Você está na página 1de 6

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL

FEDERAL

PARTIDO POLÍTICO BETA, CNPJ..., ENDEREÇO ELETRÔNICO... ENDEREÇO


COMPLETO..., COM REPRESENTAÇÃO NO CONGRESSO NACIONAL, representado por seu
PRESIDENTE (qualificação completa...), vem, por meio de seu advogado infra-assinado,
regularmente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, sob o nº xxxx/RJ, com endereço
profissional..., em atenção ao que informa o art. 77, V, CPC, e com fulcro no art. 102, §1º,
CF/88 e no art. 1º, in fine, da Lei nº 9.882/99, PROPOR a presente:

ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL

Em face dos arts. 11 e 12 da Lei Orgânica do Município Alfa em razão de


ato que ofende à preceito fundamental, indicando nesta hipótese, os preceitos salvaguardados
no art. 2º (Princípio da Separação dos Poderes), no art. 22, I (Invasão de Competência
Legislativa da União), e no art. 29, X (Prerrogativa de Foro), todos da Constituição da República
de 1988.

DA REGULAR REPRESENTAÇÃO NO CONGRESSO NACIONAL

Nesta ocasião, esclarece que o PARTIDO POLÍTICO BETA, legitimado


ativo universal, possui regular representação no Congresso Nacional, em atendimento ao
disposto no art. 103, VIII, CR/88, N/F do art. 2º, I, da Lei nº 9.882/1999.

DA MEDIDA CAUTELAR
Requer a suspensão do afastamento do Prefeito do Município Alfa e de
todos os atos que se fundamentem na aplicação dos arts. 11 e 12, da Lei Orgânica do
Município Alfa, até o julgamento da presente, a fim de blindar os preceitos fundamentais
tutelados pela presente, tudo em consonância ao prescrito no art. 5º, §3º, da Lei nº
9.882/1999.

DOS FATOS

O Prefeito do Município Alfa, preocupado com a adequada conduta no


seu mandato, procura o presidente nacional do seu PARTIDO POLÍTICO BETA, O QUAL POSSUI
REPRESENTAÇÃO NO CONGRESSO NACIONAL, e informa que A LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO
ALFA, PUBLICADA EM 30 DE MAIO DE 1985, ESTABELECE, NO SEU ART. 11, DIVERSAS
CONDUTAS COMO CRIME DE RESPONSABILIDADE DO PREFEITO, entre elas o não atendimento,
ainda que justificado, a pedido de informações da Câmara Municipal, inclusive com previsão
de afastamento imediato do Prefeito a partir da abertura do processo político.

Informou, também, que a mesma Lei Orgânica, em seu Art. 12, contém
previsão que define a competência de processamento e julgamento do Prefeito pelo
cometimento de crimes comuns perante Justiça Estadual de PRIMEIRA INSTÂNCIA.

Por fim, informou que, em razão de disputa política local, houve


recente representação oferecida por Vereadores da oposição com o objetivo de instaurar
processo de apuração de crime de responsabilidade com fundamento no referido Art. 11 da
Lei Orgânica, a qual poderá ser analisada a qualquer momento.

O partido político, após o devido trâmite interno estabelecido no seu


estatuto, concluiu que a NORMA MUNICIPAL está em dissonância com a CRFB/88  e, em razão
do flagrante ataque aos preceitos fundamentais constitucionalmente instituídos, vem a esta
Excelsa Corte propor a presente.

DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

A Lei Orgânica do Município Alfa, em seu art. 11, traz em seu arcabouço
diversas condutas tipificadoras de crimes de responsabilidade do Chefe do Executivo
Municipal, entre elas, o de não-atendimento, ainda que justificado, a pedidos de informações
da Câmara Municipal, bem como a pena de afastamento do Prefeito a partir de abertura de
processo de impeachment.

Estabelece a Constituição da República, em seu art. 22, I, que caberá


única e exclusivamente à União a atividade legiferante quanto à matéria penal, sendo,
portanto, tal incumbência vedada aos outros entes federativos, in verbis:

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral,
agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;
Quanto ao caso, a jurisprudência dominante desta Suprema Corte, é
seguinte sentido:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI N.


6.570/03 DO ESTADO DO PARÁ. SERVIÇOS DE
LOTERIAS. REGRAS DE EXPLORAÇÃO. SISTEMAS DE
CONSÓRCIOS E SORTEIOS E DIREITO PENAL.
COMPETÊNCIA EXCLUSIVA DA UNIÃO PARA LEGISLAR
SOBRE A MATÉRIA. INCONSTITUCIONALIDADE. 1. Ao
mencionar “sorteios” o texto da Constituição do Brasil
está aludir ao conceito de loteria. Precedente. 2. Lei
estadual que disponha sobre espécies de sorteios
usurpa competência exclusiva da União. 3. Flagrante
incompatibilidade entre Lei paraense e o preceito
veiculado pelo artigo 22, inciso X, da CB/88. 4. A
exploração de loterias constitui ilícito penal. A isenção
à regra que define ilicitude penal da exploração da
atividade vinculada às loterias também consubstancia
matéria de Direito Penal. Compete privativamente à
União legislar sobre Direito Penal --- artigo 22, inciso I,
CB/88. 5. Pedido de declaração de
inconstitucionalidade procedente. (ADI 3259/PA –
Tribunal Pleno, Publicação: DJ 24-02-2006, Julgamento:
16-11-2005, Min. Relator: Min. EROS GRAU)

Desta forma, é de clareza solar a existência de incompatibilidade da


norma municipal frente ao mandamento constitucional que atribui a legitimidade exclusiva à
União para legislar sobre matéria criminal, devendo aquela norma ser declarada
inconstitucional.

A referida Lei Orgânica, ora impugnada pela presente, ainda reserva, em


seu art. 12, à Justiça Estadual de 1ª Instância a competência para processamento e julgamento
do Prefeito por crimes comuns cometidos. Tal previsão legal insurge-se abruptamente contra a
Prerrogativa de Foro insculpida no art. 29, X, CR/88, que assim preceitua:

Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em


dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e
aprovada por dois terços dos membros da Câmara
Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios
estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do
respectivo Estado e os seguintes preceitos:
X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça;
(Renumerado do inciso VIII, pela Emenda Constitucional nº
1, de 1992)

De acordo com a previsão contida na Carta Magna, o processamento e


julgamento do Chefe do Executivo Municipal, com relação a cometimento de crimes comuns, é
competência atribuída ao Tribunal de Justiça, e neste sentido, vê-se, no caso sub judice, plena
incompatibilidade no que respeita ao art. 12, da Lei Orgânica do Município Alfa face ao Foro
por prerrogativa de função, oriundo do art. 29, X, da Carta Política.

O Superior Tribunal de Justiça, sobre esta matéria, assim tem decidido:

PENAL. PROCESSO PENAL. ART. 90 DA LEI 8.666/1993.


SENTENÇA CONDENATÓRIA PROFERIDAD POR JUÍZO
DE 1º GRAU. PRERROGATIVA DE FORO (PREFEITO
MUNICIPAL) APÓS A INTERPOSIÇÃO DE RECURSO DE
APELAÇÃO. JULGAMENTO DO APELO POR CÂMARA
CRIMINAL. PRINCÍPIO DA PERPETUATIO
JURISDICTIONIS. ILEGALIDADE INEXISTENTE. AGRAVO
REGIMENTAL IMPROVIDO. I – No processo penal, como
regra, perpetua-se a jurisdição no momento da
prolatação da sentença. II – Embora a prerrogativa de
foro seja uma garantia constitucional dada ao prefeito
municipal (art. 29, X, da Constituição Federal), no
momento da prolatação da sentença, o agravante não
detinha o cargo público, inexistindo, portanto, a
apontada ilegalidade. III – No caso, na tramitação do
recurso de apelação, o agravante retornou ao cargo de
prefeito municipal. No entanto, tal fato não modifica a
competência para julgamento da apelação. IV – Agravo
regimental improvido. (STJ – AgRg nos EDcl no AREsp:
534318 PB 2014/0136547-5, Relator: Ministro
LEOPOLDO DE ARRUDA RAPOSO (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TJ/PE), Data de Julgamento:
28/04/2015, T5 – QUINTA TURMA, Data de Publicação:
DJe 11/05/2015)

Nesse sentido, em translúcida obediência à Carta Republicana, encontra-


se o Código Processual Penal, que, em seu art. 69, VII, prescreve:

Art. 69. Determinará a competência jurisdicional:


VII - a prerrogativa de função.

Somando-se a estes fundamentos, no caso concreto, há incontroversa


violação ao Princípio da Separação e Harmonia entre os Poderes, materializada no intento da
tentativa de afastamento do Prefeito por meio de instrumentalização do art. 11 da Lei
Orgânica, que prevê que o tal afastamento dar-se-á apenas e tão-somente por abertura de
processo político empreendido pelo Legislativo Municipal, restando assim, uma clara invasão e
ingresso na esfera de atuação preponderante do Poder Judiciário, identificado na redação do
art. 92, CR/88:

Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário:


I - o Supremo Tribunal Federal;
I- A o Conselho Nacional de Justiça; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
II - o Superior Tribunal de Justiça;
II- A - o Tribunal Superior do Trabalho; (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 92, de 2016)
III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais;
IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho;
V - os Tribunais e Juízes Eleitorais;
VI - os Tribunais e Juízes Militares;
VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal
e Territórios.

Plácido e Silva, ao discorrer sobre o sistema “checks and balances” assim


asseverou:
Da expressão checks and balances, a significar o sistema em
que os Poderes do Estado mutuamente se controlam, como,
por exemplo, o Legislativo julga o Presidente da República e
os Ministros do Supremo Tribunal Federal nos crimes de
responsabilidade; o Presidente da República tem o poder de
veto aos projetos de leis e o Poder Judiciário pode anular os
atos dos demais Poderes em caso de inconstitucionalidade
ou de ilegalidade (DE PLÁCIDO E SILVA, Oscar Joseph.
Vocabulário Jurídico. 30ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013.)

DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer:

1. Requer seja concedida a medida cautelar, nos termos do art. 5º, §3º,
da Lei nº 9.882/1999, a fim de que seja suspenso o afastamento do
Prefeito do Município Alfa, até o julgamento da presente arguição;
2. Requer a expedição de notificação aos órgãos e autoridades
responsáveis pelo ato questionado, a fim de que prestem
informações, conforme art. 5º, §2º, da Lei nº 9.882/1999;
3. Requer a notificação da Advocacia-Geral da União, nos termos do
art. 5º, §2º, da Lei nº 9.882/1999;
4. Requer a intimação do Procurador-Geral da República, para emitir
seu bastante parecer, nos termos do art. 5º, §2º, da Lei nº
9.882/1999.
5. Requer seja julgado procedente o pedido para declarar a
incompatibilidade dos artigos, objeto da presente arguição, com os
preceitos constitucionais apontados acima.

DAS PROVAS
Requer provar o alegado por todos os meios de prova em direito
admitidos, conforme disposição do art. 369, NCPC.

Acosta, por oportuno, toda prova documental prevista no art. 3º,


parágrafo único, da Lei nº 9.882/1999.

DO VALOR DA CAUSA

Dá-se à causa o valor de R$...,... (.......reais).

Termos em que,

P. Deferimento

Local, Data

Advogado – OAB/UF

Você também pode gostar