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Hematologia e Distúrbios
Imunorrelacionados
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7
UNIDADE I
ENDOCRINOLOGIA................................................................................................................................ 9
CAPÍTULO 1
DISTÚRBIOS ENDÓCRINOS......................................................................................................... 9
UNIDADE II
HEMATOLOGIA..................................................................................................................................... 93
CAPÍTULO 1
HEMATOLOGIA E DISTÚRBIOS IMUNORRELACIONADOS............................................................ 93
UNIDADE III
ONCOLOGIA..................................................................................................................................... 116
CAPÍTULO 1
ONCOGÊNESE NOS FELINOS ............................................................................................... 116
REFERÊNCIAS................................................................................................................................. 154
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Atenção
5
Saiba mais
Sintetizando
6
Introdução
O sistema endócrino é um dos sistemas integradores, permitindo a interação das
várias células do corpo entre si e com o meio ambiente. Corresponde ao conjunto de
glândulas endócrinas, relacionadas à produção de mensageiros químicos transportados
pelo sangue, os hormônios. Já a hematologia estuda os elementos figurados do sangue:
hemácias (glóbulos vermelhos), leucócitos (glóbulos brancos) e plaquetas; além da sua
produção, órgãos onde eles são produzidos e suas funções. A oncologia é um ramo da
ciência médica que lida com tumores. O estudo da oncologia está voltado para a forma
como o câncer se desenvolve no organismo, seus meios de diagnóstico, bem como qual
tratamento mais adequado para cada tipo de neoplasia.
Objetivos
»» Promover a atualização de profissionais em Medicina Veterinária na área
de Endocrinologia, de acordo com as tendências atuais do mercado, a
fim de capacitá-los como Especialistas em Endocrinologia em Medicina
Veterinária, estudando e reconhecendo os principais Distúrbios
Endócrinos, envolvendo hipotálamo, hipófise, paratireoide, tireoide e
adrenal.
CAPÍTULO 1
Distúrbios endócrinos
Breve histórico
A história da endocrinologia se inicia com Aristóteles, 322 a.C., que relatou os efeitos
da castração nas aves e no homem, e embora sem compreender o mecanismo, fez a
primeira alusão à atividade hormonal.
Órgãos endócrinos são aqueles capazes de produzir hormônios, estando distribuídos por
todo corpo dos animais e de diversas apresentações. Embora já conhecidos há muito
tempo, suas funções e os mecanismos de controle de sua secreção eram desconhecidos
até 100 anos atrás. No século XX, o conhecimento da endocrinologia começa seus
rápidos avanços, e o termo hormônio (do grego excitar), foi proposto para denominar
a substância produzida em um órgão endócrino e transportada no sangue para exercer
sua ação em outro órgão. Já o termo endócrino vem do grego endo: em, dentro, e
krinein: liberar, ou seja, liberar ou secretar dentro do organismo.
9
UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
Atualmente vários tipos de hormônios já foram descritos (mais de 50), com diferentes
características quanto a sua forma de síntese, armazenagem, meia-vida, forma de
transporte no sangue e mecanismo de ação.
Quanto a naturezas químicas, os hormônios podem ser hidrofílicos, aqueles que têm
fácil trânsito pelo sangue circulando de forma livre; e os lipofílicos, que necessitam
do auxílio de proteínas transportadoras condicionando solubilidade temporária a estes
hormônios no sangue.
A secreção dos mensageiros químicos media a comunicação entre as células, sendo estes
classificados em quatro tipos: Quando uma célula secreta um mensageiro químico para
atuar em seus próprios receptores, como por exemplo a produção do fator de crescimento
epidérmico, sendo esta a secreção autócrina. Quando mensageiros químicos atuam
sobre células adjacentes, sendo este um modo de ação de muitas células do sistema
neuroendócrino difuso, dá-se o nome de secreção parácrina. No caso de secreção de
mensageiros químicos (hormônios) para a corrente circulatória, atuando sobre tecidos
distantes, pode ser conhecida como função telécrina, trata-se da secreção endócrina.
Já as secreções sinápticas, referem-se à comunicação por contato estrutural direto
de um neurônio com a outra por meio de sinapses, estando esta restrita ao sistema
nervoso. Há ainda a secreção neuroendócrina, a qual o neurônio produz secreção que
ganha os vasos sanguíneos para atingir a célula-alvo.
10
ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
»» Hipotálamo.
»» Glândula tireoide.
»» Glândulas paratireoides.
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UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
Hipotálamo
Quiasma óptico
Talo Pituitário
Glândula pituitária posterior
TSH
Tireoide
Hormônio do
Prolactina crescimento
(PRL) (GH)
Tecido
Gl. Mamária Osso Músculo adiposo
Gonadotrofina,
ação sobre
ACTH LH e FSH
Hipotálamo
Além de ser responsável pela regulação da liberação e inibição dos hormônios da hipófise
(neuroipófise e adenohipófise), também produz oxitocina e ADH (antidiuretic hormone),
que são posteriormente estocados no lobo posterior da hipófise, desempenhando o
importante papel de interação entre o sistema nervoso e o endócrino.
Hipófise
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ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
Glândula tireoide
Tem o papel de manter o metabolismo dos tecidos em nível ótimo para suas funções
normais, está localizada no pescoço, estando apoiada sobre as cartilagens da laringe e
da traqueia.
Glândulas paratireoides
São quatro glândulas muito pequenas, que se localizam na face próximas à tireoide,
geralmente dentro da cápsula que reveste os lobos dessa glândula. O hormônio das
paratireoides é o paratormônio, cujo papel fisiológico é regular o nível de íons cálcio
e fosfato no plasma sanguíneo. A diminuição da taxa de cálcio no plasma estimula
as paratireoides a liberar seu hormônio. Por sua vez, o paratormônio atua sobre as
células do tecido ósseo, aumentando o número de osteoclastos promovendo a absorção
da matriz óssea calcificada. A elevação do cálcio plasmático deprime a produção de
paratormônio (Figura 2).
13
UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
Além de elevar o cálcio, o paratormônio reduz a taxa de íon fosfato no plasma, efeito
este que é consequência de um aumento da perda de fosfato na urina. O paratormônio
diminui a absorção de fosfato do filtrado glomerular pelos túbulos do néfron aumentando
a eliminação de cálcio. Neste contexto, o cálcio é importante na contração muscular, na
coagulação sanguínea e na excitabilidade das células nervosas.
Glândula Paratireoide
Hormônio
Paratireoide
Ca ++
Fluxo
do
Sangue
Ca ++
Rim Conserva
Ca ++
Ca ++
Intestino Absorve Ca ++
Fluxo de sangue
São duas, cada uma situada sobre o polo superior de cada rim, achatadas e com formato
de meia-lua. Internamente, são divididas em duas regiões, uma externa, o córtex adrenal,
e outra interna, a medula adrenal, ou seja, duas camadas que tem ainda morfologia e
funções diferentes, podendo ser consideradas dois órgãos distintos, apenas unidos
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ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
Ilhotas de Langerhans
Pelo menos quatro peptídeos com atividade hormonal são secretados pelas Ilhotas
de Langerhans do pâncreas, e dois desses hormônios, a insulina e o glucagon, têm
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UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
Glândula pineal
A glândula pineal é pequena, tem um formato oval e está localizada entre os hemisférios
cerebrais, na parte superior do tálamo, no centro do cérebro. Ela secreta um hormônio
chamado melatonina, que é sintetizado a partir da serotonina (um neurotransmissor),
liberada com a escuridão e que induz ao sono. Já a claridade inibe a produção de melatonina.
Gônadas
Ovários
Testículos
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ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
Glândula tireoide
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UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
porém também pode estar localizado no interior do tórax. Em aves, é encontrada dentro
da cavidade torácica; ambos os lobos se localizam próximos à siringe, adjacentes à artéria
carótida e próximos à origem da artéria vertebral. As tireoides acessórias respondem à
TSH e são completamente funcionais. Os transtornos de tireoide são mais comuns nos
pequenos se comparados aos grandes animais.
Figura 4. Secção da glândula tireoide mostrando a localização das células foliculares e parafoliculares, os
capilares e o coloide.
Célula folicular
Capilares
Célula Parafolicular
Folículo da Tireoide
Cápsula da
Tireoide
Lúmen folicular
(Substância coloidal)
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ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
Figura 5. Fisiologia: Hormonogênese dos hormônios Tireoidianos. MIT = Monoiodotirosina; DIT= Diiodotirosina.
Bomba de Iodeto
2I¯
Peroxidase (Fe)
I2
+
Tirosina (tireglobulina)
Peroxidade (Fe)
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UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
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ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
O TSH, produzido pela adenoipófise, por sua vez, é estimulado pelo hormônio liberador
de tirotrofina (TRH), que é um tripeptídeo distribuído por toda área do hipotálamo,
mas em maior quantidade nos núcleos paraventricular e eminência mediana. O TRH
é metabolizado muito rapidamente, sua meia-vida plasmática é de aproximadamente
três minutos. O estímulo de TRH sobre a secreção de TSH ocorre pela ativação mediada
por receptor via fosfolipase C, o que estimula a mobilização de cálcio intracelular.
A estimulação crônica de TRH também aumenta a síntese e glicosilação do TSH,
aumentando desta forma a atividade biológica do TSH. A secreção de TRH é pulsátil,
assim como a secreção do TSH. Contudo, fora da tireoide, em diversos outros órgãos,
a regulação de T3 e T4 está vinculada a alterações nutricionais, hormonais e a fatores
relacionados a algumas enfermidades, o que pode variar em diferentes tecidos. Já a
glândula tireoide responde a níveis sanguíneos de iodo e de TSH formando os hormônios
tireoidianos e os libera na circulação (Figura 6).
Hipotálamo
Glândula
Pituitária
TSH
Glândula
Tireoide
T4
T3
T3 “reverse”
(antitireoidiano)
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UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
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ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
Hipotireoidismo
Constitui uma desordem endócrina rara no gato a qual sua ocorrência quase nunca se
desenvolve espontaneamente nessa espécie, sendo o tratamento do hipertireoidismo
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UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
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ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
Aspectos clínicos
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UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
Hipotireoidismo congênito
Diagnóstico
Primeiro porque pode haver a presença concomitante de outra doença, que em gatos
de meia idade a geriátricos é comum, confundindo os sinas clínicos. Estas doenças
concomitantes também podem resultar na síndrome do eutireoideo doente, que se
caracteriza por concentrações séricas de hormônios tiroidianos falsamente baixas.
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ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
Por isso o ideal é esperar no mínimo 3 meses antes de fazer um diagnóstico definitivo
de hipotireoidismo iatrogênico após o tratamento, especialmente se o gato não estiver
apresentando as características clínicas do hipotireoidismo.
Exames laboratoriais
Os achados mais comuns em animais com hipotireoidismo são plasma lipêmicos devido
à hipertrigliceridemia e principalmente hipercolesterolemia. Os hormônios da tireoide
aumentam tanto a síntese de colesterol, quanto o catabolismo hepático. Portanto, a
hipercolesterolemia resulta de uma redução de lipólise lipoproteica periférica, redução
de utilização hepática e aumento da produção hepática de colesterol, ou seja, o
catabolismo está reduzido se comparado à síntese. Esse aumento também é atribuído
à redução da excreção de colesterol biliar em animais com hipotireoidismo, causando
aumento do colesterol sanguíneo, apesar da síntese reduzida. A hiperlipidemia que
ocorre pode provocar aterosclerose dos vasos coronários e cerebrais, danos renais
e hepatomegalia.
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UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
Exames de imagem
Por ser a principal forma de expressão funcional da glândula tireoide, T4T é frequentemente
utilizada pelos laboratórios como ferramenta de triagem para avaliação do seu estado
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ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
Além disso, a doença não tireoidiana influencia o T4L menos do que influencia o T4
total. Portanto, o T4L é melhor para distinguir um gato eutireoideo de uma doença
não tireoidiana de um gato hipotireoideo. No entanto, apenas os ensaios de T4L
que usam a diálise de equilíbrio parecem confiáveis, e a maioria dos laboratórios
comerciais mede o T4L por meio de métodos analógicos inferiores. Embora a medição
da concentração de T4L pela diálise de equilíbrio seja um teste autônomo mais preciso
do que a concentração total de T4, o T4L está longe de ser perfeito para confirmar o
hipotireoidismo felino por três razões. Primeiro, doença não tireoidiana moderada a
grave pode falsamente diminuir a concentração de T4L, embora em menor grau do que
observado com T4 total, além de que até 15% dos gatos com doença não tireoidiana
desenvolvem uma concentração falsamente alta de FT4, confundindo ainda mais a
interpretação. Finalmente, o teste é aproximadamente duas vezes mais caro na maioria
dos laboratórios comerciais que o T4 total. Para suspeita de quadro de hipotireoidismo,
T4T não deve ser utilizada como ferramenta única diagnóstica, principalmente
nos processos em fase aguda de desenvolvimento ou de origem imunomediada.
Quadros de tireoidite com presença de autoanticorpos anti-T4 podem induzir resultados
falsamente elevados, uma vez que a técnica padrão do radioimunoensaio não consegue
distingui-los, havendo alta reação cruzada.
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UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
O teste de estimulação com TSH consiste na dosagem sérica de T4 total e livre antes e
após a administração de TSH. A coleta do soro, após a administração do TSH, deve ser
realizada após um período de 4 horas (no caso de administração de TSH intravenoso)
ou 8 horas (no caso de administração de TSH intramuscular), para a verificação sérica
dos hormônios tireoidianos. Caso o paciente esteja sob terapia tireoidiana, esta deve ser
interrompida 14 dias antes da execução do teste.
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ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
Tratamento
Um mínimo de 4 semanas deve ser transcorrido antes que a resposta clínica do gato
ao tratamento seja criticamente avaliada, devendo incluir as avaliações subsequentes
o histórico, exame físico, e aferição das concentrações séricas de T4 e TSH. Espera-se
após esse período uma manutenção de concentrações séricas de T4 entre 1,0 e 2,5 µg/
dL. Caso haja a normalização da concentração sérica de TSH sabe-se que o regime
terapêutico com levotiroxina é efetivo.
Prognóstico
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UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
Hipertireoidismo
O hipertireoidismo é uma desordem multissistêmica decorrente de excesso na produção
de hormônios tireoidianos ativos (triiodotironina [T3] e tiroxina [T4]) a partir de uma
glândula tireoide com funcionamento anormal.
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ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
Muitas vezes os tumores são bem difíceis de serem diferenciados, inclusive os adenomas
e das hiperplasias, ambos constituídos de estruturas foliculares irregulares e pequenos
ninhos sólidos de células foliculares, demonstrando pouca atipia nuclear ou atividade
mitótica, sendo a principal diferença entre essas duas alterações, é que o adenoma tem
cápsula e comprime o parênquima adjacente.
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UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
Aspectos clínicos
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ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
Dermatologia
Sistema gastrintestinal
A polifagia, que acontece em 98% dos casos, é causada pelo aumento da demanda
energética, e apesar do aumento da ingestão calórica a perda de peso é causada pelos
gastos energéticos e pela síndrome de má absorção gerada pela hipermotilidade
intestinal, que também podem ser acompanhados por esteatorreia. A hipermotilidade
gastrintestinal e a ação direta de T4 sobre o centro do vômito são um dos mecanismos
desencadeadores de diarreia e aumento de massa fecal e vômitos de intensidade crônica
ou esporádica nos gatos hipertireoideos. Todavia, é importante ressaltar que, em alguns
gatos hipertireoideos com outras doenças concomitantes, a perda de peso geralmente
é um sinal clínico comum, mas pode ser acompanhado de redução, e não aumento do
apetite. Pode haver também perda de massa muscular.
Sistema renal
A poliúria e polidipsia ocorre em menos de 50% dos casos, e pode ser resultado de uma
doença renal concomitante, pois os hormônios da tireoide também afetam o sistema
renal, aumentando o fluxo sanguíneo local, a taxa de filtração glomerular, reabsorção
e secreção tubular e pelo aumento da perfusão renal. Porém, tais sintomas também
ocorrem em muitos gatos sem evidência de disfunção renal, já que os hormônios
tireoidianos apresentam ação diurética. Tem-se observado que a polidipsia compulsiva
pode ter origem psicogênica, principalmente pela sensação de calor.
Sistema cardiovascular
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UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
Tudo isso se dá pela ação direta de hormônios tireoidianos sobre o miocárdio, assim
como a interação entre T3 e T4 com o sistema nervoso simpático, que estimula a
hipertrofia cardíaca e aumenta o volume plasmático, a pressão arterial sistêmica, o
débito cardíaco, a frequência cardíaca e a contratilidade, levando a um remodelamento
cardíaco compensatório, resultante de alterações na síntese e na degradação de
proteínas miocárdicas, o que favorece a hipertrofia.
Sistema respiratório
Sistema nervoso
A hiperatividade e comportamento agressivo são uns dos principais sinais que causam
grande preocupação nos tutores de pacientes afetados, e isso se dá devido aos efeitos
diretos no sistema nervoso. Felinos são geralmente irrequietos, podendo exibir
expressão de ansiedade e agressividade, tornando-se de difícil manuseio durante o
exame físico. Um fato que chama a atenção é a tolerância mínima desses animais diante
de situações que provoquem tensão, como uma simples viagem de carro até a clínica ou
hospital veterinário, juntamente com a contenção para o exame físico, pode resultar em
marcante angústia respiratória e fraqueza, com o surgimento de arritmias cardíacas (e
mesmo, parada cardíaca) em raros casos.
Essa capacidade diminuída de lidar com a tensão precisa ser considerada ao planejar os
procedimentos diagnósticos ou terapêuticos. A elevação das concentrações circulantes
de hormônios tireoidianos, presumivelmente por efeito direto sobre o sistema nervoso
e por aumento da atividade adrenérgica, causa hiperatividade, intranquilidade,
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ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
Sistema muscular
Em 90% dos gatos com hipertireoidismo, inclinando-se a cabeça do felino para trás,
pode-se palpar uma massa tireóidea discreta, o que não ocorre em gatos normais.
Alguns gatos apresentam dispneia, arquejamento, ou hiperventilação em repouso.
Essas anormalidades na função respiratória provavelmente resultam na combinação de
fraqueza dos músculos respiratórios e o aumento de produção de dióxido de carbono.
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UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
Diagnóstico
Exame físico
Outra opção é o gato sentado e o clínico posiciona-se diretamente por trás do felino
para palpar o lobo da tireoide direita, segurando sua cabeça com a mão esquerda do
clínico, que deve ser colocada na mandíbula do animal, elevando-a em um ângulo de
45° e rotacionando em um ângulo de 45° para a esquerda. A ponta do dedo indicador
direito desce da laringe até a entrada do tórax. Se o lobo for palpável, sente-se o lobo
deslizando pelo dedo. Deve-se repetir essa manobra por quatro vezes para maior
segurança da técnica.
Exames laboratoriais
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ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
Cerca de 90% dos gatos acometidos apresentam elevação atividade sérica de alanina
aminotransferase (ALT), aspartato aminotransferase (AST), que se dá em função de
hipermetabolismo hepático, disfunção hepática, má alimentação, hipóxia hepática
secundária e aumento do consumo de oxigênio pelo trato intestinal ou de forma
secundária aos problemas cardíacos e os efeitos tóxicos de T3, porém, isso não pode
ser considerado uma hepatopatia significativa porque os valores retornam ao normal
depois do tratamento para o hipertireoidismo. Já a atividade sérica da fosfatase alcalina
(FA) está aumentada em mais de 50% dos gatos hipertireoideos, sendo proveniente de
órgãos como fígado, ossos, intestino, além de outros tecidos. Sugere-se que o aumento
da FA em gatos com hipertireoidismo seja proveniente do fígado e dos ossos.
Exames de imagem
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UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
40
ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
Neste teste, administra-se 25µg de T3, por via oral, três vezes ao dia, por sete dias e
a concentração sérica de T4 e T3 é determinada antes da administração e oito horas
após a última administração de T3. Os gatos normais consistentemente apresentam
concentrações de T4 pós-dose menor que 1,5µg/dL, enquanto os gatos hipertireoideos
apresentam concentrações de T4 pós-dose maiores que 2,0µg/dL. Os valores entre 1,5
e 2,0µg/dL não são diagnósticos.
41
UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
43
UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
Por fim, há o teste de estimulação do TSH. O TSH exógeno deve ser um potente
estimulador da secreção do hormônio tireoidiano; no entanto, as concentrações
séricas totais de T4 mostram pouco ou nenhum aumento após a administração
exógena de TSH bovino em gatos com hipertireoidismo. O TSH humano recombinante
foi avaliado em gatos saudáveis e, embora pareça ser um substituto seguro e eficaz
para o TSH bovino, ainda não foi avaliado em gatos com hipertireoidismo. O teste de
estimulação do TSH não é recomendado para diagnosticar hipertireoidismo.
Tratamento
Após ter sido feito o diagnóstico, o tratamento consiste em controlar a excessiva secreção
de hormônio tireoidiano. O hipertireoidismo felino pode ser tratado de 4 maneiras,
sendo que todas as quatro modalidades de terapia são efetivas. Entre elas estão:
tireoidectomia; uso de iodo radioativo (I131) ou administração contínua de fármacos
antitireoidianos, ou uma dieta restrita em iodo (Quadro 1).
É sempre preferível tratar inicialmente com uma terapia reversível, para reversão dos
desarranjos metabólicos e cardíacos induzidos pelo hipertireoidismo. Além do cardíaco
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ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
CONTRA INDICAÇÕES
TERAPIA INDICAÇÕES DESVANTAGENS
RELATIVAS
Terapia a longo prazo para todas as formas de Terapia diária necessária, sem efeito
Metimazol,
hipertireoidismo; terapia inicial para estabilizar a sobre o crescimento da tireoide,
propiltiouracil, Nenhuma
condição do gato e avaliar a função renal antes reações adversas discretas comuns;
carbimazol
da tireoidectomia ou iodo radioativo severas reações possíveis
Terapia a longo prazo para todas as formas
Regimentos rígidos para garantir
de hipertireoidismo; terapia inicial para
Administração concomitante de nenhum acesso a qualquer outra fonte
estabilizar a condição do gato e avaliar a
Dieta restrita em medicamentos antitireoidianos dietética de iodo, o gato deve ser
função renal antes da tireoidectomia ou iodo
iodo não recomendada pelo fabricante mantido estritamente em ambiente
radioativo; opção terapêutica reversível para
da ração doméstico; problemático em um
gatos que desenvolvem reações adversas
ambiente com muitos gatos
para gatos
Lobo tireoidiano ectópico;
carcinoma metastático; lobos
Riscos anestésicos; recidiva da
Envolvimento unilateral dos lobos; grandes bilaterais simétricos (alto
Tireoidectomia doença; complicações pós-operatórias,
envolvimento bilateral, tamanhos assimétricos risco de hipocalcemia); sinais
especialmente hipocalcemia
sistêmicos severos; arritmias ou
insuficiência; insuficiência renal
Terapia para todas as formas de
Disponibilidade limitada; tempo de
hipertireoidismo; tratamento de escolha para
Iodo radioativo Insuficiência renal internação; potencial para um novo
lobo tireoidiano ectópico; carcinoma da
tratamento; prejudicial para humanos
glândula tireoide
Não é aconselhável iniciar o tratamento com uma dosagem maior que 5 mg/gato/dia.
Caso o proprietário não observe nenhum efeito adverso do metimazol, a dosagem
poderá ser elevada, caso necessário, para 2,5 mg, 3 vezes/dia (ou 5 mg pela manhã e
2,5 mg à noite, ou vice-versa), por mais 2 semanas. O gato deve retornar ao veterinário
após o término das 4 semanas de “triagem terapêutica”. Uma nova avaliação do
histórico e do exame clínico deve ser realizada. Amostras sanguíneas devem ser
colhidas para realização do hemograma completo, contagem de plaquetas, bioquímica
sérica (ureia, creatinina e AST) e mensuração da concentração de T4 total. A coleta
das amostras deve ser feita 4 a 6h após a dose mais recente do metimazol. Caso a
concentração sérica de T4 esteja entre os limites normais de referência ou perto
deles, a dosagem pode ser mantida por mais 2 a 6 semanas adicionais, possibilitando
nova determinação para verificar a necessidade de novos ajustes de dosagem. Caso a
concentração sérica de T4 esteja abaixo dos limites normais de referência, a dosagem
deverá ser reduzida.
46
ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
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UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
Efeitos adversos podem ser observados tanto com o metimazol quanto com o carbimazol,
embora sejam menos comuns e graves com o carbimazol. A anorexia, vômitos e letargia
transitórios, autolimitados são os efeitos colaterais mais comuns, ocorrendo em
aproximadamente 10% dos gatos tratados com metimazol.
Reduzir para metade a dose e a titulação para a dose eficaz mais baixa pode ser útil para
reduzir estes efeitos secundários. Os efeitos secundários mais graves incluem discrasias
sanguíneas, como neutropenia e trombocitopenia, em 3% a 9% dos gatos tratados;
hepatopatia em aproximadamente 2% dos gatos e escoriações da face e do pescoço em
2% a 3% dos gatos. Todos esses efeitos adversos são reversíveis com a descontinuação
do medicamento.
Metimazol ou carbimazol são adequados para tratar 99% dos gatos com hipertireoidismo.
Alguns gatos, no entanto, não toleram a dose de metimazol ou carbimazol necessária para
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ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
Iodo radioativo
Atualmente, é o tratamento definitivo de escolha por ser simples eficaz e seguro, além
de evitar o inconveniente da administração diária oral de fármacos antitireoidianos e os
efeitos colaterais associados a esses fármacos. Também evita os riscos e as complicações
pós-operatórias associados à anestesia e à tireoidectomia.
49
UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
A maior parte dos gatos hipertireoideos tratados com iodo radioativo são curados com
uma única dose (80% dos casos, 10% não respondem ao tratamento e 10% desenvolvem
hipotireoidismo).
Outra desvantagem é que durante esse período também não são permitidas visitas,
tornando os animais muitas vezes deprimidos.
Mesmo quando em casa, o gato continua emitindo radiação residual mínima por várias
semanas; portanto, o contato próximo com os proprietários deve ser limitado a períodos
não superiores a 30 minutos e a liteira suja deve ser descartada em sistemas de esgoto
sanitário por aproximadamente duas semanas. O contato com mulheres grávidas ou
crianças é totalmente proibido neste período.
50
ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
embora possa demorar vários meses para que os sinais clínicos de hipertireoidismo
sejam resolvidos completamente. Recidiva após I131 é possível, mas rara, e se ocorrer
pode ser de 3 ou mais anos após o tratamento.
Tireoidectomia
É uma opção efetiva de tratamento para gatos com hipertireoidismo, pois oferece cura
permanente sem tratamento medicamentoso contínuo, além de não necessitar de
equipamento especializado, mas deve ser sempre considerada como um procedimento
eletivo. Esta pode ser realizada com uma baixa incidência de complicações quando
realizada por um cirurgião experiente, porém em animais graves esta pode ser associada
com morbidade e mortalidade significativas.
A tireoidectomia é um procedimento simples que pode ser realizada pela maioria dos
cirurgiões, porém, candidatos ao procedimento cirúrgico necessitam de avaliação pré-
operatória extremamente cautelosa, para detecção de problemas concomitantes, como
doença renal e cardiomiopatia, principalmente devido à faixa etária desses animais que
geralmente são idosos.
O cloridrato de acepromazina, na dose de 0,1 mg/kg por via intramuscular, pode ser
empregado nos protocolos anestesiológicos como pré-medicação, pois tem propriedades
antiarrítmicas. A indução anestesiológica é segura e efetiva com o cloridrato de
cetamina, na dose de 5 a 10 mg/kg por via intramuscular. O propofol, na dose de 2 a
4 mg/kg por via intravenosa, pode ser empregado. Barbitúricos também podem ser
51
UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
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ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
53
UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
Uma técnica tem sido descrita, com retirada total do lobo tireoidiano e implantação da
glândula paratireoide externa no músculo esterno-hióideo. Realiza-se a ligadura dos
vasos tireoidianos craniais e caudais com fio absorvível número 4-0, onde remove-se
o lobo tireoidiano juntamente com a glândula paratireoide externa. A glândula
paratireoide externa é separada completamente do lobo tireoidiano com bisturi,
sendo colocada em uma gaze embebida em solução salina. Uma incisão no músculo
esterno-hióideo ipsilateral de meio a um centímetro é realizada e a glândula é
colocada nesse músculo, sendo suturado com um ponto simples. Se o outro lobo
estiver acometido, esperam-se 30 dias para a revascularização e a revitalização da
paratireoide implantada. A função da paratireoide costuma retornar em 21 dias
após implantação.
54
ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
Prognóstico
Glândulas adrenais
São um par de órgãos endócrinos, localizadas no tecido retroperitoneal ao longo
dos polos craniais mediano dos rins. Apresentam uma cápsula e estão divididas em
duas zonas distintas: o córtex e a medula. O córtex adrenal é subdividido em 3 zonas
(Figura 7), cada uma com características anatômicas específicas. A zona glomerulosa,
mais externa, secreta um hormônio mineralocorticoide conhecido como aldosterona.
A zona fasciculada vem logo a seguir e produz o glicocorticoide cortisol e, por fim,
a zona reticular que produz os hormônios sexuais ou esteroides androgênicos.
A medula adrenal é a região central da glândula e secreta os hormônios chamados
de catecolaminas.
55
UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
Zona Glomerulosa
Zona Fasciculata
Adrenal Zona Reticular
Medula
Rim
Em cães, geralmente, ocorre monocitose, mas não ocorre o mesmo em bovinos, equinos
e em gatos. Os mecanismos de eosinopenia induzida por corticosteroide não estão bem
estabelecidos. Já a linfopenia pode ser atribuída à linfólise no sangue e nos tecidos
linfoides, ao aumento do desvio de linfócitos do sangue para outros compartimentos
56
ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
Hiperadrenocorticismo
O Hiperadrenocorticismo (HAC) ou Síndrome de Cushing, é uma das endocrinopatias
que se refere ao conjunto de anormalidades clínicas e químicas que resultam da
exposição crônica a concentrações excessivas de glicocorticoides, sendo uma doença
incomum em gatos. Suas possíveis causas:
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UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
Aspectos clínicos
O hiperadrenocorticismo é uma doença de gatos de meia idade a mais velhos, com
uma idade média de 10 a 11 anos. Parece não haver predileção sexual, na maioria
dos estudos, porém, atualmente, tem sido sugerida uma ligeira predileção por sexo
feminino. Também não há relatos sobre predisposições raciais.
As manifestações clínicas mais comuns são poliúria, polidipsia, polifagia, tendo assim,
uma forte semelhança com os sinais clínicos iniciais do diabetes melito, podendo
inclusive ser causados pelo próprio diabete. Contudo, no hiperadrenocorticismo o
abdome abaulado ou penduloso, chama bastante atenção para a doença, podendo
inclusive evidenciar telangiectasia.
Há outros sinais clínicos também bem comuns principalmente cutâneos como alopecia
bilateral simétrica ou irregular, pelame malcuidado, ressequido, pele delgada e frágil
(síndrome da fragilidade cutânea felina). Obesidade e letargia também são comuns.
Mais tarde pode haver perda de peso, atrofia muscular, queda do pavilhão auricular,
hepatomegalia e infecções cutâneas.
Mesmo quando não há sinais clínicos evidentes um fato deve chamar atenção.
Gatos com diabetes melito de difícil controle e que progride à grave resistência
insulínica, devem ser investigados a fundo. A princípio, os sinais clínicos de
hiperadrenocorticismo são brandos e os exames do eixo hipofisário adrenocortical
geralmente são inconclusivos e de difícil interpretação na presença do diabetes mal
controlado. Com o tempo, o hiperadrenocorticismo passa a ser aparente e os gatos
acometidos apresentam debilidade cada vez maior apesar da insulinoterapia agressiva,
a perda de peso leva à caquexia e a atrofia dérmica e epidérmica faz com que a pele fique
extremamente frágil, delgada e passível de laceração e ulceração. As lesões dérmicas e
epidérmicas geralmente ocorrem quando o gato é escovado ou manipulado durante o
exame físico.
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ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
Diagnóstico
Exames laboratoriais
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UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
Exames de imagem
A radiografia tem sido menos usada pelo fato de que não é capaz de visibilizar a glândula
adrenal, a não ser que a glândula esteja calcificada ou extremamente aumentada de
tamanho (ambas as situações são raras), além disso, a calcificação bilateral da glândula
adrenal, quando detectada em gatos clinicamente normais, não deve ser interpretada
como uma evidência de tumor de adrenal, como ocorre nos cães.
60
ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
Vários testes endócrinos (Quadro 2) são usados para distinguir se os gatos apresentam
hipertireoidismo endógeno ou não, porém cada um dos testes tem suas vantagens e
desvantagens e nenhum deles é 100% confiável se o animal não apresentar manifestações
clínicas.
Quadro 2. Exames diagnósticos para avaliação do eixo hipofisário-adrenocortical em gatos com suspeita de
hiperadrenocorticismo.
Diferenciar hiperadrenocorticismo
hiperadrenocorticismo Abaixo da faixa de referência dependente de tumor
Necessidade de adrenocortical
dependente de hipófise Metade superior da faixa de
ACTH endógeno manipulação específica
de hiperadrenocorticismo referência ou aumentado hiperadrenocorticismo
da amostra
dependente de tumor Metade inferior da faixa de referência dependente de hipófise
adrenocortical não diagnóstico
61
UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
62
ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
A relação cortisol-creatinina urinária parece ser um teste sensível que pode ser utilizado
para ajudar a diagnosticar o hiperadrenocorticismo em gatos, no entanto, a constatação
de elevada relação na urina de cortisol-creatinina é comum em gatos em doença
moderada a grave não adrenal, acarretando diagnóstico falso-positivo, necessitando
nesses casos o diagnóstico ser confirmado por um outro teste.
Sugere-se que o teste seja aplicado como uma ferramenta de triagem, uma vez que
raramente um animal com a doença apresentará um resultado normal. Quando se obtém
63
UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
um resultado alterado, este serve como alerta para que seja realizada uma prova funcional
complementar ou uma avaliação ultrassonográfica das adrenais. Essa prova não deve
substituir, sob nenhuma hipótese, o teste de supressão pela dexametasona como forma
de confirmação do diagnóstico, pela possibilidade de produzir resultados falso-positivos.
Assim como no teste de baixa dose, para este teste, uma amostra de sangue é colhida
para determinar o cortisol basal, porém outras amostras são colhidas após 4 e 8h depois
da administração 1,0 mg/kg de dexametasona por via intravenosa.
Tratamento
No caso de hiperadrenocorticismo hipófise-dependente os tratamentos incluem
cirurgia da hipófise ou da adrenal, radioterapia da hipófise e terapias medicamentosas.
Podemos usar um agente adrenocorticolítico ou fármacos que bloqueiem uma ou mais
enzimas envolvidas na síntese de cortisol.
Medicamentoso
Mitotano
Os efeitos colaterais como anorexia, letargia e êmese também foram vistos nestes
animais mesmo não diminuindo as concentrações séricas de cortisol.
Trilostano
O tratamento com trilostano ainda tem poucos relatos, as doses diárias utilizadas
foram de 4,2 a 13,6 mg/kg e os resultados desse tratamento foram bastante variáveis.
Embora mais investigações precisem ser feitas, o trilostano parece ser uma opção válida
para o tratamento de gatos com hiperadrenocorticismo e deverá ser extremamente útil
no preparo pré-operatório de adrenalectomia uni ou bilateral destes pacientes.
Em gatos com sinais clínicos persistentes e valores de cortisol sérico acima dessa faixa
ideal, a dose de trilostano é aumentada para 30 a 60 mg/gato por dia, administrada uma
vez ao dia ou dividida no momento da alimentação. Ajustes de dosagem adicionais são
feitos conforme necessário, dependendo de exames posteriores e testes de estimulação
de ACTH. Em alguns gatos, doses diárias tão altas quanto 90 a 120 mg foram necessárias
para controlar os sinais clínicos e reduzir as concentrações de cortisol estimuladas pelo
ACTH na faixa ideal. Se um gato em trilostano apresentar sinais clínicos consistentes
com hipocortisolismo, o trilostano deve ser interrompido e um teste de estímulo com
ACTH deve ser realizado para confirmar se os sinais clínicos são devidos a baixas
concentrações de cortisol.
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ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
Cetoconazol
Porém, seu uso na espécie felina não está recomendado, pois pode causar sérios efeitos
colaterais, como trombocitopenia.
Metirapona
Cirúrgico
Hipofisectomia
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UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
Adrenalectomia
A adrenalectomia unilateral deve ser realizada em gatos com tumor unilateral secretor
de cortisol. Porém, estes animais exigem suplementação com glicocorticoide no
período aproximadamente de 2 meses após a cirurgia, até que a função secretora de
glicocorticoide da glândula contralateral atrofiada se recupere.
Terapia radioativa
Radioterapia hipofisária
Essa terapia tem por objetivo usar a radiação e a erradicação do tumor com a preservação
das estruturas teciduais normais e suas funções e tem por princípio básico que a radiação
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ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
clínica deve sempre ter um potencial benefício para o animal de estimação, embora os
resultados não sejam inteiramente previsíveis.
Prognóstico
Reservado a ruim, sempre sendo ser considerada como uma doença grave pois os gatos
hiperadrenais não tratados morrem meses após o diagnóstico por causa dos efeitos
deletérios do hipercortisolismo crônico e do diabetes melito insulinorresistente na
integridade cutânea e na função imunológica e devido à progressiva perda de peso,
que provoca grave caquexia. Além disso, a eficácia do trilostano não está totalmente
comprovada em gatos.
As causas mais comuns de morte em gatos não tratados são as infecções de pele pela
fragilidade cutânea e o atraso na cicatrização, além disso, hipercortisolismo crônico
prejudica as funções cardiovasculares, causando hipertensão arterial, tromboembolismo
pulmonar e insuficiência cardíaca congestiva.
Hipoadrenocorticismo
O hipoadrenocorticismo é uma doença pouco comum na rotina clínica, sendo rara em
felinos, mas que merece atenção por ser uma endocrinopatia resultante da falha de
secreção de corticosteroides (mineralocorticoides e/ou glicocorticoides) pelas glândulas
adrenais em função de insuficiência adrenocortical primária (doença típica, também
chamada de doença de Addison).
Alterações clínicas
Os sinais clínicos geralmente são vagos e manifestações clínicas mais comuns são
relacionadas a alterações inespecíficas como letargia, anorexia, perda de peso, vômito,
69
UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
Diagnóstico
Os resultados do teste de estimulação com ACTH não diferencia cães e gatos com
insuficiência adrenal primária de ocorrência natural daqueles com insuficiência
secundária causada por insuficiência hipofisária, cães e gatos com insuficiência
secundária provocada pela administração prolongada iatrogênico de glicocorticoides ou
cães com destruição adrenocortical primária causada pela superdosagem de mitotano
ou trilostano.
Tratamento
Vai depender muito da fase que o animal estiver. Nas crises addisonianas agudas há
deficiência de mineralocorticoide e glicocorticoide. O tratamento da insuficiência adrenal
primária aguda é direcionado à correção de hipotensão, hipovolemia, desequilíbrios
eletrolíticos e acidose metabólica, à melhora da integridade vascular e ao fornecimento
imediato de glicocorticoides.
71
UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
Prognóstico
Diabetes melito
A palavra diabetes significa “sifão” ou “passar através de”, nome com que os antigos
gregos designavam indivíduos que se distinguiam por eliminar grandes quantidades de
urina. As primeiras referências sobre Diabetes melito data de 1500 a.C.
É uma síndrome que abrange uma série de doenças de etiologias diferentes e clinicamente
heterogêneas e essa afecção de etiologia multifatorial resulta de uma deficiência relativa
ou absoluta de insulina, de uma incapacidade da insulina exercer de forma adequada as
suas ações biológicas, ou ambas.
Pâncreas
72
ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
ramos das artérias celíaca e mesentérica cranial, ambas provenientes da artéria aorta,
e a porção endócrina do pâncreas está organizada na forma de dispersos grupos de
células, as ilhotas de Langerhans, constituindo apenas cerca de 1 a 2% da massa total
pancreática.
Insulina
Controle da glicemia
A glicose, é a principal fonte de energia por sua total oxidação no processo de glicólise,
porém serve também como precursora de uma série de moléculas (aminoácidos, ácidos
nucleicos, lipídios e carboidratos). Além da insulina, o fígado é um tecido primário
envolvido no metabolismo da glicose, uma vez que ele pode secretar glicose para a
corrente sanguínea por dois mecanismos distintos: a glicogenólise e a gliconeogênese.
Classificação e etiopatogenia
73
UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
A DM tipo 2 é uma doença heterogênea que resulta de uma combinação entre uma
alteração de função das células-β e uma ação reduzida da insulina (resistência
periférica à insulina). A secreção de insulina pode estar elevada, baixa ou normal, mas
é insuficiente para superar a resistência à insulina nos tecidos. Os fatores ambientais
e genéticos desempenham um papel importante no desenvolvimento deste tipo de
diabetes. Os principais fatores de risco são: a obesidade, o aumento da idade, o sexo
masculino (principalmente em animais castrados) e a atividade física reduzida.
Os felinos machos parecem correr risco maior, o que representa cerca de 60 a 70%
de todos os diabéticos. Sugere-se que a castração determine um ganho de peso
em ambos os sexos, o que possibilitou o surgimento da doença em maior proporção
quando comparados com os animais inteiros. Além disso, machos ganham peso mais
comumente do que as fêmeas e acumulam maior quantidade de massa gorda devido
à oxidação de glicose, glicogênese e lipogênese aumentadas em resposta à insulina.
Independentemente do peso, os machos têm concentrações de insulina basal mais altas
e sensibilidade à insulina mais baixa, quando comparados às fêmeas, sugerindo-se assim
que os machos possam ser naturalmente mais resistentes à insulina do que as fêmeas.
74
ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
Assim como para humanos, a obesidade é o fator de risco mais importante, porém
mesmo assim, nem todos os gatos obesos irão desenvolver diabetes. Se as células-β
estiverem saudáveis e funcionais, vai haver uma resposta de adaptação à obesidade
e à insulinorresistência, com o aumento de secreção de insulina, de forma a manter a
tolerância normal à glicose.
Existem também outros tipos específicos de DM. Para os felinos, cerca de 10 a 20% dos
pacientes a diabetes é secundária à destruição pancreática por neoplasia pancreática
ou por pancreatite grave e recorrente. Porém, aproximadamente 80% dos gatos
com hipercortisolismo e 100% dos gatos com hipersomatotropismo são diabéticos,
o que revela a potente ação diabetogênica dos glicocorticoides e do hormônio do
crescimento (GH).
Gatos ainda podem ter a chamada diabetes de transição, ou seja, são animais em
tratamento com insulina ou hipoglicemiantes orais que de forma gradual ou súbita,
entram em remissão diabética, sendo a mesma, resolvida. Essa remissão espontânea
ocorre em cerca de 20% dos gatos diabéticos, geralmente entre 1 a 4 meses após o início
do tratamento adequado, e quando mantido um bom controle da glicemia.
Quanto a predisposição racial, os trabalhos variam muito, sendo que para alguns
pesquisadores, não há predisposição racial. Já um estudo realizado no Brasil, os gatos
da raça Siamesa e mestiços de Siameses apresentaram maior representatividade da
ocorrência do DM felino, enquanto que na Austrália, Nova Zelândia e Reino Unido, a
maior probabilidade de ocorrência do DM felino nos gatos da raça Sagrado da Birmânia.
Aspectos clínicos
gatos diabéticos não observam os sintomas clássicos da doença. Outros sinais clínicos
incluem letargia, diminuição da interação com os membros da família, ausência do
comportamento de lamber o pelame, com o desenvolvimento de pelos secos, sem brilho
e emaranhados.
Diagnóstico
Além disso, há uma alta capacidade de reabsorção renal de glicose, na espécie felina
(glicemia >270 mg/dL), portanto, só haverá glicosúria quando já houver considerável
hiperglicemia. Todavia, a glicosúria por si só, não é suficiente para o diagnóstico da
diabetes, uma vez que também está presente em casos de defeitos nos túbulos renais,
no estresse e na administração de certos fármacos. O estresse deve ser considerado
principalmente na raça felina, pois é altamente susceptível a sofrer de hiperglicemia
induzida pela situação de “luta ou fuga” (hiperglicemia transitória), mediada
pelas catecolaminas (epinefrina e norepinefrina) e também pelo “stress”, mediado
pelo cortisol, em situações de doenças crônicas, metabólicas e envolvimento de
situações dolorosas.
77
UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
O hemograma vai depender da situação que o paciente está. Animais com diabetes
sem complicações geralmente não há alterações. No entanto, pode estar presente uma
anemia ligeira e um leucograma de estresse (neutrofilia de segmentados e linfopenia,
podendo ter a quantidade de linfócitos normal, devido à grande mobilização do
Compartimento marginal nessa espécie). Os casos que há complicantes como em casos
de pancreatites ou outros processos infecciosos ou inflamatórios associados, pode
ocorrer uma leucocitose por neutrofilia, com a presença de neutrófilos tóxicos.
Embora as infecções bacterianas sejam uma causa rara (<1%) de doenças do trato
urinário inferior em gatos não diabéticos, nos diabéticos há uma predisposição à
infecção do trato urinário (ITU) devido à imunidade local prejudicada e à presença de
glicose (substrato bacteriano) na urina.
Por outro lado, gatos que apresentam sinais de doenças do trato urinário inferior ou
gatos suscetíveis a episódios repetidos de cistite, podem desenvolver diabetes como
resultado do estresse de sua doença (aumento dos corticosteroides endógenos),
inflamação associada à cronicidade resultando em resistência à insulina, ou como
resultado de terapia para sinais de doenças do trato urinário inferior se esteroides
exógenos foram usados).
Tratamento
O tratamento desta doença é complexo e visa: à eliminação dos sinais clínicos, atingir
ou manter um peso adequado e evitar as complicações resultantes da doença e do seu
tratamento a curto prazo (hipoglicemia e cetoacidose) e a longo prazo, permitindo,
78
ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
Insulinoterapia
A insulina é tipicamente caracterizada por sua espécie de origem, seu início, duração
e intensidade de ação após a administração parenteral. A terapia insulínica provê os
meios mais eficazes e confiáveis de alcançar o controle glicêmico em gatos diabéticos.
Tão logo se alcance o controle glicêmico, maior a probabilidade de remissão diabética.
Podem ser usados diversos tipos de insulina em gatos para a insulinoterapia de
manutenção, contudo, é difícil prever adiantadamente quais gatos reagirão melhor com
qual insulina, pois gatos diabéticos são notoriamente imprevisíveis em sua resposta à
insulina exógena e todas as preparações de insulina têm o potencial de efeito de curta
duração nesta espécie. Desse modo, o clínico deve ter conhecimento das opções de
insulina para o tratamento do diabetes felino.
O objetivo das primeiras aplicações não é atingir um controle glicêmico excelente, mas
sim permitir que o organismo se acostume com a presença da insulina e que cão e o
proprietário de adaptem à nova rotina e ao manejo. O tutor deve ser informado no
momento em que a terapia insulínica é iniciada de que vai demorar por volta de 1 mês
para se estabelecer um protocolo de tratamento com insulina satisfatório.
A insulina protamina zinco (PZI: 90% bovina e 10% suína) é uma das escolhas no
tratamento do diabetes felino, mas por enquanto, está disponível somente nos EUA.
A dose inicial recomendada é de 1 U/gato, a cada 12 h. Também já existe no mercado
norte-americano uma insulina PZI humana produzida por engenharia genética
e que com estudos concluiu-se que essa insulina é eficaz no controle glicêmico de
gatos diabéticos.
Os análogos da insulina de longa ação (glargina e detemir) são utilizados (Figura 8) para
se assemelharem à secreção relativamente constante de insulina pelo pâncreas entre as
refeições (insulina basal). Fisiologicamente, a principal função dessa secreção basal é
controlar a produção de glicose hepática. A insulina glargina tem pH de aproximadamente
4, sendo pouco solúvel no pH fisiológico, formando microprecipitados quando injetada
no tecido subcutâneo e devido a essa característica, pequenas quantidades da insulina
são liberadas lentamente e apresenta menor risco de causar hipoglicemia grave quando
comparada com outras insulinas existentes no mercado. As doses recomendadas da
insulina glargina para felinos vão variar conforme a glicemia inicial do animal e suas
respostas ao tratamento. Todo tratamento está esquematizado na figura 8.
A insulina detemir é outro análogo da insulina com ação basal, que tem um ácido graxo
(ácido mirístico) ligado ao aminoácido lisina na posição B29 da molécula de insulina.
Essa alteração promove retardo na sua absorção após a injeção subcutânea devido à
interação hidrofóbica entre os ácidos graxos, e uma vez absorvida, a detemir se liga
80
ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
Considerações sobre o manejo da insulina são muito importantes, pois apesar das
preparações serem estáveis à temperatura ambiente, refrigerá-las mantém uma
condição mais constante de armazenamento, levando a maior vida útil do produto, pois
quanto melhor a conservação da insulina, maior a duração da atividade do hormônio
no frasco. Congelar, aquecer ou agitar vigorosamente o frasco degrada a insulina.
Contudo, uma recomendação que pode evitar prejuízos ao tratamento por perda do
efeito da medicação é a troca periódica do frasco a cada 30 a 45 dias após aberto, como
recomendam as bulas de insulinas humanas, independentemente do volume residual.
Outras causas para falha na insulinoterapia é a diluição inadequada, administração
incorreta ou uso fora do prazo de validade.
81
UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
Monitorar Rechecar
Glicemia Glicemia Suspender
glicemia de glicemia
Jejum < manter ≤ insulina =
4/4h por em 1
180 mg/dl 180 mg/dl remissão
12h semana
Hipoglicemiantes orais
vezes mais potentes que as de primeira. Elas estimulam a secreção de insulina pelas
células β pancreáticas, por isso, alguma capacidade de secreção de insulina endógena
pancreática deve existir para que as sulfonilureias sejam eficazes. A resposta clínica ao
tratamento com glipizida em gatos diabéticos, tem sido variável e depende da gravidade
da perda das células β. Seu efeito hipoglicemiante é evidente por 12 a 24 horas, fazendo
com que seja possível administrá-los uma vez por dia. São absorvidas a partir do trato
digestivo e para se atingir uma concentração plasmática ótima, devem ser ingeridos 15
a 30 minutos antes das refeições.
83
UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
Estudos mostraram que houve associação positiva entre o tratamento do gato diabético
com glipizida e o desenvolvimento da amiloidose da ilhota pancreática. Parece que a
secreção aumentada de PPAI tem uma função nessa diferença. Após o tratamento dos
gatos com glipizida, eles tinham três vezes a secreção de PPAI basal e cinco vezes a
secreção de PPAI estimulada pela glicose mais alta, quando comparados com os gatos
em tratamento com insulina.
Dieta
A maioria dos gatos diabéticos são obesos, o que leva à resistência insulínica e,
inicialmente, ao aumento da secreção de insulina. O aumento da secreção de insulina
pode causar amiloidose e destruição das ilhotas de Langerhans e redução da produção
de insulina, quadro é semelhante ao diabetes tipo 2 em seres humanos. A correção da
obesidade é difícil em gatos, porque exige restrição da ingestão calórica diária, sem um
correspondente aumento no gasto calórico (exercício), além dos hábitos alimentares
dos gatos variarem consideravelmente, desde comer tudo no momento em que a comida
é oferecida até se alimentar de pequenas porções no decorrer do dia e da noite. Dietas
com alto teor de proteínas e baixa concentração de carboidratos são mais eficazes para
controlar a glicemia de gatos diabéticos e promover perda de peso, além de promover
melhor controle glicêmico, pode evitar os distúrbios causados pela restrição calórica
como a lipidose hepática, por exemplo.
A maior parte dos gatos domiciliados não precisa de mais do que seu requerimento
energético de repouso (RER) para atingir suas necessidades nutricionais. Isso significa
que a maioria dos gatos não precisa ingerir mais do que 45 a 50 kcal/kg/dia. Gatos
muito obesos podem precisar de restrição calórica abaixo desses valores, porém a perda
de peso tem que ser gradual, não excedendo mais do que 1 a 2% por semana. Se esse
objetivo não for conseguido, pode ser realizada uma redução adicional (10 a 20%) das
calorias oferecidas.
84
ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
A quantidade de calorias a ser oferecida deve ser calculada com base no peso ideal (ou
abaixo do peso atual), de acordo com o programa para redução de peso de felinos, pela
seguinte fórmula:
RER (baseado no peso ideal em kg) = 70 × (peso ideal)0,75 [ou 40 a 45 × peso ideal (em kg)]
Se o valor calculado não for menor do que o que já está sendo consumido pelo gato,
reduzir em 10 a 20% e reavaliar o paciente em 2 a 4 semanas, com objetivo de promover
a perda de peso gradual de 1 a 2% por semana. O gato diabético não precisa receber
refeições junto dos horários de aplicação de insulina, principalmente se insulinas
basais, como glargina ou detemir, estiverem sendo usadas. Gatos diabéticos com peso
ideal podem ser alimentados à vontade, porém os obesos, devem ter sua quantidade
diária de alimento fracionada em porções, oferecida várias vezes ao dia.
Exercício físico
85
UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
Monitoramento domiciliar
86
ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
alimentar durante o período de hospitalização são razões suficientes para excluir essa
possibilidade, pois favorecerá resultados imprecisos de glicemia devido a inapetência
no hospital ou a administração de insulina em um momento incomum. Portanto,
preferencialmente, a curva glicêmica deve ser realizada em casa e, se possível, pelo
proprietário, de modo que alguns fatores de estresse sejam minimizados.
A maioria dos glicosímetros está calibrada para uso humano, além de que a distribuição
da glicose entre o plasma e os eritrócitos é diferente no sangue felino em comparação
com o sangue humano. Os glicosímetros para uso humano, em geral, fazem leituras
mais baixas (cerca de 18 a 36 mg/dℓ) do que as aferições realizadas em analisador
automatizado bioquímico. Para complicar ainda mais a questão, a glicose sérica total
(medida com um glicosímetro) é cerca de 10% mais baixa do que a glicose plasmática
com glicólise inibida (tubos com fluoreto). Também em comparação com as aferições de
glicose sérica total, a glicose sérica reduz-se em cerca de 5 a 7% por hora em decorrência
do metabolismo sustentado de glicose pelos eritrócitos, e esta queda se dá até mesmo
em tubos com inibidores de glicólise, resultando em leituras reduzidas da glicose
plasmática em comparação com amostras séricas prontamente centrifugadas. Além
disso, as medidas de glicose sérica capilar podem estar entre 10 e 24% mais elevadas
que a glicose sérica total venosa em estado de não jejum. Apesar dessas variações, os
estudos em gatos mostram alternância mínima entre as amostras obtidas do pavilhão
auricular em comparação com a veia periférica, podendo este teste ser aplicado de
maneira confiável.
O glicosímetro testado até o momento que apresentou o maior grau de acurácia foi o
AlphaTRAK, um dos poucos aparelhos calibrados para uso em pacientes veterinários.
Embora o AlphaTRAK não seja tão fácil de utilizar como os glicosímetros para medicina
humana, ele requer um volume de amostra muito pequeno (0,3 μℓ) e o tempo de exame
é de apenas 15 s, porém deve-se estar bem atento para saber se este aparelho está
realmente calibrado para a espécie felina, uma vez que o ajuste incorreto diminui muito
sua acurácia. Os glicosímetros devem ser selecionados com cuidado para uso na clínica
87
UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
Resistência insulínica
Efeito Somogyi
Não existem diretrizes específicas para tal raro fenômeno, porém, se houver a suspeita,
a abordagem prudente é retirar a insulina por 24h e, a seguir, reintroduzi-la sob dose
muito mais baixa, como 50% da dose pregressa.
Neuropatia diabética
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UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
Crises diabéticas
Essas decorrem da falta relativa ou completa de insulina e do aumento nos hormônios
contrarreguladores, levando à gliconeogênese e à resistência à insulina, à redução na
utilização da glicose pelos tecidos periféricos, à hiperglicemia e à glicosúria com diurese
90
ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I
obrigatória. As duas crises diabéticas mais comuns são a cetoacidose diabética (CAD) e
a síndrome hiperglicêmica hiperosmolar (SHH), que não é cetótica.
Os dois distúrbios são iniciados pela falta relativa de insulina, assim como no DM não
complicado, porém ocorre como culminância da cascata de eventos iniciados pela
resposta do organismo. A insulina retarda a lipólise de modo que, sem a insulina, os
adipócitos sofrem micrólise para liberar ácidos graxos livres (AGL) para a circulação.
Os AGL circulantes são captados pelo fígado para a produção de triglicerídeos e também
para a elaboração de corpos cetônicos, que podem se tornar uma fonte adicional de
energia para a maioria das células.
Cetoacidose diabética
Em geral, esses animais apresentam anorexia e letargia, quase sempre estão desidratados,
com outros sinais inconsistentes. O achado laboratorial fundamental consiste em
cetose, porém os gatos também estão acidóticos e, naturalmente, hiperglicêmicos.
Os corpos cetônicos podem ser identificados na urina com tiras reagentes urinárias, ou
nas tiras reagentes para corpos cetônicos plasmáticos, que têm pouca probabilidade de
conferir um resultado falso-negativo, mas o índice de falso-positivo pode alcançar 33%.
Por outro lado, tiras reagentes para corpos cetônicos urinários têm pouca probabilidade
de conferir um resultado falso-negativo, contudo podem ocorrer resultados falso-
positivos em 18% dos casos. Os testes podem ser usados concomitantemente se houver
qualquer dúvida sobre o resultado.
Prognóstico
91
UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA
92
HEMATOLOGIA UNIDADE II
CAPÍTULO 1
Hematologia e distúrbios
imunorrelacionados
Introdução
Composição do sangue
93
UNIDADE II │ HEMATOLOGIA
Já o soro é a porção líquida do sangue que resta após a coagulação e remoção do coágulo,
portanto não contém a maioria dos fatores da coagulação.
Todo exame começa pela qualidade da amostra, que depende de uma boa coleta.
A espécie felina é particularmente afetada nessa etapa, podendo resultar em números
totalmente alterados, levando à intrepretações errôneas. Uma das razões são as
alterações causadas pela excitação (adrenalina) e ou estresse (corticoides); outra a
tendência de agregação que suas plaquetas têm e por fim podemos citar os pequenos
volumes de amostras que geralmente são enviados.
Hematopoiese
A palavra hematopoiese significa formação das células do sangue. Abrange o estudo
de todos os fenômenos relacionados com a origem, com a multiplicação e a maturação
94
HEMATOLOGIA │ UNIDADE II
Eritropoiese
É o processo de formação de eritrócitos (Figura 9), que para resultar numa célula
madura leva de 5 a 8 dias para se completar. Inicia-se pelo estímulo célula pluripotencial
de origem mesenquimal chamada célula-tronco ou célula-mãe que é estimulada a
proliferar e diferenciar-se em “burst” de unidade formadora eritroide (BUF-E), quando
há hipóxia tecidual. De BUF-E há proliferação e diferenciação para unidade formadora
de colônia eritroide (UFC-E), sendo a eritropoietina (EPO) o fator de crescimento
primário envolvido nesse processo. A EPO é produzida por fibroblastos adjacentes aos
túbulos renais perto da junção corticomedular em resposta à diminuição da tensão
local de oxigênio e o aumento na sua produçãoinicia-se dentro de minutos após o início
da hipóxia, com a produção máxima ocorrendo 24 horas depois.
95
UNIDADE II │ HEMATOLOGIA
Reticulócitos
Reticulócitos, portanto, são eritrócitos imaturos (Figura 10) que ainda contêm um
grau variável de dobras membranosas e invaginações de superfície mantendo ainda
ribossomos, complexo de Golgi e mitocôndrias residuais que os capacitam a sintetizar
mais de 20% do conteúdo final de hemoglobina já que ainda são células maiores que
os eritrócitos maduros e apresentam concentrações mais baixas de hemoglobina pois
acabaram de perder o núcleo, deixando um espaço “vazio” em seu lugar. Sua contagem
é o melhor indicativo semiquantitativo da atividade efetiva da eritropoiese medular.
Após coloração com corantes supravitais (novo azul de metileno ou azul cresil brilhante)
essas organelas citoplasmáticas aparecem nos reticulócitos como precipitados em forma
de cordões (reticulócitos agregados) ou esparsos (pontilhados). Porém, quando corados
pelos métodos usuais, os reticulócitos são vistos como células não nucleadas, um pouco
maiores que os eritrócitos adultos, apresentando certa policromatofilia. Portanto, a
existência de reticulócitos na circulação é responsável pela variação de tamanho e cor
celulares observada ao exame do esfregaço sanguíneo nas anemias regenerativas.
Figura 10. Diagrama mostrando o amadurecimento progressivo dos reticulócitos felinos. Os reticulócitos
agregados perdem suas inclusões e amadurecem formando reticulócitos pontilhados em cerca de 12h. Os
reticulócitos pontilhados lentamente perdem suas inclusões durante o período de cerca de 10 dias.
Cel.
Metarrubrícito Agregado Pontilhado Madura
Fonte: The Cat: Clinical Medicine and Management, 1. ed., Susan Little, Copyright © 2012 by Saunders.
mais azulados que os eritrócitos maduros; e são os menos maduros dos dois tipos
de reticulócitos. Os ribossomos mostram-se azul-escuros após a coloração com novo
azul de metileno. A maior parte dos ribossomos é removida em 12h conforme a
célula amadurece, formando um reticulócito pontilhado. Os reticulócitos pontilhados
apresentam alguns pequenos pontos representando os ribossomos remanescentes
e pegam a cor de um eritrócito maduro. São necessários 10 a 14 dias para que os
ribossomos remanescentes sejam removidos e a célula se torne um eritrócito maduro
antes de entrar no sangue por diapedese através de células endoteliais que contornam
os sinusoides medulares. A sua liberação para o sangue é controlada por um número
de fatores que agem em conjunto, incluindo a concentração de eritropoietina e
deformabilidade capilar e carga de superfície.
É importante ter em mente que esses dois tipos de reticulócitos não são células
diferentes, e sim a evolução no amadurecimento do eritrócito. Conforme a anemia
torna-se mais grave, reticulócitos mais jovens são liberados na tentativa de aumentar
o número de células eritrocitárias transportadoras de oxigênio. O resultado é o
aumento do número de reticulócitos agregados na circulação. Como eles podem
amadurecer muito rapidamente até reticulócitos pontilhados, a existência de
números maiores de reticulócitos agregados circulantes sugere hipoxia sustentada.
Um importante conceito relacionado com anemia felina é se requer o aumento do
número de reticulócitos agregados (acima da variação de referência do laboratório)
antes de a anemia de moderada a grave ser considerada regenerativa. A menos que a
anemia seja branda, e os reticulócitos agregados mais imaturos não sejam necessários,
reticulócitos pontilhados individualmente não são evidência de regeneração. Em
gatos, o número absoluto de reticulócitos agregados é um indicador mais confiável de
regeneração do que o percentual corrigido de reticulócitos ou do índice de produção
de reticulócitos.
A contagem de reticulócitos deve ser sempre corrigida para o grau de anemia para que
seja real em relação a quantidade e resposta (Quadro 3) do organismo. Isso pode ser
feito de duas maneiras, corrigindo-se pelo VG ou pelo número de hemácias, realizados
pelas contas a seguir.
97
UNIDADE II │ HEMATOLOGIA
Corrigidos em Porcentagem
Gato: 37% de Ht
Corrigidos Absolutos (por microlitro)
Felinos Felinos
Intensidade da Resposta Agregados Ponteados
% (x10³/uL) % (x10³/uL)
Nula 0-0,4 (<15) 1-10 (<200)
Fraca 0,5-2 (50) 10-20 (200)
Moderada 3-4 (100) 20-50 (1000)
Intensa >5 (>200) >50 (>1500
Distúrbios eritrocitários
Distúrbios quantitativos
Anemia
doença, por isso a necessidade da classificação das anemias, para chegar mais próximo
possível do diagnóstico e assim empregar o tratamento adequado.
Classificação morfológica
Caso a anemia seja absoluta ele deverá ser classificada inicialmente de acordo
com sua morfologia, ou seja, tamanho do eritrócito (volume corpuscular médio –
VCM) e pela concentração de hemoglobina dentro do eritrócito (concentração de
hemoglobina corpuscular média – CMHC). Além disso, aparelhos mais modernos
ainda disponibilizam Red Cell Distribution Width (RDW), que indica a amplitude de
distribuição dos eritrócitos.
99
UNIDADE II │ HEMATOLOGIA
Classificação patofisiológica
Anemia hemorrágica
A hemorragia pode ser aguda (por exemplo causada por traumas, úlceras gastrointestinais,
cirurgias, defeitos na hemostasia) ou crônica (causadas por parasitismo, úlceras
gastrointestinais, hematúria, neoplasias).
100
HEMATOLOGIA │ UNIDADE II
Anemia hemolítica
A hemólise é causada pela destruição acelerada dos eritrócitos que pode ser intra ou
extravascular (fagocitose pelo sistema monocítico fagocitário). A anemia hemolítica
geralmente apresenta uma resposta altamente regenerativa (anisocitose, policromasia,
reticulocitose).
Gatos com AHIM, seja primária seja secundária, exibirão sinais relacionados com a
anemia, que podem envolver anorexia, letargia, fraqueza ou dificuldades respiratórias,
além de poder haver outros sinais em decorrência da doença subjacente em gatos com
AHIM secundária.
O diagnóstico de AHIM pode ser frustrante, pois existem muitos mecanismos que
provocam hemólise e que não envolvem o sistema imunológico, contudo é importante
101
UNIDADE II │ HEMATOLOGIA
Para fechar o diagnóstico de AHIM, outras causas de hemólise devem ser eliminadas.
Convém realizar hemograma com contagem de reticulócitos e plaquetas, perfil
bioquímico sérico e urinálise. A condição retroviral do gato deverá ser avaliada e cabe
realizar o teste PCR para DNA de M. haemofelis. Cabe realizar radiografia de tórax
e ultrassonografia abdominal para se descartar potenciais infecções brônquicas ou
massas torácicas ou abdominais. O exame da medula óssea poderá ser útil quando uma
resposta regenerativa à anemia for equívoca.
Gatos são muito tolerantes a VGs muito baixos, inclusive para estados não compatíveis
com tal situação. Todavia, quanto mais baixo o VG, maior deverá ser o número de
reticulócitos agregados e se o número de reticulócitos não for apropriado para o grau
de anemia, ela poderá ser não regenerativa, em cujo caso uma resposta imunológica
direcionada a precursores eritrocitários na medula óssea poderia ser considerada.
102
HEMATOLOGIA │ UNIDADE II
A clorambucila é um fármaco aceitável para uso em gatos, bem tolerado por apresentar
poucos efeitos colaterais (sendo a mielotoxicidade um deles) assim, a primeira escolha
quando existe necessidade de mais um fármaco. As dosagens variam entre 2 mg/gato
por via oral a cada 48 a 72h; a 0,1 a 0,2 mg/kg por via oral a cada 24h.
103
UNIDADE II │ HEMATOLOGIA
O baço felino tem uma natureza não sinusoide é por isso é ineficaz na remoção de
eritrócitos com corpúsculos de Heinz, pois como são rígidos não são forçados a se
comprimir ao passar pela polpa vermelha, consequentemente, eles se acumulam. Por esse
motivo, até 20% dos eritrócitos em gatos sadios podem apresentar corpúsculos de Heinz.
As substâncias oxidativas são radicais livres que danificam estruturas celulares. Podem
se acumular quando existe aumento na produção ou diminuição da destoxificação
do radical livre, que pode ser produzido espontaneamente a partir do oxigênio.
Também podem ser consequência de fármacos, vegetais ou substâncias químicas com
propriedades oxidativas (Quadro 4).
104
HEMATOLOGIA │ UNIDADE II
Depois que a substância oxidativa for removida do gato, os corpúsculos de Heinz devem
desaparecer entre 1 e 4 semanas seguintes.
Alimentos
»» Cebola
»» Propilenoglicol
»» Brócolis
»» Alho
»» Alimento à base de salmão
Fármacos
»» Acetaminofeno
»» Benzocaína
»» Propofol
»» DL-Metionina
»» Vitamina K3
Metais
»» Zinco
»» Cobre
Doenças
»» Diabetes melito (em especial com cetoacidose)
»» Hipertireoidismo
»» Lipidose hepática
»» Linfossarcoma
Fonte: The Cat: Clinical Medicine and Management, 1. ed. Susan Little, Copyright © 2012 by Saunders.
Este tipo de anemia geralmente apresenta curso clínico crônico e início lento permitindo,
assim, uma adaptação fisiológica à redução na massa de hemácias,sendo esse animal
assintomático. Pode ser desencadeada por diversas causas como por exemplo doença
renal crônica, doença hepática, doença inflamatória ou infecção crônica, neoplasias,
doença primária da medula óssea, doenças endócrinas (hipoadrenocorticismo,
hiperestrogenismo, hipoandrogenismo), lesão tóxica da medula levando a mielodisplasia
(radiação, agentes químicos, intoxicação).
Gatos sadios costumam não apresentar depósitos de ferro visíveis em sua medula óssea,
embora sua existência descarte a deficiência do mineral, sua ausência não a comprova,
pois concentrações séricas de ferro individualmente são inespecíficas demais. Por isso,
pode ser útil aferir a capacidade de ligação do ferro total (CLFT, que é a medida da
concentração de transferrina, uma proteína do plasma que funciona no transporte do
ferro) e as concentrações séricas de ferritina.
106
HEMATOLOGIA │ UNIDADE II
pode ser dividida. A dose deverá ser diminuída em 50%, quando o VG estiver na
variação de referência. Se a absorção intestinal for questionável, ferro dextrana
deverá ser administrado por via intramuscular a 50 mg a cada 3 a 4 semanas, até
a doença gastrintestinal estar sob controle. Ocasionalmente, ocorrerão reações de
hipersensibilidade associadas às injeções de ferro dextrana.
Dentro das anemias arregenerativas algumas causas merecem destaque, por terem
características próprias e aparecerem com frequência na clínica médica.
107
UNIDADE II │ HEMATOLOGIA
Nessa situação inevitávelmente a anemia ocorre por vários motivos, entre eles:
Essa dose pode ser modificada se a anemia for particularmente grave sem exigir uma
transfusão. Se o VG estiver abaixo de 14%, 150 U/kg podem ser administrados por via
subcutânea, 3 vezes/semana.
108
HEMATOLOGIA │ UNIDADE II
Um gato que não responde deverá ser avaliado quanto à deficiência de ferro, perda
de sangue externo, anemia da doença inflamatória ou desenvolvimento de anticorpos
direcionados contra rhEPO; ou ainda estocagem, manuseio ou administração inadequados
pelo proprietário também devem ser considerados. O frasco do medicamento deve
estar refrigerado e convém ter cuidado para não agitar vigorosamente o frasco, a fim de
evitar a desnaturação de proteínas.
Embora a molécula de rhEPO seja bastante semelhante à EPO endógena do gato, ela não
é idêntica e essa variação estrutural é suficiente para o sistema imunológico de alguns
gatos reconhecerem a rhEPO como uma proteína estranha e montarem uma resposta
imunológica (anticorpos contra a proteína). Isso ocorre com aproximadamente 20 a
50% dos gatos que recebem rhEPO, por mais de 4 semanas. Esses anticorpos bloqueiam
tantos os efeitos biológicos não apenas da rhEPO, quanto também da EPO endógena
do animal; o que pode levar à aplasia de eritrócitos potencialmente fatal, conforme o
hematócrito do paciente cai a níveis abaixo daqueles pré-tratamento.
Policitemia
Trata-se do aumento da massa de eritrócitos conforme medida pelo aumento do
hematócrito, do número de eritrócitos e da concentração de hemoglobina. O termo
mais correto a ser utilizado é eritrocitose, já que policitemia definiria o aumento de
todas as linhagens sanguíneas. É sempre um sinal de doença, sendo, portanto, sempre
um distúbio secundário.
Sinais clínicos
109
UNIDADE II │ HEMATOLOGIA
por distensão e, possivelmente, trombose desses vasos. Isto leva à hiperemia ou cianose,
sangramento (devido à ruptura dos pequenos vasos). Pode haver também sinais no
sistema nervoso central, pela obstrução dos vasos resultando em hipoxemia do sistema
nervoso central e subsequentes alterações no estado mental, convulsões, fraqueza,
ataxia e cegueira. Aproximadamente 25% dos gatos apresentarão esplenomegalia.
Classificação
A classificação se dá de acordo com sua fisiopatologia, além disso, o distúrbio pode ser
relativo ou absoluto (Figura 11).
Policitemia
(PCV > 59%)
Repetir VG
Policitemia relativa
Hidratação
contração esplênica
Policitemia absoluta
primária (Policitemia
Sem etiologia Vera) doença
detectável mieloproliferativa.
Fonte: The Cat: Clinical Medicine and Management, 1 ed., Susan Little, Copyright © 2012 by Saunders.
Leucócitos
Leucopoiese
É parte da hematopoiese que ocorre formação de células brancas do sangue por meio
de um sistema complexo envolvendo células-tronco com capacidade de autorrenovação
e diferenciação em linhagens celulares através de pequenos estímulos específicos
produzindo os leucócitos (Figura 12).
111
UNIDADE II │ HEMATOLOGIA
Figura 12. Diferenciação celular a partir de células-tronco plurepontenciais em linhagens celulares comprometidas
do sistema hematopoiético.
Existe uma circulação destas células no organismos, dos locais de produção para os
de suas funções ou locais de destruição. Por isso, ocorre uma constante mudança dos
parâmetros leucocitários.
112
HEMATOLOGIA │ UNIDADE II
pool marginal é de 3 para 1, por isso da mudança tão abrupta nos valores leucocitários
em momentos de cortisol e adrenalina aumentadas. Para os linfócitos, o conceito de
armazenamento pré-disponível também ocorre. É a única das células de defesa que
possui reecirculação, sendo que cerca de 25% do seu total volta para os linfonodos,
além de poderem “entrar e sair” de tecidos.
Basófilos, possuem tempo de circulção entorno de 2 dias para menos, sendo sua meia-vida
de apenas 6 horas. São células que além do papel de defesa, com ação de seus grânulos
citoplasmáticos, possuem também substâncias que promovem reações inflamatórias
de hipersenbilidade atraindo os eosinófilos.
Estas células, portanto, são análisadas a fim de avaliar o estado atual de defesa do
animal, por meio de técnicas de quantificação e avaliação morfológica. São colhidas
amostras em tubos contendo EDTA, que podem ser armazedas a 4º por 24 horas ou
várias horas em temperatura de 25º.
Leucograma
É uma parte importante da avaliação, que por meio de uma lâmina com esfregaço
sanguíneo corado, avaliamos os leucócitos em quantidade e morfologia, sendo de
fundamental importância já que contadores automatizados estão sujeitos a interferências
amostrais que resultam em erros.
113
UNIDADE II │ HEMATOLOGIA
elevado de células no seu pool marginal. Ao sairem de casa, por exemplo, quando
não acostumados, o organismo começa a produzir e liberar substâncias químicas,
mobilizando os leucócitos marginais. Os valores podem ser afetados de tal forma que
aumente os valores totais em até 4x os valores de referência. Quando em stress, a situação
pode ser dividida em 3 partes: stress agudo (estimulação do simpático), alteração
comportamental e stress crônico, que é a ativação do eixo hipotálamo-pituitária- adrenal.
Distúrbios leucocitários
Quando em situações de stress agudo, ordenado pela adrenalina, como em casos de
venopunção, excitação e medo, esperamos uma leucocitose, neutrofilia, eosinofilia
(às vezes) e linfocitose, denominado leucocitose fisiológica. Já em casos como dor
persistente ou ambientes estressantes, observamos o leucograma de stress, decorrente
do cortisol liberado, caracterizado por leucocitose, linfopenia, neutrofilia e eosinopenia.
A contagem total dos leucócitos sofre influências dos mais diversos fatores (inflamação
e infecções) e desta forma, reage de acordo, aumentando ou diminuindo seus valores.
Indo para classificação dos leucócitos, cada tipo celular também pode sofrer aumento
ou diminuição. Quando nos referimos aos neutrófilos, ainda classificamos eles quanto
ao tipo de resposta, em desvio à esquerda (produção de células jovens) ou direita
(presença de células hipersegmentadas), sendo então a resposta do organismo frente
à patogenia. O desvio à esquerda caracteriza-se pela presença de neutrófilos jovens
circulantes (mielócitos, metamielócitos, bastonetes e promielócitos), sendo uma
resposta reacional a infecção/inflamação, tem característica de escalonada, sendo maior
a presença de neutrófilos maduros do que jovens na circulação, denominado desvio
à esquerda escalonado. Este desvio não escalonado, implica na resposta de liberação
de granulócitos jovens em processo de produção não hierárquica associado assim à
disfunção da medula óssea.
Linfócitos, são considerados uma resposta específica, que pode ser por meio de
anticorpos (linfócitos B) ou por citotoxidade (linfócitos T). Linfoxitose ocorre na
maioria das afecções virais (FIV/FeLV) e algumas bacterianas como tuberculose.
114
HEMATOLOGIA │ UNIDADE II
115
ONCOLOGIA UNIDADE III
CAPÍTULO 1
Oncogênese nos felinos
Introdução
Oncologia vem do grego oncos = tumor e logia = estudo, portanto, oncologia é a área
da medicina/medicina veterinária que estuda os tumores e neoplasias que aparecem
nos seres vivos. Estas alterações são um problema comum nos animais atualmente,
sendo um obstáculo na qual a medicina veterinária enfrenta, tanto no âmbito
diagnóstico quanto no tratamento e cada vez mais este diagnóstico é fechado. O início
do aparecimento ocorre em nível celular, dentro do núcleo, mais especificamente,
no processo de divisão (mecanismo de proliferação), onde dividem-se e durante o
processo ocorre uma codificação atípica, gerando uma célula diferente da qual o código
genético traduziria.
O organismo vivo, multiplica-se diariamente, a todo instante e com alta taxa de replicação,
sendo os erros “normais” de acontecerem. Para tanto, a própria célula possui mecanismos
de reparos que “concertam” as falhas, é um mecanismo inato que ajuda os organismos
a produzir células corretas para a qual se dividem. Mas nem sempre são 100% eficazes,
produzindo mutações que se perpetuam e formam as neoplasias/tumores.
116
ONCOLOGIA │ UNIDADE III
Já para o termo “tumor”, ele inicialmente foi usado para aumentos de volume decorrentes
de aumentos de volumes, geralmente causados por processos inflamatórios, sendo hoje
em dia o termo utilizado de forma inadequada, como sinônimo de neoplasias/câncer.
E como as neoplasias ocorrem nos gatos? De forma aleatória e oportuna frente aos
fatores necessários para o desencadear. As neoplasias podem acontecer somente
pela pré-disposição individual do organismo ou até mesmo decorrente de fatores de
desenvolvimento não genéticos. Aliado a isso, temos um aumento na expectativa de
vida dos animais, devido aos melhores cuidados que temos com eles, com melhores
medicamentos, terapêuticas, diagnósticos, vacinas, etc.
Temos o câncer como um dos maiores causadores de doenças e óbitos nos animais
domésticos. Dispomos de inúmeros trabalhos de revisões e registros oncológicos em
clínicas e hospitais veterinários, que ao longo dos anos relatam as causas de morbidade
e mortalidade. Muitos destes registros são liberados à consulta popular e, garantem
assim, um fluxo de informação epidemiológica e biológica do estado atual do câncer.
O CANR (California Animal Neoplasm Registry) relata em seu banco mais de 30.000
casos clínicos diagnosticados como neoplasia maligna, baseados nela, temos trabalhos
relacionados com estimativa, demostrando que o câncer de pele é o que mais afeta os
felinos domésticos. Outros trabalhos demostram que nos Estados Unidos existe cerca de
90 milhões de gatos, destes, 4 milhões todos os anos desenvolvem algum tipo de câncer.
Com os registros oncológicos pelo mundo, vários estudos epidemiológicos são realizados,
traçando fatores de risco, incidência, que mais causam problemas, tratamentos,
evoluções, frequências etc. Por meio destes recursos, estima-se que 1 a cada 10 felinos
desenvolvem alguma neoplasia.
Os felinos têm grande papel quanto a estes estudos, já que são uma espécie de
disseminação mundial e o acometimento pela doença ocorre de forma espontânea.
O ponto-chave, baseia-se na semelhança dos fatores causadores. Nos felinos temos o
vírus da leucemia felina (FeLV) e o vírus do sarcoma felino (FeSV), consequentemente
tornam-se alvos de estudos comparativos sendo que em seres humanos também existem
vírus que desencadeiam neoplasias. Desta forma, os mecanismos de desenvolvimento
e evolução são estudados na espécie de forma comparativa. Neoplasias mamárias,
sendo a maior causa de câncer entre os felinos, também é alvo de estudos comparativos,
117
UNIDADE III │ ONCOLOGIA
As neoplasias de pele em felinos, são consideradas o segundo grupo mais comum, sendo
a incidência anual de tumores de pele de 120 a cada 10.0000 gatos com 50% a 65%
dos casos serem malignos, sendo indiferente o sexo do animal, mas relevante a idade
(quanto mais velho mais chances no desenvolvimento de tumores).
Em região auricular são pouco comuns, representando de 1-2% dos casos. Qualquer
neoplasia de pele pode surgir nesta região, sendo os mais frequentes carcinoma de
células escamosas, tumor de células basais, mastocitoma e o linfoma cutâneo. Surgem
geralmente em animais com idades médias entre 7 aos 11 anos e em animais mais novos,
no caso de felinos, podem ocorrer crescimento de pólipos na região auricular.
118
ONCOLOGIA │ UNIDADE III
No aparelho respiratório, começamos com a região nasal que em felinos acaba sendo
frequente com 17% dos casos de neoplasias em pele. Dentro da cavidade nasal e
seis paranasais, a ocorrência é muito rara, mas ocorre presença de neoplasias
linfoproliferativas (linfoma). Descendo temos laringe e traqueias, sendo a região de
laringe mais comum o aparecimento, e mesmo assim perfazem um percentual muito
baixo, sendo consideradas raras na espécie. Linfoma, adenocarcinoma e carcinoma
de células escamosas, são as neoplasias que encontramos. No final do sistema temos
o pulmão, constituindo um local de poucas neoplasias de origem primária (menos
de 0,5% dos casos), mas muito comuns como local de predileção para neoplasias
metastáticas. Como adenocarcinoma, e mais rara ainda carcinoma de células escamosas e
carcinoma anaplásico.
119
UNIDADE III │ ONCOLOGIA
fêmeas com maior frequência. Com um total de 0.2%, sendo, portanto, muito baixa
da totalidade, ocorre na adrenal em felinos, sendo as neoplasias adrenocorticais mais
frequentes, e é uma região que ocorre predileção para neoplasias metastáticas, como
linfoma. Na glândula tireoide e paratireoide, a ocorrência é baixa, sendo os carcinomas os
mais encontrados dentre eles. Em felinos, câncer em pâncreas endócrino é considerado
muito raro, apesar de haver relatos pontuais.
Em regiões urinárias, neoplasias renais e uretrais são pouco comuns, sendo de origem
primária, mas quando falamos em neoplasias metastáticas, temos aqui, órgãos de
predileção. Estes cânceres representam até 2,5% do total, sendo em sua grande
maioria malignos. O diagnóstico, em média, é a partir de 6 anos de idade, chamando a
atenção frente aos outros que possuem média de 10 anos. Em menor frequência ainda,
encontramos tumores de bexiga e uretra, com no máximo 0.5% dos casos neoplásicos,
representado pelo Carcinoma de Célula de Transição (CCT).
A neoplasia ocular em felinos é rara, perfazendo um hall de 0,34% dos casos neoplásicos,
mais possuem uma possibilidade e pontos e iniciação para tal enfermidade. Podem
ocorrer em regiões externas como pálpebras por exemplo, e regiões internas como
globo ocular. Geralmente são neoplasias benignas, mas existe uma certa incidência de
casos malignos por carcinoma de células escamosas.
Controlando a maioria dos “comandos” do corpo, o sistema nervoso não fica de fora
da chance e ocorrer uma neoplasia. Acomete machos mais velhos, mas os felinos
possuem menor incidência. Ocorre uma proporção de 3.5 animais a cada 100.000,
sendo considerada baixa, portanto. Podem ser primárias ou metastáticas, sendo de
origem primária o meningioma o mais observado. Este acometimento ocorre mais em
região cranial, já para região medular a ocorrência maior de linfoma, em região lombar
e torácica, sendo uma exceção, acomete animais geralmente jovens.
120
ONCOLOGIA │ UNIDADE III
ligada diretamente ao vírus da FeLV, afetando animais mais jovens e os tornando mais
propensos as neoplasias, quando negativos, são mais de meia idade a mais velhos.
E por fim, o coração, centro do bombeamento de sangue pelo corpo, pode ser acometido,
com uma certa raridade. Neste local, como esperado, e por ser algo tão agressivo, o
linfoma, acaba sendo o mais comum encontrado nesta região, devido ao seu grande
poder de infiltração e ramificação.
Etiologia do câncer
Vamos considerar que a genética do câncer, independentemente da sua origem,
é considerada a genética da morte. Tal denominação está associada às inúmeras
malignidades e formas que a doença encontra para atingir e sucumbir o organismo
“hospedeiro”.
São inúmeros fatores que levam o desabrochar do gene do patógeno, sendo, portanto, a
multiplicação celular com as estruturas de DNA, radiação, vírus, processos inflamatórios,
epidemiologia, alimentação, hereditariedade, entre outros inúmeros fatores.
Alteração do
genoma
Sem apoptose
Mutações sucessivas
Apoptose
Ela pode ser dividida em 3 fazes, sendo, a iniciação, promoção e progressão, definindo
o start para neoplasias. A primeira fase consiste em alteração genética que se torna
irreversível e ocorre frente a uma exposição drástica a algum fator carcinogênico,
transmitido para as células progenitoras. São células consideradas não neoplásicas e pode
continuar multiplicando-se com este gene modificado. Na segunda fase, a promoção,
ocorre multiplicação, com estímulo de células mutantes iguais. Neste período ocorre
utilização de fatores epigênicos e não intrínsecos, fazendo a ligação correta dos fatores
tumorais que existem com seus sítios celulares, os resultados são benignos, mas forma
a célula neoplásica. Já na progressão, baseia-se na conversão da célula neoplásica atual
para uma célula com características de malignidade. Neste ponto ocorre modificação de
códigos genéticos que melhoram a velocidade de crescimento, expansão e metástase.
122
ONCOLOGIA │ UNIDADE III
Angiogênese
Vasos linfáticos,
Proliferação Interação com
vênulas e
celular componentes
capilares
sanguíneos.
Passagem
Aderência à parede do vaso e pelos órgãos Transporte
extravasamento
Pulmão Coração
Metástase
Estabelecimento no local e
proliferação (formação)
O sítio de escolha da adesão das células carcinogênicas estão voltados para facilitadores
anatômicos como vascularização e ramificações capilares, por isso a predileção
por pulmão e fígado, dois órgãos bem capitalizados, e até mesmo em tecidos (pele).
Além de capilaridade, as células, cada qual sua característica, procura sítios que
favoreçam sua adesão e promoção, já que nem só o fluxo da corrente sanguínea
é suficiente para tal. Da mesma forma que o sítio de adesão metastático tenha que
proporcional local adequado, a própria célula tem que possuir essa capacidade.
Angiogênese tumoral, é uma destas características, pois para sobrevivência destas
novas células em seus locais, precisam de um aporte sanguíneo para as nutrirem. Outra
característica é a capacidade de invasão de membranas basais e endoteliais, já que estas
possuem contato e regulam a permeabilidade celular.
A capacidade com que as células cancerígenas possuem para produzir integrina, devem
ter também, capacidade de degradar as membranas celulares locais, ajudando em sua
disseminação. Quimiotaxia, é a capacidade com a qual a célula invasora possui para
atrair novas células àquele local de fixação, importante para seu desenvolvimento.
Além do potencial local de metástase, elas devem ter capacidade também de sobreviverem
na circulação, sendo este um local inóspito com células T citotóxicas e células citotóxicas
natural killer, que estão apostos como fatores antitumorais dos organismos. E para que
possam chegar aos sítios, devem ter capacidade de se movimentar e também “defender-
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UNIDADE III │ ONCOLOGIA
se” dos mecanismos de defesas corporais que incluem as células de defesas, com a
diminuição dos fatores de histocompatibilidade maior (MHC-I), ausência ou diminuição
de antígenos associados aos tumores, escape físico das células e a diminuição ou a falta de
exposição das células tumorais na periferia da massa que se forma.
Os eventos de mutação gênica podem ocorrer em vários níveis, dentre eles a modificação
molecular (Quadro 5), onde na replicação da cadeia de DNA ocorre modificações e
adições, sendo às vezes reparadas, mas permanentes na cadeia que se acumulam através
dos anos. Existem três formas principais: uma modificação de uma base na cadeia
helicoidal do DNA, fará com que ocorra tradução de um novo aminoácido; uma grande
quantidade de deleção de pares de bases, provocam até mesmo parada na produção; e
por fim dentro das modificações celulares, à amplificação de determinados pares, leva
á expressão gênica diferente. As alterações também podem ser dentro de um conjunto
de moléculas do DNA, portanto, dentro dos cromossomos, podendo ocorrer inserções,
amplificações, deleções, inversão e translocação, afetando a funcionalidade.
124
ONCOLOGIA │ UNIDADE III
Agentes antitumorais, como ciclofosfamida, são citotóxicos alquilante que está relacionado
a tumores de bexiga em alguns animais e um dos produtos finais da sua metabolização,
a acroleína, provocam um efeito irritante na parede da bexiga, provocando cistite
hemorrágica, desta forma, acredita-se que a exposição contínua e o processo inflamatório
que ocorre, podem provocar a formação de câncer. Fatores físicos como processos
inflamatórios e traumas também podem ser carcinogênicos. Tecido cicatricial, locais de
queimadura por agentes químicos ou fogo, locais próximos a faturas ou de inserção de
próteses, são alguns dos pontos de possíveis neoplasias devido à modificação genética
pelo agente e pela alta taxa de replicação celular que ocorre no local. Carcinoma de
células escamosas e sarcomas são relacionados aos traumas térmicos e processos
inflamatórios crônicos. Em região ocular nos gatos, traumas e processos inflamatórios
frequentes podem provocar sarcoma. Temos o fibrosarcoma de tecido mole causado
pelo processo inflamatório gerado pela aplicação da vacina preventiva de FeLV.
Diagnóstico na oncologia
Começamos a partir da entrada do paciente no consultório, por meio da anamnese e
exame físico deste animal. Tumores visíveis facilitam preliminarmente a opinião clínica
sobre o caso, evidenciando o único ou um dos problemas do paciente. Na anamnese,
125
UNIDADE III │ ONCOLOGIA
O diagnóstico por imagem vem como um grande auxiliar para estabelecer o diagnóstico
clínico, tendo várias opções como: radiografia, ultrassonografia, tomografia e ressonância
magnética, que auxiliam na busca pelo tumor, irradiação, evolução e involução após
tratamentos, por exemplo. Os tumores de forma geral, são observados facilmente com
as técnicas, e cada uma delas possui sua sensibilidade e especificidade como demonstra
a Quadro 6. A escolha de qual método utilizar, dependerá do local da neoplasia e a
disponibilidade na cidade dos exames realizados nos centros de diagnóstico.
Quadro 6. Comparação das modalidades dos exames por imagem na Medicina Veterinária.
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ONCOLOGIA │ UNIDADE III
rápido, barato e pouco invasivo, fácil de ser realizado (dependendo da localidade), que
auxilia na rotina clínica. É um exame de relevância para o diagnóstico, mas quando
bem-sucedido, tendo como grande problema a coleta inadequada de material, confecção
de lâmina e a procura de bons especialistas na área para um correto diagnóstico.
A citologia bem confeccionada (figura 13) e os achados clínicos, são muito úteis para o
diagnóstico. A amostra para citologia pode ser confeccionada de forma direta, como:
através de impressão em lâmina (menos usado devido à baixa celularidade e limitações
de material somente superficial, realizada em tumores externos ou em tecidos removidos
após cirurgia); raspado (em tumores externos e retirados cirurgicamente, em tumores
secos firmes e geralmente pequenos em superfície de pele) e a punção com agulha fina
(CAAF) (utilizada em tecidos subcutâneos, gânglios linfáticos, órgãos internos e até
mesmo massas intracavitárias e de forma indireta, realizada em líquidos (abdominais,
urina e lavados por exemplo), sendo este material centrifugado pra concentração e
posterior confecção da lâmina.
A coleta por CAAF (figura 15) deve ser realizada de preferência na periferia do tumor,
evitando áreas centrais e devem ser colidas em múltiplas áreas, realizando a punção
nos demais tumores existentes também. Isso se deve à heterogeneidade dos tumores,
e o maior número de amostras, aumenta a chances de um material adequado para o
diagnóstico citológico, com quantidade celular adequada e morfologicamente íntegras.
Figura 15. Representação da confecção de lâmina correta e realização da punção em tumor para obtenção de
material citológico. Sendo: 2.1 Isolamento do tumor e posicionamento da agulha, 2.2 Punção no tumor em vários
sentidos, 2.3 Liberação do material em lâmina, 2.4 Confecção do esfregaço.
cortes de uma peça (tumor), geralmente obtida por meio de processos cirúrgicos. A
coleta deve ser representativa, não sendo utilizados pontos de necrose, ulceração e
regiões muito superficiais. As amostras colhidas por esta técnica devem ser colocadas
em uma solução de formol a 10% com pH entorno de 7.4 e a quantidade de proporção
de formol/material, deve ser de pelo menos 10 para 1, no frasco deve-se observar
muito mais líquido do que o material. O envio da peça cirúrgica inteira é uma opção,
já que auxilia na observação do tamanho, tipo e forma do tumor, além de permitir
que o patologista possa escolher os melhores pontos para obtenção de fragmentos para
confecção de lâmina.
Figura 16. Principais neoplasias encontradas na rotina na clínica médica veterinária de felinos.
Afecções gastrointestinais
Afecções urinárias
Afecções neoplásicas
Afecções infecciosas
Afecções respiratórias
Afecções endócrinas
0 5 10 15 20 25 30
128
ONCOLOGIA │ UNIDADE III
Figura 17. Neoplasmas de maior incidência na rotina na clínica médica veterinária de felinos.
Síndrome paraneoplásica
Os tumores podem produzir substâncias, como hormônios e citocinas que são liberadas
na circulação e são responsáveis pelo aparecimento de sinais distantes da neoplasia
primária e sem relação com o seu tamanho. A resposta do hospedeiro ao tumor ou
ainda a diminuição de certas substâncias no organismo secundárias ao câncer pode
culminar com o desenvolvimento da síndrome paraneoplásica (SPN). As SPNs são
sinais e alterações na estrutura ou função corporal presentes nos pacientes com câncer,
distantes do tumor ou de suas metástases, e que são causadas por invasão, obstrução
ou efeito da neoplasia. Em muitas situações, a síndrome paraneoplásica ocorre paralela
com a neoplasia primária, e, por conseguinte, o sucesso do tratamento do tumor leva ao
desaparecimento da síndrome paraneoplásica. As síndromes paraneoplásicas são muitas
vezes o primeiro sinal de malignidade ou podem ser indicação de um determinado tipo
de tumor. Além disso, essas síndromes podem ser confundidas com os efeitos adversos
do tratamento quimioterápico, ou outras doenças não relacionadas com o câncer.
Portanto, a compreensão e apreciação para os tipos e as causas destas síndromes são
fundamentais para a detecção precoce do câncer e terapêutica adequada. As síndromes
paraneoplásicas representam um conjunto de manifestações extremamente complexas,
podendo envolver vários sistemas do organismo animal; dentre eles citam-se: o
hematológico, o dermatológico, o neurológico, o endócrino e o osteomuscular.
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UNIDADE III │ ONCOLOGIA
Caquexia
Ulceração gastrintestinal
Hipercalcemia
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ONCOLOGIA │ UNIDADE III
Hipoglicemia
A hipoglicemia (glicose sérica menor que 50, os valores entre 51 a 70 mg/dL, são
considerados suspeitos) constitui uma síndrome paraneoplásica falsa sendo relacionada
com o insulinoma, ou verdadeira quando associada a outros tumores, como o
carcinoma hepatocelular, o linfoma, o hemangiossarcoma, o melanoma da cavidade
oral, o hepatoma, o mieloma múltiplo e o leiomiossarcoma. Sinais clínicos devidos
a hipoglicemia incluem desorientação, fraqueza, paresia, reflexos anormais, falta de
coordenação muscular, cegueira, convulsões, coma, tremores musculares, vômitos e
taquicardia, que são devidos a necessidade estrita de glicose continuamente no tecido
nervoso periférico e central.
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Manifestações hematológicas
Anemia
Anemias hemolíticas
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Manifestações neurológicas
Miastenia gravis
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Neuropatia periférica
Osteopatia hipertrófica
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ONCOLOGIA │ UNIDADE III
Dor na neoplasia
A dor é provavelmente o sintoma mais comum nas neoplasias e por isso mais de dois
terços dos pacientes são acometidos por fortes dores. As dores neoplásicas podem
ser intensas a ponto de ocasionar sofrimento, estresse, ansiedade e deterioração da
qualidade de vida.
Manifestações de dor
Dor aguda causa tendência a se esconder, postura tensa, relutância a carícias, agressividade,
lambedura frequente, evita urinar, defecar, comer e ingerir água. Enquanto a dor
crônica é comumente associada à anorexia e alterações comportamentais. Respostas
fisiológicas: taquicardia, taquipneia, midríase e salivação
Terapia analgésica
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UNIDADE III │ ONCOLOGIA
Neoplasias mamárias
O prognóstico tem relação direta com tamanho das massas em cadeias mamárias, sendo
que processos tumorais menores que 3 cm tem expectativa média de vida de 9 meses,
com possibilidade de sobrevida de 49% após dois anos. Massas maiores que 3 cm tem
expectativa média de vida de 5 meses.
Carcinoma inflamatório
Na maioria dos casos possui caráter maligno e agressivo (80 a 93%) e influência
hormonal em sua patogenia. Esta pode provocar uma invasão de via linfática e
metástases em linfonodos regionais, pulmões, pleura, fígado, diafragma, glândulas
adrenais e rins. Muitas vezes está aderida à pele e à parede abdominal, o que impede
sua mobilidade. Possui aspecto firme e nodular, podendo desenvolver lesões ulceradas.
Pode envolver mais de uma glândula. São relatadas relações entre o uso de progestágenos
e estrógenos sintéticos e o desenvolvimento desses tumores mamários, tanto malignos
quanto benignos. Também podem estar ligados ao aumento da expressão da proteína
136
ONCOLOGIA │ UNIDADE III
HER2/neu, essa proteína é expressa pelas células sob a instrução do gene HER2/neu
que ocorre em neoplasias mamárias, e fator de crescimento endotelial vascular.
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UNIDADE III │ ONCOLOGIA
dos poucos casos relatos em felinos mostram êmbolos neoplásicos em vasos linfáticos
dérmicos, edema perineoplásico e a presença de células neoplásicas dispersas em tecido
subcutâneo edemaciado, dor, despigmentação da pele e formação de nódulos.
Tumores de pele
Em felinos é a segunda mais diagnóstica, e representam um quarto de todas as neoplasias
na espécie. As neoplasias originam-se a partir do epitélio de estruturas anexas como
glândulas sebáceas e folículos pilosos. Os tumores, podendo ser dos tipos epiteliais,
mesenquimais ou de células redondas. Em torno de 59% dos tumores de pele são benignos.
138
ONCOLOGIA │ UNIDADE III
O diagnóstico tem início com história, anamnese e exame físico completo, evidenciando
os sinais clínicos e fatores predisponentes. O diagnóstico definitivo pode ser feito por
citologia aspirativa ou estudo histopatológico correlacionado a anamneses e exame
físico. Entre os diagnósticos diferencias possíveis estão criptococose, pênfigo foliáceo,
fibrossarcoma oral, esporotricose, granuloma eosinofílico oral. O tratamento tem
por objetivo evitar a recidiva, o que inclui entre as modalidades existentes a cirurgia,
criocirurgia, radiação ionizante e eletroquimioterapia (figura 19) associadas à quimioterapia
antineoplásica. O tratamento quimioterápico pode ser feito por meio da administração de
carboplatina, doxorrubicina, vincristina ou ciclofosfamida, existindo várias opções para o
protocolo quimioterápico, sendo mais comumente associado à doxorrubicina+bleomicina
em conjunto anti-inflamatórios não esteroidais e paraintralesionais 5-FU, bleomicina.
Bom prognóstico, pois raramente ocorre metástase.
Mastocitoma
Segundo tumor de pele mais maligno em gatos. Quarta neoplasia de pele mais
frequente, precedida por tumores de células basais, carcinoma de células escamosas
e fibrossarcomas, sendo a raça siamês a mais predisposta a mastocitomas. Podendo
ocorrer em qualquer idade, porém é mais comum em animais idosos. Apresenta-se
mais comumente em machos do que em fêmeas.
Existem duas formas de mastocitoma felino: visceral e cutâneo. A forma visceral envolve
o fígado, baço e linfonodos abdominais com sinais decorrentes da degranulação de
mastócitos. Os felinos podem apresentar depressão, anorexia, perda de peso, vômito.
Metástase em mastocitoma visceral do que em cutâneos, apresentando como sinais
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UNIDADE III │ ONCOLOGIA
clínicos efusão pleural e peritoneal rica em eosinófilos. Cerca de 40% dos casos apresenta
mastocitose sistêmica e 23% apresentam infiltração da medula óssea.
Hiperplasia fibroepitelial
A hiperplasia fibroepitelial (fibroadenomatose, hipertrofia mamária felina, adenofibroma
ou fibroadenoma) é uma proliferação benigna, não neoplásica, dos ductos mamários
e do tecido conjuntivo periductal de gatas jovens não castradas. Esse distúrbio é mais
comumente descrito em fêmeas após o estro, durante a gestação ou após administração
prolongada de medicamentos à base de progestágenos exógenos. Tumores mamários,
edema, ulceração, eritema em múltiplas mamas.
Hemangiossarcoma
É uma neoplasia maligna que acomete o endotélio vascular, ocorrendo com
maior frequência na pele, mesentério, no baço, fígado, cavidade oral e nasal. Nos
felinos, os gatos domésticos de pelo curto parecem possuir maior predileção ao
hemangiossarcoma. A idade média é de 10 anos, não há diferença na incidência entre
sexos. O diagnóstico de hemangiossarcoma pode ser obtido por citologia, por meio
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UNIDADE III │ ONCOLOGIA
da citologia aspirativa com agulha fina (CAAF) ou por “Imprints”. Outra forma de
diagnóstico é a ultrassonografia, a qual se constitui em um método confiável para a
avaliação em casos de hemangiossarcoma
Hemangiossarcoma cutâneo
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ONCOLOGIA │ UNIDADE III
Neoplasias hepáticas
Tumores hepáticos são raros em gatos compreendendo cerca de 0,6 a 2,9% de todas
as neoplasias felinas, mais comuns em animais idosos, em média de 10 a 12 anos, sem
predisposição racial. Normalmente são tumores malignos metastáticos proveniente
de neoplasias do baço, pâncreas, glândulas mamárias e trato gastrointestinal do que
neoplasias primárias.
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UNIDADE III │ ONCOLOGIA
Neoplasias uterinas
Tumores uterinos são raros em gatas compreendendo cerca de 0,2 a 1,5% de todas
as neoplasias nesta espécie, mais comuns em adultos de meia-idade. A maioria dos
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ONCOLOGIA │ UNIDADE III
Linfomas
As causas dos linfomas são especuladas a uma etiologia retroviral. A leucemia viral
felina (FeLV) é indicada com carcinogêneo biológico da transformação maligna dos
linfócitos, a imunodeficiência viral felina (FIV) participa indiretamente da oncogênese
uma vez que por ser imunossupressor, esses retrovírus compromete a habilidade do
sistema imune em destruir a células malignas. Recentemente constatou-se que os
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UNIDADE III │ ONCOLOGIA
Felinos de origem oriental e siameses tem maior predisposição genética. Cerca de 25%
dos gatos positivos para FeLV desenvolvem para linfoma, sendo cinco vezes maiores
para gatos positivos para FIV em relação aos não infectados. Para felinos positivos para
FIV e FeLV o risco é oitenta vezes maior.
Linfoma alimentar
O linfoma alimentar corresponde a 41% dos casos de linfoma, sendo o segundo mais
comum, superado apenas pelo tumor maligno de epitélio glandular, ou superfície superior
a glândulas. As patologias que podem se apresentar como diagnóstico diferencial são:
doença inflamatória intestinal, PIF não efusiva, corpo estranho intestinal, carcinoma
intestinal e hipertireoidismo.
146
ONCOLOGIA │ UNIDADE III
Figura 24. O estômago apresenta múltiplos nódulos correspondentes ao tecido linfoide neoplásico.
Linfoma mediastinal
Linfoma multicêntrico
O linfoma é uma das neoplasias mais diagnosticadas em felinos, tem origem no tecido
linfoide hematopoiético, podendo envolver qualquer órgão ou tecido. No caso do
linfoma multicêntrico e raro com cerca de 4-10% dos casos. O linfoma é caracterizado
quando acomete gânglios e órgãos diferentes, como fígado, baço, rins, e medula óssea.
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UNIDADE III │ ONCOLOGIA
Os linfomas multicêntricos são geralmente negativos para a FeLV, mas de acordo com
relatos, eram positivos para FIV. Os sintomas dependem dos órgãos afetados, mas
incluem: anorexia, caquexia com grau extremo de enfraquecimento, mucosas pálidas,
depressão, perda de peso, em casos raros, os animais podem apresentar distúrbios de
sangramento, lesões oculares, sinais neurológicos e infecções. Entre as possiblidades
de diagnóstico diferencial estão linfadenopatia hiperplásica, infecção viral/ bacteriana/
fúngica, FIV, peritonite infecciosa felina.
Linfoma extranodal
O linfoma extranodal é caracterizado por atingir qualquer tipo de tecido corporal, os seus
sintomas estão relacionados com os órgãos afetados, frequentemente envolvem olhos,
sistema nervoso, rins e normalmente são solitários, ou seja, afetam apenas um único
tecido. Formas extranodais são mais comuns em felinos com exceção da forma cutânea.
Linfoma ocular
Linfoma renal
Linfoma renal felina é uma forma de câncer que afeta os rins. As causas mais comuns
incluem o vírus da imunossupressão felina (FIV), vírus da leucemia felina (FeLV),
insuficiência renal. Sintomas do linfoma renal pode ser difícil de distinguir de outros
problemas de saúde, podendo incluir sangue na urina (hematúria), anemia, cristais na
urina e dor abdominal. Devido à dificuldade de tratar, intende-se a controlar, pois é
considerada incurável, com o uso de suplementos nutricionais e medicamentos para
tratar os sintomas. Prognóstico depende da resposta do tratamento e infelizmente, o
prognóstico geral é relativamente ruim.
Linfoma nasal
O linfoma é a neoplasia mais comumente observada em gatos, porém a forma nasal não
é rotineiramente relatada. O linfoma nasal é um dos linfomas extranodais mais comuns
em gatos, sendo mais prevalente que o adenocarcinoma nasal. Em gatos, como nos cães,
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ONCOLOGIA │ UNIDADE III
Linfoma cutâneo
LCE ainda pode identificado como micose fungoide e ser subdividido em Micose
Fungoide e síndrome de Sézary. A micose fungoide é o tipo de linfoma cutâneo
epiteliotrópico (LCE) mais comum e são descritas quatro manifestações diferentes:
eritrodérmica; ulceração e despigmentação mucocutânea; placas ou nódulos isolados
ou múltiplos, e ulceração da mucosa oral. Histologicamente, há infiltrado de células
linfoides T atípicas, com acentuado epidermotropismo, formando agrupamentos
intraepidérmicos denominados microabscessos de Pautrier, o qual é considerado
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UNIDADE III │ ONCOLOGIA
Para realizar o diagnóstico de seu bichinho, podem ser feitos diversos testes, como
por exemplo, testes de hemograma, perfil bioquímico, análise de urina, testes de FIV e
FeVL, raio-x ou ultrassom, entre outros métodos, além de exames físicos.
Após o tratamento espera-se remissão completa em 75%, 15% dos casos de remissão
parcial e 10% não responsivos ao tratamento. Sobrevida de quatro meses a 2 anos.
Os resultados são mais positivos em relação aos animais não infectados por FeLV, que
apresentam alta probabilidade de sobrevivência pós-tratamento, o procedimento pode
causar efeitos colaterais, como anorexia e letargia, sendo pior o prognóstico para felinos
FIV positivo.
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ONCOLOGIA │ UNIDADE III
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UNIDADE III │ ONCOLOGIA
O tratamento de eleição deve ser excisão cirúrgica agressiva, pois apresenta alto índice
de recidiva, de cerca de 46%, as margens devem ter pelo menos 3 cm. A quimioterapia
deve ser associada à excisão cirúrgica, podendo ser usada antes do procedimento
cirúrgico caso a tumoração seja muito grande. Os protocolos terapêuticos utilizados:
Doxorrubicina 25 mg/m2 por via intravenosa a cada 21 dias, por quatro ciclos.
Carboplatina 150-220 mg/m2 por via intravenosa a cada 21 a 30 dias por quatro
semanas. Na associação entre Doxorrubicina 25 mg/m² por via intravenosa +
ciclofosfamida 200 a 300 mg/m² por vai oral, administrar a ciclofosmamida dez dias
após a doxorrubicina, repetir este protocolo a cada 21 dias em quatro ciclos.
Neoplasias ósseas
Neoplasias ósseas são incomuns em felinos. Divididos em osteossarcoma e
osteocondroma. Geralmente acometendo felinos idosos, mais comuns em esqueleto
apendicular do que em esqueleto axial, não tendo predileção por sexo.
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ONCOLOGIA │ UNIDADE III
Neoplasias pancreáticas
Pâncreas é um órgão com funções endócrinas e exócrinas. O pâncreas endócrino é
formado por ilhotas de Langerhans. As células envolvidas nas neoplasias, por meio
de transdiferenciação fenotípica, originando células neoplásicas. Células endógenas
dão origem à insulinoma, gastrinoma e glucagonoma, esses sendo raros em felinos.
Células exócrinos originam adenomas e carcinomas, esse já são mais comuns em gatos.
Tratamento de tumores funcionais de células das ilhotas pancreáticas pode ser feita por
meio de excisão cirúrgica ou de forma medicamentosa. A excisão cirúrgica é indicada
em casos de nódulos únicos, mas a maioria dos gatos com insulinoma e gastrinoma
já apresenta metástases, mesmo que microscópicas, no momento do diagnóstico.
Para esses casos recomenda-se a terapia medicamentosa com estreptozotocina, podendo
ser utilizado com glicagonomas e somatostatinomas ou associada à doxorrubicina a
ser administrados com fluidoterpia na taxa de infusão de 20 mL/kg/h a ser iniciada 4h
antes da administração intravenosa do quimioterápico. Outro protocolo usa aloxano a
65mg/kg via intravenosa.
Gencitabina também pode ser usada como protocolo. E terapia de suporte deve ser
usada em ambos os casos. Nos casos de gastrinomas deve se controlar a hipersecreção
gástrica pelo uso de antagonistas H2, como a ranitidina e cimetidina, inibidores da
bomba de prótons como omeprazol ou prostaglandinas sintéticas. Para insulinomas
a terapia sintomática é feita com fármacos que reduzem a liberação de insulina e/ ou
a utilização de glicose, usa-se também dieta rica em proteína, gordura e carboidratos
complexos.
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