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FARMACOLOGIA DA TIREOIDE

A tireoide tem dois tipos de células principais, sendo os folículos e dentro deles tem
o colóide. O interstício entre as células foliculares contém as células parafoliculares. Os
folículos são responsáveis pela produção de T3 e T4 e as células parafoliculares produzem
calcitonina, que controla a calcemia.
A tireóide tem relação com o desenvolvimento do SNC e manutenção da
homeostase metabólica, através da síntese e secreção de T3, T4 e de calcitonina.

Síntese dos hormônios tireoideanos


A tireóide é controlada pelo eixo hipotálamo-hipofisário-glandular. Quando tem
estresse (situação adversa) tem maior adequação metabólica exigida, de modo que o TRH
é liberado pelo hipotálamo e alcança a hipófise, que libera TSH, que atinge a tireoide,
ligando no receptor nuclear. O TSH se liga na membrana externa das células foliculares.
Cada folículo tem uma célula folicular. O TSH faz com que haja aumento da captação
de iodo por um transportador de iodeto, que pega o iodo do plasma para o interior do
folículo.
O TSH aumenta a produção de proteína (ocorre mobilização de vias celulares que
fazem aumentar síntese de tireoglobulina) (cada uma dessas é igual a 100 tirosinas). Ocorre
reação de iodinação feita pela enzima peroxidase, que incorpora o iodeto na molécula de
tireoglobulina.
MITS e DITS - 4 atomos de iodo formam o T4 e 3 atomos de iodo formam T3.
Pelo processo de endocitose ocorre a entrada do iodo nos lisossomos,
transformando-se em monoiodotirosina e diiodotirosina. Os MITs e DITs sofrem lise,
liberando na circulação o T4 e o T3, principalmente o T4 (95-97%)

+ uptake do iodeto
+ oxidação e iodinação
+ formação de tiroxina T4 e de triiodotironina T3
+ secreção dos hormônios
+ transporte pelas proteínas plasmáticas
+ conversão de tiroxina à triiodotironina nos tecidos periféricos

T4 é liberado em maior proporção do que o T3 (95% para 5%)


Para a função adequada da tireoide precisa de iodo (presente no sal iodado :: exclui
chances de bócio endêmico no Brasil), TSH (relacionado com a hipófise, se tiver defeito
gera hipotireoidismo secundário), peroxidase da tireoide - TPO (importante em dois
momentos: anticorpo contra a enzima - ANTI TPO - são autoimune e geram a doença da
tireoidite de hashimoto; o outro momento é quando tem necessidade de bloquear essa
enzima, utilizando medicamentos como tiourelenos, que diminui TPO, diminuindo a
liberação de T3 e T4), tireoglobulina (precisa de síntese proteica :: o paciente com
hipotireoidismo ou com tireoidectomia precisa ter enzimas e minerais de acordo para que
tenha síntese proteica; pode ter a produção de anticorpos antitireoglobulina).
O grande problema do TSH é quando tem uma imunoglobulina anti TSH (TRAb) que
se liga nos receptores e aumenta muito o T3 e T4, gerando a doença de Graves. Isso ocorre
pois esse anticorpo não sofre a auto regulação que o hormônio TSH sofre.
Uma vez que liberou T3 e T4 são transportados na corrente sanguínea por proteínas
específicas (TBG) ou por albumina, formando o complexo proteína-hormônio. A fração livre
do hormônio que exerce função. A Dosagem de hormônio avalia a fração livre, por isso
pede T3 livre e T4 livre.

Fatores que interferem com a ligação do T3 e T4 com as proteínas plasmáticas

Quando tem aumento da afinidade das proteínas plasmáticas com os hormônios, a


fração livre diminui, podendo gerar hipotireoidismo. Já medicamentos que diminuem a
afinidade, como glicocorticóides, por exemplo, geram mais hormônios livres, podendo
potencializar os efeitos dos hormônios tireoideanos.
Usa-se o TSH para avaliar tratamento. Se você usa corticóide, TSH pode estar
diminuído, aí você pensa em dar hormônio tireoideiano, mas ai desenvolve um
hipertireoidismo, por que a T3 estava normal antes.
Deiodinases
Fazem deiodinação, removendo o átomo de iodo do T4, convertendo-o em t3 (a
forma ativa)
O hormônio T3 é o que tem atividade metabólica, agindo no DNA da célula, no
TRE (elemento responsivo ao hormônio tireoidiano), provocando as alterações fisiológicas
(como crescimento, aumento de metabolismo). Deiodinases removem o átomo de iodo do
T4, convertendo-o em T3, ou seja, na forma ativa. Tem isoformas de deiodinases que
permitem que o T4 seja convertido a uma molécula de T3 diferente, chamado de T3 reverso,
que não apresenta ação biológica pois não se liga ao TRE :: inativo.
Se o pct tem muito T3 reverso o paciente fica com sintomas de hipotireoidismo, ou
seja, hipotálamo e hipófise funcionam normalmente nesses casos. Nesse caso utiliza a
suplementação de T3 (a utilização de T4 não funciona, pois o paciente continua produzindo
T3 reverso).

T3r ← T4 → T3
T3 reverso é feito na placenta, na pele e no cérebro para proteção pela 5
Deiodinase.

Fatores que afetam a função da tireoide


Aumentam a produção da tireoide: nutrientes, ferro, iodina, tirosina, zinco, selênio,
vit. E, B2, B3, B6, vit C e D.
Aumentam a conversão do T4 em T3r: estresse, trauma, déficit calórico, toxinas,
infecções, disfunção hepática e renal e algumas medicações específicas.
Fatores que aumentam a conversão de T4 em T3: selênio e zinco.
Fatores que aumentam a sensibilidade celular aos hormônios tireoideanos: vit. A,
zinco e exercício.
Fatores que inibem a produção adequada de hormônios tireoideanos: stress,
infecção, trauma, radiação, medicação, antagonista de iodo (fluoride), toxinas, doença
autoimune como celíaca.

Degradação e excreção de T3 e T4
+ T3 tem meia vida de 1 dia
+ T4 tem meia vida de 6 a 7 dias
+ principal via de degradação - deiodinases
+ metabolização hepática - conjugação com ácido glucorônico ou sulfúrico - secreção
biliar ciclo enterohepático
+ conjugação com ácido acético ou pirúvico - eliminação renal

Mecanismo de ação dos hormônios tireoideanos


Agem no TRE no DNA, e desempenham funções como crescimento e
desenvolvimento, efeito calorigênico (aumento do consumo de O2), cardiovasculares e
metabólicos. Os hormônios da tireoide agem por um mecanismo de ação via DNA, por
receptores celulares. O T4 deiodinado em T3 se liga e provoca alterações metabólicas que
contribuem com o aumento da deposição óssea, desenvolvimento do SNC, aumento do
CO2 e da ventilação, aumenta DC e aumenta ureia e função renal.
Além disso tem aumento de mitocôndrias, aumento de enzimas respiratórias,
aumento de Na K ATPase e aumento de outras enzimas, que aumentam o consumo de o2 e
o metabolismo, e por isso ocorre aumento de CO2, da ventilação, do DC, da ureia e da
função renal.

Falta e excesso
Quando tem excesso (hipertireoidismo)
ocorre taquicardia, tremor, perda rápida de peso,
exoftalmia (unilateral, bilateral) e nervosismo
(aumento da excitabilidade muscular).
Já na falta (hipotireoidismo) tem constipação
intestinal, excesso de sono, problemas de memória,
desânimo e cansaço, observa-se aspecto abatido e
apático, com presença de mixedema palpebral, face
áspera e pálida.

Hipotireoidismo
No hipotireoidismo primário o tratamento é a reposição hormonal de T3 e T4.
Pode ser:
+ Primário = por falência tireoidiana
+ Secundário = hipofisário - deficiência de TSH
+ Terciário - hipotalâmico - deficiência de TRH
Valores de referência: T4 livre 0,7 a 1,8 e TSH de 0,4 a 4,5. No tireoidismo subclínico
os valores de TSH ficam entre 5 e 10, e o clínico acima de 10 mU/L.
Sempre começa a tratar o hipotireoidismo subclínico na menor dose possível. No
tireoidismo clínico os sintomas são estabelecidos, de modo que o paciente consegue
relatar melhor (alteração de peso, sonolência e alteração no perfil lipídico).
+ no subclínico, pode começar a ter alteração lipídica, com aumento de LDL, aí
aumenta risco de aterosclerose e de ganho de peso
Tireoidite de hashimoto: anticorpos anti TPO (anticorpos antiperoxidase) e
anticorpos anti Tg (tireoglobulina).

Terapia de reposição hormonal (TRH)


+ T4- levotiroxina sódica (synthroid, levothroid)- absorção intestinal
incompleta. Esvaziamento gástrico aumenta a absorção, drogas como
sucralfato, colestiramina, Fe++ , hidróxido de alumínio a reduzem.
+ T3- liotironina sódica- tempo de ação mais curto e de maior custo, sendo as
indicações específicas:- preparação do paciente para radioiodoterapia ou
tratamento do coma mixedematoso.
+ Usos clínicos da levotiroxina (T4) e liotironina (T3): para hipotireoidismo,
cretinismo e supressão da síntese/liberação de TSH (controle para reposição
de T4).
Em situações de estresse e desânimo a taxa metabólica basal aumenta, de modo
que o paciente pode apresentar sintomas de hipotireoidismo.
Como efeito adverso, esses medicamentos podem causar sintomas de
hipertireoidismno, arritmias, angina pectoris, insuficiência cardíaca, reabsorção óssea e
osteoporose.
Sem o hormônio os pcts não sobrevivem.

HIPERTIREOIDISMO
Sintomas:
+ fadiga
+ perda de peso
+ sensibilidade ao calor
+ depressão
+ problemas de memória
+ perda de cabelo
+ bócio
+ dor muscular
+ tremor
+ infertilidade (ocorre no hipo e no hiper)
Valores de referência
+ T4l = 0,7 - 1,8
+ TSH = 0,4 - 4,5
+ subclínico = TSH <0,4 e T4l normal
+ clínico = TSH <0,1 com T4l elevado
Faz cintigrafia com iodo e na doença de graves observa anticorpos anti receptores
de TSH.

Fármacos que reduzem a função de tireóide


+ tioreilenos - propiltiouracil, metimazole, carbimazole
+ iodo
+ iodo radioativo

Tioureilenos - propiltiouracil, metimazole, carbimazole Propiltiluracil X metimazole


(tapazol)
+ Mec. de ação
+ inibição da incorporação de iodo na molécula de tireoglobulina
+ inibição da peroxidase
+ metimazol fica dissolvido no plasma
+ O propiltiouracil é a droga de escolha para o tratamento em gestantes.
+ Em redução da função hepática pode usar metimazole mas precisa adequar
a dose, mas no propiltiouracil não precisa pois não afeta.
+

+ Efeitos colaterais
+ Agranulocitose (~0,44%)- reversível . Associação com fator
estimulador de granulócitos acelera a recuperação.
+ mais comum é o rash urticárias papular, pode usar adm de
antihistamínico
+ dores nas articulações, parestesias, dores de cabeça, náuseas,
pigmentação cutânea e queda de cabelo
+ febre medicamentosa, hepatite e nefrite

+ Principais indicações terapêuticas dos tioureilenos:


+ Doença de Graves
+ em associação com iodo radioativo- remissão (eficaz em 50%
dos casos, após 01 ano de tratamento)
+ preparação do paciente para remoção cirúrgica
+ hipertireoidismo -> resposta reduzida em pacientes com bócio
nodular desenvolvido
+ tireotoxicose na gravidez - propiltiouracil
+ thyrois strom -> febre, náusea, vômitos, diarréia, agitação e confusão,
coma e morte em 20% dos casos. Alguns fatores precipitantes-
associados com tireotoxicose- infecções, estresse, trauma,
cetoacidose diabética, trabalho de parto
Medicação coadjuvante
+ Antagonistas beta adrenérgicos como
+ propranolol (beta inespecífico = b1 e b2), atenolol é mais específico
(b2), para redução da taquicardia e do tremor.
+ Bloqueadores dos canais de cálcio como diltiazem para redução das
taquiarritmias supraventriculares.

IODETO
+ inibição da captação de iodo pela
tireóide
+ inibição da formação das
iodotironinas - efeito de
wolff-chaikoff (transiente - 2 dias)
+ inibição da liberação dos
hormônios tireoidianos
+ Usado para reduzir a função tireoideana,
aplicando alta concentração de iodo no
paciente, entendendo que tem carga
aumentada de iodo, momentaneamente
ocorre redução da liberação do
hormônio da tireoide, gerando o efeito
de wolff-chaikoff, é transiente e tem duração de dois dias.
+ Promove inibição da liberação dos hormônios tireoidianos.

+
+ Usos terapêuticos do iodeto:
+ hipertireoidismo - preparação para tireoidectomia ou em associação
com tioamidas para controle da crise tireotóxica
+ proteção da tireóide contra a exposição ao iodo radioativo

+ Efeitos colaterais do iodeto


+ angioedema
+ hemorragias cutâneas múltiplas
+ hipersensibilidade parecida com a da doença do soro, com febre,
artralgia, aumento dos nódulos linfáticos e eosinofilia
+ A intoxicação é dependente de dosagem- gosto metálico, queimação
da garganta e boca, aumento da salivação, coriza, tosse produtiva,
aumento das glândulas salivares, ioderma. Febre, diarréia
(sanguinolenta), depressão e anorexia.

IODO RADIOATIVO
+ O iodo 131 tem meia vida de 8 dias e 99% da radiação eliminada em 56 dias,
ocorrendo eliminação de partículas beta e gama.
+ Já o iodo 123 emite raios gama e tem meia vida de 13h.
+ esse atravessa mais os tecidos e assim gera mais efeito colateral e,
desse modo, geralmente usa o 131
+ Após a exposição ao iodo radioativo tem muitos casos de hipotireoidismo
devido à destruição celular ocasionada.
+ Indicações terapêuticas do iodo radioativo
+ hipertireoidismo
+ Doença de Graves
+ bócio nodular tóxico
+ em alguns tumores da tireoide
+ Vantagens- custo baixo, não requer hospitalização
+ Desvantagens- hipotireoidismo, oftalmopatia (?)

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