Você está na página 1de 10

Movimentos femininos Afropindorâmicos

Tereza Onä

Iniciaremos nossa discussão entendendo os processos do feminismo desde o início para


que possamos ter uma ideía do momento histórico da movimentação de mulheres ao longo
da criação desse conceito. Passearemos pelas ondas feministas e por outros movimentos
femininos.

1 - As ondas feministas

1.1 - A primeira onda


O movimento feminista surge na Europa do seculo XVIII junto a revolução industrial, com
Mary Wollstonecraft em ‘reivindicações dos direitos da mulhereres”. É conhecido como “a
primeira onda feminista”. Movimento feminista radical que luta (ou lutava naquele momento)
por direitos iguais entre homens e mulheres. Uma luta legítima por direitos sexuais,
econômicos e reprodutivos. Lutavam contra os casamentos arranjados, se organizavam em
protesto contra as diferenças contratuais, a diferença na capacidade de conquistar
propriedade.
Vale ressaltar que esse, como outros movimentos, foi bastante influenciado pelos ideais de
igualdade da Revolução Francesa. É uma vertente criticada por não considerar que nem
todas as mulheres partem do mesmo ponto de vista. Essa vertente feminista “atua numa
agenda de equiparações de direitos, mas sem um enfrentamento às desigualdades, à
exploração do trabalho e ao capitalismo.
Vale dar uma lida no discurso de improviso feito Sojourner Truth em 1851, na Women 's
Convention,1851. Sojourner, nascida em Nova York em 1797, foi liberta em 1827.

Sojourner Truth
Eu não sou uma mulher

“Bem, crianças, onde há muita confusão deve haver algo de errado. Penso que entre os
negros do Sul e as mulheres do Norte, todos falando sobre direitos, os homens brancos vão
muito em breve ficar num aperto. Mas sobre o que todos aqui estão falando? Aquele homem
ali diz que as mulheres precisam ser ajudadas a entrar em carruagens, e erguidas para
passar sobre valas e ter os melhores lugares em todas as partes. Ninguém nunca me
ajudou a entrar em carruagens, a passar por cima de poças de lama ou me deu qualquer
bom lugar! E não sou mulher? Olhem pra mim! Olhem pro meu braço! Tenho arado e
plantado, e juntado em celeiros, e nenhum homem poderia me liderar! E não sou uma
mulher? Posso trabalhar tanto quanto e comer tanto quanto um homem - quando consigo o
que comer - e aguentar o chicote também! E não sou uma mulher? Dei à luz treze filhos, e vi
a grande maioria ser vendida para a escravidão, e quando eu chorei com minha dor de mãe,
ninguém, a não ser jesus me ouviu! E não sou mulher?
Então eles falam sobre essa coisa na cabeça; como a chamam mesmo? [alguém na plateia
sussurra, "intelecto"] É isso, meu bem. O que isso tem a ver com os direitos das mulheres
ou dos negros? Se a minha xícara não comporta mais que uma medida, e a sua comporta o
dobro, você não vai deixar que a minha meia medidazinha fique completamente cheia?
Depois aquele homenzinho de preto ali disse que as mulheres não podem ter tantos direitos
quanto os homens, porque Cristo não era mulher! De onde o seu Cristo veio? De onde o
seu Cristo veio? De Deus e de uma mulher! O homem não teve nada a ver com Ele. Se a
primeira mulher feita por Deus teve força bastante para virar o mundo de ponta-cabeça
sozinha, estas mulheres juntas serão capazes de colocá-lo na posição certa novamente! E
agora que elas estão querendo fazê-lo, é melhor que os homens permitam. Obrigado aos
que me ouviram, e agora a velha Sojourner não tem mais nada a dizer.”

1.2 - A segunda onda feminista


A segunda onda feminista acontece no período das duas guerras mundiais, quando as
mulheres passam a assumir postos de trabalho que até então eram considerados
masculinos, mas é após a segunda guerra que alguns de seus direitos são contemplados
por alguns países da Europa. Em 1948 a Declaração Universal dos Direitos Humanos
reconhece a igualdade entre os sexos, assim como a igualdade entre os casais. Enquanto
isso as “moças” brancas já estudando, fazem circular livros e textos com conteúdo feminista
que atinge um grande público. Os estudos feministas começam a ser organizados propondo
coisas e questionando os “velhos” conteúdos. Velhos, até quanto?

É quando Simone de Bouvoir em 1949, lá na França, publica o livro O segundo Sexo, onde
denuncia o Homem que toma pra si a identidade feminina por se considerarem
representantes da humanidade colocando a mulher num lugar de diferente de si e inferior.
Em 1963, Betty Friedam publica A Mística Feminina, que aborda o papel da mulher “do lar”.
É nessa “segunda onda feminista” que Kathie Sarachild, em 1968 nos traz o conceito de
sororidade, no panfleto que contém o discurso da primeira ação pública do grupo “mulheres
radicais de Nova York”. A segunda onda foi um “engrossador de caldo” nos Estados Unidos
e Europa.

“Por toda a Europa Ocidental, de maneira simultânea, por mais de dois anos, na
Inglaterra, Holanda, Suécia, Dinamarca, Alemanha, França e agora na Itália, grupos de
mulheres se formaram espontaneamente para pensar em maneiras de lutar contra a
sua opressão” (La Liberation, 1970).
Feminist_Suffrage_Parade_in_New_York_City, _1912.jpeg (800 × 564 pixels, tamanho: 189 kB, tipo MIME:
image / jpeg ) - Foto: domínio público

1.3 - A terceira onda


Na década de 80 os meios de comunicação estadunidenses começam a rotular as mulheres
jovens como a ‘geração pós-feministas”, considerando que desfrutavam dos ganhos sociais
o que dava a entender que essa discussão não se fazia mais necessária mas, feministas
estadunidenses, mais notadamente Rebecca Walter, documentaram o “sexismo sem fim dos
anos 90”. Desde então, as feministas estadunidenses nos descrevem até hoje com a terceira
onda.

2 - As vertentes do Feminismo
Existem várias vertentes quando se trata dos movimentos feministas. O feminismo liberal
está centrado no indivíduo e em sua liberdade de escolha e na crítica ao lugar dos homens
que, nessa linha de pensamento, é ao lado das mulheres. Esse movimento não é pra abalar
as estruturas e sim inserir a mulher nela.
Um dos exemplos recentes do movimento feminista liberal foi a hastag #HeforShe, criada
pela britânica Emma Wattson, que buscava incorporar a participação dos homens na luta
das mulheres por igualdade. Em crítica ao feminismo liberal, surge o feminismo marxista
ou socialista, outra vertente do feminismo que defende que a opressão sofrida pela mulher
é causada pelo sistema do capitalismo e da propriedade privada. A principal crítica feita a
essa corrente é a valorização excessiva da condição econômica da mulher (como tudo no
marxismo [nota da autora]), esquecendo que a dominação e a exploração precisam ser
abordadas também, considerando-se também fatores culturais e raciais.
O feminismo radical ou RadFem é uma corrente que surgiu na década de 60 e 70. O
termo radical em seu nome por ter a proposta de atacar a raiz do problema de dominação e
opressão feminina do patriarcado e os papéis sociais atribuídos, por esse, aos gêneros. são
contra a pornografia e prostituição (processos de objetificação dos corpos) e protestam
contra o sexismo que demarca lugares e funções sociais e militam para que os órgãos
sexuais sejam apenas uma característica física. Neste sentido, não haveria necessidade em
determinar mulheres cis e mulheres trans, pois não deveria existir o conceito de gênero.
O feminismo interseccional pauta o conceito de interseccionalidade, que é conhecido por
Kimberlé Crenshaw, mulher negra, advogada, em 1989. Ela nos diz que em determinadas
situações, acontecem interseções em diferentes identidades sociais, e uma vez que não
sejam observadas as interseções, as discriminações passam a ser vistas de forma isolada.
Falemos de hoje, agora. O “feminismo interseccional” pensado nos Estados Unidos,
reunindo mulheres de raças, classes e contextos tão diferentes, tem dado conta dessa
proposta? Tem conseguido abarcar, por exemplo, nossa pauta afropidorâmica? E as
pessoas transsexuais? Convido a assistirmos o vídeo: https://youtu.be/FgK3NFvGp58.
Transfeminismo, que é uma pauta que discute questões de pessoas trans. Pauta de
pessoas que têm sua identidade de gênero diferente da esperada e ovacionada pela
sociedade hegemônica. A falta dessa pauta no feminismo interseccional tornou necessária a
construção dessa e de outras estruturas de conversa.
Existe ainda O Feminismo Negro está integrado à terceira onda feminista, que diz que para
se falar de gênero é preciso também considerar as lutas de classe, a identidade de gênero e
o racismo. O movimento feminista de mulheres negras não se vê nos diálogos e debates
feministas convencionais já que as mulheres negras também precisam lutar contra o
racismo, além do seximo e do patriarcado. O feminismo negro aborda as questões do
genocídio contra a juventude negra, preconceito contra as matrizes africanas, solidão da
mulher negra, moradia, aborto, saúde da população negra… A precursora do feminismo
negro é Soujorn, escravizada ao nascimento, vivente entre o século XVIII e XIX, cuja foto e
discurso foram mencionados acima e intitulam a obra de Bell Hooks.
Daqui de onde eu falo, o movimento feminista negro brasileiro, ainda carece de muitas
discussões, para que a pauta da mulher negra não se limite à fala e à dinâmica apenas
acadêmia e de congressos que, apesar de sua importância, acabam não dialogando com
mulheres não acadêmicas ou moradoras dos quilombos rurais e urbanos. O feminismo
negro brasileiro, talvez por ainda replicar a lógica hegemônica da meritocracia utilizada pela
Branquitude ao longo das manifestações feministas da história tem ainda dificuldade na
interação prática com mulheres que não tiveram as mesmas oportunidades ou vivências.

3 - A origem do feminismo no Brasil


O feminismo no Brasil acontece no século XIX, que mantinha as mulheres brancas
enclausuradas em preconceitos e sob rigidez cultural. Nesse momento da história do Brasil
(1500-1827) o patriarcado não permitia nem o acesso de suas mulheres à escola pública.
A prioridade feminina é então, nesse momento, a busca por direito à educação, de ler e
escrever, que não lhes era um direito pois, de acordo com as leis portuguesas, as mulheres
faziam parte do “imbecilitus sexus”.
Já estando nós no século XX, Darwin, autor de “A origem das espécies” ainda continuava
acreditar que “a inferioridade da mulher era baseada em princípios científicos''. Caroline
Kenard branca e “estudada”, em 1827, lhe enviou uma carta com pedido de refutação à
essa sua teoria e recebeu como resposta:

“Certamente acredito que as mulheres, conquanto, em geral, superiores aos homens


[em] qualidades morais, são inferiores em termos intelectuais e parece-me ser muito
difícil, a partir das leis da hereditariedade (se eu as compreendo da forma correta),
que elas se tornem intelectualmente iguais aos homens”. Charles Darwin

Como vimos, Darwin estava totalmente equivocado, para não dizer que era misógino,
racista e machista. Oxalá seja, que nossos “intelectuais” contemporâneos não criem mais
tijolos que prejudiquem a construção de nossa sociedade no Bem Viver.

O feminismo no Brasil surge no Brasil por Nise Floresta Augusta, considerada precursora do
feminismo e Josephina Alvez de Azevedo (1851-1913), jornalista, professora e escritora.
Assim como na Europa, os meios de comunicação foram fundamentais na divulgação da
ideia do feminismo brasileiro. Josephina fundou em 1890 a revista “A família”, onde divulgou
suas ideias feministas
Se considerarmos todas as nuances do surgimento do primeiro movimento feminista
brasileiro em seu contexto histórico político e social, nem vamos falar do racial nesse
momento; parece que nesse início havia dúvidas sobre o que é ser “uma mulher” e nessa
monento tanto as mulheres negra quanto pindomicasnem éramos gente pra ciência,
fiosofia…. vigente.
Lélia Gonzales (1935-1994), conhecida no meio feminista à época como “criadora de
casos”, é pioneira em olhar o feminismo sob a perspectiva racial no Brasil e Améfrica
Ladina, termo cunhado por nossa querida Lélia. Lélia era historiadora, geógrafa e jornalista.
Essa mulher negra trazia para a cena do debate pluralidade e questões da mulher
brasileira, antes não observadas pelo conceito de “feminismo” vigente. Em seus dois livros
‘Lugar de Negro’, em 1982, com autoria de Carlos Hasenbalg e ‘festas populares’ em 1967,
aborda a perspectiva de um feminismo afro latino americano. Compartilho o vídeo com Lélia
Gonzalez. Gozem!!! Lelia Gonzales e o feminismo negro
Temos também Francisca Edwiges (1847), Chiquinha Gonzaga, filha de rico militar e Rosa,
escravizada alforriada. Personagem feminino importante em nossa história entre outras…

Existem hoje no Brasil, várias organizações, denominações… feministas que se propõem a


defender a equidade entre as mulheres. Existem hoje no Brasil, organizações específicas
que pautam questões específicas das mulheres negras, mulheres trans, mulheres
LGBTQIA+.

4 - Os movimentos femininos afropindorâmicos.


O movimento de mulheres negras, pindorâmicas, quilombolas, de terreiros e bairros de
periferias vêm mudando a discussão de conceitos do feminismo convencional. A forma
convencional do feminismo não contempla todas as mulheres e nem tampouco sua
totalidade, podendo até atrapalhar. Por outro lado, convida a nós, mulheres negras,
indígenas, quilombolas, periféricas a uma impossível agenda única visto que somos
totalmente plurais.
Esse conjunto incrível e lindo de mulheres negras e pindorâmicas trazem novas
perspectivas de discussão e ação. Vêm abrindo caminho e reinventando a luta contra o
racismo, o sexismo e o patriarcalismo.
São mulheres que se reúnem para falar de desafios e conquistas na busca por
autoconhecimento e autonomia. Os movimentos femininos pindorâmicos lutam contra as
vulnerabilidades orquestradas por uma sociedade forjada em subjetividade eurocêntrica
monoteísta heteronormativa cristã.
O movimento do diálogo entre essas mulheres desses vários grupos, nos potencializa e nos
mostra o quanto nós, mulheres afropindorâmicas temos agência de mudança no debate que
apresenta novas narrativas e que deixam à mostra as várias divergências do debate
feminista no Brasil.

“São mulheres pensando em um novo projeto de sociedade, em que não haja


hierarquia e que não seja moldado por opressões”, resume a filósofa Djamila Ribeiro,
autora de clássicos no tempo como “Quem tem medo do feminismo negro?” e “Lugar de
fala”.

A verdade é que nós mulheres afropindorâmicas, não nos identificamos com a palavra
feminismo e pronto! Enquanto mulheres, não temos um assunto mais importante que outro
pois, nossas opressões não são desassociadas uma das outras. O feminismo branco por
razões óbvias, nessa sociedade, tende a ter dificuldades com nossas narrativas e é aí que
ouvimos as malditas expressões: mi mi mi, racismo reverso, somos todas iguais e
blá.blá.blá…
A verdade é que nós, mulheres afropindorâmicas, temos outra pegada na discussão. Nossa
grande e querida filósofa Lélia Gonzales, mulher negra em diáspora, por ocasião de um
encontro feminista branco, levantou a discussão sobre saneamento básico e mesmo tendo
que encarar a falta de interesse do grupo, salientou que “pra nós, mulheres negras o
saneamento é salutar”.
É necessário que as discussões sobre gênero, ainda mais no Brasil, nos acessos ao serviço
de água e coleta de esgoto, nos atinjam enquanto direito das mulheres à saúde, segurança,
moradia adequada, educação e alimentação, ou seja, nosso movimento feminino luta por
igualdade nas políticas públicas que considere as necessidades materiais e estratégicas
das mulheres afropindorâmicas.
As demandas do movimento feminista branco, até muito tempo, afunilou o leque das
discussões plurais. Nós mulheres afropindorâmicas não disputamos (ou não deveríamos)
por lugar de destaque (mas se tem nós gosta!). Nosso destaque é fortalecer os direitos do
gênero em todas as suas formas.
As mulheres da etnia Baré, lá do Amazonas, por exemplo, não reconhecem esse termo, na
divisão dos gêneros. Elas falam de Bem Viver.

“A sociedade não-indígena nos vê como feministas, mas essa palavra não existe para
a gente” Nara Baré, coordenadora das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira.

Muitos autores dizem que a primeira reivindicação pela instrução feminina partiu dos
homens pindorâmicos brasileiros. Segundo eles, os índios pediram ao Pe. Manuel da
Nóbrega que instruísse também as mulheres. Esses homens não entendiam a diferença nas
oportunidades com suas mulheres, já que elas sempre foram vistas como companheiras.
Sendo assim o padre decidiu enviar uma carta a Portugal pedindo licença para instruí-las
também, mas seu pedido foi negado pela então rainha, Dona Catarina.
Mas apesar disso, algumas mulheres pindorâmicas conseguiram ultrapassar esses códigos.
A autora Arilda Ribeiro afirma ter encontrado registros de que Catarina Paraguassu,
também conhecida como Madalena Caramuru, teria sido não apenas a primeira indígena,
mas a primeira mulher a aprender a ler e a escrever, tendo feito uma carta de próprio punho
ao padre Manoel de Nóbrega em 1561.

4.1 - O Movimento Mulherismo Afrikana


Afrikana que tem sua terminação ‘a’ que é um plural no latim, reconhecendo assim o
pluralismo das mulheres negras de África e diáspora e reconhecendo a origem negra do
Latim. O Movimento Mulherismo Afrikana se sustenta nas bases: panafricanismo,
afrocentricidade e matriarcado, diferente dos pilares do mulherismo norte americano - Alice
Walker que também escreveu a Cor Púrpura, e discute gênero (Obs: Legal conhecer essa
mulher mais de perto também.). O Movimento Mulherismo Afrikana nos diz que as
violências que nos atingem, mulheres afropindorâmicas, passam antes de tudo pela raça,
biotipo… e nos diz também que estamos mais próximos do homem preto na compreensão
de nossas dores que próximo da mulher branca.
Esse movimento feminimo Afreakana busca resgatar a ancestralidade, matrilineariedade,
matripotência, e a matrigestão em favor do Bem Viver abordando todos os elementos que
constituem a biointeração, um elemento comum e filosófico das tradições africanas,
pindorâmicas e afropindorâmica. Eu sou mulherista africana. É onde me reconheço e me
encaixo.
Complementando o raciocínio, compartilho os pensamento de nossa próxima convidada,
Anin Urasse: Quem ensina a gente a ser mulher?
Como podemos ver, o termo feminista não se aplica ao conjunto representativo de mulheres
negras e pindorâmicas. As mulheres originárias pautam suas identidades na defesa da
floresta. O que o feminismo branco compreende como eco, ambiental, sustentabilidade...pra
nós, mulheres afropindorâmicas, esses conceitos são continuação de nossos corpos e
nossas almas, nosso axé.

A condição de gênero no Brasil, criada pelo regime colonialista capitalista branco cristão,
tem sido a pauta dos movimentos afropindorâmicos que sugerem, criam, participam
enquanto movimento em favor da mulher e pela garantia de direitos plurais e indissociáveis.

E assim, seguimos mudando a episteme tradicional em nossa sociedade. Disputando


narrativas “pau a pau” e ocupando os espaços sociais que nos foram por muito tempo
negados por uma cultura dominante. Seguimos atuando e atuantes em prol de nosso
desejo, na reconstrução de discursos e narrativas que revelem histórias silenciadas ou
deturpadas pelos que ousaram escrever a nossa história.
Na verdade, saímos do lugar de ‘pesquisados’ para tomar em nossas mãos nossa
episteme. Chega de monoepistemia ou de epistemias vindas do hemisfério norte.

Minhas referências femininas, primeiro, vêm de Afrika. As Amazonas (nome dado pelos
europeus). São mulheres do reino de Daomé, hoje República do Benin. Inspiração para as
guerreiras reais no filme Pantera Negra e em nossas vidas.

Em Áfrika, para os africanos da etnia fon, eram chamadas de Ahosi ou minos, que quer
dizer ‘Nossas Mães”. Essas mulheres negras tinham autoridade para agir como
controladora do poder masculino. Foram as mulheres mais temíveis do mundo. Em Afrika, a
rainha Njinga Nmbanse, que lutou contra a invasão portuguesa e foi diplomata e chefe
militar do século XVII. Njinga Mbande, rainha angolana que usou todos os seus meios para
combater o poder colonial português em Angola. É considerada uma das maiores
personalidades na resistência africana ao colonialismo. Aqualtune,princesa e comandante
militar
Mulher negra. Avó materna de Zumbi dos Palmares. Aqualtune, simboliza liderança e luta
dentro do sistema escravocrata e passou isso adiante através de seus herdeiros e de seu
comando na República de Palmares.
Imagem que personifica Aualtune

Chegamos à Pindorama de Dandara, que participou da resistência o contra os Portugueses


para proteger a República Livre de Palmares, Tereza de Benguela- Rainha do Quilombo
Quariterê que é homenageada todo dia 25 de julho - Dia da Mulher Negra Afro Latina
Americana e Caribenha. Tereza De Benguela, em Mato Grosso, liderou a luta do quilombo
contra os soldados portugueses. Tereza foi a mulher que instituiu um parlamento no
quilombo onde se discutiam normas plurais para regulação e funcionamento do lugar. Maria
Firmina dos Santos, mulher negra silenciada há tantos anos na história do Brasil. Foi a
primeira mulher negra a passar em um concurso público, fundou uma escola mista.
Escreveu o livro Úrsula que inspirou o livro A Escrava Isaura, escrito por um homem branco,
Bernardo Guimarães (1825-1884). Gente! Antonieta de Barros! Hilária Baptista de Almeida,
nossa querida Tia Ciata, quituteira e mãe de santo que, vendendo seus quitutes no que hoje
é chamado Pequena África, levava em seu tabuleiro mensagens e rotas de libertação do
nosso povo. Mãe Beata de Yemonja, minha querida e eterna Yá.

Minhas referências vêm das manas do Movimento de mulheres indígenas do Brasil que com
seus corpos e existência seguem sendo resistência, para manter viva nossa história
afropindorâmica. Mulheres como Sônia Guajajara, uma das principais vozes do movimento
pindorâmico nacional. Valdelice Veron, uma das principais lideranças Guarani Kaiowá, está
na linha de frente na luta pela demarcação das terras tradicionais do seu povo, no Mato
Grosso.

Dandara Rudsan, mulher negra trans e Amazônida, advogada, nos apresenta os


movimentos das mulheres de rios e das florestas:
“Construir a luta feminista na Amazônia tem suas nuances específicas, quando falamos de
nossas pautas. Aqui, independente da missão e objetivos dos movimentos, grupos e
coletivos de resistência popular, a defesa da terra, do território, dos povos tradicionais e
originários está no ponto norteador de todas as lutas. Se vamos discutir violência,
extermínio, encarceramento em massa, por exemplo, obrigatoriamente temos que identificar
onde essas agendas se conectam com a luta em defesa da Amazônia e seus povos e desta
forma desenvolver as pautas que se desdobram em ações contra o racismo ambiental,
enfrentamento a megaprojetos energéticos, mineradores e suas consequências, para citar
alguns.”
Somos, nós, mulheres que impulsionam mulheres de todo o Brasil a criarem próprias
organizações ou departamentos como: a Coordenação das Organizações Indígenas da
Amazônia Brasileira (Coiab), a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro
(Foirn), o Conselho Indígena de Roraima (CIR) e a Articulação dos Povos Indígenas do
Xingu (Atix). Em fevereiro de 2020, o Instituto Socioambiental (ISA) mapeou 85
organizações de mulheres indígenas e sete organizações indígenas que possuem
departamentos de mulheres, totalizando 92 organizações, presentes em 21 estados do país.

O que me fica: não somos onda. Somos um movimento de mulheres que desde sempre
esteve nas lutas e na construção do Bem Viver.

Outras referências:

Vertentes do feminismo: conheça as principais linhas de pensamento

https://www.geledes.org.br/o-falso-feminismo-interseccional-ou-o-que-importa-e-repr
esentar/?noamp=available&gclid=Cj0KCQjw2NyFBhDoARIsAMtHtZ7IhTiUGlOCcZwRT
0pBVlPi15QwJh_fdS01shOhybxwoaAMB3iyumUaAncTEALw_wcB

A INTERSECCIONALIDADE E A DISCRIMINAÇÃO DE RAÇA E GÊNERO NO ENSINO


SUPERIOR: O CASO DA PUC-RIO.

Feminismo no Brasil

A Mulher Moderna- Josefina Alvares de Azevedo

Fundação Biblioteca Nacional

Por um Feminismo Plural: escritos de Lélia Gonzalez no Jornal Mulherio

A história da educação feminina Hoje, a presença feminina é marcante em todos os


níveis de.

Caroline Kennard: a mulher que questionou Charles Darwin

Quem foram as mulheres que inspiraram as guerreiras de 'Pantera Negra'?

História Geral da África-VII-África sob Dominação Colonial1880-1935 Mapa

da Organização das Mulheres indígenas no Brasil

O que é feminismo radical

Você também pode gostar