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Arq: Decisão
Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJVC/OE Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PK57F YTKJY RR3BB QDXY2
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE VERA CRUZ
COMARCA DE BRACATINGA
5ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA DE BRACATINGA
DECISÃO
Processo 000212121-21.2017.9.21.0212
2. Trata-se de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público do Estado de Vera Cruz em
face de Ambientalis, Município de Bracatinga e Instituto Ambiental de Vera Cruz – IAVC.
Ocorre, porém, que conforme os estudos da equipe técnica do Centro de Apoio Operacional
às Promotorias de Justiça de Proteção ao Meio Ambiente, bem como do Instituto das Águas
do Paraná, existe na área em comento três corpos hídricos com respectivas nascentes e um
bosque nativo.
Discorre o autor que, durante a instrução do inquérito civil, constatou-se que as atividades
da empresa ré ocasionam mau cheiro nas imediações. Além disso, verificou-se que não
foram realizados Estudo Prévio de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental –
EIA/RIMA antes da concessão de licença ambiental, embora sejam estes documentos
obrigatórios.
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conforme dispõe a Resolução CONAMA 001/86 e 7) que seja apresentado pelo Município
resposta ao of. 0940/2014 expedido pela Promotoria de Justiça de Proteção ao Meio Ambiente,
o qual não foi respondido.
Informou, ainda, o IAVC, que foi firmado termo de convênio e cooperação técnica sob o nº
20505 entre o Estado de Vera Cruz e o Município de Bracatinga, cuja cláusula primeira prevê
que o licenciamento ambiental de todos os empreendimentos capazes de causar degradação
ambiental em território municipal será de responsabilidade do Município, por meio da Secretaria
Municipal do Meio Ambiente.
Requereu, por fim, a sua exclusão do polo passivo haja vista a inexistência de irregularidades
na concessão da licença prévia à empresa ré, bem como o novo convênio firmado entre Estado
de Vera Cruz e Município de Bracatinga, que transferiu a competência referente à licença
ambiental para a Secretaria de Meio Ambiente de Bracatinga.
É o relatório.
Decido.
A disposição contida no artigo 461, §3º, do Código de Processo Civil estabelece a possibilidade
de ser antecipada a tutela específica da obrigação de fazer ou não fazer, quando for relevante
o fundamento da demanda e, cumulativamente, houver justificado receio de ineficácia do
provimento final.
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secundária em estágio inicial de regeneração.
As peças do inquérito civil instruído pelo autor revelam, outrossim, que a empresa Ambientalis
pretende utilizar, para a ampliação de suas instalações, uma área de preservação permanente
– APP[1]. Nesse sentido, o parecer técnico do Município de Bracatinga anexado ao movimento 1.18
atesta que sobre o imóvel incidem faixas de APP nas quais existem nascentes e áreas de banhado.
Ademais, o Instituto das Águas do Paraná informou, através do ofício 095/2014 (mov. 1.29),
que cartograficamente existem três corpos hídricos na área, onde também se localizam suas
nascentes.
Pois bem.
“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.
A Lei 6.938 de 31 de agosto de 1981 prevê em seu artigo 9º, inciso III, a avaliação de impactos
ambientais como um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente. O Estudo de
Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) são instrumentos da
avaliação de impactos ambientais e foram regulamentados pela Resolução CONAMA 01/86.
“Art. 1º. Para efeito desta resolução, considera-se impacto ambiental qualquer
alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente,
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causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades
humanas que, direta ou indiretamente, afetam:
III – a biota;
O artigo 2º da mesma Resolução elenca, ao seu turno, um rol de atividades que dependem de
elaboração do estudo de impacto ambiental e relatório de impacto ambiental, dentre as quais
se encontra a atividade desenvolvida pela requerida, veja-se:
Os documentos apresentados pelo autor comprovam que o tipo de atividade desenvolvida pela
empresa ré pode causar severos danos ambientais se não forem adotadas medidas adequadas
para evitar a degradação do meio ambiente.
Dessa forma, resta claro que a realização do Estudo de Impacto Ambiental e do Relatório de
Impacto Ambiental mostra-se necessária para que se proceda à expedição das respectivas
licenças pelo Poder Público.
Frise-se, por oportuno, que a Resolução CONAMA 01/86 tem característica de ato normativo
federal e traz em seu bojo a identificação de quais bens juridicamente protegidos (e que se
eventualmente puderem vir a ser afetados pela atividade que se quer desenvolver) resultam na
necessidade de elaboração do EIA (artigo 1º), elencando ainda as atividades modificadoras do
meio ambiente que necessitarão de licenciamento e do estudo prévio de impacto ambiental
(artigo 2º).
Desta forma, tem-se que o Estudo de Impacto Ambiental, por ter previsão em ato normativo
federal, não exige regulamentação ou interpretação por outra lei, seja lei federal, estadual ou
municipal. Ou seja, a Resolução CONAMA 01/86 tem autoaplicabilidade e seus critérios e
especificações deverão ser observados em todo e qualquer relatório de impacto do meio
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ambiente a ser realizado por conta das atividades modificadoras nela previstas, bem como nas
demais atividades previstas em lei.
Isso porque, como visto, a Resolução CONAMA encontra-se vigente desde 1986, razão pela
qual deveria a Secretaria Municipal do Meio Ambiente ter exigido o EIA/RIMA da empresa ré,
para só então expedir o licenciamento ambiental.
Além disso, por se tratar de dano ao meio ambiente, quanto mais se protrai no tempo o
exercício da atividade irregular mais se torna efetivo o prejuízo, o que gerará a ineficácia do
provimento que, eventualmente, venha a ser concedido em final decisão.
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NORMATIVAS ESTADUAIS E O ARTIGO 225, § 1º, IV, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. ATOS NORMATIVOS QUE CRIAM VERDADEIROS ESPAÇOS DE
NÃO INCIDÊNCIA DE NORMA CONSTITUCIONAL. REGRAS ESTADUAIS QUE
IMPLICAM EM UMA MITIGAÇÃO DOS PARÂMETROS DE PROTEÇÃO
AMBIENTAL DEFINIDOS CONSTITUCIONALMENTE. RECURSO COM
TRÂMITE SUSPENSO. INSTAURAÇÃO DE INCIDENTE DE DECLARAÇÃO DE
INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI.” (TJPR - 4ª C.Cível - AC - 949676-0 - Rio
Branco do Sul - Rel.: Maria Aparecida Blanco de Lima - Unânime - - J.
05.03.2013) – grifei.
Por outro lado, indefiro liminarmente o pedido de apresentação do EIA/RIMA pela empresa ré,
uma vez que não vislumbro o justificado receio de ineficácia do provimento final.
Com relação ao pedido de exclusão do polo passivo feito pelo Instituto Ambiental do Paraná,
entendo por bem não acolhê-lo de pronto e registro que sua análise ocorrerá em momento
oportuno.
3. Expeça-se mandado para intimação dos réus, a fim de que cumpram imediatamente a
liminar deferida, cientificando-os da imposição de multa diária em caso de desobediência.
4. Cite-se a ré Ambientalis, por mandado, para oferecer resposta no prazo de 15 (quinze) dias,
de acordo com a disposição contida no artigo 297 do Código de Processo Civil, sob pena de
serem aceitos como verdadeiros os fatos articulados na inicial.
5. Cite-se o IAVC – Instituto Ambiental do Paraná, por mandado, com as advertências legais
cabíveis à espécie, para oferecimento de resposta, nos termos dos artigos 297 e 188 do
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Código de Processo Civil.
Hilda Helena
Juíza de Direito
[1]A Lei 12.651/2012 em seu artigo 3º define Área de Preservação Permanente – APP como
área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os
recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo
gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.