Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ANTONIO BELINCANTA
AGRADECIMENTOS E PARTICIPAÇÕES
7
FUNDAMENTOS BÁSICOS DE PERMEABILIDADE DOS SOLOS
Antonio Belincanta*
1. INTRODUÇÃO
A água, principalmente nos solos finos e com relação aos seus sólidos, pode
estar presente na constituição química, adsorvida junto à superfície, na
capilaridade e/ou na forma de água livre ou gravitacional. A água livre ocupando
os vazios do solo, quando submetida a diferenças de potenciais, se desloca no
interior do maciço. Esta migração, quando na condição de solo saturado, se
constitui no que se denomina de percolação d’água no solo.
A presença d’água no solo tem sido vista como problema em termos de
engenharia geotécnica, pois gera pressões indesejáveis, migração (percolação),
erosão externa ou interna com entubamento (piping), recalque diferido no
tempo (adensamento de solo), instabilidade de escavações e de taludes,
bombeamento em ferrovias (pumping), redução da resistência ao cisalhamento
ou mesmo da capacidade de suporte em plataformas compactadas ou naturais.
3. EQUAÇÃO DE BERNOULLI
10
. carga piezométrica (pressão)
. carga cinética (velocidade)
De maneira simplificada a equação de Bernoulli pode ser demonstrada
como se segue, tomando como base o canal de fluxo da Figura 2, cuja orientação
e sentido correspondem às das linhas de corrente. Para esta demonstração
serão utilizados os volumes de controle BCDE e B’C’D’E’, também representados
na Figura 2, assim como a metodologia contida em Bastos (1983).
Pto 2 D'
D p
2
2'
2
E'
E
dl 2
Pto 1
B'
B 1'
Z2
1
C'
C dl 1
p
1
Z1
plano de re fe rê ncia
11
p1 v12 p v2
Z1 Z2 2 2 H (2)
w 2g w 2g
onde:
Z - parcela correspondente à carga altimética
p / w - parcela correspondente à carga piezométrica
v2 / 2g - parcela correspondente à carga cinética
H - carga total de Bernoulli, correspondente à soma das
parcelas altimétrica, piezométrica e cinética
A carga total de Bernoulli (H), neste caso em que é considerada a
conservação de energia de fluxo, é constante em qualquer ponto da linha de
corrente em questão. Esta mesma equação de Bernoulli pode ser aplicada nas
linhas de corrente ou de fluxo, idealizadas em solo.
Nos casos reais de escoamento d’água em tubulações ou em canais, há
perda de carga total de Bernoulli, o que também acontece ao longo de uma linha
de corrente ou de fluxo no solo. Portanto, no caso real, a carga total de Bernoulli
vai se reduzindo à medida que o fluxo se processa ao longo da linha de corrente,
sendo esta condição esquematicamente ilustrada na Figura 3.
A carga total de Bernoulli, com referência aos pontos 1 e 2 da linha de
fluxo, representada na Figura 3, pode facilmente ser determinada pelas
equações 3 e 4, onde (H) representa a perda de carga total de Bernoulli,
existente no fluxo do ponto 1 até o ponto 2.
p1 v12 p v2
Z1 Z 2 2 2 H (3)
w 2g w 2g
H1 H 2 H (4)
2 H Carga total H
v1 /2g de Be rnoulli
2
p 1/ w v2 /2g
H1
1 p2/ w
linha de fluxo H2
2
Z1
Z2
linha de re fe rê ncia
12
A percolação d’água nos meios porosos, nos casos de interesse, deixando-se
de lado os casos de solos constituídos de pedregulho, se dá no regime laminar e
com velocidade de percolação muito baixa, isto é, com velocidades inferiores a
10-2m/s. Desta maneira a parcela de carga cinética é desprezível em relação às
parcelas piezométrica e altimétrica, portanto a carga total pela equação de
Bernoulli passa a ser:
p
H Z (5)
w
4. LEI DE DARCY
Q k .A.H / dl (6)
Q k .i.A (7)
i H / dl (8)
onde:
A - área transversal total (área transversal de sólidos mais a de
vazios) do canal de fluxo definido pelas linhas de fluxo;
H - perda de carga total de Bernoulli, ocorrida entre 1 e 2,
referente à linha de fluxo de comprimento (dl);
dl - comprimento das linhas de fluxo entre os pontos 1 e 2;
i - gradiente hidráulico, correspondente à perda de carga total de
Bernoulli, por unidade de comprimento ( i H / dl );
k - coeficiente de permeabilidade.
13
carga total
H de Be rn oulli
1
linhas de 2
fluxo
dl
linha d e re fe rê ncia
Figura 4 – Seção elementar genérica de um canal de fluxo.
A equação de Darcy diz, tão e somente, que a vazão d’água num canal de
fluxo num meio poroso é proporcional não só à área total (A), transversal às
linhas de fluxo ou de corrente que definem o canal em consideração, mas
também é proporcional ao gradiente hidráulico (i). O coeficiente de
proporcionalidade é denominado de coeficiente de permeabilidade, sendo o
mesmo representado pela letra (k).
Como a vazão é a velocidade de escoamento (), multiplicada pela área total
(A), transversal ao canal de fluxo no ponto em consideração, nota-se facilmente
pela equação 7 que a velocidade () é igual ao produto do coeficiente de
permeabilidade (k) pelo gradiente hidráulico (i), isto é:
v k .i (9)
14
v.1 e v
vp (10)
e n
7. FORÇA DE PERCOLAÇÃO
H1 H2
B D
Re f. de 1 2 dx
1 2
Be rnoulli
C E
1 2
dl
16
respectivamente a pressão neutra e a pressão efetiva, em termos de tensões
médias:
( 1 1' ).A ( 2 2' ).A 0
fp
H1 H 2 w
H
w i. w (12)
dl dl
A força de percolação não é nada mais do que uma força de arraste que
atua sobre os sólidos na mesma direção das linhas de fluxo, tendo como
unidade a mesma do peso específico, isto é, força por unidade de volume.
17
8. EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO 1
H B H1 200cm
H D H 2 140cm
H1= 200cm 2
te la te la
B C D H2 = 140c m
B 160,0 gf / cm 2 D 100,0 gf / cm 2
H H B H C i. C
200 H C 1,5x15
H C 177,5cm
H C Z C C / w
177,5 40 C / 1,0
C 137,5gf / cm 2
19
As velocidades de escoamento v e de percolação v p são facilmente
calculadas pela utilização das equações 9 e 10, respectivamente.
1 e 1 0,5
vp v 1,5x10 2 x 4,5x10 2 cm/s
e 0,5
f p i. w 1,5x1,0 1,5gf/cm 3
20
Aplicando-se o “Método A”, na verificação do equilíbrio do elemento BCDE,
representado na Figura 7, na direção vertical, sendo também as forças de
percolação atuantes no sentido ascendente, considerando a inexistência de
tensões de cisalhamento de periferia, tem-se:
2'
H 2= 2 + d z 2 = (H 2-d z )
w
w
D E
2
dz
H 1= 1 / w
Re fe rê ncia 1
B C
de Be rnoulli
1 = H1 w
1'
21
1
1 '.A 2 '.A ( sat w ).A.dz ( H1 H 2 ). w .A.dz 0
dz
1 u u
1 '.A 2 '.A ( sat w ).A.dz ( 1 2 dz). w .A.dz 0
dz w w
1
h= H= 60cm
2 110
Z1= 170cm l = 50
C 110 60 50
Z 2 = 110cm
Z
L= 60
x H
=Z
Re ferê ncia 170 170
de Bernoulli Te la ou B
grade
90cm
HX = 170 – i. (cm)
24
Este problema, devido as suas condições específicas, isto é, (C’ = 0), pode
também ser analisado quanto à flutuação de seus sólidos, tomando como base a
equação 16:
X’ = (sub.- i.w ).(L- )
Para que haja flutuação dos sólidos é necessário que X’ 0, logo:
(sub.- i.w ) 0
i sub /w i (sat -w) /w (17)
Neste caso específico, deste solo colocado neste permeâmetro, para que
haja flutuação dos sólidos, o gradiente hidráulico deverá ser maior do que i (
2,4-1,0)/1,0, isto é, i 1,4. Como este corpo de prova está sujeito a um gradiente
menor do que (1,4), isto é, (i = 1,0), os seus sólidos não estão em estado de
flutuação.
26
w h c
C - Ts Ts
p ar
hc
Re fe rê ncia
de Be rnoulli A B D
h1
E +
w h 1 2r
H A H B HC H D H E 0
H C hC C / w 0 C w .hC
H E h1 E / w 0 E w .h1
H B 0 B / w 0 B 0
27
peso e spe cífico p/
Condiçã o d e pre ssã o cálculo das pre ssõe s
poço ( 1m ) ne utra de poro ge ostáticas ve rticais,
total.
m en iscos capilare s
Solo úm ido isola dos. Dificulda d e n a
d et. da pressão n eutra.
29
bolha de ar Água c/ pre ssão
ne utra ne gativa
m e niscos
Obs.:
Os m e niscos aum e ntam
as te nsõe s e fe tivas
inte rgra nulare s
500m
498m (vazante )
496m 0,5m
495m
A B
25m C D
25m 25m
A M B
31
0,0m
w nat= 1 % Are ia
N.A. (supe rior) -
k= 10 ²cm /s
5,0m sat = 22kN/m ³
s = 26,5kN/m ³
w sat = 14,1 %
9,0m -7
k= 10 cm /s w nat= 40,8 %
w sat = 40,8 % Argila nat= 18kN/m ³ s = 26,7kN/m ³
12,0m
w nat= 2 % Are ia
N.A. (infe rior) -
k= 10 ³cm /s
16,0m sat = 23kN/m ³
s = 26,5kN/m ³
w sat = 10,2 %
20,0m
Rocha
Figura 15 – Representação esquemática do subsolo do exercício 14.4.
32
Poço 1
0,0m
Argila = 16,0kN/m ³
5,0m
Franja capilar
7,0m N.A.
15,0m
Rocha
Optou-se, em função da possível clareza didática, não fazer deste texto uma
revisão bibliográfica. Por se tratar de um assunto já consolidado e de domínio público,
são listadas conjuntamente com a referência bibliográfica publicações também
interessantes à leitura, na forma complementar. O autor acha que esta maneira de
apresentação tem sido uma forma adequada de agregar à este assunto, já há muito
tempo consolidado, sua experiência adquirida como pesquisador do IPT (Instituto de
Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo), por doze anos, e como professor
nesta Instituição na área de geotecnia de campo e de mecânica dos solos teórica e
prática, por dez anos.
BASTOS, F. A. Mecânica dos fluídos. Rio de Janeiro, Editora Guanabara Dois, 1983.
Cap. 12, p. 274-279, problemas 1 e 2., cap. 10, p. 233-239. Cap. 17, p. 349-351.
BUENO, B. S.; Vilar, O. M. Mecânica dos solos”. São Carlos: USP. 1984. Cap. 8.
CAPUTO, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações. Rio de Janeiro: Livros técnicos e
científicos, 1977. v. 1, cap. 7 e 8. v. 3, Exercícios de 171 a 174.
LAMBE, T. W.; WHITMAN, R. V. Soil mechanics. New York: Jonh Willy & Sons. 1979.
Cap. 19, part. IV.
LAMBE, T.W.; WHITMAN, R. V. Mecánica dos suelos. Cidade do México: Editora
Limusa, 1989. Cap. 19.
33
Melo, V.F.B e Teixeira, A.H. Mecânica dos solos. São Carlos, USP. 1971. v. 1,
Cap. 7.
Pinto, C.S. Curso básico de mecânica dos solos. São Paulo, Oficina de Textos, 2000. Cap.
5.
ANEXO A
SIMBOLOGIA BÁSICA
A - área transversal de interesse, perpendicular a linhas de fluxo
Fp - Força total de percolação.
H - carga total de Bernoulli.
L - altura de corpo de prova.
Q - vazão
Ts - Tensão capilar de contato.
Vol - Volume.
Z, z - carga altimétrica de Bernoulli, ou posição de um ponto.
∆H - perda de carga total de Bernoulli, entre dois pontos de uma linha de
corrente ou de fluxo.
34
35