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menor extensão, a produção de TRH, fornecendo um enquanto que os alelos HLA descritos podem aumentar
feedback negativo para a produção de hormonas o risco de duas a quatro vezes. No entanto, a presença
tiroidianas. As hormonas da tireoide exercem efeitos dos dois fatores parece aumentar o risco de doença
no metabolismo, agindo sobre o sistema nervoso claramente acima de cinco vezes. Desta forma, no
central, cardiovascular, respiratório, gastrointestinal, presente apenas conhecem-se dois loci genéticos não
muscular, endócrino e na função sexual. Além disso, específicos, não existindo nenhum fator que possa
agem também no metabolismo das vitaminas, explicar a especificidade tecidular (Melo, 2006).
carboidratos e gorduras (Roza, 2019).
O tabagismo é um dos fatores ambientais que aumenta
o risco de desenvolver qualquer patologia autoimune
da tireoide, o que poderá estar relacionado com a
existência de tiocianatos no fumo do tabaco. A
ingestão de iodo em quantidades superiores às
necessárias predispõe para esta patologia, pensando -
se que leve a alterações da tireoglobulina que a tornam
mais imunogénica. O stress e alguns fármacos como a
amiodarona ou o lítio poderão também ter um papel
no desenvolvimento da doença (Kutlu & Gould, 2014).
As CAA vão promover a ativação subsequente de estimuladores dos recetores da TSH (TRAb e) e escassa
células T helper específicas para antigénios da tiroide, infiltração linfocitária.
o que pressupõe uma alteração dos mecanismos
normais de tolerância imunológica. De acordo com o A partir do momento em que exista ativação de células
T helper específicas para antigénios da tiroide e
padrão de citocinas produzido pelas células T helper,
subsequente produção das suas citocinas, os tirócitos
que vai estar dependente de fatores individuais e
vão assumir um papel fundamental na progressão da
outros ainda não conhecidos, poderemos ter uma
doença, interagindo com as diferentes células do
evolução no sentido da destruição autoimune da
tiroide, levando a uma tiroidite autoimune crónica ou sistema imunitário. As células da tiroide vão passar a
expressar moléculas HLA-classe I e II5, induzidas pelo
de Hashimoto, ou no sentido da estimulação da
glândula que levará a uma doença de Graves (Fig.4). IFN-γ, o que lhes permite fazer a apresentação
antigénica diretamente aos linfócitos T e mesmo a
ativação de linfócitos T CD8 citotóxicos. Os tirócitos vão
passar a expressar várias outras moléculas
imunologicamente ativas, como os fatores ICAM-1,
LFA-3, TNF, IL-1 e CD40, que vão promover a
estimulação e citotoxicidade linfocitária. Embora as
células da tiroide sejam resistentes às ações líticas do
complemento, este vai contribuir para a lesão da
glândula. Sabe-se que os anticorpos anti--
tiroperoxidade (anti-TPO) fixam e ativam o
complemento (Bassi, 1993), o que vai levar à libertação
de citocinas, prostaglandinas e espécies reativas de
oxigénio, promovendo a lesão sub-letal das células. A
apoptose é outro mecanismo importante na destruição
autoimune. Constatou-se que na tiroidite autoimune
crónica existe uma proporção aumentada de células
epiteliais da tiroide que apresentam alterações
apoptóticas (20-30%, enquanto na tiroide normal
rondam 1%). Sabe-se que na tiroidite autoimune há
expressão de Fas na célula tiroideia em quantidades
aumentadas, o que vai permitir a ativação da via das
caspases através da conjugação com o ligando do Fas
Figura 4 - Sequência de eventos na etiopatologia da doença (Fas l) presente na superfície dos linfócitos T e,
autoimune da tireoide (Melo, 2006)
eventualmente, na sua forma solúvel, na tiroide. A
Assim, no caso de haver uma polarização Th1, com descoberta da expressão do ligando do Fas também
predomínio de citocinas como o IFN-γ, TNF-α e IL-2, vai nos tirócitos veio levantar novas hipóteses no que
existir um predomínio dos mecanismos de imunidade respeita ao papel desta via de morte celular
celular, com infiltração linfocitária da tiroide programada. Assim, pensa-se que para além da
exuberante e citotoxicidade mediada por linfócitos T interação Fas (na célula tiroideia) – Fas l na superfície
CD8 citotóxicos e pelo complemento. A apoptose, dos linfócitos T, que desencadearia a apoptose da
sobretudo através de mecanismos dependentes do célula tiroideia como descrito, possa haver interação
recetor Fas ou CD95, vai ter também um papel cruzada com as duas moléculas presentes em
preponderante na destruição tiroideia. Se pelo simultâneo na superfície de células epiteliais da tiroide,
contrário houver uma polarização Th2, com o que levaria à apoptose de ambas (Fig.5). Ambos os
predomínio de citocinas como a IL-4, IL-5 e IL-10, mecanismos estarão presentas na tiroidite autoimune
vamos assistir a uma dominância dos mecanismos de crónica. Por outro lado, a interação Fas l (tirócito) – Fas
imunidade humoral, com produção de anticorpos (linfócito T) pode levar à apoptose da célula T; este
mecanismo será preponderante na doença de Graves e
4 Tireoide de Hashimoto
poderá justificar a escassez de linfócitos nas glândulas São na maior parte dos casos da classe IgG, embora
com estas patologias. A expressão HLA-DR 4/HLA-DR5 também tenham sido detetados anticorpos das classes
permite ainda a ativação dos mecanismos de morte IgA e IgM. Não fixam o complemento e reagem contra
celular programada mediada pelo TRAIL (TNF related quatro a seis grandes epítopos da tiroglobulina.
apoptosis– inducing ligand), com ativação da cascata Experiências realizadas em ratos demonstraram que a
das caspases por uma via alternativa. Por outro lado, antigenicidade da tiroglobulina dependia do seu
moléculas com propriedades anti-apoptóticas como conteúdo em iodo; este facto ainda não foi
Bcl-2 e Bcl-XL são expressas em quantidades reduzidas comprovado no homem (Nakajima, 1988). Os
na tiroide destes doentes (Spencer & Chin, 2001). anticorpos anti-recetor da TSH podem estar presentes
quer na doença de Graves quer nas outras tiroidites
com base autoimune. Na doença de Graves são
anticorpos estimuladores (TRAb e) que se ligam a
sequências de aminoácidos na região terminal-NH2 da
porção extracelular do recetor. Nas outras tiroidites
são anticorpos bloqueadores (TRAb b), que se ligam a
sequências mais próximas da superfície. Estes
anticorpos estão presentes em 10% dos doentes com
tiroidite autoimune crónica. Têm um papel importante
no desenvolvimento e gravidade do hipotiroidismo,
sendo detetáveis frequentemente nos doentes com
tiroidites atróficas. Podem também ser encontrados
nestes doentes anticorpos contra hormonas tiroideias.
Estes não interferem com a atividade biológica das
hormonas, podendo originar erros nas medições dos
Figura 5 - Envolvimento da via apoptótica mediada pelo Fas na níveis séricos por alguns métodos (Sakata, 1985).
doença autoimune da tireoide (CET - célula epitelias da tireoide; Foram ainda detetados anticorpos contra uma
T - linfócito T; Fas I - ligação da Fas) (Melo, 2006)
proteína não iodada presente na coloide, que foi
Tal como noutras patologias, não existe a possibilidade designada por antigénio coloide 2, e contra o co
de avaliar por rotina aspetos relacionados com a transportador Na/I; a sua relevância é ainda
imunidade celular nas tiroidites autoimunes. Já a desconhecida (Ceccarini & Agretti, 2001).
resposta humoral pode ser avaliada com base na
deteção e quantificação de anticorpos contra Diagnostico da doença
antigénios da tiroide. Vários sistemas de anticorpos
anti tiroideus foram identificados. Os mais frequentes 1. Anticorpos antitiroideus
e melhor caracterizados são os anticorpos anti- Quando altos no sangue são a melhor prova
tiroperoxidase (anti-TPO), anti-tiroglobulina (anti-Tg) e laboratorial da tiroidite autoimune. Os anticorpos anti-
anti-recetor da TSH (TRAb). Os anticorpos anti-TPO são peroxidase tiroideia (Fig.6) têm mais valor no
os que se relacionam mais estreitamente com diagnóstico que os anticorpos anti-tireoglobulina
disfunção clínica da tiroide. A sua presença está (Fig.6). Os anticorpos são apenas usados no
diagnóstico da doença não possibilitando deduzir
fortemente associada a inflamação linfocítica e lesão
glandular. Foram descritos mais de duzentos epítopos sobre o seu progresso pelo que se os anticorpos são
positivos não há carecimento em repetir o seu
da TPO reconhecidos por linfócitos T nos doentes com
tiroidite autoimune crónica (Melo, 2006). Estes doseamento (SPEDM - Sociedade Portuguesa de
Endocrinologia,Diabetes e Metabolismo, 2014)
anticorpos estão presentes no soro em concentrações
que variam de micro a miligramas por mililitro. Têm a
propriedade de fixar o complemento e desta forma
serem diretamente citotóxicos. São geralmente os que
permanecem positivos mais tempo. Os anticorpos anti-
Tg são menos frequentes e o seu papel é menos claro.
5 Tireoide de Hashimoto
3. T4 Livre
A configuração livre da T4 deve ser determinada se a
TSH não se depara dentro dos limites do normal. Caso
T4 livre não estiver dentro dos valores referenciais
(Fig.8) o tratamento inicia-se. (SPEDM - Sociedade
Portuguesa de Endocrinologia,Diabetes e
Metabolismo, 2014). Figura 9 - Caso real de hipertireoidismo (Hershman, 2020)
6 Tireoide de Hashimoto
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