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Apontamentos n0 96 janeiro de 2001

FUNDAMENTOS BÁSICOS DE PERMEABILIDADE DOS SOLOS

ANTONIO BELINCANTA

AGRADECIMENTOS E PARTICIPAÇÕES

O autor agradece a todos os colegas, bolsistas e técnicos que viabilizaram


este trabalho, esperando que as informações técnicas, aqui contidas, façam-se de
elevada utilidade e, desta maneira, constituam-se na verdadeira contrapartida
do que de tão precioso se recebeu.
Aos colegas professores José Wilson Assunção, Maria Teresa de Nóbrega,
Marcela P.M Z. Meneguetti, Nelci H. M. Gutierrez, e Roberto Lopes Ferraz, pelo
incentivo.
Aos bolsistas do CNPq/Reenge, Osvaldo Alexandre Marques e Marcelo
Eduardo Yukio Hokazono, pela efetiva participação.
À PPG, pela viabilização da publicação deste trabalho.
A todos, meu muito obrigado.
SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS E PARTICIPAÇÕES ......................................... 5


1. INTRODUÇÃO .................................................................................... 9
2. FLUXO D’ÁGUA NUM MEIO POROSO ........................................ 9
3. EQUAÇÃO DE BERNOULLI ............................................................ 10
4. LEI DE DARCY ................................................................................... 13
5. FATORES QUE INTERVÊM NA PERMEABILIDADE DOS
SOLOS .................................................................................................. 15
6. DETERMINAÇÃO DO COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE.. 16
7. FORÇA DE PERCOLAÇÃO ............................................................... 16
8. EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO 1............................................................ 18
9. MÉTODOS DE VERIFICAÇÃO DE EQUILÍBRIO DE UM
ELEMENTO DE SOLO, QUANDO DA EXISTÊNCIA DE
PERCOLAÇÃO ................................................................................... 21
10. EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO 2 ........................................................... 23
11. CAPILARIDADE NOS SOLOS ......................................................... 26
12. EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO 3 ........................................................... 28
13. TENSÕES CAPILARES EM SOLOS NÃO SATURADOS ............ 30
14. EXERCÍCIOS PROPOSTOS ............................................................. 31
15. BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA E DE LEITURA
COMPLEMENTAR RECOMENDADA ........................................... 33
ANEXO A - SIMBOLOGIA BÁSICA ..................................................... 34

7
FUNDAMENTOS BÁSICOS DE PERMEABILIDADE DOS SOLOS

Antonio Belincanta*

1. INTRODUÇÃO

A água, principalmente nos solos finos e com relação aos seus sólidos, pode
estar presente na constituição química, adsorvida junto à superfície, na
capilaridade e/ou na forma de água livre ou gravitacional. A água livre ocupando
os vazios do solo, quando submetida a diferenças de potenciais, se desloca no
interior do maciço. Esta migração, quando na condição de solo saturado, se
constitui no que se denomina de percolação d’água no solo.
A presença d’água no solo tem sido vista como problema em termos de
engenharia geotécnica, pois gera pressões indesejáveis, migração (percolação),
erosão externa ou interna com entubamento (piping), recalque diferido no
tempo (adensamento de solo), instabilidade de escavações e de taludes,
bombeamento em ferrovias (pumping), redução da resistência ao cisalhamento
ou mesmo da capacidade de suporte em plataformas compactadas ou naturais.

2. FLUXO D’ÁGUA NUM MEIO POROSO

Em geral, todos os poros (vazios) de um solo são interligados, formando


verdadeiros canais por onde a água pode migrar quando da existência de um
potencial ativo. Poros isolados são impossíveis em solos granulares (grossos)
tais como pedregulho, areia e mesmo nos siltes, porém são possíveis em argilas,
mas a prática tem indicado que mesmo nas argilas é baixa a porcentagem de
poros isolados, pelo menos em termos de macroporos.
Como os poros (vazios) dos solos estão interligados, portando
intercomunicados, a água livre flui através destes poros como se escoasse em
canais ou mesmo em tubos. Na figura 1, que representa um solo homogêneo e
saturado, a água flui do ponto (A) para o ponto (B), por exemplo, sendo de poro a
poro sobre uma linha de fluxo tortuosa, portando num canal de seção
transversal variada e de direção também variada. Neste sentido, em termos de
intensidade e direção a água flui com velocidade variando de ponto a ponto,
dependendo do tamanho do poro e de sua posição. Isto acontece numa visão

* Departamento de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Maringá, Av. Colombo, 5790,


Campus Universitário, 87020-900, Maringá-Paraná.
microscópica, mas em termos práticos de engenharia, isto é, numa visão
macroscópica, considera-se que o fluxo do ponto (A) para o ponto (B) se dê
segundo uma linha de fluxo reta, com velocidade constante em termos de
intensidade e direção. Desta maneira o fluxo d’água da superfície que contém o
ponto (A) até aquela que contém o ponto (B), numa forma idealizada, se dará
segundo uma série de canais ou tubos, cuja orientação coincide com as linhas de
fluxo ou de corrente, sendo no caso específico da Figura 1 em linhas de fluxo
retas e verticais.

linha de fluxo, num a


visã o m acroscópica.

linha de fluxo, num a


visã o m icroscópica.

Figura 1 – Representação de fluxo d’água unidimensional, (Lambe e Whitman,1989)

A idealização de que o fluxo d’água no solo se dê através de canais ou tubos


justapostos, de seção transversal correspondente ao solo como um todo, isto é,
com área total igual à área de vazios mais a área de sólidos, permite à aplicação
de alguns princípios da hidráulica clássica como, por exemplo, Bernoulli que é
válido para vasos comunicantes. Os parâmetros determinados e utilizados nesta
idealização de fluxo representam grandezas fictícias, mas servem para transferir
ao macro o que realmente acontece no micro. Apesar destes parâmetros serem
fictícios eles preenchem plenamente os propósitos de engenharia.

3. EQUAÇÃO DE BERNOULLI

A equação de Bernoulli se relaciona não só às energias cinética e potencial,


contidas em qualquer ponto de um líquido incompressível, em regime de
escoamento permanente em um vaso comunicante ou em uma linha ou canal de
fluxo, mas também se relaciona à transferência de energia neste ponto, sendo
esta relação expressa no que se denomina de carga total de Bernoulli. A carga
total de Bernoulli é composta de três parcelas a saber:
. carga altimétrica (posição)

10
. carga piezométrica (pressão)
. carga cinética (velocidade)
De maneira simplificada a equação de Bernoulli pode ser demonstrada
como se segue, tomando como base o canal de fluxo da Figura 2, cuja orientação
e sentido correspondem às das linhas de corrente. Para esta demonstração
serão utilizados os volumes de controle BCDE e B’C’D’E’, também representados
na Figura 2, assim como a metodologia contida em Bastos (1983).

Pto 2 D'
D p
2

2'
2
E'
E
dl 2

Pto 1
B'
B 1'
Z2
1
C'
C dl 1
p
1

Z1

plano de re fe rê ncia

Figura 2 – Canal de Fluxo delimitado por duas linhas de corrente. (Bastos,1983)

Sendo (A), (p) e ( ) respectivamente área transversal ao canal de fluxo,


pressão e velocidade, genéricas nos pontos 1 e 2, tem-se para o balanço
energético nos volumes de controle BCDE e B’C’D’E’ o que segue:
v2 v2
p1 .A1 .dl1  p2 .A2 .dl2   A1 .dl1 . w .Z1  A2 .dl2 . w .Z 2  A1 .dl1 . w . 1  A2 .dl2 . w . 2
2 2
v12 v2
A1 .dl1 . w .Z1  p1 .A1 .dl1  A1 .dl1 . w .  A2 .dl2 . w .Z 2  p2 .A2 .dl2  A2 .dl2 . w . 2 (1)
2 2

Considerando o peso específico d’água (  w  g . w ), onde (g) é a aceleração


da gravidade e (  w ) é a massa específica d’água, e também considerando
A1 .dl1 . w  A2 .dl2 . w , tem-se finalmente pela equação 1:

11
p1 v12 p v2
Z1    Z2  2  2  H (2)
w 2g w 2g

onde:
Z - parcela correspondente à carga altimética
p / w - parcela correspondente à carga piezométrica
v2 / 2g - parcela correspondente à carga cinética
H - carga total de Bernoulli, correspondente à soma das
parcelas altimétrica, piezométrica e cinética
A carga total de Bernoulli (H), neste caso em que é considerada a
conservação de energia de fluxo, é constante em qualquer ponto da linha de
corrente em questão. Esta mesma equação de Bernoulli pode ser aplicada nas
linhas de corrente ou de fluxo, idealizadas em solo.
Nos casos reais de escoamento d’água em tubulações ou em canais, há
perda de carga total de Bernoulli, o que também acontece ao longo de uma linha
de corrente ou de fluxo no solo. Portanto, no caso real, a carga total de Bernoulli
vai se reduzindo à medida que o fluxo se processa ao longo da linha de corrente,
sendo esta condição esquematicamente ilustrada na Figura 3.
A carga total de Bernoulli, com referência aos pontos 1 e 2 da linha de
fluxo, representada na Figura 3, pode facilmente ser determinada pelas
equações 3 e 4, onde (H) representa a perda de carga total de Bernoulli,
existente no fluxo do ponto 1 até o ponto 2.

p1 v12 p v2
Z1    Z 2  2  2  H (3)
w 2g w 2g

H1  H 2  H (4)

2 H Carga total H
v1 /2g de Be rnoulli
2
p 1/ w v2 /2g

H1
1 p2/ w 
linha de fluxo H2
2
Z1
Z2

linha de re fe rê ncia

Figura 3 – Aplicação de Bernoulli numa linha de fluxo, em solo.

12
A percolação d’água nos meios porosos, nos casos de interesse, deixando-se
de lado os casos de solos constituídos de pedregulho, se dá no regime laminar e
com velocidade de percolação muito baixa, isto é, com velocidades inferiores a
10-2m/s. Desta maneira a parcela de carga cinética é desprezível em relação às
parcelas piezométrica e altimétrica, portanto a carga total pela equação de
Bernoulli passa a ser:
p
H Z (5)
w

Torna-se importante estabelecer como regra geral, válido para percolação


d’água em meio poroso e com referência a linhas de fluxo, o que segue:
a) entre dois pontos de uma linha de fluxo sempre há uma perda de carga total
de Bernoulli, (H); e
b) o fluxo d’água, com referência a uma linha de corrente ou de fluxo qualquer,
se dá no sentido que vai do ponto de maior carga total de Bernoulli ao ponto
de menor carga total de Bernoulli.

4. LEI DE DARCY

Darcy, engenheiro francês, verificou em experimentos de laboratório que a


vazão (Q) em meio poroso, referente a um canal de fluxo idealizado, de área
transversal (A) e de comprimento (dl), representado na Figura 4, pode ser
expressa pelas equações 6 e 7.

Q  k .A.H / dl (6)
Q  k .i.A (7)
i  H / dl (8)

onde:
A - área transversal total (área transversal de sólidos mais a de
vazios) do canal de fluxo definido pelas linhas de fluxo;
H - perda de carga total de Bernoulli, ocorrida entre 1 e 2,
referente à linha de fluxo de comprimento (dl);
dl - comprimento das linhas de fluxo entre os pontos 1 e 2;
i - gradiente hidráulico, correspondente à perda de carga total de
Bernoulli, por unidade de comprimento ( i  H / dl );
k - coeficiente de permeabilidade.

13
carga total
H de Be rn oulli

1
linhas de 2
fluxo
dl

linha d e re fe rê ncia
Figura 4 – Seção elementar genérica de um canal de fluxo.

A equação de Darcy diz, tão e somente, que a vazão d’água num canal de
fluxo num meio poroso é proporcional não só à área total (A), transversal às
linhas de fluxo ou de corrente que definem o canal em consideração, mas
também é proporcional ao gradiente hidráulico (i). O coeficiente de
proporcionalidade é denominado de coeficiente de permeabilidade, sendo o
mesmo representado pela letra (k).
Como a vazão é a velocidade de escoamento (), multiplicada pela área total
(A), transversal ao canal de fluxo no ponto em consideração, nota-se facilmente
pela equação 7 que a velocidade () é igual ao produto do coeficiente de
permeabilidade (k) pelo gradiente hidráulico (i), isto é:

v  k .i (9)

A velocidade (), que aparece na lei de Darcy, é uma velocidade de descarga


ou escoamento ou de vazão, a qual poderia ser denominada de velocidade de
Darcy, sendo diferente da velocidade real do fluxo d’água que toma lugar entre
os vazios do solo. A velocidade que realmente ocorre nos vazios, segundo a
direção do fluxo linear idealizado, o que ainda não é a verdadeira se considerada
a tortuosidade real das linhas de corrente ou de fluxo, é denominada de
velocidade de percolação ( v p ). Esta velocidade de percolação ( v p ) é
extremamente maior do que a velocidade de descarga () e é dependente, entre
outros fatores, da porosidade ou índice de vazios.
A velocidade de percolação ( v p ) pode, em primeira aproximação, ser
relacionada à velocidade (), através da porosidade (n) ou do índice de vazios
(e) do solo, em conformidade com a equação 10.

14
v.1  e  v
vp   (10)
e n

Deve-se salientar que:


a) a lei de Darcy é válida somente em condições de fluxo em regime laminar, o
que em primeira aproximação acontece em solos que vão das argilas até as
areias, excetuando-se os pedregulhos;
b) a permeabilidade é definida como sendo a propriedade que os solos tem de
permitir o escoamento d’água através de seus poros (vazios);
c) a permeabilidade é expressa numericamente pelo coeficiente (k), em
unidades de velocidade (m/s, cm/s...), e relaciona em grau a facilidade que o
solo oferece à passagem d’água através de seus vazios; e
c) o coeficiente de permeabilidade (k), assim como as velocidades de
escoamento () ou de percolação ( v p ) e gradiente (i), são grandezas fictícias
e se referem à lei de Darcy. No entanto elas preenchem os requisitos
necessários à solução prática de uma série de problemas na engenharia
geotécnica.

5. FATORES QUE INTERVÊM NA


PERMEABILIDADE DOS SOLOS

Os fatores que intervêm na permeabilidade dos solos são separados em dois


grupos. O primeiro contempla aqueles fatores relacionados ao fluído, tais como peso
específico e viscosidade, sendo que os mesmos são dependentes da temperatura. Já
o segundo grupo contempla os fatores que se relacionam com a natureza e com o
estado do solo, tais como dimensão dos vazios (granulometria, estrutura do solo
com seus macroporos), índice de vazios (e) ou porosidade (n), grau de saturação e
anisotropia, entre outros.

6. DETERMINAÇÃO DO COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE

O coeficiente de permeabilidade pode ser determinado através de métodos


diretos (laboratório e campo) ou através de métodos indiretos (relações,
correlações).
No laboratório, a permeabilidade é determinada através de dispositivos
conhecidos por permeâmetro, onde as amostras de solo são submetidas a
gradiente hidráulico constante ou variável, correspondente portanto a uma
vazão constante ou variável. No campo o coeficiente de permeabilidade é
determinado através de bombeamento em poços, de infiltrações em furos de
sondagens ou em cavas.
15
Por outro lado, os métodos indiretos de determinação do coeficiente de
permeabilidade estão associados à interpretação de fenômenos que dependem
do coeficiente de permeabilidade, como é o caso do ensaio de adensamento de
solo, ou simplesmente às correlações empíricas como aquelas que se relacionam
com a granulometria de solos granulares (exemplo: correlação de Hazen, que é
válida para as areias).

7. FORÇA DE PERCOLAÇÃO

Havendo migração d’água através de um solo, ocorre a transferência de


esforços desta água em movimento para os sólidos do solo (arcabouço sólido),
manifestando-se inclusive na forma de perdas de carga total de Bernoulli.
Os esforços transferidos aos sólidos são provenientes das forças de arraste,
denominadas em mecânica dos solos de forças de percolação, sendo que estas
forças se orientam no sentido das linhas de fluxo, quando em solos homogêneos.
Com o objetivo de simplificar a demonstração da determinação de uma
expressão matemática que relaciona as forças de percolação com o gradiente
hidráulico, tomar-se-á como base o equilíbrio horizontal de um segmento
elementar de um canal de fluxo em solo, no seu trecho horizontal, representado
na Figura 5 por BCDE, onde, com referência aos pontos 1 e 2: (A) será a seção
transversal; (H1) e (H2), cargas total de Bernoulli; ( 1' ) e ( 2' ), tensões efetivas
ou intergranulares; e ( 1 ) e (  2 ), pressões neutras.

H1 H2

B D

Re f. de 1 2 dx
1 2
Be rnoulli

C E
1 2
dl

Figura 5 – Canal de fluxo genérico em um solo.

O equilíbrio do segmento de solo BCDE, de comprimento (dl), área


transversal constante (A), volume (A.dl), sujeito a um fluxo horizontal,
esquematicamente representado na Figura 5, pode ser verificado como segue,
considerando os esforços aplicados nas seções BC e DE, sendo (  ) e ( ' )

16
respectivamente a pressão neutra e a pressão efetiva, em termos de tensões
médias:
( 1  1' ).A  (  2  2' ).A  0

Portanto a força total de arraste atuante no volume (A.dl) é:


 2 '  1 '.A  (1   2 ).A  força total de arraste

efeitos dos esforços, esforços de arraste,


transferidos para a transferidos para a
estrutura de sólidos estrutura de sólidos
A força total de arraste atuante no volume (A.dl) pode ser determinada,
considerando as cargas de Bernoulli (H1=µ1 /w) e (H2=µ2 /w), existentes nos
pontos 1 e 2, respectivamente:
( 2 '1 ' ).A  (H1 . w  H 2 . w ).A (11)

O primeiro termo da equação 11 corresponde às forças de reação oferecidas


pelo arcabouço sólido para fazer frente às forças de percolação ou de arraste,
que são representadas pelo segundo termo.
As forças de percolação ou de arraste podem ser expressas na forma de
força por unidade de volume, sendo designada por (fp). Sendo  A.dl  o volume
do segmento elementar do canal de fluxo, representado na Figura 5, e
considerando a equação 11, se tem:

2 '1 'A  H1  H 2  w .A


A.dl A.dl

fp 
H1  H 2  w 
H
 w  i. w (12)
dl dl

Desta maneira, generalizando, a força de percolação por unidade de


 
volume f p , atuante no mesmo sentido do fluxo, é igual ao produto do
gradiente hidráulico i  pelo peso específico d’água  w  .

A força de percolação não é nada mais do que uma força de arraste que
atua sobre os sólidos na mesma direção das linhas de fluxo, tendo como
unidade a mesma do peso específico, isto é, força por unidade de volume.

17
8. EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO 1

Com o solo colocado no permeâmetro de carga constante da Figura 6, onde


as linhas de fluxo são horizontais, determinar a carga total de Bernoulli, a vazão,
a pressão neutra nos pontos B, C e D, velocidade de vazão e de percolação e, por
fim, a força de percolação por unidade de volume e total. Sabe-se que a área da
amostra de solo, transversal às linhas de fluxo, é de (A = 20,0cm²), índice
de vazios (e=0,5) e coeficiente de permeabilidade (k = 10-2cm/s).
Para se resolver um problema deste tipo, deve-se começar pela
determinação do diagrama de carga total de Bernoulli e também do diagrama da
parcela de carga altimétrica para os pontos B, C e D.
No traçado do diagrama de carga total de Bernoulli deve-se levar em
consideração o fato de que a carga total em (B) é igual a carga total em (1),
assim como a carga total em (D) é igual a carga total em (2), pois entre (1) e (B)
e entre (D) e (2), a perda de carga é considerada desprezível, portanto em
conformidade à linha de referência adotada:

H B  H1  200cm

H D  H 2  140cm

linha de carga total


1
de Be rnoulli

H1= 200cm 2
te la te la
B C D H2 = 140c m

ZB= ZC= ZD = 40cm l c = 15cm


l = 40cm
linha de re fe rê ncia

Figura 6 – Permeâmetro de carga constante.

O diagrama referente à carga altimétrica, para a linha de corrente BD, é a


própria linha, sendo portanto: Z B  ZC  Z D  40cm , pois as linhas de corrente
no corpo de prova são horizontais e paralelas à linha tomada como de referência
para Bernoulli.
18
Para determinar a vazão, usa-se a lei de Darcy (equação 6), sendo que: a) as
linhas de corrente (linhas de fluxo) tem por comprimento,   40cm ; b) a perda
de carga, entre a seção de entrada das linhas de fluxo e a seção de saída, é igual a
H B  H D  H  60cm ; c) área transversal, A=20cm2 e d) coeficiente de
permeabilidade, k= 10-2cm/s.
Q  k.A.H/ (6)

Q  102 x 20 x60 / 40  3x101 cm3 / s

As pressões neutras nos pontos (B) e (D) são determinadas tomando em


consideração as respectivas cargas total e altimétrica de Bernoulli e o peso
específico d’água (  w  1,0 gf / cm3 ).
H B  Z B  B / w H D  ZD   D /  w

200  40   B / 1,0 140  40   D / 1,0

 B  160,0 gf / cm 2  D  100,0 gf / cm 2

Como a amostra de solo é homogênea, o gradiente hidráulico i  referente


às linhas de fluxo de (B) até (D) é constante e pode ser calculado pela equação 8,
do item 4.
HB  HD 60
i  H /     1,5
 40

Considerando as definições de gradiente hidráulico i  , de carga total de


Bernoulli (H) e também de perda de carga total (H), representadas
respectivamente pelas expressões 8, 5 e 4, pode-se facilmente determinar para o
ponto (C), tanto a carga total de Bernoulli, (HC), quanto a pressão neutra, (C).

H  H B  H C  i. C

200  H C  1,5x15

H C  177,5cm

H C  Z C  C /  w

177,5  40   C / 1,0

 C  137,5gf / cm 2

19
As velocidades de escoamento v  e de percolação v p   são facilmente
calculadas pela utilização das equações 9 e 10, respectivamente.

v  k.i  10 2 x1,5  1,5x10 2 cm/s

1 e 1  0,5
vp  v  1,5x10  2 x  4,5x10  2 cm/s
e 0,5

As forças de percolação por unidade de volume fp  


e total Fp são
também facilmente calculadas tomando como base a equação (12).

f p  i.  w  1,5x1,0  1,5gf/cm 3

Fp  f p .Vol  1,5x20x40  1200gf  1,2kgf

Deve-se observar que a força de percolação, neste caso específico, é


resistida pela reação da tela de proteção, colocada na saída do permeâmetro.

9. MÉTODOS DE VERIFICAÇÃO DE EQUILÍBRIO DE


UM ELEMENTO DE SOLO, QUANDO DA
EXISTÊNCIA DE PERCOLAÇÃO

O equilíbrio do elemento de solo BCDE, representado na Figura 7, com


seção transversal (A), tensões intergranulares ( 1' ) e ( 2' ), pressões neutras
( 1 ) e (  2 ), atuantes respectivamente em BC e DE, com pesos específicos do
solo saturado e submerso, respectivamente, (sat) e (sub), peso específico d’água
(w), pode ser estabelecido ou verificado de duas formas:
a) Tomando como base as tensões efetivas intergranulares, isto é, esforços
atuantes no arcabouço sólido do elemento de solo (Método A). Este caso é o
de combinar as forças intergranulares de periferia com o peso efetivo do
elemento de solo e, também, com as forças efetivas de percolação atuantes
no sentido do fluxo, isto é, combinação de ( ’;  ) de periferia com (sub) e
(fp).
b) Tomando como base as tensões totais atuantes no elemento de solo
(Método B). Este caso é o de combinar as forças totais de periferia com
o peso total do elemento de solo, isto é, combinação das tensões totais
de periferia (= ’+ u; ) com o peso específico saturado ( sat).
Procurar-se-á a seguir avaliar a equivalência existente entre os dois
métodos.

20
Aplicando-se o “Método A”, na verificação do equilíbrio do elemento BCDE,
representado na Figura 7, na direção vertical, sendo também as forças de
percolação atuantes no sentido ascendente, considerando a inexistência de
tensões de cisalhamento de periferia, tem-se:

(1 ' 2 ' ).A   sub .A.dz  f p .A.dz  0 (13)

forças intergranulares peso forças de


(efetivas) de periferia submerso percolação

1 '.A   2 '.A  (  sat   w ).A.dz  i. w .A.dz  0 (14)

2'
H 2= 2 + d z 2 = (H 2-d z ) 
w
w

D E
2

dz
H 1= 1 /  w
Re fe rê ncia 1
B C
de Be rnoulli
1 = H1 w

1'

Figura 7 – Equilíbrio de um elemento de solo, num canal de fluxo vertical,


segundo a direção vertical.

Considerando na equação 14, as cargas total de Bernoulli existentes,


respectivamente, nas seções BC e DE, em função da pressão neutra e quando da
referência de Bernoulli passando por BC, tem-se:

21
1
1 '.A   2 '.A  (  sat   w ).A.dz  ( H1  H 2 ). w .A.dz  0
dz

1 u u
1 '.A   2 '.A  (  sat   w ).A.dz  ( 1  2  dz). w .A.dz  0
dz  w  w

1 '.A  u1.A   2 '.A  u 2 .A   w .A.dz   sat .A.dz   w .A.dz  0

1 '.A  u1 .A   2 '.A  u 2 .A   sat .A.dz  0

(1 ' u 1 ).A  ( 2 ' u 2 ).A   sat .A.dz  0 (15)

Forças totais de periferia peso total do elemento

A equação 13 fundamenta o “Método A”, na verificação do equilíbrio de


elemento de solo, tomando como base as tensões efetivas de periferia (’), o
peso específico submerso (sub= sat - w) e a força de percolação por unidade de
volume (fp). Este método se fundamenta basicamente no equilíbrio do esqueleto
sólido (arcabouço sólido), portanto se fundamenta nos esforços intergranulares,
isto é, nos denominados esforços efetivos.
A equação 15 fundamenta o “Método B”, na verificação do equilíbrio de
elemento de solo, tomando como base as tensões totais de periferia (=’+u; )
e o peso específico saturado (sat = sub+ w).
O “Método B” é o mais utilizado quando do dimensionamento de obras
geotécnicas que envolvem percolação d’água, mas existem casos específicos em
que o emprego do primeiro método, que se fundamenta na equação 13, isto é, o
“Método A”, é o mais indicado.

10. EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO 2

Verificar o equilíbrio do solo arenoso (areia) colocado no permeâmetro da


Figura 8, com linhas de fluxo verticais e sujeito a gradiente hidráulico
ascendente, aplicando os métodos (A) e (B), anteriormente apresentados e
discutidos no item 9. Determinar também a pressão neutra existente em
qualquer ponto entre (C) e (B). O corpo de prova tem 20,0cm² de seção
transversal e peso específico saturado, (  sat  2,4gf / cm3 ).

A solução deste problema começa pela determinação dos diagramas de


carga total de Bernoulli (H) e carga altimétrica (Z), que dão base inclusive ao
cálculo de pressão neutra de poro.
22
Determinação dos diagramas de carga total e altimétrica de Bernoulli e,
também, do diagrama de pressão neutra

. determinação de (HB) e (HC)


HB = Z1 = 170cm
HC = Z2 = 110cm

. determinação de (  B ) e ( C ), utilizando a equação 5.

H B  Z B   B /  w 170  0   B / 1,0   B  170,0 gf / cm2

H C  ZC  C /  w 110  60  C / 1,0  C  50,0 gf / cm2

1
 h=  H= 60cm
2 110

Z1= 170cm l = 50
C 110 60 50
Z 2 = 110cm
Z
L= 60
x H 
=Z
Re ferê ncia 170 170
de Bernoulli Te la ou B
grade
90cm

170 -90 260


Carga Ca rga Pre ssão ne utra
Total Altim é trica (gf/cm 2 )
(cm ) (cm )

Figura 8 – Permeâmetro de carga constante.

. determinação do gradiente hidráulico (i), existente entre (B) e (C).


A amostra de solo, colocada no permeâmetro, é homogênea, portanto o
gradiente hidráulico de (B) a (C) é constante, podendo facilmente ser
determinado:
23
i = (HB – HC)/L = (170 – 110)/60 = 1cm/cm

. determinação da carga total de Bernoulli (Hx), para um ponto genérico


(ponto X), situado entre (B) e (C).
(HB – HX)/  = i  HX = HB - i. 

HX = 170 – i.  (cm)

. determinação da pressão neutra (uX), para um ponto genérico (ponto X),


situado entre (B) e (C).
HX = uX/w + Z
uX = (HX - Z).w

Substituindo (HX) por (170 – i.  ), considerando (w = 1gf/cm3),


(Z =  ) e (i = 1) , tem-se:
uX = 170 - 2  (gf/cm2)

Determinação da tensão efetiva existente em um ponto genérico (ponto X),


situado entre (B) e (C), utilizando o “Método A”

Para se determinar a tensão efetiva existente no ponto genérico (ponto X),


deve-se verificar o equilíbrio da parte do corpo de prova, compreendida entre
(X) e (C), tomando como base as equações 13 e 14:
X’.A - C’.A - sub.A.(L-  ) + i.w.A.(L -  ) = 0
sendo (C’ = 0), tem-se:

X’ = (sub - i.w ).(L-  ) (16)

X’ =  (2,4 – 1,0) – 1,0 x 1,0 (60-  )

X’ = 0,4 (60-  ) = 24 – 0,4 

Para 0    60cm, tem-se que 24  X’  0, em gf/cm2, portanto a tensão


efetiva em todo o corpo de prova é maior do que zero, significando que os
sólidos (grãos de areia) não se encontram em flutuação ou na condição de
arraste.

24
Este problema, devido as suas condições específicas, isto é, (C’ = 0), pode
também ser analisado quanto à flutuação de seus sólidos, tomando como base a
equação 16:
X’ = (sub.- i.w ).(L-  )

Para que haja flutuação dos sólidos é necessário que X’  0, logo:
(sub.- i.w )  0
i  sub /w  i  (sat -w) /w (17)

Neste caso específico, deste solo colocado neste permeâmetro, para que
haja flutuação dos sólidos, o gradiente hidráulico deverá ser maior do que i (
2,4-1,0)/1,0, isto é, i  1,4. Como este corpo de prova está sujeito a um gradiente
menor do que (1,4), isto é, (i = 1,0), os seus sólidos não estão em estado de
flutuação.

Determinação de (H = HB – HC), para que comece a haver flutuação dos


sólidos.
Da equação 17, facilmente se deduz:
(H/L)  (sat -w) /w
H  (2,4 – 1,0).60 /1,0
H  84cm

Neste experimento de laboratório, em que a amostra de solo é homogênea,


a flutuação com arraste de sólidos começa a acontecer a partir do instante em
que a diferença de nível d’água entre a entrada e a saída do permeâmetro atinge
o valor de (H1 – H2 = 84cm).

Determinação da tensão efetiva existente em um ponto genérico (ponto X),


situado entre (B) e (C), utilizando o “Método B”.

Para se determinar a tensão efetiva existente num ponto genérico (ponto


X), neste exercício, verificar-se-á o equilíbrio da parte do corpo de prova
compreendida entre (X) e (C), tomando como base a equação 15.
X.A - C.A -sat.A.(L -  ) = 0

(X’ + uX).A – (C’ + uC).A - sat.A.(L -  ) = 0


Sendo (C’= 0), tem-se:

X’ = ( -uX + uC) +sat(L -  )


25
X’ = ( -170 +2  + 50) +2,4(60 -  )
X’ = (24 - 0,4  ) (gf/cm2)

Para 0    60cm, tem-se que 24  X’  0, em gf/cm2, portanto a tensão


efetiva em todo o corpo de prova é maior do que zero, significando que os
sólidos deste corpo de prova não se encontram em flutuação ou na condição de
arraste. Esta conclusão é a mesma daquela obtida através do “Método A”, o que
naturalmente não poderia ser diferente.

11. CAPILARIDADE NOS SOLOS

A capilaridade é a propriedade pela qual a água alcança, em tubos de


pequeno diâmetro (tubos capilares), pontos situados acima do seu nível freático.
Denomina-se nível freático a superfície plana d’água onde a pressão neutra se
iguala a da atmosfera. Nos estudos de mecânica dos solos a pressão atmosférica
é considerada como de referência, portanto igual a zero.
Os fenômenos de capilaridade estão associados à tensão superficial
existente num líquido e também às condições de contato do líquido com as
paredes do tubo. Na Figura 9, apresentam-se detalhes da ascensão da coluna
d’água num tubo de raio (r). A altura de ascensão ( hc ) se relaciona não só com o
raio do tubo (r) mas também com a tensão superficial ( Ts ) e com o ângulo  ,
através da equação 18 (Pinto, 2000). O ângulo () é o ângulo que o menisco
capilar (superfície curva) faz no contato com as paredes do tubo. A tensão de
contato ( Ts ) depende das condições da parede do tubo e do líquido, que no caso
de solo tem sido geralmente a água.
2.Ts .cos 
hc  (18)
 w .r

Pela expressão 18, nota-se que ( hc ) é inversamente proporcional ao raio


(r=D/2) do tubo.

26
w h c
C - Ts Ts
 p ar
hc

Re fe rê ncia
de Be rnoulli A B D

h1
E +
w h 1 2r

Figura 9 – Representação da ascensão capilar em tubo.

Aplicando-se os conceitos de Bernoulli, isto é, levando-se em consideração a


condição de vasos comunicantes, facilmente se determina o diagrama das
pressões neutras. Ao longo da ascensão d’água, de (B) a (C), a pressão neutra é
negativa, isto é, é menor que a atmosférica chegando ao máximo valor negativo
de (-  w .h C ).

H A  H B  HC  H D  H E  0

H C  hC   C /  w  0   C    w .hC

H E   h1   E /  w  0   E   w .h1

H B  0   B /  w  0  B  0

Pela capilaridade a água se ascende no solo acima do nível freático


subterrâneo até uma altura que depende das dimensões dos vazios do solo.
Nas areias esta ascensão é de poucos centímetros, mas nas argilas pode
chegar a valores correspondentes a várias dezenas de metro (pode atingir
valores superiores a 30m, como notificado por diversos pesquisadores).
Na Figura 10, apresenta-se esquematicamente a ascensão capilar num
solo, salientando-se a posição do nível d’água e as condições inerentes não
só à pressão neutra de poro mas também ao peso específico.

27
peso e spe cífico p/
Condiçã o d e pre ssã o cálculo das pre ssõe s
poço (  1m ) ne utra de poro ge ostáticas ve rticais,
total.
m en iscos capilare s
Solo úm ido isola dos. Dificulda d e n a 
d et. da pressão n eutra.

Fran ja capilar (solo com pre ssão n e utra


 sat
e le vado grau de saturação) ne gativa

pre ssão n e utra


Solo saturado  sat
positiva

Figura 10 – Capilaridade em subsolo

12. EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO 3

Determinar as pressões geostáticas verticais (total, neutra e efetiva)


considerando a existência do nível freático subterrâneo a 4,0m de profundidade
e franja capilar situada de 1,5m até 4,0m de profundidade, tomando como
referência a Figura 11.
0,0m
A
 nat = 17,5 kN/m ³
1,5m
B
Are ia
26,25 - 25,00 26,25 25,00
51,25
Argila  nat =  sat = 18,5 kN/m ³
N.A. 72,50 72,50
4,0m
C

Argila  nat =  sat = 18,5 kN/m ³

146,50 40,00 106,50


8,0m
D

Pe dre gulho  nat =  sat = 19,0 kN/m ³


+

E 279,50 110,00 169,50


15,0m
(a) (b) (c)
pre ssão pre ssão pre ssão
total ne utra e fe tiva
Figura 11 – Subsolo com existência de franja capilar.
28
a) determinação das pressões totais b) determinação das pressões neutras
A  A  0 A  A  0

B   B   A  1,5 x17 ,5  26 ,25kN / m 2 B   B  2,5x10,0  25,0kN / m 2

C  C   B  2,5 x18,5  72 ,50kN / m 2 C  C  0,0

D   D  C  4,0 x18,5  146,50kN / m 2 D   D  C  4,0 x10,0  40 ,0kN / m 2

E   E   D  7 ,0 x19,0  279,50kN / m 2 E   E   D  7 ,0 x10 ,0  110,0kN / m 2

Tendo-se as pressões totais e neutras facilmente se determinam as pressões


intergranulares, considerando-se o princípio das pressões efetivas de Terzaghi,
( '     ).

13. TENSÕES CAPILARES EM SOLOS NÃO SATURADOS

Nos solos não saturados há formação de meniscos capilares entre os quais a


água se encontra com pressão neutra negativa (sucção). Os meniscos tenderão,
através das pressões de contato (tensões de contato, Ts), a comprimir os sólidos
uns contra os outros. Isto faz com que haja um certo efeito de solidarização
entre os sólidos, havendo ganho em termos de resistência ao cisalhamento e
resultando no que se chama, em mecânica dos solos, de coesão aparente. A
coesão aparente depende das condições de umidade do solo, tendendo a
desaparecer quando o solo estiver saturado.
As argilas quando submetidas à secagem, tem o raio de curvatura dos
meniscos diminuídos e as pressões de contato intergranular aumentadas. Isto se
constitui num fator a mais de contração do solo e de aumento de resistência ao
cisalhamento.
Na Figura 12, são ilustradas as formações de meniscos num solo não
saturado, com o conseqüente aumento das tensões efetivas intergranulares.

29
bolha de ar Água c/ pre ssão
ne utra ne gativa

m e niscos

Obs.:
Os m e niscos aum e ntam
as te nsõe s e fe tivas
inte rgra nulare s

Figura 12 – meniscos capilares em solos não saturados.

Naturalmente esta visão do fenômeno de capilaridade no solo e seus efeitos,


exposta neste item 13, é relativamente simplista, mas conveniente aos
propósitos destas anotações.

14. EXERCÍCIOS PROPOSTOS


14.1 – Demonstrar a expressão matemática que associa a velocidade de
percolação (vp) com a velocidade de vazão (v), através do índice de
vazios (e) e da porosidade ().
vp = v(1+e)/e = v/ 

14.2 – Foi construído um canal para condução de água de irrigação. Num


determinado trecho o mesmo é paralelo ao rio, tendo como seção
transversal típica a que é representada na Figura 13. Constatou-se uma
lente de areia com espessura de 0,5m, interligando o canal com o rio.
Para a condição de coeficiente de permeabilidade da areia
( k  102 cm / s ) e níveis d’água de vazante e cheia do rio nas cotas
498m e 504m, respectivamente, deseja-se saber com referência à lente
de areia o que segue:
a) sentido de vazão;
b) vazão por metro linear;
c) gradiente hidráulico e velocidades de descarga e de percolação,
considerando que a areia tem índice de vazios, (e=0,5);
d) sentido e valor da força de percolação por unidade de volume; e
30
e) pressão neutra referente aos pontos A, B, C e D.

504m (che ia)

500m
498m (vazante )
496m 0,5m
495m
A B
25m C D
25m 25m

Figura 13 – Seção transversal do canal do exercício 14.2

14.3 – Tomando como base o canal de fluxo horizontal esquematizado na


Figura 14, determinar a perda de carga entre A-M e M-B, no caso de
(kAM = 10.kMB) e, também, no caso de (kAM = 100.kMB).

A M B

Figura 14 – Representação esquemática do canal de fluxo do exercício 14.3.

14.4 – Tomando em consideração que o subsolo, esquematizado na Figura 15,


contém dois lençóis d’água subterrâneos, determinar:

31
0,0m
w nat= 1 % Are ia
N.A. (supe rior) -
k= 10 ²cm /s
5,0m sat = 22kN/m ³
s = 26,5kN/m ³
w sat = 14,1 %
9,0m -7
k= 10 cm /s w nat= 40,8 %
w sat = 40,8 % Argila nat= 18kN/m ³ s = 26,7kN/m ³
12,0m
w nat= 2 % Are ia
N.A. (infe rior) -
k= 10 ³cm /s
16,0m sat = 23kN/m ³
s = 26,5kN/m ³
w sat = 10,2 %
20,0m
Rocha
Figura 15 – Representação esquemática do subsolo do exercício 14.4.

a) a vazão d’água por metro quadrado, que ocorre através da camada de


argila, alimentada pelo lençol d’água subterrâneo superior. Sabe-se que
há ausência de pressão na água junto à face inferior da camada de
argila, inclusive há gotejamento d’água. Tudo isto significa que a argila
se encontra saturada e que a pressão d’água na face inferior da camada
de argila é a pressão atmosférica.
b) gradiente e força de percolação por unidade de volume na camada
de argila, indicando o respectivo sentido;
c) velocidade de escoamento e velocidade de percolação na camada de argila;
d) diagramas de pressão vertical em termos de pressão total, efetiva e neutra,
até 20m de profundidade.

14.5 – Determinar os diagramas de pressões geostáticas verticais, em termos


de pressão total, neutra e efetiva, referentes ao subsolo
esquematicamente representado na Figura 16. Considerar a existência
de franja capilar situada de 5m até 7m de profundidade.

32
Poço 1
0,0m

Argila  = 16,0kN/m ³

5,0m
Franja capilar
7,0m N.A.

Argila sat = 18,0kN/m ³


10,0m

Are ia na t= 21,8kN/m ³

15,0m
Rocha

Figura 16 – Representação esquemática do subsolo do exercício 14.5.

15. BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA E DE LEITURA


COMPLEMENTAR RECOMENDADA

Optou-se, em função da possível clareza didática, não fazer deste texto uma
revisão bibliográfica. Por se tratar de um assunto já consolidado e de domínio público,
são listadas conjuntamente com a referência bibliográfica publicações também
interessantes à leitura, na forma complementar. O autor acha que esta maneira de
apresentação tem sido uma forma adequada de agregar à este assunto, já há muito
tempo consolidado, sua experiência adquirida como pesquisador do IPT (Instituto de
Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo), por doze anos, e como professor
nesta Instituição na área de geotecnia de campo e de mecânica dos solos teórica e
prática, por dez anos.

BASTOS, F. A. Mecânica dos fluídos. Rio de Janeiro, Editora Guanabara Dois, 1983.
Cap. 12, p. 274-279, problemas 1 e 2., cap. 10, p. 233-239. Cap. 17, p. 349-351.
BUENO, B. S.; Vilar, O. M. Mecânica dos solos”. São Carlos: USP. 1984. Cap. 8.
CAPUTO, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações. Rio de Janeiro: Livros técnicos e
científicos, 1977. v. 1, cap. 7 e 8. v. 3, Exercícios de 171 a 174.
LAMBE, T. W.; WHITMAN, R. V. Soil mechanics. New York: Jonh Willy & Sons. 1979.
Cap. 19, part. IV.
LAMBE, T.W.; WHITMAN, R. V. Mecánica dos suelos. Cidade do México: Editora
Limusa, 1989. Cap. 19.

33
Melo, V.F.B e Teixeira, A.H. Mecânica dos solos. São Carlos, USP. 1971. v. 1,
Cap. 7.
Pinto, C.S. Curso básico de mecânica dos solos. São Paulo, Oficina de Textos, 2000. Cap.
5.

ANEXO A
SIMBOLOGIA BÁSICA
A - área transversal de interesse, perpendicular a linhas de fluxo
Fp - Força total de percolação.
H - carga total de Bernoulli.
L - altura de corpo de prova.
Q - vazão
Ts - Tensão capilar de contato.
Vol - Volume.
Z, z - carga altimétrica de Bernoulli, ou posição de um ponto.
∆H - perda de carga total de Bernoulli, entre dois pontos de uma linha de
corrente ou de fluxo.

d - diâmetro de vazios ou diâmetro interno de tubo.


e - índice de vazios.
fp - Força de percolação por unidade de volume.
g - aceleração da gravidade.
hc - Altura de ascensão capilar.
i - gradiente hidráulico (i=∆H/L =∆H/  ).
k,k - coeficiente de permeabilidade.
 - comprimento de linha de fluxo, de interesse, ou coluna d’água.
n - Porosidade.
p - pressão na água.
r - raio interno de um tubo capilar.
u - Pressão neutra d’água de poro.
 - Velocidade, podendo ser de vazão, de descarga ou de Darcy.
p - velocidade de percolação.

 - Ângulo de contato d’água com a parede de tubo capilar.


’ - Pressões ou tensões efetivas (intergranulares).
 - Pressão ou tensão total.
s - peso específico dos sólidos.
nat - peso específico de solo natural.
sat - peso específico de solo saturado.
w - peso específico d’água.
w - massa específica d’água.

34
35

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