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de células foliculares, que fazem protrusão em A perda ponderal geralmente é mais comum,
forma de papila para o lúmen do folículo. a despeito da polifagia encontrada, entretanto a
Encontramos um aumento significativo de ingesta calórica pode exceder o gasto
tecido linfoide no estroma interfolicular, com metabólico, e o paciente na realidade passa a
algumas áreas apresentando agregados de engordar. No exame físico, percebe-se uma
linfócitos B autorreativos. pele quente e úmida; as extremidades
superiores, quando estendidas, evidenciam um
Nos pacientes com oftalmopatia, os tecidos da
tremor fino e sustentado, os cabelos caem ao
órbita encontram-se edemaciados devido à
simples passar de um pente.
presença de mucopolissacarídeos hidrofílicos
e, somado a esta alteração, encontramos As manifestações cardiovasculares incluem
fibrose e infiltração linfocitária. A musculatura hipertensão sistólica, pressão de pulso alargada
extraocular também apresenta edema, (maior diferença entre PA sistólica e diastólica
infiltração com células redondas, deposição de – PA divergente) e taquicardia sinusal. Esta
mucopolissacarídeos e fibrose. A tireotoxicose hipertensão com PA divergente pode ser
grave pode levar a alterações degenerativas na explicada pelo aumento dos receptores beta-
fibra muscular esquelética, hipertrofia adrenérgicos: no coração eles determinam
cardíaca, necrose hepática focal com efeito cronotrópico e inotrópico positivo
infiltração de linfócitos (principalmente (aumentando a PA sistólica) e na periferia, a
necrose centrolobular, fazendo diagnóstico ação predominante nos receptores beta-2, que
diferencial com a necrose hepática induzida fazem vasodilatação, determinando uma
pelo álcool e com a necrose hepática que pode redução da resistência vascular periférica
ocorrer na insuficiência cardíaca congestiva), (diminuindo a PA diastólica). À ausculta,
diminuição da densidade mineral óssea e encontramos uma B1 hiperfonética, um sopro
queda de cabelos. A principal e mais sistólico inocente e eventualmente uma
característica manifestação dermatológica, o terceira bulha “fisiológica”. A Fibrilação
mixedema pré-tibial, apresenta deposição de Atrial (FA) pode surgir a qualquer momento,
mucopolissacarídeos e infiltração linfocitária levando em alguns casos a uma
em suas lesões. descompensação aguda da função miocárdica.
Alguns pacientes evoluem para uma
Manifestações clinicas
cardiomiopatia dilatada (cardiomiopatia da
As manifestações da tireotoxicose decorrem da tireotoxicose). Quem já tem doença
estimulação do metabolismo dos tecidos pelo coronariana pode descompensar, apresentando
excesso de hormônios tireoidianos. O quadro angina pectoris, pois a tireotoxicose aumenta o
clínico mais comum é a associação de vários consumo miocárdico de oxigênio. Isso também
sinais e sintomas, alguns clássicos e outros deve ser lembrado quando iniciarmos a
inespecíficos. O paciente (geralmente uma reposição de levotiroxina em um paciente
mulher jovem ou de meia-idade) relata uma coronariopata, devendo-se iniciar com doses
história (geralmente de longa data) de insônia, mais baixas e aumentar gradativamente, para
cansaço extremo, agitação psicomotora, não descompensar o quadro de isquemia
incapacidade de concentração, nervosismo, miocárdica.
dificuldade em controlar emoções,
Da doença de graves especificamente
agressividade com membros da família ou
colegas de profissão, sudorese excessiva, O bócio caracteristicamente difuso e simétrico
intolerância ao calor, hiperdefecação (aumento à palpação, está presente em 97% dos casos
do número de evacuações diárias) e (podendo estar ausente em até 20% dos
amenorreia ou oligomenorreia. idosos). É por isso que o outro nome da doença
é bócio difuso tóxico.
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expressão do ligante do receptor Fas, uma via dos hormônios tireoidianos (efeito Wolff-
que promove a apoptose dos linfócitos Chaikoff agudo). No entanto, parece que este
infiltrantes da tireoide. efeito não é o responsável principal pelo efeito
terapêutico do iodo, mas, sim, a inibição da
Mecanismo de ação:
liberação dos hormônios tireoidianos. No
Semelhantes ao do PTU, exceto pela não entanto, este efeito se perde rapidamente
inibição da conversão periférica de T4 em T3. quando a terapia com iodo é descontinuada. A
terapia com iodo tem algumas desvantagens,
A equivalência aproximada entre as como aumentar os estoques tireoidianos de
tionamidas é de 100 mg de PTU: 10 mg de iodo, o que retarda a resposta clínica às
metimazol tionamidas. Além disso, retarda a terapia com
Efeitos colaterais das tionamidas radioiodo por algumas semanas ou meses, na
medida em que diminui a captação na
Os efeitos colaterais das tionamidas ocorrem cintigrafia da tireoide realizada antes da dose
com maior frequência nos primeiros seis meses terapêutica com radioiodo.
de terapia. Os mais importantes são rash
cutâneo (5%), prurido, artralgias, doença do Quando tem seu uso indicado, como em alguns
soro, alopecia, perda do paladar, sintomas casos de crise tireotóxica, doença
gastrointestinais e sialoadenite. Outros efeitos cardiotireoidiana grave, emergências
podem ser observados na Os efeitos adversos cirúrgicas da tireoide ou mesmo cirurgias
mais graves são: hepatite medicamentosa com eletivas, deve-se administrar o iodo juntamente
o PTU (com casos relatados de insuficiência com tionamidas em altas doses de acordo com
hepática), colestase com o MMI e alterações a gravidade do quadro. A dose de iodo
hematológicas, do tipo leucopenia, geralmente necessária para o controle da
trombocitopenia e agranulocitose (neutropenia tireotoxicose é de cerca de 6 mg/dia (presente
grave, ou seja, < 500/mm3). A agranulocitose em um oitavo de gota de solução saturada de
desenvolve-se de maneira súbita. iodeto de potássio, ou uma gota de Lugol),
quantidade menor que aquela normalmente
Devemos recomendar aos pacientes que prescrita pelos médicos (5-10 gotas de Lugol,
suspendam a droga (PTU ou MMI) em caso de 3x/dia). Assim, recomenda-se, como dose
febre e/ou surgimento de dor de garganta, uma máxima, o uso de 2-3 gotas de solução saturada
vez que a amigdalite é uma das primeiras de iodeto de potássio 2x/dia.
manifestações de agranulocitose (esta conduta
é mais efetiva que a realização de hemogramas Outros agentes Antitireoidianos
periódicos). Deve-se suspender a droga se a O carbonato de lítio inibe a secreção dos
contagem de leucócitos cair para menos de hormônios tireoidianos, não interferindo com o
1.500 células/mcl. O uso do GM-CSF acúmulo intraglandular de iodo. É empregado
(Granulokine) acelera a recuperação da medula nas doses de 300-450 mg 8/8h, para controle
óssea. temporário da tireotoxicose em pacientes
Inibidores do transporte de iodo alérgicos às tionamidas e ao iodo. O efeito
terapêutico se perde como tempo. A dosagem
Tanto o tiocianato quanto o perclorato inibem sérica do lítio deve ser monitorizada,
o transporte de iodo na tireoide. No entanto, objetivando-se uma concentração de1 mEq/L.
existem desvantagens de seu uso Outra utilidade do lítio é sua administração
principalmente quanto aos efeitos colaterais, associada à dose terapêutica com radioiodo,
que limitam seu uso apenas em situações pois mantém o radiofármaco mais tempo na
especiais. tireoide, aumentando sua eficácia terapêutica.
A administração de iodo em excesso pode Quando usamos o lítio, devemos estar sempre
conduzir ao bloqueio temporário da produção atentos a possíveis efeitos colaterais de seu
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uso, como diabetes insipidus nefrogênico, receptores adrenérgicos estão muito elevados
hipercalcemia, distúrbios psiquiátricos, entre na crise tireotóxica, por conta da condição de
outros. estresse desencadeante, bem como o número
de receptores catecolaminérgicos no coração,
A dexametasona na dose de 8 mg/dia inibe a
cérebro e outros tecidos. Portanto, mesmo
secreção dos hormônios tireoidianos, podendo
mantendo os mesmos níveis, o efeito hormonal
também inibir a conversão periférica de T4 em
encontra-se bem mais pronunciado. Em certas
T3 (por um mecanismo diferente do PTU,
condições desencadeantes (ex.: trauma à
contribuindo para um efeito aditivo), além de
glândula tireoide), o nível hormonal de fato se
ter efeito imunossupressor.
eleva muito e passa a ser o principal fator
causal;
sudorese intensa, diarreia, náuseas, vômitos indicado, pois não atua como inibidor da
são encontrados em combinações variadas. O desiodase tipo 1;
choque hiperdinâmico (semelhante ao séptico,
Iodo (após 1 hora da dose de PTU) na forma
mas com componente cardiogênico) tem sido
de solução saturada de iodeto de potássio 5
descrito. Dor abdominal e abdome agudo,
gotas 8/8h, ou solução de Lugol 10 gotas VO
status epilepticus e insuficiência renal aguda
8/8h ou ácido iopanoico (0,5 mg VO a cada
por rabdomiólise são apresentações raras.
12h). Objetivo: o iodo age bloqueando a
Herman propôs uma escala de gravidade da endocitose da tireoglobulina; e a atividade
crise tireotóxica, mostrada a seguir: lisossômica, bloqueando a liberação hormonal
tireoidiana. O efeito de Wolff-Chaikoff é a
• ● Estágio I – taquicardia superior a 150 inibição da organificação do iodeto pelo
bpm, arritmia cardíaca, hipertermia, próprio iodeto – este efeito também pode
diarreia, tremor intenso, desidratação, contribuir. É importante esperar 1h após a
agitação; administração do PTU, para que o iodo não
• ● Estágio II – estágio I mais distúrbios de piore ainda mais a crise, ao ser utilizado como
consciência (estupor, sonolência, psicose, matéria prima para a produção de hormônio
desorientação no tempo e no espaço); tireoidiano (efeito Jod-Basedow);
• ● Estágio III – coma
Propranolol intravenoso na dose de 1 mg até
O tratamento requer abordagem em unidades a dose de 10 mg; OU via oral 40-60 mg a cada
de cuidados intensivos, não devendo ser 6h. Altas doses da droga inibem a desiodase
postergado enquanto se aguarda as dosagens tipo 1 (conversão periférica de T4 em T3);
hormonais. O reconhecimento e o tratamento
da condição precipitante (infecção, por Dexametasona: 2 mg IV a cada 6h. Os
exemplo) são essenciais. Um dos principais glicocorticoides em altas doses também inibem
objetivos da terapia é inibir a desiodase tipo 1, a desiodase tipo 1 (conversão periférica de T4
bloqueando a conversão periférica do T4 em em T3). Outras razões para prescrevermos
T3 (lembre-se de que é o T3 o hormônio estas drogas incluem: (1) os pacientes com
atuante nas células). Os objetivos visam crise tireotóxica possuem uma produção e
diminuir os níveis de hormônio tireoidiano degradação acelerada do cortisol endógeno; (2)
por: diminuição da síntese (tionamidas e lítio), os indivíduos com tempestade tireoidiana
diminuição da liberação dos hormônios possuem níveis de cortisol inapropriadamente
tireoidianos (iodo e lítio), diminuição da normais para o grau de estresse metabólico
conversão periférica de T4 em T3 pela apresentado; (3) pode existir insuficiência
desiodase tipo I (PTU, contraste iodado, suprarrenal associada à doença de Graves
propranolol e corticoide), diminuição dos (síndrome autoimune do tipo II).
efeitos dos hormônios tireoidianos (redução da O tratamento da hipertermia não deve ser
atividade simpática). Deve-se ainda buscar a realizado com aspirina pelo potencial de
estabilização do paciente e a correção de aumentar os níveis circulantes de T4L
fatores precipitantes. (deslocamento das proteínas transportadoras).
Propiltiouracil em doses altas (ataque de 800 Outras drogas disponíveis são o carbonato de
mg e 200 a 300 mg a cada 8h) por via oral, por lítio na dose de 300 mg VO 6/6h e a
sonda nasogástrica ou até mesmo pelo reto. colestiramina (que é uma resina de troca e pode
Objetivo: inibir a conversão periférica de T4 aumentar a excreção de hormônios tireoidianos
em T3 (primeiro efeito), pelo bloqueio da pelas fezes) na dose de 4 g VO 6/6h. A
desiodase tipo 1, e reduzir a produção plasmaférese pode ser tentada quando o
hormonal tireoidiana. O metimazol não está tratamento convencional não é eficaz.
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primeiros mesesou anos de sua instalação, mas quando vários comemorativos estão presentes
que lentamente destrói o parênquima ao mesmo tempo), porém, nos dias de hoje,
glandular. Tal processo resulta, na maioria dos raramente é encontrado na prática... Em
casos, em falência tireoidiana progressiva! contrapartida, quadros leves e
Clinicamente, no momento do diagnóstico, o oligossintomáticos são absolutamente
paciente pode estar eutireoidiano (2/3), inespecíficos, mas representam a maioria dos
apresentar franco hipotireoidismo (1/3) ou, casos!
paradoxalmente, expressar sinais e sintomas de
Gerais: Fadiga; lentificação da voz (que fica
leve tireotoxicose (a chamada hashitoxicose –
rouca) e dos movimentos; intolerância ao frio;
observada numa pequena parcela dos casos)! A
ganho de peso (ATENÇÃO: exceto obesidade
hashitoxicose NÃO é “hipertireoidismo”... Na
mórbida!!! O mecanismo é o acúmulo de
verdade, ocorre liberação de hormônio pré-
glicosaminoglicanos e água nos tecidos, por
formado quando da destruição dos folículos
isso o ganho é discreto. O apetite está
tireoidianos, sem que haja estímulo funcional
preservado).
sobre a glândula! Vale lembrar que pode haver
discreto bócio indolor (pela infiltração Cutâneas: Pele fria e pálida (redução local do
inflamatória crônica), mas em geral a tireoide fluxo sanguíneo); atrofia da camada celular da
está atrófica... Laboratorialmente, identifica-se epiderme e hipertrofia da camada córnea (pele
o autoanticorpo anti-TPO seca e quebradiça = hipercerato se); hipoidrose
(antitireoperoxidase), além de aumento do (pouca produção de calor = pouco suor);
TSH. O T4 livre pode estar alto, normal ou problemas nos fâneros (cabelos e unhas secos
baixo, em função do estágio da doença. e quebradiços, madarose = perda do 1/3 lateral
das sobrancelhas); discromias (pele amarelada
O hipotireoidismo central (secundário ou
= hipercarotene mia; pele escurecida =
terciário) tem como causas mais prevalentes
insuficiência adrenal concomitante);
em adultos os tumores hipofisários, sendo
mixedema (casos graves = edema sem cacifo,
igualmente importantes os efeitos colaterais de
principalmente periocular – puffy face –,
seu tratamento (cirurgia ou radioterapia). A
macroglossia).
necrose hipofisária que pode surgir no
contexto de hemorragias pós-parto graves Cardiovasculares: Queda do débito cardíaco
(síndrome de Sheehan) é outra causa clássica! (baixo metabolismo = baixa demanda de O2);
Em crianças, a causa mais frequente é o bradicardia; hipocontratilidade (redução na
craniofaringioma, um tipo especial de tumor síntese de proteínas miocárdicas); derrame
hipofisário cujo grande marco radiológico é a pericárdico (raramente leva ao tamponamento,
presença de calcificações heterogêneas na mesmo quando pronunciado. O motivo?
região da sela turca. Isso é tão importante que Instalação lenta...); hipertensão arterial
sempre devemos pedir uma radiografia lateral sistêmica (aumento da resistência vascular
de crânio em crianças com hipotireoidismo periférica por deposição de
central, com o intuito de avaliar a presença glicosaminoglicanos na parede dos vasos) –
dessa alteração. ocorre especialmente à custa da diastólica,
podendo resultar em PA “convergente”;
Manifestações clinicas
hipercolesterolemia (menor expressão do
As manifestações do hipotireoidismo devem receptor de LDL, promovendo menor
ser entendidas dentro de um espectro de depuração de colesterol); hiper-
gravidade: quanto maior a duração e a homocisteinemia.
intensidade da carência hormonal, mais graves
Laboratório inespecífico
e numerosas serão as alterações! O quadro
“clássico”, multissistêmico, é fácil de o hipotireoidismo pode cursar com anemia, e
reconhecer e relativamente específico (isto é, que esta pode ser normocítica/normocrômica
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funcionando adequadamente, quando ocorre iodo, a dosagem do iodo urinário está baixa (<
captação ativa de iodo); 100 µg/L).
● Defeito da peroxidase – a enzima Os sinais e sintomas do próprio bócio
tireoperoxidase utiliza o peróxido de dependem de seu tamanho e se ele “invadiu”
hidrogênio também conhecido como água ou não a região subesternal. Neste caso, pode-
oxigenada (H2O2) para oxidar o iodo que se observar a presença de sintomas
depois será organificado na tireoglobulina; compressivos da traqueia (tosse e dificuldade
respiratória), esôfago (disfagia) ou nervos
● Defeitos na síntese da tireoglobulina –
laríngeos recorrentes (rouquidão). O “bócio
defeitos na formação desta macromolécula
mergulhante” é o nome dado ao bócio
causam prejuízos no seu processo de iodação
subesternal (mediastino anterior). Às vezes, só
pela tireoperoxidase, formando menos T3 e
é detectado pelo exame de imagem (RX ou TC
T4. Existem alguns casos em que os defeitos
de tórax). O sinal de Pemberton é
da molécula de tireoglobulina não permitem a
característico: ao elevar os braços acima da
sua saída do complexo de Golgi;
cabeça, o paciente sente fraqueza e tontura,
● Doença de Pendred – a pendrina é uma com sinais de congestão facial. A cintilografia
proteína que forma um canal de iodeto na tireoidiana pode ajudar a diferenciar um bócio
membrana apical da célula folicular difuso de um bócio multinodular.
tireoidiana. Na sua deficiência, menos iodeto
Tratamento
passa para o coloide, dificultando a formação
dos HT; O tratamento visa reduzir o bócio, com o
● Defeito na desalogenase – neste caso, a intuito meramente estético ou para prevenir ou
desiodação de MIT e DIT encontra-se tratar os fenômenos compressivos. A terapia de
prejudicada, permitindo que estas moléculas escolha é a supressão do TSH com
passem para a circulação sanguínea e sejam levotiroxina! Inicia-se a dose de 100 µg/dia em
eliminadas pelos rins sem que o iodo seja jovens e de 50 µg/dia em idosos, objetivando
reaproveitado pela tireoide; um TSH normal-baixo. A regressão é mais
comum nos jovens e ocorre em 3-6 meses. Nos
● Deficiências das desiodases – neste caso, o idosos, pelo grau de fibrose instalado, a
feedback é insuficiente (lembrar que o T3 é o regressão só é possível em 1/3 dos casos... A
principal responsável pelo feedback negativo). cirurgia está indicada nos casos de bócio muito
Assim o TSH encontra-se elevado. grande (> 150 g), nos casos de refratariedade à
terapia supressiva e sempre quando há
Clínica e diagnostico
sintomas compressivos. A ablação com
Ao detectar um bócio no exame físico da radioiodo é uma opção terapêutica, com
tireoide, o médico deve obrigatoriamente dosar sucesso em 50% dos casos. A reposição de
os hormônios tireoidianos. A presença de um iodo está indicada quando da sua deficiência
TSH suprimido indica um bócio tóxico e confirmada. Pela fibrose, às vezes, o bócio
hipertireoidismo primário. Um TSH elevado, endêmico não regride
com T4 livre normal ou reduzido indica um
bócio atóxico hipotireóideo, típico da
disormonogênese e da tireoidite de Hashimoto. A maioria dos bócios difusos atóxicos evolui
Na deficiência de iodo e no bócio esporádico, mais tarde para um bócio multinodular atóxico.
o TSH sérico geralmente se encontra normal! Porém não se conhece a sua patogênese. Tal
A captação de 24h do 131I está aumentada na como o primeiro, é mais comum em mulheres
deficiência de iodo e na disormonogênese, e aumenta de prevalência com a idade. A sua
porém francamente reduzida ou nula na prevalência é inversamente proporcional à
tireoidite de Hashimoto. Na deficiência de ingesta de iodo, variando entre 1-12%. Os
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A fase inicial da doença cursa com elevação Não é infrequente a associação da tireoidite de
transitória (semanas a meses) dos hormônios Hashimoto com outras doenças autoimunes:
tireoidianos, eventualmente levando à vitiligo, anemia perniciosa, doença de
tireotoxicose clinicamente manifesta Addison, diabetes mellitus tipo 1, etc. Merece
(Hashitoxicose). A maioria dos pacientes se destaque a associação com doença celíaca,
apresenta assintomática no início da doença, condição encontrada em até 5% dos portadores
sendo o diagnóstico suspeitado a partir da de TH
investigação de anormalidades nos exames de A encefalopatia de Hashimoto é uma condição
função tireoidiana realizados ao acaso ou pela descrita recentemente na qual se encontram
presença de um bócio ao exame físico. presentes altos títulos de anticorpos anti-TPO,
Sintomas de hipotireoidismo podem estar apresentando boa resposta aos
presentes em 10-20% dos indivíduos. O glicocorticoides. Entre os casos relatados, a
hipertireoidismo pode ser a manifestação idade média de apresentação foi de 44 anos. As
inicial de cerca de 5% dos casos. Quando há manifestações encontradas incluem sinais
bócio, o volume da tireoide geralmente é de 2- semelhantes a um AVC, convulsões, psicose,
4 vezes o normal. Como na maioria dos casos aumento de proteínas no liquor e alterações no
a elevação hormonal é subclínica, esta fase eletroencefalograma. Está comprovado que a
passa despercebida. A segunda fase da doença tireoidite de Hashimoto aumenta
é o hipotireoidismo subclínico, caracterizado significativamente o risco de linfoma de
pela elevação do TSH com T4 (e T3) ainda tireoide. A suspeita do linfoma deve ser feita
dentro da faixa de normalidade. A evolução quando houver aumento súbito ou localizado
para a terceira fase da doença – o do bócio e/ou sintomas compressivos.
hipotireoidismo clinicamente manifesto –
ocorre em média na taxa de 5% ao ano. Diagnostico
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É feito com base na associação de um quadro futuro, o que pode resultar da redução de
clínico compatível, ou seja, bócio e, na maioria anticorpos citotóxicos, mudança de anticorpos
dos casos, hipotireoidismo, com o achado de bloqueadores para anticor-pos estimuladores
níveis aumentados de autoanticorpos do receptor de TSH ou outro mecanismo ainda
tireoidianos, especialmente o anticorpo anti- não conhecido.
TPO (em títulos geralmente superiores a
1:1.600) e, em segundo lugar, o anticorpo
antitireoglobulina. É importante perceber que O fenômeno autoimune está presente na
a presença de hipotireoidismo não é gênese deste tipo de tireoidite. Diferentemente
obrigatória para o diagnóstico... Em casos da tireoidite de Hashimoto, é uma condição
duvidosos, por exemplo, bócio de aspecto autolimitada. Anticorpos anti-TPO e
nodular, pode ser necessária a biópsia antitireoglobulina estão positivos em cerca de
tireoidiana para fechar o diagnóstico. 50% dos casos no momento do diagnóstico,
O exame histopatológico revela a substituição porém em títulos mais baixos que na tireoidite
do tecido folicular normal por um infiltrado de Hashimoto e na tireoidite pós parto. O
linfocítico, inclusive com a formação de histopatológico demonstra um infiltrado
centros germinativos linfoides. Os folículos linfocítico difuso, qualitativamente semelhante
tireoidianos remanescentes são pequenos e à tireoidite de Hashimoto, contudo de menor
atróficos, com pouco coloide no seu interior. intensidade e não associado a lesões
As células deAskanazy, consideradas degenerativas e fibróticas importantes.
patognomônicas da doença, representam um Quadro clinico
estágio avançado de lesão das células
foliculares. O exame citológico (PAAF) Pode ser descoberta ao acaso por exames de
confirma o diagnóstico, embora não seja triagem, em pacientes com a forma subclínica
fundamental, exceto nos casos de dor local, ou, o que é mais comum, pode apresentar-se
crescimento rápido ou presença de nódulos, com um quadro de tireotoxicose clinicamente
para investigar a possibilidade de neoplasia. manifesta. O diagnóstico diferencial é com a
doença de Graves. A presença de oftalmopatia
A cintigrafia da tireoide pode demonstrar sugere Graves, mas sua ausência não afasta
captação normal, baixa ou elevada este diagnóstico. O caráter autolimitado da
(dependendo da fase da doença), não tendo tireotoxicose inicial é o que caracteriza a
utilidade para o diagnóstico. A USG pode doença. A elevação hormonal geralmente dura
demonstrar glândula aumentada de textura 2-8 semanas, seguindo-se frequentemente uma
normal, com aspecto característico de fase igualmente autolimitada de
hipoecogenicidade ou presença de nódulos mal hipotireoidismo subclínico e, raramente,
definidos. As alterações ultrassonográficas hipotireoidismo manifesto. O estado de
podem ocorrer antes das alterações eutireoidismo é alcançado após 2-4 meses em
bioquímicas média. A tireoide permanece com tamanho
Tratamento normal ou levemente aumentada. Os níveis
séricos de tireoglobulina estão
Não há tratamento específico para a tireoidite caracteristicamente elevados (como em toda
de Hashimoto. A conduta é a reposição tireoidite.
adequada de hormônio tireoidiano ad
aeternum. Utiliza-se o T4L. O ajuste deve ser É importante observar-se a evolução
feito de acordo com o TSH e T4 livre séricos, laboratorial dos hormônios tireoidianos.
objetivando-se níveis de TSH entre 0,5-2,0 Inicialmente, estão elevados, enquanto o TSH
µU/ml. Até 20% dos pacientes hipotireóideos está baixo. Na segunda fase, os hormônios
inicialmente recuperam a função tireoidiana no tornam-se cada vez mais baixos, chegando a
valores inferiores à referência, porém o TSH
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ainda não se elevou para níveis superiores ao células gigantes de Langerhans e linfócitos
normal. Posteriormente se instala um quadro CD4 em seu entorno.
típico de hipotireoidismo primário (TSH
elevado). Quadro clinico
e inflamação, deve-se suspender o corticoide medidas. A cirurgia deve ser indicada nos
paulatinamente em seis semanas. casos de comprometimento do esôfago ou da
traqueia.