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SUMÁRIO

1. Introdução...................................................................... 3
2. Sistema nervoso autônomo.................................... 5
3. Transmissão colinérgica.........................................10
4. Agonistas colinérgicos de ação direta..............15
5. Agonistas colinérgicos de ação indireta:
Anticolinesterásicos (reversíveis)............................. 21
6. Agonistas colinérgicos de ação indireta:
Anticolinesterásicos (irreversíveis)........................... 26
Referências Bibliográficas..........................................30
COLINOMIMÉTICOS E ANTICOLINESTERÁSICOS 3

1. INTRODUÇÃO que são ativados pela acetilcolina


(ACh), e os fármacos adrenérgicos
Os fármacos que afetam o sistema
atuam em receptores que são esti-
nervoso autônomo (SNA) são dividi-
mulados pela norepinefrina ou pela
dos em dois grupos, de acordo com o
epinefrina. Os fármacos colinérgicos
tipo de neurônio envolvido nos seus
e adrenérgicos atuam estimulando ou
mecanismos de ação. Os fármacos
bloqueando receptores do SNA.
colinérgicos atuam em receptores
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MAPA MENTAL: FÁRMACOS COLINÉRGICOS

FÁRMACOS
COLINÉRGICOS

Agonistas colinérgicos Agonistas colinérgicos


de ação direta de ação indireta

Agonistas Agonistas Anticolinesterá- Anticolinesterá-


muscarínicos nicotínicos sicos reversíveis sicos irreversíveis

Acetilcolina Betanecol Carbacol Pilocarpina Edrofônio Fisostigmina Neostigmina Ecotiofato


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2. SISTEMA NERVOSO • Todas as secreções exócrinas e al-


AUTÔNOMO gumas endócrinas;
O sistema nervoso autônomo • Os batimentos cardíacos;
(SNA) é composto de três divisões • O metabolismo energético, parti-
anatômicas principais: a simpática, a cularmente no fígado e nos mús-
parassimpática e o sistema nervoso culos esqueléticos.
entérico. Os sistemas simpático e pa-
rassimpático estabelecem um vínculo
entre o sistema nervoso central e os A via eferente autônoma consiste em
órgãos periféricos. O sistema nervo- dois neurônios dispostos em série,
so entérico compreende os plexos que são conhecidos, respectivamen-
nervosos intrínsecos do trato gas- te, como pré-ganglionar e pós-gan-
trointestinal, que estão intimamen- glionar. No sistema nervoso simpá-
te interconectados com os sistemas tico, as sinapses estão localizadas
simpático e parassimpático. em gânglios autônomos, que se lo-
O sistema nervoso autônomo con- calizam fora do sistema nervoso cen-
duz todas as informações provenien- tral e contêm as terminações nervo-
tes do sistema nervoso central para o sas das fibras pré-ganglionares e os
restante do organismo, exceto para a corpos celulares dos neurônios pós-
inervação motora dos músculos es- -ganglionares. Nas vias parassim-
queléticos. Os principais processos páticas, as células pós-ganglionares
que ele regula, em maior ou menor são encontradas principalmente nos
extensão, são: órgãos-alvo, e gânglios parassimpá-
ticos isolados (ex: gânglio ciliar) são
• A contração e o relaxamento encontrados apenas na cabeça e no
da musculatura lisa de vasos e pescoço.
vísceras;
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HORA DA REVISÃO!
Os corpos celulares dos neurônios simpáticos pré-ganglionares localizam-se no cor-
no lateral da substância cinzenta dos segmentos torácicos e lombares da medula espi-
nhal, e as fibras deixam a medula espinhal em nervos espinhais como emergência simpá-
ticotoracolombar. As fibras pré-ganglionares fazem sinapse nas cadeias paravertebrais
de gânglios simpáticos, localizadas em ambos os lados da coluna vertebral. Esses gân-
glios contêm os corpos celulares dos neurônios simpáticos pós-ganglionares, cujos
axônios se reúnem no nervo espinhal. Muitas das fibras simpáticas pós-ganglionares al-
cançam seus destinos periféricos por meio de ramos dos nervos espinhais. Outras, cujos
destinos são as vísceras abdominais e pélvicas, têm seus corpos celulares em um grupo
de gânglios pré-vertebrais desprovidos de par e localizados na cavidade abdominal. A
única exceção a essa estrutura formada por dois neurônios é a inervação da medular da
glândula suprarrenal. As células secretoras de catecolaminas da medula suprarrenal são,
na realidade, neurônios simpáticos pós-ganglionares modificados, e os nervos que iner-
vam a glândula são equivalentes às fibras pré-ganglionares.

Os nervos parassimpáticos emergem de duas regiões diferentes do sistema nervoso


central. A emergência craniana consiste em fibras pré-ganglionares de certos nervos
cranianos, ou seja, do nervo oculomotor (que transporta fibras parassimpáticas destina-
das aos olhos), dos nervos facial e glossofaríngeo (que transportam fibras para as glân-
dulas salivares e para a nasofaringe) e do nervo vago (que transporta fibras para as vís-
ceras torácicas e abdominais). Os gânglios encontram-se espalhados e em íntima relação
com os órgãos-alvo; os neurônios pós-ganglionares são muito curtos quando compa-
rados aos do sistema simpático. As fibras parassimpáticas cujos destinos são as vísceras
abdominais e pélvicas saem da medula espinhal como emergência sacral. Trata-se de um
feixe de nervos conhecido como nervos eretores (porque sua estimulação provoca ereção
genital – um fato de certa importância para os responsáveis pela inseminação artificial do
gado). Essas fibras fazem sinapse em um grupo de gânglios pélvicos dispersos, de onde
as fibras pós-ganglionares curtas saem e rumam para tecidos-alvo como a bexiga, o reto
e os órgãos genitais. Os gânglios pélvicos transportam tanto fibras simpáticas quanto
parassimpáticas, e as duas divisões não são anatomicamente distintas nessa região.


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Figura 1. Esquema básico do sistema nervoso autônomo de mamíferos. Legenda: C, cervical; GI, gastrointestinal;
L, lombar; S, sacral; T, torácico. Fonte: Rang & Dale: Farmacologia, 2016

Em alguns locais (ex: no músculo liso que os dois sistemas produzem efei-
visceral do intestino e da bexiga, e no tos semelhantes, e não opostos.
coração), os sistemas simpático e pa-
rassimpático produzem efeitos opos- SE LIGA! É um erro considerar os sis-
tos; há, contudo, outros locais em que temas simpático e parassimpático sim-
apenas uma divisão do sistema autô- plesmente como oponentes fisiológicos.
nomo opera. As glândulas sudorípa- Cada um cumpre sua própria função
fisiológica e pode estar mais ou menos
ras e a maioria dos vasos sanguíneos, ativo em determinado órgão ou tecido de
por exemplo, têm apenas inervação acordo com a necessidade do momento.
simpática; ao passo que o músculo ci-
liar do olho tem apenas inervação pa-
rassimpática. Existem outros exem- Os dois principais neurotransmis-
plos, como as glândulas salivares, em sores que operam no sistema au-
tônomo são a acetilcolina e a
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norepinefrina. Algumas regras ge- acetilcolina, que age nos recepto-


rais são as seguintes: res muscarínicos.
• Todas as fibras nervosas autonô- • Todas as fibras simpáticas pós-
micas que deixam o sistema ner- -ganglionares (com uma exceção
voso central liberam acetilcolina, importante) liberam norepinefrina,
que age nos receptores nicotínicos que pode agir sobre receptores α
(embora, nos gânglios autônomos, ou β-adrenérgicos. A única exce-
uma pequena parte da estimula- ção consiste na inervação simpá-
ção seja resultante da ativação de tica das glândulas sudoríparas, em
receptores muscarínicos); que a transmissão resulta da ação
da acetilcolina sobre receptores
• Todas as fibras parassimpáti-
muscarínicos.
cas pós-ganglionares liberam

Figura 2. Fisiologia e farmacologia autônoma e somática: compartimentos neuroanatômicos. Legenda: ACh, acetilco-
lina; NN, receptor nicotínico neuronal; NM, receptor nicotínico neuromuscular; M, receptor muscarínico (cinco subtipos);
α/β, receptores adrenérgicos alfa e beta Fonte: Kester et al., Farmacologia, 2008
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As ações do sistema nervoso autô- antagonistas adrenérgicos e podem


nomo são importantes para com- ser resumidas da seguinte forma:
preensão dos efeitos dos fármacos

RESPOSTA COLINÉRGICA RESPOSTA ADRENÉR-


ÓRGÃO OU SISTEMA TÔNUS DOMINANTE
(RECEPTOR) GICA (RECEPTOR)
Diminuição da frequência Aumento da frequência
Coração Parassimpático (M2) (β1)
Diminuição da força (M2) Aumento da força (β2)
Bifásico
Constrição (α1): Tônus de
Dilatação
Vasos sanguíneos Simpático repouso aumenta a PA
Dilatação (β2): diminui a
RVP total e a PA
Árvore brônquica Parassimpático Broncoconstrição Broncodilatação
Olho
Íris, músculo radial Simpático - Contração (midríase; α1)
Íris, músculo circular Parassimpático Contração (miose) -
Contração (visão para Relaxamento (β2) (visão
Músculo ciliar Parassimpático
perto) para longe)
Gastrointestinal
Diminuição da motilidade
Motilidade Parassimpático Aumento da motilidade
(α1)
Esfincteres Parassimpático Relaxamento Constrição (α1)
Secreções Parassimpático Estímulo Diminuição (α1)
Bexiga urinária
Detrusor Parassimpático Contração Relaxamento (β2)
Trígono e esfíncter Simpático Relaxamento Contração (α1)
Glândulas sudoríparas e
Parassimpático Aumento da secreção Aumento da secreção (α1)
salivares
Tabela 1. Resposta fisiológica à atividade nervosa autônoma. Fonte: Kester et al., Farmacologia, 2008
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MAPA MENTAL: SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO

ACh Músculo Sistema somático


(nic) esquelético eferente
SISTEMA NERVOSO CENTRAL

ACh NE Vasos
(nic) (α, β) Sanguíneos, etc
ACh ACh Glândulas Sistema
(nic) (mus) sudoríparas simpático

ACh Medula
(nic) suprarrenal

ACh ACh Glândulas Sistema


(nic) (mus) Salivares, etc parassimpático

3. TRANSMISSÃO A neurotransmissão nos neurônios


COLINÉRGICA colinérgicos envolve seis etapas
sequenciais:
A fibra pré-ganglionar que termina na
suprarrenal, o gânglio autônomo (tan- • Síntese de ACh: a colina é transpor-
to parassimpático como simpático) e tada do líquido extracelular para o
as fibras pós-ganglionares da divi- citoplasma do neurônio colinérgico
são parassimpática usam ACh como por um sistema carregador depen-
neurotransmissor. A divisão pós- dente de energia que cotransporta
-ganglionar simpática das glândulas sódio e pode ser inibido por hemi-
sudoríparas também usa ACh. Além colínio. A captação da colina é o
disso, neurônios colinérgicos inervam passo limitante da síntese de ACh.
os músculos do sistema somático e A colina-acetiltransferase catalisa
também desempenham função im- a reação da colina com a acetilco-
portante no sistema nervoso central enzima A (CoA) para formar ACh
(SNC). Receptor Ach nicotínico [NN] (um éster) no citosol.
• Armazenamento da ACh em ve-
sículas: a ACh é empacotada em
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vesículas pré-sinápticas por um voltagem-dependentes na mem-


processo de transporte ativo aco- brana pré-sináptica, causando um
plado ao efluxo de prótons. A ve- aumento na concentração de cál-
sícula madura contém não só ACh, cio intracelular. Níveis elevados de
mas também trifosfato de adeno- cálcio promovem a fusão das vesí-
sina (ATP) e proteoglicano. culas sinápticas com a membrana
celular e a liberação do seu conte-
• Liberação da ACh: quando um
údo no espaço sináptico. Essa li-
potencial de ação, propagado por
beração pode ser bloqueada pela
canais de sódio voltagem-depen-
toxina botulínica.
dentes, chega ao terminal ner-
voso, abrem-se canais de cálcio

SAIBA MAIS!
A toxina da aranha viúva-negra provoca a liberação de toda a ACh armazenada nas vesícu-
las, esvaziando-a na fenda sináptica.

Ligação com o receptor: a Ach libe- células efetoras mediadas por molé-
rada das vesículas sinápticas difun- culas segundas mensageiras.
de-se através do espaço sináptico e Degradação da ACh: o sinal no local
se liga a receptores pós-sinápticos na efetor pós-juncional termina rapida-
célula-alvo, ao receptor pré-sináptico mente devido à hidrólise da ACh pela
na membrana do neurônio que libe- acetilcolinesterase (AChE), forman-
rou a Ach ou a outros receptores-alvo do colina e acetato na fenda sináptica.
pré-sinápticos. Os receptores pós-
-sinápticos colinérgicos na superfície Reciclagem da colina: A colina pode
dos órgãos efetores são divididos em ser recaptada por um sistema de cap-
duas classes: muscarínicos e nico- tação de alta afinidade acoplado ao
tínicos. A ligação ao receptor leva a sódio que transporta a molécula de
uma resposta fisiológica no interior da volta para o neurônio. Ali, ela é aceti-
célula, como o início de um impulso lada em ACh, que é armazenada até
nervoso na fibra pós-ganglionar ou a a liberação por um potencial de ação
ativação de enzimas específicas nas subsequente.
COLINOMIMÉTICOS E ANTICOLINESTERÁSICOS 12

Figura 3. Síntese e liberação da acetilcolina do neurônio colinérgico. Legenda: AcCoA, acetilcoenzima A. Fonte: Far-
macologia Ilustrada, 2016

Como visto, há duas famílias de re- neuromuscular esquelética; os re-


ceptores colinérgicos, designados ceptores ganglionares são respon-
muscarínicos e nicotínicos, que po- sáveis pela transmissão nos gânglios
dem ser diferenciadas entre si com simpáticos e parassimpáticos; e os
base em suas diferentes afinidades receptores do tipo SNC estão espa-
para fármacos que mimetizam a ação lhados por todo o cérebro e são hete-
da ACh (fármacos colinomiméticos). rogêneos com respeito à sua compo-
Os receptores nicotínicos da ACh sição molecular e à localização. Todos
podem ser divididos em três classes os receptores nicotínicos da ACh são
principais: musculares, gangliona- estruturas pentaméricas que atuam
res e do SNC. Os receptores mus- como canais iônicos controlados por
culares estão confinados à junção ligantes.
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RECEPTORES RECEPTORES
RECEPTORES DO SNC
MUSCULARES GANGLIONARES
Junção
Localização neuromuscular Gânglios autônomos: Muitas regiões Muitas regiões do
sináptica esquelética: principalmente do cérebro: pré e cérebro: pré e
principal principalmente pós-sináptica pós-sináptica pós-sináptica
pós-sináptica
Excitação pré e
Excitatória
Excitatória pós-sináptica Excitação pré e
Aumento da
Aumento da perme- Aumento da pós-sináptica
Resposta da permeabilidade a
abilidade a cátions permeabilidade Aumento da
membrana cátions
(principalmente Na a cátions permeabilidade a
(principalmente
+ e K+) (principalmente Na+ cátions
Na + e K+)
e K+)
Acetilcolina
Nicotina
Carbacol Epibatidina
Acetilcolina Epibatidina
Nicotina Dimetilfenilpipera-
Agonistas Carbacol Acetilcolina
Epibatidina zínio
Suxametônio Citosina
Dimetilfenilpipera- Vareniclina
Vareniclina
zínio
Tabela 2. Subtipos de receptores nicotínicos. Fonte: Rang & Dale: Farmacologia, 2016

Os receptores muscarínicos são tí- os receptores de número par (M2, M4)


picos receptores acoplados à proteí- abrem os canais de potássio (KATP) e
na G, e são conhecidos cinco subtipos causam hiperpolarização membranar
moleculares (M1-M5). Os subtipos e também atuam através das prote-
com numeração ímpar (M1, M3 e M5) ínas Gi para inibir a adenilato ciclase
acoplam-se à proteína Gq para ativar e, assim, reduzir o AMPc intracelular.
a via de fosfatos de inositol; enquanto Ambos os grupos ativam a via das
MAP quinases.
COLINOMIMÉTICOS E ANTICOLINESTERÁSICOS 14

M3 (“GLAN-
M1 M2 DULARES/
M4 M5
(“NEURONAIS”) (“CARDÍACOS”) DO
MÚSCULO LISO”)
Glândulas exócrinas:
gástricas (células
Gânglios
parietais secretoras SNC: expressão
autônomos
de muito localizada
(incluindo os Coração: átrios
Principais ácido), salivares etc. na substância
gânglios SNC:
localizações Musculatura lisa: negra
intramurais no amplamente SNC
trato Glândulas
estômago) distribuídos
gastrointestinal, salivares
Glândulas: sali-
olhos, vias aéreas, Íris/músculo
var, lacrimal etc.
bexiga ciliar
Córtex cerebral
Vasos sanguíneos:
endotélio
Estimulação do Inibição cardíaca Secreção gástrica,
SNC (? Inibição neural salivar
Resposta melhora da Efeitos Contração da Aumento da
funcional cognição) muscarínicos musculatura locomoção Desconhecida
Secreção centrais (ex: lisa gastrointestinal
gástrica tremor, e Acomodação ocular
hipotermia) Vasodilatação
Acetilcolina
Agonistas
Carbacol
não
Oxotremorina
seletivos
Pilocarpina
Betanecol
Agonistas
McNA343 Cevimelina
seletivos
Tabela 3. Subtipos de receptores muscarínicos. Fonte: Rang & Dale: Farmacologia, 2016
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MAPA MENTAL: TRANSMISSÃO COLINÉRGICA

TRANSMISSÃO
COLINÉRGICA

Síntese da acetilcolina

Armazenamento

Liberação

Receptores nicotínicos
Receptores muscarínicos
(musculares, ganglionares Ligação da Ach ao receptor
(M1, M2, M3, M4, M5)
e do SNC)

Degradação na fenda sináptica

Reciclagem de colina e acetato

4. AGONISTAS • Ésteres da colina endógenos, que


COLINÉRGICOS DE AÇÃO incluem a ACh e ésteres sintéticos
DIRETA de colina, como o carbacol e o be-
tanecol; e
Os agonistas colinérgicos mimetizam
os efeitos da ACh ligando-se direta- • Alcaloides de ocorrência natural,
mente aos colinoceptores (musca- como a pilocarpina.
rínicos ou nicotínicos). Estes fárma-
cos podem ser classificados em dois
grupos:
COLINOMIMÉTICOS E ANTICOLINESTERÁSICOS 16

Todos os fármacos colinérgicos de muscarínicos, e algumas vezes são


ação direta têm efeitos mais prolon- referidos como fármacos muscarí-
gados do que a ACh. Alguns dos fár- nicos. Contudo, como um grupo, os
macos terapeuticamente mais úteis agonistas de ação direta mostram
(pilocarpina e betanecol) se ligam pouca especificidade nas suas ações,
preferencialmente aos receptores o que limita sua utilidade clínica.

HIDRÓLISE PELA
ESPECIFICIDADE PELO RECEPTOR
FÁRMACO ACETILCOLINES- USOS CLÍNICOS
TERASE
Muscarínico Nicotínico
Acetilcolina +++ +++ +++ Nenhum
Carbacol ++ +++ - Nenhum
Metacolina +++ + ++ Nenhum
Hipotonia da be-
Betanecol +++ - - xiga e do trato
gastrointestinal
Muscarina +++ - - Nenhum
Pilocarpina ++ - - Glaucoma
Oxotremorina ++ - - Nenhum
Cevimelina ++ - - Síndrome de Sjogren
Tabela 4. Agonistas muscarínicos. Fonte: Rang & Dale: Farmacologia, 2016

FÁRMACO LOCAL PRINCIPAL TIPO DE AÇÃO OBSERVAÇÕES


Nicotina Gânglios autônomos, SNC Estimulação seguida de -
bloqueio
Estimulação
Lobelina Gânglios autônomos Estimulação -
Terminações nervosas Estimulação -
sensitivas
Epibatidina Gânglios autônomos, Estimulação Isolada da pele de rã
SNC Altamente potente
Sem uso clínico
Vareniclina SNC, gânglios autônomos Estimulação Usado para a dependência
de nicotina
Suxametônio Junção neuromuscular Bloqueio por Empregado na clínica
despolarização como relaxante muscular
Decametônio Junção neuromuscular Bloqueio por Sem uso clínico
despolarização
Tabela 5. Agonistas nicotínicos. Fonte: Rang & Dale: Farmacologia, 2016
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Acetilcolina de proteinocinase G, levando à hi-


perpolarização e ao relaxamento
A acetilcolina é um composto amô-
do músculo liso por meio da inibi-
nio quaternário que não consegue
ção da fosfodiesterase-3. Na au-
penetrar membranas. Embora seja o
sência da administração de fár-
neurotransmissor de nervos paras-
macos colinérgicos, os receptores
simpáticos e somáticos, bem como
vasculares não têm função conhe-
dos gânglios autônomos, não tem
cida, pois a ACh nunca é liberada
importância terapêutica, devido à sua
no sangue em quantidade signifi-
multiplicidade de ações (que provoca
cativa. A atropina bloqueia esses
efeitos difusos) e à sua rápida inativa-
receptores muscarínicos e evita
ção pelas colinesterases. A ACh tem
que a ACh produza vasodilatação.
atividade muscarínica e nicotínica.
Suas ações incluem os itens descritos • Outras ações:
a seguir: ◊ No trato gastrintestinal (TGI), a
• Diminuição da frequência cardíaca ACh aumenta a secreção sali-
(FC) e do débito cardíaco (DC): as var e estimula as secreções e a
ações da ACh no coração mimeti- motilidade intestinal.
zam os efeitos da estimulação va- ◊ As secreções bronquiais tam-
gal. Por exemplo, se injetada por bém são aumentadas.
via intravenosa (IV), a ACh produz
◊ No trato geniturinário, a ACh
uma breve redução na frequência
aumenta o tônus do músculo
cardíaca (cronotropismo negativo)
detrusor, causando micção.
e no volume sistólico, como resul-
tado da redução da frequência de ◊ No olho, a ACh estimula a con-
descargas no nó sinoatrial (NSA). tração do músculo ciliar para a
visão próxima e contrai o es-
• Diminuição da pressão arterial fíncter da pupila, causando
(PA): a injeção de ACh causa vaso- miose (constrição acentuada
dilatação e diminuição da pressão da pupila). A ACh (em solução
sanguínea por mecanismo indire- a 1%) é instilada na câma-
to. A ACh ativa receptores M3 si- ra anterior do olho para pro-
tuados nas células endoteliais que duzir miose durante cirurgias
cobrem o músculo liso dos vasos oftálmicas.
sanguíneos. Isso resulta na produ-
ção de óxido nítrico (NO) a partir da
arginina. O NO então difunde-se
até as células musculares lisas dos
vasos para estimular a produção
COLINOMIMÉTICOS E ANTICOLINESTERÁSICOS 18

Betanecol Aplicações terapêuticas: no trata-


mento urológico, o betanecol é usado
O betanecol é um éster carbamila
para estimular a bexiga atônica, par-
não substituído, relacionado estru-
ticularmente na retenção urinária não
turalmente com a ACh. O betanecol
obstrutiva no pós-parto ou pós-ope-
não é hidrolisado pela AChE (devido
ratório. O betanecol também pode ser
à esterificação do ácido carbâmico),
usado no tratamento da atonia neu-
embora seja inativado por meio de hi-
rogênica, bem como no megacolo do
drólise por outras esterases. Ele não
intestino.
tem ações nicotínicas (pela presença
do grupo metila), mas apresenta for- Efeitos adversos: o betanecol causa
te atividade muscarínica. Suas princi- os efeitos da estimulação colinérgica
pais ações são na musculatura lisa da generalizada, que incluem sudoração
bexiga urinária e no TGI. Tem duração (diaforese), salivação, rubor, diminui-
de ação de cerca de 1 hora. ção da pressão arterial, náuseas, dor
abdominal, diarreia e broncoespas-
Ações: o betanecol estimula direta-
mo. O sulfato de atropina pode ser
mente os receptores muscarínicos,
administrado para superar as graves
aumentando a motilidade e o tônus
respostas cardiovasculares ou bron-
intestinal. Ele também estimula o
coconstritoras desse fármaco.
músculo detrusor da bexiga e relaxa
os músculos trígono e o esfíncter. Es-
ses efeitos provocam a micção.

Figura 4. Alguns efeitos adversos observados com os agonistas colinérgicos. Fonte: Farmacologia Ilustrada, 2016
COLINOMIMÉTICOS E ANTICOLINESTERÁSICOS 19

Carbacol (carbamilcolina) Pilocarpina


O carbacol apresenta ações muscarí- O alcaloide pilocarpina é uma ami-
nicas e nicotínicas. Como o betanecol, na terciária e resiste à hidrólise pela
o carbacol é um éster do ácido car- AChE. Comparado com a ACh e seus
bâmico e um mau substrato para a derivados, a pilocarpina é muito me-
AChE. Ele é biotransformado por ou- nos potente; porém, por não pos-
tras esterases, mas em uma velocida- suir carga elétrica, penetra no SNC
de muito menor. nas dosagens terapêuticas. A pilo-
Ações: o carbacol tem amplos efei- carpina apresenta atividade musca-
tos nos sistemas cardiovascular e rínica e é usada primariamente em
gastrintestinal devido à sua atividade oftalmologia.
estimulante ganglionar, podendo pri- Ações: aplicada localmente no olho,
meiro estimular e depois deprimir es- a pilocarpina produz rápida miose e
ses sistemas. Ele pode causar libera- contração do músculo ciliar. Quando
ção de epinefrina da suprarrenal por o olho está em miose, ocorre espas-
sua ação nicotínica. Instilado local- mo de acomodação. A visão se torna
mente no olho, o carbacol mimetiza fixa para uma distância particular, tor-
os efeitos da ACh, causando miose e nando impossível a focalização. A pi-
espasmo de acomodação, no qual o locarpina é um dos mais potentes es-
músculo ciliar permanece em um es- timulantes das secreções, como suor,
tado constante de contração. lágrimas e saliva, mas seu emprego
Usos terapêuticos: devido a sua alta para esses efeitos é limitado devido
potência, inespecificidade por recep- à sua falta de seletividade. O fárma-
tor e duração de ação relativamente co é útil em promover salivação nos
longa, o carbacol raras vezes é usa- pacientes com xerostomia resultante
do em terapêutica, exceto no olho, de irradiação na cabeça e no pescoço.
como fármaco miótico no tratamen- A síndrome de Sjögren, caracterizada
to do glaucoma, por causar contra- por xerostomia e falta de lágrimas,
ção pupilar e diminuição da pressão é tratada com comprimidos orais de
intraocular. pilocarpina e cevimelina, um fármaco
colinérgico que também tem o incon-
Efeitos adversos: nas doses usadas veniente de ser inespecífico.
em oftalmologia, ocorre pouco ou ne-
nhum efeito adverso, devido à sua
escassa penetrabilidade sistêmica. SE LIGA! A atropina, um bloqueador
muscarínico, possui efeito oposto no
olho.
COLINOMIMÉTICOS E ANTICOLINESTERÁSICOS 20

Olho tratado com


pilocarpina

Miose
(Contração da pupila)

Olho não
tratado

Midríase (Dilatação
da pupila)

Olho tratado com


atropina

Figura 5. Alguns efeitos adversos observados com os agonistas colinérgicos. Fonte: Farmacologia Ilustrada, 2016

Usos terapêuticos: a pilocarpina é imediata na pressão intraocular de-


usada no tratamento do glaucoma e vido à drenagem do humor aquoso.
é o fármaco de escolha na redução Essa ação ocorre em minutos, dura
emergencial da pressão intraocular de 4 a 8 horas e pode ser repetida. A
nos glaucomas de ângulo aberto e ação miótica da pilocarpina também
ângulo fechado. A pilocarpina é ex- é útil na reversão da midríase devido
tremamente eficaz na abertura da à atropina.
rede trabecular ao redor do canal de Efeitos adversos: a pilocarpina pode
Schlemm, causando uma redução causar visão turva, cegueira noturna
COLINOMIMÉTICOS E ANTICOLINESTERÁSICOS 21

e dor na testa. A intoxicação com de cogumelos do gênero Inocybe. A


esse fármaco se caracteriza pelo exa- administração parenteral de atropina,
gero de vários efeitos parassimpáti- em dosagem que consegue atraves-
cos, incluindo sudoração (diaforese) sar a barreira cerebrospinal, é usa-
e salivação. Os efeitos são similares da para antagonizar a toxicidade da
àqueles produzidos pelo consumo pilocarpina.

MAPA MENTAL: AGONISTAS COLINÉRGICOS DE AÇÃO DIRETA

AGONISTAS COLINÉRGICOS DE AÇÃO DIRETA

Acetilcolina Betanecol Carbacol Pilocarpina

Composto amônio Éster carbamila Éster do ácido Amina terciária, menos


quaternário não substituído carbâmico potente, penetra no SNC

Uso: Hipotonia da
Sem uso terapêutico Sem uso terapêutico Uso: Glaucoma
bexiga e do TGI

Efeitos: ↓ FC e DC, Efeitos: ↑ motilidade


↓ PA, ↑ secreções e tônus intestinal,
Efeitos: estimulação
do TGI, ↑ motilidade estimula músculo Efeitos: miose, ↑
seguida de depressão
intestinal, ↑ secreção detrusor da bexiga e secreções (suor,
do sistema CV e
brônquica, ↑ tônus relaxa os músculos lágrimas, saliva)
gastrintestinal, miose
do músculo detrusor trígono e esfíncter
(micção), miose (micção)

Efeitos adversos:
Efeitos adversos:
diaforese, salivação,
Efeitos adversos: pouco visão turva, cegueira
rubor, ↓ PA, náuseas,
ou nenhum (colírio) noturna, dor na testa,
dor abdmonial, diarreia,
diaforese, salivação
broncoespasmo

5. AGONISTAS (anti-ChE). Em consequência, provocam


COLINÉRGICOS DE o acúmulo de ACh nas proximidades
AÇÃO INDIRETA: das terminações nervosas colinérgicas
ANTICOLINESTERÁSICOS e, assim, são potencialmente capazes de
(REVERSÍVEIS) exercer efeitos equivalentes à estimula-
ção excessiva dos receptores colinérgi-
OsfármacosqueinibemaAChEsãodeno-
cos em todo o sistema nervoso central
minados agentes anticolinesterásicos
COLINOMIMÉTICOS E ANTICOLINESTERÁSICOS 22

e no periférico. Portanto, esses fár- em todos os colinoceptores do orga-


macos podem provocar uma resposta nismo, incluindo os receptores mus-
carínicos e nicotínicos do SNA, bem
CONCEITO!
como nas junções neuromusculares
(JNMs) e no cérebro. Os inibidores re-
Os inibidores da AChE promovem
ações colinérgicas indiretamente, pre- versíveis da AChE podem ser classi-
venindo a degradação da ACh. ficados como fármacos de ação curta
ou intermediária.

Figura 6. Mecanismos de ação dos agonistas colinérgicos indiretos. Fonte: Farmacologia Ilustrada, 2016
COLINOMIMÉTICOS E ANTICOLINESTERÁSICOS 23

Edrofônio Fisostigmina
O edrofônio é o protótipo do inibidor A fisostigmina é um éster nitrogena-
da AChE de ação curta. Ele se liga de do do ácido carbâmico encontrado
modo reversível ao centro ativo da em plantas e é uma amina terciária.
AChE, impedindo a hidrólise da ACh. Ela é substrato da AChE, com quem
Ele é absorvido rapidamente e tem forma um intermediário carbamilado
duração de ação curta (10-20 minu- relativamente estável, que, então, se
tos), devido à eliminação renal rápida. torna reversivelmente inativado. O re-
O edrofônio é uma amina quaternária, sultado é a potenciação da atividade
e suas ações são limitadas à periferia. colinérgica em todo o organismo.
É usado no diagnóstico da miastenia Ações: a fisostigmina tem uma am-
grave, uma doença autoimune cau- pla faixa de efeitos como resultado
sada por anticorpos contra o receptor de sua ação e estimula os receptores
nicotínico nas JNMs. Isso causa sua muscarínicos e nicotínicos do SNA e
degradação e reduz o número de re- os receptores nicotínicos da JNM. Sua
ceptores disponíveis para interação duração de ação é de cerca de 30 mi-
com a ACh. A injeção IV do edrofônio nutos a 2 horas, sendo considerada
leva a um rápido aumento da força um fármaco de ação intermediária.
muscular. Deve-se ter cuidado, pois o A fisostigmina pode entrar no SNC e
excesso desse fármaco pode provo- estimular os locais colinérgicos.
car uma crise colinérgica (a atropina é
o antagonista). O edrofônio pode ser Usos terapêuticos: a fisostigmina au-
usado também para avaliar o trata- menta a motilidade do intestino e da
mento inibidor da colinesterase, para bexiga, servindo no tratamento de
diferenciar entre crises colinérgicas e atonia nos dois órgãos. Ela é usada
miastênicas e para reverter os efeitos também no tratamento de doses ex-
de bloqueadores neuromusculares cessivas de fármacos com ações an-
não despolarizantes após a cirurgia. ticolinérgicas, como a atropina.
Efeitos adversos: no SNC, a fisostig-
mina pode causar convulsões quando
SE LIGA! Devido à disponibilidade de
outros fármacos, o uso do edrofônio se são usadas dosagens elevadas. Bra-
tornou limitado. dicardia e queda da pressão arterial
também podem ocorrer. A inibição da
AChE nas JNMs causa acúmulo de
ACh e, no final, resulta em paralisia
dos músculos esqueléticos. Contudo,
esses efeitos raramente são observa-
dos com doses terapêuticas.
COLINOMIMÉTICOS E ANTICOLINESTERÁSICOS 24

Figura 7. Algumas ações da fisostigmina. Fonte: Farmacologia Ilustrada, 2016

Neostigmina fármacos bloqueadores musculares


competitivos. A neostigmina é usada
A neostigmina é um fármaco sin-
ainda no tratamento sintomático da
tético que também é um éster do
miastenia grave.
ácido carbâmico e inibe reversivel-
mente a AChE de forma similar à da Efeitos adversos: incluem os da es-
fisostigmina. timulação colinérgica generalizada,
como salivação, rubor, redução da
Ações: ao contrário da fisostigmina, a
pressão arterial, náusea, dor abdomi-
neostigmina tem um nitrogênio qua-
nal, diarreia e broncoespasmo. A ne-
ternário; por isso, ela é mais polar, é
ostigmina não causa efeitos adversos
pouco absorvida no TGI e não entra
no SNC e não é usada para tratar os
no SNC. Seu efeito nos músculos
efeitos tóxicos de fármacos antimus-
esqueléticos é maior do que o da fi-
carínicos de ação central, como a atro-
sostigmina e pode estimular a con-
pina. A neostigmina é contraindicada
tratilidade antes de paralisá-la. A ne-
quando há obstrução do intestino ou
ostigmina tem uma duração de ação
da bexiga.
intermediária, em geral 30 minutos a
2 horas.
Usos terapêuticos: a neostigmina Outros
é usada para estimular a bexiga e o A piridostigmina e o ambenônio
TGI, e também como antagonista de são outros inibidores da colinesterase
COLINOMIMÉTICOS E ANTICOLINESTERÁSICOS 25

usados no tratamento crônico da ao desenvolvimento de anticolines-


miastenia grave. Suas durações de terásicos como possíveis remédios
ação são intermediárias (3-6 horas para a perda da função cognitiva. A
e 4-8 horas, respectivamente), mas tacrina foi o primeiro disponível, mas
mais longas do que a da neostigmina. foi substituída por outros devido à sua
Os efeitos adversos desses fármacos hepatotoxicidade. Apesar de done-
são similares aos da neostigmina. pezila, rivastigmina e galantamina
Tacrina, donepezila, rivastigmina e retardarem o avanço da doença, ne-
galantamina nhum evitou sua progressão. O efeito
adverso primário desses fármacos é
Pacientes com a doença de Alzheimer o distúrbio gastrintestinal (GI). Esses
têm deficiência de neurônios colinér- medicamentos são abordados em
gicos no SNC. Essa observação levou Material específico.

MAPA MENTAL: AGONISTAS COLINÉRGICOS DE AÇÃO INDIRETA:


ANTICOLINESTERÁSICOS (REVERSÍVEIS)

ANTICOLINESTERÁSICOS REVERSÍVEIS

Edrofônio Fisostigmina Neostigmina Outros

Amina terciária
Éster do ácido
Amina quaternária (éster nitrogenado do Piridostigmina
carbâmico
ácido carbâmico)

Ação curta Ação intermediária Ação intermediária Ambenônio

Uso: Miastenia
Uso: Hipomotilidade do gravis, Antagonista
Uso: diagnóstico de
intestino e da bexiga, de bloqueadores Tacrina
miastenia gravis neuromusculares
Glaucoma
competitivos

Efeitos: ↑ motilidade Efeitos: contração


Efeitos: ↑ rápido
do intestino e da seguida de paralisia dos Donepezila
força muscular
bexiga, miose músculos esqueléticos

Efeitos adversos:
Efeitos adversos:
Efeitos adversos: salivação, rubor, ↓ PA,
convulsões, bradicardia, Rivastigmina
crise colinérgica náusea, dor abdominal,
↓ PA, paralisia
diarreia, broncoespasmo

Galantamina
COLINOMIMÉTICOS E ANTICOLINESTERÁSICOS 26

6. AGONISTAS AChE. O resultado é um aumento de


COLINÉRGICOS DE longa duração nos níveis de ACh em
AÇÃO INDIRETA: todos os locais onde ela é liberada.
ANTICOLINESTERÁSICOS Vários desses fármacos são extrema-
(IRREVERSÍVEIS) mente tóxicos e foram desenvolvidos
como agentes “contranervos” com
Inúmeros compostos organofosfora-
fins militares. Os compostos relacio-
dos sintéticos apresentam a proprie-
nados, como paration e malation, são
dade de ligar-se covalentemente à
usados como inseticidas.

SAIBA MAIS!
Antes da Segunda Guerra Mundial, apenas os agentes anti-ChE “reversíveis” eram geralmen-
te conhecidos, entre os quais o protótipo fisostigmina. Pouco antes e no decorrer da guerra,
uma nova classe de substâncias químicas altamente tóxicas, os organofosforados, foi desen-
volvida primeiro como inseticida para agricultura e, posterionnente, como agente potencial na
guerra química. Foi constatado que a extrema toxicidade desses compostos era decorrente
da inativação “irreversível” da AChE, resultando em inibição prolongada da enzima.

Ecotiofato Ações: as ações do ecotiofato in-


cluem estimulação colinérgica gene-
Mecanismo de ação: o ecotiofato é
ralizada, paralisia da função motora
um organofosforado que se liga co-
(causando dificuldades respiratórias)
valentemente no local ativo da AChE
e convulsões. O ecotiofato provoca
por meio do seu grupo fosfato. Quan-
intensa miose, e tem uso terapêutico
do isso ocorre, a enzima é inativada
para isso. A pressão intraocular cai
permanentemente, e o restabeleci-
pela facilitação do efluxo do humor
mento da atividade da AChE requer
aquoso. A atropina em dosagem ele-
a síntese de novas moléculas de en-
vada pode reverter vários dos efeitos
zimas. Após a modificação covalente
periféricos e alguns dos efeitos mus-
da AChE, a enzima fosforilada libera
carínicos centrais do ecotiofato.
lentamente um de seus grupos eti-
la. A perda do grupo alquila, o que é Usos terapêuticos: está disponível
denominado envelhecimento, torna uma solução oftálmica tópica para o
impossível para os reativadores quí- tratamento do glaucoma de ângulo
micos, como a pralidoxima, romper a aberto. Contudo, o ecotiofato rara-
ligação entre o fármaco remanescen- mente é usado, devido ao perfil de
te e a enzima. efeitos adversos, incluindo o risco de
causar catarata.
COLINOMIMÉTICOS E ANTICOLINESTERÁSICOS 27

PRINCIPAL
DURAÇÃO
FÁRMACO LOCAL DE OBSERVAÇÕES
DA AÇÃO
AÇÃO
Utilizado principalmente no diagnóstico da miastenia gravis
Edrofônio Curta JNM
Ação muito curta para ter uso terapêutico
Utilizada por via intravenosa para reverter o bloqueio neuro-
muscular competitivo
Neostigmina Média JNP
Utilizada por via oral no tratamento da miastenia gravis
Efeitos colaterais viscerais
Fisostigmina Média P Utilizada em forma de colírio no tratamento do glaucoma
Utilizada por via oral no tratamento da miastenia gravis
Piridostigmina Média JNM Mais bem absorvida que a neostigmina e tem duração de ação
mais prolongada
Organofosforado altamente tóxico, com ação muito prolongada
Diflos Longa P
Tem sido utilizado em forma de colírio em casos de glaucoma
Utilizado em forma de colírio no tratamento do glaucoma
Ecotiofato Longa P
Ação prolongada; pode causar efeitos sistêmicos
Convertido em metabólito ativo pela substituição do enxofre
por oxigênio
Paration Longa -
Utilizado como inseticida, mas também causa envenenamento
em humanos
Tabela 6. Fármacos anticolinesterásicos. Legenda: JNM, junção neuromuscular; P, junção pós-ganglionar parassimpá-
tica. Fonte: Rang & Dale: Farmacologia, 2016

Toxicologia sistema nervoso autônomo, junção


neuromuscular e sistema nervoso
Os inibidores irreversíveis da AchE
central.
(na maioria compostos organofosfo-
rados) são usados comumente como As características clínicas dominan-
inseticidas na agricultura, o que tem tes da toxicidade colinérgica aguda
gerado numerosos casos de enve- incluem bradicardia, miose, lacrima-
nenamentos acidentais com essas ção, salivação, broncorreia, bronco-
substâncias. Além disso, são frequen- espasmo, micção, êmese e diarreia. A
temente usados com propósito suici- diaforese ocorre porque as glândulas
da e homicida. Gases organofosfo- sudoríparas são reguladas pela ativa-
rados que atuam em nervos, como o ção simpática dos receptores musca-
sarin, são usados em armas de guerra rínicos pós-ganglionares. Às vezes,
e terrorismo químico. no entanto, midríase e taquicardia po-
dem ser observados, pois os gânglios
A toxicidade aguda por agentes or-
simpáticos também contêm recepto-
ganofosforados apresenta manifes-
res nicotínicos. Os efeitos nicotínicos
tações de excesso colinérgico. Os
efeitos tóxicos primários envolvem o
COLINOMIMÉTICOS E ANTICOLINESTERÁSICOS 28

incluem fasciculações, fraqueza mus- específico é realizado com atropina e


cular e paralisia. uma oxima (tipicamente pralidoxima).
O manejo desses pacientes é feito com
a ressuscitação inicial e o tratamento

MAPA MENTAL: AGONISTAS COLINÉRGICOS DE AÇÃO INDIRETA:


ANTICOLINESTERÁSICOS (IRREVERSÍVEIS)

ANTICOLINESTERÁSICOS IRREVERSÍVEIS

Ecotiofato Toxicologia

Organofosforado Organofosforados (Paration, Malation)

Ação prolongada Uso comum como inseticida

Toxicidade aguda: manifestações de


excesso colinérgico (bradicardia, miose,
Uso (raro): glaucoma de ângulo aberto lacrimação, salivação, broncorreia,
broncoespasmo, micção, êmese, diarreia,
diaforese, fasciculações, fraqueza, paralisia)

Efeitos: estimulação colinérgica


Manejo: ressuscitação, atropina, pralidoxima
generalizada, miose

Efeitos adversos: paralisia da função motora


(causando dificuldades respiratórias), convulsões
COLINOMIMÉTICOS E ANTICOLINESTERÁSICOS 29

MAPA MENTAL: COLINOMIMÉTICOS E ANTICOLINESTERÁSICOS

Acetilcolina

Betanecol
Principais representantes:
Carbacol
Mecanismo de ação: ligação
direta aos colinoceptores
Pilocarpina
AGONISTAS
COLINÉRGICOS DE Hipotonia da bexiga
AÇÃO DIRETA e do TGI

Usos: Glaucoma

Efeitos adversos: estimulação


colinérgica generalizada, visão Síndrome de Sjogren
turva, cegueira noturna
COLINOMIMÉTICOS E
Edrofônio
ANTICOLINESTERÁSICOS

Principais representantes: Neostigmina

Mecanismo de ação: inibição


trocar Fisostigmina
reversível da anti-ChE

Diagnóstico de miastenia
ANTICOLINESTERÁSICOS gravis (edrofônio)
REVERSÍVEIS
Tratamento de
miastenia gravis
Usos:
Glaucoma
Efeitos adversos: estimulação
trocar
colinérgica generalizada,
convulsões (fisostigmina) Antagonista de bloqueadores
neuromusculares competitivos

Ecotiofato

Principais representantes: Paration

Mecanismo de ação:
inibição trocar
irreversível da Malation
anti-Ache (ligação covalente)
ANTICOLINESTERÁSICOS
Glaucoma
IRREVERSÍVEIS
trocar
Usos:
Inseticidas (Paration, Malation)

Efeitos adversos: estimulação Intoxicação aguda: ressus-


colinérgica generalizada,
trocar
paralisia, convulsões citação, atropina, pralidoxima
COLINOMIMÉTICOS E ANTICOLINESTERÁSICOS 30

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Whalen, Karen. Finkel, Richard. Panaveli, Thomas A. Farmacologia ilustrada. 6. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2016.
Rang H. P., et al. Rang & Dale: farmacologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.
Bruntos, Laurence L. Chabner, Bruce A. Knollmann, Bjorn C. As bases farmacológicas da
terapêutica de Goodman & Gilman. 12. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012.
Bird, Steven. Organophosphate and carbamate poisoning. Post TW, ed. UpToDate. Wal-
tham, MA: UpToDate Inc. http://www.uptodate.com (Acesso em 06 de maio de 2020).
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