos e primeiras tentativas
de amálgama visivelmente militante entre marxismo e homossexualismo,
iniciativa nascida nos EUA e que logo foi assumida e apregoada nesse país por
muitos ativistas posteriores, tal é o caso de Joan Garry, diretora da Gay and
Lesbian Alliance Against Defamation,[365] que, parafraseando os slogans da
revolução comunista na China, sustentavam que o papel de sua organização
consistia em “transformar o coração e a mente das pessoas”, exatamente a
mesma frase usada por Mao Tse Tung para referir-se ao guerrilheiro camponês
em sua revolução armada do fim dos anos 40. “O movimento homossexual não é
um movimento de direitos dos cidadãos, nem um movimento de liberdade
sexual, mas uma revolução moral”[366] sentenciou o famoso ativista americano
Paul Vernell, que, por conta de seus costumes, morreu de AIDS no ano de 2011.
Como vimos, na América o movimento homossexual começava a unificar o
seu discurso, suas alianças políticas e sua linguagem.
Capítulo 2: Os pensadores da perversão
A Primeira Geração
Também no começo do século XX, porém, desde o velho continente e com
maior complexidade acadêmica, começavam a pulular alguns intelectuais cuja
pregação serviu de ponta-de-lança do que mais tarde explodiria como o que hoje
conhecemos desta revolução cultural cooptada pelo comunismo sexualizante do
século seguinte. Dentre essas vozes primogênitas, provavelmente o pioneiro
tenha sido o psiquiatra Wilhelm Reich, nascido em 24 de março de 1897, no
Império Austro-húngaro.
Advindo de uma família judia cuja vida se desenrolava num âmbito rural,
Wilhelm Reich cresceu junto a seus pais, que conviviam num clima hostil,
encenando sempre brigas fatídicas e momentos de ciúmes entre si. Logo, o
próprio Wilhelm adverte que sua mãe era amante de seu preceptor e não hesita
em revelar essa incômoda situação para seu pai, este último, porém, não pôde
suportar tão ingrata notícia e se suicidou. Estes e outros conflitos pessoais teriam
traumatizado a vida de Reich para sempre e marcaram o que seriam as delirantes
teorias sexuais e pseudocientíficas que esboçou durante sua desgraçada vida
como pretenso sábio.
Discípulo de Sigmund Freud, Reich se afilou ao Partido Comunista em
1928 e tentou unir psicanálise e revolução marxista, não sem incorporar nessa
mistura proposições que escandalizavam a próprios e estranhos. Tanto foi assim
que, ante a falta de “preocupação erótica” no seio do Partido Comunista, Reich
exortou os jovens que apoiassem sua empreitada pansexualista ao anotar que “a
consciência [da juventude] de seu direito de organizar sua vida [sexual] os
obrigaria, inevitavelmente, a lutar por ele. Só precisa de um suporte, uma
organização, um partido que a entenda, que a ajude e a represente”,[367] e por sua
militância partidária criou ele umas poucas organizações da “juventude
trabalhadora para uma política sexual” (que se denominava SEXPOL),
empreendimento pornô-marxista no qual até o stalinismo pôs ressalvas e não
tardou em expulsar Reich do partido por suas excentricidades concupiscentes.
Tão comunista quanto luxurioso, Reich sustentava que “a opressão sexual
está a serviço da dominação de classe. Esta se reoproduziu ideologicamente e
estruturalmente nos dominados e constitui nesta forma a força mais poderosa e
menos conhecida de toda a espécie de opressão”, acrescentando que “a
psicanálise subverte as ideologias burguesas e, dado que a economia socialista
constitui a base para o livre desenvolvimento do intelecto e da sexualidade,
somente no socialismo tem a psicanálise um porvir”, reflexão que arrematou
classificando o ditador Lenin como “o maior psicólogo de massas de todos os
tempos”.[368]
Em seu livro A Função do Orgasmo, Reich sustentava que a família é uma
construção doente — patologia que ele chamava “familitis” – e que a liberdade
sexual seria não somente a cura mas também um novo método revolucionário:
“A sexualidade é o centro ao redor do qual gira toda a vida social, assim como a
vida interior do indivíduo”, e se queixava de que “as leis patriarcais relativas à
cultura, à religião e ao matrimônio são essencialmente leis contra o sexo”.[369]
Para reverter tamanha injustiça, a revolução marxista deveria passar não somente
pela luta de classes mas também por uma revolução genital, a qual consistiria em
desencadear as paixões eróticas e promover a infidelidade com a conseqüente
destruição da família: “Conforme a nossa experiência, a relação sexual
extramatrimonial, ou a tendência para tal, constitui um elemento suscetível de
promover grande eficácia contra influências reacionárias”,[370] sentenciou.
Como bom comunista que era, ao final dos anos 30, Reich foi morar nos
EUA para gozar da liberdade de expressão e assim não ser incomodado por suas
investigações orgásmico-científicas, com as quais soube ganhar muitos dólares
enganando pessoas, vendendo-lhes produtos e tratamentos de aparência erótica
com os quais prometia solucionar todos os males: até curar o câncer.[371] Porém,
anos mais tarde, se confirmou que suas disparatadas elocubrações afrodisíacas
eram uma verdadeira fraude, motivo pelo qual foi condenado à prisão pela
Justiça em maio de 1956, sentença confirmada depois pela Suprema Corte em 12
de outubro de 1957; por isso o pornógrafo, caído em desgraça, entrou para a
prisão de Danbury onde, após ser diagnosticado com esquizofrenia progressiva,
morreu apenas 20 dias após seu encarceramento, no dia 3 de novembro, na
Pensilvânia. Provavelmente um dos melhores estudos publicados na Argentina
sobre a vida e obra deste sórdido personagem é o elaborado por Enrique Díaz
Araujo no início dos anos 80, que, após analisá-lo de trás para diante, conclui:
“Reich era um farsante ou um louco? Nossa resposta é que as provas apontam
mais para a primeira hipótese que para a segunda, ainda que se possa admitir
uma parcela da segunda hipótese em seus delírios crônicos. Uma solução de
compromisso poderia ser declarar que ele era um farsante que, depois de tanto
praticar o fingimento, já não podia distinguir onde estavam a verdade e a mentira
e acabou ficando louco. Na dúvida, de acordo com as normas universais do
devido processo legal, caberia considerá-lo inimputável do crime de estelionato.
A evidência material está documentada em todas as suas obras”.[372]
Contudo, com a morte de Reich sua obra não termina e, segundo seus
seguidores e discípulos, o grande continuador e aperfeiçoador de sua
pseudociência foi o sociólogo alemão Herbert Marcuse (nascido em 1898),
iconográfico expoente da então nascente Escola de Frankfurt;[373] outro que,
como bom comunista, escapou do totalitarismo europeu para ir viver nos EUA e
desde ali desfrutar do conforto e da liberdade de cátedra – trabalhou nas
Universidades de Columbia, Harvard, Boston e San Diego. Foi, durante esta
aburguesada vida de revolucionário de gabinete que Marcuse publicou seu
influente livro de inspiração freudo-marxista – texto-chave no tema que nos
ocupamos – intitulado Eros e Civilização (publicado em 1955), no qual
sustentava que a heterossexualidade não era mais que uma imposição da “cultura
dominante” com a finalidade produtiva e reprodutiva. Nesse texto, Marcuse
efetua uma análise da conexão intrínseca entre o “Eros” – que é o instinto de
prazer vinculado à sexualidade – instalado no incosciente, e a “realidade
condicionante” – este último viria a ser algo similar ao conceito de “Super-Ego”
de Sigmund Freud —, que não é outra coisa que o contexto sociocultural que,
segundo o autor, nos reprime o desejo primário. Logo, o comunista Marcuse
termina culpando o capitalismo por ser a sociedade “repressora” que
deliberadamente censura e obstaculiza o prazer com o fim de que o homem
tenha que trabalhar todo o dia para produzir e subsistir e, com isto, focalizar toda
a sua libido no trabalho “pra lucro dos poderosos”.
Mas como a “economia de mercado” – segundo erra Marcuse — explora o
homem mais que qualquer outro sistema, então, nesta maldita sociedade de
consumo, aparece o que ele denomina a “repressão excedente”, quer dizer,
aquela repressão conformada por toda a parafernália cultural do Ocidente
(religião inclusa), a qual busca ex profeso “deserotizar” o indivíduo para que ele
concentre toda sua energia trabalhando:
Os homens não vivem suas próprias vidas, mas desempenham funções pré-estabelecidas.
Ao trabalhar, eles não atendem às suas próprias necessidades e competências, mas trabalham
alienados. Agora, o trabalho tornou-se geral e, portanto, tem as restrições impostas à libido: o
tempo de trabalho, que ocupa a maior parte do tempo de vida individual, é um momento
doloroso, porque o trabalho alienado é a ausência de gratificação, negação do princípio do
prazer. A libido é desviada para agir de uma maneira socialmente útil, dentro da qual o
indivíduo trabalha para si mesmo apenas enquanto trabalha para o aparato social e está
envolvido em atividades que geralmente não coincidem com suas próprias competências e
desejos. [...] O conflito entre sexualidade e civilização se desenrola com esse desenvolvimento
da dominação.”[374]

Logo, insiste Marcuse, a ordem dominante “aceita” apenas as relações


procriativas heterossexuais de tom monogâmico fundada na conservação da
espécie, e é por isso que essa arbitrária “cultura exploradora” considera como
“perversa” qualquer forma de sexualidade alternativa, pelo que este autor celebra
enfaticamente todas as perversões, uma vez que as considera como uma
expressão de “libertação” diante do sistema: “As perversões expressam assim a
revolta contra a subjugação da sexualidade à ordem de procriação e contra as
instituições que garantem esta ordem”.[375] Uma vez mais – e agora sob a
chancela de Marcuse – topamos com esta identificação entre a revolução
marxista e os desvios sexuais: os pervertidos seriam os novos proletários
potenciais ante a injusta ordem vigente.
Tão insistente e notória foi a tendência dos personagens da Escola de
Frankfurt de amalgamar o marxismo com heterodoxias sexuais, que o principal
tradutor e intérprete em espanhol das obras de seus expoentes, o literato
argentino Héctor Murena,[376] advertindo sobre essa estranha simbiose em
ascensão, escreveu na lendária revista Sur em 1959: “Sempre me chamou a
atenção a semelhança das reações do homossexual ante o heterossexual e do
comunista ante o não-comunista. Ambos revelam, como hóspedes forçados do
campo inimigo, uma cordialidade fria e distante por trás da qual é fácil perceber
uma mistura de desdém e ressentimento [...]. Por que tal contradição?
Ressentimento porque ambos participam de ideologias “igualitárias” [...]. Mas,
além do ressentimento, o desdém. Isso ocorre porque os homossexuais e os
comunistas se consideram, não sem razão, a vanguarda de nosso tempo”.[377]
Murena foi o primeiro argentino a reagir contra essa forma de neo-
comunismo? Seu texto parece estar adiantado meio século no tempo.
O patriarca dos progressistas
Embora existissem vários expoentes da Escola de Frankfurt e pensadores
afins que, na primeira metade do século XX, acenderam a tocha desta espécie de
pornô-comunismo que estamos estudando, a realidade é que o posto ideológico
seria tomado anos mais tarde e com uma difusão internacional muito maior pelo
francês Michel Foucault, uma intrincada personagem nascida em 1926 e cujo
auge surgiu nos anos 60, em plena ebulição juvenil-cultural que levou aos
conhecidos eventos de maio de 1968 na mesmíssima Paris.
Sem a menor intenção de desenhar uma biografia de Foucault, a verdade é
que esse indivíduo não pode ser ignorado, pois foi direta ou indiretamente o
atormentado patriarca doutrinal — ou pelo menos o mais influente — de tudo o
que hoje se chama de marxismo cultural, e tanto sua pena e como sua pessoa são
referências obrigatórias para todos os intelectuais, ideólogos e ativistas
esquerdistas que o sucederam.
Michel Foucault foi uma personagem multidisciplinar: penetrou na
sociologia, na filosofia, na psicologia e também quis fazer-se historiador,
dedicando sua vida curta e intensa a questionar o mundo ocidental e suas
instituições.[378] E, apesar de se definir como “nietzschiano”,[379] nem por isso
deixou de ser um comunista – filiou-se ao Partido Comunista francês em
1950[380] —, também flertou com certas idéias estruturalistas e em suas teses
insistentemente via em toda a ordem que o cercava uma espécie de conspiração
inconstante de dominação por parte do “sistema”[381] de poder capitalista, cujos
dominadores contaminados não eram necessariamente os detentores dos meios
de produção — como afirmou o marxismo clássico —, mas principalmente os
detentores do “saber”, que Foucault acreditava ser usado pelas faculdades como
um complexo mecanismo criado, não para ajudar o homem, mas para vigiá-lo e
controlá-lo. Inclusive Foucault transpôs a relação de exploração ou domínio
econômico que o marxismo sustentava aos laços socioculturais interpessoais: o
sacerdote em relação ao paroquiano, o médico em relação ao paciente ou a
polícia em relação ao bandido, por exemplo. Portanto, a maior parte de seus
livros tem por finalidade questionar as instituições nas quais esses “agentes do
conhecimento” atuam: a Igreja, o hospital, e assim por diante.
Dentro dos sistemas disciplinares que ele denunciou, manteve sempre um
especial furor para com hospitais e, além disso, para com a medicina.[382] Mas
aqui está um detalhe que não podemos ignorar: Foucault era um bisneto, um
neto, um filho e um irmão de médicos que sempre insistiam e promoviam nele a
idéia – que nunca se materializou — de continuar profissionalmente com essa
tradição familiar. Foucault teria tentado resolver catarticamente os conflitos
familiares em seus escritos, que ele então disfarçou com um verniz acadêmico
revolucionário? A questão é interessante porque, embora ele não tenha escrito
livros auto-referenciais, ele sempre explorou questões que estavam claramente
relacionadas aos seus traumas pessoais. Por exemplo, sabe-se que Foucault
estava à beira da loucura e na busca provável de sua própria identidade quando
ele escreveu sua obra História da Loucura na Idade Clássica, publicada em
1961: “Tendo estudado filosofia, queria ver o que era a loucura: eu estava louco
o suficiente para estudar razão e era razoável o suficiente para estudar loucura”,
[383]
reconheceu. Foucault não exagerou quando confessou ter ficado louco. Na
juventude, tentou se matar várias vezes[384], sofreu uma depressão aguda e, por
essa razão, foi levado por seu pai ao hospital psiquiátrico de Santa Anna, um
período em que ele se familiarizou e se fascinou com a psicologia.
Em seu mencionado livro sobre a loucura, Foucault sustentava que esta não
era uma doença, mas uma classificação injusta e arbitrária da modernidade
capitalista: “Na Idade Média o louco se movia com liberdade e até mesmo foi
visto com respeito, mas em nossa época confinam-no em asilos e tratam-no
como um doente, o triunfo de uma ‘equivocada filantropia’”[385], anotou.
Exatamente o mesmo argumento usaram os sodomitas foucaultianos ao negar
que a homossexualidade seja uma doença.
A verdade é que Foucault se caracterizou por clamar insistentemente pelos
loucos, os pervertidos e os criminosos, que ele considerava “vítimas do sistema”
e, mais especificamente, alegava que esses elementos eram parte de uma
arbitrária categorização estigmatizante do mundo moderno: Foucault não sabia
que, na Idade Média, esses párias receberam um tratamento muito mais hostil do
que aquele que ele denunciava?
Justamente, para Foucault, o delinqüente era uma vítima que o sistema
capitalista havia inventado e classificado no contexto dum mecanismo de
controle planejado. Mas se a sua tese fosse verdadeira, por que então na Rússia
soviética, onde o capitalismo não existia, não havia apenas criminosos, mas
estavam lotados e torturados no Gulag junto com mulheres, idosos e filhos?
Antes disso Foucault minimizava a crueldade do sistema penal comunista, o qual
era de longe muito mais brutal e arbitrário do que qualquer sistema prisional da
órbita capitalista-ocidental.
De fato, o ódio irracional pelo sistema de vida em que ele viveu (e
desfrutou) levou Foucault a não notar que “os excluídos” (com quem ele fingia
preocupar-se) eram muito mais bem tratados na civilização que denunciava, não
apenas em comparação com a União Soviética, mas também em relação aos
campos penais da China comunista, para não falar do barbarismo das teocracias
pré-modernas do Oriente Médio, que Foucault não só não condenou, mas apoiou
com cruel deslumbramento. Tal é o caso do regime iraniano do Ayatollah
Khomeini (de quem foi panegirista em 1979), que decepou adúlteros, massacrou
prostitutas e enforcava os homossexuais com habitualidade.
Porém, por mais delirantes que essas posturas soassem, é indiscutível que
suas obras influenciaram e muito em diferentes disciplinas. Seu livro Vigiar e
Punir, por exemplo, é uma espécie de catecismo da corrente de garantismo-
abolicionismo do direito penal, onde Foucault exalta com entusiasmada
admiração a figura do delinqüente e sustenta que o crime é “um protesto reativo
da individualidade humana” acrescentando que “pode , portanto, acontecer que o
crime constitua um instrumento político que acabará por ser tão precioso para a
libertação da nossa sociedade como foi para a emancipação dos negros”.[386] O
insólito é que este tipo de absurdo foi levado à sério por muitos advogados de
esquerda e não por acaso, na Argentina, o principal divulgador foucaultiano tem
sido o ativista homossexual, locador de bordeis e sonegador fiscal Eugenio
Zaffaroni, apresentado à sociedade não como um criminoso – seus erros judiciais
sempre tenderam a desculpar ou justificar os criminosos e delinqüentes sexuais
— mas como uma “eminência jurídica”, benefício de que goza qualquer
degenerado pertencente ao establishment progressista: o falecido delinqüente e
ex-presidente Néstor Kirchner premiou Zaffaroni nomeando-o Juiz do Supremo
Tribunal de Justiça, uma das muitas vergonhas institucionais que sofremos neste
infeliz país.
Nos criminosos, licenciosos, loucos e, em suma, em toda a escumalha
social que considerava “excluídos do sistema”, Foucault sempre viu o terreno
fértil para atentar contra a ordem estabelecida e promover assim uma revolução:
“Existe uma pluralidade de resistências, cada uma delas é um caso especial”,[387]
escreveu em História da Sexualidade, sua obra inacabada, enquanto chamava os
delinqüentes não para refletirem e cessarem seus crimes, mas sim para semearem
a violência e o caos social com suas próprias mãos, uma vez que desprezava o
poder judiciário e as garantias legais do estado de direito: “Quando se ensina a
descartar a violência, a estar a favor da paz, a não querer se vingar, a preferir a
justiça à luta, o que é que se está ensinando? Se ensina a preferir a justiça
burguesa à luta social, se ensina a se preferir um juiz à vingança”, acrescentando
que o sistema judicial era um tenebroso mecanismo de dominação: “O sistema
de justiça que se propõe, que se impõe, é na realidade um instrumento de poder”.
[388]
Logo, Foucault preferiria para o delinqüente não o julgamento com um
advogado de defesa, mas a forca, o exílio ou a tortura de outrora?
Tudo indica que, paradoxalmente, seu ódio contra a ordem existente
convertia Foucault involuntariamente num ultraconservador contrariado, porque
de seus escritos se conclui que ele via seus queridos “marginais” viverem de
maneira muito melhor na Idade Média do que na Modernidade, a qual é a
culpada por marginalizá-los ou estigmatizá-los. Foucault, por acaso, não sabia
que na Idade Média aos loucos, aos pervertidos e aos delinqüentes se dava um
tratamento muito mais hostil que no mundo que ele questionava através de seus
textos e desde a liberdade de sua cátedra bem remunerada?
Nos parece impensável supor que Foucault desconhecia a história de uma
maneira tão grosseira a ponto de reivindicar implicitamente uma antiga ordem
social que por sua adesão ideológica esquerdista ele deveria tomar como injusta,
e é por isso que tomamos nota de uma boa interpretação que o sociólogo Juan
José Sebrelifez fez desse intrincado indivíduo, sustentando que Foucault
“manipulava os dados históricos ao seu capricho e às vezes os falseava; os
historiadores o perdoavam por ver nele um grande filósofo, os filósofos também
o desculpavam porque criam que era um grande historiador”.[389]
Com efeito, Foucault nunca esteve interessado em descobrir a verdade, mas
sim em dar ares de verdade a argumentos enganosos de aparência científica com
a intenção de obscurecer a verdade e assim dar seqüência à sua doentia batalha
existencial contra o mundo. E talvez esta necessidade traumática e egocêntrica
de não procurar a verdade, senão de sujá-la e ganhar debates foi que o levou a
sentir admiração pelos sofistas gregos: “Eu acho que eles são muito importantes
porque neles existe uma pregação e uma teoria do discurso que são
essencialmente estratégicas; estabelecemos discursos e discutimos não para
alcançar a verdade, mas para superá-la. [...] Para os sofistas falar, discutir e
procurar alcançar a vitória a qualquer preço, mesmo usando artimanhas
grosseiras, é importante porque para eles a prática do discurso não está
dissociada do exercício do poder”.[390] Quero dizer, Foucault poderia muito bem
ter sido um mentiroso orgânico. Orgânico a serviço de quem? Provavelmente de
suas loucuras e taras personalíssimas, que não eram poucas: os problemas de
identidade em Foucault foram tão agudos que, em uma carta a uma amiga sua
escrita quando tinha 30 anos de idade, confessou “ter vacilado entre se tornar um
monge ou tomar o desvio dos caminhos da noite”.[391] Ele escolheu o segundo
caminho, e manteve uma vida insana marcada por drogas, sadomasoquismo e
homossexualidade — eleição de vida que anos depois pagaria muito caro —,
sendo o seu amante mais conhecido o sociólogo comunista Daniel Defert.
E assim como elogiou a loucura e elogiou o criminoso, também Foucault
elogiou a sodomia e a considerou como um tipo de vida orientadora: “A
homossexualidade surgiu como uma das formas de sexualidade quando passou
da simples prática de sodomia a um tipo de androginia superior, hermafroditismo
da alma”,[392] acrescentando que “a homossexualidade não é um desejo, mas algo
desejável. Portanto, devemos insistir em nos tornarmos homossexuais”.[393]
Declaração bastante inofensiva se comparada com o sua aberrante apologia da
pedofilia: “A propósito”, disse ele no rádio em 1978, “é muito difícil estabelecer
barreiras à idade de consentimento sexual”, porque “pode acontecer de ser o
mais jovem, por sua própria sexualidade, aquele que deseje o adulto” exortando
então a revogação de todas as sanções penais que regem crimes sexuais: “Em
nenhuma circunstância deveria submeter-se a sexualidade a algum tipo de
legislação... Quando se pune o estupro dever-se-ia punir a violência e nada mais.
E dizem que é apenas um ato de agressão: que não há diferença em princípio
entre inserir um dedo no rosto de alguém ou o pênis em suas genitálias”.[394]
Mas Foucault não ficou para trás em sua pretensão “libertadora”, pois
propôs adotar meninos para levá-los viver consigo e assim manter um
“relacionamento enriquecedor”: “Vivemos em um mundo relacional que as
instituições empobreceram consideravelmente. A sociedade e as instituições que
constituem sua estrutura limitaram a possibilidade de estabelecer
relacionamentos, porque um mundo relacional rico seria extremamente
complicado de administrar. Devemos lutar contra esse empobrecimento do
tecido relacional. Devemos alcançar o reconhecimento das relações de
coexistência provisória, de adoção”, e então, o entrevistador Gilles Barbedette,
seguindo a lógica do raciocínio de Foucault, perguntou:
“GB — [adoção] De crianças?
MF — Ou — porque não? — de um adulto por outro. Por que eu não
adotaria um amigo dez anos mais novo que eu? E até dez anos mais velho? [...]
deveríamos tentar imaginar e criar uma nova lei relacional que permita a
existência de todos os tipos possíveis de relacionamentos”.[395]
Como um bom “esquerdista infantil” — arquetipicamente ridicularizado
por Lenin — Foucault gritou contra a atual ordem sem nunca propor uma saída
para o que ele tanto reclamava, e quando questionado sobre o futuro que ele
imaginava ou desejava para a humanidade, ele se entusiasmava com um mundo
marcado por orgias e alucinógenos: “É possível que o perfil aproximado de uma
sociedade futura seja proporcionado por experiências recentes com drogas, sexo,
comunas”.[396] Está com a razão o pensador Plínio Correa de Oliveira quando
condena: “Se o comunismo não é nada como força de construção, é algo como
força de destruição”,[397] e Foucault se enquadrava e cumpria perfeitamente essa
função destrutiva.
Assim como é surpreendente observar a ignorância histórica de Foucault
(embora nós suspeitemos que ele alterava dados de propósito), seus acríticos
seguidores aceitam os princípios do livro de seu conflituoso patriarca e, em
seguida, acreditam que antes do advento do capitalismo, a homossexualidade foi
admitida com alegria e sem preconceito, mas que o advento do capital conspirou
para demonizar essas tendências e, assim, uma “cruel conspiração hetero-
sexista” foi concebida. Sem dúvida, estas afirmações frágeis são nada mais do
que uma repetição do que já havia “dado” Foucault em seus escritos mais
antigos: em 1964, em sua História da Loucura na Época Clássica, ele observou
que “A homossexualidade, para a qual o Renascimento deu liberdade de
expressão, daí em diante entrará no silêncio, e passará para a proibição,
herdando velhas condenações de uma sodomia já aí dessacralizada”,[398] e quase
uma década depois, em 1975, reforçou a idéia em sua obra Os Anormais:
“Podemos imaginar (...) que a regra do silêncio sobre a sexualidade apenas
começou a vigorar no século XVII (na época, digamos, da formação das
sociedades capitalistas), porém que anteriormente todos podiam dizer qualquer
coisa sobre ela. Talvez! Talvez fosse esse o caso na Idade Média, talvez a
liberdade de enunciação da sexualidade fosse muito maior nela do que nos
séculos XVIII e XIX. [...] Olhem o que acontece agora. Por um lado, temos em
nossos dias toda uma série de procedimentos institucionalizados de confissão da
sexualidade: psiquiatria, psicanálise, sexologia”.[399] Mas sete anos depois, em
1982, quando a saúde de Foucault foi corroída pela AIDS, foi ele que disse
exatamente o oposto do que ele sempre pregou, deixando seus fãs
ridicularizados: “O que chamamos de moral sexual cristã, e mesmo judaico-
cristão, é um mito. Basta olhar para os documentos: essa famosa moral que
localiza as relações sexuais no casamento, que condena o adultério e qualquer
conduta não-procriativa e não matrimonial, foi construída muito antes do
cristianismo. Todas essas formulações são encontradas nos textos estóicos e
pitagóricos, e elas já são tão “cristãs” que os cristãos as retomam tal como
chegam a eles”.[400]
Ou seja, pouco antes da sua morte, Foucault não só renegou seu
historicismo de botequim reconhecendo que o ideal heterossexual não era “uma
invenção moderna”, mas com seu exemplo pessoal também contradisse sua tese
sobre suas demonizadas “instituições disciplinares”: terminou seus dias
agonizando em um hospital e cercado por médicos, instituição e agentes que ele
sempre desprezou e tratou com desdém em seus trabalhos mais emblemáticos
(tanto em O Nascimento da Clínica. Uma Arqueologia do Olhar Médico —
1963 — como em seu trabalho posterior A Microfísica do Poder — 1977). E
embora ele gostasse de falar contra “preconceito e estigma”, quando descobriu
que tinha AIDS, manteve um discretíssimo silêncio e ordenou a seus amigos e
familiares que escondessem um rótulo tão infame.
Embora a militância homossexualista sempre tome Foucault como sua
referência intelectual por excelência, aparentemente não é tanto pelo que ele
realmente fez por ela, porque, enquanto visitava a cidade americana de San
Francisco — que freqüentava envolto em couro procurando “machões
golpeadores” que o penetrassem sexualmente em banheiros públicos em sessões
sadomasoquistas — manteve uma breve conversa com um jovem gay que se
aproximou dele para lhe agradecer por tudo o que ele tinha feito pelo
“movimento gay” e Foucault respondeu: “Meu trabalho, na verdade, não tem
relação com a liberação gay”. E acrescentou: “Na realidade eu gostava da
situação antes da liberação gay, quando tudo era mais escondido. Era como uma
comunidade subterrânea, excitante e um pouco perigosa. A amizade significava
muito, significava muita confiança, protegíamos uns aos outros, nos
vinculávamos mediante códigos secretos”.[401]
Homossexual promíscuo, sadomasoquista doentio, comunista bon vivant,
alcoólico perdido, suicida frustrado, fumante empedernido e drogadicto
irrefreável — o consumo de LSD foi o seu passatempo favorito —, Michel
Foucault era o arquétipo humano perfeito para acabar sendo a idolatrada
referência de viciados, delinqüentes e depravados que a nova estratégia
esquerdista tem cooptado para si, sob as supostas pretensões nobres que aqui
tentamos transparecer, sendo que para sua envenenada herança de intelectuais
que hoje o emulam — em seus textos e em seus hábitos — Foucault é o ponto de
referência obrigatório para promover a revolução cultural, tão simpaticamente
igualitária no mundo aparente, como perversa e autodestrutiva no mundo real.
A herança envenenada
Avançando nos anos, esta simbiótica tendência ideológica — marxismo e
sodomia — foi bem aprofundada pelo teórico homossexual Guy Hocquenghem
(nascido em 1946, vinte anos depois de Foucault), romancista francês filiado ao
Partido Comunista (para variar), que tinha entrado nas Jeunesses Communistes
Revolutionaires quando tinha apenas 15 anos de idade, mas logo percebeu que
sua obsessiva falo-adicção era um obstáculo para ser aceito ante os dogmas de
um partido stalinista, e por isso teve que deixar suas fileiras em 1965: “Na
verdade, Guy tinha lido Freud enquanto chupava picas nas reuniões do partido
comunista francês”,[402] indiscretamente confessou sua principal discípula e
difusora, Beatriz Preciado, outra lésbica comunista nascida na Espanha que finge
ser pensadora e a quem vamos nos referir mais tarde.
Incompatibilidades partidárias de lado, foi este autor francês que
repotencializou e amplificou esta retorcida conjunção em seu histórico livro O
Desejo Homossexual, lido e tomado como um credo para todo o ativismo ligado
à “ideologia de gênero” tão em voga: “A sociedade capitalista fábrica o
homossexual como produz o proletário, sucitando a todo momento seu próprio
limite. A homossexualidade é uma invenção do mundo normal”[403] nos diz
Hocquenghem, tentando assim personificar a comunidade homossexual como o
setor “oprimido” pela “heterossexualidade dominante”. Ele acrescenta: “A
constituição da homossexualidade como uma categoria separada vai ao par de
sua repressão”,[404] sugerindo então que a homossexualidade é tão natural como a
heterossexualidade, mas “o poder dominante” a reprime. “A homossexualidade
atinge todo o mundo; no entanto, é proibida em todos os lugares”,[405]
acrescentando que tanto o comportamento heterossexual como o homossexual
são iguais, mas há uma “superestrutura moral” imposta pelo capitalismo
heterossexista que subjuga e estigmatiza: “Nenhuma civilização baseada
exclusivamente na dominação pela força de uma forma sexual sobre todas as
demais pode sobreviver por um longo tempo: o colapso das crenças religiosas
precisa de novas barreiras morais internas”[406] afirma. E comparando a cultura
homossexual com o igualitarismo marxista, em contraposição à sociedade
“hierárquica” (ou seja, capitalista e heterossexual), o rebuscado francês anota:
“Sem filhos [...] A produção homossexual é feita sobre um relacionamento
horizontal não limitativa, a reprodução heterossexual no modo de sucessão
hierárquica”,[407] referindo-se assim à autoritária sucessão vertical/dominante
pai–filho.
Mas como Guy Hocquenghem vê sua pretendida transição de um marxismo
tradicionalmente “homofóbico” a um posterior “marxismo-abichalhado”, como o
que ele propõe? Bem, com pouca originalidade o autor argumenta que não é
suficiente que a revolução se forje em torno de um conflito fundado nas relações
econômicas entre as classes sociais, como no caso de uma revolução comunista
clássica — com um proletariado vitorioso sobre as “classes proprietárias” —,
mas que a revolução teria que ir um passo além e não deveria ser o resultado de
um conflito entre as classes econômicas, mas principalmente entre “classes
culturais”, isto é, uma insurgência de subculturas (como a homossexual) que se
rebelassem contra cultura oficial (que seria a heterossexual). Por que tal
readaptação do objetivo revolucionário? Porque, com uma revolução tradicional,
na qual o proletariado se imporia à “classe dominante”, mudando a relação de
forças econômicas, ocorreria apenas uma transferência de bens materiais e não a
mudança de mentalidade trabalhadora, uma vez que esta ainda seria fortemente
influenciada por “preconceitos burgueses”. Em vez disso, com esta nova
proposta revolucionária que Hocquenghem difunde, a mudança de paradigma
seria não só econômica, mas fundamentalmente cultural: “Não só um novo
modelo revolucionário é necessário, mas também uma reformulação do conteúdo
vinculado tradicionalmente ao termo revolução”, de modo que o autor reclama
da existência de “um proletariado viril, grosseiro e arrogante” e, portanto, por
mais revolucionários que sejam esses trabalhadores viris, ao estarem
contaminados pela “cultura heterossexual”, a revolução se tornaria insuficiente:
“a burguesia engendra a revolução proletária, mas ela mesma define o quadro
geral em que a batalha se desenvolve”, diante do que se propõe “adicionar à luta
política e econômica uma luta cultural e sexual”.[408]
Mas Hocquenghem não pregou no deserto e, apesar de sua vida sexual
desenfreada levá-lo a morrer de AIDS em 1988 (aos 42 anos de idade), também
soube deixar muitos discípulos com pregação vigente, como no caso do
recalcitrante escritor homossexual Jacobo Schifter Sikora,[409] um gay
costarriquenho que em seu livro Olhos Que Não Vêem... Psiquiatria e
Homofobia observa não só que o homossexual é uma espécie de tipo humano
superior, mas que é a corrente revolucionária por excelência: “o patriarcado é
um modelo de dominação do homem sobre a mulher; um sistema de exploração
baseado no gênero. Se sustenta no controle, por parte dos homens, dos aspectos
mais importantes da economia, da cultura, da ideologia e dos aparatos
repressivos da sociedade”, e ante esta injustiça “as mulheres encontrariam no
lesbianismo um refúgio contra a submissão e dominação dos homens [...] as
lésbicas são capazes, através de sua rejeição do homem, de escapar do controle e
das expectativas do patriarcado”, e por sua vez, este insólito filósofo exalta a
superioridade moral do homossexual: “Os homens gays são seres que, apesar de
terem acesso direto ao poder, o rejeitam e o negam. Não participam do sistema
de domínio sobre as mulheres, eles não têm interesse em sua submissão. E para
piorar, o mundo gay representa a possibilidade de amor e solidariedade entre os
homens. Este princípio também é subversivo ao patriarcado, porque questiona a
hierarquia, a competitividade e a agressividade, bem como a necessidade de
dominação sobre as mulheres e a natureza”.[410]
Não menos bizarra e influente tem sido na língua espanhola o escritor e
ativista espanhol Paco Vidarte, autor de um escatológico livro chamado La Ética
Marica, no qual, assim como Hocquenghem, lamenta o sentimento hostil da
tradicional esquerda em relação aos homossexuais e, em seguida, para resolver
este “preconceito” infeliz do proletariado histórico, a bicha prepotente também
pretende unir à luta de classes marxista o pansexualismo liberticida: “Uma ética
gay deveria restaurar a solidariedade entre os próprios oprimidos, discriminados
e perseguidos, evitando colocar ao serviço da ética neoliberal criptorreligiosa”.
[411]
E mimetizando o jargão revolucionário que usavam os marxistas “viris” do
século passado, Vidarte ambiciona uma espécie de “ditadura do proletariado”,
em versão homossexual: “A democracia é por definição, tradição e futuro
heterossexista, homofóbico e transfóbica. Ninguém me venha com bobagens ou
essencialismos democráticos. Até me ocorre pensar em um totalitarismo que
abolisse a homofobia, uma ditadura não transfóbica”[412] e, em seguida, Vidarte
se sai com uma desagradável exortação militante de inspiração retal: “Fazer do
cu o nosso instrumento político, o mote fundamental da outra militância
LGTBQ, desenhar uma política anal muito básica: tudo dentro, recebendo tudo,
deixar que tudo penetre e para fora soltar apenas merda e peidos, esta é a nossa
contribuição escatológica para o sistema”.[413] Mas Vidarte não pôde sustentar
por muito tempo sua “malcheirosa contribuição para o sistema”: por seus hábitos
licenciosos, morreu de AIDS no ano de 2008. Tinha apenas 38 anos de idade.
Mas entre os modernos admiradores foucaultianos, hoje a mais badalada e
credenciada no mundo de língua espanhola é a já mencionada Beatriz Preciado,
uma lésbica comunista nascida em Burgos (Espanha), que confessou ser viciada
no consumo de testosterona e portadora de uma estética pseudomasculina, dá
aulas de “filosofia de gênero” em Paris e não apenas não se assume “nem como
mulher nem como homem”, mas, para fomentar a confusão própria e alheia,
denomina-se, agora, “Paul” Beatríz Preciado,[414] para parecer nominal e
visualmente como uma orgulhosa caricatura da maria-moleque de vanguarda:
inclusive aparece em suas aulas com bigodes, que supomos pintados ou falsos.
Assim como Guy Hocquenghem se queixava que até agora a revolução
comunista tradicional não vinha acompanhada de uma revolução cultural que
desestimasse os “preconceitos burgueses”, aparece Dona “Paul” e diretamente
afirma que é preciso negar as qualidades de “homem”, “mulher”,
“heterossexualidade”, “homossexualidade”, uma vez que estas não são
categorias reais nem científicas, mas meras “ficções políticas”,[415] ou seja,
invenções feitas pela propaganda heterossexista e, em seguida, o indecifrável
personagem nos convida ao paroxismo do “igualitarismo sexual”, oferecendo
seu texto intitulado Terror Anal, no qual nos revela que o ânus é algo que todos
nós seres humanos temos e que isto não é apenas algo que nos iguala diante de
qualquer “classificação discriminatória”, mas que o dito orifício confirma a
indiferenciação sexual humana. Porém, de acordo com Preciado, apesar desta
prova antropológica, o capitalismo insensível a fim de promover a desigualdade
nos “castrou” o conceito de ânus como objeto de prazer erótico, para então
impor a desigualdade enfatizando nas pessoas o conceito de genitalidade (pênis e
vagina) e forçando assim diferenças discriminativas e hierarquizantes entre as
pessoas: “O ânus não tem sexo ou gênero, e como a mão, escapa à retórica da
diferença sexual. Localizado nas costas e na parte inferior do corpo, o ânus
também apaga as diferenças despersonalizadoras e privatizantes do rosto”. E
acrescenta: “O ânus desafia a lógica da identificação do masculino e do
feminino. Não há divisão do mundo em dois [...] Rechaçando a diferença sexual
e a lógica antropomórfica do rosto e do genital, o ânus (e sua extremidade
oposta, a boca) estabelece as bases de uma igualdade sexual inalienável: todo o
corpo (humano ou animal) é primeiro e acima de tudo o ânus. Nem pênis, nem
vagina, mas tubo oral–anal. No horizonte da democracia sexual pós-humana está
o ânus, como cavidade orgásmica e músculo receptor não-reprodutivo,
compartilhada por todos. [...] Não se trata de fazer do ânus um novo centro, mas
de pôr em marcha um processo de desierarquização”. E, em desconcertante
discurso retal, acrescenta: “Diante da máquina heterossexual, se levanta a
máquina anal. A conexão não-hierárquica dos órgãos, a redistribuição pública do
prazer e a coletivização do ânus anuncia um ‘comunismo sexual’ por vir”,[416]
vaticina Preciado, cujas excrementosas composições foucaultianas alimentam a
admiração do seu clube de leitoras, integrado majoritariamente por lésbicas de
ideologia comunista, militância feminista e adictas às drogas (completinhas as
meninas); as quais festejam a científica elocubração de sua líder, que erige o
esfíncter como fétida bandeira da neo-revolução sexual igualitária.
Mas Preciado não se priva de ir além com suas maquinações e questiona
inequivocamente o injusto “estigma” sofrido pelos “pobres” pedófilos; e diz:
“As estratégias de conhecimento e controle que levam à estigmatização ou criminalização
sociais estavam movendo-se da figura do homossexual do século XIX, absorvida e normalizada
pela ‘cultura gay’, para a figura do pedófilo como um novo limite do humano [...] O que significa
pedofilia? Qual é a relação política que existe entre os construtores de idade e de sexualidade?
Qual é a máquina social que a pedofilia encarna? O que esta máquina de pedofilia produz e
consome? Que prazer coletivo a sexualização da infância nos proporciona? Qual é o desejo
sublimado por trás do delírio paranóico em face da pedofilia? Não é medo de reconhecer os
desejos pedófilos coletivos que se codificam e territorializam através da instituição da família que
nos faz ver e inventar o pedófilo como uma figura de abjeção?”.[417]

É claro que Preciado, em sua defesa da pedofilia, é uma fiel discípula de


seus ilustres mestres da pornocracia marxista: em 1977 uma petição foi dirigida
ao parlamento francês pedindo a revogação da lei sobre a descriminalização de
todas as relações consensuais entre adultos e menores. Este documento foi
assinado por Michel Foucault, Jacques Derrida, Louis Althusser, Jean-Paul
Sartre, Simone de Beauvoir, Roland Barthes e Guy Hocquenghem, entre outros.
[418]

Pergunto ao leitor: você deixaria seu filho sob a custódia e a confiança de


alguém do grupo de ideólogos “da diversidade” a qual nos referimos ao longo do
texto?
Se sua resposta for sim, nós valorizamos sua abertura e imparcialidade. Se
a sua resposta for não, nós o parabenizamos pelo seu senso correto de
responsabilidade parental.
Capítulo 3
A batalha psico-política
O diálogo como armadilha de persuasão
Se existe alguma ferramenta usada por esses setores quando se trata de
forjar a confusão e ganhar terreno nessa batalha psicológica, é precisamente o da
linguagem. Para este fim, estes lobistas não têm poupado em manipular a língua
e o significado das palavras para embasar não só sua propaganda ofensiva, mas
também a quimera amigável do “diálogo” como uma ferramenta de “persuasão
civilizada”: “Não existe dicotomia entre o diálogo e a ação revolucionária. Não
há uma etapa para o diálogo e outra para a revolução. Pelo contrário, o diálogo é
a própria essência da ação revolucionária”[419] sustentava o agente marxista Paulo
Freire, um pedagogo brasileiro oriundo de Pernambuco (uma espécie de Antonio
Gramsci terceiro-mundista), que tanto influenciou com seu famoso livro
Pedagogia do Oprimido, publicado em 1968. Mas, três anos antes e com notável
vocação visionária, outro brasileiro nascido em São Paulo, pensando desde os
antípodas ideológicos de Freire, já estava denunciando a incipiente armadilha
“dialoguista” em seu livro Baldeação Ideológica Inadvertida e Diálogo (1965):
nos referimos a Plínio Correa de Oliveira. É nesta imprescritível obra em que o
experiente intelectual advertiu que, desde a técnica do diálogo as palavras
“ecumenismo”, “diversidade”, “pacifismo” e similares, seriam as que de agora
em diante cunhariam a estratégia de comunicação revolucionária para enganar a
população e, assim, “baldear ideologicamente” para o interlocutor não-
esquerdista. Estas palavras especialmente selecionadas foram chamadas por
Plínio de “palavras-talismã” e de acordo com o autor “se tratam de palavras cujo
sentido real é simpático e às vezes até nobre”,[420] porque “os conferencistas,
oradores ou escritores que empregam tais palavras, só por esse fato, aumentam
suas chances de boa recepção na imprensa, no rádio e na televisão. Esta é a razão
pela qual o ouvinte, o espectador, o leitor de jornais ou revistas encontrará essas
palavras sendo usadas por qualquer motivo, e que repercutirão mais e mais
profundamente em sua alma” e, ante a isso, os comunicadores terão “a tentação
de usá-las com freqüência crescente e assim eles conseguirão aplausos mais
facilmente. E, para multiplicar as oportunidades de usar essas palavras, vão
utilizando-as em sentidos analógicos sucessivamente mais audazes, aos quais sua
elasticidade natural se presta quase até o absurdo”.[421] Com este mecanismo de
ação psicológica, argumentou Plínio que “um anticomunista ardente pode ser
‘baldeado’ a um anticomunismo adepto exclusivamente das
contemporanizações, concessões e recuos”,[422] acrescentando que o objetivo é
“debilitar nos não-comunistas a resistência ao comunismo, inspirando-lhes um
clima propício à condescendência, à simpatia, à não-resistência e até à rendição.
Em casos extremos, a distorção chegava ao ponto de transformar os não-
comunistas em comunistas”. Assim, os comunistas “esperam melhores
resultados da propaganda do que da força”,[423] uma vez que “já não é mais dos
partidos comunistas existentes em países, mas da técnica de persuasão implícita,
que o comunismo espera a conquista da opinião pública”.[424] Além disso, Plinio
dizia que quanto menos o comunicador estiver relacionado ao comunismo, mais
sua mensagem penetrará nas massas. Não é coincidência, então, que a “ideologia
de gênero” esteja hoje sendo apoiada por muitos porta-vozes sem ideologias ou
semi-cultos, muitas vezes do mundo do show business, dos esportes ou do
jornalismo de claque: “O Partido Comunista não pode ser mostrado. Deve
escolher agentes de aparência não-comunista, ou mesmo anticomunistas, que
atuem nos mais diversos setores do corpo social. Quanto mais insuspeito o
comunismo parecer, mais eficaz ele será”,[425] concluiu Correa de Oliveira, com
uma certeza impecável.
Então, com esse consenso comunicacional hegemonizado e as bases deste
“diálogo” sedimentadas, os sofistas de subversão cultural começam a brincar
com as palavras cujo significado foi previamente manipulado, enfatizando
aquelas que seriam funcionais para a sua causa e removendo aquelas que
poderiam ser inconvenientes. É por isso que desde há tempos vem sendo
erradicada, por ser “reacionária e arcaica”, a denominação binária “homem–
mulher”; e em sentido contrário mutiplicaram seus slogans com a sigla “LGBT”
(visualmente acompanhada por bandeiras multicoloridas) correspondentes aos
“Gays” (homens homossexuais), Lésbicas (mulheres homossexuais),
“Bissexuais” (pessoas que praticam atividade venérea com pessoas de ambos os
sexos alternadamente) e conforme o caso, a letra ‘T’ que corresponde a
“Travestis”, “Transgêneros”, “Transexuais” e elementos relacionados, cujos
significados terminológicos estão em “plena evolução” de acordo com seus
glamourosos catequistas. Tanto é assim que os grupos LGBT em seus
comunicados catalogaram um total de 23 “identidades sexuais” (“agenéricos”,
“pansexual”, “intersexuais” e muitas outras ocorrências); esta flexibilidade quer
liquefazer todos os paradigmas sexuais estabelecendo uma verdadeira confusão
discursiva em que qualquer princípio orientador é diluído; procura-se arrastar
sutilmente o desprevenido interlocutor para sua causa ou, pelo menos, para ficar
indiferente a ela.
Com esse entendimento, uma das principais vitórias filológicas alcançadas
pela máquina de propaganda de “gênero”, sem dúvida, tem sido impor ao léxico
popular a palavra “gay” (palavra anglo-saxã que soa “cool” e vanguardista), o
que não significa absolutamente nada em termos sexuais — “alegre” é a
tradução de “gay” do inglês para o português — e, assim, uma conotação
sorridente e festiva é dada a um comportamento que está em desacordo com a
natureza: “a própria palavra ‘gay’ é um catalisador que tem o poder de anular o
que expressa a palavra ‘homossexualidade’” comenta, em 1981, o jornalista
Gilles Barbedette em conversa com Michel Foucault, entrevistado que celebra
esta vitória idiomática respondendo o seguinte: “É importante porque, ao escapar
da categorização ‘homossexualidade-heterossexualidade’, penso eu, os gays
deram um passo significativo e interessante. Eles definem seus problemas de
maneira diferente, tentando criar uma cultura que só faz sentido a partir de uma
experiência sexual e de um tipo de relacionamento próprio. Fazer com que o
prazer da relação sexual evada o campo normativo”.[426] Ou seja, com este
revestimento simpático e auspicioso, a irmandade homossexual toma mais
impulso para vangloriar-se publicamente de seus hábitos procurando assim, não
que a homossexualidade seja tolerada — ninguém se opõe à existência da dita
tolerância —, mas que esta prática seja catalogada de uma maneira tão valiosa e
frutífera quanto a heterossexual ou até mesmo superior a ela: “Os homens e
mulheres gays, ao conhecer melhor seus próprios corpos, poderiam estimular e
satisfazer os seus pares de forma mais eficaz do que os homens e mulheres”,[427]
sustenta o já mencionado homossexualista Jacobo Schifter Sikora, cujo maciço
livro se desvia para “provar” a superioridade moral do homossexual em relação
ao heterossexual.
E assim como foi tentada com sucesso a adulação de todas as
manifestações culturais relacionadas à homossexualidade, de maneira
inversamente proporcional se buscou (também com sucesso) demonizar qualquer
um que questione esse paradigma, impondo ao circunstancial contraditor o
rotulo pseudocientífico de “homofóbico”, insulto fabricado por George
Weinberg — psicólogo esquerdista aliado da causa homossexual —, que
inventou dito estigma para regozijo e gratidão de Arthur Evans, co-fundador da
Gay Activists Alliance:[428] “A invenção da palavra ‘homofobia’ é um exemplo de
como uma teoria pode lançar raízes na prática”[429] sustentada com júbilo.
Escusado será dizer que a designação não só não tem o menor traço de científica,
mas a natureza da palavra incorre em uma contradição óbvia: se o prefixo grego
“homo” significa tanto “homem” como “igual” e do mesmo grego surge que
“fobia” é um “medo” ou “aversão”, teríamos que “homofobia” é um “medo ou
aversão aos homens ou iguais”. Isto é, num sentido literal, a palavra
“homofobia” é um contra-senso que consiste em alguém ter medo do que lhe é
igual, quanto a existir alguma “fobia” deveria ser do diferente e nunca do que lhe
é afim: a menos que os homossexuais confessem que eles não se sentem iguais,
mas diferentes, mas essa confissão estaria em contradição com o igualitarismo
ideológico tão caro ao discurso de suas respectivas agendas.
Em outras palavras, a “ideologia de gênero” impôs o paradoxo de dar uma
conotação patológica não àqueles que atentam contra a ordem natural, mas
àqueles que a defendem. Não é para menos; exoneração de qualquer um que
resista ao engano cultural é uma técnica conhecida, que também soube ser
definida pelo précito delinqüente idiomático Paulo Freire: “Quando a criação de
uma nova cultura é apropriada, mas é retardada por um ‘desperdício’ cultural
internalizado, é necessário expulsar esses resíduos por meios culturais. A ação
cultural e a revolução cultural constituem, em diferentes momentos, as formas
adequadas para essa expulsão”.[430] Em seguida, nada mais eficaz do que impor a
todo detrator da ideologia de gênero o rótulo infame de “homofóbico” e, assim,
expulsá-lo da contenda dialética: injúria artificial que já foi indulgentemente
reconhecido como própria dos acovardados expoentes do centrismo bem-
pensante e do libertarianismo funcional.
Mas, postas de lado as estratégias sujas, perguntamos: se os defensores da
ordem natural são considerados “homofóbicos” e, portanto, doentes (dado que a
fobia é uma doença), como pode ser, então, que se acuse de modo insultuoso de
“homofóbico” alguém que, sendo um doente, não só não deveria ser reprovado
por sua “fobia”, mas sim deveria ser compreendido e ajudado? Sem dúvida, a
incorporação acrítica da dita fabricação lingüística com pretensão depreciativa é
outro grande triunfo publicitário da nova esquerda.
Se o insulto não é “homofobia”, a palavra-talismã usada em seu lugar pelos
porta-vozes do gênero e seus bem-pensantes companheiros é justamente
“discriminação”, palavra-gatilho por excelência, aplicada a qualquer um que não
aceite docilmente conceder à Internacional Pink os caprichos de agenda. Até a
palavra discriminação também foi corrompida como se todo ato discriminatório
fosse ruim em si mesmo, quando, em seu pleno sentido, discriminar significa
“distinguir ou discernir”. Em uma palavra: discriminar é o oposto de confundir.
O que não se diz sobre o assunto que nos preocupa é que existem discriminações
que não surgem de preconceitos nem da lei, nem de qualquer “construção
cultural”, mas da própria natureza: “Ao se condenar qualquer discriminação,
deveria-se, portanto, reprovar as tarefas da membrana plasmática: as tarefas que
realiza para o bem do nosso corpo, uma vez que esta membrana seleciona e
discrimina as moléculas que devem entrar na célula e as que devem sair. Assim,
também deveríamos castigar a nós mesmos por distinguirmos o verdadeiro do
falso, o bem do mal, o natural do artificial”[431] sentencia o jovem ensaísta Juan
Carlos Monedero, em seu ensaio Línguagem, Ideologia e Poder, livro
precisamente dedicado a estudar as armadilhas linguísticas usadas pelos agentes
da subversão cultural.
Outro apelo recorrente da propaganda homossexual é o termo “diversidade”
— que, segundo a Real Academia Espanhola significa “dessemelhança”[432] —,
palavra estranha, posto que precisamente o que caracteriza a relação sexual de
uma pessoa com outra do mesmo sexo é que o outro não é um “diverso” mas um
“similar” — isto é, o oposto da diversidade. Assim, a relação homossexual,
longe de honrar o mantra alardeado da “diversidade”, faz o contrário: ela
representa o redundante, o equivalente, o imitativo: “No ato homossexual não se
realiza esse assombroso transcender até a união dos opostos; ao se fechar em si,
une apenas o mesmo com o mesmo, incapaz de saltar para os diferentes”[433]
observou o mencionado neurologista e psiquiatra Armando Roa.
Da mesma forma, um dos recorrentes truques linguísticos propagados é o
referido a pretensão manifesta de alguns travestis, que consiste em operar-se e,
assim, “mudar de sexo”. Porém, o sexo não se troca jamais na vida; em todo
caso, o que um travesti pode esperar é se submeter cirurgicamente a uma auto-
mutilação corporal que consiste em amputar os genitais, mas esta decisão insana
de arrancar o que se tem entre as pernas de modo algum implica que o homem
mutilado deixe de ser do sexo masculino: nasceu homem e morrerá homem, com
ou sem corte.
Esse tipo de farsas dialéticas como as exemplificadas são muito
semelhantes às promovidas pelas filicidas, ou seja, as mulheres pró-aborto,
aquelas que lutam pelo poder de assassinar seu filho antes do nascimento,
argumentando que perseguem o “direito de dispor de seu corpo”: ninguém lhes
nega esse direito, mas uma coisa é ter “seu corpo” — por exemplo fazer uma
tatuagem, tingir o cabelo ou operar os seios — e a outra bem diferente é dispor
do corpo de um terceiro, que ainda por cima não é nada mais do que seu próprio
filho, e cuja “disposição” consistiria em assassiná-lo. Apesar de insistirem no
enganoso eufemismo de chamar o dito crime como “interrupção da gravidez”,
encobrindo o assassinato com uma linguagem polida, uma vez que a gravidez
não é “interrompida”, porque a interrupção é a cessação temporária de uma
atividade para a retomada posterior, mas o aborto é um ato de natureza definitiva
e irreversível: precisamente porque a morte é um fato de caráter definitivo e
irreversível. Mas este item de ponto do aborto veremos in extenso em outro
capítulo posterior.
Digressão: não são poucas nem desautorizadas as vozes que sustentam que
a confusão comunicacional que se tenta semear não é apenas lingüística, mas
também visual, daí que desde há muitos anos se vêm promovendo a estética
“unissex” na indumentária. É de conhecimento público que a maior parte dos
estilistas são gays e não é por acaso que as modelos femininas dos principais
costureiros do vestuário ocidental sejam extremamente magras e com tendência
anoréxica (sem seios ou curvas acentuadas), ou seja, eles apresentam uma
imagem muito semelhante ao de efebos, que são o arquétipo da mulher que
agrada aos homossexuais — os estilistas gays exigem para vestir suas roupas
uma magreza enfermiza —, mas não é necessariamente o perfil físico que excita
aos heterossexuais.
Mas voltando às questões de linguagem: qual foi o segredo de uma
estratégia de comunicação tão bem-sucedida? Além das muitas contribuições de
Paulo Freire e de vários dos ideólogos já mencionados, nos anos 70, foi
publicado um extenso documento de marketing sodomita intitulado “Vendendo a
homossexualidade para a América”[434] (Selling homosexuality to America). Em
tal documento se detalhava os pormenores da campanha iniciada por grupos de
pressão naquele tempo, os quais, para esse fim, contrataram especialistas em
comunicação formados pela Universidade de Harvard, que puseram em prática a
aplicação do conceito “os quatro P” de marketing para transferir massivamente a
idéia normalizadora da homossexualidade.[435]
Este texto original serviu como prelúdio para que em 1989 um par de
publicitários homossexuais (Marshall Kirk e Hunter Madsen) se associassem,
entre outras coisas, para publicar nos Estados Unidos um livro chamado After
the Ball: How America Will Conquer Its Fear and Hatred of Gays in the 90’s,
em que detalhavam uma série de passos a serem seguidos na estratégia para
impor os objetivos de sua agenda. Esse livro tornou-se então o manual por
excelência usado por todos os movimentos pansexualistas modernos.[436] Nesse
trabalho, os autores sustentam que o público prioritário a conquistar é o dos
indecisos de centro — “os céticos ambivalentes”, de acordo com as suas
palavras — e a principal tática comunicacional deve apontar para o lado
emocional do interlocutor a ser convencido: “A dessensibilização tem como
objetivo reduzir a intensidade das reações emocionais anti-homossexuais a um
nível próximo da total indiferença; o bloqueio intenta obstruir ou se opôr ao
‘orgulho de ser preconceituso’ [...] ligando o ódio contra os homossexuais a um
sentimento prévio e autocastigador de vergonha por ser intolerante [...] Tanto a
insensibilidade como o bloqueio [...] são meros prelúdios para o nosso objetivo
máximo, embora infalivelmente muito mais lento de se obter, que é a
conversão”.[437]
Uma vez esgotada esta instância, a estratégia apela ao sentimentalismo e
tenta concentrar o debate recorrendo à “compaixão”. Dessa forma, assume-se
que quem apoia a agenda homossexual mostra compaixão e quem não,
insensibilidade. Mas, na verdade, essa dicotomia é outra distorção deliberada.
Para começar devemos esclarecer que a compaixão é um sentimento humano
nobre relacionado à consciência do sofrimento dos outros e ao conseqüente
desejo de aliviá-lo. Mas acontece que este sentimento é manipulado pela
ideologia de gênero, que não entende como compassivo a todo aquele que se
aproxima do homossexual com o propósito de ajuda-lo, mas sim aquele que o
elogia por seus hábitos. Quer dizer, o conceito de compaixão tem sido
habilmente manobrado nos debates e o sentimento reduzido somente ao seu
aspecto emocional, despojando de qualquer intervenção da razão, dado que se
alguém forma sobre o tema que nos ocupa um juízo refratário (seja moral,
biológico, antropológico ou científico), esse alguém “carece” de toda a
compaixão. Assim, com essa abordagem, a um amigo alcoólatra, a compaixão
não seria tentar resgatá-lo de seu desarranjo, mas provê-lo de maiores doses de
bebida para que não enjoe ou sofra de abstinência etílica.
Portanto, uma compaixão que não é guiada pela razão seria reduzida a um
simples impulso desprovido de prudência e discernimento. Em suma, a
“compaixão” como exposta e concebida em debates televisivos manipulados,
acaba sendo uma piedade equivocada, o que nos leva a dar ao paciente os meios
para que siga ligado a seus vícios e não o resgate dos mesmos: tal ação
favoreceria não a pessoa, mas a permanência de seus maus hábitos.
Os exemplos abundam e deturpações idiomáticas são trabalhadas de forma
permanente, dado que esta constante distorção da linguagem é parte do
catecismo dado pelo “pedagogo” Freire: “Para ser autêntica, uma revolução deve
ser um evento permanente ou deixará de ser uma revolução e se tornará uma
burocracia esclerosada [...] o processo revolucionário se converte em
revolucionário cultural”.[438] León Trotsky publicou A Revolução Permanente em
1930, algumas décadas mais tarde Freire também propôs a revolução
permanente, mas não pela agitação de rua como seu antecessor, mas como
revolução de deformação idiomática e cultural: novos ventos para bandeiras
velhas. Mesmos objetivos, mas estratégias diferentes. Aquela revolução foi
barulhenta, hostil, armada e dolorosa. Esta é silenciosa, amigável, desarmada e
com anestesia.
Não foi em vão que, nos anos 30, Charles Maurras, com sentida
preocupação, advertiu: “A verdadeira revolução não é a revolução nas ruas, é a
maneira revolucionária de pensar”.[439]
Pela razão ou pela força
Com o passar do tempo, essas tendências foram escalando posições e a
ideologia de gênero conseguiu intermináveis êxitos políticos não só conseguindo
forçar a aceitação popular de seus princípios, mas também impondo a amável
“aprovação científica” de muitos de seus comportamentos divulgados, mas não
por surgirem pesquisas acadêmicas superadoras, mas por causa da brutal coerção
política.
Foi no início dos anos 70 quando o piquetero sodomita Frank Kameny
liderou um grupo chamado ‘Frente de Libertação Gay’ e irrompeu no simpósio
anual psiquiátrico da APA (American Psychiatric Association), tomou o púlpito,
pegou o microfone e discursou: “A psiquiatria é o inimigo encarnado do
movimento gay, ao qual fizemos guerra para exterminar, esta é uma declaração
de guerra que fazemos contra os psiquiatras”.[440] Dois anos depois, estas e outras
constantes prepotências e extorsões deram seus frutos e conseguiram
descatalogar a homossexualidade da classificação de doenças mentais: “A
categoria da homossexualidade desaparece da MSD[441] em 1973, em parte
devido à pressão de grupos homossexuais”[442] confessou a mesmíssima Beatriz
Preciado. Mas, apesar de tamanha coerção, há cientistas que resistiram em
mudar os critérios científicos na ausência de outro grande argumento a não ser a
chantagem política; assim nasceu a Fundação NAHRT (National Association for
Research & Therapy of Homosexuality),[443] instituição médica que sustenta que
as pessoas com sentimentos homossexuais podem curar-se e reconverter-se à
heterossexualidade: escusado será dizer que a NAHRT é ferozmente atacada e
combatida pelo lobby sodomita e todas as organizações de esquerda que o
acompanham, não só intimidando seus membros, mas também sabotando seus
patrocinadores.
Não é para menos. A prepotência psico-política dos partidos da ideologia
de gênero e sua revolução permanente, a qual já fizemos menção, não só não
diminuiu, mas, a sua ambição de “normalizar” até mesmo os hábitos mais
repugnantes no simpósio realizado na cidade de San Francisco pela Associação
Americana de Psiquiatria (maio de 2003) violentamente pressionado para
também remover o sadomasoquismo e a pedofilia do Manual Diagnóstico de
Psiquiatria.[444] Sobre esta última aberração, esclarecemos que seus porta-vozes
tiveram o cuidado de evitar chamá-la dessa forma e para facilitar a aceitação
social referem-se sutilmente com o democrático nome de “sexualidade inter-
geracional.”
Não conseguindo o último objetivo assinalado, no verão de 2011 os
homossexualistas buscaram novamente descatalogar da lista de doenças mentais
a pedofilia: desta vez o passo foi dado em 31 de agosto daquele ano, quando foi
realizada uma conferência com o auxílio de médicos e sexólogos (organizados
pelo grupo pedófilo B4U-ACT[445] e a Universidade John Hopkins). Ali foi dito
que “os pedófilos são injustamente estigmatizada pela sociedade”, “que as
crianças não são incapazes de decidir com quem eles querem ter sexo”, “que o
desejo sexual de um adulto por uma criança é normal” e rematou sentenciando
que “os pedófilos sentem desejos amorosos pelas crianças da mesma maneira
que os adultos sentem desejos uns pelos outros”.[446]
Como a NAMBLA e outras abomináveis organizações pedófilas ainda não
lograram alcançar aceitação popular o suficiente, já apareceu outra rede que
pretende ser menos chocante e que se autodenomina “Pedófilos Virtuosos”
(Virtuous Pedophiles),[447] cujos defensores pedem a plena aceitação social, uma
vez que dizem seomente “fantasiar sexualmente com crianças”, enquanto
“garantem” não ter relações sexuais com elas, pois “se esforçam” para não
materializar o ato concreto e limitar o desejo perverso apenas ao “erotismo
mental”. Inclusive a propaganda desta corporação — que excede os 1.200
membros — confessa em seu portal de internet esforçar-se em “oficinas de
reflexão” para manter o “autocontrole”, mérito pelo qual não haveria razão para
sofrer qualquer estigma.
O certo é que, com ou sem abuso sexual concreto, esta repugnância
felizmente continuará a ser considerada um desvio sexual grave em catálogos
científicos, e pressões políticas da militância homossexual até agora não
puderam erradicar esse “preconceito burguês”:[448] é uma questão de tempo?
O “casamento” homossexual
A polêmica mais incendida da agenda homossexual nos últimos tempos,
ocorre em torno da imposição do chamado “matrimônio igualitário” (aprovado
na procaz Argentina kirchnerista no ano de 2010);[449] em seu favor, os lobistas
brandiram vários argumentos colaterais, porém eficazes, tais como dizer que
caso fosse aceita essa experiência legal, no caso de morte de um dos parceiros, o
“viúvo” teria direito a herdar os bens do falecido. Mas, se a herança era a
verdadeira preocupação dos sodomitas queixosos, era suficiente pedir não a
imposição jurídica de artifícios conjugais, mas uma simples modificação ou
ampliação de liberdade testamentária e, assim, o alardeado probleminha estaria
resolvido. Esse “argumento” não é o único aplicado pelo catecismo
homossexual. Muito se enfatizou também a necessidade de que, no seio de um
casal invertido, “não se tem direito de obter o trabalho social ou a cobertura
mútua de seu parceiro”. No entanto, a lei concedeu a extensão da cobertura do
afiliado ao seu parceiro em casais heterossexuais não por uma devoção generosa
à matemática transitiva, mas porque os vínculos heterossexuais são, por sua
natureza, de ordem pública. Em outras palavras, deles surge potencialmente a
prole e é do interesse social salvaguardar o Princípio de Subsidiariedade[450] à
família e sobretudo à crianças (sejam estes últimos de existência atual ou
potencial). No entanto, nada disso tem qualquer relação com a alegação de uma
minoria de inférteis por definição que exigem privilégios pecuniários à custa do
Estado ou das obras sociais, posto que se essa também fosse a sua pretensão,
para além de seus argumentos discutíveis, o que na verdade teriam solicitado
seria uma modificação na lei de serviços sociais e não uma rebuscada engenharia
matrimonial.
Além disso, estas incendidas exigências constituem um agravo comparativo
em relação às pessoas que vivem em conjunto com um projeto comum que não
inclui a relação sexual. Duas irmãs, dois amigos, ou uma tia com seu sobrinho
compartilham amor, compromisso, convivência e custos comuns, do mesmo
modo em que podem fazer duas pessoas com a atividade homossexual. No
entanto, aquelas não poderiam gozar dos direitos do matrimônio simplesmente
por não terem relações sexuais entre si. Ou seja, está-se premiando
imerecidamente e por pressão política um sindicato de interesse genital e
punindo por não participar de qualquer espécie de sexo aqueles que também
convivem, porém impulsionados apenas pelo afeto e cooperação mútua. Com
efeito, o direito não protege nenhum relacionamento humano, senão apenas
aqueles essenciais para a organização comunitária. Conseqüentemente, a razão
pela qual o casamento em si tem um estatuto especial dentro do sistema jurídico
é porque as futuras gerações surgem precisamente a partir dessas uniões.
Como podemos ver, nenhum dos argumentos propagados pela ideologia de
gênero vai ao centro do debate, mas baseia tudo na alegada discriminação
existente ante a ausência de certos benefícios que poderiam ser discutidos em
outro nível e sem a necessidade de inventar enteléquias parentais que afetam a
instituição do casamento verdadeiro, o qual se vê agressivamente degradado
após ser equiparado ao amontoado de relações antinaturais: não pode haver
discriminação injusta quando o elemento fundante e a condição de possibilidade
para a existência de um matrimônio não se cumpre.
Apesar disso, os ideólogos homossexuais freqüentemente alegam que o
casamento heterossexual não seria afetado pelo aparecimento do “casamento
homossexual”, uma vez que poderia coexistir pacificamente com o primeiro. No
entanto, esta tese é prejudicial para o casamento de verdade, porque se o vício se
senta ao lado da virtude sob o disfarce de “coexistência pacífica”, se sabe que a
virtude é que se degrada ao ser equiparada a um subproduto irregular. Em outras
palavras, ao colocar o melhor em pé de igualdade com o inconveniente, se nivela
por baixo; e assim confessa e reconhece com burlesca alegria o homossexual
espanhol Paco Vidarte: “Rimos quando vemos a irritação que pomos nos facistas
por havermos despedaçado o significado de seu tão querido 'matrimônio'. Eu os
compreendo. Têm toda a razão. Se duas lésbicas podem casar-se de igual
maneira que o filho da marquesa com a filha do empresário, então o matrimônio
já deixou de ter significado, já não tem nenhum sentido para aqueles que o
inventaram”.[451] Deixando de lado o tom zombeteiro de Vidarte, a verdade é que
a este delito declarado caberia acrescentar o fato de que o casamento entre
homem e mulher se tornaria uma simples espécie dentro de um impreciso gênero
matrimonial, o qual passaria a ser não um nobre ideal a ser alcançado, mas uma
mera conjunção de vontades amatórias sem qualquer outro requisito que a
constatação do desejo ocasional das partes indeterminadas de se juntar, seja se
esse apetite sexual vem de um homem e uma mulher, de duas pessoas do mesmo
sexo, ou de mais pessoas buscando formar uma espécie de amontoado
multilateral: “Agora nos sentimos como um verdadeiro matrimônio”, disse o
garanhão holandês Victor Bruijn ao “casar-se” simultaneamente com duas
esposas (Bianca de Bruijn, 31, e a namorada de ambos, Mirjam Geven, 35). De
fato, Victor e sua esposa se encontraram com Mirjam (divorciada da cidade de
Middelburg) por meio de uma sala de bate-papo na Internet, e apenas dois meses
após esse contato, Mirjam mudou-se para viver com o casal, que tomou a
precaução de comprar uma cama maior, a fim de facilitar espacialmente os
arranjos triangulares de amor: “Elas são bissexuais. Teria sido mais difícil se
elas fossem heterossexuais, então não temos ciúmes”, explicou o presumível
contorcionista do tripé conjugal.[452]
Tampouco gerou grandes problemas de ciúme o “casamento” entre um
adulto australiano de 20 anos (Joseph Guiso) e sua cadela, uma vez que a boa
predisposição emocional do animal pelo seu mestre iria confirmar que o cão
prestava consentimento tácito para materializar o zoofílico vínculo “familiar”.
[453]

“Registraram o primeiro bebê com filiação tripla na Argentina”[454]


encabeçava o diário Infobae em 23 de Abril de 2015, dando conta de uma
criatura chamada Antonio, cujo pai engravidou uma lésbica que por sua vez é
“casada” com outra lésbica e, portanto, a criança foi noticiada pelos jornais por
ter o “privilégio” de levar o sobrenome dos três: das duas lésbicas que moram
juntas e do provedor do sêmen. Antes se dizia que um pai poderia ter vários
filhos. Agora a questão é saber quantos pais um único filho terá?
Mas as extravagâncias sempre podem ir um passo além e, na Suécia, a
juventude do Partido Popular Liberal acaba de aprovar uma moção para
promover que em seu país seja permitido o incesto entre irmãos e a necrofilia
(antecâmara do casamento incestuoso e do casamento com os mortos): “Eu
entendo que (a necrofilia e o incesto) podem ser vistos como incomuns e
repugnantes, mas a lei não pode tomar por base se algo é desagradável ou não”,
disse a libertária Cecilia Johnson (versão euro-nórdica da stand-upista Gloria
Alvarez), presidente da LUF em Estocolmo. A líder tomou a burocrática
precaução de esclarecer, a respeito da necrofilia, que deve existir uma
autorização por escrito por parte da pessoa antes de sua morte, e, portanto, “deve
ser a sua própria decisão o que acontece com seu corpo depois da morte: se você
quiser deixar seus restos mortais para um museu ou se quiser permitir que
alguém durma com eles”.[455] Em suma, já se sabe há algum tempo que os
libertários não têm muito a ver com os liberais históricos. Quer dizer, com
aqueles que em um mundo marcado pelo totalitarismo defendiam legitimamente
a liberdade individual sem perder de vista que existem limitações e restrições
razoáveis para isso (tanto seja por deficiências de ordem natural e da vida em
comunidade). Trabalho muito diferente do que hoje certos grupelhos estudantis,
espécie de neo-hippismo e utopismo twittero que tão gratuita e funcionalmente
trabalham para o marxismo cultural, ainda que seus ativistas não o percebam.
Mas quem, sim, percebeu e retratou com sarcástica alegria foi o próprio
freudiano-marxista Herbert Marcuse, que ridicularizando estes anarquistas de
brincadeira, anos atrás escreveu: “O inimigo tem já sua ‘quinta coluna’ dentro do
mundo limpo: os hippies e sua laia, com cabelos e barbas longas e calças sujas:
aqueles que são promíscuos e têm liberdades que são negadas àqueles que são
limpos e ordenados”,[456] maneira elegante de Marcuse chamar de idiotas úteis
aqueles que, acreditando-se seus inimigos, trabalham gratuitamente em seu
favor.
Em suma, a disparatada casuística de “casamentos” rebuscados poderia
acumulá-la e citá-la em um livro separado, mas apenas um punhado de bons
exemplos atuais para advertir até onde se pretende naturalizar a insensatez sob o
pretexto de não ser um “discriminador” insensível. Porém a respeito
pontualmente do casamento gay, de acordo com a lógica aristotélica, a não
discriminação consiste em “igualdade de tratamento entre iguais”, portanto, não
dar a eles o direito de contrair “casamento” não incarna qualquer tipo de
discriminação, uma vez que eles não são “iguais” mas apenas homossexuais. A
condição homossexual de uma pessoa não a torna mais digna ou menos digna do
que a de um heterossexual, ela a torna diferente. E pelas próprias características
de seu modo sexual de vincular-se, não é pertinente obter qualquer artifício legal
para exercer uma função social que a própria natureza nega. Em outras palavras:
acusar de discriminação o Estado por não endossar “casamento gay” equivale a
considerar que o Estado é discriminatório quando se recusa a conceder uma
carteira de motorista a um cego.
Mais uma vez, temos que voltar aos princípios gerais do senso comum:
somos iguais perante a lei, mas não pela lei. O que isso significa? Que em
condições iguais todos nós temos os mesmos direitos, mas um homossexual,
como um homem cego, não carrega condições iguais, mas, infelizmente
desiguais, portanto, merecem um tratamento decente, mas fora da regra geral. A
lei não deveria forçar equações que não são eqüitativas de maneira alguma: a
igualdade jurídica não pode e não deve suplantar a desigualdade biológica.
Precisamente, igualdade legal significa que todos aqueles que têm a
capacidade de dirigir um carro têm o direito de obter tal licença. Mutatis
mutandis, todos aqueles que têm a capacidade de se casar têm o direito de ser
capacitados a fazê-lo. Isso significa que um homossexual não tem o direito de
viver com um análogo e compartilhar um projeto emocional-sexual comum?
Claro que não, e nunca discutimos esse ponto. Mas, como esse ato privado não é
de interesse público, o Estado não tem e não deve conceder qualquer garantia
oficial, nem dar-lhes privilégios que a própria natureza do vínculo que
escolheram impeça.
As leis positivas — isto é, as leis escritas — devem estar subordinadas às
leis naturais e não colidir com elas. Por mais que uma lei legislada no
Parlamento declararasse a abolição da lei da gravidade, esta lei sem sentido não
impediria que se um deputado saísse da sessão e saltasse pela janela, se
estatelasse no piso: o alegre consenso democrático não pode, por mais quorum
que alcance, violar a natureza, mas apenas parodiar uma “compensação” pelas
aparentes “injustiças” que a união homossexual afirma sofrer. Pode-se
argumentar em contrário que “o comportamento homossexual é observável em
animais[457] e como os animais seguem seus instintos conforme a natureza e o
homem também é um animal, a homossexualidade deve, então, concordar com a
natureza”. Esta comparação teria que aceitar como bom ou natural o
canibalismo, o incesto ou os pais matarem ou comerem os seus filhos — práticas
recorrentes em algumas espécies — e legitimar tal conduta por uma lei: mas é a
natureza que impõe ao comportamento humano o detalhe de que esta se
subordine à razão e não ao impulso selvagem, daí os comportamentos bestiais
mencionados acima tenderem provocar aversão instintiva ou espontânea na
consciência do homem.
E por que ao Estado interessa legitimar e regular o vínculo matrimonial e
não o mero vínculo de amizade, por exemplo? Porque do vínculo matrimonial
surge a prole, quer dizer, seres inocentes e indefesos que em dado momento
podem exigir a protecção subsidiária ou uma cobertura legal complementar, e é
por isso que os pais não só têm obrigações um para com o outro, mas
fundamentalmente deveres afetivos e materiais para com a criatura que eles
geram, daí que brota a necessidade de contemplar legalmente a situação, pois é
ordem pública e toca o interesse do bem-comum da comunidade. Por outro lado,
o Estado não está interessado em saber se João e Pedro são apenas amigos, e
nem eles têm que registrar a sua amizade em qualquer repartição, uma vez que a
amizade é um afeto particular, sem qualquer conotação de ordem pública. Da
mesma forma, não importa para o Estado se João e Pedro, além de amigos, têm
vínculos genitais entre si.
Poder-se-ia argumentar depois que, se tudo depende da capacidade de
procriar, quando um homem e uma mulher são estéreis ou têm idade avançada, o
Estado também não deveria permitir que se casassem. Mas esse argumento é
uma pequena bravata: não há comparação possível entre a esterilidade natural de
um casal e a esterilidade de um relacionamento homossexual. No primeiro caso,
o ato conjugal praticado pelo marido e pela esposa tem a possibilidade de
engendrar uma nova vida. A concepção pode não ocorrer devido a uma
disfunção orgânica em qualquer um dos cônjuges ou em qualquer outra
circunstância. Mas essa falta de concepção surge por motivos contingentes,
volitivos ou circunstanciais. Portanto, é uma esterilidade acidental. Por outro
lado, na relação homossexual, a esterilidade não é acidental, mas se torna
inerente à fisiologia do ato, que é infértil por natureza e definição.
Finalmente, concluímos este subcapítulo com a seguinte reflexão: o Estado
deve ser abstencionista e limitar-se apenas a garantir aos homossexuais seu
direito legítimo de viver sua intimidade carnal como quiserem, mas não o direito
de receber privilégios alheios à natureza do homossexualismo. Vale dizer, não
pretendemos que o Estado proíba os vícios sexuais desde que não prejudiquem
os direitos de terceiros. Simplesmente entendemos que o Estado não deve
incentivar ou institucionalizar esses distúrbios, atribuindo status social e legal à
formas de vida que não são e não podem ser matrimoniais.
A abstenção do Estado não só não se opõe à Justiça, mas, pelo contrário, é
exigida por ela.

A adoção homossexual
O casamento em sua concepção heterossexual não constitui uma instituição
importante por mera imposição cultural, mas porque dessa união deriva a
procriação da espécie e dela depende a própria sobrevivência da humanidade,
nada menos.
Nós já vimos como a proclamação do “casamento gay” é baseada em
“exigências hereditárias”, em reivindicações relativas à “cobertura social”, em
aforismos ligados a “não-discriminação” e em alguns outros slogans de pouca
importância argumentatiava. Nada essencial é discutido e alegado que não possa
ser resolvido por qualquer outra maneira que não por coerção legal. Por que
então tanta insistência? É difícil dar uma resposta categórica. Uma possível
resposta poderia ser que, na verdade, o que se buscou com essa pressão não foi
necessariamente o próprio casamento, mas que este atue como antessala para a
obtenção do direito à adoção de crianças.
Em geral, as crianças disponíveis para adoção estão em situações
vulneráveis. Muitos perderam ambos os pais. Outros os têm separados ou
empobrecidos. Muito frequentemente a criança foi concebida fora de vínculos
estáveis e como resultado de relacionamentos fugazes ou promíscuos. Portanto,
o bem-estar dessas crianças depende de tirá-las da situação irregular o mais
rápido possível e pô-las o mais próximo possível de um ambiente de
normalidade familiar. Então, não é incomum para casais generosos — muitas
vezes sem filhos — adotá-los, dando-lhes afeto e estabelecendo conexões
afetivas talvez tão intensas quanto costumam ser com seus próprios filhos de
sangue.
Nesta pretensão adotiva, o lobby homossexual argumenta que “eles têm
tanto direito de desfrutar da paternidade como em qualquer outro casamento” e,
portanto, exigem que lhes seja dada uma porção de crianças em adoção. No
entanto, as crianças não devem estar lá para satisfazer o prazer de uma minoria
sexualmente sindicalizada. O menor tem o direito de ser adotado por sua
dignidade de criança, não como um passatempo ou regozijo de um casal de
homossexuais que ocasionalmente vivem juntos. E dizemos “que
ocasionalmente coabitem” porque a vida de um casal homossexual é muito mais
promíscua, infiel, viciosa, temporária e instável do que de um casal
heterossexual: um homossexual médio tem relações sexuais com diferentes
amantes em uma quantidade 12 vezes maior do que um heterossexual, sendo que
cada homossexual que tenha um parceiro estável freqüenta ao mesmo tempo
(provavelmente escondido) uma média de oito amantes por ano[458] e foi
justamente o Dr. Barry Adam (professor homossexual na Universidade de
Windsor, no Canadá), que apresentou um trabalho em que chegou à conclusão
de que apenas 25% dos casais sodomitas eram fiéis um ao outro.[459]
Mas vamos voltar ao assunto. Embora gerar ou adotar uma criança traga
satisfação legítima aos pais, essa satisfação não é o objetivo final da adoção ou
procriação, mas proporcionar à criança um bem-estar material, emocional e
moral. Isto é, os interesses genuínos dos pais são subordinados aos da criança e,
portanto, mal poderiam as crianças serem disputadas como uma espécie de
troféu a partir de uma confederação: A criança. O que aconteceu quando o meu
namorado e eu decidimos engravidar era o título do livro publicado pelo
jornalista homossexual americano Dan Savage,[460] no qual ele narra em primeira
pessoa quais foram as motivações que o levaram a adotar uma criança: “Ter
filhos não é uma questão de propagar a espécie (...) é algo para adultos, um
passatempo, um hobby. Então, por que não ter crianças? Os homossexuais
também precisam de hobbies ... eu fiz travestismo. Eu tenho me travestido de
Barbie, de dominadora, de freira e de glamourosa. Agora vou me vestir de
papai”.[461]
A adoção é uma instituição que existe para acolher uma criança que tenha
sido privada de sua família, e, portanto, tem o objetivo de dar à criança um
ambiente o mais apropriado possível para o seu desenvolvimento, o que significa
que a adoção tenta replicar o âmbito afetivo e vincular perdido pela criança, que
dificilmente poderia ser o caso se adotado por “casais” sodomitas, que muitas
vezes são formados em uma atmosfera artificial e surreal onde os papéis naturais
são apagados e, para piorar a situação, os homossexuais geralmente têm amigos
e contatos pertencentes a seu próprio clã, diante dos quais a criança cresceria e
seria educada em um microclima fechado marcado pela extravagância,
promiscuidade e confusão.
“Havendo tantas crianças desabrigadas, não é preferível que elas sejam
adotadas por dois homossexuais antes de continuarem nesse estado de
abandono?”, costumam perguntar os defensores desse experimento. Mas essa é
uma falsa escolha, porque o dilema não é o caso que, se as crianças de rua estão
com fome, então é aconselhável roubar: o ideal é que não padeçam de fome nem
estejam na rua. Em outras palavras, se há crianças desamparadas, o que se deve
procurar é que sejam adotadas por uma família normal, pois o ideal deve ser
mantido, uma vez que os valores não valem a pena por resolverem um problema
fortuito ou passageiros, senão porque per si e universalmente são valores
objetivamente bons e fecundos. Ao que se deve acrescentar o fato de que a
demanda de pais que querem adotar crianças é muito maior do que o número de
filhos em possibilidade de adoção (outro argumento que joga fora esse falso
dilema). A prova disso é que muitos pais tendentes a adotar, sentindo-se
cansados por esperar tanto tempo e pela burocracia, decidam tentar no exterior,
algo que se tornou muito visível após o brutal terremoto de 2010 no Haiti,[462]
quando muitos pretendentes que estavam tramitando a adoção viram os
procedimentos complicarem após a tragédia.
“E os casais heterossexuais que maltratam seus filhos? Os menores não
estariam mais protegidos com um casal homossexual que os ama?” Aqui está
outro falso dilema. Por causa dum erro não se pode perder o valor. Por causa do
fato de que existem juízes desonestos, o Poder Judiciário deve ser anulado? O
que se deve fazer é preservar os juízes honestos, expulsar os desonestos e
substituir essa ausência por um número de juízes probos. Mutatis mutandis, os
pais abusivos devem perder a guarda de seus filhos e estes devem ser entregues a
famílias que saibam como dar-lhes o amor que merecem, mas esse abuso não
abre nenhuma porta para áreas arriscadas e antinaturais.
Não seria discriminatório negar a criança para adoção a dois sodomitas que
a exigissem? Seria tão “discriminativo” quanto quando um casal heterossexual
tem freqüentemente a adoção negada (como é geralmente o caso) porque que
não cumpre os requisitos ambientais, psicológicos ou de idade, saúde ou
economia e, no entanto, nesses casos, ninguém grita “discriminação”, já que é de
senso-comum advertir que a prioridade é sempre que o ambiente seja propício
por todos os conceitos ao bem-estar da criança.
Por mais que se pretenda fabricar argumentos, o fato é que na adoção
sodomítica a criança não só é privada de uma mãe ou um pai (conforme o caso),
mas também é lançada em uma aventura experimental onde em está em risco
não só sua integridade psicológica, mas física, sendo forçada a conviver num
ambiente tão propenso a doenças venéreas ou patologias características desse
círculo, além do risco percentualmente elevado, e contra o qual muitos alertam,
de serem abusados por seus próprios pais adotivos, tal como indicado pelos
relatórios que veremos mais adiante.[463]
Do dito acima, é preciso acrescentar o fato de que um menor educado em
uma “família” homossexual é mais propenso a repetir esse padrão de
comportamento em comparação com menores educados em uma família
heterossexual: a presença do comportamento homossexual em crianças criadas
por casais do mesmo sexo é oito vezes mais freqüente que a média.[464] Em 1995,
um estudo científico foi elaborado por Bailey et al., no qual trabalhou-se com 85
filhos adultos de uma idade média de 25 anos criados por pais homossexuais ou
bissexuais. As conclusões mostraram uma percentagem de crianças com uma
identidade homossexual ou bissexual de 9%, quando a média geral é de pouco
mais de 1% nos EUA.[465] Dois anos mais tarde (1997), conforme um novo
estudo longitudinal publicado no Journal of Ortopsychiatry (Golombok e
Tasker), indicou-se que de 46 casos de crianças adotadas (20 homens e 26
mulheres) 25 delas que foram criadas por mães lésbicas e 21 por mães
heterossexuais (cada adotado foi questionado em uma idade média de 23 anos),
as respostas destes jovens foram como se segue: quando questionado se eles
consideravam possível manter uma relação homossexual, 56% dos educados por
casais homossexuais disseram que sim, enquanto apenas 14% daqueles que
foram educados por casais normais responderam afirmativamente. 24% daqueles
criados por casais homossexuais já tiveram relações homossexuais, enquanto
nenhum daqueles criados por mães normais tiveram relações homossexuais.
Finalmente, 8% daqueles criados por mães lésbicas considerarem-se homo ou
bissexuais, enquanto que nenhum daqueles educados por casais heterossexuais
se assumia dessa forma.[466] Outro estudo muito ilustrativo pela quantidade (4640
casos estudados) foi o de Cameron e Cameron (elaborado em 1996), em que, de
toda a grande amostra, 17 jovens afirmaram ter pelo menos um pai homossexual.
Dessa pequena parcela, 35% do total se identificaram como homossexuais e,
quando perguntados se tinham tido relações sexuais incestuosas (isto é, se
tinham sido abusados por seus pais), a resposta era que 5 de 17 (ou seja, 29%)
sofreu tal aberração, enquanto que apenas 28 dos restantes 4623 entrevistados
restantes (ou seja, 0,6% das crianças de pais heterossexuais) sofreram a
repugnante agressão.[467]
Além dos riscos expostos, em 2010 o Dr. George A. Rekers (professor de
neuropsiquiatria e ciências comportamentais da Faculdade de Medicina da
Universidade da Carolina do Sul nos EUA) apresentou seu relatório científico
sobre outras conseqüências que seriam sofridas por crianças adotadas por casais
gays em um simpósio no México dedicado ao assunto, e chegou às seguintes
conclusões: “havia uma maior probabilidade de que as crianças adotadas
desenvolvessem uma tendência homossexual, do que aquelas que vivem com
mãe e pai, pois os menores tendem a viver e copiar os papéis da vida de seus
pais” acrescentando que eles também sofrem “maior promiscuidade na
adolescência ou maturidade, vícios, transtornos psiquiátricos, tendências suicidas
e elevado número de doenças sexualmente transmissíveis”.[468]
E, embora seja verdade que ainda não existam dados suficientes ou
categóricos para chegar a conclusões definitivas e ainda não há estudos
estatísticos que nos permitam pôr fim à controvérsia,[469] já existem inúmeros
livros com testemunhos de pessoas que foram educadas por pais homossexuais
que narram as suas experiências tão dolorosas quanto desagradáveis e que, por
razões de decoro, nos recusamos a transcrever.[470]
Por ora e diante da “dúvida”, é evidente que o que deveria ter sido feito
tanto na Argentina como nos países que legalmente aprovaram essa transgressão
arriscada, é ter preservado a situação anterior e de forma alguma expor as
crianças a especulações de resultados incertos e sem dados científicos suficientes
para nos permitir chegar a uma conclusão definitiva.
Capítulo 4
A confederação filicida
Advertência preliminar
Embora o tema que abordaremos a seguir esteja mais relacionado ao
feminismo do que ao lobby homossexual (ou seja, com o que foi desenvolvido
por Agustín Laje), por fazer parte da agenda político-legal progressista dos
ideólogos de gênero, decidimos incluí-lo nesta seção do livro, porque, como a
matemática diz corretamente: a ordem dos fatores não altera o produto.
A pergunta de cabeceira
O que é aborto? Esta discussão eterna e trivial nunca é definida porque
precisamente as barulhentas próceres do assassinato de crianças usam um
sofisma semântico permanente para confundir o debate. Mas para que a
discussão mantenha algum sentido, é necessário partir desta questão que
encabeça este parágrafo.
“O aborto é a interrupção da gravidez”, o militante do aborto responderia
mecanicamente, para encobrir o filicídio com linguagem cortês. Mas desde que a
“interrupção”, por definição, é a cessação temporária de uma atividade para a
retomar posteriormente, a dita resposta seria errônea, pois que a gravidez não se
“interrompe” e, portanto, o aborto é um ato de natureza permanente e
irreversível justamente porque a morte é um fato definitivo e irreversível:
“enforcar é interromper a respiração”, disse sarcasticamente Julián Marías.
Vamos voltar à questão de origem. O que é o aborto, então?
O aborto é a morte do concebido. Essa morte pode ocorrer por causas
naturais ou interferência externa. Diferente é o caso do bebê nascido vivo e
posteriormente assassinado; isso seria um homicídio do subtipo infanticídio. Mas
se é morto antes do nascimento, então tecnicamente há um aborto. Apesar dos
diferentes momentos do crime, ambos os homicídios compõem o que é
conhecido como filicídio, se o assassinato foi causado pela ação ou
consentimento da mãe e/ou do pai.
No entanto, os defensores do aborto minimizam esta situação em função de
uma série de arbitrariedades que eles escolhem no calendário, e depois inventam
que se a gravidez é recente, o aborto pode ser viável porque “a pessoa ainda não
está formada” — é comum que feministas e psico-bolcheviques que lhes dão
suporte justifiquem isso até pelo menos os três primeiros meses de gravidez.
Mas então, a partir de que semana e de que horas começa a vida? Com a união
do óvulo e do esperma ou quando o supersticioso almanaque progressista nos
impõe?
De fato, os ideólogos de gênero argumentam que antes de um certo número
de semanas não existe tal vítima, uma vez que o produto da concepção “ainda”
não é um ser humano, mas uma simples massa de protoplasma e, portanto, o
aborto não seria muito mais do que remover um parasita (tal como o definiu
textualmente a maoísta Simone de Beauvoir), isto é, no momento, o bebê não é
mais do que uma massa de carne irritante e descartável instalada no útero
materno.
A ciência por cima das patacoadas ideológicas
Mas não são os fetichismos progresssistas, e sim a ciência da embriologia e
da biogenética que demonstraram com absoluta certeza que a vida humana
começa no momento em que o gameta masculino (esperma) e o gameta feminino
(óvulo) se unem, e é nesse processo de fusão que 23 cromossomos do
espermatozóide são acoplados a 23 cromossomos do óvulo materno. Isto forma o
zigoto, isto é, um novo ser formado inicialmente por 46 cromossomas, com o seu
material genético próprio e um sistema imunológico diferente do da mãe. Ou
seja, após a fertilização do óvulo não há outro estágio em que o embrião receba
uma nova e essencial contribuição genética para ser o que já é. Desde então, o
embrião só precisa de nutrição, oxigênio e tempo para atingir a plena maturação
de um homem adulto. Este novo ser humano começa a se desenvolver como tal
desde o momento da concepção. Então, o zigoto não é um ser humano em
potencial: é um ser humano com grande potencial.
O desenvolvimento do sistema nervoso começa 14 dias após a concepção.
Após 21 dias o coração começa a bater e bombear sangue. Nesse mesmo
período, o cérebro começa a se diferenciar e a esboçar o que mais tarde se
tornarão as pernas e os braços. Depois de quatro semanas, os olhos começam a
se formar. A partir da quinta semana, estima-se que o bebê já sente o gosto, o
toque e a dor. Em seis semanas, a cabeça tem sua forma quase final, o cérebro já
está bem desenvolvido, mãos e pés começam a se formar, e logo as impressões
digitais (as mesmas que terá toda sua vida) aparecerão. Depois de quarenta dias,
a atividade cerebral já é capturada pelo eletroencefalograma. Com oito semanas
o estômago começa a secreção gástrica. Aparecem unhas. Às nove semanas, a
função do sistema nervoso é melhorada: reage a estímulos e detecta sabores, pois
verificou-se que quando se adoça o líquido amniótico — líquido no qual o bebê
nada no útero materno — ele come mais, enquanto que, quando se salga, ele
rejeita. Às onze semanas, o bebê já está chupando o dedo — algo que pode ser
visto perfeitamente em um ultrassom. E, finalmente, a partir do nascimento,
tecnicamente a única mudança pela qual a criança passa é aquela relacionada à
modificação do sistema de suporte externo para a vida inerente aos seus métodos
de alimentação e obtenção de oxigênio.
O almanaque progressista
Então, o que é esse passatempo progressista que consiste em especular com
as semanas do almanaque como quem joga “Batalha Naval”[471] para ver se
matamos o bebê nesta terça-feira ou o salvamos na próxima semana? O bebê
ainda não nascido tem mais dignidade de acordo com a idade gestacional?
Podemos salvá-lo duas horas após o prazo “aprovado” pela vanguarda solidária,
mas não duas horas antes do prazo dado pelo socialista benevolente? Questões
interessantes porque outras pseudo-argumentações do aborto nos dizem que “na
barriga o bebê é totalmente dependente da mãe”, portanto, por causa dessa
dependência, “a coisa” ainda faz parte do corpo da mãe e está sob seu poder
decidir matar a criança ou não. Mas o fato de que, em certa fase de sua vida, o
filho precise do ambiente do ventre da mãe para subsistir, não implica que ele
seja uma parte da mãe. Como afirmado, desde a fecundação, a criança já tem seu
patrimônio genético e seu próprio sistema imunológico diferente daquele da mãe
com quem tem uma relação que, para exemplificar, diríamos que é comparável
àquela que um astronauta mantém em relação a sua nave: deixá-la significaria
morrer, mas não é por estar temporariamente dentro dela que é uma parte sua.
Ninguém nega às mulheres o direito de dispor de seu corpo, mas uma coisa
é dispor do “corpo” e outra coisa é dispor do corpo de um terceiro, e ainda por
acima quando esse terceiro é nada mais e nada menos do que seu próprio filho,
cuja “disposição” consistiria em assassiná-lo. Tão independente é o corpo da
criança em relação ao corpo da mãe, que nem sequer forma parte do corpo da
mãe a placenta, ou o cordão umbilical, nem mesmo o líquido amniótico; esses
órgãos foram gerados pelo filho desde sua etapa de zigoto, porque são
necessários para as primeiras fases de seu desenvolvimento e serão abandonados
ao nascer, da mesma forma que anos após o nascimento, a criança abandona os
dentes de leite quando eles não são mais úteis para continuar crescendo. Portanto
argumentar que a criança faz parte do corpo da mãe constitui ou má-fé ou
ignorância: conste que, em geral, os ideólogos e intelectuais do progressismo
podem ser descritos como pérfidos, mas raramente como ignorantes.
Mas voltando ao insistente tema da “dependência da criança em relação à
mãe”, deve-se acrescentar que, por outro lado, um bebê recém-nascido também
mantém um alto grau de dependência dos cuidados da mãe — mesmo que depois
do nascimento respire sozinho ou se alimente sem o cordão umbilical —, dado
que se ela o ignorar por apenas algumas horas, a criança expirará em breve: Tem
mais dignidade uma criança de cinco anos de idade do que uma que tenha
nascido há cinco dias, uma vez que esta é mais dependente do que aquela por
não saber falar ou andar?
O maior paradoxo é que as feministas hipócritas que agitam bandeiras em
olímpico desprezo pela vida do nascituro são a mesma gangue que, em seguida,
milita a serviço de milionárias ONG’s “ambientalistas” para lutar contra a caça
de baleias na Rússia, enfurecer-se pelo óleo incrustado em pinguins da
Patagônia, preocupar-se com mosquitos africanos em aparente perigo de
extinção ou resmungar sobre brigas de galo que ainda persistem em algumas
cidades da América Latina: propõem o genocídio infantil, mas brigam contra o
desmatamento.
Sem dúvida, o agitador urbano do tipo lumpen-progressista (na versão
lesbo-feminista ou trotskista-varonil) não é apenas um verdadeiro idiota útil a
serviço dos grandes laboratórios abortistas, que ganham milhões vendendo
órgãos de crianças abortadas; ele também serve de auto-falante gratuito da
Internacional filicida financiada pela Fundação Ford, a Fundação Rockefeller, a
Planned Parenthood[472] e a Fundação Bill & Melinda Gates, não sem os
auspícios do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), o qual, por sua
vez, envia enormes somas de recursos para os esquerdistas milionários da
Anistia International, para o Grupo de Ativistas Lésbicas Feministas (GALF),
para o Movimento Amplo de Mulheres e outras corporações transnacionais de
esquerda com boas rendas em dólar, e cujos líderes levam uma confortável vida
rentista, bem dispostos a desfrutar dos benefícios da “sociedade de consumo”,
contra a qual se opõem seus militantes barulhentos e maltrapilhos de escala
territorial.
Os métodos de “saúde reprodutiva” favoritos do direito-humanismo
Os métodos para matar o bebê no útero materno são muitos e variados —
ao menos meia-dúzia de métodos conhecidos são aplicados[473] —, mas dois são
os mecanismos por excelência e os mais comuns, que explicaremos muito
brevemente.
O primeiro é a de “sucção”, que consiste em inserir na vagina materna um
tipo de tubo com um potencial vinte vezes mais potente do que um aspirador de
pó, o qual aspira o bebê destacando seus membros, gradualmente desintegrando-
o e transformando-o finalmente em uma espécie de purê de sangue, que é
depositado em um recipiente.
Porém, se a criatura tem entre 3 e 9 meses de gestação, então, por conta de
seu desenvolvimento físico, já não é possível desmembrá-la somente com a
sucção, fazendo-se necessárias outras armas de destruição. Então, o que é
conhecido como “dilatação e evacuação” é comumente usado. Nesta última
técnica, o colo do útero é amplamente dilatado e, como os ossos da criança já
estão calcificados, são introduzidas pinças para arrancar seus braços e pernas,
então a criança tem a coluna vertebral destroçada e, finalmente, esmaga-se o
crânio por completo.
Uma vez que o bebê esteja completamente destruído, os restos estão
prontos para a sucção subseqüente. Extraídas as partes da criança esquartejada,
para não deixar dúvidas, o aborteiro deve reconstituir todo o corpo do bebê a fim
de garantir que não há mais nada no útero da mãe, caso contrário, ela poderia
sofrer uma infecção.
Garantida a reconstrução do cadáver, os restos da criança já estão prontos
para serem atirados fora (no caso dos seus órgãos não serem removidos para o
tráfico).
O sentimentalismo abortista

Como a evidência científica está muito acima do charlatanismo


progressista, no fim das contas, os grupos feministas e organizações que
pretendem defender os direitos humanos (mas brigam pelo direito de matar
crianças) terminam com argumentos de cunho sentimental, como a sucessiva
fabricação de histórias traumáticas que — de acordo com seus pesarosos
cronistas — a mãe grávida sofre e, assim, justificam como um “mal menor” o
suposto assassinato da criança: “A mãe é pobre e ainda por cima tem outros três
filhos para sustentar: um de dois, um de quatro e outro de seis anos. Obrigá-la a
ter outro filho indesejado é um ato de insensibilidade”. Em outras palavras, em
vez de ajudar a resgatar as mulheres da pobreza, o que seus porta-vozes propõem
é matar o feto por razões econômicas. Pois bem, como é bem sabido que a
economia não é o mais forte dos filósofos do progressismo, nós que estamos na
direita e que tendemos a ser mais entendidos do assunto, sugerimos a esses bons
mocinhos uma oferta superadora e mais barata: matar o filho mais velho (seis
anos, neste caso), que naturalmente gera mais despesas, e preservar a criança em
gestação, pois no momento é ela mais barata de manter. Mas,
independentemente destas decisões sobre a economia familiar, vale acrescentar
que o aborto não é um problema de classe social: é praticado por mulheres ricas
ou pobres, é feito de forma clandestina ou sob a proteção do Estado; se é
executado sem meios ou com a mais sofisticada tecnologia, é sempre o mesmo
homicídio contra a vida de um inocente indefeso. Todo o resto é parte de um
anecdotário lateral que nos distrai do debate real: ninguém pretende forçar a mãe
a ter um filho não desejado, mas acontece que “a criança indesejada” já existe
nela, não é uma existência potencial, mas atual.
Outro argumento piegas que os filicidas trazem à mão, é o relacionado com
a possibilidade de o feto sofrer de alguma doença ou malformação. Isto é, o
feminismo neo-marxista nos diz agora que se a criança tem uma deficiência
deveria ser morta, tal como era feito sete séculos antes de Cristo, no estado
rígido e militarista de Esparta. Ou como foi feito, do mesmo modo, sob as leis
eugênicas do nacional-socialismo, que ordenaram o extermínio dos nascidos
com deficiência ou malformações. Pois bem, além de acreditarmos que a solução
neste caso não seria matar a criança, mas auxiliá-la medicamente diante da sua
eventual malformação ou disfunção, nos interessa o seguinte testemunho dado
pelo renomado constitucionalista brasileiro Celso Bastos: “Participei de uma
discussão em que um médico, dono de diversas clínicas, defendia o aborto. Ele
dizia que, com um aparelho de ultra-som, se pode saber com 80% de certeza se o
feto sofre de mongolismo, caso em que poderia ser abortado. Então lhe
perguntei. Já que admitia 20% de insegurança: por que não deixar o bebê nascer
e matá-lo depois? Então teríamos 100% de certeza”.[474]
Uma vez esgotados os truques sentimentalistas, o ativista progressiva vai
sugerir a legalização do aborto, mas por razões práticas: “Apesar de proibido
pelo Código Penal, os abortos ainda assim são realizados. Portanto, eles devem
ser legalizados para evitar o risco de saúde da mãe que é submetida a um aborto
em locais clandestinos e inseguros.” Para começar, a mãe que quer um aborto
não “é submetida” a locais clandestinos, mas sim “se submete voluntariamente”
a esses antro para a prática de assassinato. Há mulheres que correm risco de
morte após abortar em ambientes não equipados? Sim, e é lamentável. Mas o
detalhe é que a mulher que morre ao submeter-se livremente ao experimento
filicida não é vítima, mas algoz; e em sua qualidade de algoz acaba
acidentalmente morrendo: a verdadeira vítima em tudo isso é a criança. Da
mesma forma, se um ladrão quer roubar um banco e neste empreendimento
ilegal é baleado pela polícia, escusado será dizer que esta morte foi um resultado
indesejado da atividade criminosa: temos que descriminalizar o roubo para que o
ladrão não corra risco de morte, então?
Mas há mais silogismos dentro do sofisma abortista, como o caso do
argumento “democrático”, que consiste em citar pesquisas de opinião nas quais a
maioria da população “aprova” um possível projeto de lei que legalizaria a
prática. Independente da verossimilhança destes números e do suposto consenso
popular existente apenas nas fontes que os abortistas citam, a verdade é que, se
essa mesma pesquisa pudesse ser feita com os verdadeiros e legítimos
interessados (as crianças por nascer) o resultado seria 100% para o NÃO.
Outra questão que quase deixou de ser discutida, mas que na época era um
dos argumentos mais fortes dos filicidas, foi o exemplo em que a mãe corria o
risco de morrer no caso de continuar com a gravidez. Hoje este dilema entre
duas vidas em conflito foi esquecido, porque felizmente faz tempo que a ciência
médica descobriu como resgatar os dois pacientes sem maiores complicações,
tanto que, já em 1979, o renomado biólogo da Universidade Complutente José
Botella Llusia, afirmou que “o progresso da medicina tem sido tal que hoje
qualquer paciente cardíaco pode lidar com a gravidez e as complicações mais
graves da gravidez podem ser resolvidas sem ter que interrompê-la”,
acrescentando que “felizmente, pode ser considerado como um dilema
obsoleto”,[475] uma afirmação que foi posteriormente confirmada pela própria
Organização Mundial da Saúde.[476]
Para terminar, o abortista não terá escolha a não ser marcar-nos como
“intrometidos” ao tentar interferir em um assunto que parece ser alheio: “Que
direitos têm esses” inquisidores beatos “entrando no ventre que é a privacidade
da mãe?” Acontece que a privacidade do útero não autoriza o seu dono a matar
em seu interior, assim como a privacidade de uma casa não autoriza seus donos a
cometerem o assassinato de seus filhos dentro dos limites geográficos de sua
propriedade. Portanto, qualquer vizinho que perceba a situação seria moral e
legalmente autorizado a chamar a polícia ou a fazer a respectiva denúncia diante
da iminência do pretendido infanticídio intramuros: tenha a criança 5 meses de
gestação ou 5 anos de idade.
No final, como os argumentos do abortista acabam caindo um por um,
geralmente vai-se parar no estranho caso de “gravidez gerada por estupro” e,
então, por exceção, argumentam que aqui o aborto deveria ser autorizado. Mas
essa desculpa não é tão excepcional: curiosamente todas as mulheres que querem
fazer um aborto dizem que “foram estupradas” sem nunca terem que provar o
estupro ou a identidade do estuprador. Na verdade, a grande maioria destes casos
são mentiras muitas vezes flagrantes com reivindicações filicidas dado que a
legislação local habilita as mulheres a dizerem que foram estupradas e com tão
somente o seu testemunho verbal obterem a autorização judicial para matar a
criança; sabe-se, além disso, que os casos de gravidez de estupro, justamente
devido ao estresse e trauma da situação, são muito estranhos e isolados: o Centro
de Apoio à Mulher no México confirmou que apenas 2,2% dos casos em que a
violação foi configurada, houve um estado de gravidez posterior, por exemplo.
Mas suponhamos por um momento um caso que se apresente como
verdadeiro: que uma mulher realmente teve a infelicidade de ser submetida à
humilhação terrível dessa situação, em seguida teve a infelicidade de ficar
grávida e, portanto, a vítima não quer ter nem criar a criatura que ela carrega em
sua barriga. Será que em uma situação onde a mãe é vítima de um crime sexual,
em vez de punir o estuprador, deve-se matar a criança? Nem mesmo o
estuprador está sujeito à pena de morte porque o progressivismo garantista se
opõe a isso: mas se pretende condenar o bebê a essa sanção?
Obviamente, o estupro é um crime abominável, especialmente se a mulher
tiver que sofrer uma gravidez fortuita e indesejada durante meses. É uma
tragédia relativamente comparável a de alguém que é roubado por um criminoso
e baleado; e por conta de seus ferimentos fica submetido a meses de
recuperação, ou pior, passa o resto dos seus dias em uma cadeira de rodas: essa
terrível desgraça dá ao desafortunado o direito de matar um terceiro alheio ao
crime detestável?
Que a mãe não queira ter um filho é um infortúnio insuperável: a criança já
nasce malfadada. Que não queira criar e ter o encargo de se encarregar da
criatura, sim, é algo superável, já que pode dá-lo em adoção. Ou seja: a infeliz
mãe não tem o direito de matar a criança inocente e tem a obrigação de dar à luz
a ele, e então tem a liberdade de escolher se quer ou não dá-lo em adoção. Ao
mesmo tempo, é o Estado que deve conter afetiva e psicologicamente a mãe em
tão fatídico trânsito e, claro, dar uma punição rigorosa e exemplar ao depravado.
Os filicidas dizem que, apesar dos nossos argumentos, “metade da
bibliografia sustenta que a vida começa desde a concepção, mas há outra metade
da bibliografia que sustenta que a vida começa mais tarde”. Curiosamente,
metade da biblioteca que promove o aborto nunca diz em que momento exato a
vida ocorre e apenas levanta especulações e hipóteses que a ciência já refutou.
Mas suponhamos que a questão ainda esteja sujeita a discussão, há uma
disparidade de pontos de vista e ainda não é possível saber quem está certo.
Neste caso deveria se agir com prudência e cautela e proibir o aborto, pois seria
ridículo diante da dúvida decidir abortar: raciocínio semelhante cabe ao juiz que
diante da “dúvida” nunca pode condenar o réu. O famoso princípio legal in
dubio pro reo ordena justamente ao juiz que, em caso de dúvida, deve-se estar
sempre em favor da inculpabilidade do réu. Da mesma forma, na discussão do
aborto, se aceitarmos “a dúvida” como válida ou relativizarmos o momento em
que a vida se origina, é óbvio que a escolha deve ser sempre pela busca de
proteger a criança, ou seja, considerar a vida como presente desde a própria
concepção, até que o “enigma” seja dissipado: jamais sujeitar a criança a um
jogo de roleta russa especulativa com verniz terapêutico. “Observei que todos
que são favoráveis ao aborto já nasceram”, sentenciava magistralmente Ronald
Reagan.
Em resumo, poderíamos escrever um outro livro somente com a casuística
argumentando e contra-argumentando situações conflitivas ou excepcionais ad
infinitum; porém, desenvolver um trabalho abrangente sobre isto não é o
propósito do presente livro, ainda que não quiséssemos contornar um tema
delicado e tão arraigado na agenda da ideologia de gênero.
Além disso, por serem confusos, intrincados e envolventes os aforismos
astuciosos do ativismo filicida, advertimos que a lógica sã em favor da vida nem
sempre poderá vencer a batalha política, mas vencerá a disputa moral e racional,
já que em suma: seja legal ou ilegal, o aborto igualmente mata.
Capítulo 5
E na Argentina, como estamos?
Um amor não correspondido
Entre muitas das questões já discutidas nesta segunda parte do livro,
analisamos a evolução intelectual e/ou militante do homossexualismo ideológico
a partir da perspectiva de gênero tanto na Europa como nos Estados Unidos, e
uma vez que a Argentina de hoje, em geral, e a cidade de Buenos Aires, em
particular, tornou-se uma espécie de reconhecido “epicentro gay” na América
Latina, cremos ser indispensável abordar brevemente a evolução dos grupos e
ideólogos locais desde a sua criação no início dos anos 70 até tempos recentes,
quando essas correntes alcançaram seu esplendor no calor do longo regime dos
Kirchner.
Embora tenham existido alguns pequenos antecessores dos grupos
argentinos que tentaram, sem maior importância, fazer algum tipo de militância
nos anos 60,[477] muitos argumentam que o primeiro precedente importante foi
em 1971, quando se formou a ‘Frente de Libertação Homossexual’ (FHL),
composta por personalidades de esquerda como o já mencionado líder comunista
Hector Anabitarte, o escritor Manuel Puig (que morreu de AIDS em 1990 e era
famoso por seu romance homossexual O Beijo da Mulher Aranha), o jornalista
Blas Matamoro e o reconhecido sociólogo de origem marxista Juan José Sebreli.
Provavelmente este grupo foi o primeiro testemunho de uma organização
local que misturava o marxismo e a sodomia, tal como eles exibiam em suas
declarações oficiais, “homossexuais são oprimidos social, cultural, moral e
legalmente. Eles são ridicularizados e marginalizados, sofrendo duramente o
absurdo imposto pela sociedade heterossexual monogâmica” sendo que “esta
opressão vem de um sistema social que considera a reprodução o único propósito
do sexo. Sua expressão concreta é a existência de um sistema heterossexual
compulsório nas relações humanas, onde o homem desempenha o papel de
patrão autoritário, e as mulheres e os homossexuais de ambos os sexos são
inferiorizados e reprimidos [...] a luta contra a opressão que sofrem é inseparável
da luta contra todas as formas de opressão social, política, cultural e econômica
[...] todos aqueles que são explorados e oprimidos pelo sistema que marginaliza
os homossexuais podem ser nossos aliados na luta pela libertação”.[478]
Muitos consideram que essa pequena frente teria uma tônica tão radical
graças à influência de um elemento que logo após sua fundação se integrou e
virtualmente dominou e personalizou a organização. Referimo-nos ao escritor e
sociólogo Nestor Perlongher, homossexual nascido em 1949, de tendência ultra-
esquerdista, que à distância era visto como o ativista mais representativo do
grupo e cujo desejo de protagonismo pessoal não tardou em converter-se em sua
referência mais visível. Segundo o relato de Sebreli: “Perlongher era um
personagem pitoresco, parecia uma senhora [...] a partir da entrada de Perlongher
o ‘FLH’ cresceu muito, porque ele foi em busca de militantes na faculdade, e as
duas carreiras nas quais ele ganhou mais seguidores foram psicologia e
sociologia”, ao que Sebreli acrescenta a influência insana deste sujeito, dado que
“Perlongher introduz a droga no grupo”.[479]
Obviamente, Perlongher não era um indivíduo que pudesse ser valorizado
como intranscendente. Enquanto se pavoneava nas ruas de Buenos Aires usando
saltos altos excêntricos e misturava trotskismo visceral com a homossexualismo
escandalosa, ele chamava a si mesmo como “La Rosa”, em homenagem a Rosa
Luxemburgo, a icônica agitadora e pioneira do que foi o Partido Comunista
Alemão: “A grande contradição da vida de Perlongher foi que ele pregou o anti-
autoritarismo, mas ele era uma pessoa autoritária”[480] resume Sebreli.
Devoto da exibição, “La Rosa Perlongher” e seu excêntrico grupelho
decidiram apresentar dois atos políticos de vital importância para a época.
Primeiro, ele assistiu à posse presidencial de Hector Campora em maio 1973 e,
em seguida, participou do evento histórico do regresso ao país do ex-ditador
Juan Perón em junho desse mesmo ano, em Ezeiza. Foi nesses eventos de massa
quando Perlongher e os seus tentaram congraçar-se com as massas peronistas
indo aos atos com um cartaz grotesco que parafraseava a marcha partidária com
o lema “para que reine o povo, o amor e a igualdade.” Mas a presença dele e de
seus ativistas não foi muito bem aceita pela multidão peronista lá presente, a
qual, em concordância com as idéias de seu líder, olhou com particular
repugnância os expoentes desta seita carnavalesca. Assinala Sebreli que “a
presença de Perlongher e de sua facção nesses atos foi verdadeiramente
representativa do ponto de vista da história da homossexualidade na Argentina,
porque aí se mostrou mui claramente que os peronistas, especialmente os
peronistas de esquerda de quem Perlongher queria se aproximar, eram
homofóbicos. Eles foram com cartazes e tudo o mais, mas as pessoas se
afastaram deles para não serem fotografadas. Criaram um vazio ao redor deles,
que fugiram assustados. Eles ficaram completamente sós. Só serviu para que a
direita (especialmente o coronel Osinde, que organizava esses eventos de massa)
dissesse que os Montoneros eram “viciados em drogas e homossexuais”.[481]
Acusação que indignou estes últimos, que responderam ao infame insulto com a
histórica canção: “Não somos putos, não somos drogados, somos soldados de
Evita e Montoneros”.
Em janeiro de 1976, o regime peronista encarcerou Perlongher por causa de
suas ligações com drogas. Este encerramento durou três meses, posto que logo
assumiu o governo cívico-militar, em março de 76, e o ativista foi liberado.
Perlongher decidiu não prosseguir com sua militância e em 1981 emigrou para o
Brasil, onde se estabeleceu e continuou escrevendo e criando conflitos histéricos
dentro de seu ambiente. Porém, como antes ele se queixava que os homossexuais
eram “marginalizados”, durante o novo governo de Raúl Alfonsín (1983-1989)
também se queixava, mas pelo oposto, ou seja, pela criação e existência formal
da CHA (“Comunidade Homossexual Argentina” fundada em 1984), acusada
por Perlongher de ser “conservadora” ao ter um discurso não-trotskista
revolucionário, mas integracionista (a CHA não propôs uma revolução
homossexual, mas apenas equiparar direitos com os heterossexuais). Ao mesmo
tempo, a partir da cidade de São Paulo, onde este insatisfeito crônico residia,
disparava também contra a proliferação de boates gays em Buenos Aires,
alegando que elas eram “um campo de concentração confortável”.
Promíscuo irrecuperável, drogadicto perdido, membro da seita afro-espírita
“O Santo Daime”[482] e comunista radicalizado, ao explorar a AIDS como doença
característica dos homossexuais nos anos 80, Perlongher, em vez de tomar
precauções estritas em sua desordenada vida pessoal, descreu da existência de tal
mal e publicou em 1988 — quando já tinham morrido desse mal inúmeros
homossexuais conhecidos e desconhecidos — um livro delirante intitulado O
Fantasma da AIDS, cuja tese central dizia que não havia nenhuma doença e que
tudo isso era nada mais do que uma invenção comercial e publicitária do
“imperialismo americano” promovida com o fim de “controlar os corpos” e
“vender medicamentos”. A realidade não demorou muito em fazê-lo mudar de
idéia: no ano seguinte, em 1989, ele mesmo soube que padecia de uma AIDS
fulminante e a sua perspectiva de vida diminuiu drasticamente: ele morreu em
1992, em São Paulo, aos 43 anos, vítima de uma doença causada não pela
“conspiração capitalista” que ele havia relatado um ano atrás, mas por causa de
suas frenéticas rotinas pessoais.
Apesar do próprio Perlongher, seus correligionários o classificaram como
“um notável pensador”, embora o “mérito” real desse agitador viciado não tenha
sido outro senão ser considerado por seus pares como o “pai do movimento
homossexual”; além disso, atribuiem a ele o “prêmio” de ser o primeiro ativista
queer de origem local.
A mais profunda reflexão de que se recorda é: “A revolução sexual só será
possível quando os heterossexuais socializarem o seu cu”.[483]
Democracia e Peste Rosa
Como foi mencionado, durante 1984, em Buenos Aires se funda a CHA
(Comunidade Homossexual Argentina), liderada por Carlos Jáuregui e apoiada
por Roberto, seu irmão dois anos mais novo, nativos de La Plata. Tudo indica
que os Jáuregui eram uma família atípica: não só os dois irmãos eram
homossexuais, mas suas outras duas irmãs eram lésbicas.
Carlos Jáuregui estreou (como ativista) na revolta parisiense de maio,
porém do ano de 1981, quando os homossexuais franceses foram às ruas para
celebrar a vitória socialista de François Mitterrand: “Esse foi o motor que
decidiu minha posterior militância no movimento gay”,[484] apontou. Desde
então, ele manteve durante toda a década de 80 uma intensa atividade militante
depois de fundar o CHA, organização que presidiu em 1984, mas que mais tarde
teve que renunciar em 1987 por ciúmes e disputas internas. Seu irmão Roberto
— em quem Carlos se apoiava politicamente — também teve uma participação
militante, mas não na CHA, mas noutra organização colateral que ficou
conhecida como “Fundação Hóspede”,[485] que punha um contraditório foco na
luta contra o AIDS: essa organização elogiava a homossexualidade e depois
lutava para curar essa doença, ou seja, exaltava a causa que a gerava e depois
lutava contra sua infeliz conseqüência.
Durante o período compreendido entre os anos 80 e parte dos 90, as
estratégias dos movimentos homossexuais foram divididas entre os que queriam
promover a ideologia de gênero de corte neomarxista, que já vimos, e aqueles
que, em vez disso, priorizavam campanhas informativas de prevenção contra a
AIDS, que na época grassava entre a população homossexual. Contudo, apesar
da promoção dissolvente do gramscismo educacional, que desde o Estado
impunha o regime eurocomunista de Raul Alfonsin, muitos promotores da
homossexualização cultural decidiram, por ora, deixar de lado os seus esforços
de propagação das suas teorias pansexualistas; não porque essas idéias não lhes
eram simpáticas, mas por verem que não podiam perder tempo com estes lemas
ideológico enquanto a “Peste Rosa” estava destruindo seus membros: por
exemplo, os dois irmãos Jáuregui morreram de AIDS. Roberto em 1994 e Carlos
dois anos depois.[486]
Digressão: quando, no início dos anos 80, a AIDS encurralava a
comunidade homossexual em todo o mundo, desde o início da epidemia o
Cardeal de Nova York, John O’Connor, inaugurou o primeiro centro a-religioso
de cuidados para pacientes com AIDS dos Estados Unidos. Desde então, a Igreja
Católica — freqüentemente ultrajada e agredida pelo ativismo feminista e
sodomítico — é a instituição privada mais empenhada em todo o mundo na luta
contra este mal tão comum na população agressora: atualmente um em quatro
pacientes com AIDS (25%) está sendo atendido por instituições da Igreja
Católica; inclusive, em países pobres, a Igreja assiste 60% das pessoas afetadas,
sendo que os recursos para esses serviços são levantados pela própria Igreja, a
partir de fontes privadas e não de governos.[487]
Mas voltando à militância homossexualista local, é de salientar que,
embora até então as prioridades foram clínicas e não ideológicas, não obstante,
na intelectualidade surgiram algumas penas de valor destacado, sendo a mais
reconhecida a do escritor Oscar Villordo, cultor de um gênero literário a que
denominou “homo-erotismo”, cujos livros são considerados cult nesses circuitos.
[488]
Villordo tampouco escapou da AIDS: ele morreu dessa doença em 1993.
Não sem fundamento, a “Peste Rosa” causava pânico na cena homossexual
e várias celebridades morreram em todo o mundo como resultado dela, no que
toca a Argentina, agitou a opinião pública a morte de muitos artistas
homossexuais, tal como no caso, em 1988, de Federico Moura (cantor da banda
“Virus”), de Miguel Abuelo (cantor da banda “Los Abuelos de la Nada”),
também em 1988, ou a morte do dançarino clássico Jorge Donn em 1992.
Diante do efeito dominó da AIDS, qualquer lugar ou espaço era
aproveitado por membros desta comunidade para tentar sensibilizar a si ou a
outros: o comediante Antonio Gasalla — humorista que normalmente se
travestia representando personagens femininos — desde seu programa de TV
aconselhava seus companheiros com uma exortação desesperada: “Não seja um
trouxa, use camisinha!”.
O homosexualismo noventista
Enquanto isso, a CHA não parara após a expulsão de Jáuregui e, embora
tenha sido sempre uma organização que sobreviveu ferida pelo ciúme doentio
entre os seus membros e líderes, o seu funcionamento e sua presença freqüente
na mídia subsistem até hoje. Com efeito, após a exclusão de Jáuregui a condução
desta instituição foi assumida brevemente pelo ativista Alfredo Salazar, que logo
foi obrigado a delegar o cargo ao então mediático Rafael Freda, um professor de
esquerda que costumava freqüentar programas de televisão de alto impacto
agitando suas bandeiras, e assumiu a presidência da CHA em julho de 1991. Mas
apenas cinco meses depois, Freda foi deposto e expulso da entidade, levando
consigo uma fração de outros vinte e cinco seguidores, e com isso fundando uma
organização paralela autodenominada SIGLA (Sociedade de Integração Gay-
Lésbica da Argentina).[489] Tão ingovernável tornou-se a CHA — apesar de
receber apoio maciço de estruturas internacionais como as Nações Unidas,[490] ou
locais como a de CELS do agente duplo Horacio Verbitsky[491] —, que pelas
panelinhas então em disputa não puderam sequer concordar sobre quem iria
substituir o comando do líder deposto. Porém, por meio da bagunça interna
soube tomar o poder da seita um triunvirato liderado por Monica Santino, muito
temida pelos poderosos esquerdistas do clube All Boys, onde se destacou
jogando futebol feminino.[492] Mas a disputa não termina aí. Em 1991 houve
outro cisma na CHA e foi fundada a “Gays pelos Direitos Civis” — encabeçada
por Jáuregui, que tinha sido marginalizado da mesma organização que havia
fundado —, enquanto outros desertores do CHA decidiram por sua vez
reagruparem-se em uma espécie de “ateneu científico”, dirigido pelo psicólogo
homossexual Carlos Barzani,[493] intitulado com o nome quilométrico de “Grupo
de Investigação em Sexualidade e Interação Social”,[494] sinteticamente
conhecido como “Grupo ISIS” (sigla exatamente igual ao do terrorismo jihadista
ISIS,[495] mas de ação menos perigosa).
Finalmente, a suspeita sem fim foi gerada também no interior d0 ISIS,
surgindo assim a enésima divisão chamada “Grupo de Reflexão Autogestiva
Lesbianas” (GRAL) e agora, diante da fatídica partição burocrática destas
infinitas tribos dentro da comunidade homossexual argentina, não seria
desacertado ou calunioso definir esse cenário da seguinte forma: um verdadeiro
puteiro.
Apesar de sua guerra civil travada desde de 1996 até o momento de
escrever estas linhas a CHA sobrevive e é atualmente presidida por César
Cigliuti, ativista conhecido por ter “casado” com seu parceiro Marcelo
Suntheim[496] em 2003.[497]
Em paralelo com a CHA e seus desmenbramentos, durante a década de 90
apareceram outras congregações complementares como o “Fundação Buenos
Aires AIDS” (dirigida por Alex Freyre) ou a camarilha “coletivo Eros”
(constituída por estudantes da Faculdade de Filosofia e Letras da UBA)[498] que
não demoraram muito para lutarem entre si e se dissolverem, e depois
ingressarem em outros espaços com práticas similares. Foi também na segunda
metade da década de 90 que entra em cena um outro arquétipo do homossexual
masculino auto-denominado como “ursos”, agrupados em uma espécie de clube
social[499] e que se caracteriza por uma estética marcada pelo excesso de peso, a
barba, o o atípico emprego de gestos rústicos e viris, uso infreqüente em
ambientes marcados pela histeria e pelo efeminamento.
Mas foi nestes tempos de liberdade do início do governo de Carlos Menem,
quando se fez mais visível na militância a presença de mulheres (por assim
dizer), como por exemplo a organização lesbo-marxista “Las Lunas e las
Outras”;[500] o grupo pseudo-religioso de abortistas autodenominado “Católicas
pelo Direito de Decidir”;[501] a organização “Las Fulanas”[502] fundada pela
conhecida trotskista Maria Rachid, menina de um tamanho físico intimidante e
que anos mais tarde, em 2011, entrou em uma luta contra o comediante Claudio
Morgado, kirchnerista e viciado em drogas confesso, por conta de acusações
mútuas de corrupção quando ambos dirigiram o INADI[503] — diante do
incidente físico Morgado ficou aterrorizado e pediu ajuda da polícia.[504]
Finalmente, nos encontramos nesses anos com o aparecimento da revista
“Cuadernos de Existencia Lesbiana”,[505] uma publicação que circulou a partir de
1987 e cujos fascículos foram recentemente digitalizados em um curioso portal
da Internet de denominação gostronômica: “Potencia Tortillera”.[506]
Mas, neste ponto, o lobby homossexual tinha aumentado muito e tornou-se
tão complexo que até tinha sua própria religião: foi também na década de 90 e
sob o disfarce de “Igreja da Comunidade Metropolitana”, que se estabeleceu em
Buenos Aires um tipo de “espiritualidade gay”, dirigida por um tal de Roberto
Gonzalez, um pregador vestindo uma berrante batina multicolor, que agia com
“padre” e parodiava a liturgia católica enquanto “casava” seus fieis entre si. De
acordo com testemunhos recolhidos pelo sociólogo homossexual Ernesto
Meccia, esta “igreja” cumpriu o papel de aplacar a promiscuidade desenfreada
de seus acólitos: “Talvez seja uma coisa da idade, mas chega um ponto em que
você fica cansado da noite, de sair toda noite para terminar em uma pista de
dança” disse um paroquiano, enquanto outro fiel confessou: “Quando conheci a
Igreja tinha uma vida noturna, eu descobri que tinha o vírus, mas ainda saía à
noite para procurar algo. Uma vez que tive uma história violenta na rua com um
homem, vi as estrelas... Não sei porque parei por aí. Um amigo me falou da
Igreja da Comunidade Metropolitana e comecei a ir”; enquanto outro paroquiano
observa: “E em um certo ponto eu me perguntava, eu quero esta vida, viver
como um louco durante todo o dia?”. Um dos entrevistados reconheceu que na
igreja homossexual “vinham muitas pessoas que tinham o problema do HIV”.[507]
Mas, como se ao complexo mapa sociológico de tribos sodomitas faltassem
referências, apareceram em cena os travestis, não só para fazerem notar as suas
fantasias, mas para exibirem reivindicações políticas e sindicais: em maio de
1991 surgiu uma loja chamada “Transsexuais pelo Direito à Vida e à Identidade”
(Transdevi), grupo liderado por uma pessoa que dizia se chamar “Karina
Urbina” e dois anos depois em maio de 1993, nasceu a ordem “Travestis
Unidas” (TU) da mão de um tal “Kenny de Michelis”. Porém, foi no mês
seguinte (junho daquele ano), quando fez estréia o conclave mais colorido, nos
referimos à “Associação de Travestis Argentinas” (ATA), liderada por um
menino nativo de Luján (Buenos Aires) que, sob o pseudônimo de “Belén
Correa” alcançou a fama.
No início, talvez devido ao seu especto estético tão chocante e burlesco, o
aparecimento de travestis no palco gerava aversão não só na maior parte da
opinião pública, mas mesmo entre aqueles que agiram intelectualmente nos
ambientes mais recalcitrantes da esquerda cultural local: “Os travestis nunca,
nunca, vão conseguir ser o que eles desejam parecer: mulheres [...] eles não são
nada, nem homens nem mulheres, vivem em um mundo de aparência e não no
ser [...] a sua transgressão alardeada nada mais é que um abrupto ruído que só
fode com donas de casa, triste escumalha, autodestruição sem grandeza,
hecatombe que se instala nas páginas amarelas das crônicas e não nos grandes
labirintos da genealogia da moral, de Nietzsche”[508] notou na década de 90, para
o espanto de amigos e desconhecidos, o radialista José Pablo Feinmann,
deixando claro que nesta questão mesmo aqueles que estão fatalmente
ideologizados têm esporádicos intervalos de lucidez em que o senso comum
parece sobrepujar suas respectivas quimeras ideológicas. Mas, avançando os
anos, esta “triste escumalha” do travestismo foi sendo “naturalizada” e aceita
com lisonjas, e seu mais famoso expoente era uma “vedette” chamado Gerardo
Vírguez que se tornou popular com o pseudônimo de “Cris Miró” divulgado
também por sua relação pessoal com o ex-jogador de futebol Diego
Maradona[509] e por ter conseguido encabeçar elencos em teatros de revistas:
morreu de AIDS em 1999 aos 33 anos de idade. Mas sua ausência “artística” foi
rapidamente substituída por outro travesti em ascensão, um opulento moreno
chamado Roberto Carlos Trinidad (conhecido como “Florencia de la V”), que no
início teve o auspício midiático do pornocomediante Gerardo Sofovich.
Finalmente, o regime de Cristina Kirchner concedeu ao Sr. Trinidad a
possibilidade de mudar seu nome no documento de identidade e formalmente se
passar por mulher.
Linhas menores merecem alguns travestis “de qualidade inferior”, já que,
embora com alguma fama de mídia, elas nunca chegaram a um posto “top” no
entretenimento, apesar de flertarem fugazmente com isso. Referimo-nos a certos
“marginalizados” que foram usados pela indústria do entretenimento para
escárnio e ridículo, como no caso de Miguel “Cacho” Dekleve, mais conhecido
como “Zulma Lobato” — insano personagem caracterizado por um estrabismo
marcante e dentes incompletos — ou um outro que se autodenomina “Naty
Menstrual”,[510] sodomita periférico que atua como escritor e teve o luxo de
publicar um livro bizarro de “porno-poesia”, prontamente difundido pelo jornal
Página 12 em sua “ seção cultural”.
Sem dúvida, os anos 90 foram de esplendor e consolidação para essas
correntes; elas tornaram-se midiaticamente visíveis disputando espaço físico
com suas respectivas bandeiras nas “Marchas do Orgulho Gay”, colorida
peregrinação anual de corte transnacional que na Argentina começou a
implementar-se a partir do ano de 1992[511] e que desde então é mobilizada e
sempre organizada em novembro, com reivindicações sucessivamente mais
arrojadas e proativas, sendo que todo esse ambiente rarefeito está repleto de
grupos e subgrupos que se odeiam, mas, de qualquer modo, lutam com sucesso
por obsessões comuns.
As causas do internismo
O citado sociólogo homossexualista Ernesto Meccia, sobre o feroz
internismo operante no seio do ambiente nacional observa que “há várias
organizações que denunciam que o trabalho político de outras organizações não
inclui uma crítica cultural do sistema social.”, acrescentando que “não é
coincidência que o conflito interno envolva, por um lado, a organização mais
antiga, a Comunidade Homossexual Argentina (CHA) e, por outro lado,
organizações e/ou empreendedores independentes da causa que, baseados em
espaços acadêmicos, implantem o arsenal conceitual da teoria queer”[512]; e
segue: “chama a atenção a virulência com a qual algumas organizações atacam
as outras”.[513]
Contudo, aparentemente, neste microclima não há apenas luta por nuances
ideológicas e personalismos políticos, mas também são freqüentes as lutas entre
diferentes “arquétipos” visuais de homossexuais, os quais, por pertencerem a
diferentes clãs estéticos, desprezam-se uns aos outros, como nos explica Meccia:
“As figuras clássicas de ‘louca’, cujo papel tem sido dar notas cômicas em vários
filmes e programas de TV, e o gay macho, fetiche (com freqüência militares ou
policial) presentes a partir dos anos 80 em toda uma iconografia principalmente
americana e principalmente pornográfica são os nítidos protótipos (tipos ideais,
de acordo com a conceituação clássica de Max Weber) imaginários ou tidos
como reais de homossexualidade masculina feminizada (HFM) e da
homossexualidade masculina monosexualizada (HMM)”, porém, este última
exemplo de homossexual virilizado, segundo Meccia, não deixa de ter uma alta
dose de impostura: “Neste sentido, exibir na biblioteca um livro de Borges não
lido cumpriria a mesma função de reforço que revela o quão pouco efeminado
são e, concomitantemente, quão iguais aos heterossexuais são alguns
homossexuais, apesar de serem homossexuais, reconfortante ponto de chegada
de uma eficiente estratégia simbólica”.[514] No fundo, este exagero de invertidos
musculosos não faz mais do que confirmar aquela confissão implacável de Guy
Hocquenghem: “você sempre sente um pouco de vergonha por sentir orgulho de
ser homossexual”.[515]
A respeito das “loucas” as quais se refere Meccia, estas se caracterizam
pela sua obsessão em alcançar a magreza extrema própria das modelos, e se bem
que 95% da população que sofre de distúrbios alimentares do tipo da anorexia ou
bulimia são mulheres, dos 5%[516] restantes, que afeta homens, a esmagadora
maioria deles são sodomitas: a Escola de Saúde Pública da Universidade de
Columbia confirmou que os homossexuais têm o triplo do risco dos
heterossexuais de sofrer de anorexia.[517]
No que diz respeito ao segundo arquétipo apontado, o homossexual que
emula o “macho”, na Argentina dos últimos anos provavelmente o mais famoso
expoente foi o figurão de televisão Ricardo Fort, indefinível personagem cujo
corpo esculturalmente operado e anabolizado, junto com as namoradas fictícias
alugadas que ele apresentava midiaticamente para disfarçar sua
homossexualidade, acabou desmoronando quando descobriram não apenas seu
vício pelos “táxi boys”,[518] mas a sua fama nas saunas e bares gay friendly de
Miami. Mas Fort pôde ser “o macho” por pouco tempo. Ele morreu aos 42 anos
de idade, intoxicado pelas obsessivas e infinitas operações estéticas pelas quais
passou, para parecer musculoso e viril, o que deteriorou progressivamente sua
saúde. Foi um triste gigante de papelão.
Mas não há apenas rivalidades ou hierarquias na idiossincrasia
homossexual sobre formas estéticas, mas também em termos de papéis (de
acordo com quem é o sujeito ativo ou o passivo na atividade venérea) e sobre
isso o sociólogo marxista Pierre Bourdieu, em seu livro A Dominação Masculina
sustenta que, no caso da sodomia, a dominação “não está ligada a sinais sexuais
visíveis, mas à prática sexual. A definição dominante da forma legítima dessa
prática como uma relação de domínio do princípio masculino (ativo, penetrante)
sobre o princípio feminino (passivo, penetrado) envolve o tabu da feminilização
sacrílega da masculinidade, ou seja, do princípio dominante que se inscreve na
relação homossexual”.[519] Mesmo no jargão popular, há uma espécie de
mitigação ou pedido de desculpas ao elemento ativo, como se ele não fosse tão
responsável quanto o passivo pelo encontro sexual. Mas muito particularmente
na Argentina, o homossexual ativo não só goza de uma sanção social menor do
que a passiva, mas muitas vezes esse papel fornece “boa reputação” em alguns
ambientes, como pode ser visto nos cantos de fãs de futebol, cujas letras ufanam
muitas vezes o “comer” o rival.
Essa absolvição ou glorificação que se faz do homossexual ativo já havia
sido advertida e denunciada com horror pelo próprio Jorge Luis Borges nas
páginas da revista Sur: “Vou acrescentar outro exemplo curioso. O da sodomia.
Em todos os países da Terra, uma indivisível reprovação recai sobre os dois
executores do inimaginável contato. Ambos terão praticado abominação;
certamente serão mortos, diz o Levítico. Não é assim entre os delinqüentes de
Buenos Aires, que reivindicam uma espécie de veneração pelo agente ativo —
porque ele enganou seu parceiro. Entrego essa dialética fecal aos apologistas da
vivacidade, do maledicente e da chalaça, que tanto inferno descobrem”.[520]
Finalmente, vale mencionar que este rancor tão violento quanto freqüente
em ambientes homossexuais, além do já exposto, revela que a denominada
“homofobia” de fato existiria, mas entre os próprios homossexuais, dado que
muitos deles sentem por sua vez desprezo pela condição homossexual de seus
pares. O que parece uma contradição flagrante (um homossexual desprezando
outro homossexual por ser homossexual), foi desenvolvido in extenso pelo
escritor homossexual James Shifter Sikora em um capítulo chamado “homofobia
internalizada” do seu livro já referido, em que o autor diz sinteticamente: “O
ódio é para consigo mesmo. No entanto, o subconsciente o oculta acreditando
que o ódio é para com um outro”.[521] Vale dizer que além das causas que se
queram encontrar, a verdade é que muitos homossexuais desprezam essa
condição, porém, para evitar a angústia ou desconforto de desprezarem a si
mesmos, exteriorizam seu desprezo em seus análogos. Conseqüentemente, é-nos
impossível não beber daquele elemento do inconsciente que em psicologia o
próprio Sigmund Freud chamou de “projeção negativa”, a qual é justamente um
mecanismo de defesa pelo qual um sujeito atribui a outros os sentimentos,
impulsos ou pensamentos que lhe são próprios. Ou seja, esse mecanismo opera
em situações de conflito emocional em que o indivíduo imputa a terceiros os
sentimentos, impulsos ou pensamentos inaceitáveis para si mesmo. Desta forma,
a defesa psíquica consegue colocar esses conteúdos ameaçadores no exterior.
Por isso, é comum que muitos homossexuais se odeiem a si mesmo por aquilo
que são, no entanto, expulsam esse sentimento destratando os seus pares, pelas
mesmas razões pelas quais inconscientemente se auto-desprezam.
O kirchnerismo e a estatização da homossexualidade
Retomando a questão local e fora do ciúme entre gangues, mecanismos de
projeção, estéticas pré-fabricadas e papéis carnais, a verdade é que nos últimos
anos — principalmente durante o longo período de corrupção e imoralidade
kirchnerista —, o movimento homossexual se tornou cada vez mais presente na
mídia televisiva até atingir uma obcena quotidianidade. Durante este período, a
maior parte dessas organizações e seus agentes gozaram do deliberado respaldo
e financiamento estatal, tendo seus líderes e estruturas cooptadas para servir
militantes do partido no poder.
Foi durante este período que a lei do “casamento igualitário” foi decretada:
em 2010,[522] depois de acaloradas sessões parlamentares em que pela primeira e
única vez o deputado Néstor Kirchner — sendo marido da Presidente da Nação
— passou a trabalhar no Congresso para votar em favor do projeto de lei, o qual
confirmava uma vez mais os compromissos da esquerda política em congraçar-
se com as pretensões lobistas interessadas nesta legislação.
Mas durante o kirchnerismo a homossexualidade chegou ao seu auge, não
só por suas vitórias políticas, mas principalmente pela constante presença na
mídia de suas referências, quer sejam ativistas explícitos ou elementos do show
business, que proclamam suas intimidades em plena luz do dia a partir da mídia
televisiva até chegar a uma imprudente aparição em programas adequados para
todos os públicos não sem o aplauso festivo de seus participantes e palestrantes
do momento.
Um dos casos mais emblemáticos por seu tom escandalizador foi o do
comediante Fernando Peña, loquaz tagarela que costumava aparecer na televisão
vestido como andrógino enquanto se ufanava presunçosamente de sua
dependência de drogas, sua predileção por “taxy boys” e sua jactanciosa
infecção de HIV:[523] morreu em 2009 aos 46 anos de idade.
Contemporaneamente, o apresentador de televisão Juan Castro, também
anunciava sua tendência e promovia a ideologia homossexual desde sua série de
televisão “Kaos na cidade”, que foi interrompida em 2004, quando o próprio
apresentador, atormentado por seu incontrolável vício drogas e alterado pelo
resultado do seu último teste de HIV,[524] saltou da varanda do primeiro andar de
seu apartamento, ficou gravemente ferido e morreu alguns dias depois no
hospital.
Foi também no novo milênio e ao calor do kirchnerismo que o lobby
homossexual conseguiu enormes recursos estatais — ademais dos mencionados
direitos ao “casamento” e a adoção de crianças —, recompensando muitas das
suas lideranças com um cargo público bem remunerado na burocracia
governamental — principalmente no “INADI”[525] e na “Secretaria de Direitos
Humanos” —, sendo, em seguida, o emissário mais extravagante e turbulento
Alex Freyre, agitador histriônico em cuja conta no Twitter se define como
“peronista e ativista gay” contradição intransponível semelhante a considerar-se
“sionista e nazista”. Aparentemente, o iletrado e irreverente Freyre desconhece
que durante a histórica ditadura de Juan Perón (1946–1955) não só os
homossexuais foram impedidos do direito de voto em 1947,[526] mas através de
editais policiais intermináveis foram impedidos de reunirem-se em suas casas e
em bares, assim como exibir-se publicamente com seus sobrinhos, e muito
menos entrar na Academia Militar e, segundo resume Osvaldo Bazán em seu
grosso livro sobre a homossexualidade na Argentina: “Eles não tinham voz,
voto, opinião ou visibilidade” e “todos os que a polícia detectou como gays
foram presos”.[527]
Apesar destes antecedentes históricos não muito favoráveis à causa de
Freyre e seus séquitos, esse sujeito não só se proclamou peronista, mas foi um
burocrata kirchnerista solícito que lucrava com a sua pregação igualitária
obtendo salários lucrativos de fundos públicos para “trabalhar” em questões
relacionadas à “diversidade sexual”. O peronismo sempre deu para tudo: um
argumento recorrente entre os homossexuais arrendados ao kirchnerismo para
justificar o seu alarde erótico com sua filiação partidária foi que “este espaço”
reivindicava a “ala esquerda do movimento”, isto é, aquela que se considerava
herdeira não tanto do General do Exército Juan Perón, mas do camporismo
montonero[528], argumento curioso: o terrorismo montonero não hesitou em banir
qualquer vestígio homossexual entre suas fileiras chegando a fuzilar seus
militantes quando eles eram suspeitos de uma tal inclinação sexual. Os
guerrilheiros viram em cada maricas um delator[529] e segundo sarcástica
expressão de Sebreli: “O amor entre os gays peronistas de esquerda e os
montoneros foi um amor não correspondido”.[530]
A verdade é que Alex Freyre andou nos últimos anos por todos os meios
possíveis de comunicação disfarçado em uma espécie de capa colorida
(distintivo de seu grupo) ao lado de um alterego chamado José María Di Bello,
um homossexual portador de HIV que parodiava ser o parceiro de Freyre.
Ambos promoveram o “casamento igualitário” usando todos os tipos de
artimanhas conhecidas para enganar a opinião pública: “Freyre se cansou de
envergonhar-nos a nós todos. E alguém tinha que dizer [...] No início era por
uma causa justa, mas Freyre acabou se tornando na mídia uma pessoa ambiciosa,
que acreditou no personagem e o usou para lucrar [...] e já ultrapassou todos os
limites”,[531] disse o jornalista e ativista homossexual Bruno Bimbi, que revelou
os detalhes desta farsa na qual ressaltou que não havia ligação nenhuma entre
Freyre e Di Bello, mas tudo era uma paródia militante, com a finalidade de
implantar o “casamento igualitário” e com ele a ideologia de gênero. Essa
acusação foi um escândalo, mas cuja veracidade foi mais tarde reconhecida pelo
próprio José Di Bello, ou seja, o ativista que fingiu ser “marido” de Freyre.
Mas para Freyre este erro não foi ruim: cobrou caras comissões para
trabalhar como “assessor da diversidade” no Senado da Nação,[532] ocupando e
ganhando honorários por cargos inúteis ou inventados, mas que permitiram ao
personagem beneficiar-se à custa de impostos que pagamos todos nós, para ainda
por cima termos que suportar suas declarações nos meios de comunicação e
redes sociais tais como vaticinar e desejar a morte por AIDS do bailarino
homossexual Anibal Pachano[533] — criticado por Freyre por não aderir ao
governo de Cristina Kirchner — ou rir-se publicamente do assassinato do
promotor Alberto Nisman[534] funcionário que entrou com uma ação contra
Cristina Kirchner por sua cumplicidade com o terrorismo internacional e foi
encontrado morto horas mais tarde, com uma bala na cabeça.
Como de costume entre seu clã, Alex Freyre tem AIDS além da hepatite C,
doenças venéreas que este indivíduo teria pego em seus maus caminhos, mas
felizmente foi capaz de controlar levando uma vida relativamente convencional e
controlada através de tratamentos e avanços médicos fornecidos pelo sistema
ocidental e capitalista (que Freyre detesta e vitupera publicamente), os quais
obtiveram resultados auspiciosos, a fim de evitar a evolução de uma doença tão
delicada como enraizada nesta porção da população.
Os sindicalistas mais apresentáveis
Mas nem todas as referências homossexuais locais foram tão caricaturais
quanto várias daquelas nomeadas. Andando os anos e com toda a infra-estrutura
que hoje poderia alcançar, a irmandade pôde contar com uma espécie de
“historiador oficial”, o jornalista Osvaldo Bazán, autor de um grosso livro de
650 páginas intitulado História da Homossexualidade na Argentina, que, apesar
de trazer fatos interessantes e ser um trabalho bem escrito, é eivado de um ódio
visceral contra toda noção heterossexual de vida e vai com fúria desenfreada
contra qualquer opinião divergente, incorrendo até mesmo em erros
historiográficos notórios, tal como a reivindicação de que a chamada
“homofobia” é uma espécie de crueldade cultural imposta pela colonização
espanhola e pela Igreja Católica, mas antes da chegada do “invasor europeu” os
homossexuais pré-colombianos viviam sua condição em um clima amigável,
libertário e de gentil respeito no seio de suas tribos de pertencimento, o que
constitui um erro que não podemos ignorar: até o historiador indígena Fernando
de Alva Cortés Ixtlilxochitl documenta que o respeitado e justo governante de
Texcoco e imperador dos chichimecas (povos mesoamericanos),
Nezahualcoyotl, promulgou leis severíssimas de repressão contra os
homossexuais, tal como o castigo de extrair as entranhas do considerado culpado
do crime de sodomia. Ao traidor se fazia seu corpo em pedaços partindo suas
articulações, saqueva-se sua casa e seus filhos eram tomados como escravos até
a quarta geração. Na verdade, era tão mal vista a sodomia que as punições eram
aplicadas a todos igualmente, sem privilégios, nem excepções: o próprio
monarca não hesitou em executar a sentença de morte de um de seus filhos,
considerado culpado de ato imperdoável.[535] Conta o arqueólogo Enrique Vera,
responsável e editor da renomada revista Arqueologia Mexicana, que entre as
tribos da região do México havia uma nítida distinção entre os homossexuais
passivos e ativos: “Enquanto o ativo ainda representava o seu papel masculino
genérico, o passivo, ao ser penetrado no ato sexual, violava seu papel de homem
e se feminizava. Por esta razão, o passivo tinhas suas entranhas arrancadas
(N.A.: pelo orifício anal) e ateavam-lhe fogo, sendo as cinzas utilizadas para
enterrar vivo o ativo, que assim morria.[536] Quanto à mulher homossexual, a
pena prevista pela lei era a morte por garrotte. E sobre os “admirados” astecas,
eles não eram muito contemplativos com a homossexualidade: suas leis
estabeleciam a punição de morte aos sodomitas. Enquanto essas sanções eram
aplicadas apenas em casos extremos no interior do império, na capital imperial a
pena foi cumprida fielmente, tendo eles também tratado as suas tribos inimigas,
a exemplo dos toltecas, como “sodomitas”,[537] em sinal de desprezo. Quanto às
tribos pertencentes à região da Nicarágua, a homossexualidade era punida com a
morte, conforme acabou por reconhecer um dos seus principais caciques ao frade
Bobadilla depois de perguntado sobre o tratamento que recebiam os putos: “Os
rapazes os apedrejam e lhes fazem mal, e às vezes morrem do mal que os
fazem”.[538] Em relação aos incas, embora seja verdade que os historiadores
atribuem a eles um maior grau de tolerância em comparação com outras tribos
em torno dessas práticas, também é verdade que, como confirmado por
Garcilaso de la Vega, o quinto Inca Capac Yupanqui quando submetido aos
Aymara “mandou que fossem queimados vivos os sodomitas encontrados e que
suas casas fossem queimadas”.[539]
Exemplos de maus tratos em relação à homossexualidade no mundo pré-
colombiano são infinitos e para quem quiser aprofundar, nada é melhor do que
consultar um historiador de verdade como Cristian Rodrigo Iturralde,
provavelmente um dos especialistas mais experientes que falam sobre o assunto,
autor de dois sólidos volumes de leitura indispensável para qualquer um que
pretenda expandir o conhecimento da questão.[540]
Mas por que na América pré-colombiana existia tanta aversão à sodomia se
eles não tinham os “preconceitos católicos” nem conheciam o demonizado
“capitalismo heterossexista”? Por que em linhas gerais a aversão a sodomia
longe de ser um “viés cultural” é um instinto ou reação espontânea em seres
humanos para além da sua língua, raça, cultura, religião ou tempo histórico em
que lhe foi dado viver. Essa rejeição é tão automática quanto poderia ser ficar
impressionado com aqueles que querem comer excremento. Uma pessoa tem o
direito de comer fezes? Consideramos que sim e que o direito deve ser
inviolável. Mas seria ridículo ignorar que esse transtorno alimentar cause repulsa
em pessoas que testemunham a desagradável ingestão fecal. Pode-se argumentar
que, em algumas culturas antigas, a sodomia foi aceita ou pelo menos não foi
repelida. É verdade, mas também em certas comunidades humanas o
canibalismo, o sacrifício humano, a pedofilia, a escravidão ou a decapitação de
inimigos de guerra foram tomados como hábitos de uso corrente. Mas a
particular e excepcional habitualidade de comportamentos objetivamente
inferiores em determinadas populações da história não os torna bons e frutíferos
pelo simples fato de que eles foram tolerados em comunidades que
desapareceram ou estão superadas.
Mas voltando a Osvaldo Bazán e seu livreco, se há algo permanente em sua
quilométrica obra é que seu autor abomina os “preconceituosos” e
“discriminadores”. Mas em sua obra nada que não seja devoto do
homossexualismo ideológico se salva, e mesmo Bazán se dá o gosto de atacar de
maneira particularmente incisiva o célebre médico, psicólogo, farmacêutico,
criminologista, filósofo e escritor socialista José Ingenieros, posto que, como ele
nunca aplaudiu o comportamento homossexual, Bazan o ataca, paradoxalmente,
com um argumento discriminativo, alegando que pelo nível acadêmico de seus
escritos ou opiniões, Ingenieros “hoje seria apenas um taxista reacionário”.[541]
Desqualificação preconceituosa que rebaixa o célebre pensador socialista em
função de uma atividade de trabalho, coisa que o segregacionista Bazán
evidentemente considera de condição “inferior”.
Mas não apenas charlatães com pretensões historiográficas se dedicaram a
fazer parte da “elite intelectual” dos homossexuais contemporâneos locais.
Provavelmente o militante mais bem preparado academicamente entre todos os
que pudemos consultar é o repetidamente mencionado Ernesto Meccia,
sociólogo cujo trabalho, embora não vá além da repetição argentinizada dos
argumentos típicos de inspiração foucaultiana, é muito mais apresentável do que
o resto dos textos nacionais sobre o assunto.
De fato, Meccia — que também trava sua batalha contra a AIDS — em seu
livro A Questão Gay: Uma Abordagem Sociológica se dedica a criticar o mundo
ocidental “insensível” porque tolera a homossexualidade, mas não a diviniza:
“Em um regime de tolerância, os grupos dominantes têm a atitude (legitimada
também) de dizer o que e quais são os tolerados”, e lamenta porque “‘tolerância’
vem do latim tolerare. É uma acepção física do termo que se refere à capacidade
de suportar”. Assim, entre o tolerante e tolerado há uma relação vertical, ou seja,
uma hierarquia e então, segundo Meccia, “a tolerância é inseparável do exercício
de violência simbólica e não valoriza a diversidade sexual”.[542] Incrível
raciocínio: como um bom esquerdista, Meccia em seu livro não dedica uma
única linha para reclamar dos homossexuais torturados em gulags soviéticos,
nem pelos invertidos castrados na China maoísta, ou uma linha dedicada a
reclamar dos hereges enforcados e/ou jogados do alto no Irã em pleno século
XXI, muito menos menciona o autor os homossexuais fuzilados na Cuba castro-
guevarista, mas dedica litros de tinta para se queixar de que a homossexualidade
não é tolerada no mundo ocidental, capitalista e cristão. Ou seja, o ingrato
Meccia está zangado porque nesta parte do mundo em que ele e os seus podem
ter acesso a pubs dedicados ao seu ambiente, organizar-se com estatutos legais,
gozar do pleno direito à privacidade, publicar livros, usar o direito inalienável de
caminhar em marchas auto-elogiosas, ufanar-se aos quatro ventos de seus
hábitos e podem até mesmo dar-se ao luxo de contrair AIDS e contar com a
assistência da medicina ocidental, a qual já se ocupou de avançar e criar o
tratamento pertinente a fim de neutralizar a morte que uma doença tão grave
ocasionava anos atrás. Bem, o mundo livre e capitalista deu a Meccia uma
condição plena para levar a cabo sua vida pública e privada de acordo com seus
apetites, mas ele não tem o suficiente. Parece afirmar que os heterossexuais
devem pedir perdão por incorrer no arcaísmo colonialista, inquisitorial e burguês
de sentir atração por pessoas do sexo oposto: reacionária tendência que segundo
suspeitamos também apetecia os pais de Meccia, caso contrário eles não o teriam
beneficiado com a vida.
Pode ser tão carente de critério alguém que a princípio nos parece
equivocado, mas inteligente? E olha! Estamos falando do sociólogo e escritor
Ernesto Meccia, ou seja, de um estudioso que em seu livro não escreve mal,
oferece aulas na universidade e é valorizado entre os seus com respeito
intelectual. Em outras palavras: embora seja verdade que Meccia não é uma
lâmpada, é verdade que ao lado de um Alex Freyre é um gênio.
Seja como for, provavelmente Bazán e Meccia são hoje os expoentes mais
bem treinados e mais apresentáveis entre os expostos e trabalham ativa ou
midiaticamente para defender estas posições ideológicas. Apesar dos erros
mencionados, eles ainda são seus sindicalistas mais talentosos.
Capítulo 6
A autodestruição homossexual
Natureza e distorção da sexualidade
Devido à sua própria constituição anatômica, antropológica, fisiológica e
psicológica, o homem e a mulher são atraídos um pelo outro tanto espiritual
como fisicamente e é precisamente dessa atração que deriva a prole. A
complementaridade entre os órgãos sexuais feminino e masculino não é uma
constatação convencional, nem um “preconceito religioso”, nem muito menos
fruto de uma estipulação cultural: é uma determinação da natureza.
Partindo da base de que o objetivo por excelência do ato sexual é a
propagação da espécie, é sabido que, precisamente para que o ser humano se
sinta constantemente motivado e propenso à propagação é que o sexo carrega um
alto prazer físico, posto que se não se produzisse esse intenso gozo que nos
motiva a consumá-lo, a sobrevivência da espécie estaria ameaçada.
Logo, é um dado objetivo que a finalidade principal do ato sexual não é o
prazer, mas a expansão da humanidade e que, portanto, transformar o prazer em
motivo primário do ato sexual seria substituir o objetivo principal por seu
corolário. Não obstante isso, escusado será dizer que geralmente as pessoas
fazem sexo não com o propósito deliberado da procriação, da mesma forma que
normalmente todos que se preparam para comer um prato de comida geralmente
não o fazem com o desejo calculado de adquirir nutrientes, mas para apreciá-lo:
porém é justamente esse desfrute físico que a natureza oferece na vida sexual
(tanto como na alimentação) que nos incentiva constantemente e
tendencialmente a manter comportamentos propensos a nossa conservação e/ou
propagação biológica. E, como em questões nutricionais, há aqueles que têm
uma dieta desordenada ou auto-destrutiva — os obesos, os bulímicos, os
copógrafos ou os anoréxicos, por exemplo —, no plano sexual há aqueles que
mantêm uma sexualidade trantornada ou contrária à natureza.
Uma pessoa obesa tem que ser forçada a não ser? Claro que não, é por isso
que terceiros devem abster-se de intervir na obesidade daqueles que sofrem com
isso. A menos que ele peça ajuda, caso em que ele será acolhdo, mas a fim de
ajudá-lo em vez de aplaudir ou incentivar seus excessos: “Se uma pessoa come
mais do que precisa e faz menos exercício do que o seu corpo necessita, sofre
conseqüências. Seria incorreto dizer que tal pessoa, ou o fumante ou o etílico em
excesso, age contra sua própria ‘natureza’? A AIDS não seria, nessa
interpretação, uma punição mais severa (para os homossexuais) do que o excesso
de colesterol às condutas irracionais. Os seres humanos vêem ao mundo munidos
de certas condições e tendências naturais: cumpri-las é prudente e violá-las
implica num preço”,[543] notou com bom senso o pensador argentino Mariano
Grondona. No entanto, Grondona acrescenta o seguinte: “Para a maioria das
pessoas, a homossexualidade é uma prática aberrante. A questão não é se eles
estão certos, mas outra: ainda que estivessem, possuem o direito de impor isso
àqueles que não pensam como eles?” A resposta do autor é não, já que “uma
pessoa é tolerante quando, apesar de condenar certo tipo de comportamento, não
tenta proibir por leis estatais pois a tentativa de moralizar imperativamente
poderia trazer males maiores do que os que se pretende erradicar”.[544]
Subscrevemos: o Estado não deveria jamais perseguir a homossexualidade, mas
o que não deve fazer é promover e celebrar essa prática por uma variedade de
razões, incluindo que ela é autodestrutiva tanto emocional quanto fisicamente,
como veremos depois.
Desde o início deste trabalho, temos sido a favor do sujeito homossexual ter
todo o direito de viver sua intimidade dessa maneira, mesmo que seja tão
estranho ao que a natureza indica. Mas precisamente por causa das
características desse ardil erótico irregular segue-se que a sua sexualidade é
objetivamente desordenada, posto que sofreu uma tendência oposta à finalidade
para a qual a sexualidade foi projetada: a relação homossexual é, por definição,
intranscendente e sua prática se reduz ao alegado prazer que seus cultistas dizem
sentir. Vale dizer, o ato homossexual não tem raízes no passado e não se projeta
para nenhum futuro, é uma atividade subalterna equivalente a um anti-higiênico
passatempo que se esgota em si mesmo.
Mas também é certo que a homossexualidade não se reduz ao ato sexual,
mas se trata de uma realidade muito mais complexa: “está na moda dizer que a
homossexualidade é uma alternativa tão válida quanto qualquer outra. Mentira.
Ser homossexual é muito complicado. Devem merecer todo o nosso
entendimento, mas para tentar curá-los, não para encorajá-los a sê-lo”[545]
sentenciou o psiquiatra Juan Antonio Vallejo-Nágera em seu livro A Porta da
Esperança.[546] Quer dizer, além do vínculo genital, a sodomia não constitui uma
simples pirueta carnal minoritária tão inócua e inconseqüente como a de quem
possui um gosto não-majoritário na hora de escolher um sabor na sorveteria do
bairro. Precisamente por isso é que existem não poucas ou desautorizadas vozes
que consideram a homossexualidade como um distúrbio que poderia muito bem
ser um sentimentalismo neurótico:[547] “Há um equívoco generalizado de que
entre uma pessoa com atividade homossexual e outra que não a possua não há
grandes diferenças, exceto pela ‘orientação sexual’. Na realidade, as pessoas
com comportamento homossexual apresentam, de fato, mais problemas de saúde
específicos de sua condição e/ou estilo de vida. Em um estudo publicado em
1997 descobriu-se que grupos de homens com atividade homossexual tinham
uma expectativa de vida semelhante a existente em 1871”[548] concluiu o
cientista-médico Jokin de Irala[549] em seu livro Compreendiendo la
homossexualidad.
Então a homossexualidade é uma anormalidade? Não somos as pessoas
autorizadas a responder esta questão controversa, porém, a partir de uma
perspectiva positiva e com pedagógica exposição televisiva o credenciado
médico dominicano Miguel Núñez disse sem rodeios que “A homossexualidade
é anormal. Da simples observação da composição de um homem nos permite
inferir que ele não tem um órgão sexual receptor para receber outro homem
como um parceiro, e com a simples observação das mulheres, vemos que elas
não têm um órgão de penetração para ter outra mulher como parceira. Além
disso, o genótipo (composição genética) do homem é XY, isso define o que é um
homem geneticamente e se você olhar do lado de fora, que é o que chamamos
fenótipo (o que alguém parece por fora), você vai notar que o indivíduo também
parece como homem: então um indivíduo que é homem dentro (geneticamente) e
homem fora (fenotipicamente), e que quer entrar em uma prática contrária à sua
natureza, como não podemos chamar isso de anormal? Algo que é tão básico em
genética deveria nos dar uma idéia de como devemos reagir para orientar essa
pessoa para que isso que é anormal não se desenvolva”.[550] Por essas e outras
razões, há muitos que também argumentam que a sodomia não seria uma prática
“normal”, dado que, conceitualmente, a Real Academia Espanhola define o
“normal” da seguinte forma: “Diz-se de uma coisa que, por sua natureza, forma
ou magnitude, se ajusta a certas normas fixadas antecipadamente”,[551] isto é, de
acordo com este axioma, anormal constituiria qualquer conduta que não sirva
nem siga a “norma”. Qual norma? Neste caso, a norma ou as regras que emanam
da ordem natural, ordem em que o comportamento humano é introduzido, além
de suas tendências inerentes, a inteligência, que é o que, em última análise, guia
nossas ações. Dito de outra forma: a ordem é a reta disposição das coisas
segundo o seu fim e o natural é aquilo que nos é dado pela própria natureza. Isto
é, a ordem natural é tudo o que indica uma disposição ou ordenação para um
certo fim, de acordo com o que cada coisa é. Então, as pernas foram dadas aos
humanos para andarem. Nós também poderíamos andar em “quatro pernas”
usando nossas mãos emulando os cães. Mas se fizéssemos isso, além de “andar”
muito mais lentamente do que o habitual, em breve iríamos sentir dor corporal
com seqüelas físicas graves, uma vez que não estaríamos usando o que foi nos
dado para o fim determinado (neste caso, faria-se um uso insano e irregular de
nossas extremidades), mas conforme contorções incômodas que atacariam não
apenas nossa boa caminhada, mas também nossa saúde física. Ou seja, para que
o uso daquilo que nos foi dado ser correto, deve-se estar em harmonia com sua
natureza; e, na direção oposta, esses comportamentos em desacordo com nossa
natureza seriam considerados incorretos ou antinaturais.
O que tentamos explicar da maneira mais simples e doméstica possível já
foi desenvolvido extensamente por filósofos de peso e não é nosso objetivo
entrar em matéria tão delicada, mas apenas fornecer uma aproximação
exemplificativa.[552]
Escusado será dizer que os ideólogos da “teoria do género” não vão
partilhar destas posições “autoritárias” e vão argumentar que, na verdade, “todos
são o que eles sentem que são” e que qualquer outra conotação ou classificação
que do tema se pretenda elaborar não deixaria de ser uma “arbitrariedade
cultural”. De fato, como vimos, de acordo com esses setores, a identidade de si
mesmo é baseada apenas na “autoconstrução” ou na mera “autopercepção”.
Quanto a este último, um profundo documento elaborado por médicos, filósofos,
teólogos e psicólogos chilenos que foi devidamente publicado localmente pela
UCA[553] afirma que: “A identidade prática está condicionada ou limitada, em
primeiro lugar, pela mesma identidade constitutiva sobre a qual repousa. Se
alguém mede 1,80 metros de altura, não pode auto-interpretar-se como uma
pessoa anã e, se o fizesse, evidenciaria um desequilíbrio na sua relação com a
realidade [...] Negar a ligação estreita entre a pessoa, sua corporidade e seu ser
para os outros, é o fruto do desconhecimento da finalidade inerente à condição
sexuada do ser humano”.[554] Além disso, o filósofo argentino Carlos Sacheri
(que foi morto por guerrilheiros marxistas em 1974), em conhecido livro
intitulado A Ordem Natural, com linguagem simples exemplifica observando
que “a experiência cotidiana mostra-nos que as pereiras dão sempre pêras. Por
não sei que deplorável ‘estabilidade’ vacas sempre têm bezerros e não girafas ou
elefantes, e, o que é ainda mais ultrajante, os bezerros sempre têm uma cabeça,
uma cauda e quatro patas... E quando numa ocasião você vê um com cinco
pernas ou com duas cabeças, o bom senso exclama ‘Que barbaridade, pobre
animal, como é defeituoso!’ Reações que não fazem senão provar que não existe
só a natureza, mas há uma ordem natural”.[555] Mas, acerca da ideologia de
gênero, continuamos indagando e exemplificamos o seguinte: se um jogador de
tênis diz “ser mulher” e decide inscrever-se no circuito feminina da competição,
deve ser aceito neste campeonato para não ser “discriminado”? Não é preciso
dizer que aceitar isso implicaria num erro que consiste em afetar as mulheres
com a presença competitiva de uma pessoa de natureza diferente e com uma
força física significativamente maior. Superioridade que não surge de qualquer
preconceito religioso, mas da condição imutável deste confuso (e trapaceiro) e
homem. Não sem sarcasmo o jurista Roberto Castellano (Presidente da PRO-
VIDA na Argentina) ilustrou a questão de uma forma ainda mais ousada: “Se eu
me auto-percebo como ‘Katy’ e portanto tenho o direito de exigir do Estado um
novo documento identidade, amanhã eu também posso me auto-perceber como
um carro e então teria o direito de exigir o registro de veículos que me outorgue
um ‘Formulário 08’.[556] O Presidente do PRO-VIDA exagera? Eventos recentes
indicam que não: “Ela é um gato preso em um corpo de mulher”,[557] manchete
de 28 de janeiro de 2016 da National Review, relatando o caso de uma jovem
norueguesa que se sente como um felino, “autoconstrução” que vem se repetindo
em vários adolescentes e cujos cultores — que se autodenominam
“transespécies” — já formaram seu sindicato e seu conseqüente lobby com uma
série de exigências do Estado. Mais uma vez, não devemos nos surpreender que
seja a esquerda que apóia essa acumulação de fantasias e tolices, pois Jacques
Maritain corretamente condenou: “o homem de esquerda detesta o ser e prefere o
que não é ao que é”.[558]
AIDS e autodestruição
Independentemente de todo credo, ideologia e catalogação moral, a
homossexualidade é um comportamento objetivamente autodestrutivo. Quem
quer praticar a sodomia tem toda a liberdade de fazê-lo, mas as estatísticas mais
atualizadas no mundo ocidental não fazem mais do que confirmar o quão
desaconselhável essa conduta é, contra-indicação que não elucubramos nós, mas
as leis ultrajantes da natureza. Vamos às contas.
No que diz respeito ao HIV-AIDS (uma doença na qual nos centraremos
agora), em novembro de 2014, um relatório publicado pelo Centro Europeu de
Prevenção e Controle de Doenças, registrou no “Espaço Econômico Europeu”
(computando os 28 países da UE mais a Islândia, Liechtenstein e Noruega) que o
contágio desse mal se estabilizou ou tende a diminuir entre a população
heterossexual, mas ao contrário, os contágios entre a população sodomita têm
crescido na Europa, em 33% desde 2004 até hoje,[559] números alarmantes que
levaram cinqüenta países da comunidade internacional a proteger sua população,
proibindo os homossexuais de doar sangue (entre os países que se defendem com
essas medidas estão Alemanha, França, Colômbia e EUA).[560] “Há uma
tendência global que é o crescimento da epidemia entre os homossexuais, entre
os homens que fazem sexo com outros homens. Está acontecendo em todas as
regiões, sem exceção”,[561] disse o cientista brasileiro Luis Loures,[562] atual
diretor executivo do Unaids (Programa de luta contra a AIDS das Nações
Unidas), ao apresentar o relatório anual daquela entidade (julho de 2014). E não
é à toa. Segundo a própria ONU — uma organização não hostil quando se trata
de financiar atividades de ideologia de gênero — “homens gays e outros homens
que fazem sexo com homens têm 19 vezes mais chances de viver com o HIV do
que a população em geral”, e “as mulheres transgênero têm 49 vezes mais
chances de viver com o HIV do que outros adultos em idade reprodutiva” (dados
do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS — UNAIDS).[563]
Esses contundentes dados científicos de uma organização global
relacionada à agenda homossexual jogam no lixo os aforismos igualitários e
demagógicos que afirmam que “todos temos as mesmas chances de pegar
AIDS”. É claro que todos podemos ter AIDS, mas nem todos temos as mesmas
chances. Mutatis mutandis, todos nós podemos ter a infelicidade de lesionar o
ouvido, mas quem tem o fetiche erótico de introduzir um picador de gelo no
ouvido tem muito mais chances de ensurdecer do que aqueles que não incorrem
em tal desatino. Dito de uma forma mais convencional: todos nós podemos
morrer de câncer de pulmão, mas o não-fumante não tem as mesmas chances que
o fumante habitual. Se o último aviso é de conhecimento público e até mesmo o
Estado obriga alertar o fumante nos maços de cigarros sobre as conseqüências do
seu hábito, por que o Estado castiga como “discriminador” todos os que apontam
a relação intrínseca entre a sodomia e AIDS?[564]
Tomemos por exemplo a experiência americana: embora nos Estados
Unidos a população homossexual seja apenas 1,6% do total, de acordo com
números já citados do CDC (Center for Disease Control and Prevention), orgão
dependente do Ministério da Saúde dos EUA,[565] revelou-se pela mesma
entidade que no ano de 2010, em termos de portadores de HIV, homens jovens
homo e bissexuais (entre 13 e 24 anos) daquele país representavam não o
equivalente proporcional de 1,6% da população homossexual, mas um
escandaloso 72% sobre o total das novas infecções. Além disso, em 23 de
setembro daquele ano, a mesma agência realizou um estudo epidemiológico da
AIDS nas 21 principais cidades dos EUA chegando à seguinte conclusão: 20%
dos homens homossexuais têm o HIV,[566] sendo o caso mais preocupante na
cidade de San Francisco (paraíso homossexual por excelência do estado da
Califórnia), onde os homossexuais de todo o mundo instalam-se para desfrutar
duma vida “festiva e sem preconceitos”, um centro urbano rentável promovido
por agências de “turismo sexual”, também um lugar venerado nas canções da
“cultura gay-pop”, como no caso do hit musical do grupo coreográfico de
travestis Village People,[567] que leva justamente o nome da cidade promíscua.
Mas como já foi dito, nem tudo soa tão “divertido” em San Francisco: a
autoridade de saúde do estado alerta que naquela cidade um em cada cinco
homens com mais de 15 anos é homossexual e que, destes, um em cada quatro
(um 25,8 por cento) está infectado com o vírus HIV, dando a San Francisco um
recorde triste e alarmante,[568] de concentração da taxa de HIV mais assustadora
da civilização ocidental contemporânea, o que contrasta com o “encanto
libertário” divulgado pela indústria de entretenimento pansexualista.
Mas os números foram piorando nos Estados Unidos. Em 2013, homens
homo e bissexuais representaram 81% (30.689) dos 37.887 diagnosticados com
HIV[569] naquele ano.[570] Você entende o que estamos expondo? Muito menos do
que 2% da população é homossexual, mas mais de 80% do total da população
norte-americana infectada pelo HIV é homossexual. Além disso, entre a pequena
porção restante da população com o HIV que não é homossexual, a maior parte
foi infectada por transfusões infelizes (hemofílicos) ou por partilhar drogas
injetáveis; quer dizer, nem sequer nessa minoria excedente de infectados não-
homossexuais a doença foi necessariamente conseqüência de relações
heterossexuais, mas principalmente de outras causas.
Estes detalhes escabrosos comovem e preocupam, não sem razão, os
ativistas de “gênero” mais recalcitrantes: conforme números globais retirados do
relatório Homosexuality and the Politics of Truth, desenvolvido pelo grupo
liderado por Jeffrey Satinover, psiquiatra e físico formado nas universidades de
Yale e de Harvard,[571] a incidência de AIDS entre homens homossexuais com
idade entre 20 e 30 anos é 430 vezes maior do que em comparação com a
população heterossexual como um todo.[572] O relatório acrescenta que a maioria
significativa de homossexuais está infectada, por um lado, em razão do sexo
anal, do qual os homens gays são devotos, e que é um foco infectocontagioso de
escandalosa relevância; e, por outro lado, por conta dos hábitos desordenados e
promíscuos de que participam, e que em grande medida os predispõem ao
contágio. Vamos por partes analisar as duas situações.
Em relação ao insano da penetração anal, vale observar que ela é praticada
por 90% dos homossexuais e dois terços participam regularmente de acordo com
um estudo publicado pelo Centro Nacional de Bioética[573] do governo dos EUA.
Porém o ânus e o reto são órgãos que têm a única função de excretar resíduos
digestivos do corpo, não têm produção própria de lubrificantes, a mucosa é
extremamente delicada e os vasos sanguíneos podem rasgar facilmente causando
sangramento. Segue-se que as prováveis conseqüências desta prática são: a
incontinência fecal, hemorróidas, fissura anal, corpos estranhos alojados no reto,
descargas de retossigmoideos, proctite alérgica, edema peniano, sinusite
química, queimaduras de nitrito inalado, e assim por diante. No que diz respeito
à AIDS, o último documento do CDC revela que a cada 10 mil casos de relações
sexuais na penetração vaginal, o risco de contrair o HIV é de 4 casos para
homens e 8 para mulheres. Em contraste, em uma relação anal, a cada 10 mil
exposições sexuais o sujeito ativo representa 11 casos e o receptivo 138 casos de
risco. Isso quer dizer que na relação homossexual o sujeito ativo triplica suas
chances de risco em relação ao homem heterossexual e o sujeito passivo
homossexual multiplica em 18 vezes as chances de infecção[574] em relação a
uma mulher heterossexual. Ao que foi dito deve-se acrescentar que em relações
homossexuais geralmente alternam-se os papéis, expondo-se assim a uma soma
dos dois coeficientes, multiplicando as suas já muito elevadas chances de
contágio. Dito de outra forma: pela própria natureza do vínculo, o risco de
contrair o HIV na relação heterossexual é mínimo comparado ao homossexual.
Quanto à vida promíscua e orgiástica tão característica da comunidade
homossexual (outro fator que aumenta o risco potencial em quantias
astronômicas), é apontado no relatório Satinover que a diferença entre o
comportamento dos homens homossexuais e dos heterossexuais é a seguinte: um
homossexual tem uma média de relações sexuais com diferentes amantes 12
vezes maior[575] do que um heterossexual: “O homossexual típico (escusado será
dizer que existem exceções) é um homem que pratica freqüentes episódios de
penetração anal com outros homens, muitas vezes com muitos homens
diferentes. Esses episódios são 13 vezes mais freqüentes que os atos
heterossexuais de sexo anal, com 12 vezes mais parceiros distintos do que os
heterossexuais”.[576]
Estes dados parecem transparecer situações que de alguma forma são de
conhecimento público: na gíria homossexual são famosos os encontros fugazes
com estranhos em estações de trem, cabines telefônicas, felações em banheiros
públicos, estações de metrô, saunas, cinemas marginais e qualquer lugar que
permita que seus cultores aliviem cegamente sua caótica ansiedade genital. E
como a homossexualidade está principalmente focada no sexo (embora isso não
negue de forma alguma o fato de que dois sodomitas possam vir a sentir carinho
um pelo outro), os membros da relação acabam majoritariamente transformando-
se em meros objetos de desejo ou em concorrentes no mercado das paixões
genitais, que estimula a hiperatividade sexual com muitas pessoas em
porcentagens muito mais altas do que a das pessoas heterossexuais. Deste modo,
confirmado por outro estudo com pacientes homossexuais em Amsterdã
(preparado pela cientista Maria Xiridou[577]), chegou-se à conclusão de que cada
homossexual tinha em média oito amantes colaterais por ano (além de seu
parceiro “estável”);[578] já o Dr. Barry Adam, professor homossexual da
Universidade de Windsor, no Canadá, apresentou um trabalho complementar no
qual faz a análise de 60 casais gays e conclui que apenas 25% deles eram fiéis
um ao outro,[579] confusão comportamental que também percebeu o Ministério da
Saúde dos Estados Unidos: “Por terem mais parceiros sexuais em comparação
aos outros homens, os homossexuais e bissexuais são mais propensos a ter
relações sexuais com alguém que pode transmitir o HIV ou outras doenças
sexualmente transmissíveis”.[580] Isso significa que não há promiscuidade ou
infidelidade no mundo heterossexual? É óbvio que sim e nós desde estas linhas
não negamos ou reivindicamos tal coisa. Além disso, consideramos uma
leviandade do espírito que algo tão sério e íntimo como a sexualidade seja
freqüentemente tomado como um mero desafogo passageiro. Mas o que se
deseja expor ao tocar em cifras do mundo científico é que a libertinagem e a
promiscuidade em relações homossexuais têm números categoricamente
superiores em todos os aspectos em comparação com os números heterossexuais,
cujas taxas são reduzidas à insignificância ao lado dos dígitos provindos da
atividade venérea desenfreada da comunidade homossexual.
Para mais informações e para completar o mapa do mundo ocidental, no
que toca a América Latina e conforme os números da ONU atualizados em 2011
em seu site oficial, somos informados de que a prevalência do HIV na população
adulta na América Latina é estimada em 0,4%, e que de toda esta porção, 54,3%
são homossexuais,[581] as prostitutas representam 4,9%, os “taxi boys” homens
22,8% e os usuário de drogas intravenosas representam 5%.[582] Todos estes
grupos de risco identificados chegam a 93% do total da população com HIV
examinada, mas o relatório não inclui dados sobre os 7% restantes, o qual
caberia supor que, quiçá, comtemplaria heterossexuais não pertencentes a grupos
de risco, quer dizer, não viciados em drogas ou à vida dos prostíbulos, mas
oficialmente nada diz o documento sobre esse excedente, por cuja
insignificância nem sequer se anota o menor esclarecimento.
Pontualmente, na Argentina, de acordo com os últimos dados oficiais do
site do Ministério da Saúde (acessados em novembro de 2015, na fase final do
regime corruptor de Cristina Kirchner) sobre o total da população local com HIV
os números publicados foram os seguintes: 49% são homossexuais, viciados em
drogas são 7%, outros 5% é composto por prostitutas e somente um baixíssimo
0,3% constitui o impreciso item “jovens e velhos” não identificado em qualquer
um desses comportamentos de risco.[583] O leitor perguntará: mas e os 37%
restantes não estão incluídos na amostra? Um mistério: nada diz o sítio
governamental dessa porção remanescente, provavelmente porque o próprio
Ministério não conhece a fonte de contágio dessa outra massa populacional. Ao
fim e ao cabo, durante a Argentina kirchnerista pouca ou nenhuma seriedade das
estatísticas oficiais de qualquer setor foi política do Estado.
A autodestruição para além da AIDS
Mas as graves conseqüências do comportamento homossexual ultrapassam
em muito o drama pontual da AIDS. Um relatório do serviço de saúde pública
inglês (Public Health England) emitido no final de junho de 2015, revelou um
forte aumento das doenças sexualmente transmissíveis (DST) entre os homens
homossexuais do país, em uma proporção consideravelmente maior do que o
resto da população. As cifras indicam que enquanto a sífilis aumentou em 33%
no total, o aumento foi de 47% entre os homens homossexuais. Da mesma
forma, a gonorreia teve um aumento de 19% na população em geral, mas entre
os sodomitas cresceu quase duas vezes: 32%.[584] Situação similar ocorreu, por
exemplo, na Espanha, onde, de acordo com dados do governo (fornecidos pelo
Instituto Carlos III[585] de biomedicina), entre a década de 2000-2010, os casos de
sífilis e gonorreia duplicaram e triplicaram respectivamente entre a população
homossexual. Praticamente todas as doenças sexualmente transmissíveis (DST)
aumentaram nesse país (papiloma, sífilis, gonorréia, clamídia e HIV) revelou o
diretor da Sociedade Espanhola de Doenças Infecciosas e Microbiologia Clínica
(SEIMC) Doutor Rafael Canton, que detalhou que os mais afetados são os
homossexuais: 89% dos diagnósticos de HIV, 83% dos de gonorréia, 91% dos de
sífilis e 55% dos de clamídia estavam na população sodomita.[586] Mas esses
coeficientes pioram ainda mais no caso linfogranuloma venéreo, patologia que
aparece 99,5% das vezes em homossexuais[587] e apenas 0,5% no resto da
população. Em outra latitude, o Canadian Medical Association Journal
informou em 2015 sobre essa nova doença sexualmente transmissível causada
pela bactéria chamada linfogranuloma venéreo (LGV): 100% das pessoas
afetadas por esta triste novidade eram homossexuais.[588]
Se entramos em outros planos, como o emocional e o psicológico, cabe
acrescentar dados adicionais significativos que confirmam a evidente propensão
ao desequilíbrio das pessoas com distúrbios homossexuais. A primeira Pesquisa
Nacional do CDC, o várias vezes citado órgão oficial de saúde do governo dos
Estados Unidos, revelou que lésbicas, gays e bissexuais enfrentam maior
inclinação para ao vício e sofrem “graves problemas psicológicos” em
comparação aos heterossexuais. De acordo com o estudo, uma alta percentagem
de adultos entre as idades de 18 e 64, identificado como homens homossexuais
(27,2 por cento) eram fumantes, enquanto que entre os heterossexuais o número
é de apenas 19,6%. Além disso, 27,2% das mulheres que se identificaram como
lésbicas e 29,4% das mulheres que se identificaram como bissexuais fumavam
cigarros, quase o dobro do 16,9% das mulheres que fumam identificadas como
heterossexuais. Esse mesmo estudo também indicou que consumo de álcool
entre homossexuais é maior do que entre heterossexuis: uma percentagem mais
elevada de adultos entre as idades de 18 e 64 que se identificaram como
homossexuais ou lésbicas (35,1%) ou bissexuais (41,5%) relataram ter tido
problemas com o excesso de bebida pelo menos um dia no ano passado, em
contraste com aqueles que se identificaram como heterossexuais, cuja cifra é de
apenas 26%.[589] Em seguida, o governo dos EUA também relata que 11% dos
adultos[590] que se identificaram como bissexuais experimentaram graves
problemas psicológicos nos últimos 30 dias, enquanto apenas 3,9% dos
heterossexuais padeceram desse mal.[591]
Sobre as tendências à depressão e outras doenças, conforme informações
transcritas na revista Archives of General Psychiatry: “As pessoas homossexuais
têm um risco substancialmente maior diante de algumas formas de problemas
emocionais, incluindo suicídio, depressão grave, transtorno de ansiedade,
transtorno de conduta e dependência da nicotina”,[592] dados científicos
complementados pelo jornal Clinical Psychology Review, que depois de rever
estudos sobre violência doméstica homossexual chegou à seguinte conclusão: a
violência física foi registrada em 48% dos casais de lésbicas e em 38% dos
casais gays.[593]
Como se a acumulação de dados obtidos não confirmasse que a tendência
homossexual é auto-destrutiva, deve acrescentar-se o artigo científico sobre 750
casos publicados pelo governo dos EUA (desenvolvido pelo National Center for
Biotechnology Information), que nos diz que a população sodomita sofre uma
preocupante tendência ao suicídio: homens homossexuais e bissexuais têm 14
vezes mais probabilidade de tentar o suicídio do que uma pessoa não-
homossexual.[594] Quanto a isto, o psiquiatra espanhol Aquilino Polaino disse que
o transtorno obsessivo é um traço comum entre a comunidade homossexual, o
que poderia explicar as altas taxas de suicídio,[595] dado que a população
sodomita, embora em termos percentuais pequena, contitui no entanto 62,5% do
total de suicídios analisados no relatório supracitado.
Mas há mais sobre este desprezo pela vida e esse patológico apego
homossexual à autodestruição: “Eu joguei a roleta russa da AIDS” é o espantoso
título de um longo e abrangente relatório publicado pelo jornal El Mundo da
Espanha em 2010: “A excitação começa antes de você passar pela porta, muito
antes de contemplar os corpos nus e ter contato físico. A partir do momento em
que através da Internet se fixa um dia e um lugar, os nervos ficam a flor da pele.
Aqueles convocados imaginam repetidas vezes como se desenvolverá a
particular orgia a que irão assistir, quem será quem na roleta russa sexual. Um
encontro peculiar em que um dos participantes tem uma arma que excita o resto.
Não é uma pistola. É a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV).
O fenômeno surgiu nos Estados Unidos nos anos 90, justamente quando o
coquetel de drogas antirretrovirais parecia capaz de manter a doença sob
controle. Agora, essas festas estão começando a ganhar apoio na Espanha [...] As
autoridades sanitárias já sabem há algum tempo da existência dessa prática
perigosa. Os próprios Centros de Prevenção e Controle de Doenças dos EUA
(CDC) realizaram pesquisas sobre o assunto, tentando descobrir por que alguém
quer pegar um vírus que mata dois milhões de pessoas a cada ano e cuja
incidência dobrou em homens que mantêm relações homossexuais,
especialmente entre os mais jovens. Gordon Mansergh, da Divisão de HIV dos
CDC e autor de um desses estudos, concluiu após pesquisa com 554 homens
homossexuais e bissexuais em San Francisco que “a principal razão para se ter
relações sexuais sem proteção e sem preocupação é que experimentam muito
mais prazer e se sentem emocionalmente mais ligados ao parceiro, sem barreiras
de qualquer tipo”.
Mas não é só isso. Alguns participantes das festas de roleta russa o fazem
porque se sentem isolados e diferentes, e até porque viveram tanto tempo com
medo de se infectar que qaundo finalmente conseguem o vírus, sentem-se
aliviados [...] As orgias de sexo entre soropositivos e soronegativos há duas
décadas se espalham de forma subterrânea nos Estados Unidos”.[596]
Tanto pelo que foi exposto quanto por muitos outros motivos não é por
acaso que um estudo publicado no jornal médico da Universidade de Navarra,
em 1997, argumentou que os homens gays tinha expectativa de vida equivalente
ao que se tinha em 1871;[597] outro trabalho de origem canadense proveniente de
fontes do mesmo lobby homossexualista (preparado pela junta médica Rainbow
Health) nos diz que a expectativa de vida média de um sodomita é 20 anos
menor do que a de um heterossexual[598] enquanto que em outros países a
diferença se tornaria ainda mais alarmante: durante a convenção anual da
Eastern Psychological Association (EPA) dos Estados Unidos (2007), se indicou
que, na Dinamarca, o país com a mais longa história em termos de “casamento”
homossexual os homens heterossexuais casados morrem com a idade média de
74 anos, enquanto os homossexuais “casados” morreram com a idade média de
51 anos. Enquanto na Noruega, os heterossexuais casados morrem aos 77 anos
em média, os homossexuais morrem em média com 52. Para as mulheres a
diferença é semelhante: as casadas morrem em média com 78, enquanto as
lésbicas em união homossexual legal com 56, como os estudos apresentados
pelos conhecido médicos Paul e Kirk Cameron.[599]
Ao exposto acima, deve-se acrescentar que quanto mais claramente uma
pessoa tem um comportamento marcadamente homossexual, menor é sua
expectativa de vida. Por exemplo, enquanto na Argentina a expectativa de vida é
de 76 anos de idade,[600] os homossexuais na sua versão transexual não chegam
aos 35 anos,[601] muito menos do que a metade da média de vida.
Por que razão é gerada essa desproporção esmagadora em todas as
estatísticas científicas que se consulte se uma tendência é “tão válida” quanto a
outra? Simples: um vínculo é contrário à natureza e o outro é concorde com ela.
Vale dizer: um é propenso a gerar doenças e o outro a gerar vida. Nossa
conclusão parece “discriminativa”? Em qualquer caso, não discriminamos nós,
mas a mesma natureza. Quanto ao resto, pouco nos importamos se o que
dizemos parece bom ou ruim aos ouvidos ou aos olhos do atual politicamente
correto. Nossa conclusão não decorre de qualquer “dogma pré-conciliar”
intolerante, mas de dados estatísticos obtidos a partir das fontes de agências
internacionais, instituições governamentais ou não-governamentais e estudos
científicos privados de reputação suficiente. A partir daí cada um fica livre para
tomar as deduções que julgar convenientes.
Da mesma forma, deve-se acrescentar que esse espírito deliberadamente
autodestrutivo da prática homossexual tem duas facetas muito claras e
diferenciadas. Por um lado, é autodestrutivo, implicitamente, uma vez que
através de uma relação homossexual nunca se pode propagar a espécie humana,
e se a porcentagem de homossexuais ao invés de ser insignificante fosse
massiva, a humanidade estaria em sério risco de extinção. Além disso,
descobrimos que a homossexualidade é um comportamento destrutivo
diretamente, porque qualquer um que a pratique está exposto a situações de alto
risco e à espera de várias doenças, tal como foi mostrado de maneira suficiente
nas páginas anteriores.
Ou seja, tudo o que já dissemos neste capítulo sobre a loucura que significa
praticar a homossexualidade não tem outro propósito além de mostrar que a
ideologia de gênero não é apenas prejudicial e perigosa pelo fato de se esconder
atrás de uma modernizada proposta comunizante, mas também porque o
instrumento utilizado para a imposição política velada é objetivamente
prejudicial para aqueles que são encorajados a praticá-la, além disso, é
desnecessário repetir até o enjôo: não negamos o direito de cada um viver a sua
intimidade como lhe agrade, desde que os direitos de terceiros não sejam
prejudicados.
A homossexualidade como bandeira comunizante
Depois de tudo o que foi dito: o que tem a ver o “homem novo esquerdista”
com um homossexual? Absolutamente nada. Levando-se em conta as limitações
naturais do caso, o único sistema conhecido no qual o sodomita foi capaz de
desenvolver sua vida afetivo-sexual é no capitalismo ocidental. No entanto, o
sujeito homossexual de hoje foi capturado pelos mesmos setores que há não
muito tempo o castigava a chicotadas, mas que hoje injetam um discurso
ideológico que lhe serve de alívio pessoal e de cruzada militante a serviço de
uma causa que nem mesmo é sua.
Um jovem homossexual provavelmente sofreu de angústia, dúvidas,
conflitos de identidade e confusões. Talvez por causa de sua condição
desacomodada nunca se sentiu bem estabelecido em sua vida social (escola,
clube, aniversário, passeios) e gastou muita energia não em politizar-se, mas em
tentar se auto-encontrar ou se definir e ver exatamente em que lugar vai parar
sua vida social e familiar. Então, aparecem esses grupos de esquerda que no afã
de recrutá-lo exaltam, acolhem e o apresentam a outros recrutas na mesma
situação; os manipuladores que o capturam dizem a este jovem homossexual que
suas insatisfações não são o resultado de sua tendência contrariada, mas que ele
é “vítima” de uma herança cultural opressora. E quais são essas instituições
opressivas? A Igreja, a família e a tradição: isto é, “coincidentemente”, os pilares
da civilização ocidental que a esquerda sempre procurou destruir.
Condizente com o espírito esquerdista que cancela a responsabilidade
pessoal e sempre culpa o outro, o homossexual recém-capturado encontra agora
um inimigo externo e ademais culpado de sua inquietude interna, o que gera nele
uma espécie de alívio psicológico circunstancial, e como ele nunca teve tempo
para politizar-se o suficiente, os líderes do grupo lhe dão uma bandeira
multicolorida em uma mão e uma de Che Guevara na outra, e o ativista
inexperiente é lançado na militância catártica com um roteiro básico, mas
efetivo, de tal maneira que acaba se tornando um militante furioso de uma causa
que no final lhe é muito alheia, embora ele a suponha como própria.
Mas por que razão a nova esquerda escolheu e promoveu a
homossexualidade como um dos grupos militantes para direcionar para sua
causa? As respostas são muitas e procuraremos oferecer as que consideramos
mais relevantes.
Por um lado, é fato que vários dos pensadores e líderes homossexuais
(sejam eles homossexuais ou não) que nós analisamos são de esquerda (Reich,
Marcuse, Hay, Foucault, Freyre, Hocquenghem, Schifter Sikora, Vidarte e
Preciado além dos locais Perlongher, Anabitarte, Jáuregui ou Meccia, entre
muitos outros que vimos) e em suas teses sempre especularam, em maior ou
menor medida, a promoção deste tipo de simbiose que consiste em transferir a
velha luta de classes para outros tipos de conflitos sociais, tentando manter a
tensão dialética em vigor, independentemente da causa que a gera.
De igual forma, a esquerda, diante destes novos parceiros, os
homossexuais, pode seguir brandindo fantasias igualitárias, anteriormente
econômicas e agora culturais; embora não seja propriamente de esquerda falar
em favor da “liberdade”, pois historicamente ela sempre promoveu o conceito de
“libertação”, hoje readaptado; ademais, essa exortação liberacionista tem uma
conotação inseparavelmente ligada à de “rebelião”: ninguém se liberta se não se
rebela. Rebelar-se e libertar-se diante do quê ou diante de quem? Antes era
contra o “imperialismo”, “os poderosos”, os “detentores dos meios de produção”
e várias outras abstrações; porém, no assunto em questão, é proposto aos
homossexuais libertarem-se da “superestrutura patriarcal”, que tanto os
marginaliza e destrata, formada pela Igreja Católica e pela família tradicional.
Assim, incita-se ao sodomita recrutado romper com a Igreja, com a família e
com a tradição cultural do Ocidente, que são acusadas de serem culpadas de
problemas emocionais que ele sofreu pelo mero fato de “ser diferente”. E por
que a esquerda toma esses três itens como alvos (Igreja, família e tradição)? Na
verdade, ela sempre procurou combatê-los, só que agora encontrou novos
pretextos e um exército gratuito composto de almas conflituosas dispostas a
renovar o enfrentamento aberto.
Contra a Igreja, guerra irrompe porque além das questões de fé e de toda a
conotação sobrenatural ou teológica, esta sempre foi a favor das hierarquias, da
propriedade privada, das classes sociais viverem em harmonia e do respeito pela
ordem natural. Ou seja, por sua própria composição doutrinal e institucional, a
Igreja sempre foi um importante baluarte cultural e espiritual contra o avanço
das idéias de esquerda, que condenou em inúmeros documentos: não só em
encíclicas, como Quod Apostolici Muneris, Immortale Dei ou Divinis
Redemptoris, como até por um decreto do Santo Ofício (atual Congregação para
a Doutrina da Fé) ordenado por Pio XII em 01 de julho de 1949 proibindo aos
católicos “inscrever-se nos partidos comunistas ou mesmo lhes prestar favores” e
quem “defende ou propaga a doutrina materialista e anticristã dos comunistas
incorre, por este fato, em apostasia da fé católica, e em excomunhão reservada à
Sé Apostólica”.[602]
Mas não é necessário ser um estudioso em questões eclesiásticas, já que os
pontos mais básicos e populares do cristianismo se opõem ao comunismo em
todas as suas manifestações de ponta a ponta; nos referimos aos Dez
Mandamentos, que são conhecidos e aprendidos até mesmo por qualquer criança
que deseje se aventurar no catecismo paroquial. Na verdade, o Decálogo nos
ordena a “amar a Deus sobre todas as coisas”, “não tomar o seu santo nome em
vão” e “guardar os domingos e dias de preceitos” (o comunismo por seu
materialismo dogmático é declaradamente ateu). “Honra pai e mãe” (aqui, não
apenas o conceito de hierarquia natural, mas também o da família é destacado).
“Não praticar atos impuros” e “não desejar a mulher do próximo” (novamente
são preceitos que não apenas defendem a família tradicional, mas que lutam
contra o pansexualismo). “Não roubar” e “não cobiçar a propriedade dos outros”
(o comunismo nega a existência da propriedade de outras pessoas ao não
reconhecer o direito à propriedade). “Não matar” (o comunismo excedeu cem
milhões de assassinatos no século XX e hoje promove o genocídio infantil por
meio do aborto). Finalmente, o Decálogo diz: “Não mentir” (para enumerar as
mentiras históricas e presentes do comunismo deveríamos escrever um livro
separado). Finalmente, além de alguns desvios ou atualizações sofridas ao longo
do tempo, é um fato que o cristianismo em geral ou o catolicismo em particular
não tem nenhum ponto de contato com o comunismo e seus derivados. Rebelar-
se ideológica e politicamente contra isso é uma frente de batalha que a esquerda
nunca pode negligenciar, e a comunidade homossexual é um terreno fértil para
enviá-la à frente com o propósito de lutar sem críticas: marchas geralmente
violentas tanto feministas como homossexuais costumam ocorrer diante de
igrejas ou catedrais no desejo de “erradicá-las” ou atacá-las em seus bens físicos
e humanos, como Laje explicou na primeira parte deste trabalho.
Em relação ao ataque da esquerda contra a família, encontramos elementos
de ordem ideológica, mas também de natureza prática. Para começar, a família é
o núcleo afetivo e de contenção por antonomásia. A primeira coisa que todo
mundo conhece é sua família, e assim adverte para a existência de hierarquias
naturais sucessivas que devem amorosamente obedecer e depender: pai, mãe,
irmão, etc., a criança vai internalizando essa ordem hierárquica, que nada tem a
ver com o utopismo igualitário e horizontal que a esquerda pretende promover
(embora mais tarde seus regimes sejam autocracias verticais cruéis).
É claro que em um casamento pode ser que a mãe é quem tenha uma
personalidade mais imponente que a do pai ou que a opinião de um irmão mais
novo tenha maior peso e influência que a de um irmão mais velho por causa das
características da personalidade de cada um. Porém, para além das possíveis
trocas de certos papéis não essenciais, a verdade é que a hierarquia como
conceito é o que a criança aprende e absorve como natural e como modelo desde
o primeiro dia de vida. Por isso à esquerda interessa romper com a noção de
família, dissolvê-la e substitui-la gradualmente em experimentos voltados a um
relativismo igualitário e, assim, incentivar as novas gerações, ou a
desierarquização, ou, na falta deste, ao conflito familiar.
Precisamente, como regra, a família não pretende fazer de seus filhos
revolucionários frenéticos, mas homens de proveito que sejam continuadores,
aperfeiçoadores ou superadores de sua tradição familiar e, portanto, ter as
melhores ferramentas para entrar no mercado. A esquerda teve isso tão claro que
nos anos 70 as organizações terroristas ERP e Montoneros, na Argentina, não
buscavam somente que os guerrilheiros tivessem o mínimo contato com sua
família de origem, mas também constituíam a própria organização como
substituto dela: a organização terrorista tentou erigir-se em uma espécie de
família coletiva que substituiu e rompeu com a estrutura “burguesa” na qual cada
guerrilheiro se educou. Além disso, em muitos casos, os guerrilheiros recrutados
eram então programados e instigados a atentar contra a vida de seus próprios
pais como um sinal de lealdade e fidelidade à causa revolucionária. Da mesma
forma, já vimos na primeira parte do livro escrito por Agustín Laje, como o
sistema comunista soviético sempre procurou substituir a família pelo Estado.
Com tudo o que foi exposto, a esquerda, que por um bom tempo ficou sem
argumentos sérios para fazer uma revolução, conseguiu se reinventar política e
discursivamente. Com isso ela procura recrutar militantes livres, que hoje
alegremente engrossam suas fileiras para lutar nas frentes de batalha que ela
sempre considerou indispensáveis. Dessa forma pretende continuar semeando o
conflito social, mas também esses novos conceitos de homossexualização
permitem à esquerda a “redenção” de suas crueldades e assassinatos em massa
cometidos durante o último século. Na verdade, embanderar-se com a causa
homossexual é funcional para o neo-comunismo para deixar no passado o
estigma do stalinismo e do maoísmo, que se sabe, foram os grandes genocídios
do século XX, superando de longe seus primos-irmãos do nacional-socialismo.
Nem Lenin nem Stalin, nem Mao e nem Ho Chi Min, nem Pol Pot, ou qualquer
um dos antigos tiranos da esquerda dura viveram para ver a grande mudança de
estratégia e paradigma revolucionário; portanto, todos os líderes comunistas ou
pró-comunistas das gerações posteriores acabaram sendo, diferente dos seus
velhos ídolos, pró-homossexual. Assim, o trotskista, fundador do Foro de São
Paulo e ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva apoiou abertamente o
“casamento gay” no Brasil;[603] a presidente socialista chilena Michelle Bachellet
(exilada em sua época na Alemanha comunista) falou abertamente a favor não só
do casamento homossexual, mas também do crime do aborto;[604] o ditador
equatoriano Rafael Correa, depois de muita hesitação, acabou impondo em seu
país a união legal homossexual em 2014;[605] o ex-guerrilheiro que virou
presidente do Uruguai, José Mujica Tupamaros manifestou-se a favor do
casamento gay[606] e, é claro, a montonera Cristina Kirchner foi durante sua
presidência a madrinha e porta-bandeira do que vociferava a agenda
homossexual na Argentina (tema que já desenvolvemos anteriormente).
É claro que entre a esquerda tradicional e a nova esquerda há um
personagem excepcional que participa de ambas em uníssono, uma vez que não
só viveu todos os processos, mas para a miséria do sofrido povo cubano não
acaba e não morre nunca. Referimo-nos ao tirano vitalício Fidel Castro, que
depois de massacrar gays de direita e esquerda nos campos de extermínio de
UMAP (construídos a mando de Che Guevara), em 2010 “modernizou” sua
cartilha de acordo com a nova estratégia revolucionária e na ocasião de uma
reportegem, pediu um “perdão” tardio para a comunidade homossexual:
— “Cinco décadas atrás, e por causa da homofobia, os homossexuais foram
marginalizados em Cuba e muitos foram enviados para campos de trabalho
agrícola-militares, acusados de contra-revolucionários”, lembra-o a autora da
entrevista Carmen Lira Saade
— F. Castro: “Foram momentos de grande injustiça, uma grande injustiça!,
quem quer que tenha feito. Se nós fizemos, nós... Estou tentando definir minha
responsabilidade em tudo isso porque, é claro, pessoalmente, eu não tenho esse
tipo de preconceito [...] Tínhamos tantos problemas de vida e morte que não lhes
prestamos atenção... Se alguém é responsável, sou eu”.[607]
Tanto mudou o castrismo em torno desta questão, que embora ainda não
respeite o menor direito individual na ilha, neste item pontual, sim, encarregou-
se de organizar na sequência o “Dia Cubano pelo Dia Mundial contra a
Homofobia”. E quem serve em Havana como o campeão desta nova bandeira
para “diversidade”? Mariela Castro, filha do ditador Raúl Castro e sobrinha de
Fidel, que também dá o gosto tolerante de liderar o “Centro Nacional de
Educação Sexual”.
Sem dúvida, a revolução tem muita autenticidade: não só é um herege, mas
sua necessidade também tem o rosto de um herege.
Capítulo 7: Comentário final
Em conclusão, a ideologia de gênero, com suas diferentes máscaras e
variantes, é uma das fachadas visíveis da revolução cultural esquerdista. Nós
tentamos aqui desmascará-la abordando aspectos históricos, teóricos,
ideológicos, antropológicos e filosóficos. Naturalmente, este trabalho não é
exaustivo nem pretende ser. O debate está aberto, é incipiente, tem plena
vigência e nunca pretendemos ser os donos da verdade, mas apenas escravos
dela, motivo pelo qual procuramos sempre ser muito cuidadosos ao colocar em
detalhe os documentos e fontes que apóiam todas e cada uma de nossas
afirmações, posições e transcrições.
Que a ideologia de gênero é uma face da nova esquerda não significa que é
a única, razão pela qual devemos ao amigo leitor o Volume II desta tese, o qual
abarcará as máscaras restantes que esta causa revolucionária renovada traz
consigo,[608] e que serão oportunamente descobertas em um livro complementário
que estimamos publicar em breve como uma espécie de continuação de tudo o
que apresentamos no presente trabalho, o qual esperamos tenha servido para
despertar consciências e contribuir com o atual debate.
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http://es.wikimannia.org
http://sincloset09.wix.com
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https://www.lifesitenews.com
https://www.notifam.com
https://www.prevencion.adeslas.es
https://www.youtube.com
IV - Filmes e documentários

“Aconsejando al Homosexual Miguel Núñez”


“Antes que anochezca”
“El Dr. Money y el niño sin pene”
“Hugo Chávez, Latinoamérica y el Foro de Sao Paulo”
“Las Lunas y Las Otras”
“Néstor Perlongher”
“The Kinsey Cover Up”

[1]
www.orvex.org. “Hugo Chávez, Latinoamérica y el Foro de Sao Paulo”. Ver filme no seguinte link:
https://www.youtube.com/watch?v=gSOhGQLrgJk
[2]
Peña Esclusa, Alejandro. El Foro de Sao Paulo. Una amenaza continental. Colombia, Editorial Grijaldo,
2010, p. 24.
[3]
As FARC e o meio ambiente. 26/01/2015. Ver relatório completo no seguinte link:
http://www.eldiariohoy.com/las-farc-y-el-medio-ambiente/

[4]
Svampa, Maristella; Stefanoni, Pablo; Fornillo, Bruno. “El ‘laboratorio boliviano’: cambios, tensiones y
ambivalencias del gobierno de Evo Morales”. IN: Debatir Bolivia, Perspectivas de un proyecto de
descolonización, Buenos Aires, Ediciones Taurus, 2010, p. 67-68.
[5]
Stefanoni-Herve Do Alto, Pablo. La Revolución de Evo Morales: de la coca al Palacio. Colección
“Claves Para Todos, Editorial Capital Intelectual, 2006, p. 45.
[6]
Apesar de ter havido em 1990 um antecedente da primeira caminhada indigenista encabeçada por
Asencio Teco (no dia 15 de agosto, do departamento de Beni com destino à cidade de La Paz), foi em 1992
que ela se massificou e juntou ativistas do oriente e do ocidente da Bolívia.
[7]
Já em 1988 Evo Morales fora eleito secretário executivo da Federação do Trópico de Cochabamba.
[8]
Aconteceu em Buenos Aires no dia 28 de junho de 1992.
[9]
O livro de Judith Butler foi intitulado de início “Gender trouble: feminism and the subversion of
identity” e foi publicado nos Estados Unidos em 1990 pela Routledge. Há uma edição brasileira: BUTLER,
Judith P. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução de Renato Aguiar. Rio de
Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2003
[10]
Martínez Alier, Joan; Sejenovich, Héctor; Baud, Michiel. “El ambientalismo y ecologismo
latinoamericano. Parte VI. Una agenda propia para los gobiernos y organizaciones regionales
internacionales”. Ver relatório completo no seguinte link. https://ecopolitica.org/el-ambientalismo-y-
ecologismo-latinoamericano-parte-vi/
[11]
Sua primeira tentativa de golpe foie m 4 de fevereiro de 1992 e a segunda em 27 de novembro do
mesmo ano.
[12]
Marcano, Cristina; Barrera Tyszka, Alberto. Hugo Chávez sin uniforme, una historia personal. Buenos
Aires, Editorial Debate, 2005, p. 127.
[13]
O anúncio formal da dissolução da URSS aconteceu em 25 de dezembro de 1991. As suas estruturas
burocráticas, porém, permaneceram em funcionamento durante os primeiros meses de 1992.
[14]
Fukuyama, Francis. The end of the history and the last man. Nueva York, 1992. O trabalho de
Fukuyama ilustrou o sentimento compartilhado por setores liberáis diante do colapso comunista: o mundo
havia chegado a um “fim da historia” diametralmente oposto ao predito pelo marxismo, “ a última e
definitiva forma de governo humano” em palavras do próprio autor: a democracia capitalista. Naturalmente
isto ocorreu em detrimento do significado que se outorgava à luta ideológica, e as luvas foram penduradas
com a fantasia de um triunfo definitivo que não aconteceu. Uma boa análise da obra pode ser encontrada em
Anderson, Perry. Los fines de la historia. Barcelona, Editorial Anargama, 1996.
[15]
Nos referiremos aqui ao conceito hegeliano de dialética, não ao aristotélico, pois é aquele que nos
interessa para os objetivos de nosso estudo.
[16]
Engels, Firedrich. Prefácio à edição alemã de 1883. Extraído de Marx, Karl.
Engels, Friedrich. El manifiesto comunista. Buenos Aires, Editorial Sol 90, 2012, p. 17.
[17]
Marx, Karl. Engels, Friedrich. El manifiesto comunista. Cit., p. 40.
[18]
Popper cita a seguinte passagem de Marx em sua obra: o capitalista compele o operário a “desenvolver
as forças da produtividade social e a criar aquelas condições materiais da produção que são as únicas
capazes de formar a base material de uu tipo superior de sociedade cujo princípio fundamental seja o
desenvolvimento pleno e livre de todos os indivíduos humanos”. Popper, Karl. La sociedad abierta y sus
enemigos. México DF, Paidós, 2010, p. 297.
[19]
“Uma revolução contínua na produção, uma incessante comoção de todas as condições sociais, uma
inquietude e um movimento constante distinguem a época burguesa de todas as anteriores”. Marx, Karl.
Engels, Friedrich. El manifiesto comunista. Cit., p. 42.
[20]
Marx, Karl. Engels, Friedrich. El manifiesto comunista. Cit., p. 45.
[21]
Marx, Karl. Engels, Friedrich. El manifiesto comunista. Cit., p. 46.
[22]
“De todas as classes que hoje se enfrentam con a burguesía —anotam os autores do Manifiesto—,
somente o proletariado é uma classe verdadeiramente revolucionária. As demais classes vão se degenerando
e desaparecem com o desenvolvimento da grande indústria; o proletariado, em transformação, é seu produto
mais peculiar”. Marx, Karl. Engels, Friedrich. El manifiesto comunista. Cit., p. 51.
[23]
“Os proletários não têm nada para salvaguardar; têm que destruir tudo o que até agora vem garantindo e
assegurando a propriedade privada existente”. Marx, Karl. Engels, Friedrich. El manifiesto comunista. Cit.,
p. 53.
[24]
Popper, Karl. Ob. Cit., pp. 292-293.
[25]
Mobilização de operários e camponeses contra o regime que não conseguiu derrubar o Czar, mas
conseguiu que a Rússia se transformasse em uma monarquia constitucional.
[26]
Eram a facção moderada do Partido Operário Socialdemocrata da Rússia. Foram muito ativos na
revolução de 1905, mas ao constatar seu fracasso, modificaram sua estratégia e defenderam, em
consequência, a liquidação progressiva do czarismo mediante uma “revolução burguesa”.
[27]
Eram a facção mais radicalizada do Partido Operário Socialdemocrata da Rússia. Após a derrota de
1905 mantiveram a estratégia de uma revolução operária comunista, que saltasse a etapa burguesa. Esta
facção foi liderada por Lenin.
[28]
Gramsci, Antonio. Para la reforma moral e intelectual. Madrid, Libros de la Catarata, 1998, pp. 35-36.
[29]
O socialismo de todo o mundo coordenou sua estratégia através de que se chamou “Internacional
Socialista”. Houveram no total quatro Internacionais, que foram se sucedendo por conta de conflitos
estratégicos, políticos e ideológicos internos. No caso da Segunda Internacional, ela funcionou entre 1889 e
1923. Seu primeiro congresso foi na França, onde se constituiu como “Federação de Partidos
Socialdemocratas” (a Primeira Internacional havia tentado formar um partido único mundial). Ver Sagra,
Alicia. La internacional. Un permanente combate contra el sectarismo y el oportunismo. Buenos Aires,
Deeksha Ediciones, 2007.
[30]
Sagra, Alicia. Ob. Cit, p. 40.
[31]
Laclau, Ernesto; Mouffe, Chantal. Hegemonía y estrategia socialista. Hacia una radicalización de la
democracia. Bs. Aires, Fondo de Cultura Económica, 2011, p. 86.
[32]
Gramsci, Antonio. Antología. Volumen 1. Bs. Aires, Siglo XXI, 2014, p. 192.
[33]
Gramsci, Antonio. Antología. Volumen 1. Cit, p. 197.
[34]
Gramsci, Antonio. Antología. Volumen 1. Cit., p. 199.
[35]
Gramsci, Antonio. Para la reforma moral e intelectual. Madrid, Libros de la Catarata, 1998, p. 25.
[36]
Gramsci, Antonio. Notas sobre Maquiavelo, sobre la política y sobre el Estado moderno. Buenos Aires,
Ediciones Nueva Visión, 1972, p. 15.
[37]
“Se o Estado é um produto do caráter irreconciliável das contradições de classe, se é uma força que está
por cima da sociedade r que «se divorcia cada vez mais da sociedade», é evidente que a liberação da classe
oprimida é impossível, não apenas sem uma revolução violenta, como também sem a destruição do aparato
de poder estatal”. Lenin, V.I. El Estado y la revolución. Buenos Aires, Editorial Sol 90, 2012, p. 17.
[38]
Um grupo de estudiosos de Gramsci resume sua estratégia com estas palabras: “Construir uma
contrahegemonia política e civil que vá muito mais além da anterior direção política, intelectual e moral,
através de uma complexa luta de posições”. Oliver, Lucio. Goutman, Ana. Guevara, Aldo. López De la
Vega, Mariana. Morales, Emiliano. Nieto, Laura. Ortega, Jaime. Quintero, Roberto. Savoia, Francisco.
Gramsci: la otra política. Descifrando y debatiendo los cuadernos de la cárcel. México DF, Universidad
Nacional Autónoma de México, 2013, p. 79.
[39]
Em linguagem hegeliana, Gramsci assevera: “[…] as necessidades da ‘tese’ se desenvolver
inteiramente, até chegar a incorporar uma parte da antítese mesma, para não se deixar ‘superar’; ou seja,
que na oposição dialética apenas a tese, na realidade, desenvolve todas suas possibilidades de luta até
conquistar aos que se dizem representantes da antítese: precisamente nisto consiste a revolução passiva”.
Citado em Campione, Daniel. Leer Gramsci. Vida y pensamiento. Buenos Aires, Ediciones Continente,
2014, p. 113.
[40]
Ver por exemplo Meiksins Wood, Ellen. ¿Una política sin clases? El post-marxismo y su legado.
Buenos Aires, Ediciones RyR, 2013. Também ver Howart, David. “Teoría del discurso” IN: Marsh y
Stoker. Teoría y método de la Ciencia Política. Dado curioso: na popular enciclopedia virtual Wikipedia o
verbete do “pós-marxismo” menciona Laclau e Mouffe como pais desta nova corrente teórica e na
“bibliografía”, de seis títulos, quatro correspondem a Laclau, ou seu título menciona seu nome de forma
explícita.
[41]
Eis aqui alguns exemplos de manchetes por ocasião de sua morte: “Ernesto Laclau, o ideólogo da
Argentina dividida”, na Revista Noticias, Argentina, 13 de abril de 2014. “Morreu Ernesto Laclau,
proeminente intelectual do kirchnerismo”, no jornal La Nación, Argentina, 13 de abril de 2014. “Morre
Ernesto Laclau, sussurro intelectual de Cristina Kirchner”, jornal El Mundo, Espanha, 14 de abril de 2014.
“Morreu Ernesto Laclau, o pensador favorito da Presidenta”, diário Clarín, Argentina, 13 de Abril de 2014.
“Morre Ernesto Laclau, proeminente intelectual do kirchnerismo”, El País, Espanha, 14 de Abril de 2014.
“Morreu Ernesto Laclau, o filósofo preferido de Cristina”, jornal La Nueva Provincia, Argentina, 14 de
Abril de 2014.
[42]
Laclau e Mouffe advertem que “…ao passo que o capitalismo avançou o modelo salarial se generalizou,
as classes dos trabalhadores industriais não fizeram senão diminuir em número e significado”.
Hegemonía… Cit., p. 119. Além disso: “É portanto impossível falar hoje em dia de uma homogeneidade da
classe trabalhadora, e menos ainda referir-la a um mecanismo que esteja inscrito na lógica da acumulação
capitalista”. Hegemonía y estrategia socialista. Cit., p. 121.
[43]
“Nem o campo da economía é um espaço autorregulado e submetido a leis endógenas; nem há um
princípio constitutivo dos agentes sociais que possa ser fixado no último núcleo de classe; nem os
posicionamentos de classe são a sede necessária de interesses históricos”. Laclau, Ernesto. Mouffe, Chantal.
Hegemonía y estrategia socialista. Cit., p. 124.
[44]
“Não há posição privilegiada única a partir da qual se seguiria uma continuidade uniforme de efeitos
que acabariam por transformar a sociedade em seu conjunto”. Laclau, Ernesto. Mouffe, Chantal.
Hegemonía y estrategia socialista. Cit., p. 213.
[45]
Laclau, Ernesto. Mouffe, Chantal. Hegemonía y estrategia socialista. Cit., pp. 142-143.
[46]
“O momento-chave nos princípios da revolução democrática pode ser encontrado na Revolução
francesa, uma vez que, (…) foi no nível do imaginário social que surgiu então algo verdadeiramente novo
com a afirmação do poder absoluto do povo. (…) o estabelecimento de uma nova legitimidade, na invenção
da cultura democrática”. Laclau, Ernesto. Mouffe, Chantal. Hegemonía y estrategia socialista. Cit., p. 197.
[47]
Laclau, Ernesto. La razón populista. Buenos Aires, Fondo de Cultura Económica, 2005.
[48]
Laclau, Ernesto. Mouffe, Chantal. Hegemonía y estrategia socialista. Cit., p. 222.
[49]
Laclau, Ernesto. Mouffe, Chantal. Hegemonía y estrategia socialista. Cit., p. 239.
[50]
Deste modo eles mesmos deixam claro quando propõem o “projeto de uma democracia radicalizada
como alternativa à esquerda”. Laclau, Ernesto. Mouffe, Chantal. Hegemonía y estrategia socialista. Cit., p.
236.
[51]
Laclau, Ernesto. Mouffe, Chantal. Hegemonía y estrategia socialista. Cit., p. 203.
[52]
“Laclau apresenta uma teoria da ideologia que amplia a autonomia da ideologia ao dissociar-la o mais
que for possível das relações de classe. (…) já que confere grande importância à ideologIa, pode se dizer
que estes elementos ideológicos autônomos representam o terreno central da luta de classes”. Meiksins
Wood, Ellen. Ob. Cit., p. 120.
[53]
López, Velasco. Sirio. El socialismo del siglo XXI. En perspectiva ecomunitarista a la luz del
“socialismo real” del siglo XX. México DF, Ed. Torres Asociados, 2010, p. 40.
[54]
Boron, Atilio. Socialismo Siglo XXI. ¿Hay vida después del neoliberalismo? Buenos Aires, Ediciones
Luxemburg, 2008, p. 171-172.
[55]
Boron, Atilio. Ob. Cit., p. 176.
[56]
Boron, Atilio. Ob. Cit., p. 178.
[57]
Citado em López, Velasco. Sirio. Ob. Cit., p. 89.
[58]
Dieterich, Heinz. Hugo Chávez y el socialismo del Siglo XXI. Buenos Aires, Editorial Nuestra América,
2005, p. 144.
[59]
Dieterich, Heinz. Ob. Cit., p. 147.
[60]
Seu livro mais conhecido se intitula precisamente “Socialismo del Siglo XXI”. Buzgalin, Alexander.
Socialismo del Siglo XXI. Moscou, Editorial URSS, 2004.
[61]
Citado em López, Velasco. Sirio. Ob. Cit., p. 54.
[62]
López, Velasco. Sirio. Ob. Cit., p. 55.
[63]
Por suas atividades terroristas no “Exército Guerrilheiro Tupak Katari” (EGTK), grupo autor de
numerosos homicídios e outros delitos, García Linera esteve preso cinco anos, tendo sido solto por atraso
judicial.
[64]
Stefanoni, Pablo. Ramírez, Franklin. Svampa, Maristella. Las vías de la emancipación. Conversaciones
con Álvaro García Linera. México, Ocen Sur, 2009, pp. 11-13.
[65]
Stefanoni, Pablo. Ramírez, Franklin. Svampa, Maristella. Ob. Cit., p. 63.
[66]
Mill, John Stuart. La sujeción de la mujer. Biblioteca Virtual Universal, 2003, p. 33.
[67]
WSPU por sua sigla em inglês (Woman Social and Political Union).
[68]
Valcárcel, Amelia. Qué es y qué retos plantea el feminismo. Barcelona, Urbal, 2004, p. 19.
[69]
Von Mises, Ludwig. Socialismo. Análisis económico y sociológico. Madrid, Unión Editorial, 2007, pp.
107-108.
[70]
Engels, Friedrich. El origen de la familia, la propiedad privada y el Estado. La Plata, De la Campana,
2011, pp. 28-29.
[71]
Engels, Friedrich. Ob. Cit., p. 34.
[72]
Engels, Friedrich. Ob. Cit., pp. 43-44.
[73]
Engels, Friedrich. Ob. Cit., p. 44.
[74]
Engels, Friedrich. Ob. Cit., p. 51.
[75]
Engels, Friedrich. Ob. Cit., p. 51.
[76]
“O primeiro antagonismo de classes que apareceu na historia coincide com o desenvolvimento do
antagonismo entre o homem e a mulher na monogamia; e a primeira opressão de classes, com a do sexo
feminino pelo masculino”. Engels, Friedrich. Ob. Cit., pp. 58-59.
[77]
Engels, Friedrich. Ob. Cit., pp. 66.
[78]
Engels debocha das reformas jurídicas anotando que “nossos juriconsultos estimam que o progresso da
legislação vai retirando cada vez mais das mulheres todo motivo de queixa. (…) Esta argumentação
tipicamente jurídica é exatamente a mesma da qual se valem os republicanos radicais burgueses para
dissipar os receios dos proletários”. Engels, Friedrich. Ob. Cit., pp. 64-65.
[79]
Engels, Friedrich. Ob. Cit., p. 66.
[80]
Marx ja dizia em uma carta a Kugelmann: “Alguém que saiba algo de historia sabe que são impossíveis
as transformações sociais importantes sem a agitação entre as mulheres”.
[81]
“Exército Vermelho” é o nome oficial das Forças Armadas que organizaram os bolcheviques em 1918.

[82]
Kollontay, Aleksandra Mijaylovna. El comunismo y la familia. Marxists Internet Archive, 2002, p. 4.
[83]
Kollontay, Aleksandra Mijaylovna. Ob. Cit., p. 8.
[84]
Idem.
[85]
Idem.
[86]
Kollontay, Aleksandra Mijaylovna. Ob. Cit., p. 12.
[87]
Kollontay, Aleksandra Mijaylovna. Ob. Cit., p. 9.
[88]
Kollontay, Aleksandra Mijaylovna. Ob. Cit., p. 11.
[89]
Publicado na revista La Joven Guardia, N° 10, 1923.
[90]
Citado em Stern, Mijail. Stern, August. La vida sexual en la Unión Soviética. Espanha, Bruguera, 1980,
pp. 42-43.
[91]
Citado em Stern, Mijail. Stern, August. Ob. Cit., p. 54.
[92]
McNab, Chris. Datos clave. El Tercer Reich, 1933-1945. Las cifras y los hechos más destacados de la
Alemania de Hitler. Madrid, Libsa, 2010, p. 58. Citado em Irasuste, Andrés. “La opresión de la mujer en la
historia occidental: una mirada revisionista”. Publicado online em: http://debatime.com.ar/psic-andres-
irasuste-la-opresion-de-la-mujer-en-la-historia-occidental-una-mirada-revisionista/
[93]
Ver Van Cleveld, Martin. The privileged sex. Israel, DLVC Enterprises, 2013. Citado em Irasuste,
Andrés. “La opresión de la mujer en la historia occidental: una mirada revisionista”. Publicado online em:
http://debatime.com.ar/psic-andres-irasuste-la-opresion-de-la-mujer-en-la-historia-occidental-una-mirada-
revisionista/
[94]
As sérias investigações do Libro negro del comunismo falam de 100 milhões de mortos em função desta
ideologia. Ver Courtois, Stéphane; Werth, Nicolas; Panné, Jean-Louis; Paczkowski, Andrzej; Bartosek,
Karel; Margolin, Jean-Louis. El libro negro del comunismo. Barcelona, Ediciones B, 2010.
[95]
Lunacharski, A. La educación y la instrucción. Moscou, 1976. Citado em Stern, Mijail. Stern, August.
Ob. Cit., p. 51.
[96]
Citado em De Beauvoir, Simone. El segundo sexo. Bs. Aires, Debolsillo, 2015, p.123.
[97]
Ver Stern, Mijail. Stern, August. Ob. Cit.
[98]
Stern, Mijail. Stern, August. Ob. Cit., p. 45.
[99]
Idem.
[100]
Ver Stern, Mijail. Stern, August. Ob. Cit., p. 169.
[101]
Stern, Mijail. Stern, August. Ob. Cit., p. 170.
[102]
Citado em Stern, Mijail. Stern, August. Ob. Cit., p. 68. Em uma nota do editor ao finalizar a coluna, se
pode ler o seguinte: “Acreditávamos que a autora da carta tendia demasiado a generalização de sua triste
experiência. Contudo, a medida que chegava o correio, não houve outro modo a não ser admitir que sua
opinião era a típica de nossas leitoras”.
[103]
Investigaciones sociológicas. N° 4, 1970. Citado en Citado en Stern, Mijail. Stern, August. Ob. Cit., p.
79.
[104]
Stern, Mijail. Stern, August. Ob. Cit., p. 49.
[105]
Stern, Mijail. Stern, August. Ob. Cit., p. 246.
[106]
Stern, Mijail. Stern, August. Ob. Cit., p. 250.
[107]
Kollontay, Aleksandra Mijaylovna. El comunismo y la familia. Cit., p. 13.
[108]
Ver Stern, Mijail. Stern, August. Ob. Cit., p. 235.
[109]
Na URSS a prostituição gerou a seguinte piada: “Uma secretária chega uma manhã na sala do chefe e,
ao ver que removeram o sofá, lhe pergunta: - O que aconteceu? Já me despediram?”. Stern, Mijail. Stern,
August. Ob. Cit., p. 236.
[110]
Stern, Mijail. Stern, August. Ob. Cit., p. 235.
[111]
Stern, Mijail. Stern, August. Ob. Cit., pp. 239-240.
[112]
Os Presidentes foram: Andrei Andreyev (1938-1946); Andréi Zhdánov (1946- 1947); Iván Parfenov
(1947-1950); Mijail Yasnov (1950-1954); Alexander Volkov (1954-1956); Pavel Lobanov (1956-1962);
Ivan Spisidonov (1962-1970); Alexei Shitikov (1970-1984); Yuri Christoradnov (1984-1989); Yevgeni
Primakov (1989- 1990); Ivan Laptev (1990-1991); Konstantin Lubenchenko (1991-1991).
[113]
Os Presidentes foram: Nikolái Shvérnik (1938-1946); Vasili Kuznetsov (1946- 1950); Zhumabay
Shayakhmetov (1950-1954); Vilis Lācis (1954-1958); Janis Peive (1958-1966); Justas Paleckis (1966-
1970); Yadgar Sadikovna Nasriddinova (1970- 1974); Vitalijs Rubenis (1974-1984); August Voss (1984-
1989); Rafiq Nishonov (1989-1991).
[114]
Os Chefes de Estado da URSS foram: Mijaíl Kalinin, Nikolái Shvérnik, Kliment Voroshílov, Leonid
Brézhnev, Anastás Mikoyán, Nikolái Podgorni, Vasili Kuznetsov, Yuri Andrópov, Konstantín Chernenko,
Andréi Gromyko, Mikail Gorbachov.
[115]
Os Presidentes do Conselho foram: Vladímir Lenin (1917-1924); Alekséi Rýkov (1924-1930);
Viacheslav Mólotov (1930-1941); Iósif Stalin (1941-1953); Georgi Malenkov (1953-1955); Nikolái
Bulganin (1955-1958); Nikita Jrushchov (1958- 1964); Alekséi Kosygin (1964-1980); Nikolái Tíjonov
(1980-1985); Nikolái Ryzhkov (1985-1991). Em 1991 o cargo passa a se chamar Primeiro-Ministro, e
Valentin Pávlov e Iván Siláyev ocupam este cargo neste ano.
[116]
Pode ser visto online em YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=d18Hy5UouN8
[117]
En 1980, tres mujeres de Leningrado efectuaron diez copias de una revista femenina llamada Almanac.
La KGB cerró la revista y deportó a Alemania Occidental a estas activistas. (Pos 613)
[118]
Friedan, Betty. La Mística de la feminidad. Barcelona, Ed. Sagitario, 1965, p. 78.
[119]
Makow, Henry. Estafa cruel. Feminismo y el nuevo orden mundial. Inglaterra, E-book (Silas Green),
2012, Pos 574.
[120]
Tanto é assim que a autora cita em tom crítico Olga Michakova, secretária do Comitê Central da
Organização da Juventude Comunista, que em 1944 declarou: “As mulheres soviéticas devem tratar de se
fazer tão atrativas quanto permita a Natureza e o bom gosto. Depois da guerra, deverão se vestir como
mulheres e caminhar com porte feminino”.
[121]
De Beauvoir, Simone. Ob. Cit., p. 123.
[122]
De Beauvoir, Simone. Ob. Cit., p. 125
[123]
De Beauvoir, Simone. Ob. Cit., p. 133.
[124]
Este doutor em física avançou contra a patacoada pós-moderna por meio de uma brincadeira muito
original: escreveu um artigo pretensamente acadêmico intitulado “Transgressão das fronteiras: para uma
hermenêutica transformadora da gravidade quântica”, no qual, com linguagem rebuscada e repleto de
citações impactantes, sustentava inúmeros absurdos tais como que a gravidade quântica era uma construção
cultural. O escrito foi publicado na revista especializada Social Text em 1996, e foi muito discutido pelo
mundo acadêmico de então. De repente, Sokal revelou que tudo havia sido brincadeira cujo objetivo era
evidenciar o péssimo conhecimento das ciências naturais que têm aqueles que se dedicam às ciências
sociais e aderem às correntes pós-modernas. Ver Sokal, Alan. Bricmont, Jean. Imposturas intelectuales.
Barcelona, Paidos, 1999.
[125]
De Beauvoir, Simone. Ob. Cit., p. 66.
[126]
De Beauvoir, Simone. Ob. Cit., p. 66.
[127]
De Beauvoir, Simone. Ob. Cit., p. 65.
[128]
Simone de Beauvoir foi a redatora do “Manifesto das 343”, declaração publicada em 1971 que foi
assinada por mulheres que admitiam publicamente, e com orgulho, haver abortado. Assim comença o texto
de Beauvoir: “Um milhão de mulheres abortam a cada ano na França. Elas o fazem em condiçõess
perigosas devido à clandestinidade a que são condenadas quando esta operação, praticada sob controle
médico, é uma das mais simples. Desaparece no silêncio para estas milhões de mulheres. Eu declaro que
sou uma delas. Declaro haver abortado. Do mesmo modo que reclamamos o livre aceso aos meios
contraceptivos, reclamamos o aborto livre”.
[129]
Citado em Pinker, Steven. The blank slate. Edição digital traduzida, p. 278.
[130]
De Beauvoir, Simone. Ob. Cit., p. 719.
[131]
Citado em Beltrán, Elena. Maquieira, Virginia. Álvarez, Silvina. Sánchez, Cristina. Feminismos.
Debates teóricos contemporáneos. Madri, Alianza Editorial, 2008, P. 106.
[132]
Firestone, Shulamith. The dialectic of sex. The case feminist revolution. New York, Bantam Book,
1971, p. 2.
[133]
Millet, Kate. Sexual politics. Illinois, University of Illinois Press, 2000.
[134]
Millet, Kate. Ob. Cit., p. 33.
[135]
Firestone, Shulamith. Ob. Cit., p. 5.
[136]
“Vamos precisar de uma revolução sexual muito maior do que uma socialista para erradicar
verdadeiramente todos os sistemas de classe”. Firestone, Shulamith. Ob. Cit., p. 12.
[137]
Firestone, Shulamith. Ob. Cit., p. 207.
[138]
Firestone, Shulamith. Ob. Cit., p. 209.
[139]
Firestone, Shulamith. Ob. Cit., p. 209.
[140]
Firestone, Shulamith. Ob. Cit., p. 212.
[141]
“O fracasso da Revolução Russa é diretamente atribuído ao fracasso de seus intentos de eliminar a
família e a repressão sexual”. Firestone, Shulamith. Ob. Cit., p. 212.
[142]
“A natureza da unidade familiar é tal que penetra no indíviduo mais profundamente do que qualquer
outra organização social que tenhamos” reconhece Firestone. Ob. Cit., p. 227.
[143]
Firestone, Shulamith. Ob. Cit., p. 218.
[144]
Firestone, Shulamith. Ob. Cit., p. 229.
[145]
Firestone, Shulamith. Ob. Cit., p. 233.
[146]
Firestone, Shulamith. Ob. Cit., p. 239.
[147]
Firestone, Shulamith. Ob. Cit., p. 240.
[148]
Citado em Serrano, Francisco. La dictadura de género. Una amenaza contra la Justicia y la Igualdad.
Espanha, Almuzara, 2012, p. 55.
[149]
“A análise marxista busca uma explicação histórica da existência das relações de poder em termos de
relações econômicas de classe, e o feminismo radical busca na realidade biológica do poder. O socialismo
feminista, por sua parte, analisa o poder em termos de suas origens de classe e sua raiz patriarcal. Em tal
análise, capitalismo e patriarcado não são nem autônomos nem idênticos: são, em sua presente forma,
mutualmente dependentes”. Eisenstein, Zillah. Capitalist patriarchy and the case for socialist feminism.
New York, Monthly Review Press, 1979, p. 22.
[150]
Eisenstein, Zillah. Ob. Cit., p. 26.
[151]
Um exemplo claro destas prioridades é trazido por outra teórica norte-americana, Nancy Hartsock, que
anota: “Quero sugerir que o movimento de mulheres pode prover a base para construir um novo e autêntico
socialismo norte-americano. Pode prover um modelo para construir uma estratégia revolucionária e
caminhos para desenvolver teorias revolucionárias que se articulem com a realidade do capitalismo
avançado”. Hartsock, Nancy. “Feminist theory and the development of revolutionary strategy”. Em
Eisenstein, Zillah. Ob. Cit., p. 57. Nesta passagem se vê claramente como a mulher e suas organizações
terminam sendo apenas uma ponte para se chegar ao verdadeiro objetivo: teorias e práticas socialistas
revolucionárias viáveis no marco de um estágio do capitalismo que ofereceu ao proletariado um bom nível
de vida.
[152]
“A mulher não é oprimida pelo fato biológico da reprodução, mas é oprimida pelo homem que define
esta ‘capacidade’ reprodutiva como uma função” diz Eisenstein. Eisenstein, Zillah. Ob. Cit., p. 44. Disto
poderíamos perguntar: se a reprodução não é uma função biológica, então o que é? A reprodução não tem
consequências e exigências naturais que geram efeitos culturais?
[153]
Eisenstein, Zillah. Ob. Cit., p. 44.
[154]
Eisenstein, Zillah. Ob. Cit., p. 44.
[155]
Esta tese pode ser lida em suas Cartas desde una zona de guerra, publicado em 1989. Este tipo de
teorias ridículas são tão insustentáveis, que podem ser elaboradas com o objetivo completamente opoesto:
vitimizar o homem. É o caso da teoria da misógina Esther Vilar: “Não depois dos doze anos —idade na
qual a maioria das mulheres decidiu já empreender a carreira de prostituta (ou seja, a carreira que consiste
em fazer que um homem trabalhe para ela em troca de colocar intermitentemente a sua disposição, como
contrapartida, a vagina) …”. Vilar, Esther. El varón domado. P. 10. Edição digitalizada disponível em
http:// es.wikimannia.org/images/Esther-Vilar_El-Varon-Domado.pdf
[156]
Ver Jeffreys, Sheila. La herejía lesbiana. Una perspectiva feminista de la revolución sexual lesbiana.
Madri, Cátedra, 1996, p. 98.
[157]
Wittig, Monique. “No se nace mujer”. Em El pensamiento heterosexual y otros ensayos. Madri,
Egales, 2010, p. 36.
[158]
Wittig, Monique. “No se nace mujer”. Em El pensamiento heterosexual y otros ensayos. Cit, p. 43.
[159]
Vilar, Esther. Ob. Cit., p. 25.
[160]
Vilar, Esther. Ob. Cit., p. 30.
[161]
Vilar, Esther. Ob. Cit., p. 30.
[162]
Vilar, Esther. Ob. Cit., p. 15.
[163]
Vilar, Esther. Ob. Cit., p. 21.
[164]
Vilar, Esther. Ob. Cit., p. 25.
[165]
Preciado, Beatriz. “Queer: historia de una palabra”. Disponível online em
http://es.scribd.com/doc/283973996/Queer-Historia-de-Una-Palabra-Paul-Beatriz-Preciado-en-Parole-de-
Queer#scribd
[166]
Idem.
[167]
Wittig, Monique. “La categoría de sexo”. En El pensamiento heterosexual y otros ensayos. Cit., p. 26.
[168]
A esta altura isto não deveria nos surpreender: o pensamento de Wittig é devedor em sua maior parte
também do marxismo, e as referências a Marx e ao pensamento marxista em seus trabalhos são incontáveis.
[169]
Wittig, Monique. “No se nace mujer”. El pensamiento heterosexual y otros ensayos. Cit., p. 31.
[170]
Wittig, Monique. “No se nace mujer”. El pensamiento heterosexual y otros ensayos. Cit., p. 36.
[171]
Wittig, Monique. “No se nace mujer”. El pensamiento heterosexual y otros ensayos. Cit., p. 43.
[172]
Wittig, Monique. “El pensamiento heterosexual”. El pensamiento heterosexual y otros ensayos. Cit., p.
54.
[173]
Wittig, Monique. The lesbian body. Boston, Beacon Press, 1986.
[174]
Arigor, quem cunhou na academia o conceito de “queer” foi, pela primeira vez, a feminista Teresa De
Lauretis em um artigo publicado em 1990 (“Queer Studies”). Porém o trabalho de Butler foi massivamente
reconhecido, e portanto é comum lhe outorgar o lugar de “fundador”.
[175]
Butler, Judith. El género en disputa. El feminismo y la subversión de la identidad. Barcelona, Paidós,
2007, p. 7.
[176]
Butler, Judith. Ob. Cit., p. 41.
[177]
Ela se desculpa pela complexidade de su prosa nos seguintes termos: “Considerar que a gramática
aceitada é o melhor veículo para expor pontos de vista radicais seria um erro, dadas as restrições que a
gramática mesma exige do pensamento; de fato, ao pensável”. Butler, Judith. Ob. Cit., p. 22. Popper diria
que sua complicação deliberada oculta uma simplicidade que, de outra maneira, resultaria fácil de derrubar.
[178]
Butler, Judith. Ob. Cit., p. 48.
[179]
Butler, Judith. Ob. Cit., p. 49.
[180]
Butler, Judith. Ob. Cit., p. 55.
[181]
A divisão do trabalho apareceu inclusive em uma cultura em que todos tinham a obrigação de
erradicar-la: o kibbutz israelense.
[182]
“Instituir uma heterosexualidade obrigatória e naturalizada reduz e aprisiona o gênero a uma relação
binária em que o termo masculino se distingue do femenino, e esta diferenciação se consegue mediante as
práticas do desejo heterosexual” diz Butler, seguindo Monique Wittig. Butler, Judith. Ob. Cit., p. 81.
[183]
Butler, Judith. Ob. Cit., p. 75.
[184]
Butler, Judith. Ob. Cit., p. 94.
[185]
Butler, Judith. Ob. Cit., p. 106.
[186]
Butler, Judith. Ob. Cit., p. 99.
[187]
Butler, Judith. Ob. Cit., p. 265.
[188]
Butler, Judith. Ob. Cit., p. 269.
[189]
Butler, Judith. Ob. Cit., p. 267.
[190]
Butler, Judith. Ob. Cit., p. 284.
[191]
Romero, Fernando. “Teoría de género, su práctica discursiva y sus consecuencias políticas y
sociales”. P. 7. Disponível online em: http://www.libertadyresponsabilidad. org/wp-
content/uploads/2013/12/genero.pdf
[192]
Romero se refere a estas condições naturais do mundo animal e, problematizando a relação
cultura/natureza, e invirtendo o sentido do argumento butlereano, se pergunta: “Desta maneira, e
considerando uma vez mais o homem como pertencente ao reino animal, e, portanto, sujeito ao princípio da
adaptação, não se inscreveriam acaso, as diversas construções culturais de gênero dual como respostas de
adaptação etológica formulada pelo animal humano? Se assim fosse, o gênero deixaria de ser algo alienado
do natural, e portanto, como derivação de um princípio inerente a todas as espécies, o gênero (homem,
mulher) seria tão natural como a abertura das penas de um pavão, ou o canto das gaviotas.” Romero,
Fernando. Ob. Cit., p. 16.
[193]
Romero, Fernando. Ob. Cit., p. 9.
[194]
A este argumento que aqui analisamos, Romero responde: “Esta neutralização do campo biológico não
se efectua tendo em conta as lógicas proprias da ciência em questão, mas desde uma presunção externa à
categoria que nega. Põe em dúvida a possibilidade do conhecimento, ao não dispor das ciências de uma
metalinguagem impoluta e absolutamente objetiva através da qual se pudesse apreender a realidade livre de
todo condicionamento cultural; supondo que isso verdadeiramente pudesse existir, ou como se nisso
consistisse o conhecimento. Quer dizer, se trata de uma negação sobre a base de um modelo de referência
implícito, absolutamente ideal e ficcional, mas que no entanto opera para neutralizar e reduzir aqueles
campos que dispersan os fatores mais além do monismo semiótico-lingüístico presente nesta obra. Ademais
de que esta concepção se move implicitamente entre dois extremos que só contemplam um predomínio
absoluto da linguagem ou um determinismo que o nega”. Romero, Fernando. Ob. Cit., p. 9.
[195]
Manada de Lobxs. Foucault para encapuchadas. Buenos Aires, Colección (im)pensados, 2014, p. 23.
[196]
Manada de Lobxs. Ob. Cit., p. 24.
[197]
Manada de Lobxs. Ob. Cit., p. 25.
[198]
Manada de Lobxs. Ob. Cit., p. 25.
[199]
Manada de Lobxs. Ob. Cit., p. 25.
[200]
Manada de Lobxs. Ob. Cit., p. 27.
[201]
Manada de Lobxs. Ob. Cit., p. 67.
[202]
Manada de Lobxs. Ob. Cit., p. 68.
[203]
Manada de Lobxs. Ob. Cit., p. 72.
[204]
Preciado, Beatriz. Manifiesto contra-sexual. Prácticas subversivas de identidad sexual. Madrid, Opera
Prima, 2002, p. 19.
[205]
Preciado, Beatriz. Manifiesto contra-sexual. Cit., pp. 20–22.
[206]
Preciado, Beatriz. Manifiesto contra-sexual. Cit., p. 26.
[207]
Preciado, Beatriz. Manifiesto contra-sexual. Cit., pp. 46–47.
[208]
Preciado, Beatriz. Manifiesto contra-sexual. Cit., p. 51.
[209]
Butler, Judith. Ob. Cit., p. 230.
[210]
Ver Latarej-Ruiz, Liard. Anatomía humana. Buenos Aires, Editorial Panamericana, 2007. Guyton,
Arthur. Tratado de fisiología. Madrid, Elsevier, 2006.
[211]
Irasuste, Andrés. La revolución sexual anglosajona y la psiquiatría hoy. El ascenso de Gamínedes.
Montevideo, Edición de autor (Licencia Creative Commons), 2015, p. 246.
[212]
Neste livro também, como se ainda fosse pouco, se reivindica a sexualização das crianças e se
relativiza o mal da pedofilia. Com efeito, aparece a mesma falácia que Firestone havia usado várias décadas
antes para justificar o sexo entre adultos e menores sempre que se cumpra o requisito do “consentimento”:
“O realmente traumático de um adulto foder um menino ou uma menina não reside no ato en si, mas no
modo impositivo com que o adulto se aproxima da sexualidade infantil (…).sobra dizer que temos
sexualidade desde idade muito tenra na qualidade de seres vivos e que esta não esteja submetida às normas
sociais ou condicionada pela experiência não é motivo legítimo para negar sau existência.” Torres agrega
logo: “Nunca me deitei com um menor (salvo quando eu também o era) e não sei desde minha experiência
como deve se sentir, talvez não aconteça nada de mal se a mente do adulto estiver o suficientemente sã ou
se a do menor for o suficientemente desperta para canalizar as sensações”. Torres, Diana. Pornoterrorismo.
Tafalla, Editorial Txalaparta, 2011, pp. 100-102.
[213]
Diana Torres conta que nas suas performances há gente que vomita porque “eu ponho vídeos de
autópsias, de abortos, de decapitações, de ejaculações”. A entrevista onde Torres explica os elementos de
sua performance pode ser ouvida em: http://www.ivoox.com/ludditas-sexuales-7-audios-
mp3_rf_243191_1.html
[214]
No YouTube os videos de pós-porno costumam ser eliminados rapidamente. No entanto, há um que
continuou porque não chega a ser exibido de maneira explícita nada e porque resulta mais moderado que o
comum, porém pode dar uma ideia ao leitor sobre como se desenvolve a performance (sua protagonista não
é outra senão Leonor Silvestri): https://www.youtube.com/watch?v=XxGWk5U6aCc. Fuera del marco de
YouTube, pueden verse los videos pornoterroristas de Diana Torres aquí:
http://pornoterrorismo.com/mira/video-de-performances/
[215]
Manada de Lobxs. Ob. Cit., p. 116.
[216]
Se trata de uma sigla criada para agrupar práticas sexuais vinculadas ao sadomasoquismo, cujo
significado é: Bondage e Disciplina; Dominação e Submissão; Sadismo e Masoquismo.
[217]
Manada de Lobxs. Ob. Cit., p. 117.
[218]
Gelderloose, Peter. Cómo la no violencia protege al Estado. Barcelona, Anomia, 2010, p. 83.
[219]
Anônimo. Espacios peligrosos. Resistencia violenta, autodefensa y lucha insurreccionalista en contra
del género. Distribuidora Coños como Llamas, 2013, p. 5.
[220]
Anônimo. Espacios peligrosos…, Cit., p. 3.
[221]
Anônimo. Espacios peligrosos…, Cit., p. 4.
[222]
Anônimo. Espacios peligrosos…, Cit., p. 3.
[223]
Anônimo. Espacios peligrosos…, Cit., p. 25.
[224]
Anônimo. Espacios peligrosos…, Cit., p. 29.
[225]
Anônimo. Espacios peligrosos…, Cit., p. 39.
[226]
Anônimo. Espacios peligrosos…, Cit., p. 40.
[227]
Anônimo. Espacios peligrosos…, Cit., p. 41.
[228]
Anônimo. Espacios peligrosos…, Cit., p. 42.
[229]
Anônimo. Espacios peligrosos…, Cit., p. 43.
[230]
Anônimo. Espacios peligrosos…, Cit., p. 43.
[231]
Anônimo. Espacios peligrosos…, Cit., p. 44.
[232]
Beltrán, Elena. Maquieira, Virginia. Álvarez, Silvina. Sánchez, Cristina. Ob. Cit., p. 93.
[233]
São gêmeos monozigóticos aqueles que se originam a partir de um único óvulo e um único
espermatozóide e portanto compartilham a mesma carga genética.
[234]
Colapinto, John. As Nature made him. The boy who was raised as a girl. New York, HarperCollins,
2001, pp. 29–30
[235]
Documentário “El Dr. Money y el niño sin pene”. Pode ser visto online em:
https://www.youtube.com/watch?v=ytincaGVe7s
[236]
Idem.
[237]
Idem.
[238]
Irasuste, Andrés. “Género: reseña de un concepto ficticio”. Consultado online em:
http://prensarepublicana.com/genero-resena-de-un-concepto-ficticio-por-andres-irasuste/. Mengele foi um
médico e antropólogo alemão, oficial das SS. Em Auschwitz, se dedicou a realizar experimentos genéticos
com os prisioneiros, dando especial atenção aos gêmeos.
[239]
Documentário “El Dr. Money y el niño sin pene”. Pode ser visto online em:
https://www.youtube.com/watch?v=ytincaGVe7s
[240]
“Os estudos de base biológica das diferenças de sexo foram dirigidos por mulheres. Como se diz tanto
que estas investigações são um complô para manter submetidas as mulheres, terei que dar nomes. Entre as
investigadoras sobre a biologia das diferenças de sexo estão as neurocientistas Raquel Gur, Melissa Hines,
Doreen Kimura, Jerre Levy, Martha McClintock, Sally Shaywitz e Sandra Witelson, e as psicólogas
Camilla Benbow, Linda Gottfredson, Diane Halpern, Judith Kleinfeld e Diane McGuinness. A
sociobiologia e a psicologia evolutiva, contra a qual muitas vezes se aplica o estereótipo de «disciplina
sexista», talvez sejam o campo acadêmico de maior duplicidade de gênero dentre os que me são familiares.
Entre suas principais figuras estão Laura Betzig, Elizabeth Cashdan, Leda Cosmides, Helena Cronin,
Mildred Dickeman, Helen Fisher, Patricia Gowaty, Kristen Hawkes, Sarah Blaffer Hrdy, Magdalena
Hurtado, Bobbie Low, Linda Mealey, Felicia Pratto, Marnie Rice, Catherine Salmon, Joan Silk, Meredith
Small, Barbara Smuts, Nancy Wilmsen Thornhill y Margo Wilson”. Pinker, Steven. Ob. Cit., pp. 546-547.
[241]
Irasuste, Andrés. Ob. Cit., p. 56.
[242]
Existem problemas de desenvolvimento hormonal que afetam condutas posteriores. Pinker brinda um
exemplo interessante: “As meninas com hiperplasia adrenal congênita produzem um excesso de
androstenediona, o hormônio andrógeno que tornou famoso o magnífico rebatedor de beisebol Mark
McGwire. Estas meninas, ainda que seu hormônios alcancem um nível normal pouco depois de nascer,
iniciam um desenvolvimento de características pouco femininas, com muitas brincadeiras agressivas, (…)
quando se tornam maiores, mais fantasías e desejos sexuais em que intervém outras meninas. As que não
recebem um tratamento com hormônios até as últimas fases da infância mostram alguns padrões sexuais
masculinos ao chegar à juventude, entre eles uma rápida excitação diante de imagens pornográficas, um
instinto sexual autônomo centrado na estimulação genital e o equivalente às poluções noturnas”. Pinker,
Steven. Ob. Cit., p. 558.
[243]
Wilson, Edward. On human nature. Massachussetts, Harvard University Press, 1978, pp. 6–7.
[244]
Pinker, Steven. Ob. Cit., p. 559.
[245]
Irasuste, Andrés. Ob. Cit., p. 265.
[246]
Le Vay, Simon. Gay, straight, and the reason why. The science of sexual orientation. New York,
Oxford University Press, 2011.
[247]
Irasuste, Andrés. Ob. Cit., p. 203.G
[248]
Ver Friedman, Milton. Capitalism and freedom. Chicago, The University of Chicago Press, 1982.
[249]
Lehmann documentou como os chamados “povos originários” usavam a mulher como mercadoria de
troca, usavam-nas como prostitutas ou, no melhor dos casos, as ofereciam como concubinas. Henri
Lehmann, Las culturas precolombinas, Buenos Aires, Eudeba, 1986. Cristian Iturralde agrega sobre estes
povos indígenas que “da morte não se salvavam muitas vezes nem as empregadas domésticas que
trabalhavam na casa dos nobres, no que comenta Diego Duran que quando morriam seus amos, as vezes
matavam as moedeiras para que fossem para o além amassar pão no outro mundo”. Iturralde, Cristian.
1492: Fin de la barbarie. Comienzo de la Civilización en América. Tomo II (a ser publicado pela Unión
Editorial), p. 41.
[250]
María J. Rodríguez Shadow em sua obra La mujer azteca conta por exemplo que “ao estarem as
mulhes submetidas à dominação masculina elas não ocupavam nenhum posto relevante nos cargos
religiosos, ao contrário, dada sua posición relegada um grande número de mulheres eram levadas para a
pedra sacrificial”. La Mujer Azteca, México, Universidad Autónoma del Estado de México, 2000, p. 41.
Citado em Iturralde, Cristian. Ob. Cit., p. 40. Algo interessante a respeito é constatar que as mulheres a
sacrificar não eram necessariamente oriundas dos setores sociais mais deprimidos. Entre as familias dos
nobres era costume escolher duas donzelas virgens para sacrificar em honra de Xochiquetzal. Na tal
ceremônia “matavam aquelas donzelas cortando-lhes o peito e arrancando-lhes o coração”. Henri Lehmann.
Ob. Cit., p. 86.
[251]
O antropólogo Marvin Harris documenta que três quartos dos aldeões e das tribos tinha linhagens
patriarcais, e somente um décimo seguiam uma linhagem materna. Por sua vez, a poligamia era 100 vezes
mais comum do que a poliandria. Marvin Harris, Caníbales y Reyes. Los orígenes de la cultura, Barcelona,
Salvat, 1986.
[252]
Direito segundo o qual os senhores feudais podiam manter relações sexuais com qualquer serva de seu
feudo.
[253]
“Na época de Itzcoatl, quarto imperador asteca, se estabeleceu o chamado pacto dos macehualtin, que
obrigava o povo a dar suas filhas, irmãs e sobrinhas ao nobres para que se servissem delas. O historiador
indígena Poman confirma o exposto, assinalando ademais que o imperador podia tomar como concubina
qualquier mulher, tanto das classes privilegiadas quanto do povo”. Iturralde, Cristian. Ob. Cit. P. 41. Em
outra tribo, os chibchas, era costume que o tributo aos caciques fosse pago em mulheres.
[254]
Iturralde, Cristian. Ob. Cit. Garcilaso de la Vega contou em La Florida sobre um frequente costume
praticado por vários povos pré-incas, no qual os parentes do noivo tinham direito a tomar sexulamnete a
mulher antes de ser entregue ao esposo. O cronista indígena Felipe Poma de Ayala, por sua parte, deixou
documentado os terríveis castigos que se aplicavam sobre as mulheres que violavam seus votos de
castidade, os quais incluem a pena de oferecer o corpo da mulher aos índios Anti para que estes a comam
viva. Henri Lehmann documenta que entre os chimúes, cultura andina, se atirava a mulher adúltera desde
um precipício. Os exemplos ajudam a enterrar o mito de que a poligamia era praticada por homens e
mulheres em igualdade, ao invés, como afirmamos, se tratava de um sistema relacional baseado na força do
homem.

[255]
Ver Otis-Cour, Leah. Historia de la pareja en la Edad Media. Placer y amor. Madrid, Siglo XXI,
2000. Citado em Irasuste, Andrés. “La opresión de la mujer en la historia occidental: una mirada
revisionista”. Publicado online en: http://debatime.com.ar/ efecpsic-andres-irasuste-la-opresion-de-la-
mujer-en-la-historia-occidental-una-mirada-revisionista/
[256]
Ver Von Mises, Ludwig. Ob. Cit., pp. 95-112.
[257]
Ver Friedman, Milton. Libertad de elegir. Madrid, Ediciones Orbis, 1983. Sobretudo o primeiro
capítulo..
[258]
Para uma análise interessante sobre papel de risco no capitalismo liberal e os espaços cada vez
crescentes que a mulher foi encontrando graças a este, ver Romero, Fernando. “Las mujeres y el riesgo”,
publicado em http://www.libertadyresponsabilidad.org/?p=1329
[259]
“À medida que as mulheres passam a integrar a população ativa e alcançam posições de poder criam-
se, por sua vez, oportunidades laborais para outras mulheres. As mulheres já são mais numerosas que os
homens no setor de serviços, em empregos em que se prefere pessoas do sexo feminino. Ao mesmo tempo
que a participação feminina em praticamente todos os setores do mercado de trabalho não cessa de
aumentar, a presença do homem entre a população ativa está declinando em quase todos os países”. Fisher,
Helen. El primer sexo. Las capacidades innatas de las mujeres y cómo están cambiando el mundo. Madrid,
Santillana, 2001, p. 314.
[260]
http://www.lanacion.com.ar/1814990-critica-al-feminismo-radical-despues-de-niunamenosensayo
[261]
Até pouco antes da Revolução Industrial, a expectativa de vida era de 30 anos. Em 2010 já estava em
70 anos, sendo muito maior nos países onde o capitalismo está maiormente consolidado, como Estados
Unidos (73 anos), Suiça (80,5 anos), Japão (82 anos), entre outros. O caso da China é impressionante: desde
a mudança para o capitalismo, a expectativa de vida não parou de crescer para ambos os sexos (mais para as
mulheres que para os homens). De 1990 a 2013 cresceu 8,5 anos, ficando em média nos 75,3 anos.
Recordemos que em 1978, quando começa a reforma económica capitalista, a a expectativa de vida sob o
comunismo era de somente 66,5 anos.
[262]
O relatório pode ser lido em: http://www.elcato.org/pdf_files/efw2011/capitulo4-efw2011.pdf
[263]
Mouffe, Chantal. El retorno de lo político. Comunidad, ciudadanía, pluralismo, democracia radical.
Barcelona, Paidós, 1999, p. 125.
[264]
Esta informação pode ser lida online no site oficial da organização: http://www.panyrosas.org.ar/
[265]
http://larevuelta.com.ar/
[266]
Elas mesmas sobem as fotografias em sua página de Facebook:
https://www.facebook.com/larevuelta.colectivafeminista/
[267]
http://larevuelta.com.ar/2014/09/26/experiencias-de-resistencias-de-la-colectiva-feminista-la-revuelta/
[268]
As imagens podem ser vistas na página do Facebook citada acima.
[269]
http://socorristasenred.org/
[270]
Pode ser visto em http://sincloset09.wix.com/aborto-misoprostol
[271]
http://socorristasenred.org/index.php/2015/12/11/declaracion-de-la-4ta-reunion-plenaria-nacional-de-
socorristas-en-red-feministas-que-abortamos/
[272]
http://larevuelta.com.ar/2015/03/23/audios-del-simposio-narrativas-sobre-experiencias-corpo-
aborteras/
[273]
http://www.catolicas.com.ar/
[274]
Veja-se a atividade de sua página de Facebook como exemplo ilustrativo:
https://www.facebook.com/cddargentina
[275]
http://www.lafulana.org.ar/quienes-somos-main/
[276]
É possível ver sua página de Facebook em https://www.facebook.com/151324701611005/
[277]
Ver o jornal AciPrensa, “Warren Buffett dona más de mil 200 millones de dólares a industria del
aborto”, disponível online em https://www.aciprensa.com/noticias/warren-buffett-dona-mas-de-mil-200-
millones-de-dolares-a-industria-del-aborto-80543/
[278]
http://www.centerformedicalprogress.org/
[279]
Os vídeos de câmera escondia podem ser vistos no site do Center for Medical Progress:
https://www.youtube.com/channel/UC74zBGLz2jVx8a3Rj2tDmXA/videos
[280]
Ver o relatório do IPPF en http://www.ippf.org/sites/default/files/financialreport_2014-2015.pdf
[281]
Diário digital Infobae, “Mar del Plata: incidentes en la marcha central del XXX Encuentro Nacional
de Mujeres”, 12/10/15. Consultado online em: http://www.infobae.com/2015/10/12/1761663-mar-del-plata-
incidentes-la-marcha-central-del-xxx-encuentro-nacional-mujeres
[282]
Imagens disponíveis em http://www.cronicadelnoa.com.ar/congreso-de-mujeres-el-dia-despues/
[283]
Ver jornal El Tribuno de Salta, “Mirá los incidentes que se produjeron en la Catedral”, 12/10/14.
Consultado online em: http://www.eltribuno.info/mira-los-incidentes-que-se-produjeron-la-catedral-
n454059
[284]
Ver imagens no diário digital Notifam, “Feministas radicales queman a la Virgen Maria en
Argentina”, disponível online em https://notifam.com/2014/feministas-radicales-queman-la-virgen-maria-
en-argentina/
[285]
Ver diário digital La Rioja, “Bochornoso: Mujeres agreden a fieles católicos en marcha a favor del
aborto”, consultado online em http://www.riojalibre.com.ar/nacionales-internacionales/7227-san-juan-
marcha-a-favor-del-aborto-agresion/
[286]
Pode ser visto no jornal cordobês “Telenoche” em https://www.youtube.com/watch?
v=RMaEboSX_mA
[287]
Jornal La Gaceta, “Mujeres les tiraron materia fecal a policías y fueron reprimidas “, 12/10/15,
Tucumán, consultado online em http://www.lagaceta.com.ar/nota/657086/sociedad/mujeres-les-tiraron-
materia-fecal-policias-fueron-reprimidas.html
[288]
Pode ser visto um video a respeito em https://www.youtube.com/watch?v=asrhKInQCiI
[289]
Ver http://www.panyrosas.org.ar/Conquistamos-que-las-autoridades-subsidien-los-viajes-al-
Encuentro-Nacional-de-Mujeres
[290]
Eva Perón já havia notado em seus tempos o mesmo: “Confesso que o dia em que me vi diante do
caminho feminista, tive um pouco de medo. (…) Cair no ridículo? Integrar ol grupo de mulheres ressentidas
com a mulher e com o homem, como aconteceu com inumeráveis líderes feministas? Não era solteira
envelhecida, nem era tão feia, por outro lado, para ocupar um posto desses… que, geralmente, em todo o
mundo, desde as feministas inglesas até aqui, pertence quase que exclusivamente às mulheres deste tipo…
mulheres cuja primeira vocação deve ter sido, sem dúvida, serem homens”. Citado em Celli, Anselmo
Francisco. Feminismo radical y genocidio mundial. Buenos Aires, Edición de autor, 2015, p. 100.
[291]
http://www.datosmacro.com
[292]
United Nations High Commissioner for Refugees (mayo, 2003). Sexual and Gender-Based Violence
against Refugees, Returnees and Internally Displaced Persons: Guidelines for Prevention and Response.
[293]
Toldos Romero, María de la Paz. Hombres víctimas y mujeres agresoras. La cara oculta de la
violencia entre sexos. Alicante, Editorial Cántico, 2013, E-book, Pos 551.
[294]
Straus, M.A. (1993): “Physical assaults by wives: A major social problema”. Citado en Toldos
Romero, María de la Paz. Ob. Cit., pos 599.
[295]
Citado em Toldos Romero, María de la Paz. Ob. Cit., pos 607.
[296]
Citado em Toldos Romero, María de la Paz. Ob. Cit., pos 1935.
[297]
Celli, Anselmo Francisco. Ob. Cit., p. 57.
[298]
Celli, Anselmo Francisco. Ob. Cit., p. 57.
[299]
Eagly, A.H. y Steffen, V.J. (1986): “Gender and aggressive behavior: A meta-analytic review of the
social psychological literature”, Psichological Bulletin, 100, 3, pp. 309-330. Citado em Toldos Romero,
María de la Paz. Ob. Cit., pos 706.
[300]
Citado em Toldos Romero, María de la Paz. Ob. Cit., pos 714.
[301]
Citado em Toldos Romero, María de la Paz. Ob. Cit., pos 778.
[302]
Citado em Toldos Romero, María de la Paz. Ob. Cit., pos 778.
[303]
Toldos Romero, María de la Paz. Ob. Cit., pos 1293.
[304]
Citado em Toldos Romero, María de la Paz. Ob. Cit., pos 1904.
[305]
Mirriess-Black, C. (1999): “Domestic Violence: Findings from a new British Crime Survey self-
completion question-naire”. A Research, Development and Statistics Directorate Report. Home Office
Research Study 191. Citado em Toldos Romero, María de la Paz. Ob. Cit., pos 1952.
[306]
Citado em Toldos Romero, María de la Paz. Ob. Cit., pos 2041.
[307]
Citado em Toldos Romero, María de la Paz. Ob. Cit., pos 1919.
[308]
Citado em Toldos Romero, María de la Paz. Ob. Cit., pos 1969.
[309]
Fordi, A., Macaulay, J. y Thome, P. R. (1997): “Are women always less aggressive than men? A
review of the experimental literature”, Psychological Bulletin, 84, pp. 634-660.
[310]
Ver Toldos Romero, María de la Paz. Ob. Cit., pos 1285.
[311]
Manual Masculinidades. Y con los varones… ¿Qué?. P. 14. Disponível online em
http://www.cnm.gov.ar/Varios/ManualMasculinidades.pdf
[312]
Ver Toldos Romero, María de la Paz. Ob. Cit., pos 591.
[313]
Esta escritora lésbica e ativista feminista anotou em The Advocate (1980) que “Os boylovers e as
lésbicas que têm amantes jovens são as únicas pessoas que estendem uma mão aos jovens para lhes ajudar a
atravessar o dificultoso terreno entre a sociedade heterossexual e a comunidade gay. Não são abusadores de
menores. Os abusadores de menores são os sacerdotes, professores, psiquiatras, policiais e pais que impõem
sua rançosa moral aos jovens sob seu cuidado. Em lugar de condenar os pedófilos por terem relações com
jovens gays e lésbicas, deveríamos lhes apoiar”.
[314]
Prega pela despenalização da pornografia infantil argumentando que os gregos na Antiguidade o fazim
(Também acreditará que porque os griegos tinham escravos seria auspicioso despenalizar isso em nosso
mundo também?).
[315]
Ad van den Berg busca legitimar a pedofilia com todos os recursos discursivos da ideologia de gênero,
e termina concluindo: “há gente maior de 16 anos que não está preparada para ter relações sexuais, no
entanto, é certo que há pessoas de 10 anos desejosas de experimentar”. Diário digital Forum Libertas,
“Legalizar el sexo con niños y animales, objetivo de un nuevo partido político en Holanda”, 31/5/06,
disponível online em http://www.forumlibertas.com/legalizar-el-sexo-con-ninos-y-animales-objetivo-de-un-
nuevo-partido-politico-en-holanda/
[316]
Diário Publicable, “La trama secreta de la pedofilia”, 20/11/13, consultado online em
http://www.diariopublicable.com/sociedad/2035-activismo-pedofilo.html
[317]
Ver o jornal Perfil (Argentina), “Jorge Corsi con Fontevecchia: ‘La pedofilia no es delito’”, 17/3/12,
video disponível online em http://www.perfil.com/contenidos/2011/03/17/noticia_0016.html
[318]
O partido se define em sua página do Facebook conforme estes objetivos: “queremos uma melhor
Suécia, construída sobre uma base socialista, feminista e ecológica”.
[319]
Ver diário online Periodista Digital, “Na Suécia querem agora que os homens urinem sentados e não
de pé”, 8/7/12, disponível online em http://www.periodistadigital.com/mundo/europa/2012/07/08/suecia-
donde-quieren-que-los-hombres-orinen-sentados.shtml
[320]
Ver diario Correo (Perú), “Suecia: Polémica por pedido de legalizar la necrofilia y el incesto”, 25/2/16,
disponível online em http://diariocorreo.pe/mundo/suecia-polemica-por-pedido-de-legalizar-la-necrofilia-y-
el-incesto-656269/
[321]
Irasuste, Andrés. La revolución sexual anglosajona… Cit., p. 74.
[322]
Diário digital La Red 21 (Uruguay), “El primer ministro canadiense habla de la importancia de criar
hijos feministas”, 7/2/16, disponível online em http://www.lr21.com.uy/mujeres/1275219-justin-trudeau-
criar-hijos-feministas-importancia-canada
[323]
Jornal La Nación (Argentina), “Feministas contra los videojuegos: ¿es Súper Mario machista?”,
1/1/16, disponível online em http://www.lanacion.com.ar/1856542-feministas-contra-los-videojuegos-es-
super-mario-machista
[324]
Ver portal El Acontecer (Chile), “La ONU va a censurar el Internet para proteger los sentimientos de
las feministas”, 31/7/12, disponível em http://elacontecer.cl/index.php/world/item/127-la-onu-va-a-
censurar-el-internet-para-proteger-los-sentimientos-de-las-feministas/127-la-onu-va-a-censurar-el-internet-
para-proteger-los-sentimientos-de-las-feministas
[325]
Ver jornal ABC (Espanha), “La portada de la nueva Spider-Woman, acusada de ser sexista”, 22/08/14,
disponível online em http://www.abc.es/cultura/libros/20140822/abci-comic-spiderwoman-sexista-
201408211658.html
[326]
Jornal La Gaceta (Espanha), “La heterosexualidad provoca daños en la mujer”, 15/6/15, disponível
online em http://gaceta.es/noticias/heterosexualidad-herramienta-politica-15062015-1352
[327]
Ver diário digital Alerta digital (Madrid), “Piropear a una mujer podría tener pena de cárcel y una
sanción económica de 3.000 euros”, 31/05/2011, disponível online em
http://www.alertadigital.com/2011/05/31/piropear-a-una-mujer-podria-tener-pena-de-carcel-y-una-sancion-
economica-de-3-000-euros/
[328]
Ver diário digital Religión en Libertad, “Los inspectores vigilarán en Andalucía que maestros y
alumnos usen el absurdo idioma no-sexista”, 6/4/16, disponível online em
http://www.religionenlibertad.com/los-inspectores-vigilaran-en-andalucia-que-maestros-y-alumnos-usen-el-
48847.htm
[329]
Ver diário ABC (Espanha), “El País Vasco quiere limitar que los niños jueguen al fútbol en el recreo”,
28/01/2014, disponível online em http://www.abc.es/sociedad/20140128/abci-futbol-pais-vasco-ninos-
201401272111.html
[330]
Ver diário digital Libertad Digital (Espanha), “Un pueblo francés prohíbe la palabra 'mademoiselle'
por presiones feministas”, 12/01/12, disponível online em http://www.libertaddigital.com/sociedad/2012-
01-12/prohiben-la-palabra-mademoiselle-en-un-pequeno-pueblo-de-francia-1276446673/
[331]
Organização RadFem Collective, “An interview with Julie Bindel”, 7/9/15, disponível online em
http://www.radfemcollective.org/news/2015/9/7/an-interview-with-julie-bindel
[332]
Diário digital Actualidad Panamericana (Colômbia), “Feministas reúnen firmas para prohibir
mariachis”, 15/12/14, disponível online em http://www.actualidadpanamericana.com/feministas-reunen-
firmas-para-prohibir-mariachis/
[333]
Ver jornal The Guardian (Inglaterra), “Canadian man found not guilty in Twitter harassment case”,
22/01/16, disponível online em http://www.theguardian.com/technology/2016/jan/22/canada-man-twitter-
harassment-not-guilty-gregory-alan-elliot
[334]
Na carta, Engels se refere à falta de valentIa do teórico homossexual Karl Heinrich Ullrichs.
[335]
Werke, German. Engels to Marx. Edição vol.32, p. 324/325 (1869, 22 de Junio). Em: Palacios, R. La
conspiración del movimiento gay. Apoteosis de la Guerra de Sexos. Madri, Mandala Ediciones, 2011, p.
71.
[336]
Engels, F. The Origin of the Family, Private Property and the State. New York, International, 1972,
pp. 61–62.
[337]
Marx, K. Early Writings. New York, McGraw-Hill, 1964, p. 154. Em: Economic and Philosophical
Manuscripts. Terceiro manuscrito, seção sobre propriedade privada e comunismo. P. 154.
[338]
Reminiscences of Lenin (1934): Zetkin, C. Lenin on the Woman Question. New York, International, p.
7.
[339]
Lenin morre em janeiro de 1924 e desde então Stalin não deixou de avançar até controlar o poder de
maneira absoluta até sua morte em 1953.
[340]
A Grande Enciclopédia Soviética é uma das mais extensas já publicadas nesse idioma eslavo. A obra
tinha um natural viés a favor do marxismo-leninismo, a ideologia oficial do sistema soviético.
[341]
Lozano, Álvaro. Stalin, el tirano rojo. Espanha, Nowtilus, 2012, pp. 460-461.
[342]
Stern, M y Stern, A. La vida sexual en la Unión Soviética. Espanha, Brugera, 1980, p. 259.
[343]
A anedota é relatada em Bazán O. Historia de la Homosexualidad en la Argentina. De la conquista de
América al Siglo XXI. Buenos Aires, Marea Editorial, 2010, p. 336.
[344]
Citado em Gorbato, V. Montoneros de Menem. Soldados de Duhalde. Buenos Aires, Sudamericana,
1999, p. 300.
[345]
As Unidades Militares de Ajuda a Produção (UMAP) foram campos de trabalho forçado que existiram
em Cuba entre 1965 e 1968. Ali estuveram por volta de 25.000 homens, basicamente jovens que por
diversos motivos (homossexualismo, atividades religiosas ou condutas “contra-revolucionárias”) eram
confinados e só tinham livres os dias de domingo.
[346]
Entrevista concedida por Fidel Castro ao jornalista Lee Lockwood e publicada em Castro’s Cuba,
Cuba’s Castro. Citado em Zayas, M. Mapa de la homofobia. Cronología de la represión y censura a
homosexuales, travestis y transexuales en la Isla, desde 1962 hasta la fecha. (2006). Ver material completo
em: http://www.cubaencuentro.com/ cuba/articulos/mapa-de-la-homofobia-10736
[347]
Citado em Bazán, Osvaldo, Ob. Cit., p. 330.
[348]
Julian Schnabel (Diretor) e Javier Bardem (Protagonista): “Antes do anoitecer” [filme], obteve a
indicação ao Prêmio Oscar de melhor ator pela interpretação de Javier Bardem do poeta cubano Reinaldo
Arenas.
[349]
Arenas, R. Before Night Falls. Canadá, Penguin Books, 1994.
[350]
Harry Hay (7 de abril de 1912, Worthing, Inglaterra – 24 de outubro de 2002) foi um ativista e líder do
movimento homossexual nos Estados Unidos, conhecido por fundar a Mattachine Society em 1950 e as
Radical Faeries (“fadas radicais”) em 1979. .
[351]
Timmons, S. The Trouble With Harry Hay. Boston, Alyson Publications, 1990, p. 154.
[352]
A North American Man/Boy Love Association (NAMBLA) (Associação norte-americana pelo amor
entre homens e meninos) é uma organização estadounidense de pedófilos radicada em Nova York e San
Francisco.
[353]
Discurso de Harry Hay ditado em 7 de outubro de 1984, na conferência de NAMBLA, San Francisco,
disponível em www.nambla.org/sanfrancisco1984.htm.
[354]
Hay, H; Roscoe, W (ed.). Radically Gay: Gay Liberation in the Words of Its Founder. Boston, Beacon
Press, 1996, p. 64.
[355]
Seu colaborador Paul Gebhard, no documentário inglês “História secreta, os pedófilos de Kinsey”,
revelou que “o doutor Kinsey gostava de praticar sexo com homens, meninos e animais”. Em seus estudos
sobre a sexualidade humana, Kinsey contou com a ajuda do nazista condeando por pederastia Von
Bullaseck, que entregou a Kinsey os diários sobre suas relações com meninos, querendo demonstrar a
sexualidade inerente aos infantes. Um informe completo sobre este degenerado pode ser visto no seguinte
documentário “The Kinsey Cover Up” (FOX Pictures). Disponível na internet nos seguintes links: Parte 1):
https://www.youtube.com/watch?v=Jp4Gfl5vroE e Parte 2): https://www.youtube.com/watch?
v=JaotEKtrmr0
[356]
Roa, A. Ética y Bioética. Andrés Bello, Santiago, 1998, pp. 219-220.
[357]
Tal como acreditam investigações impecáveis como a efetuada pelo sociólogo Edward Laumann Otto
(nascido em 31 de agosto 1938), professor distinto no Departamento de Sociologia da Universidade de
Chicago. Laumann obteve seu doutorado em sociologia na Universidade de Harvard em 1964.
[358]
Os 32 estudos científicos e internacionais mencionados foram atualizados em dezembro de 2012
motivo pelo qual conservam plena vigência. Para ver os documentos completos pode-se consultar a
compilação que consta neste link e desde ali navegar nos links subsequentes:
http://www.cronicas.org/cm_armario.htm
[359]
Além de setores do Partido Democrata dos Estados Unidos, um dos principais financiadores destas
correntes é o “Center for Constitutional Rights”, institução apadrinhada pelo polêmico magnata de esquerda
George Soros. Também se sabe que a Playboy Foundation é assídua doadora destes empreendimentos junto
com outras multinacionais, Ongs (como a Fundação Rockefeller) ou particulares com muito dinheiro (tais
como o cineasta de reconhecida filiação esquerdista Steven Spielberg) que também desembolsam para a
causa. Do mesmo modo, em Wall Street funciona um lobby chamado Out on the street e seu líder é um tal
Todd Sears, um alto executivo que agrupa uma série de agentes bancários comprometidos com a agenda
cor-de-rosa. Sobre este último grupo sugerimos ver a seguinte nota: “¿Quién financia al lobby gay?
Cumbre de banqueros en Londres” (18/11/2012). Os detalhes podem ser lidos no seguinte link:
http://www.hazteoir.org/noticia/49701-quien-financia-lobby-gay
[360]
Palacios, R. Ob. Cit., p. 27.
[361]
Palacios, R. Ob. Cit., p. 28.
[362]
As Radical faeries (literalmente “fadas radicales”) são um grupo de organizações homossexuais. É um
movimento contracultural e antisistema que rechaça a “imitação dos heterosexuais” e tenta redefinir a
identidade sodomita. Sua filosofia está influenciada pela forma de vida dos nativos americanos e pelos
neopaganismo de muitos de seus membros.
[363]
Hay, H. Toward The New Frontier Of Fairy Vision: Subject Consciousness, en Roscoe Radically Gay,
p. 258:263. Citado em Tradición y Acción. ¡Defendamos la familia!. Por qué debemos oponernos al
“matrimonio” entre personas del mismo sexo y al movimiento homosexual. Lima, Ed. Tradición y Acción
por un Perú Mayor, 2011 p. 90.
[364]
Bronsky, M. “The real Harry Hay”. Consultado online en
http://www.bostonphoenix.com/boston/news_features/other_stories/documents/02511115.htm
[365]
A GLAAD (http://www.glaad.org/) foi fundada em 1985 em Nova York com a finalidade de
contrabalançar a cobertura supostamente inexata, difamatória e sensacionalista da epidemia de AIDS do
jornal New York Post. Desde então, a GLAAD expandiu seu trabalho para cimentar as relações com os
meios de comunicação, líderes da comunidade, jornalistas e ativistas procurando impor uma representação
favorável a respeito da homossexualidade.
[366]
Paul Varnell. “Defending Our Morality”, Reproduzido em:
http://igfculturewatch.com/2000/08/16/defending-our-morality/
[367]
Wilhelm, R. Materialismo dialéctico y psicoanálisis. México, Siglo XXI, 1979, p. 235.
[368]
Wilhelm, R. Materialismo dialéctico y psicoanálisis. Cit., p. 72:74-80:219.
[369]
Wilhelm, R. La función del orgasmo. El descubrimiento del orgón. Problemas económico-sexuales de
la energía biológica. Buenos Aires, Paidós, 1955, p. 17:2-161. .
[370]
Wilhelm, R. Materialismo dialéctico y psicoanálisis. Cit., p. 153-154.
[371]
Seus estudos se centraram no orgón, palavra que combina “organismo” e “orgasmo”. Para Reich, o
orgón é a energia vital de todo organismo, é a força motora do reflexo do orgasmo. Com o intuito de fazê-lo
visível, constrói em 1940 o primeiro “Acumulador de Energia Orgônica”, uma caixa com revestimento
interno de metal, pois a primeira absorveria a energia orgônica enquanto a segunda a atraiira e com isso
poderia inclusive curar doentes terminais de câncer: ficou rico mas não curou ninguém.
[372]
Díaz Araujo, E. La Rebelión de la Nada, o los ideólogos de la subversión cultural. Buenos Aires, Cruz
y Fierro Editores, 1983, p. 87.
[373]
É conhecida como Escola de Frankfurt um grupo de investigadores que aderiam às teorias de Hegel,
Marx e Freud e cujo cerne estava constituído no Instituto de Investigação Social, inaugurado em 1923 em
Frankfurt. No início, seus intelectuais mais representativos foram Max Horkheimer, Theodor W. Adorno,
Friedrich Pollock, Erich Fromm e o próprio Herbert Marcuse.
Héctor Álvarez Murena, (1923- 1975), foi um escritor, ensaísta, poeta e tradutor argentino. Escreveu vinte
livros de todos os gêneros literários e foi habitual colaborador da revista Sur y do jornal La Nación.
[374]
Marcuse, H. Eros y Civilización. Madrid, Sarpe, 1983, p. 56-57.
[375]
Marcuse, H. Ob. Cit., p. 60.
[376]
Héctor Álvarez Murena, (1923- 1975), foi um escritor, ensaísta, poeta e tradutor argentino. Escreveu
vinte livros de todos os gêneros literários e foi habitual colaborador da revista Sur y do jornal La Nación.
Realizou uma importante tarefa de difusão e tradução em espanhol de pensadores como Jürgen Habermas,
Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Max Horkheimer e Walter Benjamin
[377]
Sur (Nº256, Enero 1959) Murena, H. La erótica del espejo, p. 19. Citado em Bazán, Ob. Cit., p. 284.
[378]
Foi docente em várias universidades francesas e estadounidenses e catedrático de Historia dos sistemas
de pensamento no Collège de France (1970-1984).
[379]
Entrevista a Gilles Barbedette, publicada em Les Lettres Nouvelles, 28/6/1985.
[380]
Ainda que em 1953 tenha renunciado por dissidências internas.
[381]
Para diferenciar-se dos estruturalistas, justamente ele não falava de “estrutura” de poder mas de
“sistema”, um eufemismo lingüístico que no essencial não variava demasiado sua afinidade para com
aqueles.
[382]
Fundamentalmente Foucault manteve um obssessiva cólera para com a psiquiatria.
[383]
Alix Fillingham, L. Foucault Para Principiantes. Buenos Aires, Era Naciente, 2001.
[384]
Eribon, D. Michel Foucault. Cambridge, Harvard University Press, 1991.
[385]
Citado em Miller, James. La Pasión de Michel Foucault. Chile, Andrés Bello, 1996, p. 20.
[386]
Foucault, M. Vigilar y Castigar. Nacimiento de la Prisión. Bs.As., Siglo XXI, 2002, p. 177.
[387]
Citado em Sebreli, Juan José. El Olvido de la Razón. Bs.As, Sudamericana, 2006, p. 315.
[388]
Foucault, M. Obras esenciales. Volumen 2: Estrategias de Poder. Buenos Aires, Paidós, 1999, p.
139:140.
[389]
Sebreli, J.J. El Olvido de la Razón. Cit., p. 304.
[390]
Conferência de Michel Foucault no Rio de Janeiro (21 de maio de 1974). Citada em Jalón, Mauricio.
El Laboratorio de Foucault: descifrar y ordenar. Madrid, Antrophos, 1994, p.155-156.
[391]
Citado en Sebreli, J.J. Ob. Cit., p. 292 .
[392]
Foucault, M. The History of Sexuality: Volume 1 and Introduction. New York, Vintage, 1980, p. 43.
[393]
Citado em Miller, J. Ob. Cit., p. 348
[394]
Miller, J. Ob. Cit., p. 347.
[395]
“Una conversación con M. Foucault: Michel Foucault; El triunfo social del placer sexual”. [Entrevista
com Gilles Barbedette, 1981]. Em Foucault, M. La inquietud por la verdad. Escritos sobre la sexualidad y
el sujeto. Siglo XXI editores, 2013. Ver nota completa no siguiente link: http://perrerac.org/francia/michel-
foucault-el-triunfo-social-del-placer-sexual-una-conversacin-con-m-foucault/876/
[396]
Citado em Sebreli, J.J. El olvido de la razón. Cit., p. 315.
[397]
Correa de Oliveira, P. Trasbordo ideológico inadvertido y diálogo. Santiago de Chile, Corporación
Cultural Santa Fe, 1985, p. 26.
[398]
Foucault, M. Historia de la locura en la época clásica I. Colombia, Fondo de Cultura Económica,
1998, p. 67.
[399]
Foucault, M. Los anormales: Michel Foucault, Curso del College de France 1974-1975. España, Akal
Ediciones, 2009, p. 156.
[400]
Foucault, M. La inquietud por la verdad. Escritos sobre la sexualidad y el sujeto. Cit., p. 101.
[401]
Miller, James E. Ob. Cit., p. 342
[402]
Preciado, B. Terror anal. Em Hocquenghem, G: El deseo homosexual. Espanha, Melusina, 2000, p.
135.
[403]
Hocquenghem, G. Ob. Cit., p. 23.
[404]
Hocquenghem, G. Ob. Cit., p. 27.
[405]
Hocquenghem, G. Ob. Cit., p. 46.
[406]
Hocquenghem, G. Ob. Cit., p. 49.
[407]
Hocquenghem, G. Ob. Cit., p. 86.
[408]
Hocquenghem, G. Ob. Cit., p. 116.
[409]
Jacobo Schifter Sikora nasce em San José em 14 de setembro de 1952. Estudou historia. Publicou
grande quantidade de livros relativos à defesa e promoção da sodomia.
[410]
Schifter Sikora, J. Ojos que no ven…psiquiatría y homofobia. San José, Editorial ILPES, 1997, pp. 2–
4.
[411]
Vidarte, P. Etica Marica. Proclamas libertarias para una militancia LGTBQ. Espanha, Espa E-book,
2007, p. 18.
[412]
Vidarte, P. Ob. Cit., p. 116.
[413]
Vidarte, P. Ob. Cit., p. 82.
[414]
Em provável homenagem ao seu referente Michel Foucault, cujo primeiro nome era Paul: Paul Michel
Foucault.
[415]
Ver conferência completa de Beatriz Preciado eM Bogotá, Colômbia no HAY Festival, 2 de fevereiro
de 2014. No seguinte link: https://www.youtube.com/watch?v=4o13sesqsJo
[416]
Hocquenghem, G. Ob. Cit., pp. 170–172.
[417]
Hocquenghem, G. Ob. Cit., p. 169–170.
[418] Alerta Digital, “Pedofiilia, Intelligentsia francesa y progresía” [Nota Editorial de 3 de junho de
2012]. Ver informe completo no seguinte link: http://www.alertadigital.com/2012/06/03/pedofilia-
intelligentsia-francesa-y-progresia/
[419]
Bandera, A. Paulo Freyre. Un Pedagogo. Caracas, Universidad Católica Andrés Bello, 1981, p. 92.
[420]
Correa de Oliveira, P. Ob. Cit., p. 48.
[421]
Correa de Oliveira, P. Ob. Cit., p. 49.
[422]
Correa de Oliveira, P. Ob. Cit., p. 18.
[423]
Correa de Oliveira, P. Ob. Cit., p. 14:20.
[424]
Correa de Oliveira, P. Ob. Cit., p. 31.
[425]
Correa de Oliveira, P. Ob. Cit., p. 35.
[426]
Foucault, M. El triunfo social del placer sexual. Una conversación con M. Foucault. [Entrevista con
Gilles Barbedette, 1981]. Em Michel Foucault: La inquietud por la verdad. Escritos sobre la sexualidad y el
sujeto, Cit. Ver nota completa no seguinte link: http://perrerac.org/francia/michel-foucault-el-triunfo-social-
del-placer-sexual-una-conversacin-con-m-foucault/876/
[427]
Schifter Sikora, J. Ob. Cit., p. 4.
[428]
A Aliança de Ativistas Gays (“Gay Activists Alliance”) foi fundada em Nova York em 21 de
dezembro de 1969 por membros dissidentes do Gay Liberation Front (GLF; “Frente de libertação gay”, em
português), entre os que se encontravam além do citado Arthur Evans, Sylvia Rivera, Marsha P.
Johnson, Jim Coles, Brenda Howard, Christopher Charles e Altan Zimbabwe.
[429]
Evans, A. The Logic of Homophobia. [Nota jonalística]. Ver informe completo no seguinte link:
http://gaytoday.badpuppy.com/garchive/viewpoint/101600vi.htm.
[430]
Prólogo a Freyre, Paulo. Concientización. Buenos Aires, Búsqueda, 1974, p. 31. Citado em: Díaz
Araujo, E. Ob. Cit., p. 187.
[431]
Citado em Monedero (h), J.C. Lenguaje, ideología y poder. La palabra como arma de persuasión
ideológica: cultura y legislación. Buenos Aires, Ediciones Castilla, 2015, p. 81.
[432]
Definição fornecida pela Real Academia Española, que pode ser vista digitalmente no seguinte link:
http://dle.rae.es/?id=E0b0PXH
[433]
Roa, A. Ob. Cit., p. 217.
[434]
Rondeau, P.E. Selling Homosexuality to America. EUA., Regent University Law Review, 2002.
[435]
Os “quatro P” consistem em: Product (conceitualizar o produto que se deseja vender), Price (focando
no preço de venda), Promotion (mecanismos que serão utilizados para promover a idéia ao público) e
finalmente Place (lugar ou clientes que serão objeto da campanha).
[436]
O nome é um neologismo que provem do prefixo grego pan-, que significa "tudo". Pansexual se refere
às pessoas que se seenten atraídas por todos os gêneros e sexos de maneira indistinta.
[437]
Kirk, Marshall; Madsen, Hunter. After the Ball: How America Will Conquer Its Fear and Hatred of
Gays in the 90's. New York, Penguin Books, 1990, p. 153.
[438]
Citado em Díaz Araujo, E. Ob. Cit., p. 185.
[439]
Maurras, Ch. Mis ideas políticas. Buenos Aires, Huemul, 1962, p. 183.
[440]
Citado em: Celli, A.F. Feminismo radical y genocidio mundial. Buenos Aires, Edición de autor, 2015,
p. 191.
[441]
O MSD ou DSM é o manual diagnóstico e estatístico das enfermidades mentais (em inglês Diagnostic
and Statistical Manual of Mental Disorders, DSM) da Associação Estadounidense de Psiquiatria (em
inglês American Psychiatric Association ou APA), o qual contem uma classificação dos transtornos e
proporciona descrições das categorias diagnósticas, com a finalidade de que os clínicos e os investigadores
das ciências da saúde possam estudar e tratar os distintos transtornos mentais. A edição vigente é a quinta,
DSM-5 (publicada em 18 de maio de 2013). Essas publicações costumam ser habitual motivo de polêmica e
disputa no mundo científico por suas arbitrariedades e definições cambiantes.
[442]
Hocquenghem, G. Ob. Cit., p. 160.
[443]
A Associação Nacional para a Investigação e Terapia da Homossexualidade (NARTH), é uma
organização fundada em 1992 com sede na California, a qual oferece terapia de conversão da orientação
sexual das pessoas que padecem de atração pelo mesmo sexo.
[444]
Jokin de Irala. Comprendiendo la homosexualidad. Pamplona, Ediciones Universidad de Navarra, p.
29.
[445]
A página oficial desta organização é: http://www.b4uact.org/
[446]
Citado em Palacios, R. Ob. Cit., p. 200.
[447]
O link oficial desta suspeita rede pedofílica é o seguinte: http://www.virped.org/
[448]
Para quem querra ampliar, resenhamos que toda a larga trajetória que conduziu à eliminação da
homossexualidade do manual diagnóstico de psiquiatria se documenta em detalhe em um livro publicado
pelo professor Ronald Bayer intitulado “A homossexualidade e a psiquiatria americana. A política de
Diagnóstico”. Basic Books (Paperback), Princeton University Press, 1981/1987.
[449] A República Argentina aprovou “matrimônios” entre pessoas do mesmo sexo em 15 de julho de 2010,

convertendo-se no primeiro país da América Latina a sancionar tal coisa e no décimo a legalizar estas
uniões a nível mundial. Até julho de 2015, ou seja, quase 5 anos depois da lei ser aprobada, sabia-se que
9.423 casais haviam se formado. Ver Verónica Dema. “Após 5 anos da lei do casamento igualitário, quase
10.000 casais se casaram: O que mudou na familia argentina?” No jornal La Nación, 15 de julho, 2015. Ver
notícia completa no seguinte link:
http://www.lanacion.com.ar/1810125-a-5-anos-de-la-ley-de-matrimonio-igualitario-casi-10000-parejas-se-
casaron-que-cambio-en-la-familia-argentina
[450] Segundo a doutrina social da Igreja, é o principio em virtude do qual o Estado executa um esforço
orientado ao bem comum quando percebe que os particulares não o realizam adequadamente, seja por
impossibilidade ou qualquer outra razão. Ao mesmo tempo, este principio pede ao Estado que se abstenha
de intervir onde os grupos ou associações menores são suficientes nos seus respectivos ámbitos.
Un trabajo académico y enriquecedor al respecto fue publicado por el jurista Gerardo Palacio Hardy, se
titula “Las organizaciones sociales intermedias y el principio de subsidiariedad” y puede leerse de manera
completa vía digital en el siguiente enlace:
http://prensarepublicana.com/las-organizaciones-sociales-intermedias-principio-subsidiariedad-apuntes-
argentinos/
[451]
Vidarte, La Ética Gay, p. 146.
[452]
Jornal El Mundo: “Poligamia: ¿Provocación o primer paso? El primer trío ‘casado’ en Holanda”.
Espanha, 16/10/ 2005. Ver notícia completa no seguinte link:
http://www.elmundo.es/suplementos/cronica/2005/522/1129413605.html
[453]
Ver Daily Mail: “Sealed with a kiss: Man 'marries' his dog in sunset ceremony - but assures guests 'it's
not sexual'”. Consultado online em:
http://www.dailymail.co.uk/news/article-1334993/Joseph-Guiso-marries-dog-Honey-sunset-ceremony.html
[454]
Ver diario digital Infobae: “Anotaron al primer bebé con triple filiación en la Argentina”. 15/04/15.
Consultado online em: http://www.infobae.com/2015/04/23/1724315-anotaron-al-primer-bebe-triple-
filiacion-la-argentina
[455] López Marina, D. “Partido político juvenil busca legalizar incesto y necrofilia en Suecia”. Artigo em
Aciprensa, 24/2/16. Consultado online em:
https://www.aciprensa.com/noticias/partidos-politico-juvenil-busca-legalizar-incesto-y-necrofilia-en-suecia-
63878/
[456]
Marcuse, Eros y Civilizacion., p. 79.
[457]
Pardo, A. (Departamento de Bioética, Universidade de Navarra): “Propriamente dita, não existe
homosexualidade nos animais. Mas isto não implica que sua conduta seja excluisivamente heterosexual. De
fato, tem-se observado que a conduta sexual animal, ao menos dos mamíferos mais evoluídos, é muito
variegada: além disso, pelo complexo controle fisiológico da reprodução (especialmente hormonal),
intervém na conduta sexual animal fatores distintos aos meramente reprodutivos (…) Por motivos de
sobrevivência, o instinto reprodutor dos animais sempre se dirige aos individuos do sexo oposto. Portanto, o
animal nunca pode ser propriamente homossexual. No entanto, a interação com outros instintos
(especialmente o de domínio) pode produzir condutas que se manifestam como homossexuais. Tais
condutas não equivalem a uma homossexualidade animal”. Fragmento extraído de “Aspectos médicos de
la homosexualidad”, [artigo] Revista Nuestro Tiempo, Julho-Agosto de 1995, p. 82:89. Texto completo
disponível no siguinte link: http://www.unav.es/cdb/dhbaphomosexualidad.html
[458]
Xiridou, M. “The contribution of steady and casual partnerships to the incidence of HIV infection
among homosexual men in Amsterdam”. [Artículo] en: AIDS, vol. 17, Nº 7 (2 de mayo 2003), p. 1031.
Citado em Tradición y Acción por un Perú Mayor. Ob. Cit., p. 133.
[459]
Lee, R. “Gay Couples Likely to Try Non-monogamy, Study Shows”. [Artigo] Washington Blade
(August 22, 2003). Citado em Tradición y Acción por un Perú Mayor. Ob. Cit., p. 134.
[460]
Daniel Keenan Savage (Chicago, 7 de outubro de 1964) é um multimediático homossexual que atua
como escritor, comentarista, periodista e podcaster estadounidense e escreve escandalosas e escatológicas
colunas de “conselhos sexuais”, as quais são publicadas internacionalmente sob o nome Savage Love (em
português, "amor selvagem").
[461]
Savage, D. The Kid: What Happened After My Boyfriend and I Decided to Go Get Pregnant. EUA.,
Penguin Books, 1999. Citado em Tradición y Acción por un Perú Mayor. Ob. Cit., p. 223.
[462]
Mauricio Giambartolomei. “Padres adoptivos de niños haitianos viajaron a rescatar a sus hijos”.
[Artigo] publicado no jornal La Nación, 29 de janeiro de 2010. Pode ser consultado online em:
http://www.lanacion.com.ar/1226840-padres-adoptivos-de-ninos-haitianos-viajaron-a-rescatar-a-sus-hijos

[463] Hazte Oir (Ed e Coord): Fontana, M; Martínez, P; Romeu, P. “No es igual. Informe sobre el desarrollo
infantil en parejas del mismo sexo”. España, 2005. Ver informe completo no seguinte link:
http://www.noesigual.org/manifestacion/documentos/noesigual3.pdf
[464]
Hazte Oir (Ed e Coord): Fontana, M; Martínez, P; Romeu, P. Ob. Cit.
[465]
Bailey, J.M.; Bobrow, D.; Wolfe, M.;Mikach, S. Sexual orientation of adult sons of gay fathers.
Developmental Psychology. (1995). 124-129. Citado em Fontana, M; Martínez, P.; Romeu, P. Ob. Cit.
[466]
Citado em Fontana, M; Martínez, P.; Romeu, P. Ob. Cit., p. 11.
[467]
Cameron, P. e Cameron, K. Homosexual parents. Adolescence (1996) p. 757:776. Citado em Fontana,
M; Martínez, P.; Romeu, P. Ob. Cit., p. 11.
[468]
Pérez, C. “Niños adoptados por parejas gay sufren trastornos psicológicos: científico de EU”. [Artigo]
publicado no jornal La Crónica de Hoy, Méjico, 17/2/2010. Ver nota completa em:
http://www.cronica.com.mx/notas/2010/488443.html
[469]
ACI/EWTN Noticias. “¿Cómo son los hijos adoptados por homosexuales? Esto revelan los estudios”.
Washington D.C, 25 de março de 2015. Consultado online em: https://www.aciprensa.com/noticias/como-
son-los-hijos-adoptados-por-homosexuales-esto-revelan-los-estudios-85128/
[470]
Um dos testemunhos mais impressionantes nos brinda a canadense Dawn Stefanowicz, que publicou o
livro Fuera de la oscuridad. Mi vida con un padre gay (Out from Under: The Impact of Homosexual
Parenting), onde narra sua abominável experiência pessoal ao ser vítima de um progenitor homossexual.
[471]
A batalha naval é um jogo de tabuleiro que consiste em afundar barcos do inimigo mediante um
mecanismo de inteligência mas também de sorte. O nomre em inglês é battleship.
[472]
Infovaticana. “Las empresas que financian el negocio del aborto en Estados Unidos”. 27/07/2015.
Consultado online em: http://www.infovaticana.com/2015/07/27/las-empresas-que-financian-el-negocio-
del-aborto-en-eeuu/
[473]
Sucção (se aplica em 85% dos casos). Dilatação e curetagem. Dilatação e evacuação. Injeção salina.
"D e X”. Prostaglandinas. Histerectomia. Operação cesárea. Ver informe e resumo completo de cada uma
destas principais técnicas de filicídio em: http://www.embarazoinesperado.com/metodos.htm
[474]
Revista Catolicismo, São Paulo, N 525, setembro 1994. Citado em Tradición y Acción por un Perú
Mayor. Aborto: la Verdad sin Disfraces. Por qué debemos defender la vida del no nacido. Lima, Edição
Tradición y Acción, 2008, p. 76.
[475]
Ya. “Razones de un Biólogo” [Artigo]. Madri, 1979, pp. 4-11. Citado em Tradición y Acción por un
Perú Mayor. Aborto la Verdad sin Disfraces. Por qué debemos defender la vida del no nacido. Cit., p. 70.
[476]
“Acción Familiar”, [publicação] p. 67. Citado em Tradición y Acción por un Perú Mayor. Aborto la
Verdad sin Disfraces. Por qué debemos defender la vida del no nacido. Cit., p. 70.
[477]
Tal é o caso de “Nuestro Mundo”, a fugaz agrupação dirigida pelo comunista Héctor Anabitarte.
[478]
Citado em Bazán, Osvaldo. Ob. Cit., p. 342.
[479] Néstor Perlongher [documentário] emitido em Soy lo que Soy, programa de TV conduzido por Sandra

Mihánovich na TV a cabo TN. Ver filme completo no seguinte link: https://www.youtube.com/watch?


v=LinNaiusJ3w
[480]
Idem.
[481]
Idem.
[482]
Santo Daime é um culto sincrético brasileiro que reune certa tradição espiritistas com superstições
indígenas e africanas, ao que se soma o “ritual” de consumir uma droga chamada ayahuasca, a qual produz
uma perigosa alteração da consciência.
[483]
Bazán, O. Ob. Cit., p. 342.
[484]
Bellucci, M. “El orgullo continúa. Una marcha en el origen”. [Artigo] publicado em Página/ 12, 5 de
maio de 2010. Ver nota completa em: http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/soy/1-1702-2010-
11-06.html
[485]
http://www.huesped.org.ar/
[486]
Bellucci, M. “El camino de un luchador”. [Artigo] Publicado no jornal La Nación , 12 de Abril de
2010. Ver nota completa em: http://www.lanacion.com.ar/1330654-el-camino-de-un-luchador
[487]
De Irala, J. Ob. Cit., p. 29.
[488]
Os romances La brasa en la mano (1983), La otra mejilla (1986) e El ahijado (1990), constituem uma
verdadeira trilogia da visibilidade homoerótica, através da vida e dos costumes dos personagens, homens
homosexuais portenhos das décadas de cinquenta a oitenta doo século XX. A primeira biblioteca sodomítica
da Argentina (fundada por Pietro Salemme) leva o nome do escritor.
[489]
“A batallar. La Sociedad de Integración Gay Lésbica Argentina fue creada por Rafael Freda en 1992”.
[Artigo] publicado no jornal Página/12, 28 de junho de 2009. Ver notícia completa em:
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/soy/subnotas/831-44-2009-06-26.html
[490]
O CELS (Centro de Estudios legales y Sociales) é uma Ong de extrema esquerda com fachada
“humanista” presidida pelo ex agente de inteligência montonero e propagandista de aluguel do kirchnerismo
Horacio Verbitsky. Este obscuro personagem também foi numerosas vezes chamado de “agente duplo”,
posto que durante a guerra antisubversiva dos anos 70, apesar de revestir condição de Montonero,
trabalhava paradoxalmente para a Força Aérea.
[491]
Estes apoios são expressamente reconhecidos na página oficial da CHA:
http://www.cha.org.ar/nosotros/
[492] “Mónica Santino, ex jugadora y pionera en dirigir fútbol femenino en el país”. [Artigo] publicado no
jornal La Capital de Rosario. 28 de maio de 2014. Ver notíca completa em:
http://www.lacapital.com.ar/ovacion/Monica-Santino-ex-jugadora-y-pionera-en-dirigir-futbol-femenino-en-
el-pais-20140528-0002.html
[493]
Carlos Barzani promove suas ideias favoráveis à sodomIa e ao consumo de drogas escrevendo no
jornal Página/12 (aonde mais seria?) e em revistas afins, mas fundamentalmente através do seu site pessoal:
http://www.carlosbarzani.com.ar/
[494]
Apesar de que seu site não é atualizado desde 2006, ele segue no ar:
http://isisweb.com.ar/index.htm#Principio
[495]
Isis é a sigla em inglês com a que se denomina a organização que diz representar o Estado Islâmico,
formanda por um grupo terrorista juhadista wahabita, e assentada em um amplo território do Iraque e da
Síria.
[496] “
Se unieron dos hombres en el registro civil porteño”. [Artigo] publicado no jornal La Nación em 18
de julho de 2003. Ver notícia completa em: http://www.lanacion.com.ar/512379-se-unieron-dos-hombres-
en-el-registro-civil-porteno
[497]
Naquele momento o vínculo revestiu-se da forma de “União Civil” atuante só na cidade de Buenos
Aires.
[498]
Universidade de Buenos Aires
[499]
http://www.ososbue.com/
[500] Na internet existe um ilustrativo video com a historia do grupo, elaborado por aqueles que foram seus

integrantes e protagonistas, e que pode ser visto em três capítulos nestes links:
Las Lunas y Las Otras (Parte 1): https://www.youtube.com/watch?v=pqMjGwrL9j8
Las Lunas y Las Otras (Parte 2): https://www.youtube.com/watch?v=FUptLz3w26s
Las Lunas y Las Otras (Parte 3): https://www.youtube.com/watch?v=X1fg_4k3qhQ
[501]
http://www.catolicas.com.ar/portal/
[502]
http://www.lafulana.org.ar/
[503]
“Cómo se desató la violenta pelea entre Morgado y Rachid en el INADI”. [Artigo] publicado em
Diario Perfil, 09 de junho de 2011. Ver notícia completa no seguinte link:
http://www.perfil.com/politica/Como-se-desato-la-violenta-pelea-entre-Morgado-y-Rachid-en-el-INADI-
20110609-0028.html
[504]
Iturralde, Cristián Rodrigo. El libro negro del INADI o la policía del pensamiento. Buenos Aires,
Unión Editorial, 2015, pp. 286-291.
[505]
Os Cadernos de Existência Lésbica aparecem em 1987 e as iniciadoras foram Ilse Fusková e Adriana
Carrasco. Em 1992 se incorpora ao staff Claudina Marek. Foram publicados em um total de 17 números.
[506]
http://potenciatortillera.blogspot.com.ar/
[507]
Meccia, E. La cuestión gay. Un enfoque sociológico. Buenos Aires, Gran Aldea Editores, 2006, p. 159.
[508]
Feinmann, J. P. [Artigo] em Página/12, 15 de junho de 1998, citado em: Bazán, O. Ob. Cit., p. 437.
[509]
Sebreli, J. J. Comediantes y Mártires, Ensayo contra los Mitos. Buenos Aires, Editorial Debate, 2008,
p. 189.
[510]
http://natymenstrual.blogspot.com.ar/
[511] Em 28 de junho de 1969, um bar homossexual chamado Stonewall Inn, na cidade de Nova Iorque foi
incendiado pelo policia. Nessa oportunidad os frequentadores decidiram resistir contra a autoridade e
inclusive a luta se prolongou por três dias e se popularizou o slogan "Estou orgulhoso de ser gay". Um ano
depois, em 1970, em comemoração ao ocorrido uma importante concentração de homossexuais se reuniu na
rua Christopher diante das portas do Stonewall Inn e dali marcharam espontaneamente pela Quinta Avenida
até o Central Park. Essa foi considerada a primeira “Marcha do Orgulho Gay” da história. Na Argentina, no
dia 28 de junho de 1992, cerca de 200 homossexuais realizaram a primeira marcha de Buenos Aires. O
público se concentrou diante da Catedral da cidade e em sua maioria cobriu o rosto utilizando máscaras.
[512]
Meccia, E. Ob. Cit., p. 105-106.
[513]
Meccia, E. Ob. Cit., p. 111.
[514]
Meccia, E. Ob. Cit., p. 145.
[515]
Hocquenghem, G; Preciado, A. Ob. Cit., p. 123.
[516]
Prevenção da Anorexia e da Bulimia. Ver informe completo em:
https://www.prevencion.adeslas.es/es/trastornoalimenticio/masprevencion/Paginas/cifras-anorexia-
bulimia.aspx
[517]
“Los homosexuales tienen triple riesgo de padecer anorexia o bulimia; las lesbianas no”: A Escola de
Saúde Pública da Universidade de Columbia publicou um estudo no International Journal of Eating
Disorders (número de abril de 2007), no qual se afirma que 15% dos homens homossexuais ou bissexuais
desenvolvem desordens da alimentação, enquanto apenas 5% dos homens heterossexuais demonstram esta
desordem. Ver informe completo em: http://www.forumlibertas.com/los-homosexuales-tienen-triple-riesgo-
de-padecer-anorexia-o-bulimia-las-lesbianas-no/
[518]
Se denomina Taxi Boy a uma forma de prostituição de rapazes que prestam serviços sexuais a pessoas
do mesmo sexo.
[519]
Bourdieu, P. La dominación masculina. Barcelona, Anagrama, 1998, p. 86.
[520]
Borges, J.L. “Nuestras imposibilidades”. [Artigo] publicado na Revista Sur. Buenos Aires: año 1,
1931. Citado em Bazán, O. Ob. Cit., p. 174.
[521]
Schifter Sikora, J. Ob. Cit., p. 118.
[522]
A República Argentina aprovou os “matrimônios” entre pessoas do mesmo sexo desde 15 de julho de
2010. Desta forma, o país se converteu no primeiro da América Latina a sancionar tal coisa e foi o décimo
país a legalizar este tipo de uniões no mundo. Até 15 de julho de 2015, isto é, quase 5 anos depois da lei ser
sancionada, haviam se “casado” 9.423, segundo informou o jornal La Nación. “Após 5 anos da lei de
matrimônio igualitário, quase 10.000 casais se casaram: O que mudou na família argentina?” Verónica
Dema, 15 de julho, 2015. Ver nota completa no seguinte link: http://www.lanacion.com.ar/1810125-a-5-
anos-de-la-ley-de-matrimonio-igualitario-casi-10000-parejas-se-casaron-que-cambio-en-la-familia-
argentina
[523]
Peña, F: “Dejé de tomar el cóctel contra el SIDA, sé que puedo morir… ¿Y?" . [Entrevista]
publicada na Revista Gente. 15 de março de 2004. Ver notícia completa em:
http://www.gente.com.ar/actualidad/deje-de-tomar-el-coctel-contra-el-sida-se-que-puedo-morir-y/6807.html
[524] Gorodischer, J. “Pecados que se pagan así de caros”. Se falou de transplante de orgãos, de morte
cerebral, de uma ordem de Kirchner para desconectar Castro, de vida promíscua, se leram supostas cartas
íntimas. Sob o disfarce de informação, alguns meios deram aula sobre como ensinar moral a partir da
desgraça alheia. [Artigo] publicado no Diario Página/12 em 7 de março de 2004. Ver nota completa no
seguinte link: http://www.pagina12.com.ar/diario/espectaculos/6-32342-2004-03-07.html
[525]
O “Instituto Nacional contra la Discriminación, la Xenofobia y el Racismo” (INADI) é um organismo
vergonhoso criado durante o menemismo e aumentado durante a delinquência kirchnerista, este orgão
nunca teve maiores funções além de perseguir cidadãos por suas opiniões e dar “trabalho” a um sem-fim de
burocratas que ali vegetam sem produzir nada exceto perseguições e censuras a dissidentes.
[526]
Mediante lei bonaerense número 5109 se proibiu aos invertidos todo acesso e direito ao sufrágio.
[527]
Bazán, O. Ob. Cit., p.253:276.
[528]
Refere-se a Héctor José Cámpora (1909-1980), político argentino, homem de confiança de Perón,
presidente da República Argentina entre maio e julho de 1973. [Nota do Editor]
[529]
Bazán, O. Ob. Cit., p.360.
[530]
Citado em Gorbato, V. Ob. Cit., p.301
[531]
“Revelan que el matrimonio de Alex Freyre y José Di Bello fue por militancia”. [Artigo jornalístico]
publicado no Diario La Nación, 27 de fevereiro de 2015. Ver em: http://www.lanacion.com.ar/1771984-
revelan-que-el-matrimonio-de-alex-freyre-y-jose-di-bello-fue-por-militancia
[532]
“Alex Freyre cobra más de $20 mil por un contrato en el Senado.” [Artigo jornalístico] publicado em
Infobae, 16 de outubro de 2014. Ver em: http://www.infobae.com/2014/10/16/1602098-alex-freyre-cobra-
mas-20-mil-un-contrato-el-senado
[533]
“Alex Freyre vaticinó la muerte de Pachano si apoya a Massa”. El funcionario K y militante por los
derechos de la comunidad homosexual advirtió que si el tigrense gana no ingresarán más medicamentos.
[Artículo jornalístico] Publicado em Diario Perfil, 14 de outubro de 2014. Ver em:
http://www.perfil.com/politica/Audio—Alex-Freyre-vaticino-la-muerte-de-Pachano-si-apoya-a-Massa-
20141014-0010.html
[534]
“Bronca en Twitter por los dichos de Alex Freyre tras la muerte de Nisman”. [Artigo jornalístico]
publicado em Diario Clarín, 20 de Enero de 2015. Ver nota completa en el siguiente enlace:
http://www.clarin.com/politica/Bronca-Twitter-tuits-Alex-Freyre_0_1288671431.html
[535]
Iturralde, C.R. 1492. Fin de la barbarie, comienzo de la civilización en América. (Tomo 1). Buenos
Aires, Buen Combate, 2014, p. 141-143.
[536]
Revista Arqueología Mexicana. Informação tomada de seu site http://www.arqueomex.com. A
informação que retiramos desta revista corresponde ao bimestre julho-agosto de 2012, e puede ser
consultada no mesmo site). Citado em Iturralde, C. Ob. (Tomo II) Cit., p. 89.
[537]
Mencionado pelo cronista missioneiro Bernardino de Sahagún. Se recomenda consultar o trabalho que
o antropólogo brasileiro homossexual Luiz Mott fez sobre o assunto, intitulado ¨Etno-Historia da
homossexualidad na América Latina¨, 1994. Pode ser consultado por completo em:
http://www.bdigital.unal.edu.co/23403/1/20304-68470-1-PB.pdf
[538]
Fernández de Oviedo, G. Historia General y Natural de las Indias. Madri: Colección Cultural
(digitalizado pela Fundación Enrique Bolaños), parte III, libro XLII, p. 404. Citado en Iturralde, C., Ob.
(Tomo II) Cit., p. 102.
[539]
Comentarios Reales de los Incas I, p. 164. Citado em Iturralde, C. Ob. (Tomo II) Cit., p.124.
[540]
Iturralde, C. Ob. (Tomo I y II). Cit.
[541]
Bazán, O. Ob. Cit., 126.
[542]
Meccia, E. Ob. Cit., p.71, 81:86, 22.
[543]
Grondona, M. Bajo el Imperio de las ideas Morales. Las causas no económicas del desarrollo
económico. Buenos Aires, Sudamericana, 1993, p.157.
[544]
Grondona, M. Ob. Cit., p. 159.
[545]
Juan Antonio Vallejo-Nágera Botas (Oviedo, 14 de novembro de 1926 - Madrid, 13 de março de 1990)
foi um eminente psiquiatra e escritor espanhol de reconhecidíssima trajetória científica e universitária.
Havia iniciado seus estudos universitários na Facultade de Medicina de Madri com apenas 16 anos (1943).
[546]
Vallejo-Nágera, J.A La puerta de la esperanza. Barcelona, Planeta, 1991, p.255.
[547]
A neurose é um padecimento funcional caracterizado principalmente pela instabilidade emocional.
[548]
Schlatter, J; Irala, J; Escamilla, I. “Psicopatología asociada a la homosexualidad”. [Artigo de
divulgação científica] na Revista Medicina Universidad de Navarra, 2005, p.3:69-79.
[549]
Licenciado em Medicina e Cirurgia e Doutor em Medicina pela Universidade de Navarra.
Mestre em Saúde Pública pela Universidade de Dundee (Escócia) e doutor em Saúde Pública pela de
Massachusetts.
[550]
Dra. Elaine Moscoso (condução). “Respuestas. Verdades absolutas para un mundo relativo” [ciclo
televisivo] emissão para os Estados Unidos e para toda a América Latina. Programa especial Aconsejando
al Homosexual Miguel Núñez. Ver video completo em: https://www.youtube.com/watch?
v=ffoTW3dtMFg&nohtml5=False
[551]
A expressão “normal” é definida pela Real Academia Espanhola em três acepções: 1. adj. Dito de algo:
Que se acha em seu estado natural.
2. adj. Que serve de norma ou regra.
3. adj. Dito de algo: Que, por sua natureza, forma ou magnitude, se ajusta a certas normas fixadas de
antemão.
[552]
Quem queira indagar seriamente sobre o assunto nada melhor que consultar os tratados de Santo
Tomás, provavelmente o pensador que obrigatoriamente deveria ser lido por todo aquele que queira
mergulhar em assuntos filosóficos relacionados com o que se denomina Ordem Natural.
[553]
Universidad Católica Argentina
[554]
Mons. Fernando Chomali (Dir.) “Homosexualidad, algunas consideraciones para el debate actual
acerca de la homosexualidad”. (2010). [Documento] Grupo de Investigación Instituto para el Matrimonio y
la Familia. Bs. As: Pontificia Universidad Católica Argentina. P. 53:56.
[555]
Sacheri, C.A. El orden natural. Buenos Aires, Vórtice, 2008 p. 47.
[556]
Declaração de Roberto Castellano em conversa radiofônica com o autor no ciclo “Salir Vivo”,
transmitido por GDSRadio, Mar del Plata, 2015. O “Formulario 08” é conhecido na Argentina por ser o
documento por meio do qual se registra um veículo automotor.
[557]
“Woman Claims She’s a Cat Trapped in a Human’s Body. Don't judge what you don't understand!”
Ver em: http://www.nationalreview.com/article/430434/cat-trapped-woman-body-norway
[558]
Carta sobre a Independência, página 17. Texto completo pode ser visto no PDF em:
http://www.jacquesmaritain.com/pdf/09_FP/01_FP_CartaInd.pdf
[559]
“Cerca de 50 países impiden a los hombres homosexuales donar sangre”. [Artigo] publicado no El
País da Espanha, em 1 de dezembro de 2014. Ver notícia completa em:
http://elpais.com/elpais/2014/11/28/ciencia/1417191728_587426.html
[560]
“España, por encima de la media europea en diagnósticos de VIH”. [Artigo] publicado no El País da
Espanha, em 27 de novembro de 2014. Ver em:
http://elpais.com/elpais/2014/11/27/ciencia/1417049192_049421.html
[561]
“Aids cresce entre homens gays; Brasil é um dos países com mais casos novos.” [Artigo] Agência EFE
16 de julho de 2014. Ver em: http://info.abril.com.br/noticias/ciencia/2014/07/aids-cresce-entre-homens-
gays-brasil-e-um-dos-paises-com-mais-casos-novos.shtml
[562]
O Dr. Luiz Loures é médico e se incorporou a ONUSIDA em 1996. Foi nomeado diretor executivo da
área do Programa e subsecretário geral das Nações Unidas em janeiro de 2013. Conta com quase 30 anos de
experiência no âmbito do combate à aids.
[563]
UNAIDS. “The Gap Report”. (2014). [Informe da ONU] Ver informe completo das Nações Unidas
em:
http://www.unaids.org/sites/default/files/en/media/unaids/contentassets/documents/unaidspublication/2014/UNAIDS_Gap_re
[564]
Quando mencionamos que o Estado regula na indústria do tabaco as advertências sobre enfermidades
cancerígenas, não estamos avalizando necessariamente esta intervenção, mas apenas assinalando um fato.
[565]
Enquete Nacional dos “Centers for Disease Control and Prevention” (Centro para o Controle e
Prevenção de Enfermidades -CDC-).
[566]
Citado em “1 de cada 5 gays tiene SIDA… y en aumento descontrolado”. Por Juanjo Romero. Ver
informe completo em: http://infocatolica.com/blog/delapsis.php/1009280724-1-de-cada-5-gays-tiene-sida-y
[567]
Seu conhecido hit dançante San Francisco foi editado em 1977 pela citada banda, cujas festivas
canções são obrigatoriamente dançadas em carnavais e desfiles homossexuais de todo o mundo.
[568]
Conforme estatísticas sobre AIDS do Departamento de Saúde Pública de San Francisco, dirigido pelo
Dr. William McFarland. “San Francisco tem o maior percentual mundial de homosexuais. Um em cada
cinco homens maiores de 15 anos da cidade californiana é gay, segundo afirmou uma autoridade do
Departamento de Saúde Pública”. Cooperativa, Chile, 8 de abril 2006.
http://www.cooperativa.cl/noticias/sociedad/homosexualidad/san-francisco-tiene-el-porcentaje-mundial-
mas-grande-de-homosexuales/2006-04-08/164058.html
[569]
A estatística compreende todos os homens maiores de 13 anos.
[570]
O HIV entre os homens homossexuais (gay) e bissexuais. (CDC - EEUU). Ver informe completo no
seguinte link: http://www.cdc.gov/hiv/spanish/risk/gender/hsh_factsheet.html
[571]
Satinover, J. Homosexuality and the Politics of Truth. Michigan, Hamewith Books, 2003
[572]
Satinover, J. Ob. Cit., p. 57. Citado em http://www.sinsida.com/montador.php?tipo=homosexualidad
[573]
Citado em http://www.sinsida.com/montador.php?tipo=homosexualidad Final do formulário
[574]
Vázquez, M. “Nuevos estudios actualizan las estimaciones del riesgo de adquirir el VIH según la vía
de transmisión”. Também se mediu o efeito protetor de diversas estratégias preventivas sobre o risco por ato
e o acumulado a 10 anos. [Artigo de divulgação] – 12 de junho de 2014. Ver notícia completa no seguinte
link médico especializado: http://gtt-vih.org/actualizate/la_noticia_del_dia/12-06-14
[575]
Jeffrey Burke Satinover é um americano judeu, psiquiatra, psicoanalista, e físico nascido em 1947. É
conhecido por seus libros sobre física e neurociência, mas sobretudo por seus escritos e políticas públicas
relacionadas com a homosexualidade e o matrimônio homossexual.
[576]
Satinover. Ob. Cit., p. 54-55 (Dados tomados de The Social Organization of Sexuality: Sexual
Practices in the United States, e de uma série de estudos sobre comportamento homossexual e mudança do
comportamento, incluindo o estudo Multicenter AIDS Cohort Study, baseado em quase 5.000 homens
homosexuais). Citado em http://www.sinsida.com/montador.php?tipo=homosexualidad
[577]
María Xiridou estudou Matemática (Licenciatura 1993, da Universidade de Ioannina, Grécia) e
Investigação Operativa (MSc 1995, da Universidade de Columbia, EUA) Em 2001 começou a trabalhar no
Serviço de Saúde Municipal de Amsterdam em modelos matemáticos que descrevem a dinâmica de
transmissão do HIV. Desde 2006 trabalha no Centro de Controle de Enfermedades Infecciosas do RIVM.
[578]
Xiridou, M. “The contribution of steady and casual partnerships to the incidence of HIV infection
among homosexual men in Amsterdam”. [Artigo] Publicado em Revista AIDS, Vol. 17, Nº7 (2 de maio
2003). Citado em Tradición y Acción por un Perú Mayor. ¡Defendamos la familia! Cit., p. 133.
[579]
Lee, R. “Gay Couples Likely to Try Non-monogamy, Study Shows”. [Artigo] Publicado em
Washington Blade (22 de agosto de 2003). Citado em Tradición y Acción por un Perú Mayor. ¡Defendamos
la familia! Cit., p. 134.
[580]
O HIV entre os homens homossexuais (gay) e bisexuais. (CDC - EEUU). Ver informe completo no
seguinte link oficial:
http://www.cdc.gov/hiv/spanish/risk/gender/hsh_factsheet.html
[581]
Este número surge da soma tanto de homossexuais convencionais como em sua versão transsexual.
[582] ONU-SIDA. “Epidemia de VIH/SIDA en América Latina. Avance de resumen UNGASS 2011”. Ver

informe completo no seguinte link oficial: http://onusida-latina.org/es/sobre-onusida2/52-epidemia-de-


vihsida-en-america-latina.html
[583] “Síntesis sobre la epidemia del VIH-sida en Argentina”. Ministério da Saúde. Presidência da Nação.
Ver informe completo no seguinte link oficial:
http://www.msal.gob.ar/sida/index.php/comunicacion/informacion-para-periodistas/sintesis-epidemiologica
[584]
Bourne, L. “UK study shows massive surge in deadly STDs among gay men”. [Artigo] Publicado em
Life Site News (25 de junho de 2015). Ver informe completo em: https://www.lifesitenews.com/news/uk-
study-shows-massive-surge-in-deadly-stds-among-gay-men
[585]
http://www.isciii.es/
[586]
Dados do ano de 2010 comunicados pelo Centro Sandoval de Madri (especializado em ETS).
[587]
“Las enfermedades de transmisión sexual se elevan al perderse el miedo al VIH”. [Artigo] publicado
no jornal El País, da Espanha. (13 de fevereiro de 2012). Ver notícia completa em:
http://sociedad.elpais.com/sociedad/2012/02/13/actualidad/1329147083_794280.html
[588]
ACI Prensa. “Nueva enfermedad de transmisión sexual afecta a homosexuales y bisexuales”. Ottawa, 6
de junho de 2005. Ver informe completo em: https://www.aciprensa.com/noticias/nueva-enfermedad-de-
transmision-sexual-afecta-a-homosexuales-y-bisexuales/
[589]
ACI/EWTN Noticias. “Gays sufren más adicciones y problemas psicológicos, revela estudio del
gobierno de Estados Unidos”. Atlanta, 16 de julho de 2014. Ver informe completo no seguinte link do
CDC: http://www.cdc.gov/nchs/data/nhsr/nhsr077.pdf
[590]
A pesquisa em questão se refere a adultos com idades oscilantes entre os 18 e 64 anos.
[591]
Para ler o texto completo do informe (em inglês), pode-se ingresar em: National Health Statistics
Report. Sexual Orientation and Health Among U.S. Adults: National Health Interview Survey, 2013 by
Brian W. Ward, Ph.D.; James M. Dahlhamer, Ph.D.; Adena M. Galinsky, Ph.D.; and Sarah S. Joestl,
Dr.P.H., Division of Health Interview Statistics. http://www.cdc.gov/nchs/data/nhsr/nhsr077.pdf
[592]
Whitehead, N. “Homosexuality and Mental health Problems”. www.narth.com/docs/whitehead.html
(citando 3 palestras com comentários de Archives of General Psychiatry, uma revista de reconhecido
prestígio médico. Um comentário diz: "la fuerza de los nuevos estudios es su grado de control".)
[593]
Traditional Values Coalition. “Domestic Battering” (2002). Ver informe completo em:
http://traditionalvalues.org/pdf_files/DomesticBattering.pdf
[594] “Suicidal behaviors in homosexual and bisexual males”. Ver informe no seguinte link oficial:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/9141776
[595]
Palacios, R. Ob. Cit., p. 140.
[596]
Lantigua, I.F. “Yo jugué a la ruleta rusa del sida”. [Notícia jornalística] publicado em Diario El
Mundo, Madri, 7 de março de 2010. Ver notícia completa no seguinte link:
http://www.elmundo.es/elmundosalud/2010/03/05/hepatitissida/1267808100.html
[597] Schlatter, J.; Irala, J.; Escamilla, I. Ob. Cit., p. 3:69-79
[598] “Lobby gay admite los riesgos de la vida homosexual… y pide más financiación por ello”. [Informe]

Citado por Forum Libertas, baseado em relatório canadense elaborado pela junta médica Rainbow Health,
que por sua vez trabalha a favor do lobby gay. Ver informe completo em:
http://www.forumlibertas.com/lobby-gay-admite-los-riesgos-de-la-vida-homosexual-y-pide-ms-financiacin-
por-ello/
[599] ACI. “Estilo de vida homosexual reduce más años de vida... que fumar”. Filadelfia, 11 de Abril de
2007 Ver link completo: https://www.aciprensa.com/noticias/estilo-de-vida-homosexual-reduce-mas-anos-
de-vida-que-fumar/
[600] Infonews. “Según la OMS, la esperanza de vida en Argentina aumentó un promedio de tres años”.
[Informe jornalístico] citado em Infonews, 19 de mayo 2014. Segundo o novo informe de Estatísticas
Sanitárias Mundiais 2014 da Organização Mundial da Saúde (OMS), que recompilou dados mundiais
correspondentes ao período comprendido entre 1990 e 2012, a expectativa de vida na Argentina aumentou
uma média de três aNos. Informe citado em Infonews, 19 de maio 2014.Ver paper completo em:
http://www.infonews.com/nota/144771/segun-la-oms-la-esperanza-de-vida-en-argentina
[601] TELAM. “Advierten que la expectativa de vida para trans es de 35 años”. [Artigo jornalístico] Citado
em Diario de Cuyo. Ver informe completo em: http://www.diariodecuyo.com.ar/home/new_noticia.php?
noticia_id=622535
[602] “Del día en que la Iglesia excomulgó a los comunistas”. Ver notícia e texto completo do Decreto em:

http://www.religionenlibertad.com/del-dia-en-que-la-iglesia-excomulgo-a-los-comunistas-33364.htm
[603]
“Lula defiende unión de homosexuales en Brasil”. O presiente brasileiro defendeu a união civil entre
pessoas do mesmo sexo e em uma entrevista televisiva afirmou que temos que parar com a hipocrisia.
[Artigo] publicado no jornal La Tercera do Chile, Setembro de 2008. Ver notícia completa no seguinte link:
http://www.latercera.com/contenido/24_52250_9.shtm
[604]
Emol.com. “Bachelet a favor del matrimonio homosexual y el aborto terapéutico”. A ex-Chefe de
Estado comentou questões de valores durante sua primeira entrevista televisada. [Artículo Periodístico]
publicado en Sitio Online de Noticias Emol.com, 15 de abril de 2013. Ver notícia completa em:
http://www.emol.com/noticias/nacional/2013/04/15/593443/bachelet-en-frente-al-espejo.html
[605]
“Rafael Correa aprueba uniones de hecho homosexuales luego de almuerzo con Silueta X”. Ver filme
no seguinte link: https://www.youtube.com/watch?v=B9FZnecty9k
[606]
Montevideo Portal. “Reconocer el consumo de marihuana y el matrimonio homosexual es solamente
‘ver la realidad’” disse José Mujica na Costa Rica, onde criticou a falta de progresso na Latinoamérica
apesar dos “discursos de irmandade”. [Artigo jornalístico] publicado no portal de notícias Montevideo
Portal, 20 de agosto de 2015. Ver link completo em: http://www.montevideo.com.uy/auc.aspx?281620
[607]
“Fidel políticamente correcto: pidió perdón por la homofobia”. [Artigo jornalístico] Publicado no
Portal Infobae, em 31de agosto de 2010. Ver notícia completa em:
http://www.infobae.com/2010/08/31/1007865-fidel-politicamente-correcto-pidio-perdon-la-homofobia
[608]
No próximo livro abordaremos, entre outros tópicos, o Indigenismo, ambientalismo, direito-
humanismo, garanto/abolicionismo e outros itens usados pelo progressismo cultural hoje em voga na nova
revolução silenciosa.

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