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Hipotireoidismo é uma síndrome clínica causada pela • Defeitos funcionais na biossíntese e liberação dos hor-

produção ou ação deficiente dos hormônios tireoidianos, mônios tiroidianos ou defeitos congênitos na produção
resultando em lentificação dos processos metabólicos. É dos hormônios da tiroide;
uma das doenças endócrinas mais comuns, diagnóstica- • Uso de agentes antitiroidianos: lítio, amiodarona, INFα
da usualmente por médicos clíncios e seu tratamento é inibidores da tirosinaquinase, ou interleucina 2.
exclusivamente clínico.
SECUNDÁRIO: deficiência na secreção de TSH (hipófise)
devido a tumores, traumas, infecções vasculares, infiltrati-
ETIOLOGIA: vas, inflamatórias, congênitas. Também pode ocorrer por
uma perda de tecido funcional, defeitos na síntese ou libe-
PRIMÁRIO: por deficiência da glândula tireoide (95%);
ração do TSH (por mutações genéticas ou drogas como a
• Causa mais frequente: Tireoidite de Hashimoto;
dopamina e glicocorticoides);
Tireoidite de Hashimoto (TH) é uma doença autoimune,
TERCIÁRIO: estimulação inapropriada pelo TRH. Ocorre
caracterizada pelo infiltrado linfoplasmocitário no parên-
mais em crianças, ou devido a irradiação, doenças infiltra-
quima tireoidiano. É causada pela incapacidade dos linfó-
tivas, traumáticas ou neoplásicas;
citos T em destruir clones de linfócitos sensibilizados por
antígenos tireoidianos, com consequente citotoxicidade PERIFÉRICO: ação reduzida dos hormônios tiroidianos nos
mediada por células NK e interação de linfócitos T helper órgãos-alvo (resistência ao T3 e T4) - mutações em genes
com linfócitos B, gerando anticorpos contra componentes importantes na resposta dos hormônios tiroidianos em
tireoidianos. Os anticorpos mais comuns são: tecidos-alvo;
Anti-TPO: anticorpo anti-tiroperoxidase - diagnóstico
CONGÊNITO: distúrbio endócrino congênito bastante fre-
AntiTgb: anticorpo anti-tireoglobulina
quente, uma das principais causas de retardo mental que
Anti T4 e Anti T3
pode ser prevenida.
• Pós-tratamento de hipertireoidismo (cirurgia, radiação HIPOTIREOIDISMO SUBCLÍNICO:
ou uso de drogas antitiroidianas); O hipotireoidismo subclínico (HSC) é aquele em que o
• Tireoidite pós-parto, subaguda, silenciosa ou induzida TSH permanece elevado, no entanto, os níveis de T3 e T4
por citoquinas à inflamação da tireoide; permanecem inalterados.
• Deficiência ou excesso de iodo; Há uma prevalência na população geral, sendo maior no
• Doenças infiltrativas ou infecciosas; sexo feminino e em idosos. É inversamente proporcioal ao
• Radioterapia externa; conteúdo de iodo na dieta. Pode representar uma falência
• Disgenesias da tiroide; da tireoide, normalmente por tireoidite de Hashimoto e
pode ocorrer na ausência de sintomas. O HSC pode pro- mente removido do sangue circulante pelas células da
gredir para o hipotireoidismo clínico, manter-se estável tireoide e usado para a síntese de hormônios T3 e T4.
por longos períodos ou regredir para normalização. A secreção de tireoidiana é controlada principalmente
pelo hormônio estimulante da tireoide (TSH) secretado
A forma mais prevalente é a doença tireoidiana primária, pela adenohipófise.
denominada de hipotireoidismo primário e ocasionado por
uma falência da própria glândula tireoide, mas também
pode ocorrer devido a doença hipotalâmica ou hipofisária,
denominado hipotireoidismo central. As principais etiolo-
gias do hipotireoidismo primário são: doença autoimune
da tireoide (tireoidite de Hashimoto), deficiência de iodo,
redução do tecido tireoidiano por iodo radioativo ou por
cirurgia usada no tratamento de doença de Graves ou do
câncer da tireoide. Raramente a etiologia é relacionada a
doença infiltrativa ou infecciosa da tireoide. O hipotireoi-
dismo central ocorre por estímulo insuficiente da glândula
tireoide pelo TSH, por prejuízo na secreção do hipotálamo Eixo Hipotálamo-Hipófise-Tireoide:

(hipotireoidismo terciário) ou hipófise (hipotireoidismo A glândula tireoide produz os hormônios T3 e T4 e os libera

secundário). A clínica do hipotireoidismo central é menos na corrente sanguínea. A partir da corrente sanguínea,

exuberante que a do primário. estes hormônios atingem a região hipotalâmica, onde irão
estimular a produção de TRH a partir da retralimentação
positiva. O TRH, por via hematogênia, atua sobre a adeno
FISIOPATOLOGIA:
hipófise, realizando uma sinalização que irá estimular a
A tireoide é uma glândula que pesa de 10 a 20 gramas, produção de TSH. O TSH, também por meio da via hema-
sendo um pouco maior em homens do que em mulheres. togênica, irá atuar sobre a tireoide, onde irá estimular a
Se localiza anteriormente à traqueia, abaixo da cartilagem produção de T3 e T4.
cricóide. É formada pelos lobos esquerdo e direito, que No caso da retroalimentação negativa, ocorre o contrário,
são ligados por um istmo. o hipotálamo capta as elevadas concentrações de T3 e T4
Microscopicamente a tireoide é formada por foliculos esfé- de modo que inibe a liberação de TRH para a hipófise,
ricos, cada um composto por uma camada de células foli- bloqueando o eixo hipotalâmico.
culares ao redor de um lúmen preenchido pelo coloide
Hormônios tireoidianos - Tirotoxina e Triiodotironina:
tireoglobular. A tireoglobulina é uma molécula que contém
O T3 equivale a forma ativa do hormônio tireoidiano que
os hormônios tireoidianos. Uma vez que a secreção chega
exerce efeito sobre as células alvo do organismo. Porém,
aos folículos, deve ser reabsorvida através do epitélio foli-
o total plasmático de T4 é cerca de 45x maior do que o de
cular para o sangue, para poder realizar suas funções.
T3. Isso ocorre porque a principal fonte de produção de T3
A tireoide secreta principalmente dois hormônios, o T4
é a partir da conversão de T4 em T3 por meio da desio-
(tirotoxina) e o T3 (triiodotironina). Ambos aumentam muito
dação de T4 nos tecidos periféricos promovida pelas
o metabolismo do organismo.
desiodases.
Para que estes hormônios sejam formados é necessária
Esses hormônios da tireoide circulam comumente ligados
uma molécula de iodo. Um adulto deve ingerir ≈ 150mcg
à proteínas plasmáticas, pois estas aumentam sua meia-
de iodo diariamente na forma de iodeto. Para suprir essa
vida e asseguram sua distribuição regular em tecidos alvo.
necessidade, o sal de cozinha é suplementado.
Somente 0,03% de T4 encontra-se livre e apenas 0,3% de
O iodeto ingerido é absorvido pelo TGI, e grande parte é
T3 é livre. A entrada e a saída desses hormônios nas célu-
rapidamente excretada pelos rins. Cerca de 1/5 é seletiva-
las ocorrem, em grande parte, através de transportadores • Irregularidade menstrual
específicos que regulam a captação e o efluxo. • Lentificação do reflexo Aquileu **
No interior celular, o T3 liga-se a receptores específicos • Bradicardia
nucleares, os receptores dos hormônios tireoidianos • Polimialgia/poliartralgia
(TRs). Os TRs medeiam a ação do hormônio ligando-se • Palidez cutânea
diretamente na região promotora do gene alvo, regulando • Pele seca
sua transcrição em todos os tecidos. • Queda de cabelo e unhas frágeis
Em mamíferos, eles atuam em todos os órgão e vias
• Ganho de peso
metabólicas. Seus principais efeitos são: desenvolvimento
• Anemia
de vários tecidos; consumo de O2; regulação da tempera-
• Aumento de colesterol/triglicerídeos
tura corporal; frequência cardíaca, metabolismo de carboi-
dratos, proteínas e gorduras; e participam da síntese e da
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL:
degradação de fatores de crescimento e hormônios.

TSH: elevado ↑↑
QUADRO CLÍNICO: T3 e T4: reduzido ↓↓

Os sintomas clínicos do hipotireoidismo primário evoluem


- TSH e T4 livre são suficientes para diagnóstico.
insidiosamente ao longo dos anos. As manifestações clíni-
cas se distribuem numa ampla gama de sinais e sintomas, • TSH (0,45 a 4,5 mU/L) – população geral adulta
que podem se apresentar isoladas ou combinadas e com • T4 livre (0,6 a 1,3 ng/dL) – população geral adulta
intensidades diversas. • T3 total (80 a 180 ng/dl) – população geral adulta
Os sintomas referidos pelos indivíduos idosos, faixa etária
- Exame para rastreio de anti-TPO é realizado quando
de maior incidência, merecem ser valorizados. Mulheres
há suspeita de hipotireoidismo autoimune.
em idade fértil com sintomas de distúrbio menstrual e de
- Tireoglobulina e Anti-Tireoglobulina são solicitados
infertilidade devem ser investigadas bioquimicamente,
após tratamento de câncer.
assim como pacientes com hipercolesterolemia. Pelo fato
de que muitos dos sintomas no hipotireoidismo, principal- Ultrassom de tireóide: Não é solicitado rotineiramente
mente no início da doença, são queixas comuns (como em pacientes com hipotiroidismo clínico. É utilizado para
fadiga, cansaço, ganho de peso e pele seca), mesmo em diagnóstico de pacientes com tireoidite de Hashimoto, e é
indivíduos eutireoidianos, a alteração da função tireoidia- considerado em pacientes com hipotireoidismo subclínico
na só pode ser confirmada pela dosagem de TSH. para avaliação do risco de progressão para hipotiroidismo.
É realizado em casos de palpação anormal da tiroide.
• Cansaço excessivo (adinamia)
• Sonolência RASTREAMENTO (TSH):
• Nervosismo e irritabilidade
Condições clínicas a serem consideradas para avaliação
• Depressão
da tireoide:
• Baixa libido
• Mulheres na idade fértil ou com mais de 60 anos;
• Falhas de memória
• Mulheres grávidas;
• Tonturas
• Tratamento anterior de radiação da tiroide (iodo radio-
• Obstipação intestinal
ativo ou radiação terapêutica externa);
• Voz grave e/ou rouca
• Cirurgia tiroidiana ou disfunção tiroidiana prévia;
• Edema (face, MMII)
• Diabetes mellitus tipo 1;
• Intolerância ao frio
• História pessoal de doença autoimune;
• Lentificação (raciocínio, fala, marcha)
• Síndrome de Down;
• Síndrome de Turner; ALTERAM A ABSORÇÃO DE LT4:

• História familiar de doença tiroidiana; • Doenças de má absorção – intolerâncias alimentares;

• Presença de bócio e/ou positividade para ATPO; • Idade do paciente;

• Sintomas clínicos de hipotiroidismo; • Medicações: IBP, antiácidos, sucralfato, cálcio, Fe2+.

• Uso de agentes antitiroidianos: lítio, amiodarona, INFα, • Anticonvulsivantes (rifampicina e sertralina): aceleram

inibidores da tirosinaquinase, ou interleucina 2; o metabolismo da levotiroxina (ajuste de dose).

• Hiperprolactinemia; HIPOTIREOIDISMO SUBCLÍNICO:


• Dislipemia; • TSH > 10mIU/L à tratar;
• Anemia; • TSH entre 4,5 e 10mIU/L à há controvérsias;
• Insuficiência cardíaca. • Orientação: observar e reavaliar cada 6 à 12 meses;
• Tratar quando: AntiTPO+ e adulto jovem com dislipide-
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: mia (maior risco CV em < 65 anos);
• HS em idosos (TSH entre 4,5 e 10 mIU/L) à manter
• Depressão;
sem medicação à reavaliação semestral ou anual
• Fibromialgia;
(menor risco eventos CV e mortalidade).
• Recuperação de doença sistêmica grave;
• Insuficiência renal ou adrenal; HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO:

• Artrite; • Pode ser permanente ou transitório;

• Doença inflamatória muscular. • Tratamento = levotiroxina (L-T4) via oral em jejum;


• Recomenda-se a reavaliação após os 3 anos de idade
com a suspensão da levotiroxina nas crianças em
TRATAMENTO:
tratamento que não apresentem a etiologia do hipotire-
• Reposição hormonal com levotiroxina sódica L-T4 via oidismo estabelecida;
oral; • Dose recomendada é de 10 a 15 μg/kg/dia;
• Não há benefício na administração de T4 associado a • Início do tratamento deve ser o mais precoce possível
T3 porque seu tempo de meia-vida é muito curto, além idealmente até 14 dias de vida;
de ser arritmogênico; • A monitorização do tratamento do HC deve ser mais
• O ajuste da dose deve ser feito a cada 6 a 8 semanas frequente nos primeiros anos da vida, pois o desenvol-
e após atingir nível adequado de TSH – reavaliação vimento cerebral depende da reposição hormonal;
semestral ou anual; • O acompanhamento é mantido até a idade adulta.
• A dose em adulto jovem entre 1,2 a 1,7 μg/kg/dia;
• A dose em idosos varia de 1 a 1,5 μg/kg/dia. HIPOTIREOIDISMO EM GESTANTES:
Hipotireoidismo pré-concepção: deve-se manter o TSH
Dose de LT4 recomendada para crianças e adolescentes: menor que 1,2mU/L;
1º trimestre: manter TSH < 2,5 mU/L;
2º e 3º trimestre: manter TSH < 2,5 a 3,0 mU/L
• Monitoramento (TSH) a cada 6 a 8 semanas
• Manter níveis de TSH elevados, pois os hormônios
LEVOTIROXINA SÓDICA: tireoidianos são ofertados ao feto também.
• Euthyrox®, Synthroid®, Puran®, Levóid®;
• Deve ser ingerido em jejum (pH ácido) – absorção no COMPLICAÇÕES:
intestino delgado;
• Manter em jejum por 30 minutos pós medicação; • Arritmias cardíacas;

• Manter medicações da mesma marca! • Doenças cardiovasculares


• HAS;
• Depressão;
• Confusão mental;
• Anemias;
• Coma mixedematoso;
• Obesidade????

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